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sábado, 25 de janeiro de 2025

KIKO ARGÜELLO RECEBE A MEDALHA “POR ARTEM AD DEUM” (II)

Cardeal Grzegorz Ryś, arcebispo de Lodz, Polônia (neocatechumenaleiter.org)

KIKO ARGÜELLO RECEBE A MEDALHA “POR ARTEM AD DEUM”

3 de dezembro de 2024

Cardenal Grzegorz Ryś

Arcebispo de Lodz, Polônia

Ilustríssimos senhores, irmãos e irmãs, querido Kiko!

Todos nós, aqui presentes, estamos convencidos, seguramente, desta fórmula Per Artem Ad Deum.

Além disso, nos reunimos para premiar o homem que fez desta fórmula um dos princípios de sua vida.

Ainda mais, É PRECISO DIZER que este princípio não é evidente para todos. E essa “não evidência” tem várias faces:

Em primeiro lugar, pode ter a face da arte, que, a priori, não quer ter nada a ver com Deus. Isso é afirmado, de forma apropriada e ardente, por Jonathan Sachs em seu livro “A Persistência da Fé”: durante muitos séculos, a arte e a fé viveram em um matrimônio harmonioso, mas agora estão DIVORCIADAS! Como costuma acontecer nos divórcios, a causa nunca é de apenas uma das partes. O divórcio entre fé e cultura também se deve à imaturidade da fé dos cristãos: uma fé madura — dizia São João Paulo II — sempre se traduz em cultura!

Em segundo lugar, a arte pode se converter — e frequentemente se converte — um fim em si mesma. Isso significa que a arte pode não querer conduzir ninguém, mas apenas a si própria, estando totalmente concentrada em si mesma. O santo Irmão Alberto (Adam Chmielowski), um dos melhores pintores poloneses do século XIX, advertia contra esse fenômeno, falando de uma “Senhora Arte” que exige para si uma devoção idólatra.

Em terceiro lugar, ao longo dos séculos, não faltaram na Igreja vozes críticas em relação à arte religiosa e sacra e às suas exigências. Quando o culto das imagens foi reconhecido pelo Segundo Concílio de Niceia, no Ocidente do cristianismo, no ambiente de Carlos Magno, surgiram uma série de dúvidas. A coleção mais completa é a dos Livros Carolíngios, de Teodulfo de Orleans: Jesus não ordenou aos apóstolos que pintassem imagens, mas que pregassem a PALAVRA. Por quê?

Porque a palavra não prende a imaginação humana com tanta força quanto uma imagem! Isso nós sabemos. Creio que essa é uma experiência comum a todos nós. Eu (por exemplo) sei desde criança que Deus Pai é um ancião bastante sério sobre as nuvens, com barba, um cetro e o globo cruciforme na mão; assim o via no teto da minha igreja paroquial (uma vez por semana, às vezes até todos os dias); e é quase impossível se libertar dessa imagem.

De fato, diz Teodulfo, a arte tem um valor educativo (litteratura illitteratorum), mas apenas em relação com a palavra. Uma imagem não explicada de uma mulher bela poderia representar tanto Maria quanto Vênus…

Em quarto lugar, focar-se na arte pode inverter as prioridades. São Bernardo de Claraval falou disso com muita força na história da Igreja: “A Igreja resplandece de ouro e seu Senhor tem as costas desnudas” – a Igreja resplandece de ouro – possui altares, vasos e candelabros de ouro, enquanto o Senhor da Igreja – Jesus na pessoa do pobre – está com as costas desnudas: não lhe deram uma camisa, porque todos os fundos foram gastos em decorar o templo.

Recordo todas estas objeções, não contra o princípio “per artem ad Deum” (pela arte até Deus), mas para demonstrar que vivê-lo corretamente não é nada simples: requer não apenas talento, mas também esforço, discernimento, disciplina da pobreza, oração e vigilância. O prêmio concedido hoje, portanto, não se refere apenas às capacidades artísticas, mas também à radicalidade da vida evangélica.

Cardeal Grzegorz Ryś, arcebispo de Lodz, Polônia (Foto: Tomasz Marynowski)

O caminho “per artem ad Deum” não é fácil, mas bem-aventurados os que o percorrem e guiam outros por ele. É o caminho de Deus. Deus mesmo o prepara e o percorre em direção ao homem. O caminho humano “per artem ad Deum” é antes e originariamente o caminho de Deus “per artem ad hominem”; o Livro da Sabedoria fala disso de forma esplêndida: “Porque, pela BELEZA e pela formosura das criaturas, contempla-se, por analogia, o seu autor” (Sb 13,5). Dois versículos antes, ele é chamado de “Autor da BELEZA”. A beleza que Ele cria está destinada a nos conduzir até Ele.

Mas também acontece – admite o autor inspirado – que a beleza se interpõe entre Deus e os homens, que começam a adorar a criação: “Deixam-se levar pela aparência, TÃO BELAS SE APRESENTAM AOS SEUS OLHOS!” (v. 7). No entanto, o pecado e a desvio não são a última palavra na história da humanidade. A resposta para eles é a SALVAÇÃO!

São João Paulo II, em sua “Carta aos artistas”, fala de “Beleza que SALVA”; nosso Laureado – seguindo Dostoiévski – diz o mesmo. Sabemos bem: a salvação é obra de Deus, e se realiza graças ao “mais belo dos filhos dos homens”. O caminho da beleza (via pulchritudinis) é o caminho da criação e da salvação de Deus. Para todos os seres humanos. Não para alguns poucos artistas seletos, mas para todo pecador. Este é o KERIGMA definitivo de Kiko.

Obrigado pela atenção.

Mons. Segundo Tejado

Boa noite a todos, Eminência, Excelência, amigos!

Mons. Segundo Tejado (neocatechumenaleiter.org)

A mim me tocou a tarefa de explicar a obra de Kiko. Não tem sido fácil, não é fácil, certamente algo me esqueço, porque ele fez tanto, em tantas partes, tantas obras, que realmente é difícil quantificá-las. Me estenderei um pouquinho, não muito, não se preocupem, mas me parece importante dizer hoje, aqui neste lugar, neste momento, fazer um pequeno percurso, para onde Deus o levou em sua história para chegar até hoje, a este prêmio.

Kiko Argüello

Pintor espanhol, nascido em León no dia 9 de janeiro de 1939. Estuda na Escola Central de Belas Artes da Academia de San Fernando de Madri. Participa em inúmeras exposições e concursos de pintura na Espanha, e em 1959 recebe o Prêmio Nacional Extraordinário de Pintura.

No final dos anos cinquenta vive uma crise existencial que o leva a um encontro profundo com Jesus Cristo, levando-o a dedicar sua vida e sua arte a Cristo e à Igreja. Junto com o P. Aguilar OP, em 1960, realiza uma viagem pela Europa, antes do início do Concílio, para estudar a arte sacra, precisamente à vista da convocação conciliar. Sobre a pegada dessa renovação, muda os conteúdos de sua arte, e junto a um escultor e a um vidreiro forma um grupo de arte sacra chamado “Grêmio 62” que realiza uma série de exposições em Madri, Royan (França) e Haia (Países Baixos).

Mons. Segundo Tejado (neocatechumenaleiter.org)

Em 1964, o Senhor lhe inspira a ir viver entre os pobres em uma favela de Palomeras Altas, na periferia de Madri, abandonando sua promissora carreira como artista. Posteriormente, conhece Carmen Hernández, uma missionária, licenciada em Química e em Teologia, hoje Serva de Deus. Junto a ela, dá vida a uma nova forma de pregação que levará ao nascimento de uma comunidade cristã entre os pobres: a primeira comunidade neocatecumenal. Essa experiência será levada, aos poucos, para as paróquias. A pequena semente começa a germinar na Espanha e, após a experiência de Kiko entre os pobres da periferia de Roma, no Borghetto Latino, na Itália e no mundo todo. O Caminho Neocatecumenal hoje está presente em 136 países, em cerca de 1.300 dioceses e mais de 6.200 paróquias.

A arte de Kiko, desde o início da experiência do nascimento das primeiras comunidades, terá como objetivo de busca a necessidade de oferecer lugares de celebração adequados e dignos para a renovação que o Concílio Vaticano II está oferecendo à Igreja. Através do Caminho Neocatecumenal, são criadas um conjunto de estruturas para implementar essa renovação ao serviço da comunidade cristã.

Kiko encontra na arte da Igreja Oriental, nos ícones, a expressão mais adequada à experiência que está vivendo. Ele se impressiona com a espiritualidade desses pintores que, renunciando à própria “originalidade” e submetendo-se ao cânone preestabelecido pela tradição da Igreja, encontram o caminho para uma arte e uma espiritualidade muito mais elevadas. Kiko segue o cânone ortodoxo, atualizando-o com as novidades da pintura moderna – como Picasso, Matisse – nas quais se formou.

Colaboradores da Fundação Obra Artística de Kiko Argüello (neocatechumenaleiter.org)

Em 2000, Kiko criou uma escola de pintores para a realização de ciclos pictóricos nas igrejas, como veremos a seguir, e em 2018, constituiu-se a Fundação Obra Artística Kiko Argüello, com a finalidade de conservar e divulgar a obra artística de Kiko.

Arquitetura e Pintura

Kiko Argüello, junto com Carmen Hernández, começa, seguindo o caminho do Concílio, a trabalhar na transição de uma pastoral de igreja massiva para uma igreja “comunidade de comunidades”, oferecendo uma renovação completa: da arquitetura à iconografia, dos espaços celebrativos e de encontro entre as pessoas, o que ele denominou Catecumenium, aos elementos próprios da liturgia.

Assim encontramos a obra artística de Kiko em distintas paróquias:

  • La Paloma (Madri)
  • San Bartolomeo em Tuto em Florência
  • Santa Catalina Labouré (Madri)
  • Sagrada Família (Oulu – Finlândia)
  • Catedral de Nossa Senhora de Arábia – Bahrein
A Transfiguração (neocatechumenaleiter.org)

Em outras igrejas/paróquias pinta ciclos pictóricos, com “Coronas Mistéricas” e “Retábulos”, destinados a realçar as festas litúrgicas, segundo a tradição oriental.

  • Catedral de Madri (ábside e capela de Nossa Sra. do Caminho)
  • Afresco da paróquia de Santiago (Ávila)
  • Igreja de Fuentes del Carbonero Mayor (Segóvia)
  • Em Roma: Cripta e salão Paróquia dos Santos Mártires Canadenses, Santa Francesca Cabrini, S. Luigi Gonzaga, Natividade
  • Salão Litúrgico da Paróquia de San Frontis (Zamora)
  • Em Madri: Igreja e salão de N. Sra. do Trânsito, S. José, S. Sebastián, La Paloma, S. Roque
  • Salão Paroquial Buone Nouvelle (Paris)

Junto à escola pictórica criada por ele, realiza vários ciclos pictóricos:

  • Paróquia da Santíssima Trindade (Piacenza)
  • Paróquia de S. Giovanni Battista (Perugia)
  • Paróquia Santíssima Trindade, (S. Pedro del Pinatar, Murcia)
  • Paróquia de S. Massimiliano M. Kolbe (Roma)
  • Igreja de San Francisco Javier (Shanghái – China)
  • Paróquia del Pilar ( Valdemoro – Madri)
  • Igreja de Troina, Cagliari, Mestre, Verona, etc.
  • Igreja Monastério Carmelita S. José (Mazarrón -Murcia)

Centros Neocatecumenais

Domus Galilaeae, capela do Santíssimo (neocatechumenaleiter.org)

Além das igrejas e dos salões litúrgicos das paróquias, cria centros neocatecumenais e casas de convivência: lugares de encontro entre os catequistas do Caminho, os irmãos e as dioceses:

  • Centro Neocatecumenal de Madri e Roma
  • Centro Neocatecumenal Servo de Yahweh (Porto San Giorgio), lugar de encontro e envio de missionários itinerantes para as nações. Em 1988, São João Paulo II celebrou a Eucaristia e enviou as primeiras famílias em missão. Neste centro cria o primeiro Santuário da Palavra, um lugar para o estudo e o escrutínio das Escrituras, decorado com um vitral original.
  • Centro Internacional “Domus Galilaeae” no Monte das Bem-aventuranças em Terra Santa. Acolhendo a intuição de Carmen Hernández de erigir um centro de formação para os presbíteros e catequistas na Terra Santa, cria e constrói a Domus Galilaeae. São João Paulo II — que visitou e abençoou as obras desta casa no ano 2000 — desejou que esta casa “possa favorecer uma profunda formação religiosa e um diálogo frutífero entre judaísmo e Igreja Católica”. Prova disso são as milhares de visitas, tanto de judeus quanto de palestinos, que ficam impressionados com a beleza e a hospitalidade da Casa; assim como os encontros internacionais de bispos e também de rabinos. Preside este lugar o significativo grupo escultórico de Cristo com os apóstolos e a escultura de São João Paulo II.
  • Casas de convivência e centros Neocatecumenais em vários países de América Latina, África, Europa.
Centro Neocatecumenal Internacional em Porto San Giorgio, Itália (neocatechumenaleiter.org)

Seminários Redemptoris Mater

O Senhor inspira Kiko e Carmen a necessidade de ajudar a Igreja nesta renovação, erigindo, junto com São João Paulo II, o primeiro Seminário Diocesano Missionário Redemptoris Mater em Roma, ao que outros bispos seguirão e abrirão um Seminário Redemptoris Mater em suas dioceses, até chegar ao número de 120 seminários no mundo. Kiko desenha o modelo arquitetônico de muitos desses seminários.

  • Seminário Redemptoris Mater de Macerata
  • Seminário Redemptoris Mater em Varsóvia (Polônia)
  • Seminário Redemptoris Mater de Managua (Nicarágua)
  • Igreja dos Seminários Redemptoris Mater de Roma e Madri
Igreja do Seminário Redemptoris Mater de Roma (neocatechumenaleiter.org)

https://youtu.be/Vwh85cYpDiY

Outras disciplinas artísticas

Além dessas obras de arquitetura, pintura e escultura, Kiko dedica-se a outras disciplinas artísticas: vitrais, paramentos litúrgicos e objetos de ourivesaria, como cruzes, cálices, capas de Bíblia, evangeliários, etc., sempre com o objetivo de servir à comunidade cristã em seu itinerário de fé.

  • Vitrais da Catedral de Madri (Espanha)
  • Vitrais do Centro Internacional Porto S. Giorgio (Itália)
  • Vitrais nos seminários de Roma, Madri
  • Vitrais da Domus Galilaeae (Israel).
Vitrais na Catedral de Madri, Espanha (neocatechumenaleiter.org)

Música

Até mesmo por meio da música, Kiko busca um caminho para anunciar o Evangelho ao homem de hoje: coloca sua vocação artística a serviço da Igreja e da Liturgia, pondo músicas nos Salmos, trechos da Sagrada Escritura, hinos da Igreja Primitiva e também poemas espirituais extraídos de seus escritos. São mais de 200 composições musicais para acompanhar e enriquecer as celebrações litúrgicas das comunidades neocatecumenais.

neocatechumenaleiter.org

Em 2010, Kiko compõe sua primeira sinfonia, “O Sofrimento dos Inocentes”, e, no mesmo ano, funda a Orquestra Sinfônica do Caminho Neocatecumenal, um grupo internacional formado por cerca de 200 músicos. Esta sinfonia é apresentada em todo o mundo: nos principais teatros, salas de concerto, praças e catedrais. De Madri a Nova York, de Chicago a Tóquio, de Budapeste a Lublin; de Auschwitz a Trieste, etc. Após a primeira sinfonia, Kiko compõe uma segunda partitura, um poema sinfônico em três partes, intitulado “O Messias”

A obra de evangelização e artística de Kiko recebeu o reconhecimento com um doutorado Honoris Causa de quatro universidades católicas: Roma, Lublin, Washington e Madri.

Kiko Argüello, a partir de sua conversão, concebe sua arte como uma missão. Com essa concepção da arte sacra, a devolve ao lugar de sua vocação original: a liturgia. A arte sacra havia se deslocado do lugar sagrado ao museu, à sala de exposições, aos salões dos colecionadores, anulando assim seu valor cultual e litúrgico. Kiko devolve a obra de arte à liturgia; dentro de uma comunidade viva, uma assembleia que celebra os mistérios da salvação.

Orquestra sinfônica do Caminho Neocatecumenal (neocatechumenaleiter.org)

Um detalhe que eu gostaria de lembrar aqui: Kiko arranca a arte do contexto do “negócio”: não cobra por suas obras: busca uma arte para os pobres, para a liturgia, para a comunidade. Faz que a arte cumpra sua verdadeira e elevada missão: levar o coração do homem à Jerusalém celeste, para experimentar o amor que Deus nos mostrou em Cristo, nascido, encarnado, batizado, transfigurado (vai indicando os ícones do retábulo), que entra na Paixão, institui a Eucaristia, morre por todos nós na cruz, é deposto da cruz, desce aos infernos para resgatar o homem e a mulher, e ressuscita (levam a mirra ao sepulcro), aparece aos apóstolos, ascende ao céu à direita de Deus Pai e envia sobre nós seu Espírito Santo com Maria, a Assunção de Maria, e virá logo, virá logo, irmãos, no final dos tempos na glória, como nos lembra este Pantocrator e o tempo de Advento que justo hoje começamos.

Presidente de Targi Kielce, Sacroexpo, Sr. Andrzej Mochoń

Sr. Andrzej Mochoń (Foto: Tomasz Marynowski)

Senhoras e senhores

Compraz-me saudá-los por ocasião deste evento único em seu tipo. Faz mais de 25 anos que organizamos em Kielce a feira internacional Sacroexpo, um acontecimento que combina a esfera do sagrado com o mundo empresarial. Cada ano participam no evento importantes convidados do mundo da cultura e da religião, que oferece um espaço de diálogo e de troca.

Neste espírito, desde 2005, concedemos o prêmio Per Artem Ad Deum. Trata-se do único prêmio patrocinado pelo Pontifício Conselho para a Cultura, desde 2005 a 2022. O prêmio é outorgado a artistas ou instituições cuja atividade artística contribua para o desenvolvimento da cultura e da formação da espiritualidade humana.

(neocatechumenaleiter.org)

Nestes últimos anos fiz numerosos esforços para continuar com esta grande tradição. Em 2017, no âmbito do prêmio Per Artem Ad Deum, reforçamos nossa colaboração assinando uma carta de intenção com o cardeal Gianfranco Ravasi, nesse momento presidente do Conselho Pontifício para a Cultura. Em 2022, depois da criação do Dicastério para a Cultura e a Educação, pudemos estabelecer uma colaboração com o Prefeito do Dicastério, o cardeal José Tolentino Calaça de Mendonça. Graças a esta colaboração, os futuros laureados receberão uma medalha sob os auspícios do novo Dicastério.

Tenho orgulho de dizer que, nos últimos 19 anos, já premiamos 32 personalidades de destaque, entre elas os compositores Ennio Morricone, Arvo Pärt, Wojciech Kilar e Krzysztof Penderecki, os diretores Giuseppe Tornatore e Krzysztof Zanussi, os arquitetos Stanisław Niemczyk e Mario Botta, os escultores Arnaldo Pomodoro e Wincenty Kućma, e também os pintores poloneses Tadeusz Boruta, prof. Stanisław Rodziński e Jerzy Jan Skąpski, bem como o mais importante mosaicista russo contemporâneo, Alexander Kornoukhov. Estas personalidades transcenderam o tempo e o espaço com as suas obras e guiaram-nos para o transcendente.

Hoje estamos felizes por poder entregar o prêmio Per Artem Ad Deum a Kiko Argüello. Com ele queremos ressaltar seu decisivo aporte à Arte Sacra e sua intensa contribuição na obra de evangelização expressa na comunidade do Caminho Neocatecumenal. A obra de Kiko vai muito mais além da atividade tradicional da criação artística. Através da pintura, entendida como reflexo da luz de Deus, e da música, linguagem universal capaz de abrir o coração à dimensão do espírito, ele encontra uma maneira de anunciar o Evangelho ao homem contemporâneo. Coloca sua vocação artística a serviço da Igreja e de sua liturgia, compondo música para os Salmos, outras passagens da Escritura, hinos da Igreja primitiva, assim como poemas espirituais extraídos de seus escritos. Kiko Argüello é autor de livros, assim como de importantes obras de pintura, arquitetura e escultura em todo o mundo.

neocatechumenaleiter.org

Para mim, é verdadeiramente um grande prazer entregar hoje a Medalha Per Artem Ad Deum do ano de 2024 pessoalmente a Kiko Argüello. Este reconhecimento, patrocinado pelo Dicastério para a Cultura e a Educação, celebra todas suas obras no campo da arte.

Querido Kiko Argüello, quero alegrar-me com você desde o fundo do meu coração e agradecer a sua imensa colaboração para o desenvolvimento da arte sacra e pelo seu trabalho em todas as atividades do Caminho Neocatecumenal. Que o seu trabalho possa continuar inspirando e transformando os corações das pessoas em todo o mundo.

Fonte: https://neocatechumenaleiter.org/pt-br/kiko-arguello-recebe-a-medalha-per-artem-ad-deum/

Papa: Páscoa seja celebrada na mesma data por todos os cristãos

Celebração das Segubdas Vésperas (Vatican News)

Nas vésperas na Basílica de São Paulo fora dos Muros, Francisco garantiu que a Igreja Católica está disposta a aceitar a data que todos decidirem: "uma data da unidade".

Bianca Fraccalvieri – Vatican News

Acreditamos na comunhão entre os cristãos? Esta foi a pergunta feita pelo Papa na homilia das vésperas celebradas na tarde deste sábado, 25 de janeiro, na Basílica de São Paulo fora dos Muros, no dia em que a Igreja celebra a conversão do Apóstolo.

Trata-se de uma cerimônia tradicional na presença de autoridades de outras confissões, que encerra a Semana de Oração da Unidade dos Cristãos. 

A homilia do Pontífice foi inspirada no episódio do Evangelho de João (11, 21), que narra o encontro entre Jesus e Marta, após a morte de Lázaro. Este trecho nos ensina  que, mesmo nos momentos de profunda desolação, não estamos sós e podemos continuar a ter esperança. 

“Jesus dá vida, mesmo quando parece que toda a esperança desapareceu. Depois de uma perda dolorosa, uma doença, uma amarga desilusão, uma traição ou outras experiências difíceis, a esperança pode vacilar; mas o Evangelho nos diz que com Jesus a esperança renasce sempre, porque Ele sempre nos reergue das cinzas da morte, dando-nos a força para retomar o caminho e recomeçar.”

Para Francisco, isto é importante também para a vida das Comunidades cristãs e para as relações ecumênicas, onde, por vezes, podemos nos sentir desanimamos perante os resultados do nosso esforço. O ecumenismo não é feito de atos práticos para uma melhor compreensão. Há o Espírito que nos guia neste caminho e o Senhor virá, recordou o Papa. “Acreditamos nisto?” 

“Queridos irmãos e irmãs, jamais nos esqueçamos: a esperança não decepciona; a esperança nunca decepciona. A esperança é aquela corda à qual nós seguramos com a âncora na praia. E esta jamais decepciona!”

Esta mensagem de esperança está no centro do Jubileu, lembrou o Papa. Neste mesmo ano, celebra-se o aniversário dos 1700 anos do primeiro grande Concílio ecumênico de Niceia, que se esforçou por preservar a unidade da Igreja num momento difícil. Naquela ocasião, os Padres conciliares aprovaram por unanimidade o Credo que muitos cristãos ainda hoje recitam todos os domingos durante a Eucaristia. 

“Trata-se duma profissão de fé comum que vai para além de todas as divisões que feriram o Corpo de Cristo ao longo dos séculos. Portanto, o aniversário do Concílio de Niceia representa um ano de graça, uma oportunidade para todos os cristãos que recitam o mesmo Credo e acreditam no mesmo Deus: recuperemos as raízes comuns da fé, preservemos a unidade!”

Este aniversário, prosseguiu, não deve ser celebrado apenas como “memória histórica”, mas também como compromisso de testemunhar a crescente comunhão entre os cristãos, como um convite a perseverar no caminho rumo à unidade. 

De modo providencial, este ano, a Páscoa será celebrada no mesmo dia tanto no calendário gregoriano como no juliano, lembrou o Papa, renovando seu apelo para que esta coincidência sirva de estímulo para que se chegue a uma data comum para a Páscoa.

A propósito, Francisco garantiu que a Igreja Católica está disposta a aceitar a data que todos decidirem: "uma data da unidade". Então concluiu:

“Queridos irmãos e irmãs, este é o momento de confirmar a nossa profissão de fé no único Deus e de encontrar em Cristo Jesus o caminho da unidade. Enquanto esperamos que o Senhor venha «em sua glória, para julgar os vivos e os mortos» (cf. Credo Niceno), nunca nos cansemos, diante dos povos, de dar testemunho do Filho unigénito de Deus, fonte de toda a nossa esperança.”

Celebração das Segubdas Vésperas (Vatican News)

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Festa da Conversão de São Paulo

Conversão de São Paulo (Templário de Maria)

25 DE JANEIRO – CONVERSÃO DE SÃO PAULO
(Século I)

Com sua conversão – que a Igreja latina, desde o século VI, comemora conjuntamente com a festa litúrgica deste dia – são Paulo recebeu diretamente de Cristo a missão de evangelizar os povos. O milagroso evento teve profunda repercussão na história da Igreja. Um de seus mais ativos perseguidores tornou-se o mais zeloso e incansável missionário.

‘Não sou digno de ser chamado apóstolo’, escreve sobre si mesmo, recordando à primeira comunidade cristã os tempos de hostilidade de sua juventude. Acrescenta, em seguida, com legítima ufania: ‘mais do que qualquer outro, lutei’.

Eis suas credenciais de apóstolo: viu Jesus ressuscitado; pode, pois, testemunhá-lo; foi chamado e enviado para pregar o Evangelho, como o outros apóstolos.

‘Quem és, Senhor?’: está implícita na pergunta de Saulo – caído por terra, por causa da grande luz divina, a caminho de Damasco -, a prova de sua boa-fé. E a resposta é igualmente repleta de significado: ‘Eu sou Jesus, a quem tu estás perseguindo’. Foi revelada a Paulo a misteriosa verdade do Corpo místico da Igreja. A sequência também desvenda o segredo dessa alma generosa, intolerante àqueles que reputa traidores e hereges: ‘A ti é difícil recalcitrar contra o aguilhão’.

Paulo, de fato, fora atingido pelo ‘aguilhão’ da graça, e aquela profusão de luz, que o deixou momentaneamente cego, abriu-lhe os olhos para a obra redentora de Cristo. O milagre da graça condensara naquele raio fulgurante toda a teologia paulina – pão substancioso a ser dividido com os irmãos, oralmente e por escrito. Cada uma das cartas dirigidas às várias comunidades desenvolve os grandes temas dessa mensagem divina.

Em 36, Saulo estava presente quando foi lapidado o primeiro mártir cristão, Estêvão, mas ele não tomou parte nisso, pois era ainda ‘muito moço’, dizem os Atos dos Apóstolos. Em 62, Paulo escreve que já era ‘velho’. Daí se pode deduzir que tenha nascido entre os anos 6 e 10 e tenha sido decapitado em 69 – sua atividade apostólica desenvolve-se num período de vinte anos, seis dos quais transcorridos na prisão.

Conheça mais sobre a Conversão de São Paulo Apóstolo

O apóstolo Paulo de Tarso, cujo nome original era Sha’ul (“Saulo”) (Tarso, c. 3 – Roma, c. 66) é considerado por muitos cristãos como o mais importante discípulo de Jesus e, depois de Jesus, a figura mais importante no desenvolvimento do Cristianismo nascente.

Paulo de Tarso foi um apóstolo diferente dos demais, por ter dado maior ênfase aos irmãos gentios, pois seu chamado era destinado a eles que estavam espalhados pelo mundo (Atos 13:47). Paulo, assim como os outros Verdadeiros Apóstolos, também teria visto Jesus Cristo (Atos 9:17, I Coríntios 15:8, dentre outros textos). Paulo era um homem culto, frequentou uma escola em Jerusalém (a Escola de Gamaliel), tinha feito uma carreira no Templo (era Fariseu), onde foi sacerdote. Destaca-se dos outros apóstolos pela sua cultura, considerando-se que em sua maioria era de pescadores. A língua materna de Paulo era o grego. É provável que também dominasse o aramaico.

Educado em duas culturas (grega e judaica), Paulo fez muito pela difusão do Cristianismo entre os gentios e é considerado uma das principais fontes da doutrina da Igreja. As suas Epístolas formam uma secção fundamental do Novo Testamento. Alguns afirmam que ele foi quem verdadeiramente transformou o cristianismo numa nova religião, e não mais uma seita do Judaísmo.

Foi a mais destacada figura cristã a favorecer a abolição da necessidade da circuncisão e dos estritos hábitos alimentares tradicionais judaicos. Esta opção teve a princípio a oposição de outros líderes cristãos, mas, em consequência desta revolução, a adoção do cristianismo pelos povos gentios tornou-se mais viável, ao passo que os Judeus mais conservadores, muitos deles vivendo na Europa, permaneceram fiéis à sua tradição, que não tem um móbil missionário.

Biografia – Infância

Paulo nasceu em Tarso, na Cilícia, que atualmente pertence à Turquia, numa família judaica da Diáspora (dispersão) (na altura já havia uma diáspora de judeus que viviam espalhados pelo mundo, sobretudo na Pérsia, mas também em torno do mediterrâneo, em Alexandria e no norte de África, na Turquia, Grécia e outras partes do Império Romano, incluindo a atual Espanha). Nasceu numa data desconhecida mas “sem dúvida antes do ano 10 da nossa era” (Étienne Trocme). Seu pai, em circunstâncias que se desconhece, adquiriu a cidadania romana mantendo a fé judaica, educou-o na tradição judaica. Durante toda sua vida sua cidadania romana foi um meio de proteção física. Como ele próprio diz, foi circuncidado ao oitavo dia e mantém-se sempre na lei mosaica. Diz-se mesmo um Fariseu. A sua formação primária foi feita numa escola de cultura grega, como atestam as suas cartas. Mas ele afirma que recebeu também o ensino por parte de rabinos.

Jerusalém

Em determinada altura Paulo deve ter ido viver em Jerusalém. As cartas dos apóstolos afirmam que ele foi aluno do rabino Gamaliel em Jerusalém. Não há dúvida de que passou uma parte importante da juventude em Jerusalém. Foi em Jerusalém que Paulo participou no apedrejamento daquele que ficaria conhecido como Santo Estêvão, um líder de um grupo fervoroso dos seguidores de Jesus, nesta época não se chamava de Cristianismo ainda a doutrina do Cristo, mas sim de “Caminho”. Paulo foi um perseguidor destes seguidores de Jesus, núcleo de cristãos que procuravam difundir a nova fé entre os judeus de Jerusalém.

O argumento de Paulo na sua perseguição aos seguidores do “Caminho” era a defesa da “tradição dos pais” e da lei mosaica, que ele via como ameaçada pelos seguidores de Jesus. Alguns autores chegam mesmo a colocar a hipótese de Paulo ter sido um zelote, dado o seu fervor religioso. Também o fato de sua vida ter sido colocada em perigo após ter tomado partido pelos cristãos leva Étienne Trocmé a dizer que isso “corresponde bem ao pouco que sabemos sobre a organização do partido zelote”.

Em determinado momento, Paulo de Tarso saiu do mundo judaico e foi para Atenas pregar. Os relatos contam que, na sua estada na Acrópole, ele consegue converter Dionísio Ariopaseta.

Missão de Damasco

Saulo, fervoroso defensor da tradição judaica (e por isso talvez mesmo um zelote), foi enviado a Damasco para fazer face à agitação dos seguidores do “Caminho”.

Foi durante esta missão a Damasco que Saulo tomou o partido dos cristãos que perseguia anteriormente. Foi aqui que Saulo, indo no caminho de Damasco, já perto da cidade, viu um resplendor de luz no céu que o cercou, e caindo por terra, ouviu uma voz que lhe dizia: “Saulo, Saulo, porque me persegues?”. (Atos 9.1-22) Saulo muda de lado. A esta mudança de partido ele fez corresponder uma mudança de nome. Abandonou o nome Saulo e, deste momento em diante, fez-se conhecer como Paulo.

Viagens e apostolado

Após muitos anos de atividade missionária, com três grandes viagens apostólicas descritas na Bíblia (incluindo Grécia, Macedônia e Ásia Menor nos itinerários), onde fundou diversas comunidades, foi preso em Jerusalém por volta do ano 61 d.C. sob a falsa acusação de estar infiltrando gentios no Templo de Jerusalém, o que era punido com a morte pelos judeus. Conseguindo se desvencilhar das mãos das autoridades do templo, apelou ao Imperador Romano, sendo enviado a Roma, onde, após um naufrágio e uma rápida parada na Ilha de Malta, teria sido julgado e, após cerca de dois anos encarcerado, foi libertado.

Segundo a tradição e pelo que é descrito em suas cartas, reiniciou sua atividade missionária, sendo que, muito provavelmente, visitou a Espanha e retornou à Ásia Menor, onde, em Trôade, foi denunciado por um ferreiro de nome Alexandre, sendo repentinamente preso e, mais uma vez, enviado a Roma. Lá, ficou encarcerado no Segundo Subsolo do Cárcere Marmetino.

Foi julgado e condenado à morte sob Nero que, naqueles tempos, estava perseguindo duramente os cristãos. Em face de ser cidadão romano, em vez de ser crucificado, Paulo teria sido decapitado em 67 d.C. em um lugar conhecido como Águas Salvias. Seu túmulo encontra-se na Basílica de São Paulo Extra-Muros, na Via Ostiense, local tradicionalmente aceito como sendo de seu martírio.

Aspecto físico

Não temos qualquer relato confiável do aspecto físico de Paulo. Os únicos relatos que possuímos são dos finais do século II e não são mais do que a projeção dos ideais estéticos a uma figura lendária. Dizia-se que Paulo era manco de uma perna, tinha problemas de vista e era calvo, tinha aproximadamente 1,50 metros de altura. Há indícios de que Paulo tinha problemas de saúde, padecendo de uma doença crónica e dolorosa, da qual ignoramos a natureza, mas que lhe terá sido um obstáculo à sua atividade normal. Por volta dos anos 58-60 ele descrevia-se a si próprio como um velho.

Paulo escreveu várias epístolas para as comunidades que visitara, pregando e ensinando as máximas cristãs. As cartas relacionadas a seguir (conhecidas como Corpus Paulinum) são aquelas que, tradicionalmente, são atribuídas a Paulo:

• Romanos
• I Coríntios
• II Coríntios
• Gálatas
• Efésios
• Filipenses
• Colossenses
• I Tessalonicenses
• II Tessalonicenses
• I Timóteo
• II Timóteo
• Tito
• Filémon
• Hebreus, anônima, mas tradicionalmente atribuída a Paulo.

Bibliografia:

• Étienne Trocmé, “L’enfance du christianisme”, Edit. Hachette, 1999

Conversão de São Paulo (Templário de Maria)
Fonte: https://templariodemaria.com/santo-do-dia-25-de-janeiro-conversao-de-sao-paulo/

sexta-feira, 24 de janeiro de 2025

KIKO ARGÜELLO RECEBE A MEDALHA “PER ARTEM AD DEUM” (I)

Kiko Argüello, Cardeal Grzegorz Ryś e Andrzej Mochoń (neocatechumenaleiter.org)

KIKO ARGÜELLO RECEBE A MEDALHA “PER ARTEM AD DEUM”

3 de dezembro de 2024

Em um ato simples e emocionante, no domingo, 1º de dezembro de 2024, na igreja do Seminário Redemptoris Mater de Roma, Kiko Argüello, iniciador do Caminho Neocatecumenal junto com Carmen Hernández, recebeu a medalha “Per Artem ad Deum” por sua contribuição à arte sacra.

O prêmio é concedido anualmente pela Associação SacroExpo a artistas ou instituições cujos feitos artísticos contribuem para o desenvolvimento da cultura e da espiritualidade humana. Conta com a particularidade de ser o único prêmio patrocinado pelo Dicastério para a Cultura e a Educação.

Vídeo do ato de entrega do prêmio

https://youtu.be/HzAO9ZNcw34

“Nova estética na Igreja”, Kiko Argüello

Muito bem, muito bem! Posso dizer uma palavra?

Agradeço ao Cardeal Ryś e ao Mons. Arrieta por sua presença. Agradeço à associação ARTESACRA por esta medalha “PER ARTEM AD DEUM”, que para mim foi uma surpresa inesperada.

Quando tinha 20 anos, recebi o prêmio nacional extraordinário de pintura na Espanha. Pouco tempo depois, abandonei minha carreira como pintor para encontrar Cristo no meio dos pobres. E o Senhor me recompensou com o cêntuplo, pois um dia fui chamado para pintar o ábside e os vitrais da catedral de Madri.

O Senhor fez algo impressionante comigo e com Carmen. Porque o mais importante de toda a minha obra artística foi abrir um Caminho de Iniciação Cristã em toda a Igreja, que está ajudando tantas famílias e tantos jovens. Isso, sim, é uma verdadeira obra de arte!

Kiko Argüello e Andrzej Mochoń (neocatechumenaleiter.org)

Todos conhecem a famosa frase de Dostoiévski no livro O Idiota: “A beleza salvará o mundo”. O príncipe a pronuncia e, em seguida, diz que essa beleza é Cristo. Temos visto a obra em que Deus nos envolveu com o Caminho de Iniciação Cristã, e estamos completamente impressionados… O Senhor nos levou a encontrar uma estética, imagens e uma maneira de expressar a fé com um novo tipo de realização, inclusive da própria Igreja.

A beleza salvará o mundo. Qual beleza? Hoje, a beleza é importantíssima, porque estamos em um mundo em que o culto a beleza, ao corpo é muito importante. A beleza é necessária porque sem ela o homem cai no desespero. São João Paulo II já havia dito que a falta de beleza conduz à falta de esperança, ao desespero e a um grande número de suicídios entre os jovens.

A beleza, como estudada na filosofia, é um dos transcendentais do ser, junto com a verdade e a bondade. Gostaria de relacionar a beleza com o prazer e com a emoção estética. Vou dar a vocês uma pincelada sobre a beleza.

neocatechumenaleiter.org

Se você abrir as Escrituras, verá algo surpreendente. No livro do Eclesiástico, capítulo 42, está escrito: “Deus fez todas as coisas de duas em duas, uma diante da outra, e nada criou que seja ruim. Cada coisa manifesta a excelência da que está ao seu lado”. Diz que tudo o que Deus criou exalta a excelência do que está ao seu lado. Este é o princípio da beleza. A relação entre uma coisa e a que está ao lado. Por isso, dizemos que o conteúdo mais profundo da beleza é o amor. Por exemplo, em uma paisagem: a suavidade do céu azul canta a beleza das nuvens cinzas ou brancas; a rugosidade das árvores canta a dureza das rochas; o rio abaixo canta a beleza da praia próxima. Tudo canta a beleza do que está ao seu lado.

Em que relação? Este é o ponto. Se a relação de amor é justa, se o que está ao lado canta bem, então a beleza aparece imediatamente. Poderíamos fazer uma conferência longuíssima e belíssima sobre isso, mas quero falar de Jesus Cristo, porque tudo isso está ligado a Jesus Cristo. Porque Dostoiévski diz que a beleza é Cristo, em que sentido? A beleza sempre produz uma emoção estética, ou seja, prazer. Beleza e prazer, como se Deus quisesse demonstrar, por meio da beleza, que nos ama, que nos quer bem; por isso tudo é belo.

Kiko Argüello (neocatechumenaleiter.org)

Os judeus falam muito de beleza. Deus criou o homem. Criou Adão e Eva. Sabe-se que Adão deu nomes aos animais, demonstrando seu conhecimento, mas não encontrou uma ajuda que lhe fosse semelhante. Então, Deus tomou uma costela e construiu uma mulher. Os judeus dizem que a palavra ‘construir’ já é uma palavra artística, para criar arte. Toda a tradição diz que não houve mulher mais bela que a primeira Eva. Adão, quando a viu, ficou impressionado: ‘Esta, sim, é osso dos meus ossos e carne da minha carne. Ela será chamada iššah, porque foi tirada do homem’. Iššah, em hebraico,‘varoa’ (mulher) em espanhol.

Quando Moisés conduz o povo ao Monte Sinai, Deus aparece e diz: “Adonai Elohenu, Adonai Ehad, Eu sou o único” e “amarás o Senhor teu Deus com todo o teu coração”. Deus aparece como um esposo. Deus é amor. Dizem que Moisés apresenta a Deus a assembleia, assim como Deus apresentou Eva a Adão. Porque será a esposa de Deus. O profeta Oséias falará do esposo de Israel e fará um paralelo entre o Gênesis e esse momento da aliança. Mas, atenção, enquanto a primeira Eva aparece toda belíssima, Israel vem do Egito, vem da idolatria, onde estiveram em escravidão e estão cheios de discórdia, cheios de coxos, de cegos. Porque os ídolos te escravizam; era um povo de escravos. Deus, dizem os rabinos, transforma esse povo, essa assembleia, diz que não há coxos, porque todos caminhavam; não havia mais surdos, pois todos ouviam a palavra, e o povo de Israel acampou, no singular, não no plural: não que eles acamparam, mas que acampou. Isso significa que eles se tornaram um. Deus não podia dar a Torá a um povo de escravos, constrói uma assembleia profética que anuncia os novos tempos messiânicos.

Este tema da beleza da assembleia de Israel será desenvolvido ao longo do rabinismo através de muitos midrash. Cristo conhecia esses midrash. Quando os discípulos de João se aproximam de nosso Senhor Jesus, perguntam: “És tu o Messias ou devemos esperar outro?”, ouçam o que Cristo responde: “Dizei a João: os cegos veem, os coxos andam, os surdos ouvem”. Por que Ele diz isso? Porque já se esperava o Messias como aquele que organizaria não apenas o povo de Israel, mas a nova humanidade. Uma nova humanidade.

Kiko Argüello e María Ascensión (neocatechumenaleiter.org)

O mesmo que Cristo fez conosco! Ele nos fez escutar sua palavra, abriu nossos ouvidos. Abriu nossos olhos, como fez com o cego. Cristo fez com sua saliva um pouco de barro e o aplicou sobre os olhos do cego. E o cego viu o amor de Deus, que lhe devolveu a vista. O mesmo que Ele fez conosco por meio da iniciação cristã. A palavra de Deus, que é como a saliva, ilumina profeticamente nossa pobreza, nossos pecados. Faz barro e o coloca diante de nossos olhos. Ele coloca nossos pecados diante de nós com esse barro. E depois nos diz: ‘Lava-te’. O mais difícil é se considerar pecador, isso não acontece sem a saliva, a palavra de Cristo. E todos os nossos pecados foram perdoados. Agora já não somos escravos. Vimos o amor por nós, pecadores.

Efetivamente: os cegos veem, os surdos ouvem, os coxos andam, caminham ajudando o próximo, os leprosos ficam limpos. Cristo chegou, é o sinal de que o salvador do mundo chegou, aquele que faz de nós uma nova criação. Há uma primeira criação, e Israel concebe a aliança como uma nova criação. Vem o Messias que realiza conosco uma nova aliança, uma nova criação.

Esta nova criação é descrita no Apocalipse, quando se fala da nova Jerusalém que desce do céu. E fala-se da beleza. Toda resplandecente como uma noiva, como uma esposa. A beleza! É importantíssima. Hoje estamos em uma época em que se fala de globalização. Há uma imagem do mundo que é Babilônia, a grande prostituta do Apocalipse.

Equipe responsável internacional Kiko, P. Mario e María Ascensión. Atrás Segundo e Ezechiele (Foto: Tomasz Marynowski)

Mas, diante de Babilônia, há outra cidade: a Jerusalém celeste, que vem do céu, vestida de branco como uma esposa, vestida de boas obras, vestida de linho resplandecente. Há uma obra frente a Babilônia. Deus está nos chamando para construir a beleza de Cristo. É o corpo de Cristo que salvará o mundo. A beleza de Cristo. E qual é essa beleza? A nova Jerusalém: todos se tornaram belos porque Cristo os revestiu de sua santidade, e aparece a comunidade cristã: a Igreja, toda resplandecente, que é o Cordeiro que vence a besta. Essa beleza salvará o mundo. O mundo está esperando pelos cristãos. Estão esperando ver esses homens que enxergam o amor de Deus, quando as pessoas não veem o amor de Deus em lugar algum. Estão esperando por estes que caminham para anunciar o Evangelho como os pobres. Estão esperando por estes que escutam a Palavra, que se amam, que têm um só coração: “Amai-vos como eu vos amei; por esse amor saberão que sois meus discípulos”. Aparece uma beleza que é Cristo.

Na tradição da Igreja, há um jardim no Éden, e também um segundo jardim no Monte Sinai, onde o cume aparece como uma árvore que dá fruto, que é a Torá, mas há um terceiro jardim. Existem o jardim do Éden e o jardim do Apocalipse, onde aparece a nova Jerusalém, onde há uma árvore da vida que dá frutos eternos. Porém, há um quarto jardim: o Gólgota. Ali está o horto onde Cristo foi crucificado. Nesse jardim, há um sepulcro, há um ressuscitado, há um novo jardineiro, que é Cristo, o novo Adão. Há uma mulher que vem da prostituição, chamada Maria Madalena, e quando o vê, ela diz: “Rabbuní!” Ela vai abraçá-lo, mas Cristo lhe diz: “Noli me tangere!”, “Não me toques, porque ainda não subi ao Pai”. Esse texto: ‘Não me toques!’ é importantíssimo, porque está relacionado com a nova Jerusalém. “Vai e anuncia que subo ao Pai, meu Pai e vosso Pai; meu Deus e vosso Deus.” Ele lhe dá o anúncio do Kerygma, vai realizar uma obra imensa. Cristo toma a natureza humana e a leva à Santíssima Trindade.

Kiko Argüello e Andrzej Mochoń com Dom Francesco Donega, reitor SRM Roma (neocatechumenaleiter.org)

São Paulo diz que na criação há um espelho, uma epifania do amor de Deus para conosco, através da beleza. Há algo na natureza que te impressiona, está a sua beleza, há uma espécie de mansidão, como uma obediência. O que é o homem? É um devir, é um projeto, é um prodígio. O homem! O homem é um prodígio. Somos um projeto em constante realização, ou seja, em constante precariedade. Não temos o direito de tirar do homem a possibilidade de realizar-se tal como Deus o criou, porque é um projeto em constante realização.

São Paulo, na segunda carta aos Coríntios, afirma que Cristo morreu por todos, para que aqueles que vivem já não vivam para si mesmos, mas para aquele que morreu e ressuscitou por eles. Esta é a visão do homem segundo a Revelação, esta é a antropologia cristã: o homem, escravo do pecado, está obrigado a oferecer-se todo a si mesmo, precisamente porque é escravo, perdeu a dimensão da beleza que é o amor, o sair de si mesmo para amar o outro. A obra da salvação consiste em arrancar o homem desta maldição, devolvendo-lhe a beleza do amor.

Para este homem, estamos tentando criar um novo tipo de paróquia; fazemos paróquias com uma coroa mistérica onde o céu está presente, com os mistérios mais importantes da nossa fé. A Igreja de hoje não tem uma estética definida… Isso nos impulsionou, de certo modo, a buscar uma estética. Em Madri, fizemos uma paróquia com um teto dourado, pedra branca e cristal, com um catecumenium: um conjunto de salas que se abrem para uma praça central, com uma fonte. No andar térreo, encontram-se todos os serviços sociais e, acima, em outro andar, estão todas as salas de cada comunidade, etc.

Equipe de pintores e arquitetos itinerantes (neocatechumenaleiter.org)

Estava falando sobre a beleza. Toda reforma da Igreja trouxe consigo, inevitavelmente, uma renovação estética: pensemos no gótico, no barroco… Não poderia ser diferente com o Concílio Vaticano II.

Bom, nós, do Caminho, queremos apresentar essa beleza, que é a beleza do amor nesta dimensão: Cristo (apontando para a cruz). E queremos apresentá-la em uma comunidade cristã, porque pensamos… Porque Cristo diz: “Amai-vos, amai-vos”, mas amar quem? Os primeiros cristãos viviam em uma pequena comunidade, todos se conheciam. A comunidade não pode ser muito grande porque se trata de mostrar, de criar um sinal público de amor. O número de uma comunidade é 30, 40, porque precisamos dar um testemunho concreto de amor. Deve voltar o grito dos pagãos: “Vede como se amam”, isso gritavam ao ver os cristãos. Porque Cristo no Evangelho diz: ‘Amai-vos, amai-vos, amai-vos’. Esta é a beleza que salva o mundo: o amor na dimensão da cruz. Demonstra que, se nos amamos na dimensão do inimigo, temos dentro de nós a vida eterna. Porque, de outra maneira, é impossível nos amarmos assim, porque Deus nos deu fé dentro, e a fé nos dá a vida eterna, a vida imortal… Temos algo dentro de nós que nos sustenta, que nos mantém, que é a vida de Deus em nós, a vida de Cristo, sua vitória sobre a morte em nós, concedida pelo Espírito Santo. De fato, o que devemos proclamar é a ressurreição de Cristo presente em nós.

Foto: Tomasz Marynowski

Queremos ser um Caminho sério, uma via séria, porque estamos prestes a dar uma grande batalha ao mundo, ao diabo, ao grande dragão, somos a mulher que está dando à luz ao filho varão, ameaçada pelo grande dragão, que é o príncipe deste mundo. Os judeus diziam que no mundo sempre vence o diabo. Interessante, vocês viram isso? O nazismo, primeiro, e o comunismo, depois, pareciam ter conquistado tudo, tudo, nações inteiras. Entendemos por que toda a Europa está indo hoje para a apostasia, entendemos por que há uma secularização total. O diabo parece sempre vencer, porque Cristo, neste mundo, não tem onde reclinar a cabeça e com Ele, os cristãos. Mas nós, com Cristo, vencemos a morte e temos uma alegria imensa, por isso devemos anunciar e dar testemunho do amor que Deus tem por nós, que nos deu a vida eterna dentro de nós.

Cristo diz: ‘Amem-se uns aos outros como eu os amei’. Cristo nos amou, e neste amor os pagãos secularizados, que nos rodeiam, saberão que sois meus discípulos. Cristo nos amou na dimensão do inimigo, ou seja, não se opôs ao nosso mal. O Sermão da Montanha diz: “Não resistais ao mal”. ‘Amai os vossos inimigos, fazei o bem aos que vos odeiam, abençoai os que vos perseguem’. O que é isso? O Cristianismo.

O ponto é este: o que significa ser cristão hoje, de que devemos dar testemunho? São Paulo diz: “Levamos sempre e por todas as partes o modo de morrer de Jesus”. O modo de morrer, ou seja, Cristo morto crucificado – diz – “Levamos sempre e em todas as partes em nosso corpo o modo de morrer, para que se veja em nosso corpo que Cristo está vivo”. O Concílio Vaticano II falou da Igreja, sacramento de salvação universal… Cristo nos mostrou uma justiça, que é a justiça do amor na dimensão da cruz.

Foto: Tomasz Marynowski

A beleza salvará o mundo, que é Cristo que vive nos cristãos, nas comunidades cristãs. Dissemos à Santa Sé que não queremos fazer uma congregação, queremos levar esta mensagem à Igreja: é maravilhoso viver a fé em uma comunidade cristã nas paróquias.

O mais belo das comunidades é que vimos a ação de Deus nos irmãos, todos se enriquecem com o bem dos outros. Todos em todos. Há uma riqueza comum e constante em todos. É maravilhoso ver que os cegos veem o amor de Deus em suas vidas. Cristo venceu a morte, não olhamos para a morte com horror, nem para a velhice, nem para a doença. E não é que sejamos muito bons, mas que todos somos pecadores, pobres.

Na ressurreição de Jesus Cristo, Deus demonstra algo grandioso, que este ressuscitou dos mortos e subiu ao céu; Deus o constituiu como Kyrios. A palavra ‘kyrios’ é a palavra de Deus no Monte Sinai. Portanto, este homem que morreu na cruz por nós é o próprio Deus.

Cristo morreu para que o homem possa sair deste círculo de egoísmo, para que não viva mais para si mesmo, mas para aquele que morreu e ressuscitou por ele, Cristo, a beleza divina feito homem, que se fez um de nós, para que o homem pudesse receber a glória de Deus.

Fonte: https://neocatechumenaleiter.org/pt-br/kiko-arguello-recebe-a-medalha-per-artem-ad-deum/

ARTE CONTEMPORÂNEA: Olhando para o leste

Pescadores, Jaroslaw Modzelewski, têmpera sobre tela, 2006 | 30Giorni

Artigo 30Giorni nº 01 - 2007

Olhando para o leste

O destino da arte contemporânea ainda está sendo decidido em Miami, Basileia, Londres e Nova Iorque. Mas Berlim está a tornar-se o centro mais interessante, graças também à valorização dos artistas da Europa de Leste. A opinião de três excepcionais especialistas em filosofia e mercado da produção artística contemporânea.

por Stefania Vaselli Piga

Em dezembro, em Miami, nos EUA, terminou como todos os anos a temporada das grandes feiras de arte contemporânea, um mundo pouco conhecido pelo homem comum, que se pergunta confuso sobre o que é arte e o que não é, mas em torno do qual gigantescas economias giram os interesses (os investimentos ligados ao mercado da arte contemporânea são cada vez mais apreciados também porque são pouco sensíveis às crises económicas e geopolíticas que se seguiram ao 11 de Setembro e à guerra no Iraque). Num outro nível, então, a arte contemporânea representa um dos indicadores mais claros da vitalidade de um país. Art Basel Miami Beach, diretamente ligada à feira de Basileia, na Suíça, é o evento mais importante do mundo para colecionadores, galeristas e claro artistas, a mais qualificada e qualificada mostra de arte moderna, patrocinada pela Ubs (União dos Bancos Suíços ).

Realiza-se em Junho e é seguida de perto pelo Berlin Art Forum, uma das feiras internacionais mais inovadoras e corajosas que atingiu a sua oitava edição em Outubro de 2006. Um fórum de sucesso, o de Berlim, reflexo da vivacidade cultural da capital alemã onde vivem críticos, artistas e curadores que querem experimentar o novo. Um clima muito diferente do italiano, em que dificuldades praticamente intransponíveis para artistas e galerias impedem o país, que acolhe 80 por cento do património artístico mundial, de competir no sector da arte contemporânea, um motor cultural e económico de grande importância para o países líderes neste setor. Precisamente no Art Forum de Berlim fizemos algumas perguntas a três especialistas excepcionais: Erika Hoffmann, galerista, diretora da Fundação Hoffmann, uma das mais importantes da arte contemporânea, não só alemã; Sabrina van der Ley, diretora artística do Berlin Art Forum 2006, e Anda Rottemberg, polonesa, crítica de arte, diretora do programa de construção do Museu de Arte Contemporânea de Varsóvia e curadora da exposição “Arte Polonesa do Século XX ”que será inaugurado no Vaticano no outono de 2007. 

Será a arte contemporânea, ou seja, a ideia de que a arte pode ser produzida hoje, um conceito que ainda pertence à nossa cultura? 

Erika Hoffmann : A arte é necessária para viver. Uma experiência pessoal da qual não podemos desistir. Quem procura no dia a dia só pode responder assim. Anda Rottemberg: Claro que existe! Está comprovado que a arte representa uma das necessidades básicas da humanidade e assim permanecerá enquanto a raça humana existir. Na verdade, é um problema “cognitivo”, uma vez que hoje a arte perde constantemente as suas características “artificiais” e não é fácil fazer uma distinção entre o que é arte e o que não é. Até porque são mundos que encontramos misturados na realidade. Sabrina van der Ley : Claro que a arte é um conceito que nos pertence. Nos últimos anos tem havido um forte e crescente interesse público pela arte contemporânea. As exposições em galerias, museus e feiras de arte são visitadas por um número cada vez maior de pessoas e esta é a melhor prova de que o contacto com a arte é uma necessidade sentida pelas pessoas. 

O mercado da arte contemporânea assenta num triângulo ideal, do qual um vértice é constituído pela combinação Basileia-Miami, o segundo por Nova Iorque e o terceiro por Londres: qual poderia ser o papel de Berlim e de alguns países neste contexto? Europa (Polónia, Hungria, Lituânia, etc.) que aparecem com vivacidade na cena internacional? 

Hoffmann : Berlim poderia ser o lugar privilegiado para as galerias da Europa do antigo bloco comunista colocarem sob os holofotes a produção dos seus artistas. Mas o que é necessário hoje é um apoio financeiro substancial para estes países que aspiram a entrar permanentemente no mercado da arte contemporânea a nível global. Um mercado muito desenvolvido, mas que também apresenta zonas cinzentas. Rottemberg : Mais cedo ou mais tarde, o mercado internacional da arte absorverá obras valiosas de todos os países que estão a completar a sua transição. São cada vez mais nomes de artistas do Leste Europeu, antes apresentados apenas por galerias conceituadas pela sua seriedade, que encontram espaço em feiras de arte internacionais. O verdadeiro problema é como incentivar os colecionadores desses países emergentes a ajudarem a comercializar os seus artistas. Tudo isto levará tempo e as instituições públicas terão que ajudar neste processo desenvolvendo uma escala de avaliação das obras não só baseada no seu mercado, mas em termos de qualidade artística. van der Ley: Acredito que Berlim não terá problemas em estabelecer-se. Mesmo que Basileia, Miami, Londres e Nova Iorque continuem a decidir se e quanto vale uma obra e a determinar o destino da arte contemporânea, a Alemanha é um mercado muito forte do qual outros também podem lucrar. Os colecionadores e museus alemães são cobiçados em todos os lugares, assim como os artistas e galerias daquele país. Berlim, onde vivem e trabalham muitos talentos desconhecidos e artistas de renome internacional, tornou-se o palco artístico mais importante da Europa. Não se pode operar no mundo da arte contemporânea sem passar por Berlim pelo menos uma ou duas vezes por ano, para visitar a Feira, exposições em galerias, museus e ateliês de artistas. Existe também um forte interesse em artistas dos novos estados da UE; A arte polaca está especialmente na crista da onda, seguida por outros países onde o mercado está apenas a formar-se. Haverá muito para ver nos próximos anos.

Goleiro, Szymon Urbanski, óleo sobre tela, 2003 | 30Giorni

Durante milhares de anos, tanto a arte visual como a plástica e a arquitetura desenvolveram-se principalmente em resposta às crenças religiosas. Hoje parece que só a arquitetura manteve uma certa ligação com a arte sacra. Como você está em contato com artistas e colecionadores de diversos países, pode nos dar sua opinião sobre o assunto?

Hoffmann : Meus contatos são principalmente com artistas e colecionadores que abandonaram os limites da religião para desfrutar da liberdade de escolher temas e meios de expressão. No entanto, também procuro obras de arte que ofereçam experiências de transcendência. Rottemberg : Não concordo com esta afirmação como um todo. Desde o Renascimento, a arte encontrou o seu caminho secular, não mais ligada apenas ao sagrado. É um assunto muito delicado, objeto de inúmeras dissertações científicas. Do ponto de vista contemporâneo podemos observar diferentes tipos de espiritualidade, não necessariamente ligadas às Igrejas oficiais, às religiões tradicionais ou que se inspiram em episódios da Bíblia. Esta linha é muito forte na arte moderna e contemporânea pelo menos desde o aparecimento do Quadrado Negro de Malevich . van der Ley: No passado, os clientes da arte e da arquitetura eram as autoridades religiosas e a aristocracia, talvez por serem os únicos ambientes culturalmente e ao mesmo tempo financeiramente elevados. E os artistas, portanto, tinham que prestar extrema atenção às necessidades e ideias dos seus clientes, justamente porque eram poucos. Hoje, na Europa, qualquer pessoa pode atingir um elevado nível cultural e, no que diz respeito ao poder económico, colecionar e apoiar arte já não é uma prerrogativa do poder religioso ou da nobreza. Diria antes que, como consequência das mudanças sociais ocorridas, este papel foi assumido quase inteiramente pelo sector privado, pelas grandes empresas e, em parte, pelo Estado. Os governos democráticos tomaram o lugar das monarquias e, portanto, é o Estado quem supre as necessidades dos museus. Os nobres, muito poderosos na era feudal, foram substituídos pelo poder industrial e financeiro. Contudo, não é igualmente claro para mim porque a Igreja não apoia mais a arte contemporânea. Obviamente, não tendo mais o poder temporal, já não tem a riqueza com que poderia contar no Renascimento e no século XVII, e por isso parece-me que a Igreja investe mais em projetos sociais, do que na cultura e na arte. É apenas uma mudança de tempos. Hoje a arte pode inspirar-se num número infinito de assuntos: políticos, sociais, filosóficos. A religião pode fazer parte disso, mas raramente é o tema escolhido para uma obra de arte. 

Existe um paralelo entre o momento atual da globalização e o Renascimento, período em que a arte era considerada universal? Podemos dizer que global significa universal? 

Hoffmann : Na Renascença, os artistas aspiravam a uma universalidade espiritual e intelectual diferente daquela a que aspiram os artistas contemporâneos. Entendo que a maioria das pessoas com quem trabalho e me associo apenas deseja que o seu trabalho seja apreciado em todo o mundo, mantendo ao mesmo tempo algumas expressões artísticas da tradição do país de origem. Rottemberg : A noção de universalidade na Renascença foi reservada na Europa a um grupo muito pequeno de amantes da arte. Agora temos que considerar algo que seja compreensível em escala global. Isto significa que a arte deve encontrar uma linguagem narrativa e temas de interesse comum. Na verdade, muitos temas artísticos interessantes e valiosos são inspirados por um sentimento comum de existência e por uma espiritualidade partilhada por todas as tradições religiosas. Eles não descrevem uma fé, mas procuram o seu núcleo. van der Ley: Não vejo esse paralelo. O humanismo gerou uma nova consciência e uma nova confiança nas qualidades e capacidades do homem e no seu papel no mundo. Indiscutivelmente o Renascimento, e subsequentemente a “Era da Razão”, estiveram entre os momentos mais importantes de mudança na sociedade ocidental e na Europa, para não mencionar o capitalismo e o mercado. Outras sociedades tiveram e têm processos históricos diferentes, portanto o homem universal da Renascença não é o homem globalizado. O mercado, sim, tornou-se universal.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF