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segunda-feira, 20 de novembro de 2023

Dimensão antropológica do rito litúrgico

Arcebispo Rino Fisichella, celebrando a Santa Missa do Dia Mundial dos Pobres (Vatican Media)

"Na encarnação de Cristo na história de maneira humana revela sua natureza também divina. No humano se revela o divino. No divino, a humanidade de Cristo também se revela como modelo também para toda a humanidade, revelando nossa natureza e dignidade, vocação para a plenitude e a divindade."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

Na catequese da Audiência Geral de 26 de setembro de 2012, Bento XVI afirmava que quando vivemos a liturgia com o olhar do coração dirigido ao Senhor, “o nosso coração é como que subtraído à força de gravidade, que o atrai para baixo, e eleva-se interiormente para o alto, para a verdade, para o amor, para Deus. Como recorda o Catecismo da Igreja Católica: «A missão de Cristo e do Espírito Santo que, na liturgia sacramental da Igreja anuncia, atualiza e comunica o mistério da salvação, prossegue no coração de quem ora. Os Padres espirituais comparam, por vezes, o coração a um altar» (n. 2.655): altare Dei est cor nostrum!”.

No programa de hoje deste nosso espaço, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe uma reflexão sobre a “Dimensão Antropológica do Rito Litúrgico”:

"Recentemente aconteceu na capital gaúcha, no Brasil, o CONGRESSO INTERNACIONAL TEOLÓGICO-LITÚRGICO. O evento que foi organizado pela Pontifícia Católica do rio Grande do Sul e a Arquidiocese de Porto Alegre, refletiu também sobre as dimensões antropológicas do culto, dos ritos, dos sacramentos, em especial da liturgia. O professor gaúcho da PUCRS Dr. Frei Luiz Carlos Susin, OFM, ministrou a palestra sobre “O RITO EM QUE HABITAMOS: DIMENSÕES ANTROPOLÓGICAS DO RITO”. 

Frei Susin disse que, “se a Liturgia é cume e fonte - utilizando-se a alegoria da montanha – para se chegar ao cume não podemos esquecer a base, a própria montanha, os fundamentos, os pilares antropológicos. Temos essa recuperação do caminho que se fez em todo o século XX, começando com a necessidade de superar aquela espiritualidade escolástica, barroca, que estava encerrada demais, que tinha provocado uma esquizofrenia, separações entre diversos níveis de experiência cristã, teologia, espiritualidade, liturgia, devoções. Temos que insistir nessa recuperação dessa unidade. Isso se fez com o caminho do neotomismo, bem produtivo, que desembocou em uma nova teologia que tinha essas três instâncias: volta às fontes, diálogo com a cultura (sobretudo com a filosofia) e a dimensão pastoral”, discursou o frade franciscano no Congresso. O conferencista apontou Karl Rahner como um expoente de uma virada antropológica e que ele é um “saco de pancada” quando não é bem lido. Por meio dele e outros, houve um esforço da experiência humana com a experiência da graça e salvação.

Os últimos séculos recuperam a experiência humana como lugar da experiência de Deus.  No século XX, a fenomenologia, o existencialismo tem buscado mais essa experiência humana. Frei Susin afirmou assim: “Mas tudo isso ficou muito reduzido ao sujeito, ao indivíduo e nós temos como recuperar isso mais no sentido comunitário, no sentido social, que é muito o caminho que vínhamos fazendo nos termos latino-americanos”. O palestrante falou da Trindade econômica. Aqui precisamos explicar esse termo. O que é Trindade econômica? É a presença de Deus Trino na economia da salvação, ou seja, no decorrer da história salvífica. A palavra economia na Teologia não tem a ver com aspectos financeiros, mas a pedagogia da revelação de Deus por etapas e gradativamente. Susin, apontando o autor Rahner, que é tido como ter feito uma virada antropológica, palestrou dizendo: “Em termos trinitários Karl Rahner expõe a unidade entre a transcendência de Deus e a sua presença na história; a trindade econômica e a trindade imanente e vice-versa, ou seja, pela trindade econômica nós conhecemos realmente a Trindade de Deus, mas é pela história que conhecemos a Deus. Assim como em termos cristológicos, também é bem conhecida a relação que Karl Rahner elabora entre a Antropologia e a Cristologia, uma reclamando para si a outra, proclamando assim o dogma cristológico central: Cristo verdadeiramente humano e divino”. Na encarnação de Cristo na história de maneira humana revela sua natureza também divina. No humano se revela o divino. No divino, a humanidade de Cristo também se revela como modelo também para toda a humanidade, revelando nossa natureza e dignidade, vocação para a plenitude e a divindade.

O assessor franciscano, frei Susin referenda também a Constituição conciliar Gaudium et Spes, cuja memória de 60 anos também celebramos, afirmando assim: “No documento Gaudium et Spes, o Concílio coroa essa Cristologia, dizendo: o mistério do ser humano só se torna claro verdadeiramente no mistério do Verbo Encarnado. Cristo manifesta plenamente o humano ao próprio ser humano e lhe descobre sua altíssima vocação. É o humano descobrindo-se na humanidade do Filho de Deus”.

Para concluir nosso aprofundamento, descrevo aqui uma estrofe de um canto litúrgico composto por Pe. José Cândido da Silva, muito entoado nas liturgias no Brasil. Uma bela cantiga que referenda o acabamos de dizer. Diz assim o cântico intitulado “Caminhos percorremos” desse grande compositor brasileiro mineiro, que também é autor de um dos hinos da Jornada Mundial da Juventude: “No mistério de Deus Uno e Trino, o mistério do homem se encontra. Nosso Deus no absoluto do amor, nos convida à fraterna união. Caminhos Percorremos, a Igreja construindo, tentando restaurar, no homem nosso irmão, a imagem do Senhor”. Sem dúvida um belíssimo canto litúrgico que revela a teologia da Gaudium et Spes: “o mistério do ser humano só se torna claro verdadeiramente no mistério do Verbo Encarnado”."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF