Fatos e Fotos - Comunidade I

quarta-feira, 2 de julho de 2025

O olhar de pesquisador italiano sobre a Arte Sacra nas Missões Jesuíticas

Nossa Senhora da Conceição (Vatican News)

Na entrevista ao VN, o pesquisador Luca Ruggieri recorda que a arte é um instrumento necessário para a evangelização, algo que foi desafiador para os jesuítas no contexto dos índios guaranis, onde não existia uma “cultura visiva como no contexto europeu, mas uma cultura visiva diferente”. Com o passar do tempo, os próprios guaranis passaram a imprimir as próprias características nas esculturas sacras, um patrimônio com uma “riqueza polifônica pela sua diversidade na expressão”.

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

Quando se fala de Missões e Reduções Jesuítico-Guaranis, recorda-se o grupo das trinta cidades fundadas pela Companhia de Jesus a partir do século XVII, entre os indígenas guaranis, na chamada Província de Paraguaia, jurisdição localizada no Vice-Reino do Peru e que abrangia regiões onde hoje é o Paraguai, Argentina, Uruguai e partes da Bolívia, Brasil e Chile.

Em 18 de maio último, o Governo do Estado do Rio Grande do Sul deu início às celebrações oficiais pelos 400 anos das Missões Jesuíticas Guaranis, marco histórico que será comemorado em 2026.

Luca Ruggieri fala aos microfones da Rádio Vaticano (Vatican News)

As Missões testemunharam, entre outros, o nascimento da primeira fundição de aço da América, o que levou a região a ser chamada por Montesquieu de “o primeiro Estado industrial da América”. Mas não só. A pecuária, o desenvolvimento do comércio da erva-mate, da carne, do couro, da lã, foram elementos fundamentais que moldaram a cultura gaúcha. E paralelamente ao desenvolvimento econômico, surgiram as escolas, a música, a arte sacra.

E precisamente a “Arte produzida nas Missões Jesuíticas” é o tema do Mestrado em História da Arte na Universidade Roma Tre de Luca Ruggieri (cujo orientador da dissertação é o Prof. Mauro Vincenzo Fontana), que em visita ao Brasil, Argentina e Paraguai, pode ter um contato mais direto com algumas das Reduções, como São Miguel, Santo Inácio, Loreto, Corpus, um patrimônio não só da América do Sul, mas de toda a humanidade, como fez questão de ressaltar na entrevista ao Vatican News.

A história dessa região, não obstante tenha sido enaltecida no passado por escritores, historiadores e filósofos de renome, voltou a despertar interesse com o filme "The Mission", de Roland Joffé. No entanto, "poucas pessoas na Europa conhecem a história da arte, da produção artística nas Reduções Jesuíticas", observa o jovem pesquisador.

Igreja de São Miguel das Missões (Foto: Luca Ruggieri)

Mas, o que levou um jovem italiano da região das Marcas a se interessar pela arte de uma região tão distante da Itália, berço do Renascimento? Quem o introduziu nesse "mundo das Missões, dos jesuítas", durante seu período da Graduação na Universidade de Macerata, de fato, foi a Prof. Sabiana Pavone, importante pesquisadora deste tema. A partir daí, ele passou a focar seus estudos nas Missões Jesuíticas do Paraguai:

Nossa Senhora de Loreto e a evangelização do Novo Mundo

Mas há uma outra razão que o aproximou deste tema: Loreto. No conhecido Santuário mariano, localizado a poucos quilômetros de sua cidade natal, Mogliano, ele colaborou com o Museu Pontifício. E precisamente de suas leituras e pesquisas na biblioteca brotou a compreensão de que "Loreto foi uma academia espiritual dos jesuítas. De lá, por exemplo, partiu o jesuíta Giuseppe Cataldini, responsável pela Redução de Loreto, no Paraguai."

Luca explica, ademais, que Nossa Senhora de Loreto foi a iconografia que os jesuítas utilizaram para evangelizar o mundo. "Eles tinham consciência de que a Virgem de Loreto não havia sido utilizada por outras Ordens religiosas no Novo Mundo", e por isso decidiram "levar a Virgem de Loreto a todos os lugares da América do Sul e Central.

Estátua de São Luiz Gonzaga (Vatican News)

O jovem pesquisador italiano recorda que a arte foi e é um instrumento necessário para a evangelização. Isso, no entanto, "foi mais difícil para os jesuítas, pois chegaram em um contexto, como o dos guaranis, onde não havia uma cultura visiva como no contexto europeu, mas uma cultura visiva diferente, definida por um pesquisador como “cultura visiva antimimética”. E essa combinação desses dois aspectos diferentes - espanhol (europeu) e o aspecto indígena -, acabou por despertar o interesse de Luca na condução de seus estudos.

Para um historiador de arte - observa ele - a coisa mais importante "é estudar a obra de arte, compreendê-la bem, e na sua linguagem visual". Um dos mais importantes historiadores da arte das reduções na Argentina, fala de “evolução diacrônica entre a produção artística missioneira. Evolução da cultura castelhana que caracterizava as peças de arte".

E com seu olhar atento de pesquisador, Ruggeri destaca na entrevista o momento em que os guaranis passaram a imprimir nas estátuas, características suas.

Quando guaranis se tornaram hábeis na construção das obras, "foi o momento onde a peculiaridade deles chegou". Tem muitas estátuas que tem uma peculiaridade particular na realização dos olhos. Uma característica tipicamente da cultura guarani, mas também a qualidade do rosto. E isso facilita para datar as peças, que seriam mais perto do século XVIII, pois neste século já se sabia que muitos guaranis trabalhavam em conhecido atelier.

Para ilustrar, ele cita a estátua de São Lorenço, nos Museus das Missões, onde há a presença da flor do maracujá, "uma flor muito importante na cultura figurativa indígena guarani".

Vista do Parque Arqueológico, em São Miguel das Missões (Vatican News)

A "riqueza polifônica desse patrimônio" e sua valorização

A bibliografia é fundamental em uma pesquisa ou trabalho científico. Nesse sentido, Luca fala da dificuldade em encontrar bibliografia sobre este tema na Europa, o que é natural, carência esta superada pelo material existente e disponibilizado, por exemplo, em Museus e Bibliotecas na América do Sul, incluindo o Pátio do Colégio, em São Paulo, o Museu Júlio de Castilhos em Porto Alegre.

Nessa revisão bibliográfica, o jovem italiano constata a existência de uma falta de comunicação entre a crítica do mundo hispânico (Argentina e Paraguai), que usa uma modalidade mais europeia, e a produção bibliográfica lusófona. "Existe uma impostação muito diferente entre elas em relação ao assunto da arte, o que gera considerações extremamente diferentes".

De qualquer forma, Luca faz questão de destacar que "a riqueza desse patrimônio é uma riqueza polifônica, pela sua diversidade na expressão. E para bem compreender essa riqueza, é preciso estudá-la, principalmente a estátua. É a coisa mais importante, que “não fala”; depois, todas as outras fontes e arquivos, fontes documentais que podem ajudar na leitura das obras. Por isso também um trabalho “polifônico” de pesquisadores pode ajudar na valorização das peças. Um trabalho polifônico que é um trabalho dos historiadores da arte, europeus, mas majoritariamente na América do sul.".

Luca Ruggieri lamenta que o Museu de São Miguel das Missões, que é tão importante, ainda está fechado. "Não é possível! Pois não é só o patrimônio do Brasil, é um Patrimônio da Humanidade São Miguel das Missões, onde estão as peça artísticas e se pode admirar a sua qualidade".

Neste sentido, ele recorda a importância do trabalho de valorização deste patrimônio também no campo político: "As pessoas que trabalham na política precisam compreender que o patrimônio  artístico das Missões não é só um patrimônio a ser admirado, mas é um patrimônio que também pode gerar dinheiro, com o turismo, e por isso tem uma qualidade que não é num breve período, mais num longo prazo".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Padre celebra missa no monte Everest, o "teto do mundo"

Padre Ninian Doohan. | Cortesia/Gele Trekking.

Por Andrew Likoudis

1 de julho de 2025

O padre Ninian Doohan, de 44 anos, ergueu um cálice na missa a 5.364 metros acima do nível do mar no acampamento base do monte Everest, no vale do Khumbu, Nepal, usando uma pedra esculpida como altar.

A liturgia — Missa pro Pace ("Missa pela Paz") — coroou uma escalada de oito dias desde Lukla, cumprindo a promessa que ele fez ao guia sherpa Gele Bishokarma quando o batizou na igreja de São Patrício em Edimburgo, Escócia, no Natal de 2023, dizendo-lhe que o "encontraria em sua própria terra natal".

"Gostaria de ajudar a Igreja lá”, disse o padre. “Pelo menos para ver nossa fé católica vivida no ponto mais alto da Terra".

O padre Doohan, padre de Dunkeld, Escócia, chegou ao Nepal em 2 de maio, levando suprimentos médicos para a igreja de Santo Inácio, em Katmandu, capital do país, e depois partiu com Bishokarma e uma pequena equipe de carregadores para o acampamento base do Everest — 6,4 mil metros mais alto que o Ben Nevis, o monte mais alto da Escócia.

"O céu desceu à Terra novamente em seu ponto mais alto", disse ele aos outros alpinistas na missa no acampamento base. "É certamente a primeira missa aqui no pontificado nascente do papa Leão XIV".

O altar usado pelo padre Doohan foi esculpido por um dos carregadores, que era hindu, então esse foi um momento evangelizador para o carregador, que recebeu uma explicação de um de seus compatriotas sobre o significado do altar.

Há cerca de 8 mil católicos no Nepal, 0,03% da população do país, que tem 29 milhões de habitantes. No entanto, esse número está crescendo.

Missa celebrada pela paz no acampamento base do monte Everest em 14 de maio de 2025. Cortesia.

O padre Doohan também pôde abençoar as cerca de 20 pessoas presentes na missa com relíquias que ele levou consigo até o cume.

A caminhada não foi nada fácil, disse o padre Doohan.

“Até os alpinistas mais aptos descobrem seus limites no Everest”, disse ele. “Seu corpo é limitado por todos os elementos possíveis".

Entre os limites, há o ar rarefeito, o frio brutal, dores musculares e a constante ameaça do mal de altitude. Às vezes, é simplesmente "um pé na frente do outro". Mas, disse o padre, há "um sentimento de gratidão em meio à exaustão".

O padre Doohan usou sua batina por toda a escalada, um lembrete de que a escalada era uma peregrinação, não só um feito esportivo.

Antes de sua chegada, os paroquianos em casa lançaram uma página no site JustGiving para arrecadar £750 (cerca de R$ 5,6 mil) para a missão jesuíta de Santo Inácio, que administra clínicas móveis e uma escola para crianças com necessidades especiais. As doações ultrapassaram £ 5 mil (cerca de R$ 37,5 mil) antes mesmo do padre Doohan chegar ao "teto do mundo".

O padre Doohan brinca dizendo que agradece a Deus, mas também agradece à cadela que lhe deu filhotes, que ele conseguiu vender aos seus paroquianos para pagar sua viagem, já que os padres na Escócia vivem uma vida que um padre descreve como " pobreza distinta".

Enquanto Edmund Hillary, um dos primeiros escaladores do monte Everest, enterrou um crucifixo abençoado pelo venerável papa Pio XII no cume da montanha em 1953, a celebração da missa do padre Doohan é a missa mais alta registrada no local atual do acampamento base do Everest.

Fundamento da fé

O padre Doohan cresceu em circunstâncias difíceis — o vício do pai levou ao divórcio de seus pais e a mudanças frequentes, deixando-o principalmente aos cuidados da mãe e dos avós —, mas o enclave católico unido de Glasgow, Escócia, o enraizou na fé. Batizado na Igreja de St. Margaret Mary, em Rutherglen, descobriu o amor pela Eucaristia desde cedo, e a missa diária antes da escola tornou-se rotina depois que a família migrou para a Austrália, quando ele tinha 12 anos de idade, onde sua vocação finalmente floresceu.

Em 2002, enquanto participava da missa com os Padres do Santíssimo Sacramento em Sydney, o celebrante pregou: "Talvez haja alguém aqui hoje que seja chamado por Deus para ser padre. Ele só precisa dizer sim".

Doohan — então o único jovem em uma congregação de "mulheres idosas piedosas" — sabia que o convite "precisava ser atendido", disse ele num vídeo sobre vocação.

O padre Doohan mergulhou de cabeça na vida paroquial depois daquele "sim". Seu pároco scalabriniano o colocou para trabalhar imediatamente: contando as coletas semanais, visitando famílias migrantes e assumindo quaisquer tarefas apostólicas necessárias. As Missionárias da Caridade então o instruíram no ministério de rua: servindo refeições quentes no refeitório comunitário, lendo as Escrituras para os visitantes, combinando isso com "homilias" curtas e práticas, e aprendendo, como ele diz, "a não ser excessivamente piedoso em situações que exigem prudência excepcional". Isso foi combinado com a leitura das obras do papa são João Paulo II, internalizando seu chamado para levar Cristo ao mundo.

“Como qualquer relacionamento, leva tempo e esforço”, diz o padre Doohan. “E certamente, num relacionamento com Deus, somos obrigados a corresponder à graça que Ele já nos concede. Então, Ele dá o primeiro passo em nossa direção. Deus é sempre fiel, mesmo quando não somos tão fiéis”.

“Muitas pessoas podem pensar que é como aqueles filmes antigos de Hollywood”, diz o padre com um toque de humor. “De algum modo, haverá uma instrução muito clara dada num momento muito específico, quase como um raio… Acho que muitas vezes acontece de Deus revelar um chamado gradualmente e ao longo do tempo”.

Inicialmente, ele considerou o sacerdócio diocesano em oposição à vida agostiniana, atraído pela combinação de trabalho pastoral e oração monástica. Seguiram-se 12 anos com os norbertinos. Entrou na casa deles em Manchester, Inglaterra, e foi investido com o hábito branco de são Norberto na festa de santo Agostinho. Sempre meticuloso, chegou a experimentar a vida cisterciense e cartuxa antes de voltar aos norbertinos em Antuérpia, Bélgica. Doohan foi ordenado diácono como norbertino da abadia de Tongerlo em 8 de setembro de 2014. Ele foi ordenado sacerdote aos 34 anos de idade na catedral de Santo André em Dundee, Dunkeld, Escócia.

Depois de sua primeira missa, ao oferecer bênçãos tradicionais para um padre recém-ordenado, ele fez questão de pedir às pessoas que rezassem por tudo o que lhes viesse à mente.

"Então, pedi que rezassem por coisas como: que eu sempre ame os pobres e seja fiel ao celibato e à santa castidade, que eu seja um bom confessor, que me dedique às escolas e às crianças — tudo o que me viesse à mente", disse Doohan. Isso é algo pelo qual os fiéis frequentemente o lembram que continuam a rezar.

Mesmo como padre diocesano, ele ainda valoriza o carisma norbertino da reconciliação, dizendo: “É um dom maravilhoso poder restaurar a amizade plena àqueles que se afastaram de Deus em pequenas ou até grandes coisas”.

Atualmente, ele atende na igreja de St. Patrick's, na área de Cowgate, no centro histórico de Edimburgo, e em dois hospitais da cidade. Também está trabalhando e considerando a criação do primeiro oratório de São Filipe Neri na Escócia.

*Andrew Likoudis formou-se em Comunicação Social pela Towson University, EUA, e foi estagiário no verão de 2025 no jornal National Catholic Register, da EWTN.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/63443/padre-celebra-missa-no-monte-everest-o-teto-do-mundo

A conversão de Elba Ramalho: “experimentei o cálice amargo, de sabores que a vida nos oferece”

Elba Ramalho | web

Paulo Teixeira - publicado em 11/06/25

O testemunho da cantora que conta sua trajetória, do sucesso, a família e a conversão.

Elba Ramalho é paraibana e desde 1979 faz sucesso com suas músicas animadas. Recebeu duas vezes o Grammy Latino, em 2008 e 2009, e foi premiada como "melhor show do ano” em 1989 e 1996. 

Elba foi profundamente marcada pela religiosidade popular em sua cidade natal que leva o nome de Conceição e tem Nossa Senhora da Conceição como padroeira. “Desde criança eu conheci o amor de Maria pelo amor da minha mãe, que eu acho que a gente começa isso na família, em casa. Naturalmente, essa devoção começou na infância quando eu tive oportunidade de coroar Nossa Senhora nas festas do dia 8 de dezembro da festa Nossa Senhora da Conceição e acho que uma vez tocada por esse amor, ele me acompanhou”, relatou a cantora em entrevista ao programa Encontro com Maria. 

Na adolescência, Elba deixou sua pequena cidade no Vale do Piancó e foi para o Rio de Janeiro onde, além de se dedicar ao teatro, foi baterista de uma banda de rock. “Experimentei o sabor do que eu considerava a liberdade, mas acabou se tornando, no momento da minha vida, uma prisão”, relata Elba que conta emocionada: “em muitas ocasiões da minha adolescência sozinha, sem família e sem a Igreja, eu comecei a gostar de voar e experimentar um pouco de tudo, até que experimentei o cálice amargo, de sabores que a vida nos oferece”. 

Depois de provar o sucesso e as amarguras, Elba Ramalho teve uma experiência mística de reorientou o seu coração, conforme relata: "Por Nossa Senhora eu fui resgatada! Vivi experiências místicas com ela, aliás, acho que todos nós temos um encontro pessoal com Deus, mesmo que de uma forma velada. Nossa Senhora veio, sim, e me fez alcançar a misericórdia. Senti o peso dos meus pecados, um chamado à conversão e Nossa Senhora me pediu para voltar para o banco da igreja que os meus pais tinham me colocado. Voltei para as missas, para a confissão. Então assim, eu fui encontrando essa consciência de que somos perdoados e somos acolhidos na proporção que efetuamos mudanças nas nossas vidas”.  

Com sua vida transformada Elba Ramalho deixa uma mensagem a todos para que se abram à misericórdia de Deus. “Reze o Rosário, não se esqueça que é um instrumento de salvação e de transformação. Cada ave maria bem rezada pode parar uma guerra no mundo, pode curar uma doença dentro do teu corpo, principalmente os males do espírito. Muita gente me chama de beata e sofro também ataques, mas não tem nada melhor pra mim, diariamente rezo o Rosário, participo da Missa todos os dias, vivo com Deus meu cotidiano”, conclui. 

Elba Ramalho continua lotando teatros com seu trabalho artístico e também atua na causa de defesa da vida, apoiando organizações que ajudam mulheres grávidas. 

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/06/11/a-conversao-de-elba-ramalho-experimentei-o-calice-amargo-de-sabores-que-a-vida-nos-oferece/

O cristianismo: uma história simples (Parte 3/4)

Bartolomé Esteban Murillo, Descanso na fuga para o Egito, Museu Puskin, Moscou [© Foto Scala Firenze] | 30Giorni

RECORDANDO PADRE GIACOMO...

Arquivo 30Dias nº 05 - 2012

O cristianismo: uma história simples

Encontro com padre Giacomo Tantardini no Centro Cultural Fabio Locatelli, de Bérgamo 15 de dezembro de 2000.

pelo Padre Giacomo Tantardini

Por que o cristianismo é uma história simples? É uma história simples (usamos uma palavra que a Igreja usa há dois mil anos) porque é graça, porque é um acontecimento e portanto uma história de graça. Se não fosse graça, seria uma coisa complicada. Por que a religiosidade humana não é simples? Porque nasce do homem. Porque é a tentativa boa do homem, partindo das coisas criadas, de reconhecer o Criador. Mas essa não é uma coisa simples, é uma coisa difícil. Diz o dogma de fé: é uma coisa difícil, uma coisa para poucos, uma coisa que, mesmo quando a religiosidade chega a seu termo (o Mistério existe), é mesclada a erros. São as palavras do dogma da Igreja. Não só é para poucos, não só é difícil, mas, mesmo quando a pessoa chega a dizer “Deus existe”, essa afirmação é mesclada a erros. No entanto, há dois mil anos começou uma coisa que é extremamente simples. Àquela menina foi prometido que conceberia e daria à luz. E, naqueles nove meses, quantos fatos humaníssimos... Em primeiro lugar ela se dá conta de que está grávida (e de que a barriga crescia como a barriga de qualquer mulher grávida). E o testemunho de José, que obedecendo ao Mistério maior do que ele a toma consigo. E o testemunho da prima Isabel: ela também tem um filho. E aquele Natal, aquele primeiro Natal, quando pela primeira vez os olhos de dois jovens, de Maria e José, viram a Deus. Viram a Deus. Começa assim o cristianismo. Não é que acreditaram em que Deus existe, não; nisso também acreditam os muçulmanos, que talvez nessa religiosidade sejam mais religiosos que nós, mas não viram. Não viram – no entanto, veio –, e na religiosidade e na moralidade podem ser mais morais e mais religiosos do que nós. Também por isso Paulo VI foi grande quando não fez nada para que não construíssem a mesquita em Roma; aliás, quando lhe diziam que deveria obter a reciprocidade, respondia que a Igreja não se rebaixava a esse nível. Mas é uma outra coisa. O cristianismo é uma outra coisa se comparado a todas as religiões do mundo, a todas as morais do mundo. O cristianismo é que há dois mil anos um jovem e uma jovem, José e Maria, viram a Deus com seus olhos, não numa visão mística. Maria deu à luz aquela criança. E José e ela a olharam maravilhados. Começou assim a história cristã. Ficaram ali a olhar para Deus. E depois naquela mesma noite os anjos anunciaram aos pastores que na cidade de Davi (pois Deus é fiel à suas promessas), “na cidade de Davi nasceu para vós o Salvador”. E os pastores foram, foram e viram um menino. Aquele menino era Deus. Assim, quando no Credo dizemos “Deus de Deus, luz da luz, Deus verdadeiro de Deus verdadeiro [aquele menino], gerado, não criado, consubstancial ao Pai. Por ele todas as coisas foram feitas, e por nós, homens, e para nossa salvação [por nós, homens, para o homem que se contenta com a luxúria, a usura e o poder, para esse homem, não para os homens de boa vontade (é Sua a boa vontade), mas para esse homem concreto], por nós, homens, e para nossa salvação desceu dos céus e se encarnou pelo Espírito Santo...”

Acrescento isto. Depois de Maria e José, depois daqueles trinta anos em que o Eterno, que começou a existir e a crescer no tempo (o Eterno, continuando a ser eterno, começou a existir e a crescer no tempo e a contar os dias, as horas, os meses e os anos, como qualquer criança), depois daqueles trinta anos em que viveu em Nazaré, obedecendo a seu pai e a sua mãe, começa a missão, quando os dois primeiros, naquela tarde, às margens do Jordão, o encontraram, quando João e André, depois que João Batista indicou “Eis o Cordeiro de Deus, eis Aquele que tira os pecados do mundo”, foram atrás dele. Foram atrás dele atraídos por Ele. E então Jesus se volta e a esses dois rapazes – André era casado, portanto devia ter alguns anos mais, mas João era mesmo um rapazote –, a esses dois jovens pergunta: “O que buscais?”. Isso sempre me impressiona. Não lhe responderam buscamos a verdade, buscamos a felicidade, não lhe disseram nem mesmo buscamos o Messias. O que o coração buscava eles O tinham à sua frente. Eles O tinham à sua frente. O coração é infalível, nisso o coração é infalível. Há uma tese belíssima da teologia católica que fala da infalibilidade da fé. A infalibilidade do magistério é secundária em relação à infalibilidade da fé. A fé é infalível. O que buscavam, o que o coração buscava, eles O tinham à sua frente. Então àquela pergunta, “O que buscais?”, respondem perguntando a única coisa que alguém pode perguntar. Quando alguém encontra o que o coração deseja pode apenas pedir que essa coisa permaneça. “Mestre, onde moras?”, ou seja, “onde ficas?”. Onde ficas, para que eu fique contigo? Publicamente, aqui. Com Maria e José, digamos, ficava privadamente. Os trinta anos de vida privada, privada mas com muitos episódios públicos: os pastores, depois os Magos, depois quando aos doze anos no Templo... Mas, seja como for, uma história particular. Aqui o início é da história pública, da história pela qual esta noite estamos aqui. Por isso existe no mundo essa história simples de pessoas que se fascinaram porque O encontraram. História simples: fascinaram-se porque O encontraram e depois, uma vez encontrado, depende dEle, não depende em primeiro lugar de você, depende dEle que fique com você. É simples por isso. Caso contrário – posto que o início do cristianismo é graça (se a pessoa é cristã, não pode deixar de dizer isso) –, se introduz uma outra dinâmica. Não! Uma vez encontrado, o que acontece? O que você fez para encontrá-Lo? Nada. Então, veja, não se agite, porque depende dEle. Depende dEle, que o encontrou e continua fiel. Depende dEle, que se mantém fiel a você; não depende em primeiro lugar da sua fidelidade. Depende dEle. É simples por isso. É simples porque não só Ele encontra você, não só foi Ele que foi ao encontro dos primeiros, mas depende dEle, que ficou com os primeiros, depende dEle, que no dia seguinte se deixou encontrar novamente pelos primeiros, depende dEle, que no dia seguinte mais uma vez...

André foi para casa naquela noite e disse a seu irmão Pedro: “Encontramos o Messias”. Uma outra coisa que me maravilha é pensar que Pedro da primeira vez que vislumbrou humanamente o Mistério feito carne foi olhando para o rosto de seu irmão. Nunca tinha visto o rosto de André assim, nunca tinha visto o rosto de seu irmão dessa forma, pois a graça tem um reflexo no humano. A graça é visível. Tem uma fonte invisível, mas tem um reflexo visível; o reflexo da graça pode ser visto, pode ser visto e é inconfundível. É infalível o reflexo da graça, é inconfundível com qualquer outra beleza. É a beleza pela qual o coração foi criado. Então não apenas é Ele que se deixa encontrar, mas é Ele que permanece, tanto assim que no dia seguinte, quando viu Pedro, lhe disse: “Tu és Simão, filho de João, tu te chamarás Pedro”. E assim, de dois, se tornaram três e dessa forma foram adiante durante três anos... Assim. Mas pensem naqueles três anos, pensem de quem era a iniciativa. Não era daqueles que O seguiam, a iniciativa era sempre Sua. Como quando o jovem rico, convidado a segui-Lo, ou melhor, amado por Ele... Jesus o olhou e se enterneceu, quis o seu bem. No entanto o jovem não O segue, e então Jesus diz que é impossível para um rico entrar no Reino dos Céus, e Pedro lhe pergunta: “Mas então quem se pode salvar?”. E aqui está uma das mais belas frases do Evangelho: “E Jesus, olhando para eles [olhando para eles, não fazendo teologia, olhando para eles] disse: ‘A Deus nada é impossível’”. Olhando para eles: porque o que lhe era evidente, como Mistério, como homem ele aprendia das coisas que aconteciam, tal como nós aprendemos daquilo que acontece. Se Pedro estava ali, se João estava ali, se Mateus estava ali (pensava eu hoje, vendo os quadros de Caravaggio, pensava na Vocação de Mateus de Caravaggio, em São Luís dos Franceses, em Roma), se Zaqueu tinha descido cheio de alegria, isso significa que a Deus nada é impossível. Pois Mateus era rico, aliás, recolhia dinheiro para os invasores romanos, e Zaqueu, o mais rico de Jericó... se eles estavam ali, isso significa que a Deus nada é impossível. Jesus também, como homem, aprendeu a natureza do Mistério a partir daquilo que acontecia. O que, como Deus, ele conhecia, aprendeu como homem pela experiência. Diz São Bernardo numa das frases mais estupendas sobre o mistério de Jesus: o que por natureza conhecia desde a eternidade (que a Deus nada é impossível), ele o aprendeu pela experiência humana. Ele também se surpreendeu quando viu Zaqueu descer correndo. Pensem no episódio de Zaqueu. Esse pequeno homem que teve de subir na árvore para vê-lo passar. Esse pequeno homem que era o chefe das quadrilhas ilegais da cidade de Jericó, e Jesus, passando, olha para ele e lhe diz: “Zaqueu, vou a tua casa”. Não disse nada, não lhe respondeu nada. Cheio de alegria desceu. E depois distribuiu quatro vezes o que havia roubado. Mas depois, depois! De imediato, cheio de alegria, desceu e correu a sua casa. Então é simples, é simples não apenas porque o início é graça, mas porque cada passo é graça. Diz Santo Tomás numa de suas frases mais belas (a Igreja Católica, usando também essa frase, no ano passado, assinou um documento com os luteranos em que dizia que sobre aspectos essenciais da doutrina da justificação os católicos e os protestantes reconhecem a mesma coisa): “Gratia facit fidem”, a graça cria a fé. A fé é o reconhecimento dessa atração, a fé é o reconhecimento desse encontro, a fé é a surpresa reconhecida desse encontro. “Gratia facit fidem non solum quando fides incipit esse in homine”, a graça cria a fé não apenas quando a fé começa a existir num homem, “sed quamdiu fides durat”, mas a cada momento em que a fé permanece. A cada momento, não apenas no início, a cada momento a iniciativa é Sua.

Esta tarde visitei a mostra de Caravaggio, aqui em Bérgamo. Belíssima. Fomos guiados por um sacerdote que muito humanamente, de maneira muito bela, descrevia as coisas. A certa altura, porém, ele disse que Caravaggio exprime a dificuldade da fé. Eu não diria isso. A fé, quando acontece, nunca é difícil. É fácil a “falta de fé”. Isto sim, a “falta de fé” é facílima. “Homens de pouca fé, por que duvidais?” É facílima, até para aqueles que O seguiam, é facílima a “falta de fé”, é facílima a dúvida, é facílima a blasfêmia, isto sim. Pois a graça do Batismo cancela o pecado original, mas não as consequências do pecado original. É facílima a “falta de fé”, facílima a dúvida, é facílima a traição. Pensem em Pedro: “Mesmo que todos te abandonassem, eu nunca te abandonaria”. Três horas depois... Três horas depois! Em primeiro lugar, meia hora depois, tinha adormecido. E depois, três horas mais tarde, O traiu. É facílima a traição. Mas a fé é mais fácil. É mais fácil a fé. Senão, significa que não sabemos o que é. É mais fácil, pois quando Jesus, depois da traição, olhou para ele, era mais fácil explodir em pranto, mais fácil que qualquer outra coisa. A fé é mais fácil. Não existe uma fé difícil. É mais fácil. É uma imagem não cristã de fé dizer que a fé é difícil. É mais fácil, é ainda mais fácil que a traição. Pensem naquele pobre homem que era Pedro, naquele pobre pecador que era Pedro: quando Jesus olhou para ele, foi a coisa mais fácil da vida estourar em lágrimas, foi a coisa mais fácil da vida pôr-se a chorar. Foi a coisa mais fácil da vida dizer: “Como me queres bem, como me queres bem! No entanto, eu te traí”. É fácil a fé, é fácil. Não existe fé (este é um dogma de fé), não existe fé se o Espírito Santo não doa a doçura (fala de doçura; a doçura não pode ser difícil, seria uma coisa desumana), a doçura de aderir. É o Espírito, é a graça que doa a doçura de aderir. Usa a palavra doçura: mais fácil que isso! É fácil a fé. No instante seguinte, podemos não crer. No instante seguinte, podemos blasfemar, no instante seguinte podemos correr atrás do dinheiro, da luxúria e do poder. Mas, se experimentamos essa doçura, podemos correr atrás como todo o mundo, mas essa doçura é a coisa mais fácil, é a coisa mais fácil. E pôr-se a chorar depois de ter corrido atrás da luxúria, do dinheiro, do poder, pôr-se a chorar, porque essa doçura se reapresenta, porque esse olhar volta a olhar para você, pôr-se a chorar é a coisa mais fácil. Não há coisa mais fácil para a criança, que, depois de todos os caprichos deste mundo, se abandona nos braços do pai e da mãe; não há coisa mais fácil. Vocês dizem que é difícil para a criança? Seria uma coisa desumana se não se abandonasse. É a coisa mais fácil deste mundo abandonar-se nos braços do pai e da mãe.

Fonte: https://www.30giorni.it/

O Dicastério para os Bispos

O Papa Leão XIV celebrou a Missa na capela do Dicastério para os Bispos (20 de maio de 2025)  | Vatican News.

A missão deste organismo é auxiliar o Papa na escolha dos pastores a quem confiará as comunidades eclesiais nos territórios sob sua jurisdição. Após a identificação dos sacerdotes a serem propostos ao episcopado, a decisão final cabe ao Pontífice.

Amedeo Lomonaco – Cidade do Vaticano

O Dicastério para os Bispos foi guiado desde janeiro de 2023, com a função de prefeito, pelo então cardeal Robert Francis Prevost, que posteriormente ascendeu ao trono de Pedro com o nome de Leão XIV. O secretário é monsenhor Ilson de Jesus Montanari.

A tarefa que a Igreja confia a este Dicastério é auxiliar o Pontífice na escolha dos pastores do Povo de Deus. É de competência deste organismo curial tudo o que se refere à constituição e provisão das Igrejas particulares e ao exercício do múnus episcopal na Igreja Latina, sem prejuízo da competência do Dicastério para a Evangelização.

Competências

O âmbito de ação e das competências do Dicastério para os Bispos está delineado na Constituição Apostólica “Praedicate Evangelium”. Compete a este Dicastério, após reunir os elementos necessários e em colaboração com os Bispos e as Conferências Episcopais, tratar de questões relativas à constituição das Igrejas particulares e seus agrupamentos, sua divisão, unificação, supressão e outras alterações.

O Dicastério dispõe sobre tudo o que diz respeito à nomeação de bispos, diocesanos e titulares, dos administradores apostólicos. O Dicastério também trata da renúncia dos bispos ao seu cargo, de acordo com as disposições canônicas. Compete também ao Dicastério preparar tudo o que se refere às visitas "ad limina Apostolorum" das Igrejas particulares confiadas aos seus cuidados.

Pontifícia Comissão para a América Latina

Junto ao Dicastério para os Bispos está instituída a Pontifícia Comissão para a América Latina, cuja tarefa é estudar questões que dizem respeito à vida e ao desenvolvimento das mesmas Igrejas particulares. É de sua competência promover as relações entre as instituições eclesiásticas internacionais e nacionais que atuam nas regiões da América Latina e as instituições curiais.

Notas Históricas

O Dicastério para os Bispos tem origens antigas. Sisto V, com a Constituição "Immensa" de 22 de janeiro de 1588, instituiu a Congregação para a Ereção de Igrejas e Provisões Consistoriais, nome posteriormente alterado para Sagrada Congregação Consistorial.

São Pio X, com a Constituição "Sapienti Consilio" de 1908, ampliou suas atribuições, designando-lhe, entre outras coisas, a competência relativa à eleição de bispos, à ereção de dioceses e dos capítulos dos cônegos.

Com a Constituição Apostólica "Regimini Ecclesiae Universa", de 15 de agosto de 1967, de Paulo VI, o nome foi novamente alterado para Sagrada Congregação para os Bispos. Com a Constituição Apostólica Pastor Bonus, de 28 de junho de 1988, de João Paulo II, fica determinado que a Congregação para os Bispos é chamada, entre outras coisas, a realizar tudo o que se refere à constituição das Igrejas particulares e seus Concílios, sua divisão, unificação, supressão e outras mudanças.

A Congregação para os Bispos mudou de nome em 2022. Com a promulgação da Constituição Apostólica "Praedicate Evangelium", o nome anterior da Congregação foi alterado. O nome atual é Dicastério para os Bispos.

Dicastério para os Bispos: a Capela | Vatican News.

Escolher homens que sejam pastores

O critério não é a busca pela perfeição. O Dicastério para os Bispos, diferentemente do das Causas dos Santos, é responsável por avaliar os perfis pastorais dos candidatos que são homens em caminho à luz do Evangelho.

Em um sacerdote a ser proposto ao episcopado, as virtudes teologais e cardeais, e em particular a prudência, certamente contam. O trabalho do Dicastério para os Bispos deve ser realizado colegialmente, com fé e espírito de serviço. A avaliação final é então submetida ao Papa para sua decisão final.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 1 de julho de 2025

Estudo revela tragédia humanitária e ambiental da mineração ilegal na Amazônia brasileira

Amazônia, Brasil (Vatican News)

Pesquisa da REPAM-Brasil em parceria com o Instituto Conviva expõe violações de direitos, tráfico humano e contaminação de comunidades inteiras no coração da floresta.

Vatican News

Um retrato perturbador da devastação causada pela mineração ilegal na Amazônia acaba de ser revelado no estudo “Impactos da Mineração Ilegal na Amazônia”, desenvolvido pela REPAM-Brasil em parceria com o Instituto Conviva. A pesquisa mostra que o garimpo ilegal vai muito além da destruição ambiental: ele está no centro de uma cadeia de violações de direitos humanos, exploração sexual, tráfico de pessoas, trabalho análogo ao escravo e violência sistemática contra povos indígenas e trabalhadores migrantes. 

Confira o estudo completo aqui.  

O estudo parte de um marco trágico da história recente brasileira: o massacre de Haximu, reconhecido pelo Supremo Tribunal Federal como crime de genocídio contra o povo Yanomami. O caso, ocorrido em 1993, resultou na morte brutal de pelo menos 16 pessoas, mas sobreviventes afirmam que o número pode chegar a 70, evidenciando a gravidade da violência contra povos originários. 

Com base em dados coletados entre 2022 e 2024 por meio de entrevistas, grupos focais e análises institucionais, a pesquisa identificou 309 casos de pessoas em situação de tráfico humano, sendo 57% mulheres migrantes. O tráfico de mulheres para fins de exploração sexual se revela uma das faces mais cruéis dessa realidade, sustentando um mercado altamente lucrativo em meio à ausência do Estado. 

A pesquisa também revela o cotidiano dos “proletários da lama” — trabalhadores do garimpo em condições precárias, descartáveis, sem direitos trabalhistas e frequentemente submetidos a jornadas exaustivas, riscos de morte e doenças graves. Em muitos casos, seus corpos sequer retornam às famílias, sendo abandonados à margem das estradas ou ocultados em rios e clareiras da floresta. 

Além do impacto humano, o estudo detalha o uso de helicópteros, dragas e outros meios para manter uma economia subterrânea e violenta, movida pela ganância e pela impunidade. Em períodos mais intensos, o custo para entrar em áreas de garimpo podia ultrapassar R$ 8 mil por pessoa, revelando uma estrutura logística sofisticada que se sustenta à margem da lei. 

A REPAM-Brasil destaca que os danos da mineração ilegal afetam não só os povos da floresta, mas toda a sociedade. A contaminação por mercúrio e outros metais pesados, a degradação dos rios e a violência nos territórios refletem diretamente na qualidade do ar, da água e da vida nas cidades. 

“Não estamos diante apenas de uma questão ambiental. A mineração ilegal na Amazônia é um problema civilizatório, que coloca em risco os direitos fundamentais de milhares de pessoas e compromete o futuro da maior floresta tropical do mundo”, afirma professora Márcia Oliveira, da REPAM-Brasil. 

O estudo completo será lançado oficialmente em [DATA], e estará disponível para download no site da REPAM-Brasil. A organização espera que os dados sensibilizem autoridades e sociedade civil para a urgência de políticas públicas que protejam os territórios, as vidas e a dignidade das populações amazônicas. 

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Lucas Soares, da Arquidiocese de Brasília, é o único brasileiro ordenado sacerdote pelo Papa Leão XIV

Ordenação Presbiteral de Lucas Soares (Vatican News)

Na Solenidade do Sagrado Coração de Jesus e Dia Mundial de Oração pela Santificação do Clero, dia 27 de junho, o diácono Lucas Soares dos Santos, da Arquidiocese de Brasília, foi ordenado sacerdote na Basílica de São Pedro, no Vaticano. A celebração foi presidida pelo Papa Leão XIV e integrou o Jubileu dos Sacerdotes, que reúne padres de todo o mundo no contexto do Ano Santo da Esperança.

Ao todo, 32 novos presbíteros foram ordenados, provenientes de diversos países. Lucas foi o único brasileiro da cerimônia, representou não apenas a Arquidiocese de Brasília, mas também a Igreja no Brasil. A Missa contou com a presença de cerca de 5.500 fiéis no interior da Basílica e outras 3 mil pessoas que acompanharam a celebração pelos telões instalados na Praça São Pedro.

Na homilia, proferida antes do rito de ordenação, o Papa destacou o chamado dos novos sacerdotes a se tornarem intimamente unidos ao Coração de Cristo, “semente de concórdia no meio dos irmãos”. Diante dos desafios do mundo atual, o Pontífice convidou os presbíteros a viverem um ministério de santificação e unidade, centrado na Eucaristia, na penitência, na oração e na caridade pastoral.

“O nosso mundo frequentemente propõe modelos de sucesso e de prestígio duvidosos e inconsistentes. Não vos deixeis fascinar por eles! Em vez disso, olhai para o exemplo sólido e os frutos do apostolado, muitas vezes escondido e humilde, daqueles que serviram ao Senhor e aos irmãos com fé e dedicação”, exortou Leão XIV, recordando os santos como verdadeiros “campeões da caridade”.

A ordenação ocorreu após a peregrinação dos sacerdotes às Portas Santas das basílicas papais e a Vigília de Oração realizada na noite anterior, na Basílica de São João de Latrão, presidida por Dom Rino Fisichella, pró-prefeito do Dicastério para a Evangelização.

“Foi um momento muito intenso e muito feliz, em que eu tive a oportunidade de estar muito próximo à Igreja na pessoa do Papa Leão. Ser ordenado por ele, nessa situação, é uma realidade muito feliz, ainda mais no Ano Jubilar”, destacou o agora Padre Lucas Soares.

Com espírito de ação de graças e fidelidade à missão, a Arquidiocese de Brasília se une em oração pelo novo sacerdote, pedindo que seu ministério seja fecundo, santo e inteiramente doado a Deus e ao povo.

Com informações e foto do Vatican News

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

Para iluminar, ter o fogo aceso: Matrimônio e celibato apostólico (2) (Parte 2/2)

Foto/Crédito: Opus Dei

Para iluminar, ter o fogo aceso: Matrimônio e celibato apostólico (2)

Viver como Cristo, tanto no matrimônio como no celibato, leva a acolher um estilo de vida novo que o Espírito Santo nos oferece: um amor fecundo, um coração limpo e uma opção pelas riquezas de Deus e pelo cuidado dos mais necessitados, no estilo do Evangelho.

30/06/2025

Uma limpeza necessária do coração

Jesus, durante os delicados momentos da Última Ceia, diz aos apóstolos: “Vós estais limpos”; embora acrescente a seguir: mas “nem todos”, referindo-se a Judas (cfr Jo 13, 10). Há aqui outra pista sobre esta nova vida à qual Ele convida os apóstolos: um estilo de vida “limpo”. Quer dizer, coerente e em sintonia com Ele, e que encontra no coração de Jesus a melhor maneira de amar os outros. E esta chamada é para todos, em qualquer estado em que a pessoa esteja. São Josemaria compreendeu-o bem, e por isso escreveu: “Prometo-vos um livro – se Deus me ajudar – que poderá ter este título: ‘Celibato, Matrimônio e Pureza’”[14]. A limpeza de coração é fonte de fecundidade para uns e outros. Embora o fundador do Opus Dei não tenha chegado a escrever esse livro, desejava dizer que todos podem ser igualmente abençoados com a fecundidade quando encontram a fonte de sua vida no amor de Deus e no amor aos outros, nesse “novo mandamento”. Aos casados dizia: “Vejo o leito conjugal como um altar”[15]. E aos celibatários: “Ânsia de filhos? ... Filhos, muitos filhos, e um rasto indelével de luz[16]”.

Talvez possamos compreender melhor essa “limpeza” da qual fala o Senhor ao olhar com um pouco mais de perspectiva a história de Judas. Os grandes planos e ambições que ele albergava estavam misturados com um mundanismo ao qual não quis renunciar. No final, sem sentir-se abençoado nem sequer com as trinta moedas de prata que ele mesmo negociou, acabou detestando tudo o que possuía: esse dinheiro, ser contado entre os apóstolos, e até sua própria vida. Tudo o que se afasta dessa limpeza de coração termina por revelar-se como um vil engano que nos defrauda, que nos distancia de nossa verdadeira felicidade. Neste sentido, as tentações de Jesus no deserto são bem eloquentes: mostram como o diabo, prometendo um pouco de pão, de glória e de honra, na verdade está interessado em que Jesus se desvie e deixe de realizar os planos divinos. O demônio é capaz de seduzir uma pessoa com alguma coisa boa desde que a desvie da missão que dá sentido à sua própria vida. A tentação não está tanto no “apropriar-se” de alguns bens, pequenos ou grandes, mas em que esses bens nos segurem e nos impeçam de dedicar as melhores energias ao serviço de Deus e dos outros.

Essa “limpeza de coração”, embora se forje no fundo da alma, manifesta-se também exteriormente, muitas vezes em pequenos gestos. Na vida matrimonial, pode ser vital uma maneira detalhista de relacionar-se, lembrar de aniversários, surpreendendo o outro adivinhando seus gostos etc. Do casal Alvira[17], por exemplo, aprendemos como “ao comprar a própria roupa, Paquita escolhia quase sempre as cores que agradavam a seu marido”. E, por sua vez, Tomás, “quando iam ao cinema, planejava para ir ver – muito feliz - os filmes... que ele sabia que agradavam mais a ela”[18]. A pessoa celibatária também comunica, com palavras e atitudes, que é chamada a dar vida sobrenatural e que o amor de sua vida tem um nome. Aprende a ser compreensiva com todos, sensível às necessidades dos outros, aprende ainda a deixar claro, sem equívocos, o compromisso de sua vida e de sua intimidade. “O celibato apostólico – afirma o Prelado do Opus Dei – pelo fato de comportar um compromisso de coração indiviso para Deus, deve ser visível num teor de vida entregue, análogo ao de uma pessoa casada, que não se comporta como se não tivesse nenhum compromisso”[19].

Cristo é a verdadeira riqueza

Essa “limpeza” da qual Jesus fala na Última Ceia oferece-nos ainda outro ensinamento. Sabemos que o fato de que Judas não estivesse limpo deve-se, pelo menos em parte, a que ele tenha deixado crescer no seu interior um afã desordenado pelas riquezas (cfr Jo 12, 6). Não se sabe de que quantidade de dinheiro o grupo dos doze dispunha. Não seria muito, mas tinham o suficiente para valer-se por si mesmos e para atender os mais necessitados. Quando Jesus disse a Judas “o que tens que fazer, faze-o logo”, os outros pensaram que, como ele era quem guardava o dinheiro, Jesus lhe estava pedindo que comprasse o necessário para a festa ou que desse alguma coisa aos pobres (cfr Jo 13, 27-29).

Essa “limpeza” à qual o Senhor convida seus apóstolos inclui também a ordem em nossas relações com as coisas materiais; recorda eloquentemente como é decisivo confiar em Deus e, portanto, ter a convicção de que a finalidade dos bens materiais está em impulsionar nossa missão espiritual. Quando Jesus envia setenta e dois discípulos para anunciar o Reino, e em muitos outros momentos, insiste em que não levem coisas supérfluas, não atesourem sem sentido e não se preocupem de modo desordenado pelos bens da terra. Porque é fácil que nosso coração se afeiçoe, se apegue a essas seguranças e que deixe de brilhar nele a tênue luz do Espírito Santo para dar lugar ao falso resplendor da avareza. Por isso não é estranho ver, nos inícios da Igreja, os apóstolos distribuindo bens aos mais necessitados com magnanimidade (cfr At 4,34; 24, 17; 1Cor 16, 1-4; Gal 2,10; e outros) e sempre, possuindo ou não riquezas, mostrando qual era a fonte essencial de sua missão: “Não tenho ouro nem prata – disse São Pedro a um paralítico – mas o que tenho te dou: Em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda!”(At 3,6).

O cristão aprende a amar “na prosperidade e na adversidade, na saúde e na doença”: ou chegando ao fim do mês fazendo malabarismos com as contas, ou procurando com criatividade como pôr os bens a serviço dos outros. O casal Alvira conta que conseguiu um verdadeiro “milagre econômico”[20] ao permitir a seus filhos terminarem os estudos. Toni Zweifel[21], numerário suíço do Opus Dei, por seu lado também é recordado como alguém que “levou uma vida generosa e sóbria”[22]. Isso, porém, era o fruto maduro de um caminho que ele começou ainda quando era um jovem engenheiro. Conta-se que antes de descobrir sua vocação como numerário possuía um luxuoso carro esportivo, presente de seu pai como prêmio a seus êxitos de estudante de engenharia[23]. Quando se decidiu pelo celibato apostólico, “deu logo a entender a seu pai que precisava de um modelo de carro mais adequado a suas condições de vida, e conseguiu que ele o trocasse por outro mais útil para a residência: um Saab de sete lugares”[24] que foi essencial para a vida de todos. Em definitivo, aprendeu a utilizar os bens de modo que contribuíssem para reforçar sua missão de apóstolo.

Se é preciso preferir, prefere os mais fracos

Existe uma característica peculiar do estilo de vida de um apóstolo, consequência do que ficou dito. Saber-se apóstolo, aprender a amar sempre e a todos como Cristo, viver com um coração limpo e ancorado nos bens de Deus, permite que se sinta predileção – como Cristo – pelos mais fracos e necessitados. Jesus, com efeito, cura os enfermos, louva os simples de coração, preocupa-se pelas crianças, compadece-se dos pecadores. Poderíamos dizer que, se é preciso preferir, Jesus prefere os mais fracos e necessitados, os que se sentem perdidos, em desvantagem, desprotegidos. Quando os discípulos de João Batista querem saber se ele é o Messias, manda-lhes dizer: “Anunciai a todos o que estais vendo e ouvindo: os cegos veem, os paralíticos andam, os leprosos ficam limpos e os surdos ouvem, os mortos ressuscitam e aos pobres se anuncia o Evangelho. E bem-aventurado quem não se escandalizar de mim” (Mt 11, 4-5)

Por que Jesus nos adverte sobre a possibilidade de escandalizar-nos dele? Talvez porque costumamos ter outras prioridades. O coração humano já foi descrito como uma “máquina de preferir e desdenhar”[25], e em boa medida é verdade, pois tendemos a querer o que nos agrada e a rejeitar o que nos incomoda. Talvez seja espontâneo aproximar-nos daqueles que nos beneficiam e afastar-nos dos que nos incomodam; queremos os primeiros lugares e estamos dispostos a atropelar os outros para conseguir algum bem. Os discípulos do Senhor, pelo contrário, são chamados a ser aqueles que, tendo purificado o coração, os afetos e os sentidos, priorizam as pessoas e os âmbitos que mais têm sede da vida de Cristo; deixam-se impressionar pelo que representa um tesouro para o Senhor.

Pedro Ballester[26], por exemplo, percebeu “que havia um menino de oito anos na vizinhança que não tinha com quem brincar. Embora fosse vários anos mais velho, Pedro convidou-lhe para brincar em sua casa. Desde então, aquela criança batia à porta dos Ballester com muita frequência”[27]. Também nós podemos perceber, entre os que estão perto de nós, os mais pobres de amor de Deus, quer dizer, os tristes, cansados, inoportunos ou descartados, por idade ou doença. “Criança. – Doente. – Ao escrever estas palavras – pergunta São Josemaria – não sentis a tentação de escrevê-las com maiúsculas? É que, para uma alma enamorada, as crianças e os doentes são Ele”[28].

Na Obra, São Josemaria também quis que se cuidasse de modo especial os mais necessitados. Ensinou, por isso, a formar a juventude atendendo aos pobres, dando catequese às crianças, impulsionando iniciativas sociais em ambientes muito diversos. E com sensibilidade paterna pediu a todos os membros do Opus Dei que rezassem todo dia a Nossa Senhora a oração Lembrai-vos de São Bernardo pedindo pela pessoa da Obra que mais necessitasse de oração. Isidoro Zorzano, um dos primeiros membros da Obra, mostra como essa realidade já era vivida durante a guerra civil espanhola. Ele, que tinha liberdade de movimentos por sua nacionalidade argentina, podia visitar os membros do Opus Dei que estavam escondidos em Madri. Entre todos, não ocultava que tinha um que mais gostava de visitar: Vicente Rodríguez Casado. Isidoro dizia com simplicidade: “Eu vou vê-lo com frequência pois é o que está mais sozinho”[29].

***

“O que ilumina deve aceitar aquilo que queima”[30], diz um poeta contemporâneo. Com efeito, o fogo interior da vocação cristã é aquilo que precisamos conservar e alimentar para ser, como dizia São Paulo aos de Corinto, “uma carta de Cristo” que foi “escrita não com tinta, mas com o espírito de Deus vivo; não em tábuas de pedra, mas em tábuas que são corações de carne” (2 Cor 3, 3). Esse fogo, tanto em solteiros como em casados, e naqueles que receberam o dom do celibato, acende-se no amor de Cristo, propaga-se em outros fogos, purifica o coração e procura dar calor a quem mais necessita.


[14] São Josemaria, Caminho, n. 120.

[15] São Josemaria, Anotações de uma reunião familiar (1967), em José Luis Illanes (coord.), Diccionario de San Josemaría Escrivá de Balaguer, Monte Carmelo, Burgos 2013, 490.

[16] São Josemaria, Caminho, n. 28

[17] O casal formado por Tomás Alvira (1906-1992) e Paquita Domínguez (1912-1994) foi um exemplo de vida cristã no matrimônio e na família. Membros da Obra, viveram sua fé com alegria, simplicidade e espírito de serviço, procurando transmitir a fé a seus filhos e a quem os rodeavam. Seu processo de beatificação está em curso.

[18] Hilario Mendo. El secreto de los Alvira. Un ejemplo de amor matrimonial, Palabra, Madri 2023, 29.

[19] Mons. Fernando Ocáriz, Carta pastoral de 28 de outubro de 2020, n. 22.

[20] Hilario Mendo. El secreto de los Alvira. Un ejemplo de amor matrimonial, Palabra, Madri 2023,116.

[21] Toni Zweifel (1938-1989) era engenheiro suíço, conhecido por seu trabalho na Fundação Limmat, Dedicada a promover projetos de desenvolvimento e educação em todo mundo. Destacou-se por sua profunda vida de fé, espírito de serviço e confiança em Deus, inclusive durante sua doença. Seu processo de beatificação está em curso.

[22] Agustín López Kindler, Toni ZweifelHuellas de una historia de amor, Rialp, Madri 2016, 140.

[23] Cfr. Ibidem 33

[24] Ibidem, 51.

[25] José Ortega y Gasset, La elección en amor [Revelación de la cuenca, latente] em Estudios sobre el amor, Revista de Occidente, 8ª edição, Madri 1952, 92-99.

[26] Pedro Ballester (1994-2018) era um jovem britânico, conhecido por sua fé profunda e alegria em meio à doença. Era numerário do Opus Dei. Diagnosticado com câncer aos 17 anos, enfrentou seu sofrimento com fortaleza e confiança em Deus, dando o exemplo àqueles que o conheceram. Seu processo de beatificação está em curso.

[27] Jorge Boronat, Pedro Ballester. ¡Nunca he sido más feliz!, Cobel, Murcia 2022, 19.

[28] São Josemaria, Caminho, n. 419

[29] José Miguel Pero-Sanz, Isidoro Zorzano, Palabra, Madri 1996, 203.

[30] Anton Wildgans, em Wenceslao Vial, Psicología y celibato, em Juan Luis Caballero (ed), El celibato cristiano, Palabra, Madri 2019, 183.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/para-iluminar-ter-o-fogo-aceso-matrimonio-e-celibato-apostolico-2/

Maioria dos adultos nos EUA apoia oração em escolas públicas, diz pesquisa

Pessoa orando. Imagem referencial. | : MIA Studio/Shutterstock

Por Madalaine Elhabbal*

30 de junho de 2025

Segundo uma pesquisa do Pew Research Center, a maioria dos adultos nos EUA apoia que a oração cristã em escolas públicas seja permitida.

Segundo a pesquisa, 52% dos adultos apoiam permitir que professores de escolas públicas conduzam suas aulas com orações que se referem a Jesus, com 27% dizendo que apoiam fortemente e 26% dizendo que são a favor.

No geral, 46% dos adultos americanos se opõem à oração cristã nas escolas públicas, 22% se opondo veementemente.

“Novos debates estão acontecendo nos EUA sobre o lugar da religião — especialmente do cristianismo — nas escolas públicas”, diz o relatório.

O relatório foi divulgado em 23 de junho, dois dias depois de Greg Abbott, governador Texas, republicano, assinar uma lei exigindo que as escolas públicas exibam os Dez Mandamentos em todas as salas de aula no início do ano letivo de 2025-2026.

O relatório do Pew Research Center é baseado em dados do Estudo do Cenário Religioso de 2023-2024, que entrevistou 36.908 adultos dos EUA de 17 de julho de 2023 a 4 de março do ano passado.

Embora a maioria dos adultos no país apoie a oração cristã nas escolas públicas, o apoio varia muito de Estado para Estado.

A maioria dos adultos em 22 Estados nas regiões sul e centro-oeste do país, como Mississippi, Carolina do Sul, Oklahoma, Kentucky, Dakota do Sul, Dakota do Norte, Nebraska, Ohio e Michigan disseram que apoiavam a prática.

A maioria dos adultos em 12 Estados — Califórnia, Oregon, Washington, Vermont, Connecticut, New Hampshire, Massachusetts, Nova York, Nova Jersey, Minnesota, Colorado e Illinois — e no Distrito de Columbia, onde fica a capital do país, disseram se opôr à oração cristã nas escolas públicas.

Os dados nos 16 Estados restantes estão divididos, com cerca de metade dos adultos em Estados como Delaware, Virgínia, Pensilvânia, Idaho, Arizona e Maryland dizendo que são a favor de permitir a oração cristã.

“Uma vez considerada a margem de erro da pesquisa, o apoio à oração cristã liderada por professores nesses Estados não é significativamente diferente da oposição”, diz o relatório.

O relatório diz também que “uma parcela ligeiramente maior de americanos diz ser a favor de permitir orações lideradas por professores que façam referência a Deus (57%) do que a favor de permitir orações lideradas por professores que façam referência específica a Jesus (52%)”.

*Madalaine Elhabbal é uma repórter da Catholic News Agency baseada no escritório da EWTN em Washington, D.C. Ela escreveu para o CatholicVote e também trabalhou como assistente de língua estrangeira na França. Ela é formada pelo Benedictine College (EUA).

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/63415/maioria-dos-adultos-nos-eua-apoia-oracao-em-escolas-publicas-diz-pesquisa

O cristianismo: uma história simples (Parte 2/4)

Beato Angelico, A Anunciação, com a cena da expulsão de Adão e Eva do paraíso terrestre depois do pecado original, Museu do Prado, Madri | 30Giorni

RECORDANDO PADRE GIACOMO...

Arquivo 30Dias nº 05 - 2012

O cristianismo: uma história simples

Encontro com padre Giacomo Tantardini no Centro Cultural Fabio Locatelli, de Bérgamo 15 de dezembro de 2000.

pelo Padre Giacomo Tantardini

2. O que resta, nessa condição? O Mistério inacessível, que não tem rosto, e o homem, ao qual a luz (a luz significa a surpresa da criação, que é boa), essa luz, já não é familiar. A criação já não é cara beleza, mas algo estranho, inimizade, a ponto de Caim matar Abel. O que resta? Resta o coração. O coração é ferido, mas continua a ser coração. Essa é a outra grande coisa que o catolicismo nos diz. Ferido, obnubilado no reconhecimento da verdade e debilitado na possibilidade de ser coerente com a verdade, e mesmo assim o coração permanece. O coração do homem permanece. O coração que nossa mãe, nosso pai nos deram, que Deus por meio deles nos deu, continua a ser coração. Ou seja, o coração continua a ser espera, espera de encontrar alguma coisa. O coração continua a ser pedido de estar contente, o coração continua a ser pedido de felicidade. O coração ferido continua a ser coração.

Leio a vocês dois trechos da poesia mais bela de Leopardi, À sua dama, quando ele diz que o que buscava na beleza da mulher era uma beleza maior, uma beleza que finalmente pudesse satisfazer a espera do coração. Mas acrescenta que isso era um sonho de quando era adolescente. Ao se tornar adulto, percebe que esse sonho já é impossível. “De viva contemplar-te eu já não tenho / Esperança nenhuma”. Já não tenho esperança nenhuma de ver-te viva, ó beleza. Já não tenho esperança nenhuma de encontrar, aqui nesta vida, essa coisa imprevista, essa coisa imprevisível, que o meu coração espera. “No despontar da minha nova vida / Incerta e escura”. A genialidade humana é profecia de Cristo. Não no sentido de que antecipa Cristo, não no sentido de que faz discursos cristãos. Mas no sentido de que O espera, pedindo ou blasfemando, mas O espera. “No despontar da minha nova vida / Incerta e escura.” “Incerta.” Se o Santo, se o Mistério é inacessível, que pode fazer o homem, a não ser estar incerto? Que pode fazer o homem? Não podemos condenar o homem, não podemos condená-lo por seu niilismo, por sua “falta de fé”. O que o homem pode fazer, se o Mistério não tem rosto? O que pode fazer? Até porque o niilismo (Santo Agostinho nisso antecipa e responde a Nietzsche) nasce do fato de a pessoa se dar conta de que esse Deus que diz afirmar é uma projeção de si, ou seja, perceber que Deus não existe. Se Deus é uma projeção, uma imagem de si, a pessoa se dá conta de que esse Deus não existe, não é nada. Nihil estnão é nada. “... Incerta e escura, um dia imaginei-te / Por este árido solo viandante”. Eu pensei encontrar-te neste solo árido, encontrar o que o coração espera. “Mas na terra não há quem se te iguale”. Mas não encontrei nada na terra, nada que merecesse até o fundo o meu coração. Muitas coisas (o próprio Leopardi teve muitas mulheres), mas nada, nenhuma realmente que merecesse até o fundo o meu coração. “Mas na terra não há quem se te iguale, / E mesmo que no rosto, voz e gestos, / Alguma te evocasse, embora assim,/ Bem menos bela se apresentaria”. Aqui está a intuição, que pode ser apenas graça: mesmo se houvesse uma coisa que se assemelhasse a ti no rosto, nas palavras e nos gestos, “embora assim, / Bem menos bela se apresentaria” do que aquilo que o meu coração espera.

Essa poesia acaba com uma oração, a mais fantástica oração de um ateu, pois Giacomo Leopardi era ateu e materialista. Nenhum devoto escreveu uma oração assim ao Mistério que se revelou: “Se és uma das ideias imortais / A quem sensível forma recusou/ A eterna sapiência”. Se tu, ó beleza, se tu, ó coisa que o coração espera, se tu, ó coisa que o coração pede, se tu, felicidade, és uma das ideias imortais que se recusam a revestir-se de forma sensível. “E por entre / Caducas vestimentas, desta vida / Trevosa isentou de sofrimento”, e se recusa a experimentar aqui na terra os afãs desta vida que corre para a morte, “daqui de onde / Tão efêmeros são os infaustos dias,/ Recebe deste ignoto amante o hino”.

Daqui de onde / Tão efêmeros são os infaustos dias.” Isso é realismo cristão. De um ateu, mas é realismo cristão. É realismo humano e portanto profecia de Quem criou o coração assim. Daqui de onde as coisas passam logo. Passam logo também as coisas boas, também o sorriso da criança, do filho, também o afeto pela mulher que amamos. “Daqui de onde / Tão efêmeros são os infaustos dias,/ Recebe deste ignoto amante o hino”. Permanece o coração, o coração que espera uma coisa assim. Mas o homem (e usamos agora uma expressão de Agostinho, que foi na Igreja o testemunho talvez humanamente mais fascinante desse coração), o homem está longe desse coraçãofugitivus cordis sui. O homem está longe dessa pergunta e o homem se contenta. Contenta-se. E com que se contenta? Com a usura, a luxúria e o poder. E não há religião que dê jeito. Contenta-se com essas três coisas, o dinheiro, a luxúria e o poder. Quem crê em Deus e quem não crê. E essa é uma das coisas mais impressionantes do De civitate Dei de Agostinho. A crença em Deus por si só não muda a vida, por si só não muda a vida. Todos os livros do De civitate Dei de Agostinho são atuais. Nos livros oitavo, nono e décimo, Agostinho fala dos filósofos que conheceram a Deus, que reconheceram a existência de Deus. No entanto, no fim, “pensaram ter de oferecer honras divinas de ritos e sacrifícios ao diabo”. O satanismo pode ser a consequência também de alguém proclamar-se crente em Deus, pois a crença em Deus não muda realmente a vida. É uma outra coisa que muda a vida. Se a crença em Deus mudasse a vida não teria sido necessário que Maria desse à luz.

3. Por isso festejamos o Natal. Entendem? Porque, se a crença em Deus mudasse a vida, não teria sido necessário o que aconteceu há dois mil anos. Não só isso: não poderíamos ser gratos como somos gratos. Quando há dois mil anos o anjo Gabriel foi enviado àquela cidade, no limite da Palestina, à Galileia dos gentios, a uma jovem judia chamada Maria... Tudo começou ali. O Santo inacessível, Aquele que criou o coração bom... (mas o pecado original levou a essa condição pela qual o homem de fato se contenta, não pode não se contentar com a luxúria, o dinheiro e o poder), o Santo inacessível tornou-se carne no ventre de uma mulher. Um fato. Aquela história simples começou ali. E começou justamente como história, como história simples. Começou com “Eu te saúdo, ó cheia de graça, o Senhor está contigo”. E essa pequena menina judia, que não compreendeu imediatamente, ficou perturbada e se perguntou o que aquela saudação poderia significar. E o anjo lhe disse: “Não temas, Maria, encontraste graça junto de Deus”. E então aquela pequena menina exprime aquele “Sim”, aquele “Eis-me aqui”, graças ao qual o homem tem esperança de ser salvo. Sem aquele “Eis-me aqui”, toda a crença em Deus não dá esperança ao homem. Aquele “Eis-me aqui” começa uma história, uma história simples. Uma história significa que Aquele que começou assim com Maria (“Encontraste graça junto de Deus”) é Ele, é Ele que leva adiante esse início. De fato, pensem em Nossa Senhora. Pensem: ficou nesse “Eis-me aqui” mesmo quando o anjo a deixou. Pensem no conforto... (essa é uma das coisas que mais me impressionam, que mais me comovem diante de Nossa Senhora), pensem no primeiro conforto que teve, na primeira confirmação de que o que ouvira era real, quando, como qualquer mulher, se deu conta de que estava grávida. Deve ter sido uma coisa do outro mundo. Porque significava que aquela promessa era real, aquela promessa a que logo havia dito “Sim”, a que logo havia dito “Eis-me aqui”, aquela promessa era real, pois aquilo que um Outro havia iniciado estava para ser levado a cumprir-se. E assim o outro conforto que me impressiona e me comove é quando a São José, em sonho, o anjo diz: “José, filho de Davi, não hesites em tomar contigo Maria, tua esposa, pois o que nasceu nela vem do Espírito Santo”. E pensem, porque podemos imaginar... (é outra coisa, se comparada a todas as religiões deste mundo, é outra coisa. É uma história de homens, de jovens, eram dois jovens), pensem o que foi para Maria quando José a tomou consigo. Foi uma outra confirmação, uma outra confirmação de que aquele encontro, aquele “Eu te saúdo, ó cheia de graça” era real. E depois foram juntos visitar Isabel, pois o anjo lhe havia dito que Isabel também esperava um filho e também esse fato confirmou aquele “Eu te saúdo, ó cheia de graça; não temas, Maria”.

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