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segunda-feira, 19 de maio de 2025

Doutor da igreja, cantor, inventor do celibato: conheça todos os papas Leão da história

Papa Leão XIV acena para fiéis na Praça São Pedro — Foto: Reuters/Stoyan Nenov

Doutor da igreja, cantor, inventor do celibato: conheça todos os papas Leão da história

Escolha do nome papal de Robert Francis Prevost, o Leão XIV, pode dar pistas sobre o futuro de seu pontificado.

Por Daniel Médici, Ana Montoro, g1

11/05/2025

Ao ser escolhido para o cargo mais importante da Igreja Católica, o então cardeal Robert Prevost decidiu adotar o nome de Leão XIV.

A tradição de trocar de nome remete a Jesus Cristo, que, segundo o Novo Testamento, mudou o nome do pescador Simão para Pedro — os papas são considerados pela Igreja sucessores do apóstolo.

O nome escolhido também pode dar pistas daquilo que um novo papa almeja para seu pontificado. Jorge Bergoglio, por exemplo, adotou o nome de Francisco para remeter a um papado marcado pela simplicidade e que desse atenção aos pobres, em referência a São Francisco de Assis.

Ao contrário de Francisco, inédito até então, Leão é um dos nomes papais mais comuns da história. Neste sábado, o novo papa disse ter se inspirado em Leão XIII (1878-1903), que abordou a questão social no contexto da primeira revolução industrial.

Conheça, a seguir a história de todos os 13 papas que já lideraram os católicos antes do americano.

Leão I (440 - 461)

O primeiro Papa Leão I — Foto: Divulgação / Vatican News

Leão I foi o 45º papa da Igreja Católica e um dos mais celebrados, conhecido como Leão Magno. De origem na aristocracia romana da Toscana, ele é considerado um Doutor da Igreja por sua contribuição para a Cristologia, disciplina da teologia que debate as essências divina e humana de Jesus.

Ele assumiu o papado em 29 setembro de 440, iniciando um pontificado que seria marcante para a centralização do governo da Igreja Romana. O pontífice permaneceu no cargo por 21 anos.

Um dos episódios marcantes de seu pontificado foi o encontro com Átila, líder dos hunos, um dos mais famosos artífices das invasões bárbaras. O encontro ocorreu perto de Mântua, no ano de 452. Segundo a história, após a conversa, Átila teria desistido de invadir Roma.

Leão foi o responsável por escrever o 'Tomo de Leão', uma carta enviada por ele ao patriarca de Constantinopla, Flaviano. O documento explica como Cristo tem duas naturezas, uma humana e outra divina, que não podem ser dissociadas. Durante o Concílio de Calcedônia, em 451, o documento foi aceito como uma explicação doutrinária da pessoa de Cristo.

A carta defende que Cristo não era de natureza humana, mas sim "o Verbo feito carne", ou seja, viveu em um corpo que foi criado diretamente para esse propósito, e não um corpo verdadeiramente derivado do corpo de sua mãe.

Leão Magno foi contemporâneo de Santo Agostinho, inspiração da ordem agostiniana da qual Leão XIV faz parte.

Leão II (682-683)

Papa Leão II — Foto: Divulgação / Vatican News

O segundo papa Leão nasceu na Sicília, por volta de 610, e teve um pontificado breve durante o período conhecido como Papado Bizantino, no qual os papas estavam sujeitos à aprovação do imperador bizantino, que controlava de Constantinopla o Império Romano do Oriente.

São Leão II, como é conhecido pela Igreja, manteve boas relações com o então imperador Constantino IV, o que lhe rendeu uma ajuda para trazer o arcebispado de Ravena (uma importante cidade medieval, localizada na atual Itália) novamente para o controle de Roma.

No campo teológico, ele ratificou a condenação ao monotelitismo, uma doutrina que defendia que Cristo tinha uma única essência, considerada a partir de então uma heresia. Tido como um grande cantor, ele também deu contribuições importantes para a música gregoriana.

Leão III (795-816)

Papa Leão III — Foto: Divulgação / Vatican News

Também considerado santo, ele foi o responsável por coroar Carlos Magno, seu protetor, como imperador na antiga Basílica de São Pedro, em Roma. O ato é considerado fundador do Sacro Império Romano-Germânico e ajudou a consolidar a ideia de que só o papa poderia coroar reis.

O imperador bizantino, no entanto, considerava Carlos Magno um usurpador, e as tensões contribuíram para a deflagração do processo que culminou no Grande Cisma Oriente-Ocidente, a separação entre as igrejas Apostólica Romana e Ortodoxa.

Leão IV (847-855)

Papa Leão IV — Foto: Divulgação / Vatican News

São Leão IV é conhecido por reconstruir Roma e diversas igrejas dos saques dos árabes sarracenos, frequentes na época na península Itálica. Ele reforçou as fortificações da cidade, construindo as Muralhas Leoninas, mas também tomou iniciativas para proteger outras cidades que eram alvos frequentes dos assaltos, como Civitavecchia.

Ele também ganhou fama de ter mão de ferro contra abusos cometidos por figuras eclesiásticas poderosas, censurando o arcebispo de Reims e excomungando um cardeal de forma a manter a obediência do clero a Roma.

Leão V (903)

Papa Leão V — Foto: Divulgação / Vatican News

Pouco se sabe sobre a vida do pontífice que governou durante o período conhecido como "Século Obscuro" da Igreja Católica, no século 10, dominado por conflitos internos e pela submissão do clero à aristocracia romana. Leão V foi papa entre agosto e setembro, até ser deposto e encarcerado por Cristóvão, hoje considerado um antipapa. Ele provavelmente foi morto na prisão.

Leão VI (928-929)

Papa Leão VI — Foto: Divulgação / Vatican News

Outro papa do "Século Obscuro" e de pontificado breve, de apenas sete meses. Sabe-se que foi escolhido pela senadora Marozia para o cargo, então matriarca de uma poderosa família em Roma, que havia ordenado a deposição de seu antecessor, João X.

Leão VII (936-939)

Papa Leão VII — Foto: Divulgação / Vatican News

Provavelmente um monge beneditino, ele também sucedeu um papa João (o XI), também aprisionado. Conseguiu mediar uma trégua, com a ajuda do abade de Cluny, entre o duque de Roma e o rei da Itália, que promovia um cerco à cidade. Sabe-se também que ele proibiu que o arcebispo de Mainz de batizar judeus à força em sua diocese —ao mesmo tempo em que permitiu a expulsão de judeus que recusassem o batismo.

Leão VIII (963-965)

Papa Leão VIII — Foto: Divulgação / Vatican News

Vinha de uma família da nobreza romana e um raro caso de um leigo que foi promovido a papa, Leão VIII é uma figura controversa, já que seu período à frente da Igreja conflita com o de João XII e Bento V, que também reivindicavam o trono de Pedro.

Ele foi nomeado pelo imperador do Sacro Império Romano Otto I e considerado atualmente por alguns pesquisadores um antipapa nos primeiros anos de seu pontificado, e papa no restante dele.

Leão IX (1049-1054)

Papa Leão IX — Foto: Divulgação / Vatican News

Bruno de Egisheim, nascido na Alsácia (atual França) em 1002, tornou-se um dos papas medievais mais importantes ao combater a simonia (compra e venda de cargos eclesiásticos) e o casamento de membros do clero. Uma de suas primeiras ações, inclusive, foi instituir formalmente o celibato na Igreja.

Pela bandeira da moralidade e por viagens a diferentes pontos da Europa, ele ajudou a consolidar a figura do papa mais como líder espiritual e menos como um senhor feudal. Isso não o impediu de chefiar pessoalmente uma campanha militar contra os normandos no sul da Itália, da qual saiu derrotado. Foi mantido prisioneiro e morreu pouco após a libertação.

Durante seu papado, as relações de Roma com o patriarca de Constantinopla se deterioraram, precipitando o Grande Cisma Oriente-Ocidente.

Leão X (1513-1521)

Detalhe do retrato do papa Leão X, pintado por Rafael Sanzio (1518-1520) — Foto: Reprodução

O nome Leão só volta a surgir entre os papas depois de quase 500 anos. Giovanni de Médici era o segundo filho de Lorenzo o Grande e membro da família de Florença conhecida por patrocinar alguns dos maiores artistas da Renascença italiana.

Seu papado ajudou Roma a se tornar novamente um grande centro cultural. Os trabalhos da atual Basílica de São Pedro foram acelerados —e pintores, escultores e arquitetos foram atraídos para a cidade.

O custo das obras, bem como das guerras empreendidas pelos Estados Papais, secou os cofres da Igreja. A venda de indulgências (perdão para os pecados), autorizada por Júlio II, seu antecessor, seguiu a todo vapor. Leão X também se envolveu em escândalos e foi acusado de viver com muitos luxos e pouca moralidade para os padrões católicos.

Isso fomentou a ira de alguns fiéis, entre eles Martinho Lutero, excomungado por Leão X no último ano de vida do papa. O luteranismo não foi visto por seu papado como uma grave ameaça, mas provocaria o Grande Cisma do Ocidente alguns anos depois e o surgimento do protestantismo.

Leão XI (1605)

Papa Leão XI — Foto: Divulgação / UOL

Outro membro da família Medici, Leão XI teve um dos pontificados mais breves da história, de 1º a 27 de abril de 1605. Foi ordenado padre já depois dos 30, após a morte de sua mãe, que não queria o único filho homem no clero.

Sua vitória no conclave foi patrocinada pelo rei da França, e vista como um ato de desafio dos cardeais ao rei espanhol. Escolheu o nome em homenagem a seu tio, Leão X. Aos 69 anos, porém, estava fraco e sucumbiu a uma febre, num período em que não havia medicamentos.

Leão XII (1823-1829)

Retrato do papa Leão XII por Charles Picqué (1828) — Foto: Reprodução

O cardeal Annibale della Genga já tinha 63 anos, idade considerada avançada no século 19, quando tornou-se papa. Ele era um candidato da ala reacionária da Igreja e, acredita-se, o fato de parecer estar à beira da morte ajudou a convencer os cardeais liberais a votarem nele para encerrar um conclave que se arrastava por quase um mês.

Leão XII sofreu com problemas de saúde ao longo de todo o seu pontificado, que durou surpreendentes cinco anos e meio. Como chefe dos Estados Papais, ele tentou reorganizar as finanças da nação, sem sucesso.

Também tomou decisões autoritárias, como a proibição de judeus de terem posses. Reverteu muitas reformas liberais de seu antecessor, Pio VII, e condenou a maçonaria, por considerar pagãos seus rituais secretos. Fez avanços nas relações exteriores da Igreja. Em retrospecto, é considerado um papa impopular.

Papa Leão XIII (1878-1903)

Papa Leão XIII — Foto: Reprodução/Vaticano

Vincenzo Giocchino Pecci também se tornou papa com a idade avançada, mas viveu para se tornar o terceiro pontífice mais longevo da história.

Ele disse ter escolhido seu nome pela admiração que tinha por Leão XII, sobretudo nas áreas de educação e diplomacia. Ao contrário daquele, porém, a reputação de seu pontificado sobreviveu aos dias atuais, e Leão XIII pode ter sido a principal inspiração para o nome escolhido por Robert Prevost.

Pela primeira vez em séculos, o papa não era mais chefe de Estado, já que seus territórios haviam sido anexados pelo Reino da Itália em 1870. Leão XIII foi considerado hábil na diplomacia, fortalecendo laços com diversos países europeus, embora Igreja e Itália mantivessem mútua desconfiança. O pontífice seguiu a política de seu antecessor, Pio IX, de se autodeclarar encarcerado no Vaticano pela Coroa italiana.

Na teologia, Leão XIII buscou recuperar o pensamento do pensador medieval São Tomás de Aquino — e por tabela, de Santo Agostinho.

Na visão dos arquivos do Vaticano e historiadores, Leão XIII foi um papa inovador para sua época, buscando conciliar a tradição da Igreja com os desafios do mundo moderno, especialmente nas áreas social, filosófica e diplomática.

Foi ele que publicou a famosa encíclica Rerum Novarum (1891), que abordou a questão operária, os direitos dos trabalhadores e a justiça social. Este documento é considerado o marco inicial da Doutrina Social da Igreja.

Leão XIII defendeu o direito dos trabalhadores a um salário e a condições de vida digna, ao mesmo tempo em que buscou se distanciar do socialismo, defendendo a livre iniciativa e a propriedade privada.

Embora houvesse antecedentes, foi apenas com Leão XIII e a Rerum Novarum que a Igreja passou a se posicionar de forma sistematizada sobre os problemas sociais e econômicos

Curiosamente, ele se posicionou contra o americanismo, uma tendência do catolicismo praticado nos EUA vista como como excessivamente liberal, com concessões excessivas à cultura americana.

Papa Leão XIV (2025)

Papa Leão XIV celebra sua primeira missa no Vaticano (Vatican News)

https://youtu.be/hMoDyKW-mME

https://g1.globo.com/mundo/noticia/2025/05/11/doutor-da-igreja-cantor-inventor-do-celibato-conheca-todos-os-papas-leao-da-historia.ghtml

LAUDATO SI': Amazônia e os jovens guardiões ambientais ribeirinhos

Gustavo Frazao | Shutterstock

Paulo Teixeira - publicado em 14/05/25

Cuidar da Casa comum e proteger o futuro

O Sínodo dos Bispos sobre a Amazônia destacou que “cabe a todos ser guardiões da obra de Deus”. Com fé e empenho, é importante que as comunidades assumam esse compromisso. Como Deus cuida de todos, também é importante que todos cuidem das coisas que Deus criou. Dessa forma, as comunidades da Amazônia são chamadas a ser protagonistas do cuidado e proteção da floresta e dos rios; também dos direitos dos povos e da evangelização.

Serviço

Na Arquidiocese de Palmas, no Tocantins, 45 agentes foram investidos como Guardiões ecológicos. Após um período de formação de seis anos, esses agentes receberam da Igreja o serviço de proteger e cuidar da Casa comum. 

Os guardiões realizaram no início do mês um retiro espiritual para ter sempre em mente que o ponto de partida da missão é contemplar a criação e que a missão espiritual impulsiona e precede a ação do agente de pastoral.

Os guardiões atuam, sobretudo, na conscientização das comunidades sobre a necessidade da conversão ecológica, também se empenharão na defesa do meio ambiente sob inspiração dos princípios da fé católica.

Preparação

No Amapá, um projeto chamado de Guardiões Ambientais Ribeirinhos. Já faz seis anos que a sede do Instituto Educacional Amapá Pará (IEAP), no arquipélago do Marajó, recebe jovens para a preparação para o cuidado com a natureza. Os encontros são presenciais e modulares, e a convivência comunitária favorece o aprendizado coletivo. Mais do que fornecer conteúdos e informações sobre a preservação, os encontros buscam debater as causas da degradação ambiental e as maneiras como defender o meio ambiente. 

O intuito é que os guardiões sejam agentes de transformação, que além de atuar na conscientização, possam promover práticas sustentáveis em suas casas e comunidades. Dois polos que orientam a formação são a ecologia integral e o bem-viver.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/05/14/amazonia-e-os-jovens-guardioes-ambientais-ribeirinhos

Leão, e a Igreja, “pequeno fermento” de unidade e amor

Leão XIV (@VaticanNews)

As palavras da homilia do Bispo de Roma que inicia seu serviço aos irmãos.

Andrea Tornielli

“Fui escolhido sem qualquer mérito e, com temor e tremor, venho até vós como um irmão que deseja fazer-se servo da vossa fé e da vossa alegria, percorrendo convosco o caminho do amor de Deus, que nos quer a todos unidos numa única família”. Assim se apresenta o Papa Leão XIV, bispo missionário, neto de migrantes, 267º Bispo de Roma. As palavras simples e profundas da homilia da missa de início do seu ministério representam um programa que nos fala de uma alteridade e de um estilo.

Uma alteridade, porque em nosso mundo tão marcado pelas guerras, pelo ódio, pela violência, pelas divisões, a palavra humilde do Sucessor de Pedro proclama o Evangelho do amor, da unidade, da compaixão, da fraternidade, de um Deus que nos quer como única família. Uma alteridade porque pretende dar testemunho de amor, diálogo, compreensão, para derrotar o ódio e a guerra que começam no coração do homem, quer ele empunhe as armas contra o irmão, quer o crucifique com a arrogância das palavras que ferem como pedras.

E um estilo, porque Leão lembrou que o ministério de Pedro é o de ser servus servorum Dei. O seu é um serviço de amor e de oferta da vida pelos irmãos: “a Igreja de Roma preside na caridade e a sua verdadeira autoridade é a caridade de Cristo”. Não se trata, portanto, de “capturar os outros com a prepotência, com a propaganda religiosa ou com os meios do poder”, como em todas as épocas somos tentados a fazer, através do colateralismo, das estruturas, do protagonismo, do marketing religioso, das estratégias estudadas na mesa. Trata-se, ao contrário, “sempre e apenas de amar como fez Jesus”. Por isso, Pedro “deve apascentar o rebanho sem nunca ceder à tentação de ser um líder solitário ou um chefe colocado acima dos outros, tornando-se dominador das pessoas que lhe foram confiadas”. Pelo contrário, é-lhe pedido que ame mais. É-lhe “pedido que sirva a fé dos irmãos, caminhando junto com eles”.

Nestas últimas palavras, podemos reconhecer a imagem do Bom Pastor que o Papa Francisco tantas vezes nos apresentou. É a imagem do pastor que caminha à frente do rebanho para guiá-lo; no meio do rebanho para acompanhá-lo, sem se sentir superior ou separado; e também atrás do rebanho, para que ninguém se perca e para poder recolher os últimos, os mais cansados pela caminhada.

O bispo missionário que hoje ocupa a Cátedra de Pedro nos convida, portanto, a anunciar o Evangelho do amor, “sem nos fecharmos em nosso pequeno grupo nem nos sentirmos superiores ao mundo”. A Igreja é um povo de pecadores perdoados, sempre necessitados de misericórdia, que por isso mesmo deveriam ser “vacinados” contra qualquer complexo de superioridade, como seguidores de um Deus que escolheu o caminho da fraqueza e se rebaixou aceitando morrer na cruz para nos salvar. “Somos chamados a oferecer a todos o amor de Deus”, disse o Papa Leão, para estar na massa do mundo, “um pequeno fermento de unidade, de comunhão, de fraternidade” e assim lançar o olhar para longe, para ir ao encontro das perguntas, das inquietações e dos desafios de hoje.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 18 de abril de 2025

Sexta-feira Santa, o Mistério da Cruz e a Via-Sacra

Jesus na cruz nos dá sua vida (Comunidade Oásis)

Hoje as igrejas estão silenciosas. Na liturgia não há canto, não há música e não se celebra a Eucaristia, porque todo espaço é dedicado à Paixão e à morte de Jesus.

Silvonei José - Vatican News

Depois disso Jesus, sabendo que tudo estava consumado, e para que se cumprisse a Escritura, disse: “Tenho sede”. Havia ali uma jarra cheia de vinagre. Amarraram num ramo de hissopo uma esponja embebida de vinagre e a levaram à sua boca. Ele tomou o vinagre e disse: “Está consumado”. E, inclinando a cabeça, entregou o espírito” (Jo 18, 28-30).

Hoje as igrejas estão silenciosas. Na liturgia não há canto, não há música e não se celebra a Eucaristia, porque todo espaço é dedicado à Paixão e à morte de Jesus. Ajoelhamo-nos, para simbolizar a humilhação do homem terreno e a coparticipação ao sofrimento do Senhor. Porém, não é um dia de luto, mas um dia de contemplação do amor de Deus que chega para sacrificar o próprio Filho, verdadeiro Cordeiro pascal, para a salvação da humanidade.

A adoração da Cruz

A Cruz está presente na vida de todos os cristãos desde a purificação do pecado no Batismo, absolvição do Sacramento da Reconciliação, até o último momento da vida terrena com a Unção dos enfermos. Na Sexta-feira Santa somos convidados a adorar a Cruz para o dom da salvação que conseguimos através da sua vinda. Depois da ascese quaresmal o cristão está preparado para não fugir do sofrimento. Durante a liturgia os fiéis tocam a Cruz, a beijam e assim entram ainda mais em contato com a dor de Cristo que é a dor de todos, porque Ele carregou na Cruz os pecados de toda a humanidade para salvá-la.

A Sexta-feira Santa

A Sexta-feira Santa nasceu como dia da morte de Jesus (dia 14 do mês de Nissan, que caía numa sexta-feira). Trata-se de um dia de luto, acompanhado de "jejum", depois estendido a todas as sextas-feiras do ano. A liturgia é composta de três momentos: Liturgia da Palavra, Adoração da Cruz e Comunhão. Neste dia, por meio desta liturgia, os fiéis são convidados a fixar seu olhar em Jesus Crucificado, que morreu na cruz para cumprir a sua missão salvífica, que o Pai lhe havia confiado: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo". O profeta Isaías diz: “Ele tomou sobre si os nossos pecados, as nossas dores e sofrimentos, e nós o julgamos castigado por Deus” (Is 52,13-53,12). Com a sua vida, Jesus pagou um alto preço pela nossa desobediência, mas o fez com amor e por amor: “Sendo rico, Jesus se fez pobre por vós, a fim de vos enriquecer com a sua pobreza” (2Cor 8,9). No contexto desta Sexta-feira Santa, cada um de nós pode ficar diante da cruz e dialogar com o Senhor Jesus sobre os próprios problemas, dramas, sofrimentos. Todas as questões sobre a vida são iluminadas pela Cruz, a ponto de chegarmos a dizer, realmente, que "o coração tem suas razões, que a razão não pode compreender". O Senhor Jesus deve ser acompanhado com amor, até o fim, como Ele o fez.

A Via-Sacra foi introduzida na Europa pelo dominicano beato Alvaro De Zamora da Cordoba em 1402 e mais tarde pelos Frades Menores.

“O caminho da Cruz”

A Via-Sacra consiste em percorrer espiritualmente o caminho de Jesus ao Monte Calvário enquanto carregava a Cruz, assim como a oportunidade de interiorizar em seu sofrimento.

Em relação ao seu significado, “Via Crucis”, ou Via-Sacra, significa em latim “O caminho da Cruz”. Este caminho é formado por 14 estações que representam determinadas cenas da Paixão, cada uma corresponde a um acontecimento especial ou a maneira especial de devoção relacionada a tais representações.

Antigamente, o número de estações variava consideravelmente em diferentes lugares, mas agora o Magistério prescreve quatorze:

1. Cristo é condenado à morte
2. Jesus carrega a cruz aos ombros
3. Jesus cai pela primeira vez
4. Jesus encontra a sua Santíssima Mãe
5. Simão Cirineu ajuda Jesus a carregar a cruz
6. Verônica enxuga o rosto de Jesus
7. Jesus cai pela segunda vez
8. Jesus encontra as mulheres de Jerusalém
9. Jesus cai pela terceira vez
10. Jesus é despojado de suas vestes
11. Jesus é pregado na cruz
12. Jesus morre na cruz
13. Jesus é descido da cruz
14. Jesus é colocado no sepulcro

No princípio, a oração da Via-Sacra era diferente. No século IV, a religiosa Egedia escreveu acerca das peregrinações que os cristãos realizavam a Jerusalém para percorrer os lugares da paixão e morte de Jesus com os Evangelhos na mão. Esta peregrinação terminava no Monte Calvário.

Papa na Via-Sacra

Durante a Jornada Mundial da Juventude em Lisboa em 2023 o Papa Francisco presidiu no parque Eduardo VII, a "Colina do Encontro", a Via-Sacra, onde partilhou com os jovens os momentos da Paixão de Cristo. 

"Hoje, vocês vão caminhar com Jesus hoje. Jesus é o Caminho e nós vamos caminhar com Ele, porque Ele caminhou”, disse Francisco. 

O caminho de Jesus, explicou o Papa, é Deus saindo de si mesmo para caminhar entre nós. É o que ouvimos tantas vezes na missa: "O Verbo se fez carne e habitou entre nós". E Ele o faz isso por amor.  A Cruz que acompanha cada Jornada Mundial da Juventude, acrescentou o Pontífice, é o ícone, é a figura dessa jornada. A Cruz é o significado maior do amor maior, aquele amor com o qual Jesus quer abraçar nossa vida. E ninguém tem mais amor do que aquele que dá a vida por seus amigos, que dá a vida pelos outros. "É por isso que, quando olhamos para o Crucificado, que é tão doloroso, tão difícil, vemos a beleza do amor que dá a vida por cada um de nós."

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 17 de abril de 2025

PEREGRINAÇÃO À TERRA SANTA: "Uma benção para todos"

Bento XVI rezando na Gruta da Natividade
[© Osservatore Romano]

Arquivo 30Dias n. 05 - 2009

BENTO XVI. Imagens, memórias e balanços da sua peregrinação

"Uma benção para todos"

Entrevista com Fouad Twal, Patriarca Latino de Jerusalém: «Nos gestos e nas palavras do Papa encontramos coragem, verdade, amor, humildade».

Entrevista com o Patriarca Latino de Jerusalém Fouad Twal por Gianni Valente

O Papa peregrino na Terra Santa atravessou com passo leve o emaranhado de histórias, acontecimentos e paixões humanas, políticas e religiosas que hoje se concentram entre a Jordânia, Israel e os Territórios Palestinos, nos lugares onde Jesus viveu. Antes de partir, muitos balançaram a cabeça, considerando arriscada a escolha de uma visita papal a uma região onde as feridas da última guerra ainda estavam abertas.

Mesmo para Fouad Twal, Patriarca Latino de Jerusalém por pouco mais de um ano, os dias de peregrinação papal foram uma espécie de prova de fogo. Com a sinceridade que o distingue, ele não escondeu as dúvidas e preocupações que também circulavam na comunidade católica da Terra Santa na véspera da visita papal. Agora, para 30Gioni , ele traça um balanço de natureza completamente diferente. 

Agora que algum tempo passou, qual é a sua avaliação geral da visita de Bento XVI à Terra Santa? 

FOUAD TWAL: Foi uma bênção para todos. Nos gestos e nas palavras do Papa encontramos coragem, verdade, amor, humildade. 

Mas ela mesma, antes da visita, havia confirmado as dúvidas que também circulavam na comunidade cristã. 

TWAL: De fato, havia alguns medos e alguma angústia. A visita papal teria ocorrido em um momento difícil, em uma região difícil, onde nos últimos meses houve uma overdose de conscientização, após a guerra em Gaza. Havia receios de que uma das duas partes no conflito tentasse monopolizar a visita. 

O que contribuiu para que isso não acontecesse? 

TWAL: Expressamos todas as nossas observações e reservas à Santa Sé. E somos gratos ao Secretário de Estado que levou nossos medos em consideração. E os discursos foram muito bem feitos, equilibrados e ao mesmo tempo marcados por uma coragem que outros líderes políticos não têm. Marcada acima de tudo pelo amor a esta terra e às pessoas que a habitam. 

Você guarda alguma imagem particular da visita papal? 

TWAL: Uma imagem sozinha não resolve o problema. Acompanhei o Papa o tempo todo e preciso de um álbum… Fiquei especialmente impressionado com os momentos em que ele se aproximou das pessoas, que talvez ficassem envergonhadas porque não estavam preparadas para tal circunstância. E então ele calmamente e com um rosto infantil os cumprimentou delicadamente, mostrando-se a eles em uma atitude familiar. Em algumas situações ficamos nervosos e impacientes. Ele, por outro lado, estava sempre calmo. 

Antes da visita papal, todos insistiam em seu caráter pastoral. Talvez para se protegerem da exploração política.
TWAL: E de fato, ao confirmar os irmãos na fé, ele nos lembrou de todas as dimensões espirituais da vida de fé na Terra Santa: oração, peregrinação... Ele convidou os cristãos a não partirem, ele os convidou a ficar, porque nossa terra é santa e bela. Ele também se dirigiu a todos os nossos irmãos cristãos. As duas visitas, realizadas com toda a calma e humildade, aos Patriarcados Ortodoxo e Armênio, deram-lhe a oportunidade de dizer que não é o caso de agravar com as nossas separações as muitas dores que esta terra sofreu e sofre. O Papa Bento XVI sempre enfatizou a oração como uma ferramenta para pedir ao Senhor por nossa unidade, deixando a Ele decidir como e quando isso pode ser alcançado.

Bento XVI com o Patriarca Fouad Twal na Praça da Manjedoura, onde celebrou a Santa Missa, Belém, 13 de maio de 2009 [© Osservatore Romano]

Contudo, não faltaram implicações políticas.
TWAL: A dimensão política nunca falta aqui na Terra Santa. E em seus encontros com autoridades na Jordânia, Palestina e Israel certamente havia um aspecto político. O Papa quis reiterar que a Terra Santa tem uma vocação própria de santidade. É isso que todos nós gostaríamos, mas por isso mesmo não podemos ignorar a situação específica do momento, que é uma situação de conflito. Gostei muito do último discurso, dirigido ao presidente Peres, antes de partir. O Papa, sem fazer condenações abstratas, disse em tom pessoal que, durante a visita que teve a graça de fazer, uma das visões que mais lhe causaram tristeza foi a do muro. Uma maneira nobre e calma de dizer com humildade e amor que esses muros certamente não servem para criar um contexto de paz, diálogo e esperança.

Antes da viagem, ela havia dito que a visita do Papa era como um lindo bolo do qual todos queriam um pedaço. No final, quem ficou com a maior fatia?
TWAL: Nós, a Igreja local, a comunidade cristã aqui. Ele veio para nos confirmar na fé, na missão, no diálogo, na dor, no caminho da cruz . Acho que foi lindo para os nossos fiéis verem que há alguém que reza por eles, que pensa neles, e esse alguém é o Papa! Bento XVI chamou a Igreja universal a pensar na Terra Santa, a vir à Terra Santa. Ele nos pediu muitas vezes, tanto na Jordânia quanto em Belém e Jerusalém, para não termos medo, para perceber que não fomos esquecidos. Isso carrega nossas baterias maravilhosamente.

E agora, você espera que alguma coisa mude?
TWAL: Muitas pessoas me perguntam isso. Não é que se deva esperar mudanças milagrosas da visita em si. Mas com suas palavras e seus gestos, nosso querido Santo Padre semeou muito, tanto local quanto internacionalmente e no nível da Igreja universal. Com calma, com a graça de Deus e com a ajuda de todos os amigos, começando pelas Igrejas irmãs da Itália, os frutos virão. Muitas organizações estão pedindo para me conhecer para me perguntar o que podem fazer por nós. Agora cabe a nós corresponder à confiança do Santo Padre. E fazer bem o nosso trabalho aqui. Durante a celebração das Vésperas em Nazaré, o Papa comparou a condição dos cristãos na Terra Santa à de Maria, que levava uma vida escondida em Nazaré, "com muito pouca riqueza ou influência mundana". Ele nos pediu para termos a coragem "de ser fiéis a Cristo e permanecer aqui na terra que Ele santificou com Sua presença".

Como o senhor se lembra do encontro entre o Papa e a delegação de Gaza?
TWAL: Duzentos cristãos deveriam vir de Gaza. No final, Israel concedeu autorizações a apenas quarenta e oito pessoas. Eles puseram as mãos nos fundos de algumas escolas na Galileia, que são usados ​​para pagar os salários dos professores. O núncio, muito bom, como diplomata não queria agravar a situação nem alarmar a opinião pública. Mas houve confiscos. Posteriormente, autoridades governamentais garantiram que não haverá mais casos no futuro. O embaixador israelense na Santa Sé também disse isso. Estamos felizes e agradecemos às autoridades israelenses. Além disso, há um artigo no Acordo Geral que alerta que, enquanto as negociações sobre o status tributário da propriedade da igreja continuarem, não poderá haver mudanças unilaterais no regime atual. Mas há algumas autoridades que talvez não saibam disso... Afinal, na sociedade israelense nunca faltará uma ou outra voz se declarando insatisfeita com a visita do Santo Padre. Que pena para eles. Não há nada que possamos fazer sobre isso.

E na outra frente, a do Hamas?
TWAL: A reação dos homens do Hamas foi muito positiva sobre a visita do Papa, especialmente quando souberam que ele visitou um campo de refugiados, que queria estar perto daqueles que sofrem, para dar esperança de retorno a todos os refugiados do mundo. E se não houver retorno, que ao menos encontremos compensações justas e identifiquemos uma maneira de viver em paz e dignidade.

Bento XVI saúda as crianças do Caritas Baby Hospital, em Belém, 13 de maio de 2009 [© Osservatore Romano]

Uma comparação com as visitas papais anteriores de Paulo VI e João Paulo II?
TWAL: Não vejo sentido nessas comparações. Os contextos, as pessoas, os estados de espírito são diferentes… Cada Papa foi bom e fez bem no seu momento. O homem certo, no lugar certo, na hora certa … E tudo deu certo, graças a Deus.

Você então ouviu o discurso de Obama no Cairo…
TWAL: Fantástico.

O que mais o convenceu naquele discurso?
TWAL: Há muito tempo esperávamos por uma mudança de "mentalidade", de conversas, de abordagem. Você pode não concordar 100%, mas o discurso de Obama foi claro, corajoso e visou o bem de todos, israelenses e árabes, pedindo que todos mudassem suas conversas e tivessem mais fé uns nos outros, no futuro e em Deus. Era exatamente o que era necessário.

Alguns notaram vários pontos de contato entre o discurso de Obama e o que o Papa disse na Terra Santa.
TWAL: Sim. Eles enfatizaram os pontos cruciais. E Obama, quando falou sobre os palestinos, especificou que eles são muçulmanos e cristãos.

Obrigada, felicidade.

Lembre-se: envie uma saudação especial a todos os seus leitores. Não se esqueça disso.

Fonte: http://www.30giorni.it/

Vamos aprender sobre Jerusalém? A pátria espiritual por definição

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Paulo Teixeira - publicado em 17/04/25

A Cidade Santa é um símbolo de reconstrução com uma história marcada por peregrinações e conflitos.

Jerusalém é conhecida como cidade da paz, o umbigo da terra, a cidade três vezes santa, a pátria espiritual de todo o mundo. Essa cidade já foi conquistada mais de 40 vezes, mas parece que ressurge cada vez mais forte. 

Para os mulçumanos, Jerusalém é a cidade em que Maomé foi arrebatado ao céu. Para os judeus, ela é especial porque ali se ergueu o templo de Deus. Para os cristãos, lá Jesus peregrinou diversas vezes, também morreu e ressuscitou. E essa cidade teve destaque no início do cristianismo sendo uma espécie de sede da Igreja que nascia em meio a perseguições e desejos missionários.

Onde fica?

Jerusalém surge numa região elevada da palestina, entre o mar mediterrâneo e a depressão desértica, próxima ao salgado Mar Morto. Muitas construções da cidade usam pedra calcária, a mesma das colinas da região, e dão uma luminosidade à cidade, um tom bege, que faz com que essa cidade seja percebida como iluminada, clara, brilhante. 

Bíblia

Vamos conhecer Jerusalém por meio da própria Bíblia que dela diz coisas impressionantes como este texto do capítulo 31 do livro do profeta Isaías: “Como as aves dão proteção aos filhotes com suas asas, o senhor dos exércitos protegerá Jerusalém; ele a protegerá e a livrará; ele a poupará e a salvará". 

Acredita-se que o templo tenha sido construído no mesmo lugar em que Abraão ofereceu seu filho Isaque em sacrifício conforme narra o capítulo 22 do livro de Gênesis.  

O talmude, livro de ensinamentos judaicos, diz que Deus pegou do monte do templo o barro para modelar o ser humano. Os Salmos narram diversas manifestações de alegria quando as pessoas chegavam em romaria até Jerusalém e viam o templo, como o Salmo 121: “Que alegria, quando ouvi que me disseram: 'vamos à casa do senhor!'. E agora nossos pés já se detêm, Jerusalém, em tuas portas. Para lá sobem as tribos de Israel, as tribos do senhor. Para louvar, segundo a lei de Israel, o nome do Senhor. A sede da justiça lá está e o trono de Davi. Rogai que viva em paz Jerusalém, e em segurança os que te amam! Que a paz habite dentro de teus muros, tranquilidade em teus palácios!”. 

O Templo de Jerusalém

A história de Jerusalém não só se mistura com a do templo, mas a construção mais importante marcou os ritmos da cidade. Por volta do ano 900 Antes de Cristo o rei Salomão construiu um templo para proteger a arca da aliança. Moisés, segundo conta o livro do Êxodo, realizou a aliança com Deus no monte Sinai, guardou em uma arca os símbolos desse compromisso. Que são: as tábuas de pedra nas quais estão escritos os mandamentos, o cajado com o qual abriu o mar vermelho para a fuga do Egito, e uma porção daquele misterioso pão chamado maná que apareceu de forma milagrosa no deserto. É interessante que esta arca, mais do que conter algo no seu interior, como uma espécie de cofre, se caracterizada por ser sinal da presença de Deus entre os homens, tanto que a arca tinha uma cabana, uma tenda especial nos acampamentos durante a longa travessia pelo deserto. Depois, a arca passou a ter um templo e, de certa forma, uma cidade.  

Entre os capítulos 5 e 7 do primeiro livro dos reis é narrada detalhadamente a construção do templo por Salomão. São registradas medidas da construção, o tamanho das janelas, as indicações sobre os utensílios de ouro e os detalhes da decoração. No santuário, lugar mais reservado em que foi colocada a arca, foram esculpidos anjos que mediam dois metros e meios de altura e, com as asas abertas, chegavam a quatro metros de ponta a ponta. Esse lugar magnifico não era para visitação pública, mas era o lugar, digamos assim, da habitação de Deus, sendo visitado somente uma vez por ano por um dos sacerdotes do templo.  

O esplendoroso templo de Salomão ficou de pé por aproximadamente 400 anos. Depois que os babilônicos venceram o Egito, se tornaram uma potência regional. Em 597, sob o comando do rei Nabucodonosor, Jerusalém foi saqueada e foram levados para a babilônia artesão, soldados e nobres, como o profeta Daniel que relata sua experiência no livro com o seu nome, no Antigo Testamento. Após revoltas contra a dominação babilônica, Nabucodonosor resolveu destruir Jerusalém e levar como prisioneiros os sobreviventes. O profeta Jeremias considera um castigo divino o que aconteceu com a cidade e seus habitantes devido a falta de justiça social. 

Atualmente o monte sobre o qual se erguia o templo abriga duas mesquitas. Os judeus recitam suas orações na parede que restou da construção de Salomão, destruída definitivamente pelos romanos no ano 70 depois de Cristo. O muro do pranto ou muro das lamentações é um dos lugares mais emblemáticos de Jerusalém.  

A reconstrução e Jerusalém foi fantástica. O templo se tornou o maior edifício de culto do mundo grego romano, media cerca de 20 campos de futebol. Jerusalém também cresceu e abrigava mais de 80 mil pessoas numa época em que Israel todo não contava com 2 milhões de habitantes. A população da cidade triplicava na festa da Páscoa. Foi esta Jerusalém pujante que Jesus conheceu e percorreu com seus discípulos. Foi também nessa grande cidade e em meio a diversos conflitos que Jesus foi morto de forma violenta. Nesta cidade, Jesus ressuscitou e a vitória da vida sobre a morte teve Jerusalém como uma capital da esperança.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/04/17/vamos-aprender-sobre-jerusalem-a-patria-espiritual-por-definicao

Aos padres – Quinta-Feira Santa

Sacerdócio com amor (Catequizar)

AOS PADRES – QUINTA-FEIRA SANTA 

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ) 

Aos Padres 

 Quinta-Feira Santa  

Neste dia em que celebramos a instituição da Eucaristia, quero dirigir-me a todos os presbíteros que, diariamente, consagram o Corpo e o Sangue de Cristo para o alimento espiritual dos fiéis. Neste momento festivo para a Igreja, em que recordamos a entrega total de Jesus por nós, convido todo o povo de Deus a elevar uma prece pelos sacerdotes, para que perseverem com fidelidade em sua missão e busquem viver a santidade no cotidiano. 

Rezemos por todos os padres doentes e idosos, que tanto se dedicaram ao sacerdócio ao longo da vida. Rezemos também por aqueles que, por diferentes motivos, estão afastados ou privados do exercício ministerial, para que o Senhor os fortaleça e renove neles a confiança em Sua misericórdia que jamais falha. Que tudo se realize conforme a vontade de Deus. 

Sabemos o quanto o ministério sacerdotal é desafiador e vai muito além da celebração da Missa e da administração dos sacramentos. Muitas vezes, o sacerdote assume múltiplas funções: é secretário da paróquia, cozinheiro na casa paroquial, responsável por resolver questões burocráticas como idas a bancos, cartórios, correios e compras de materiais litúrgicos. Acrescente-se as situações de violência, de insegurança e de questões diversas que aparecem no dia a dia da paróquia. Por isso, é compreensível que, ao final do dia, esteja exausto diante das inúmeras tarefas desempenhadas. 

Entretanto, para que tudo isso seja fecundo, o sacerdote não pode negligenciar a vida de oração. É a oração, unida à Eucaristia diária, que sustenta o ministério presbiteral. Antes de qualquer outra atividade, é essencial começar o dia com a oração, rezando as Laudes, e, se houver celebração pela manhã, presidir a Santa Missa. Sem a oração e, sobretudo, sem a Eucaristia cotidiana, o ministério enfraquece, e o padre corre o risco de tornar-se apenas um “executador de tarefas”. O sacerdote é muito mais que isso: é ministro do Sagrado, chamado a proclamar a Palavra de Deus e a celebrar, com piedade, a Eucaristia para o povo que lhe foi confiado. 

Além disso, o padre está a serviço da comunidade e não pode permitir que as obrigações administrativas o afastem do contato com os fiéis. É preciso encontrar tempo para visitar os enfermos, atender confissões, presidir celebrações, sepultar os mortos e ministrar os demais sacramentos. O sacerdote precisa estar presente na paróquia, acessível ao povo que o procura. 

O sacerdócio não deve ser encarado como um fardo. Quando o Senhor nos chamou para esta missão, não o fez para nos sobrecarregar, mas para que, com alegria, servíssemos ao seu povo. O padre não deve ser alguém amargurado, constantemente cansado ou de mau humor. Ao contrário, mesmo diante das muitas tarefas do dia, é preciso conservar o bom humor e acolher bem os fiéis. Como em qualquer outra vocação, é fundamental que o padre se sinta realizado em sua missão. Só assim é possível viver com alegria. Cumprir tudo apenas por obrigação leva ao desgaste e à infelicidade. 

Esta é uma mensagem de encorajamento e ânimo para que continuem a exercer com amor o ministério que lhes foi confiado. Embora o Dia do Padre seja celebrado em 4 de agosto, na quinta-feira santa comemoramos a razão de ser da Igreja: a instituição da Eucaristia. E os sacerdotes são, por excelência, os ministros deste mistério de amor. Rogo a Deus pelo ministério de cada um, para que sejam verdadeiros pastores, cuidando com zelo do rebanho, especialmente das ovelhas feridas e dispersas. 

Uma característica essencial da vida presbiteral é a fraternidade, especialmente entre os padres e com o bispo. A chamada fraternidade presbiteral implica cuidado mútuo, interesse pelo irmão que não está bem, visitas fraternas e busca conjunta de soluções. Muitas vezes, isolamo-nos em nossos próprios mundos e esquecemos de olhar para a dor do outro. Precisamos dar o exemplo, cultivar o amor entre os presbíteros, e a partir daí, ensinar os fiéis a viverem a caridade entre si. 

Do mesmo modo, os sacerdotes são chamados a viver a fraternidade com os leigos, acolhendo com misericórdia e buscando os que se afastaram. A fraternidade é uma virtude evangélica que deve marcar a vida de todos: bispos, padres, diáconos, religiosos, religiosas e leigos. 

Vivam o sacerdócio com amor e, a cada dia, renovem o “sim” dado no dia da ordenação, como fazemos também na missa do Crisma, na Quinta-feira Santa. Essa renovação acontece na oração diária, onde se reaviva o chamado. Que a Virgem Maria, Mãe das Divinas Vocações, interceda por todos vocês.  

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Quinta-feira Santa: Lava-Pés, amor e serviço

Papa Francisco na prisão para menores de Casal del Marmo, Roma, em 28 de março de 2013 (Vatican Media)

Ao lavar os pés dos discípulos, Jesus demonstra seu amor pelas pessoas e mostra a todos que a humildade e o serviço são o centro de sua mensagem.

Mariangela Jaguraba - Vatican News

O Lava-Pés é um rito litúrgico realizado durante a celebração da Quinta-feira Santa que recorda a Última Ceia do Senhor. Este rito religioso baseia-se no Evangelho de João. "É o testamento de Jesus para a comunidade. A oferta da própria vida por amor", disse à Rádio Vaticano – Vatican News o provincial dos Missionários Combonianos no Brasil, pe. Raimundo Rocha.

Ao lavar os pés dos discípulos, Jesus demonstra seu amor pelas pessoas e mostra a todos que a humildade e o serviço são o centro de sua mensagem. Na missa da Instituição da Eucaristia ou Lava-Pés repete-se o mesmo gesto de Jesus. O bispo ou sacerdote que imita Jesus no gesto de lavar os pés de algumas pessoas da comunidade, compromete-se a estar a serviço da comunidade para que todos tenham a salvação, como fez Jesus, mostrando como diz um canto religioso católico que "prova de amor maior não há que doar a vida pelo irmão".

"A Igreja é chamada a amar e servir, a lavar os pés da humanidade ferida pelas guerras, pelo feminicídio, pelo discurso de ódio, pela migração forçada, por tantas situações de desumanidade. Este é o mandamento que Jesus nos deixou. Este é o seu exemplo: amar e servir", disse ainda pe. Raimundo Rocha.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quarta-feira, 16 de abril de 2025

Jesus e Jerusalém: Os passos de Jesus na Cidade Santa

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Paulo Teixeira - publicado em 16/04/25

Jerusalém, terra de conflitos, terra de morte e de vitória, terra de pecado e de santidade. Terra de Jesus...vamos descobrir.

A primeira vez que Jerusalém entra no caminho de Jesus é quando os magos vindos do oriente param na cidade para saber informações sobre o rei dos judeus que tinha acabado de nascer, conforme narra o evangelho de Mateus. A partir dessa cidade a morte tenta cruzar o caminho de Jesus que é salvo com a fuga para o Egito.  

Jesus ia ao templo com sua família, até se perdeu no meio da multidão como conta o evangelho de Lucas. Mas o templo também era um lugar duro para Jesus: ao ser tentado, o diabo levou Jesus para a Cidade Santa e o colocou na torre mais alta do templo e disse que se confiava de verdade em Deus, deveria se jogar dali do alto; após vencer as tentações, no decurso de suas pregações, Jesus ficou indignado com os vendedores do templo e teve uma atitude muito enérgica, conforme o evangelho de João: Derrubou as mesas dos vendedores, espalhou as moedas, ameaçou a construção. 

O evangelho de João conta que Jesus foi três vezes em Jerusalém para a Páscoa; os outros evangelhos contam somente sobre a última páscoa, aquela que é a Páscoa de Jesus, da sua morte e ressureição. Tem destaque o evangelho de Lucas que, em seu relato, narra um caminho único de Jesus da galileia em direção a Jerusalém.  

Sobrepondo às palavras de júbilo que os peregrinos retratados nos salmos dedicam a Jerusalém, Mateus registra palavras duras de Jesus sobre a Cidade Santa: “Jerusalém, Jerusalém, você, que mata os profetas e apedreja os que lhe são enviados! Quantas vezes eu quis reunir os seus filhos, como a galinha reúne os seus pintinhos debaixo das suas asas, mas vocês não quiseram. Eis que a casa de vocês ficará deserta” (Mt 23,27-28). 

O tempo de Jesus

Para contextualizar os fatos que aconteceram com Jesus é importante destacar que havia um clima de grande hostilidade e instabilidade em toda a região. Os romanos ocuparam a palestina no ano 63 Antes de Cristo. Pompeu invadiu Jerusalém e cercou o templo que, 10 anos depois, foi violado pelo general Crasso. O indumeu Herodes o grande foi designado pelos romanos como rei da palestina governando os judeus, rivais dos indumeus, com apoio de alguns grupos e forte oposição de outros que usavam, inclusive, de guerrilhas para resistir à dominação. Herodes morreu quando Jesus ainda era criança e seus filhos herdaram o reino, dividido em três partes. Jesus se encontrou com seu filho Herodes Antipas, que matou João Batista por um capricho da enteada conforme narram os evangelhos sinóticos. Sendo Jesus galileu, Pilatos achou que o rei de lá, que estava em Jerusalém para a festa da Páscoa, poderia fazer alguma coisa. Mas Herodes tratou Jesus com pouco caso. 

Arquelau, filho de Herodes o grande, não foi habilidoso para governar sua parte do reino, por isso Roma enviou governadores. Aí entra Pôncio Pilatos. Pessoa de nome incomum que governou a província da Judeia por uma década. É citado por historiadores antigos como alguém que enfrentou revoltas na sua gestão, tendo reprimido violentamente uma que se desencadeou no ano 36 e, por isso, foi punido pelo imperador e, possivelmente, exilado após perder o posto.  

Pilatos é recordado na profissão de fé cristã, o credo que é recitado em cerimônias, porque estava observado a cidade de Jerusalém do alto da Torre Antônia, construída no templo. Ele aguardava uma revolta ou conflito, quando levam para ele o caso de Jesus. Mesmo Jesus não sendo cidadão romano e não tendo direito a processo, Pilatos tentou lidar com a questão.

O conflito

Jesus não se indispôs com Pilatos, nem com Herodes, mas com Caifás que era o sumo sacerdote do templo. O cargo de sumo sacerdote era indicado pelos romanos e um destacamento de soldados romanos fazia a guarda para o templo e os sacerdotes. Ele conduzia o sinédrio que era uma espécie de tribunal judaico que acusou Jesus de blasfêmia ao se declarar filho de Deus. À acusação de ofender a Deus, foram acrescidas as de golpe contra o império, agitação popular e traição ao se proclamar rei dos judeus em aparente oposição à soberania dos romanos sobre a palestina. 

A prisão de Jesus se deu com medo de que ele agitasse a multidão que estava em Jerusalém para a Páscoa. A traição de um dos discípulos favoreceu a captura num lugar de recolhimento chamado Monte das Oliveiras. Jesus sabia da traição e da morte que o esperava, por isso, na última ceia transmitiu aos discípulos seus ensinamentos e desejos por meio de discurso, gestos e orações.  

A morte de Jesus, como recordamos na via-sacra e nas leituras da paixão, mostram o “empurra, empurra” das autoridades, o furor da multidão e a tortura exemplar que Jesus sofreu. 

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/04/16/jesus-e-jerusalem-os-passos-de-jesus-na-cidade-santa

Do Tratado sobre o Evangelho de São João, de Santo Agostinho, bispo

Jesus é coroado (Piterest)

Do Tratado sobre o Evangelho de São João, de Santo Agostinho, bispo

(Tract. 84,1-2:CCL36,536-538)

(Séc. V)

A plenitude do amor

Irmãos caríssimos, o Senhor definiu a plenitude do amor com que devemos amar-nos uns aos outros, quando disse: Ninguém tem amor maior do que aquele que dá sua vida pelos amigos (Jo 15,13). Daqui se conclui o que o mesmo evangelista João diz em sua epístola: Jesus deu a sua vida por nós. Portanto, também nós devemos dar a vida pelos irmãos (1Jo 3,16), amando-nos verdadeiramente uns aos outros, como ele nos amou até dar a sua vida por nós.

É certamente a mesma coisa que se lê nos Provérbios de Salomão: Quando te sentares à mesa de um poderoso, olha com atenção o que te é oferecido; e estende a tua mão, sabendo que também deves preparar coisas semelhantes (cf. Pr 23,1-2 Vulg.).

Ora, a mesa do poderoso é a mesa em que se recebe o corpo e o sangue daquele que deu a sua vida por nós. Sentar-se à mesa significa aproximar-se com humildade. Olhar com atenção o que é oferecido, é tomar consciência da grandeza desta graça. E estender a mão sabendo que também se devem preparar coisas semelhantes, significa o que já disse antes: assim como Cristo deu a sua vida por nós, também devemos dar a nossa vida pelos irmãos. É o que diz o apóstolo Pedro: Cristo sofreu por nós, deixando-nos um exemplo, a fim de que sigamos os seus passos (cf. 1Pd 2,21). Isto significa preparar coisas semelhantes. Foi o que fizeram, com ardente amor, os santos mártires. Se não quisermos celebrar inutilmente as suas memórias e nos sentarmos sem proveito à mesa do Senhor, no banquete onde eles se saciaram, é preciso que, como eles, preparemos coisas semelhantes.

Por isso, quando nos aproximamos da mesa do Senhor, não recordamos os mártires do mesmo modo como aos outros que dormem o sono da paz, ou seja, não rezamos por eles, mas antes pedimos para que rezem por nós, a fim de seguirmos os seus passos. Pois já alcançaram a plenitude daquele amor acima do qual não pode haver outro maior, conforme disse o Senhor. Eles apresentaram a seus irmãos o mesmo que por sua vez receberam da mesa do Senhor.

Não queremos dizer com isso que possamos nos igualar a Cristo Senhor, mesmo que, por sua causa, soframos o martírio até o derramamento de sangue. Ele teve o poder de dar a sua vida e depois retomá-la; nós, pelo contrário, não vivemos quanto queremos, e morremos mesmo contra a nossa vontade. Ele, morrendo, matou em si a morte; nós, por sua morte, somos libertados da morte. A sua carne não sofreu a corrupção; a nossa, só depois de passar pela corrupção, será por ele revestida de incorruptibilidade, no fim do mundo. Ele não precisou de nós para nos salvar; entretanto, sem ele nós não podemos fazer nada. Ele se apresentou a nós como a videira para os ramos; nós não podemos ter a vida se nos separarmos dele.

Finalmente, ainda que os irmãos morram pelos irmãos, nenhum mártir derramou o seu sangue pela remissão dos pecados de seus irmãos, como ele fez por nós. Isto, porém, não para que o imitássemos, mas como um motivo para agradecermos. Portanto, na medida em que os mártires derramaram seu sangue pelos irmãos, prepararam o mesmo que tinham recebido da mesa do Senhor. Amemo-nos também a nós uns aos outros, como Cristo nos amou e se entregou por nós.

Fonte: https://liturgiadashoras.online/

Reflexões diante do Calvário

No alto do Calvário (Carmo da Cachoeira)

REFLEXÕES DIANTE DO CALVÁRIO

Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ) 

O sermão do Descendimento da Cruz é realizado na Sexta-Feira Santa da paixão do Senhor, ao final da tarde, seguido da procissão com a imagem do Senhor Morto e de Nossa Senhora das Dores pelas ruas da paróquia. Para este momento devocional os fiéis são convidados a se reunirem diante do Calvário, na Igreja ou na frente da Igreja e da entrada da Igreja, e, no local mais elevado o padre profere o sermão do Descendimento da Cruz.  

Após o sermão do descendimento da Cruz todos os fiéis são convidados a participar da Procissão do Enterro e na chegada da Igreja Paroquial entrar no Templo e venerar a imagem de Nosso Senhor morto e Nossa Senhora das Dores. Também nesse dia fazemos a nossa contribuição para sustentar os lugares santos. 

O Descendimento da Cruz nos faz lembrar aquilo que José de Arimateia fez ao pedir a Pilatos permissão para tirar o corpo do Senhor da Cruz e lhe conceder um sepultamento digno. Através o Sermão do Descendimento do Senhor da Cruz seguimos passo a passo e compreendemos melhor o que significa cada chaga que o Senhor recebeu.  

É preciso resgatar esses momentos que sustentam a fé popular do povo, é importante observar que toda a liturgia da Igreja tem uma sequência, nada é colocado de maneira aleatória, uma celebração está ligada a outra. Sobretudo na Sexta-feira Santa, às 15h tem a celebração da paixão e adoração da Cruz, chamada de Ação Litúrgica. No início da noite tempos o Sermão do Descendimento da Cruz e em seguida a procissão com a imagem do Senhor morto e Nossa Senhora das Dores.  Neste dia atualizamos de certa maneira tudo aquilo que aconteceu há mais de dois mil anos atrás. 

Participemos com fé e piedade desse momento e relembremos aquilo que José de Arimateia fez, porque dessa forma podemos nos imaginar na cena. Escutar com atenção tudo aquilo que o padre profere durante o sermão. Ao vermos o Senhor sendo sepultado lembremos de tantas de mães que tem que sepultar os seus filhos antes do tempo, de tantos inocentes que morrem por causa das guerras e da violência nas grandes cidades, e ainda tantas pessoas que morrem sem o devido apoio e são enterradas sem reconhecimento, de forma indigna.  

Além do sermão proferido pelo sacerdote, esse momento na medida do possível é encenado, usa-se uma Cruz própria – ou seja, se refaz a cena do Calvário, com o Cristo na Cruz ou um grupo de fiéis encena esse momento. À medida que se encena dá mais vivacidade para o momento. Normalmente em algumas paróquias os jovens preparam uma encenação para esse momento e todos participam com muita atenção e emoção. Em muitos lugares há o próprio Sermão tradicional – seguido da encenação pelos fiéis. Temos em muitos lugares o Auto da Paixão. 

Por mais que nos dias de hoje vemos o Senhor na Cruz, sabemos que Ele ressuscitou, venceu a morte e está ao lado do Pai. Jesus nos abriu o caminho para a vida eterna e do mesmo modo que Ele ressuscitou, nós também ressuscitaremos.  

A Sexta-feira Santa é um dia de oração e reflexão, dia de jejum e abstinência, não é um dia de luto, mas pelo contrário, um dia para pensarmos na finitude da vida, e que não importa a maneira como morreremos, um dia estaremos na vida eterna ao lado de Deus. Ao longo da Sexta-feira Santa somos convidados a meditar nos últimos passos da vida de Jesus, desde a sua agonia no horto, condenação, prisão, caminho até o calvário, crucificação e morte. Nessa Sexta-feira somos convidados a rezar mais. A tarde somos convidados a participar da Ação Litúrgica da paixão do Senhor e adoração a Cruz, seguida do sermão do Descendimento da Cruz procissão e depois a procissão enterro. Um dia inteiro de oração desde a manhã até a noite. Um dia de silêncio, meditação, jejum e abstinência.  

Peçamos que os nossos pecados tenham sido pregados na Cruz e possamos ressurgir para uma vida nova na vigília da ressurreição. Essa é a ideia da quaresma e da Páscoa, deixar morrer em nós o velho homem e ressurgir para uma vida nova. É a passagem da morte para a vida, ou seja, do pecado para a vida eterna, deixar de lado a escravidão do pecado e passar para a liberdade da vida em Deus.  

Ao participarmos da celebração da paixão do Senhor e adorar a Cruz, cremos que o sofrimento acabou ali e que Jesus venceu a morte e abriu para nós o caminho para a vida eterna. Em setembro celebramos a festa da Exaltação da Santa Cruz, nessa festa não adoramos simplesmente o madeiro da Cruz em si, mas adoramos aquele que nela morreu e ressuscitou por amor a nós. É comum entoarmos esse cântico na Sexta-feira Santa: “Vitória tu reinarás, ó Cruz tu nos salvarás”. A Cruz que para muitos é derrota ou o fim, inclusive para os judeus, mas para nós é vitória e o início de uma nova vida. Desde o nosso batismo somos marcados com a Cruz de Cristo e a fé na Cruz de Cristo nos acompanhará ao longo de toda vida, até ao dia de nossa morte.  

Iniciemos o descendimento da Cruz para tirar o corpo de Jesus da Cruz. José de Arimatéia pediu autorização para Pilatos, mas para sepultar o corpo do Senhor e, é necessário fé e coragem para transportar o corpo do Senhor. Nossa Senhora sua mãe, acompanhava tudo de perto, com dor no coração, mas crendo na misericórdia de Deus. É preciso acreditar que Ele está vivo, e intercede junto ao Pai por nós.  

Em primeiro lugar tiremos a inscrição “INRI”, que significa: Jesus Nazareno Rei dos Judeus, escrito em hebraico, latim e grego. Essa inscrição se torna para nós uma profissão de fé e rezamos diariamente no Pai Nosso: “Venha a nós o vosso reino”. O Reino de Deus só se fará presente em nossa vida, a partir do momento que fizermos a vontade de Deus. Ele é o caminho, a verdade e a vida.  

Agora, tiremos a “coroa de espinhos”, essa coroa não era digna de um rei, ainda mais um rei como Jesus. Puseram uma coroa falsa naquele que era o verdadeiro rei. Os espinhos simbolizam as consequências do pecado. Muitas vezes nós cravamos essa coroa em Jesus, quando não realizamos a sua vontade e cometemos pecados.  

Em seguida, passemos para o corpo do Senhor propriamente, por primeiro “Desprendamos o braço direito”, ao ser crucificado recebeu pregos em suas mãos e pés. Imaginemos a dor que Jesus sentiu ao receber esses pregos. Nós também colocamos esses pregos em Jesus toda as vezes que pecamos e que não fazemos a sua vontade em nossa vida. Ferimos Jesus todas as vezes que não permitimos que as nossas crianças tenham uma educação de qualidade.  

Em seguida, “Desprendamos o braço esquerdo”, é preciso desatar os braços do Mestre, o braço que foi esticado e preso na Cruz, o braço que foi feito para fazer o bem, não pode ficar preso na Cruz. Que todas as vezes que o nosso braço nos levar a pecar, lembremos das feridas que Jesus sofreu ao ter seu braço preso na Cruz.  

Meus irmãos, já desprendemos os braços, agora desprendamos os pés, “Desprendam os pés”, os pregos de seus pés com certeza eram maiores ainda que os pregos de suas mãos, pois pregaram seus dois pés juntos. Imaginemos a tamanha dor que Jesus sentiu, e ainda tendo que suportar a dor do flagelo que sofreu, da coroa de espinhos e dos pregos das mãos. Que todas as vezes que impedirmos alguém de caminhar, ou privar alguém de liberdade, possamos pensar o que Jesus sofreu ao ter seus pés pregados.  

Por fim, “desçam o corpo de Jesus”, nesse momento façamos um profundo silêncio em sinal de respeito, ao Mestre que falecido é tirado da Cruz. Imaginemos a cena do corpo de Jesus sendo entregue a Maria, sua mãe (Pietà). Lembremo-nos nesse momento de tantas mães que recebem os seus filhos “mortos” em seus braços. Mortos pela violência, balas perdidas, tráfico, doenças etc. Que o Espírito Santo conforte o coração dessas mães, do mesmo modo que confortou o coração de Maria Santíssima.  

Após tirar o corpo do Senhor da Cruz, o sepultemos, mas crendo que Ele ressuscitará no terceiro dia. Que Jesus sepulte todos os nossos pecados e ressurjamos com Ele para uma vida nova na Páscoa. Se agora as trevas tomam contam do mundo, no sábado de madrugada, na vigília da ressurreição a Luz iluminará o mundo todo.  Que com a ressurreição de Jesus o mundo se abra para a paz e a harmonia, e não haja mais guerras e fome.  

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF