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sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Do Sermão sobre as Bem-aventuranças, de São Leão Magno, papa

(Sermo 95,2-3: PL 54,462)                 (Séc.V)

Bem-aventurados os pobres de espírito
Não há dúvida de que os pobres alcançam mais facilmente que os ricos o bem da humildade; estes, nas riquezas, a conhecida altivez. Contudo em muitos ricos encontra-se a disposição de empregar sua abundância não para se inchar de soberba, mas para realizar obras de benignidade; e assim eles têm por máximo lucro tudo quanto gastam em aliviar a miséria do trabalho dos outros.  
A todo gênero e classe de pessoas é dado ter parte nesta virtude, porque podem ser iguais na intenção e desiguais no lucro; e não importa quanto sejam diferentes nos bens terrenos, se são idênticos nos bens espirituais. Feliz então a pobreza que não se prende ao amor das coisas transitórias, nem deseja o crescimento das riquezas do mundo, mas anseia por enriquecer-se com os tesouros celestes.
Exemplo de fidalga pobreza foi-nos dado primeiro, depois do Senhor, pelos apóstolos que, abandonando igualmente todas as posses à voz do Mestre celeste, se transformaram, por célebre conversão, de pescadores de peixes em pescadores de homens (cf. Mt 4,19). Eles tornaram a muitos outros semelhantes a si, à imitação de sua fé, quando nos filhos da Igreja primitiva era um só o coração de todos e uma só a alma dos que criam (cf. At 4,32). Desapegados de todas as coisas e de suas posses, pela pobreza sagrada enriqueciam-se com os tesouros eternos. Segundo a pregação apostólica, alegravam-se por nada ter do mundo e tudo possuir com Cristo.  
O santo apóstolo Pedro, subindo ao templo, respondeu ao entrevado que lhe pedia esmola: Prata e ouro não possuo; mas o que tenho te dou: Em nome de Jesus Cristo Nazareno, levanta-te e anda (At 3,6). Que de mais sublime do que esta humildade? E mais rico do que esta pobreza? Não tem os auxílios do dinheiro, mas tem os dons do espírito. Saíra ele paralítico do seio de sua mãe; com a palavra Pedro o curou. Quem não deu a efígie de César na moeda, reformou no homem a imagem de Cristo. 
Com este rico tesouro não foi socorrido só aquele que recuperou o andar, mas ainda as cinco mil pessoas que naquele momento creram na exortação do Apóstolo por causa do milagre da cura (cf. At 4,4). E o pobre que não tinha para dar a um mendigo, distribuiu com tanta largueza a graça divina! Da mesma forma como estabeleceu a um só homem em seus pés, assim curou a tantos milhares de fiéis em seus corações e tornou saltitantes em Cristo aqueles que encontrara entrevados.

Responsório Mt 5,1b-3; Is 66,2b

R. Os discípulos se achegaram a Jesus;
ele, então, pôs-se a falar e os ensinava:
* Felizes os pobres em espírito,
porque deles é o Reino dos céus.
V. O pobre é que atrai os meus olhares,
o aflito e o de espírito abatido,
quem perante minha palavra estremece. * Felizes.

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domingo, 2 de setembro de 2018

Dos Sermões de Santo Agostinho, bispo

(Sermo 23A,1-4: CCL 41,321-323)                 (Séc.V)

O Senhor se compadeceu de nós
Felizes de nós, se o que ouvimos e cantamos também executamos. A audição é nossa semeadura, e nossos atos, frutos da semente. Disse isto de antemão para exortar vossa caridade a não entrardes sem fruto na igreja, ouvindo tantas coisas boas sem realizá-las. Porque por sua graça fomos salvos, assim diz o Apóstolo, não por nossas obras, não aconteça alguém se ensoberbecer (Ef 2,8-9) pois por sua graça fomos salvos (Ef 2,5). Pois não precedeu nenhuma vida virtuosa que Deus pudesse amar e dizer: “Ajudemos, socorramos estes homens porque vivem bem”. Desagradava-lhe nossa vida, desagradava-lhe em nós tudo o que fazíamos, mas não lhe desagradava o que ele mesmo fez em nós. Por isto, o que nós fizemos, ele o condenará; o que ele próprio fez, ele o salvará.  
Não éramos bons. Mas ele se compadeceu de nós e enviou seu Filho para morrer não pelos bons, mas pelos maus, não pelos justos, mas pelos ímpios. Na verdade Cristo morreu pelos ímpios (Rm 5,6). E como continua? Mal se encontra alguém que morra por um justo, pois talvez alguém se atreva a morrer por um bom (Rm 5,7). Quiçá haja alguém que ouse morrer por um bom. Mas pelo injusto, pelo ímpio, pelo iníquo, quem quererá morrer? Só Cristo, para que, justo, justifique até mesmo os injustos.  
Não tínhamos, meus irmãos, nenhuma obra boa, mas todas eram más. E sendo tais os atos dos homens, sua misericórdia não abandonou os homens. Deus enviou seu Filho, para remir-nos, não por ouro, não por prata, mas ao preço de seu sangue derramado, cordeiro imaculado levado como vítima pelas ovelhas maculadas, se é que só maculadas e não totalmente corrompidas! Recebemos então esta graça. Vivamos de modo digno dessa graça e não façamos injúria à grandeza do dom que recebemos. Tão grande médico veio a nós e perdoou todos os nossos pecados. Se quisermos recair na doença, não só nos prejudicaremos a nós mesmos, mas seremos ingratos ao próprio médico.
Sigamos os caminhos que ele próprio indicou, muito em especial a via da humildade, via que ele mesmo se fez por nós. Mostrou-nos pelos preceitos o caminho da humildade e criou-o padecendo por nós. Com o intuito de morrer por nós – e sem poder morrer – o Verbo se fez carne e habitou entre nós (Jo 1,14), para poder morrer por nós, aquele que não podia morrer. E com sua morte matar nossa morte.  
Fez isto o Senhor, isto nos concedeu. O excelso humilhou-se, humilhado foi morto e, ressurgindo, foi exaltado, a fim de não nos deixar mortos nas profundezas, mas de exaltar em si na ressurreição dos mortos aqueles que já agora exaltou pela fé e o testemunho dos justos. Deu-nos então a humildade como caminho. Se nos agarrarmos a ela, confessaremos o Senhor e com toda razão cantaremos: Nós te confessaremos, Senhor, confessaremos e invocaremos teu nome (Sl 74,2).

Responsório Sl 85(86),12-13a; 117(118),28

R. Dou-vos graças com toda a minha alma,
sem cessar louvarei vosso nome.
* Vosso amor para mim foi imenso.
V. Vós sois meu Deus, eu vos bendigo e agradeço!
Vós sois meu Deus, eu vos exalto com louvores!
* Vosso amor.

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22º Domingo do tempo Comum: Ouvintes e praticantes da Palavra

+ Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília
Qual é o tempo que dedicamos à leitura e à meditação da Bíblia? Qual é o lugar que ocupa a Bíblia na sua vida e na vida da sua família? Estamos iniciando o mês especialmente dedicado à Bíblia. Nele, somos convidados a refletir sobre como temos escutado e praticado a Palavra de Deus. Não podemos caminhar sem a luz da Palavra de Deus que orienta os nossos passos. Neste mês, temos um tempo mais intenso de exercício espiritual bíblico para continuar a dar a devida atenção à Palavra no ano todo. É necessário dedicar mais tempo à leitura orante da Bíblia para por em prática a Palavra de Deus. Por isso, leia a Bíblia, ainda que um breve trecho, todos os dias!
Nas missas da maior parte dos domingos do Tempo Comum deste Ano Litúrgico, a Igreja proclama o Evangelho segundo Marcos. O que ocorre na celebração eucarística deve se prolongar na vida. Por isso, procure fazer a leitura orante deste Evangelho. Pode-se, de modo especial, retomar a passagem proclamada no domingo.
A Liturgia da Palavra deste domingo nos convida a sermos ouvintes e praticantes da Palavra. O refrão do Salmo 14, hoje rezado, traz uma pergunta fundamental para a vida cristã: “Senhor quem morará em vossa casa e no vosso monte santo habitará?” A resposta encontra-se no próprio Salmo e nas leituras da missa de hoje.
Conforme o Evangelho proclamado, os fariseus e mestres da lei questionavam Jesus a respeito da observância das leis e costumes pelos seus discípulos. Eles seguiam “preceitos humanos”, a “tradição dos homens”, que o povo tinha dificuldade de conhecer e praticar, ao invés do observarem o “mandamento de Deus”. Jesus os chama de “hipócritas”, por honrarem a Deus com os lábios, mas não com o coração. Ele aproveita a ocasião para ensinar a multidão a respeito daquilo que torna impuro o homem, isto é, o que sai “de dentro do coração humano” (Mc 7,21). Ao invés de preocupar-se com aparências, como faziam os fariseus e como costuma acontecer ainda hoje, é preciso cuidar do interior, do “coração”, a fim de agradar a Deus e praticar a sua Palavra.
O Deuteronômio nos exorta a “guardar os mandamentos”, a “por em prática” a Palavra de Deus como condição para ter a vida (Dt 4,1). Muito diferente da postura dos fariseus perante a Lei, o Deuteronômio ressalta a necessidade da fidelidade e obediência à Palavra, sem jamais deturpar o seu sentido (Dt 4,2). A Carta de São Tiago também nos exorta a sermos “praticantes da palavra e não meros ouvintes”, para “não se deixar contaminar pelo mundo”, ressaltando a caridade para com os pobres e sofredores, tão necessária em nossos dias, enquanto testemunho pessoal e comunitário da fé.
O Povo de Deus / Arquidiocese de Brasília

Carta de solidariedade ao Papa Francisco

Dom Orani João Tempesta. Foto: Arquidiocese do Rio de Janeiro

São Sebastião do Rio de Janeiro, 30 de agosto de 2018

Santo Padre Papa Francisco,
Com filial reverência, dirijo-me, muito cordialmente, a V. Santidade a fim de lhe expressar, mais especialmente, minha proximidade, comunhão e oração ante notícias midiáticas sensacionalistas recentes que parecem visar a desestabilização da unidade da Igreja, atingindo, inclusive, o maior sinal visível dessa unidade, que é o ministério petrino no qual, hoje, serve V. Santidade, querido Papa Francisco.
Tenho a certeza da fé que Cristo, Nosso Senhor escolheu Pedro – e seus sucessores – para estar à frente da Sua Igreja e confirmar seus irmãos na fé (cf. Mt 16,17-19; Lc 22,31-32 e Jo 21,15-18). Não há dúvida de que Pedro foi o escolhido pelo Senhor para conduzir a Igreja, enquanto bispo de Roma. Dessa verdade até mesmo o historiador reformado Justo L. Gonzáles, muito usado nos estudos da História da Igreja em comunidades evangélicas, após referir-se ao fim historicamente incerto dos demais apóstolos, afirma a respeito de Pedro: “De todas as tradições, provavelmente a que é mais difícil de pôr em dúvida é a que afirma que Pedro esteve em Roma e que sofreu o martírio nessa cidade durante a perseguição de Nero. Este fato encontra testemunhos fidedignos em vários escritores cristãos dos fins dos primeiros séculos e de todo o século segundo e, portanto, deve ser aceito como historicamente certo.” (A Era dos Mártires. 13ª reimpressão. São Paulo: Vida Nova, 2005, p. 40-41. v. 1. Coleção: Uma História Ilustrada do Cristianismo).
Ora, isso que o historiador confirma em seu trabalho, faz parte da Tradição da Igreja, de modo que, no fim do século I, tendo surgido um litígio entre os fiéis de Corinto, o bispo de Roma, São Clemente, lhes escreveu uma carta autoritária: “Se alguns não obedecem ao que Deus mandou por nosso intermédio, saibam que incorrem em falta e em perigo muito grave” (c. 69).
Em meados do século III, S. Cipriano, bispo de Cartago, chamava a cátedra de Roma de “‘cátedra de Pedro’, a Igreja principal, donde se origina a unidade sacerdotal (isto é, a unidade dos bispos)” (epist. 55, 14).
É certo haver alguns que, tentando fundamentar-se em Gl 2,11-14, tenham a pretensão de resistir, hoje, ao Papa ou mesmo de enfrentá-lo como se o referido trecho bíblico lhes desse aval. Na verdade, não compactuamos com tal postura, por duas grandes razões: 1) pela Escritura e pela Tradição, como vimos, não é possível servir a Cristo, em Sua Igreja, sem estar em plena comunhão com o Sucessor de Pedro. 2) podemos observar que, em suas cartas, São Paulo, longe de se opor, conserva sempre especial respeito pela pessoa de São Pedro: 1Cor 9,5: “(...) como os outros apóstolos e os irmãos do Senhor e Cefas”; Gl 1,18: “Depois de passados três anos, subi a Jerusalém para conhecer Cefas, e permaneci com ele durante 15 dias”; 1Cor 15,3-5: “Desde o princípio vos ensinei o que aprendi: que Cristo morreu..., ressurgiu e foi visto por Cefas e depois pelos 11”.
De modo que tendo considerado o episódio de Antioquia e os demais textos paulinos, conclui o racionalista Alfred Loisy: a atitude de São Paulo “atesta ter sido Pedro o chefe do serviço evangélico, o homem com o qual era preciso entrar em acordo, sob pena de trabalhar em vão” (Les Evangiles Synoptiques 14). Segundo escreve o estudioso luterano G. Bornkamm, “para ser justo diremos que não há motivo para formular uma tal acusação”. A passagem de Gl trata “da unidade dos cristãos de origem judaica e provenientes do paganismo numa comunidade mista. Cefas (Pedro) e Tiago não devem, portanto, ser acusados de deslealdade, e os judeu-cristãos de Antioquia, com os caracteres de um Barnabé, certamente não arremessaram no mar toda a sua compreensão do Evangelho libertador da Lei” (E. Cothenet. A Epístola aos Gálatas. São Paulo: Paulinas, 1984, p. 34). Quem viu ou vê aí um álibi para acusar ou questionar o Papa, engana-se.
De resto, Santo Padre, todos os Papas, de um ou de outro modo, sofreram críticas e perseguições, nem João Paulo I, em apenas 33 dias de Pontificado, escapou da sanha acusatória. Se perseguiram o Mestre com toda sorte de sofrimentos físicos e morais, com seus ministros não será diferente, em graus diversos, de modo que tais sofrimentos toquem também os que mais estão perto. Só Deus e os verdadeiros irmãos podem estar próximos de nós nas horas em que somos traídos por um dos 12, um dos membros do Colégio Apostólico. Foi a triste realidade a que o Senhor esteve submisso. Conosco não é, nem poderia ser, diferente. Carregamos um pouco da Cruz de Cristo!
Santo Padre, termino com as palavras de carinho filial com as quais comecei esta mensagem: sinta o meu incondicional apoio, minha proximidade espiritual e humana. Tenha-me como um filho devotado, na graça divina, que o bispo de Roma pode ter sempre ao seu lado, especialmente em tempos de mar revolto que parecem ameaçar a Igreja de Cristo.
Nesta oportunidade, Santo Padre, transmita, também, minha afetuosa e fraterna proximidade ao meu irmão no Episcopado e no Colégio Cardinalício, Sua Eminência, o Senhor Cardeal Pietro Parolin, DD., secretário de Estado de Vossa Santidade. Esteja ele certo de minha oração e amizade.
Colocando-me ao vosso inteiro dispor, suplico-lhe, Santo Padre, vossa bênção apostólica extensiva a todo o povo de Deus desta Igreja Particular de São Sebastião do Rio de Janeiro,
Vosso devotado filho, no Senhor,

Orani João, Cardeal Tempesta, O.Cist.

Arcebispo Metropolitano de São Sebastião do Rio de Janeiro, RJ

domingo, 26 de agosto de 2018

Da Constituição Pastoral Gaudium et spes sobre a Igreja no mundo de hoje, do Concílio Vaticano I

(N.39)        (Séc.XX)

A prefiguração de um mundo novo
Não conhecemos o tempo em que se consumirão a terra e a humanidade nem o modo por que se transformará o mundo. Na verdade, passa a figura deste mundo deformada pelo pecado, porém, Deus nos revelou preparar nova habitação e nova terra onde mora a justiça; e sua felicidade cumulará e superará todo desejo de paz que sobe ao coração dos homens. Então, vencida a morte, ressuscitarão os filhos de Deus em Cristo, e aquilo que foi semeado na fraqueza e na corrupção, se revestirá de incorrupção; sempre vivas a caridade e suas obras, toda a criação, que para o homem Deus criou, será liberta da escravidão da vaidade.  
 Recebemos a advertência de que nada adiantará ao homem lucrar o mundo inteiro se vier a perder-se a si mesmo. Todavia a expectativa da nova terra não deve enfraquecer, mas, ao contrário, estimular o interesse pelo desenvolvimento desta terra, onde cresce o corpo daquela nova família humana, que já pode mostrar algo como sombra do novo mundo. Por conseguinte, embora distinguindo com cuidado o progresso terreno e o aumento do reino de Cristo, na medida em que a sociedade humana for mais bem ordenada, influirá sobremaneira no reino de Deus.  
Pois os bens da dignidade da pessoa, da comunhão fraterna e da liberdade, todos bens, frutos da natureza e do esforço humano, depois que pelo Espírito do Senhor e a seu mandado os propagarmos pela terra, de novo os reencontraremos, mais limpos de toda mancha. Luminosos e transfigurados, quando Cristo entregar ao Pai o reino eterno e universal: “reino de verdade e de vida, reino de santidade e de graça, reino de justiça, de amor e de paz”. Este reino já está aqui na terra, em mistério; com a vinda do Senhor, será perfeito.

Responsório Cf. Is 49,13; Sl 71(72),7a

R. Cantai, ó céus, e exulte a terra,
gritai, ó montes, de alegria:
O próprio Deus virá a nós,
O Senhor se compadece de seu povo, dos aflitos.
V. Nos seus dias a justiça florirá,
e grande paz até que a lua perca o brilho. O Senhor.

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21º Domingo do tempo comum: Nós cremos firmemente!

+ Sergio da Rocha
Cardeal Arcebispo de Brasília
Estamos concluindo a leitura do capítulo 6º do Evangelho segundo João, que nos apresenta Jesus como o Pão da Vida. O capítulo iniciado com a multiplicação dos pães, seguida da palavra de Jesus sobre o Pão da Vida, se conclui com a reação de “muitos dos discípulos”, que acharam “dura” a sua palavra e passaram a “murmurar” e a se escandalizar; “voltaram atrás e não andavam mais com ele” (Jo 6,66). Jesus chega a perguntar aos “doze” apóstolos, se eles também estavam querendo deixa-lo. Trata-se de um momento de crise, ocasião para que os verdadeiros discípulos possam crescer e amadurecer na fé, como nos demonstra Simão Pedro: “A quem iremos, Senhor? Tu tens palavras de vida eterna!” (Jo 6,69). A fé dos discípulos de todos os tempos tem sido provada. Hoje, muitos repetem a reação negativa daqueles que acabaram abandonando Jesus e a comunidade dos discípulos. Entretanto, podemos constatar com alegria e louvor a Deus, que em meio a tantas dificuldades, muita gente permanece fiel a Jesus, repetindo firmemente a resposta de Pedro.
A Liturgia da Palavra nos ajuda a refletir sobre a quem estamos servindo, a quem temos escolhido como Senhor, a quem seguimos? Somos convidados a escolher Deus como Senhor e a ele servir, rejeitando a idolatria. Josué interroga o povo reunido em assembleia a respeito de quem estavam dispostos a servir: aos deuses cultuados na época ou ao Senhor? A resposta dele “quanto a mim e à minha família, nós serviremos ao Senhor” (Js 24,15) é repetida pelo povo: “nós também serviremos ao Senhor porque ele é nosso Deus” (24,18). A resposta acontece em assembleia. A fé, a escolha por Deus, embora pessoal, ocorre em comunidade.  A resposta de Pedro também está no plural: “nós cremos firmemente e reconhecemos que tu és o Santo de Deus” (Jo 6,69). Hoje, a nossa fé cresce e se fortalece na Igreja e com a Igreja, a comunidade dos discípulos de Cristo. A dimensão eclesial da fé é fundamental para a sua vivência.
A opção por Deus e pela sua Palavra têm consequências para a vida, a começar da família. Quem escolhe o Senhor vive o matrimônio e a família segundo a sua Palavra. Por isso, a referência maior para o casal, o modelo de amor para o marido e a mulher, será sempre o amor de Cristo pela Igreja. Segundo Paulo, o casal unido pelo matrimônio é chamado a amar “como Cristo amou a Igreja e se entregou por ela” (Ef 5,25).
Neste domingo do mês Vocacional, recordamos com profunda gratidão os nossos catequistas, que se dedicam tão generosamente a transmitir a fé em Cristo, em nossas comunidades. Rezemos por todos os que atuam na Catequese. Procuremos dar mais apoio aos irmãos e irmãs catequistas!
O Povo de Deus / Arquidiocese de Brasília

Não há lugar mais importante para transmitir a fé que o lar, afirma o Papa Francisco

O Papa abençoando os fiéis na Pro-catedral. Foto: Vatican Media.
DUBLIN, 25 Ago. 18 / 02:10 pm (ACI).- Um dos temas aos que o Papa Francisco aludiu na tarde do sábado em Dublin, durante sua visita a Pro-catedral de Santa Maria, é a transmissão da fé aos filhos, e afirmou que “o primeiro e mais importante lugar para transmitir a fé é o lar”.
Depois de escutar o testemunho de um casal de idosos que acaba de celebrar seus 50 anos de matrimônio, o Papa respondeu às perguntas de um casal de jovens.
Francisco assegurou que “em casa, que podemos chamar ‘igreja doméstica’, os filhos aprendem o significado da fidelidade, da honestidade e do sacrifício”. “Veem como mãe e pai se comportam entre eles, como se cuidam um do outro e dos outros, como eles amam a Deus e a Igreja”.
“Assim os filhos podem respirar o ar fresco do Evangelho e aprender a compreender, julgar e atuar de modo coerente com a fé que herdaram. A fé, irmãos e irmãs, transmite-se ao redor da mesa doméstica, na conversa do dia-a-dia, através da linguagem que só o amor perseverante sabe falar”.
Neste sentido, destacou que “a fé se transmite em dialeto, o dialeto da casa, o dialeto da vida do lar, da vida em família”.
O Santo Padre recomendou os casais a seguirem rezando “juntos em família”. “Falem de coisas boas e santas, deixem que Maria nossa Mãe entre em sua vida familiar. Celebrem as festas cristãs”.
“Vivam em profunda solidariedade com quantos sofrem e estão à margem da sociedade”, exortou.
“Quando fazem isto junto com seus filhos, seus corações pouco a pouco se enchem de amor generoso pelos demais. Pode parecer óbvio, mas às vezes nos esquecemos. Seus filhos aprenderão a compartilhar os bens da terra com outros, se virem que seus pais se preocupam por quem é mais pobre ou menos afortunado que eles. Enfim, seus filhos aprenderão de vocês o modo de viver cristão; vocês serão seus primeiros professores na fé”.
Dirigindo-se ao casal que celebrava seus 50 anos, o Papa perguntou: “vocês já discutiram muito?”. “É parte do matrimônio, o matrimônio onde não se discute é um pouco tedioso. Podem até voar pratos, mas o segredo é fazer as pazes antes de que termine o dia. E para fazer as pazes não é necessário um discurso, basta uma carícia e se faz as pazes”, afirmou.
O Pontífice lamentou que “hoje não estamos acostumados a algo que dure realmente toda a vida”.
“Não há nada verdadeiramente importante que dure? Nem sequer o amor?”, perguntou-se. “Sabemos o fácil que é hoje cair prisioneiros da cultura do provisório, do efêmero. Esta cultura ataca as próprias raízes de nossos processos de amadurecimento, do nosso crescimento na esperança e no amor. Como podemos experimentar, nesta cultura do efêmero, o que é verdadeiramente duradouro?”.
O Papa assegurou que “entre todas as formas da fecundidade humana, o matrimônio é único. É um amor que dá origem a uma vida nova. Implica a responsabilidade mútua na transmissão do dom divino da vida e oferece um ambiente estável em que a vida nova pode crescer e florescer”.
“O matrimônio na Igreja, quer dizer o sacramento do matrimônio, participa de modo especial no mistério do amor eterno de Deus. Quando um homem e uma mulher cristãos se unem no vínculo do matrimônio, a graça do Senhor os possibilita prometer-se livremente um ao outro em um amor exclusivo e duradouro. Desse modo sua união se converte em sinal sacramental da nova e eterna aliança entre o Senhor e sua esposa, a Igreja”.
O Papa convidou os presentes a “arriscar” porque “o matrimônio é um risco que vale a pena, para toda a vida. Porque o amor é assim”.
“Não tenham medo desse sonho. Sonhem grande! Custodiem-no como um tesouro e sonhem juntos cada dia de novo. Assim, serão capazes de se sustentar mutuamente com esperança, com força, e com o perdão nos momentos em que o caminho se faz árduo e resulta difícil percorrê-lo”.
ACI Digital

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

A Sagrada Família é uma luz brilhante em tempos escuros, diz Cardeal

Sagrada Família / Crédito: Wikimedia Commons
DUBLIN, 23 Ago. 18 / 04:00 pm (ACI).- O Arcebispo de Bombaim (Índia), Cardeal Oswald Gracias, disse que diante dos constantes ataques que a família recebe atualmente, a Igreja deveria se esforçar para imitar a Sagrada Família, porque é uma luz brilhante em tempos escuros.
"Em meio aos grandes assaltos dos valores familiares e da instituição da própria família, a Sagrada Família se destaca como uma luz brilhante e deslumbrante", disse o Purpurado na quarta-feira, 22 de agosto, durante uma Missa realizada no segundo dia do Encontro Mundial Famílias (EMF), que acontece em Dublin (Irlanda).
"O modelo que todos nós buscamos nestes dias é a Sagrada Família de Nazaré: Jesus, Maria e José", destacou.
Por ocasião da festa de Nossa Senhora Rainha, em 22 de agosto, o Cardeal disse que é apropriado que o Evangelho da Missa conte a história da Anunciação, porque esse foi "o anúncio mais importante da história da salvação e, de fato, de toda a história".
Explicou que "o sim de Maria foi o começo da família de Nazaré" e convidou os católicos a refletir sobre as duas famílias a que pertencem: a própria família no seu lar e a família espiritual da Igreja.
“Pertencemos a ambas. Trabalhamos duro pelo crescimento e desenvolvimento de cada um. Ambas estão intimamente conectadas. Nos últimos tempos, a Igreja teve muitos desafios, mas a Igreja somos eu e você. Nós somos a Igreja", destacou.
Além disso, o Cardeal indiano incentivou a “estar junto com o Papa Francisco para fortalecer a Igreja, para tornar a Igreja como Jesus quis que ela fosse: uma réplica da Sagrada Família de Nazaré".
"Como a família deve ser fecunda, a Igreja é chamada a ser fecunda e evangelizar os novos membros", acrescentou.
Também recordou que, se a Igreja quer se revitalizar, deve começar pela família.
"Quando voltamos às nossas igrejas, é para ver o que se pode fazer a fim de que as nossas famílias sejam verdadeiros modelos de fé. Este é o nosso chamado. A vida familiar deve ser renovada assim como a paróquia, as dioceses e a Igreja devem ser renovadas", exortou.
Ao expor uma série de perguntas para reflexão pessoal, perguntou: "Na Igreja está a presença constante de Deus; é assim nas nossas famílias? Na Igreja temos uma oração regular; é assim nas nossas famílias? Na Igreja, desenvolvemos a nossa espiritualidade; é assim nas nossas famílias?".
"A presença de Deus se torna real no rechaço ao egoísmo, ao egocentrismo. Acontece isso nas nossas famílias?", continuou.
Ao concluir, aconselhou as famílias a refletirem acerca da importância da comunicação sincera e profunda.
Também disse que, se o resultado do Encontro Mundial das Famílias deste ano for que tanto as famílias como a Igreja se tornem "um pouco mais como a família de Nazaré", terá sido um evento fecundo.
ACI Digital

terça-feira, 21 de agosto de 2018

São Pio X, o “Papa da Eucaristia”

REDAÇÃO CENTRAL, 21 Ago. 18 / 05:00 am (ACI).- A Igreja celebra neste dia 21 de agosto São Pio X, que decretou a permissão para que as crianças possam comungar desde que compreendam quem está na Hóstia Consagrada e animou os fiéis a recebê-la todos os dias.

Seu nome era Giuseppe Sarto e nasceu em Riese, povoado de Veneza, Itália, em 1835. Ainda menino sofreu a perda de seu pai e quis deixar os estudos para ajudar sua mãe. Ela, porém, o impediu. Então, continuou estudando no seminário graças a uma bolsa.
Após ser ordenado, foi nomeado vigário, pároco, cônego, Bispo de Mantua e Cardeal de Veneza, estando nove anos em cada cargo. Brincando, dizia que só lhe faltavam nove anos de Papa.
Em 1903, quando o Papa Leão XIII morreu, os Cardeais se reuniram no Conclave e tinham como favorito o Cardeal Rampolla de Tíndaro, mas declinou ante o veto formal do imperador Francisco José, da Áustria. Foi assim que a balança se inclinou para Sarto, que tomou o nome de Pio X.
Um de seus primeiros atos como Pontífice foi recorrer à constituição “Commissum nobis”, a fim de terminar com o suposto direito de qualquer poder civil para interferir em uma eleição papal.
Mais adiante, em 1905, o governo francês denunciou a “Concordata” de 1801 e decretou a separação entre Igreja e Estado, o que favoreceu a que a Santa Sé pudesse nomear diretamente os Bispos franceses, sem a nomeação prévia dos poderes civis.
Redigiu e aprovou decretos sobre o Sacramento da Eucaristia, nos quais recomendava e elogiava a comunhão diária, com a possibilidade de que as crianças se aproximassem para recebê-la a partir do momento que entendessem quem está na Santa Hóstia Consagrada. Isto foi o suficiente para que passasse a ser chamado o “Papa da Eucaristia”.
Sempre defendeu os fracos e oprimidos como fez ao denunciar os maus entendimentos aos quais eram submetidos os indígenas nas plantações de borracha do Peru. Visitava cada domingo os pátios, esquinas ou praças do Vaticano para pregar e explicar o Evangelho do dia.
Durante uma audiência pública, um participante lhe mostrou seu braço paralisado e lhe pediu que o curasse. O Papa se aproximou sorridente, tocou o braço e disse: “Sim, sim”. E o homem ficou curado. Entretanto, sempre foi modesto e singelo.
Quando alguém o chamava de “padre santo”, ele corrigia sorrindo: “Não se diz santo, mas Sarto”, em alusão ao seu sobrenome de família.
Depois de tê-la profetizado, em 1914 eclodiu a Primeira Guerra Mundial. “Esta será a última aflição que me manda o Senhor. Com gosto daria minha vidapara salvar meus pobres filhos desta terrível calamidade”, disse. Poucos dias mais tarde, sofreu uma bronquite e morreu em 20 de agosto.
“Nasci pobre, vivi na pobreza e quero morrer pobre”, deixou escrito em seu testamento.
Foi canonizado em 1954 pelo Papa Pio XII e foi o primeiro Papa a ser elevado os altares depois de Pio V em 1672.
ACI Digital

domingo, 19 de agosto de 2018

Da Constituição Apostólica Munificentíssimus Deus, do papa Pio XII

Papa Pio XII
(AAS42 [1950], 760-762. 767-769)                 (Séc.XX)

Teu corpo é santo e cheio de glória
Nas homilias e orações para o povo na festa da Assunção da Mãe de Deus, santos padres e grandes doutores dela falaram como de uma festa já conhecida e aceita. Com a maior clareza a expuseram; apresentaram seu sentido e conteúdo com profundas razões, colocando especialmente em plena luz o que esta festa temem vista: não apenas que o corpo morto da Santa Virgem Maria não sofrera corrupção, mas ainda o triunfo que ela alcançou sobre a morte e a sua celeste glorificação, a exemplo de seu Unigênito, Jesus Cristo. 
São João Damasceno, entre todos o mais notável pregoeiro desta verdade da tradição, comparando a Assunção em corpo e alma da Mãe de Deus com seus outros dons e privilégios, declarou com vigorosa eloquência: “Convinha que aquela que guardara ilesa a virgindade no parto, conservasse seu corpo, mesmo depois da morte, imune de toda corrupção. Convinha que aquela que trouxera no seio o Criador como criancinha fosse morar nos tabernáculos divinos. Convinha que a esposa, desposada pelo Pai, habitasse na câmara nupcial dos céus. Convinha que, tendo demorado o olhar em seu Filho na cruz e recebido no peito a espada da dor, ausente no parto, o contemplasse assentado junto do Pai. Convinha que a Mãe de Deus possuísse tudo o que pertence ao Filho e fosse venerada por toda criatura como mãe e serva de Deus”. 
São Germano de Constantinopla julgava que o fato de o corpo da Virgem Mãe de Deus estar incorrupto e ser levado ao céu não apenas concordava com sua maternidade divina, mas ainda conforme a peculiar santidade deste corpo virginal: “Tu, está escrito, surges com beleza (cf. Sl 44,14); e teu corpo virginal é todo santo, todo casto, todo morada de Deus; de tal forma que ele está para sempre bem longe de desfazer-se em pó; imutado, sim, por ser humano, para a excelsa vida da incorruptibilidade. Está vivo e cheio de glória, incólume e participante da vida perfeita”. 
Outro antiquíssimo escritor assevera: “Portanto, como gloriosa mãe de Cristo, nosso Deus salvador, doador da vida e da imortalidade, foi por ele vivificada para sempre em seu corpo na incorruptibilidade; ele a ergueu do sepulcro e tomou para si, como só ele sabe”. 
Todos estes argumentos e reflexões dos santos padres apóiam-se como em seu maior fundamento nas Sagradas Escrituras. Estas como que põem diante dos olhos a santa Mãe de Deus profundamente unida a seu divino Filho, participando constantemente de seu destino. 
De modo especial é de lembrar que, desde o segundo século, os santos padres apresentam a Virgem Maria qual nova Eva para o novo Adão: intimamente unida a ele – embora com submissão – na mesma luta contra o inimigo infernal (como tinha sido previamente anunciado no proto-evangelho [cf. Gn 3,15]), luta que iria terminar com a completa vitória sobre o pecado e a morte, coisas que sempre estão juntas nos escritos do Apóstolo das gentes (cf. Rm 5 e 6; 1Cor 15,21-26.54-57). Por este motivo, assim como a gloriosa ressurreição de Cristo era parte essencial e o último sinal desta vitória, assim também devia ser incluída a luta da santa Virgem, a mesma que a de seu Filho, pela glorificação do corpo virginal. O mesmo Apóstolo dissera: Quando o que é mortal se revestir de imortalidade, então se cumprirá o que foi escrito: A morte foi tragada pela vitória (1Cor 15,54; cf. Os 13,14). 
Por conseguinte, desde toda a eternidade unida misteriosamente a Jesus Cristo, pelo mesmo desígnio de predestinação, a augusta Mãe de Deus, imaculada na concepção, virgem inteiramente intacta na divina maternidade, generosa companheira do divino Redentor, que obteve pleno triunfo sobre o pecado e suas consequências, ela alcançou ser guardada imune da corrupção do sepulcro, como suprema coroa dos seus privilégios. Semelhantemente a seu Filho, uma vez vencida a morte, foi levada em corpo e alma à glória celeste, onde, rainha, refulge à direita do seu Filho, o imortal rei dos séculos.

Responsório

R. Eis o dia glorioso, em que a Virgem, Mãe de Deus,
aos céus foi elevada; louvando-a, proclamemos:
* Sois bendita entre as mulheres
e bendito é o fruto, que nasceu de vosso ventre.
V. Sois feliz, Virgem Maria; e mereceis todo louvor;
pois, de vós se levantou o Sol brilhante da justiça,
que é Cristo, nosso Deus. * Sois bendita.

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF