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domingo, 12 de março de 2017

2° Domingo da Quaresma: A Transfiguração do Senhor




+ Sergio da Rocha

Cardeal Arcebispo de Brasília



A belíssima passagem da Transfiguração do Senhor, proclamada neste 2º Domingo da Quaresma, ilumina a nossa vivência quaresmal. Somos chamados a responder “sim” à voz do Pai que nos convida a escutar Jesus Cristo: “Este é o meu Filho amado, no qual eu pus todo o meu agrado. Escutai-o” (Mt 17,5).
Para compreender bem o sentido da Transfiguração, é preciso considerar que, pouco antes, os discípulos tinham ficado escandalizados com o anúncio da paixão feito por Jesus, pois não admitiam que o Messias pudesse sofrer e morrer na cruz. A contemplação de Cristo transfigurado anima a fé dos discípulos, preparando-os para a subida do monte Calvário, isto é, para participar da paixão e abraçar a cruz. Esse episódio apresenta-se, portanto, como uma antecipação da experiência da vitória pascal de Jesus Cristo.
Necessitamos, hoje, refazer a experiência de Pedro, Tiago e João, para poder dizer: “Senhor, é bom ficarmos aqui!” (Mt 17,4), por meio da oração pessoal e comunitária, pela escuta da Palavra e o encontro com Cristo na Eucaristia. Contudo, para isso, é preciso dispor-se a subir a “a alta montanha” (Mt 17,1), conforme a expressão empregada por Mateus, o que exige esforço e perseverança. Esta tarefa não condiz com acomodação ou preguiça na vida espiritual.
Embora seja necessário o empenho de cada um, o discípulo não sobe sozinho a montanha da Transfiguração, nem realiza tal experiência por conta própria. “Sobe”, primeiramente, porque o Senhor o “tomou consigo”, segundo o que acabamos de ouvir, isto é, pela graça de Deus que precede e acompanha a subida. Além disso, é preciso subir juntos a alta montanha, aceitando os outros discípulos como companheiros de caminhada. A vida dos discípulos de Cristo consiste num permanente caminhar, com ele e com os demais discípulos. Os discípulos que vivem da oração, da escuta da Palavra e da Eucaristia se revelam, ao mesmo tempo, discípulos em comunhão.
Aqueles que sobem a montanha, uma vez encontrando-se com o Senhor transfigurado, não podem instalar-se nela comodamente, ainda que seja sincero o desejo de construir tendas para permanecer com ele. O discipulado implica em subir e descer a montanha. É preciso descer da montanha para evangelizar, contando com o Senhor Ressuscitado que nos acompanha e nos sustenta na missão. Por isso, Jesus tocando os discípulos disse-lhes: “levantai-vos e não tenhais medo” (Mt 17,7). E eles desceram em direção à multidão, especialmente, ao encontro dos doentes e sofredores. Por isso, que a nossa oração seja também acompanhada da prática da caridade, conforme nos propõem a Quaresma e a Campanha da Fraternidade.

Folheto: O Povo de Deus - Arquidiocese de Brasília

sábado, 11 de março de 2017

Da Constituição pastoral Gaudium et Spes do Concílio Vaticano II

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(N.9-10) (Séc.XX)

As interrogações mais profundas do gênero humano
O mundo moderno apresenta-se simultaneamente poderoso e fraco, capaz do melhor e do pior; abre-se diante dele o caminho da liberdade ou da escravidão, do progresso ou da regressão, da fraternidade e do ódio. Por outro lado, o homem toma consciência de que depende dele a boa orientação das forças por ele despertadas e que podem oprimi-lo ou servi-lo. Eis por que se interroga a si mesmo.
Na verdade, os desequilíbrios que atormentam o mundo moderno estão ligados a um desequilíbrio mais profundo, que se enraíza no coração do homem.
No íntimo do próprio homem, muitos elementos lutam entre si. De um lado, ele experimenta, como criatura, suas múltiplas limitações; por outro, sente-se ilimitado em seus desejos e chamado a uma vida superior.
Atraído por muitas solicitações, é continuamente obrigado a escolher e a renunciar. Mais ainda: fraco e pecador, faz muitas vezes o que não quer e não faz o que desejaria. Em suma, é em si mesmo que o homem sofre a divisão que dá origem a tantas e tão grandes discórdias na sociedade.
Muitos, sem dúvida, que levam uma vida impregnada de materialismo prático, não podem ter uma clara percepção desta situação dramática; ou, oprimidos pela miséria, sentem-se incapazes de prestar-lhe atenção. Outros, em grande número, julgam encontrar satisfação nas diversas interpretações da realidade que lhes são propostas.
Alguns, porém, esperam unicamente do esforço humano a verdadeira e plena libertação da humanidade, e estão persuadidos de que o futuro domínio do homem sobre a terra dará satisfação a todos os desejos de seu coração.
Não faltam também os que, desesperando de encontrar o sentido da vida, louvam a audácia daqueles que, julgando a existência humana vazia de qualquer significado próprio, se esforçam por encontrar todo o seu valor apoiando-se apenas no próprio esforço.
Contudo, diante da atual evolução do mundo, cresce o número daqueles que formulam as questões mais fundamentais ou as percebem com nova acuidade. Que é o homem? Qual é o sentido do sofrimento, do mal e da morte que, apesar de tão grandes progressos, continuam a existir? Para que servem semelhantes vitórias, conseguidas a tanto custo? Que pode o homem dar à sociedade e dela esperar? Que haverá depois desta vida terrestre?
A Igreja, porém, acredita que Jesus Cristo, morto e ressuscitado por todo o gênero humano, oferece ao homem, pelo Espírito Santo, luz e forças que lhe permitirão corresponder à sua vocação suprema; ela crê que não há debaixo do céu outro nome dado aos homens pelo qual possam ser salvos.
Crê igualmente que a chave, o centro e o fim de toda a história humana encontra-se em seu Senhor e Mestre.
A Igreja afirma, além disso, que, subjacente a todas as transformações, permanecem imutáveis muitas coisas que têm seu fundamento último em Cristo, o mesmo ontem, hoje e sempre.
www.liturgiadashoras.org

domingo, 5 de março de 2017

Primeiro Domingo da Quaresma

REDAÇÃO CENTRAL, 05 Mar. 17 / 05:00 am (ACI).- Neste dia 5 de março, a Igreja celebra o primeiro domingo da Quaresma. O Evangelho de hoje corresponde à leitura de Mateus 4,1-11, passagem que narra o momento em que Jesus foi tentado pelo diabo no deserto, apresentando assim os temas dos 40 dias deste tempo litúrgico.

A seguir, leia e reflita o Evangelho deste primeiro domingo da Quaresma:
Mt 4,1-11
Naquele tempo, o Espírito conduziu Jesus ao deserto, para ser tentado pelo diabo. Jesus jejuou durante quarenta dias e quarenta noites, e, depois disso, teve fome. Então, o tentador aproximou-se e disse a Jesus: “Se és Filho de Deus, manda que estas pedras se transformem em pães!” Mas Jesus respondeu: “Está escrito: ‘Não só de pão vive o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus’”.
Então o diabo levou Jesus à Cidade Santa, colocou-o sobre a parte mais alta do Templo, e lhe disse: “Se és Filho de Deus, lança-te daqui abaixo! Porque está escrito: ‘Deus dará ordens aos seus anjos a teu respeito, e eles te levarão nas mãos, para que não tropeces em alguma pedra’”. Jesus lhe respondeu: “Também está escrito: ‘Não tentarás o Senhor teu Deus!’”
Novamente, o diabo levou Jesus para um monte muito alto. Mostrou-lhe todos os reinos do mundo e sua glória, e lhe disse: “Eu te darei tudo isso, se te ajoelhares diante de mim, para me adorar”. Jesus lhe disse: “Vai-te embora, Satanás, porque está escrito: ‘Adorarás ao Senhor, teu Deus, e somente a ele prestarás culto’”. Então o diabo o deixou. E os anjos se aproximaram e serviram a Jesus.
Acidigital

Dos Comentários sobre os Salmos, de Santo Agostinho, bispo

(Ps 60, 2-3:CCL39,766)            (Séc.V)

No Cristo fomos tentados e nele vencemos o demônio
Ouvi, ó Deus, a minha súplica, atendei a minha oração (Sl 60,2). Quem é que fala assim? Parece ser um só: Dos confins da terra a vós eu clamo, e em mim o coração já desfalece (Sl 60,3). Então já não é um só, e contudo é somente um, porque o Cristo, de quem todos somos membros, é um só. Como pode um único homem clamar dos confins da terra? Quem clama dos confins da terra é aquela herança a respeito da qual foi dito ao próprio Filho: Pede-me e te darei as nações como herança e os confins da terra por domínio (Sl 2,8).
Portanto, é esse domínio de Cristo, essa herança de Cristo, esse corpo de Cristo, essa Igreja de Cristo, essa unidade que somos nós, que clama dos confins da terra. E o que clama? O que eu disse acima: Ouvi, ó Deus, a minha súplica, atendei a minha oração; dos confins da terra a vós eu clamo. Sim, clamei a vós dos confins da terra, isto é, de toda parte.
Mas por que clamei? Porque em mim o coração já desfalece. Revela com estas palavras que ele está presente a todos os povos no mundo inteiro, não rodeado de grande glória mas no meio de grandes tentações. Com efeito, nossa vida,enquanto somos peregrinos neste mundo, não pode estar livre de tentações, pois é através delas que se realiza nosso progresso e ninguém pode conhecer-se a si mesmo sem ter sido tentado. Ninguém pode vencer sem ter combatido, nem pode combater se não tiver inimigo e tentações.
Aquele que clama dos confins da terra está angustiado, mas não está abandonado. Porque foi a nós mesmos, que somos o seu corpo, que o Senhor quis prefigurar em seu próprio corpo, no qual já morreu, ressuscitou e subiu ao céu, para que os membros tenham a certeza de chegar também aonde a cabeça os precedeu.
Portanto, o Senhor nos representou em sua pessoa quando quis ser tentado por Satanás. Líamos há pouco no Evangelho que nosso Senhor Jesus Cristo foi tentado pelo demônio no deserto. De fato, Cristo foi tentado pelo demônio. Mas em Cristo também tu eras tentado, porque ele assumiu a tua condição humana, para te dar a sua salvação; assumiu a tua morte, para te dar a sua vida; assumiu os teus ultrajes, para te dar a sua glória; por conseguinte, assumiu as tuas tentações, para te dar a sua vitória.
Se nele fomos tentados, nele também vencemos o demônio. Consideras que o Cristo foi tentado e não consideras que ele venceu? Reconhece-te nele em sua tentação, reconhece-te nele em sua vitória. O Senhor poderia impedir o demônio de aproximar-se dele; mas, se não fosse tentado, não te daria o exemplo de como vencer na tentação.
www.liturgiadashoras.org

1° Domingo da Quaresma: Tempo de Conversão

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+ Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília 
Ao receber as cinzas, no início desta Quaresma, nós acolhemos a Palavra de Jesus, repetida a cada ano pela Igreja, chamando-nos à conversão: “Convertei-vos e crede no Evangelho” (Mc 1,15). Esta Palavra continuará a ecoar ao longo deste tempo litúrgico, preparando-nos para a Páscoa do Senhor. A atitude de conversão deve ser vivida através da oração, da penitência e da caridade. Por isso, a cor litúrgica roxa utilizada na Quaresma é sinal e recordação da penitência que não pode faltar no processo de conversão. O esforço de superação do pecado, sustentado pela graça de Deus, comporta sempre renúncias e sacrifícios. Na liturgia dominical, uma verdadeira catequese quaresmal, proposta pela Igreja, nos conduz à renovação da vida batismal, na Páscoa.  
O Evangelho proclamado nos fala das tentações de Jesus no deserto, segundo a narrativa de Mateus (Mt 4,1-11), fazendo-nos pensar nas tentações encontradas no mundo de hoje, dentre elas: o acúmulo de bens e o consumismo (ter), a  vanglória humana e a fama social (aparecer), e o domínio sobre os outros (poder). Contudo, o Evangelho pretende, acima de tudo, nos transmitir a certeza da vitória de Cristo e daqueles que, unidos a Cristo, lutam para vencer as tentações. Conforme o livro do Gênesis, o homem e a mulher caíram na tentação de não cumprir a Palavra de Deus, acarretando a condenação e a morte. Entretanto, por meio do homem novo, Jesus Cristo, que permaneceu na obediência ao Pai, nós recebemos “a justificação que dá a vida” (Rm 5,19).
Na Quaresma, uma das principais expressões de vivência do amor fraterno é a Campanha da Fraternidade, promovida pela Igreja no Brasil. A Campanha da Fraternidade está intimamente associada à Quaresma, embora deva ser vivida além dela. Trata-se de um exercício intenso de conversão e de amor fraterno. Neste ano, o tema da Campanha é: Fraternidade, biomas brasileiros e defesa da vida. Nós refletimos sobre ele, à luz da fé, com o lema Cultivar e guardar a criação (Gn 2,15). A encíclica do Papa Francisco denominada Laudato Si, sobre “o cuidado da casa comum”, continua a motivar a vivência da Campanha da Fraternidade. Conforme explica o texto-base desta Campanha, “um bioma é formado por todos os seres vivos de uma determinada região, cuja vegetação é similar e contínua; cujo clima é mais ou menos uniforme”. A Igreja nos chama a atenção para a importância do tema, que necessita ser mais conhecido e refletido, propondo ações para o cuidado e a preservação da vida nos biomas brasileiros: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. Em nossa região, procuremos preservar a nossa preciosa “casa comum”, que é o cerrado!

Folheto: O Povo de Deus - Arquidiocese de Brasília

sábado, 4 de março de 2017

Papa Francisco propõe a “bússola do cristão” para a Quaresma

Foto: L’Osservatore Romano
VATICANO, 02 Mar. 17 / 09:50 am (ACI).- Na homilia da Missa celebrada nesta quinta-feira na Casa Santa Marta no Vaticano, o Papa Francisco destacou três realidades que devem fazer com que os fiéis vivam a Quaresma de maneira cristã: a realidade do homem, a realidade de Deus e a realidade do caminho.
Estas três realidades, disse, constituem “a bússola do cristão” durante este tempo de conversão.
O Papa explicou que a realidade do homem é a capacidade de escolher entre o bem e o mal. “Deus nos criou livres. A escolha é nossa”. Apesar disso, “Deus não nos deixa sozinhos”, pois indica o caminho correto por meio dos Mandamentos.
A segunda realidade, a de Deus, é que Ele se fez homem para salvar todos: “A realidade de Deus é Deus que se fez Cristo, por nós. Para nos salvar. Quando nos distanciamos dessa realidade e nos distanciamos da Cruz de Cristo, da verdade das chagas do Senhor, nos distanciamos também do amor, da caridade de Deus, da salvação e caminhamos numa estrada ideológica de Deus, distante do Deus que veio até nós para nos salvar, do Deus que morreu por nós. Esta é a realidade de Deus”.
O Papa contou uma história ocorrida entre um agnóstico e um crente. “O agnóstico de boa vontade perguntava ao fiel: ‘Mas, como é possível! Para mim, o problema é como Cristo é Deus: Não posso entender isso. Como Cristo é Deus?’. E o fiel respondeu: ‘Para mim, isso não é um problema. O problema seria se Deus não tivesse se tornado Cristo’. Está é a realidade de Deus”.
Nesse sentido, assinalou que as obras de misericórdia se sustentam nessa realidade de Deus. “Deus que se fez Cristo, Deus que se fez carne e este é o fundamento das obras de misericórdia. As chagas de nossos irmãos são as chagas de Cristo, são as chagas de Deus, porque Deus se fez Cristo. Esta é a segunda realidade. Não podemos viver a Quaresma sem esta realidade. Devemos nos converter não a um Deus abstrato, mas a um Deus concreto que se fez Cristo”.
Em terceiro lugar está a realidade do caminho. Francisco indicou que “a realidade do caminho é a de Cristo: seguir Cristo, fazer a vontade do Pai e como Ele pegar as cruzes de cada dia e renegar a si mesmo para seguir Cristo. Não fazer o que eu quero, mas o que Jesus quer. Seguir Jesus”.
“Ele fala que nessa estrada nós perdemos a vida para ganhá-la depois. É perder a vida continuamente, deixar de fazer o que eu quero, perder as comodidades, estar sempre na estrada de Jesus que estava a serviço dos outros, e adorar Deus. Esta é a estrada certa”.
“O único caminho seguro é seguir Cristo crucificado, escândalo da Cruz”, concluiu.
Acidigital


sexta-feira, 3 de março de 2017

Das Homílias do Pseudo-Crisóstomo

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(Supp., Hom. 6 de precatione: PG 64,462-466)             (Séc. IV)


A oração é a luz da alma
A oração, o diálogo com Deus, é um bem incomparável, porque nos põe em comunhão íntima com Deus. Assim como os olhos do corpo são iluminados quando recebem a luz, a alma que se eleva para Deus é iluminada por sua luz inefável. Falo da oração que não é só uma atitude exterior, mas que provém do coração e não se limita a ocasiões ou horas determinadas, prolongando-se dia e noite, sem inter­rupção.
Com efeito, não devemos orientar o pensamento para Deus apenas quando nos aplicamos à oração; também no meio das mais variadas tarefas - como o cuidado dos pobres, as obras úteis de misericórdia ou quaisquer outros serviços do próximo - é preciso conservar sempre vivos o desejo e a lembrança de Deus. E assim, todas as nossas obras, temperadas com o sal do amor de Deus, se tornarão um alimento dulcíssimo para o Senhor do universo. Podemos, entretanto, gozar continuamente em nossa vida do bem que resulta da oração, se lhe dedicarmos todo o tempo que nos for possível.
A oração é a luz da alma, o verdadeiro conhecimento de Deus, a mediadora entre Deus e os homens. Pela oração a alma se eleva até aos céus e une-se ao Senhor num abraço inefável; como uma criança que, chorando, chama sua mãe, a alma deseja o leite divino, exprime seus próprios desejos e recebe dons superiores a tudo que é natural e visível.
A oração é venerável mensageira que nos leva à presen­ça de Deus, alegra a alma e tranquiliza o coração. Não penses que essa oração se reduza a palavras. Ela é desejo de Deus, amor inexprimível que não provém dos homens, mas é efeito da graça divina, como diz o Apóstolo: Nós não sabemos o que devemos pedir, nem como pedir; é o próprio Espírito que intercede em nosso favor, com gemidos inefáveis (Rm 8,26).
Semelhante oração, quando o Senhor a concede a alguém, é uma riqueza que não lhe pode ser tirada e um alimento celeste que sacia a alma. Quem a experimentou inflama-se do desejo eterno de Deus, como que de um fogo devorador quê abrasa o coração.
Praticando-a em sua pureza original, adorna tua casa de modéstia e humildade, torna-a resplandecente com a luz da justiça. Enfeita-se com boas obras, quais plaquetas de ouro, ornamenta-se de fé e de magnanimidade em vez de paredes e mosaicos. Como cúpula e coroamento de todo o edifício, coloca a oração. Assim prepararás para o Senhor uma digna morada, assim terás um esplêndido palácio real para o receber, e poderás tê-lo contigo na tua alma, transformada, pela graça, em imagem e templo da sua presença.
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quarta-feira, 1 de março de 2017

Da Carta aos Coríntios, de São Clemente I, papa

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(Cap. 7,4-8,3; 8,5-9,1; 13,1-4; 19,2: Funk 1,71-73.77-79.87)           (Sec. I)


Fazei penitência
Fixemos atentamente o olhar no sangue de Cristo e compreendamos quanto é precioso aos olhos de Deus, seu Pai, esse sangue que, derramado para nossa salvação, ofereceu ao mundo inteiro a graça da penitência.
Percorramos todas as épocas do mundo e verificaremos que em cada geração o Senhor concedeu o tempo favorável da penitência a todos os que a ele quiseram converter-se. Noé proclamou a penitência, e todos que o escutaram foram salvos. Jonas anunciou a ruína aos ninivitas, mas eles, fazendo penitência de seus pecados, reconciliaram-se com Deus por suas súplicas e alcançaram a salvação, apesar de não pertencerem ao povo de Deus.
Inspirados pelo Espírito Santo, os ministros da graça de Deus pregaram a penitência. O próprio Senhor de todas as coisas também falou da penitência, com juramento: Pela minha vida, diz o Senhor, não quero a morte do pecador, mas que mude de conduta (cf. Ez 33,11); e acrescentou esta sentença cheia de bondade: Deixa de praticar o mal, ó Casa de Israel! Dize aos filhos do meu povo: "Ainda que vossos pecados subam da terra até o céu, ainda que sejam mais vermelhos que o escarlate e mais negros que o cilício, se voltardes para mim de todo o coração e disserdes: 'Pai', eu vos tratarei como um povo santo e ouvirei as vossas súplicas” (cf. Is 1,18; 63,16; 64,7; Jr 3,4; 31,9).
Querendo levar à penitência todos aqueles que amava, o Senhor confirmou esta sentença com sua vontade todo-poderosa.
Obedeçamos, portanto, à sua excelsa e gloriosa vontade. Imploremos humildemente sua misericórdia e benignidade. Convertamo-nos sinceramente ao seu amor. Abandonemos as obras más, a discórdia e a inveja que conduzem à morte.
Sejamos humildes de coração, irmãos, evitando toda espécie de vaidade, soberba, insensatez e cólera, para cumprirmos o que está escrito. Pois diz o Espírito Santo: Não se orgulhe o sábio em sua sabedoria, nem o forte com sua força, nem o rico em sua riqueza; mas quem se gloria, glorie-se no Senhor, procurando-o e praticando o direito e justiça (cf. Jr 9,22-23; ICor 1,31).
Antes de mais nada, lembremo-nos das palavras do Senhor Jesus, quando exortava à benevolência e à longanimidade: Sede misericordiosos, e alcançareis misericórdia; perdoai, e sereis perdoados; como tratardes o próximo, do mesmo modo sereis tratados; dai, e vos será dado; não julgueis, e não sereis julgados; fazei o bem, e ele também vos será feito; com a medida com que medirdes, vos será medido (cf. Mt 5,7; 6,14; 7,1.2).
Observemos fielmente este preceito e estes mandamen­tos, a fim de nos conduzirmos sempre, com toda humildade, na obediência às suas santas palavras. Pois eis o que diz o texto sagrado: Para quem hei de olhar, senão para o manso e humilde, que treme ao ouvir minhas palavras ? (cf. Is 66,2).
Tendo assim participado de muitas, grandes e gloriosas ações, corramos novamente para a meta que nos foi proposta desde o início: a paz. Fixemos atentamente nosso olhar no Pai e Criador do universo e desejemos com todo ardor seus dons de paz e seus magníficos e incomparáveis benefícios.
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"A Palavra é um dom. O outro é um dom.

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Cidade do Vaticano (RV) - "A Palavra é um dom. O outro é um dom." Este é o título da mensagem do Papa Francisco para a Quaresma de 2017. Leia a seguir trechos da Mensagem do Papa Francisco.

Amados irmãos e irmãs!

A Quaresma é um novo começo, uma estrada que leva a um destino seguro: a Páscoa de Ressurreição, a vitória de Cristo sobre a morte. E este tempo não cessa de nos dirigir um forte convite à conversão: o cristão é chamado a voltar para Deus «de todo o coração» (Jl 2, 12), não se contentando com uma vida medíocre, mas crescendo na amizade do Senhor.(...)
A Quaresma é o momento favorável para intensificarmos a vida espiritual através dos meios santos que a Igreja nos propõe: o jejum, a oração e a esmola. Na base de tudo isto, porém, está a Palavra de Deus, que somos convidados a ouvir e meditar com maior assiduidade neste tempo. Aqui queria deter-me, em particular, na parábola do homem rico e do pobre Lázaro (cf. Lc 16, 19-31).(...)
O outro é um dom
A parábola inicia com a apresentação dos dois personagens principais, mas quem aparece descrito de forma mais detalhada é o pobre.(...) A cena revela-se ainda mais dramática, quando se considera que o pobre se chama Lázaro, um nome muito promissor pois significa, literalmente, «Deus ajuda».(...)
Lázaro ensina-nos que o outro é um dom... O primeiro convite que nos faz esta parábola é o de abrir a porta do nosso coração ao outro, porque cada pessoa é um dom, seja ela o nosso vizinho ou o pobre desconhecido. A Quaresma é um tempo propício para abrir a porta a cada necessitado e nele reconhecer o rosto de Cristo... A Palavra de Deus ajuda-nos a abrir os olhos para acolher a vida e amá-la, sobretudo quando é frágil...
 O pecado cega-nos
 A parábola põe em evidência, sem piedade, as contradições em que vive o rico (cf. v. 19). Este personagem, ao contrário do pobre Lázaro, não tem um nome, é qualificado apenas como «rico»... Assim, a riqueza deste homem é excessiva, inclusive porque exibida habitualmente: «Fazia todos os dias esplêndidos banquetes» (v. 19). Entrevê-se nele, dramaticamente, a corrupção do pecado, que se realiza em três momentos sucessivos: o amor ao dinheiro, a vaidade e a soberba (cf. Homilia na Santa Missa, 20 de setembro de 2013).
O apóstolo Paulo diz que «a raiz de todos os males é a ganância do dinheiro» (1 Tm 6, 10). Esta é o motivo principal da corrupção e uma fonte de invejas, contendas e suspeitas... Depois, a parábola mostra-nos que a ganância do rico fá-lo vaidoso... O degrau mais baixo desta deterioração moral é a soberba... Olhando para esta figura, compreende-se por que motivo o Evangelho é tão claro ao condenar o amor ao dinheiro: «Ninguém pode servir a dois senhores: ou não gostará de um deles e estimará o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não podeis servir a Deus e ao dinheiro» (Mt 6, 24).
A Palavra é um dom
O Evangelho do homem rico e do pobre Lázaro ajuda a prepararmo-nos bem para a Páscoa que se aproxima. A liturgia de Quarta-Feira de Cinzas convida-nos a viver uma experiência semelhante à que faz de forma tão dramática o rico. Quando impõe as cinzas sobre a cabeça, o sacerdote repete estas palavras: «Lembra-te, homem, que és pó da terra e à terra hás de voltar»...
Mas a parábola continua, apresentando uma mensagem para todos os cristãos... o verdadeiro problema do rico: a raiz dos seus males é não dar ouvidos à Palavra de Deus; isto levou-o a deixar de amar a Deus e, consequentemente, a desprezar o próximo. A Palavra de Deus é uma força viva, capaz de suscitar a conversão no coração dos homens e orientar de novo a pessoa para Deus. Fechar o coração ao dom de Deus que fala, tem como consequência fechar o coração ao dom do irmão.
Amados irmãos e irmãs, a Quaresma é o tempo favorável para nos renovarmos, encontrando Cristo vivo na sua Palavra, nos Sacramentos e no próximo... Que o Espírito Santo nos guie na realização dum verdadeiro caminho de conversão, para redescobrirmos o dom da Palavra de Deus, sermos purificados do pecado que nos cega e servirmos Cristo presente nos irmãos necessitados. Encorajo todos os fiéis a expressar esta renovação espiritual... Rezemos uns pelos outros para que, participando na vitória de Cristo, saibamos abrir as nossas portas ao frágil e ao pobre. Então poderemos viver e testemunhar em plenitude a alegria da Páscoa.
Papa Francisco
Vaticano, 18 de outubro de 2016.

Rádio Vaticano

terça-feira, 28 de fevereiro de 2017

Ester é coroada como rainha

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Redação (Sexta-feira, 24-02-2017, Gaudium Press) A grande maioria dos exilados hebreus procedentes de Judá se estabeleceram na Babilônia. Entretanto, certo número deles fixaram suas moradas em outras cidades do vasto império medo-persa, entre as quais Susa, onde vivia a israelita Ester, que se tornou esposa do Rei Xerxes e exerceu um heroico papel em defesa de seu povo e, portanto, da verdadeira Religião.
Guerras médicas

Xerxes, que no Livro de Ester (cf. 1, 1) é chamado Assuero, reinou de 485 a 465 a. C. Era neto de Ciro, o Grande, e seu império abrangia desde a Índia até a Etiópia, contendo 127 províncias.
Para termos ideia do paganismo de Assuero, narra a História que certa vez ele mandou construir uma ponte de navios, no estreito de Dardanelos - que liga o Mar Egeu ao Mar de Mármara -, para a passagem de seus batalhões. Entretanto, uma tempestade arrastou a ponte; furioso, Assuero condenou à morte o construtor e mandou que o mar fosse chicoteado...
Seu pai Dario quis também conquistar a Grécia. Mas quatro cidades gregas, entre as quais Atenas e Esparta, resolveram resistir, dando assim origem às guerras médicas, assim denominadas porque um dos contendores eram os medos.

A desproporção de forças era tremenda, mas os gregos, apesar de seu pequeno número, acabaram vencendo. Dario sofreu uma derrota na batalha de Maratona; Assuero continuou a guerra e conseguiu chegar até Atenas, onde destruiu monumentos da Acrópole. Mas sua frota foi destroçada pelo grego Temístocles, na batalha de Salamina, em 480 a. C. Assuero, "que assistira à batalha do alto da costa, sentado em um trono, voltou à Ásia". Vencendo os medo-persas, os gregos passaram a ter importante papel na História Universal.
Tendo em vista esse fundo de quadro, passaremos a recordar a vida da Rainha Ester.
Deposição da Rainha Vasti
Pouco antes da derrota de Salamina, Assuero, querendo mostrar "as riquezas da glória do seu reino, e o esplendor e a magnificência da sua grandeza" (Est 1, 4), ofereceu em Susa um grande banquete aos príncipes, nobres, prefeitos de províncias e pessoas de destaque entre os medos e persas, o qual durou 180 dias. O historiador grego Heródoto, contemporâneo de Assuero, faz descrições dos costumes dos persas que indicam analogia marcante com a narração da Bíblia.
Depois promoveu outro festim nos jardins do palácio real para todo o povo que se encontrava em Susa, o qual teve a duração de sete dias.
Por toda parte havia cortinas de linho e musselina, divãs de ouro e de prata, esmeraldas e outras pedras incrustadas nos pavimentos; os convidados bebiam em copos de ouro de formas e tamanhos diferentes (cf. Est 1, 6-7).
Nessa mesma ocasião, a Rainha Vasti - antecessora de Ester - também realizou no palácio real um banquete para as mulheres. Em determinado momento, Assuero ordenou que Vasti se apresentasse no salão principal com o diadema real, pois queria exibir a todos a beleza da rainha. Mas ela recusou-se a comparecer e por isso foi deposta.

Assuero, então, enviou cartas a todas as províncias de seu reino, "recordando que os maridos são os príncipes e chefes em suas casas, e que devem manter submissas as suas mulheres" (Est 1, 22). Aliás, esse princípio - que exprime a ordem natural das coisas - está consignado por São Paulo: "As mulheres sejam [submissas] aos maridos, como ao Senhor. Pois o marido é a cabeça da mulher, como Cristo também é a cabeça da Igreja, seu Corpo, do qual Ele é o Salvador. Por outro lado, como a Igreja se submete a Cristo, que as mulheres também se submetam, em tudo, a seus maridos" (Ef 5, 22-24).
Então o Rei mandou que se procurassem moças virgens e formosas, que deveriam ser trazidas ao palácio, para que uma delas fosse escolhida como rainha.
Ester em tudo obedecia a Mardoqueu
Vivia em Susa um destemido israelita chamado Mardoqueu, cujo bisavô fora deportado de Jerusalém com o Rei Jeconias, de Judá.
Tornara-se tutor da jovem Ester, órfã de pai e mãe, e que era extraordinariamente bela. Também ela foi levada ao palácio real, e, instruída por Mardoqueu, não declarara ser judia.
Quando Ester foi apresentada a Assuero, este lhe colocou o diadema real sobre a cabeça e a fez rainha, em lugar de Vasti. E mandou preparar um banquete magnífico para os príncipes e seus servos, em homenagem a Ester.
Mardoqueu, entretanto, permanecia sempre junto à porta do palácio real. E Ester, agora rainha, "continuava a obedecer ao que ele mandasse, como costumava fazer no tempo em que, ainda pequenina, fora por ele adotada" (Est 2, 20).

Certo dia, dois porteiros revoltaram-se e planejaram um atentado contra o Rei. Mardoqueu soube disso e logo avisou Ester, pedindo-lhe que, em nome dele, comunicasse o fato a Assuero. O Rei mandou fazer as investigações e, comprovada a trama criminosa, os dois culpados foram enforcados, e o acontecimento foi consignado no livro dos anais do Rei, destacando-se a fidelidade de Mardoqueu.

Por Paulo Francisco Martos
(in Noções de História Sagrada - 104)


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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF