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quarta-feira, 3 de junho de 2020

HAGIOGRAFIA: SÃO JOÃO, O DISCÍPULO AMADO.

SÃO JOÃO, O DISCÍPULO AMADO

«Quem jamais poderá narrar as tuas virtudes, ó virgem?
De ti jorram maravilhas, tu és a fonte de curas
e tu, ó teólogo e amigo de Jesus, intercede por nossas almas».

Kondakion (4º tom)

São João, o Apóstolo Virgem, é sem dúvida um dos maiores santos da Igreja, merecendo o título de “o discípulo a quem Jesus amava”. Junto à Cruz, recebeu do Redentor Nossa Senhora como Mãe, e com Ela - como Fonte da Sabedoria - a segurança doutrinária que lhe mereceu dos Padres da Igreja o título de "o Teólogo" por excelência.

Sabemos pelos Evangelhos que São João era filho de Zebedeu e de Maria Salomé. Com seu irmão Tiago, auxiliava o pai na pesca no lago de Genezaré. Pelos Evangelhos sabemos também que seu pai possuía alguns barcos e empregados que trabalhavam para ele. Maria Salomé é apontada como uma das santas mulheres que acompanhavam o Divino Mestre para O servir.

Como seus outros dois irmãos Simão e André, também pescadores, era discípulo de São João Batista, o Precursor. Deste haviam recebido o batismo, zelosos que eram, preparando-se para a vinda do Messias prometido.

Certa vez, estavam João e André com o Precursor, quando passou Jesus a alguma distância. O Batista exclama: "Eis o Cordeiro de Deus, que tira os pecados do mundo". No dia seguinte repetiu-se a mesma cena, e desta vez os dois discípulos seguiram Jesus e permaneceram com Ele aquele dia (Jo, 1, 35 a 39).

Algumas semanas depois estavam Simão e André lançando as redes às águas, quando passou Jesus e lhes disse: "Vinde após mim. Eu vos farei pescadores de homens". Mais adiante estavam Tiago e João numa barca, consertando as redes. "E chamou-os logo. E eles deixaram na barca seu pai Zebedeu, com os empregados, e O seguiram" (Mc 1, 16 a 20).

A partir de então passaram a acompanhar o Messias em sua missão pública. Logo se lhes juntaram outros, que perfariam o número de doze, completando assim o Colégio Apostólico.

Preeminência de três apóstolos sobre os demais

Desde logo, Pedro, Tiago e João tomaram preeminência sobre os outros Apóstolos, tornando-se os "escolhidos dentre os escolhidos". E, como tais, participaram de alguns dos mais notáveis episódios na vida do Salvador, como a ressurreição da filha de Jairo, a Transfiguração no Tabor e a Agonia no Horto das Oliveiras.

São João foi também um dos quatro que estavam presentes quando Jesus revelou os sinais da ruína de Jerusalém e do fim do mundo. Mais tarde, com São Pedro, a quem o unia respeitosa e profunda amizade, foi encarregado de preparar a Última Ceia. São Pedro amava ternamente São João, e essa amizade é visível tanto no Evangelho quanto nos Atos dos Apóstolos.

Por sua pureza de vida, inocência e virgindade, João tornou-se logo o discípulo amado, e isso de um modo tão notório, que ele sempre se identificará em seu Evangelho como "o discípulo que Jesus amava". Apesar de os Apóstolos não estarem ainda confirmados em graça, isso não provocava neles inveja nem emulação. Quando queriam obter algo de Nosso Senhor, faziam-no por meio de São João, pois seu bom gênio e bondade de espírito tornavam-no querido de todos.

"Mas esta serenidade, esta doçura, este caráter recolhido e amoroso [de João] são algo diferente da inércia e da passividade. Os pintores nos acostumaram a ver nele um não sei quê de feminino e sentimental, que está em contraste com a energia varonil e o zelo fulgurante que se descobre em algumas passagens evangélicas" 1.

Se Nosso Senhor amava particularmente São João, também era por ele amado de maneira especialíssima. Com seu irmão Tiago, recebeu de Cristo o cognome de "Boanerges", ou "filhos do trovão", por seu zelo. Indignaram-se contra os samaritanos, que não quiseram receber o Mestre, e pediram-Lhe para fazer descer sobre aqueles indóceis o fogo do céu.

Foi por esse amor, e não por ambição, que ele e o irmão secundaram a mãe, Salomé, solicitando que um e outro ficassem à direita e à esquerda do Redentor, em seu Reino (um tanto equivocadamente, pois imaginavam ainda um reino terreno). Quando Nosso Senhor perguntou-lhes se estavam dispostos a beber com Ele o mesmo cálice do sofrimento e da amargura, com determinação responderam afirmativamente.

Entretanto, uma das maiores provas de afeição de Nosso Senhor a São João deu-se na Última Ceia. Quis o Divino Mestre ter à sua direita o Apóstolo Virgem, permitindo-lhe a familiaridade de recostar-se em seu coração. Diz Santo Agostinho que nesse momento, estando tão próximo da fonte de luz, ele absorveu dela os mais altos segredos e mistérios que depois derramaria sobre a Igreja.

A pedido de Pedro, perguntou a Jesus quem seria o traidor, e obteve a resposta. São João teve, porém um momento de fraqueza — e das mais censuráveis — quando os inimigos prenderam Jesus, tendo então fugido como os outros Apóstolos. Era o momento em que Nosso Senhor mais precisava de apoio! Logo depois o vemos acompanhando, de longe, o Mestre ao palácio do Sumo Sacerdote. Como era ali conhecido, fez entrar também Simão Pedro. Pode-se supor que ele tenha permanecido sempre nas proximidades de Nosso Senhor durante toda aquela trágica noite, e que não saiu senão para ir comunicar a Maria Santíssima o que se passava com seu Filho. Acompanhou-A então no caminho do Calvário e com Ela permaneceu ao pé da cruz. Era o sinal evidente de seu arrependimento.

Custódia da Mãe de Deus ao apóstolo virgem

Foi então que, recebendo-A como Mãe, obteve o maior legado que criatura humana jamais podia receber. Diz São Jerônimo: "João, que era virgem, ao crer em Cristo permaneceu sempre virgem. Por isso foi o discípulo amado e reclinou sua cabeça sobre o coração de Jesus. Em breves palavras, para mostrar qual é o privilégio de João, ou melhor, o privilégio da virgindade nele, basta dizer que o Senhor virgem pôs sua Mãe virgem nas mãos do discípulo virgem" 2. Ensinam os Padres da Igreja que esse grande Apóstolo representava naquele momento todos os fiéis. E que, por meio de São João, Maria nos foi dada por Mãe, e nós a Ela como filhos. Mas João foi o primeiro em tal adoção.

Foi ele também o único dos Apóstolos a presenciar e a sofrer o drama do Gólgota, servindo de apoio à Mãe das Dores, que com seu Filho compartilhava a terrível Paixão.

Quando, no Domingo da Ressurreição, Maria Madalena veio dizer aos Apóstolos que o túmulo estava vazio, foi ele o primeiro a correr, seguido de Pedro, para o local. E depois, estando no Mar de Tiberíades, aparecendo Nosso Senhor na margem, foi o primeiro a reconhecê-Lo.

Uma das três colunas da Igreja nascente

Nos Atos dos Apóstolos, ele aparece sempre com São Pedro. Juntos estavam quando, indo rezar no Templo junto à porta Formosa, um coxo pediu-lhes esmola. Pedro curou-o, e depois pregou ao povo que se reuniu por causa de tal maravilha. Juntos foram presos até o dia seguinte, quando corajosamente defenderam sua fé em Cristo diante dos fariseus. Mais adiante, quando o diácono Felipe havia convertido e batizado muitos na Samaria, era necessário que para lá fosse um dos Apóstolos a fim de os crismar. Foram escolhidos Pedro e João para a missão.

São Paulo, em sua terceira ida a Jerusalém, narra em sua Epístola aos Gálatas (2, 9) que lá encontrou "Tiago, Cleofas e João, que são considerados as colunas", e que eles, "reconhecendo a graça que me foi dada [para pregar o Evangelho], deram as mãos a mim e a Barnabé em sinal de pleno acordo".

Depois disso os Evangelhos se calam a respeito de São João. Mas resta a Tradição. Segundo esta, ele permaneceu com Maria Santíssima durante o que restou de sua vida mortal, dedicando-se também à pregação. Depois da intimidade com o Filho, o Apóstolo virgem é chamado a uma estreita intimidade de alma com a Mãe [...]. Que grande virtude deveria ter alguém para ser o custódio da Rainha do Céu e da Terra!

Assim, teria ele permanecido com Ela em Jerusalém e depois em Éfeso. "Dois motivos principais deveriam ter ocasionado essa mudança de residência: de um lado, a vitalidade do cristianismo nessa nobre cidade; de outro, as perniciosas heresias que começavam a germinar. João queria assim empenhar sua autoridade apostólica, quer para preservar quer para coroar o glorioso edifício construído por São Paulo; e sua poderosa influência não contribuiu pouco para dar às igrejas da Ásia a surpreendente vitalidade que elas conservaram durante o século II" 3.

Após a dormição de Nossa Senhora — que é como a Igreja chama o fim de sua vida terrena — e a Assunção d'Ela aos Céus, fundou ele muitas comunidades cristãs na Ásia menor.

Vivo após o martírio

Ocorre então o martírio de São João [...]. O Imperador Domiciano o fez prender e levar a Roma. Na Cidade Eterna, ele foi flagelado e colocado num caldeirão de azeite fervendo. Mas o Apóstolo virgem saiu dele rejuvenescido e sem sofrer dano algum. Domiciano, espantado com o grande milagre, não ousou atentar uma segunda vez contra ele, mas o desterrou para a ilha de Patmos, que era pouco mais do que um rochedo. Foi ali, segundo a Tradição, que São João escreveu o mais profético dos livros das Sagradas Escrituras, o Apocalipse.

Após a morte de Domiciano, o Apóstolo voltou a Éfeso. É lá que, segundo vários Padres e Doutores da Igreja, para combater as doutrinas nascentes de Cerinto e de Ebion — que negavam a natureza divina de Cristo — escreveu ele seu Evangelho 4. Ordenou antes a todos os fiéis um jejum que ele mesmo observou rigorosamente, para em seguida ditar a seu discípulo Prócoro, no alto de uma montanha, o monumento que é seu Evangelho. Transportado em Deus, com um vôo de águia, ele o começa de uma altura sublime: "No princípio era o Verbo, e o Verbo estava em Deus, e o Verbo era Deus". Este Evangelho, dos mais sublimes textos jamais escritos, é tido em tanta veneração pela Igreja, que figura [como o Evangelho da celebração das Festas das Festas, a Páscoa], pela fundamental doutrina que contém.

Segundo São João Crisóstomo, os próprios Anjos aí aprenderam coisas que não sabiam. São João escreveu também três Epístolas, sempre visando estabelecer a verdadeira doutrina contra erros incipientes que se infiltravam na Igreja.

Segundo uma tradição, o discípulo que Jesus amava teria morrido em Éfeso, provavelmente [...] no ano 101 ou 102. [...]
José Maria dos Santos.


NOTAS:
  1. Frei Justo Pérez de Urbel, OSB, Año Cristiano, Ediciones Fax, Madrid, 1945, tomo IV, p. 614.
  2. Apud Frei Justo Pérez de Urbel, OSB, op. cit., p. 612.
  3. Abbé L.Cl. Fillion, La Sainte Bible avec commentaires, Évangile selon S. Jean, P. Lethielleux, Libraire-Éditeur, Paris, 1897, Prefácio.
  4. Les Petits Bollandistes, Vies des Saints d'après le Père Giry, Bloud et Barral, Libraires-Éditeurs, Paris, 1882, tomo XIV, p 489.
OUTRAS OBRAS CONSULTADAS:
  1. Pe. M.-J. Lagrange, Évangile selon Saint Jean, Librairie Lecoffre, Paris, 1936, 6a. edição, Introduction, pp. VI a XII.
  2. Pe. Jean Croisset, SJ, Año Cristiano, Saturnino Calleja, Madrid, 1901, tomo IV, pp. 963 a 969.
  3. Edelvives, El Santo de Cada Día, Editorial Luis Vives, S.A., Saragoza, 1949, tomo VI, pp. 573 a 581.
  4. Pe. José Leite, SJ, Santos de Cada Dia, Editorial A. O., Braga, 1987, pp. 490 a 495.
Ecclesia

Os 4 elementos do deserto como símbolo espiritual

Patrick Schneider/Unsplash | CC0

Por Reportagem Local

Silêncio, renúncia, essencialidade e solitude (que não é o mesmo que solidão).

Autores de espiritualidade em todas as épocas da história do cristianismo abordaram o simbolismo espiritual do deserto, tanto para recordar que a dimensão material está sempre sujeita à escassez quanto para recordar, também, que mesmo a abundância material pode ser desértica espiritualmente.

Em artigo publicado em março deste ano pelo site da agência católica portuguesa Ecclesia, o professor universitário Miguel Oliveira Panão também apresentou suas reflexões sobre este clássico simbolismo:

4 características simbólicas do deserto

1 – Silêncio

Não há no deserto os ruídos do mundo, comenta o professor: “apenas o som do vento e do nosso respirar”. O ambiente externo de silêncio evoca também o silêncio interno, capaz de nos esvaziar dos tantos afãs do dia-a-dia e, portanto, de nos ajudar a acolher melhor a Palavra, o Verbo – que, aliás, tem rosto e tem nome.

2 – Renúncia

Entre os muitos apegos modernos não há somente os materiais, mas também os mentais: apegos a gratificações instantâneas que servem de validação para a própria existência e sem as quais os momentos de tédio se tornam um verdadeiro tormento. Renunciar é desapegar-se das validações dos outros e um convite a encontrar essa validação numa saudável ecologia do coração, como diria o Papa Francisco. A ecologia do coração procura a boa prática das palavras bondosas e edificantes: palavras de gratidão, por exemplo.

3 – Essencialidade

O essencial se conecta com o próprio desenvolvimento da capacidade de renúncia, pois, ao renunciar ao supérfluo, compreendemos mais claramente o que é de fato é essencial em nossa vida. Quais são os valores que orientam as nossas escolhas?

4 – Solitude

Não, não é o mesmo que solidão. O teólogo Paul Tillich dizia que a linguagem criou a palavra solidão para expressar a dor de estarmos sós, enquanto a palavra solitude foi criada para expressar a glória de estarmos a sós. Parecem sinônimos, mas não são: a solitude é, de certo modo, um antídoto para a solidão, pois quem sabe se encontrar com os seus pensamentos também saberá encontrar-se melhor com os pensamentos dos outros.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Da Providência Divina (8/10)

DA  PROVIDÊNCIA DIVINA
São Tomás de Aquino
(cf. Suma Teológica)
ARTIGO 8º – SE TODA CRIATURA CORPORAL É GOVERNADA PELA PROVIDÊNCIA DIVINA MEDIANTE A CRIATURA ANGÉLICA
Respondo dizendo que a causa da produção do ser das coisas é a divina bondade, conforme dizem S. Dionísio Areopagita e S. Agostinho. Quiz Deus, de fato, comunicar a outros a perfeição da sua bondade, na medida em que isto fosse possível à criatura.
Ora, a divina bondade possui uma dupla perfeição. Uma segundo si mesma, contendo em si supereminentemente toda perfeição; outra na medida em que influi nas coisas, segundo a qual é causa das coisas. Congruía, portanto, à divina bondade que ambas comunicasse à criatura, isto é, que pela divina bondade a coisa criada não somente fosse e fosse boa, mas que também doasse a outros ser e bondade. É assim que o Sol, pela difusão de seus raios, não somente ilumina os corpos, mas também torna-os iluminantes, observada a ordem segundo a qual o que é mais conforme ao Sol mais recebe de sua luz, não a recebendo apenas suficientemente para si, mas também para com ela influir em outros.
Na ordem do universo, por conseguinte, por influência da bondade divina as criaturas superiores não somente têm que sejam boas em si mesmas, mas também que sejam causa da bondade de outras, as quais por sua vez possuem o modo extremo de participação da divina bondade, dela participando somente para que sejam e não para que causem a outras. Vem daqui que o agente sempre seja mais honorável do que o paciente, conforme diz S. Agostinho e também o Filósofo no III De Anima.
Ora, entre as criaturas superiores são maximamente próximas a Deus as criaturas racionais as quais, à semelhança de Deus, são, vivem e inteligem. A estas não somente a divina bondade lhes confere que influam sobre as outras, mas também que tenham o mesmo modo de influir pelo qual Deus influi, isto é, pela vontade e não pela necessidade da natureza. De onde que Deus governa todas as criaturas inferiores pelas criaturas espirituais e pelas criaturas corporais mais dignas. Pelas criaturas corporais, porém, Deus provê de modo que não as torna providentes, mas somente agentes, enquanto que pelas espirituais de modo que as torna também providentes.
Mas também nas criaturas racionais [observa-se] uma ordem.
De fato, entre elas a alma humana possui o último grau, e a sua luz é obnubilada em relação à luz que há nos anjos. Possuindo um conhecimento particular, conforme diz S. Dionísio Areopagita, sua providência por este motivo se limita a poucas coisas, às coisas humanas e às coisas que podem vir ao uso da vida humana.
A providência dos anjos, porém, é universal e se estende sobre todas as criaturas corporais. Tanto os santos como os filósofos disseram, por isso, que todos os seres corporais são regidos ou governados pela divina providência mediante os anjos. Nós, todavia, diferimos dos filósofos por alguns deles terem colocado que os seres corporais não são apenas administrados pela providência dos anjos, mas que também teriam sido por ele criados, o que é alheio à fé.
De onde que importa colocar, segundo a sentença dos santos, que tais criaturas corporais são admnistradas por meio dos anjos apenas por modo de movimento, isto é, segundo que eles movam os corpos superiores, pelo movimento dos quais são causados os movimentos dos corpos inferiores.
Veritatis Splendor

SS. CARLOS LWANGA E COMPANHEIROS, MÁRTIRES DE UGANDA

SS. Carlos Lwanga e Companheiros, Albert Wider
SS. Carlos Lwanga e Companheiros, Albert Wider  (Joachim Schäfer -
Ökumenisches Heiligenlexikon)

“Pegarei na tua mão. Se tivermos que morrer por Jesus, morreremos juntos, de mãos dadas": eis as últimas palavras pronunciadas por Carlo Lwanga e dirigidas ao jovem Kizito, que morreu com ele, com apenas 14 anos de idade, por ódio à fé. Seu martírio foi compartilhado com outros companheiros, católicos e anglicanos, vítimas das perseguições contra os cristãos, ocorridas em Uganda, no final do século XIX.

Encontro com os "Padres Brancos" e conversão ao cristianismo
A história destes santos mártires deu-se sob o reinado de Mwanga II, rei de Buganda (hoje parte de Uganda), entre novembro de 1885 e meados de 1886.
Carlos pertencia ao clã de Ngabi, mas foi atraído pelas palavras do Evangelho, proferidas e testemunhadas pelos Missionários da África, mais conhecidos como "Padres Brancos", fundados pelo Cardeal Lavigerie.
O jovem Lwanga converte-se ao cristianismo e, em 1885, foi convocado pelo tribunal para ser prefeito da Sala Real. Desde o início, tornou-se um ponto de referência para os outros, de modo particular, para os recém-convertidos, cuja fé apoiou e encorajou.

Início das perseguições
No início, o rei Mwanga – que também fora educado pelos "Padres Brancos", embora fosse muito teimoso e rebelde – acolheu Lwanga com benevolência.
Depois, instigado pelos feiticeiros locais, que viam o poder do rei comprometido pela força do Evangelho, Mwanga começou uma verdadeira e própria perseguição contra os cristãos, sobretudo por não cederam aos seus desejos dissolutos.
Em 25 de maio de 1886, Carlos Lwanga foi condenado à morte, junto com outros. No dia seguinte, começaram as primeiras execuções.

“Via Sacra” de oito dias
Para aumentar o sofrimento dos condenados, o soberano decidiu transferi-los para o Palácio Real de Munyonyo, em Namugongo, lugar das penas capitais: as 27 milhas, que separavam os dois lugares, se tornaram 27 milhas de uma verdadeira "Via Sacra". Ao longo do caminho, Carlos e seus Companheiros foram submetidos à violência dos soldados do rei, que tentavam, com todos os meios, fazer com que renunciassem à sua fé. Em oito dias de caminhada, muitos morreram transpassados pelas lanças, enforcados e até pregados em árvores.

Queimados vivos na colina Namugongo
No dia 3 de junho, os sobreviventes chegaram exaustos à colina Namugongo, onde deviam enfrentar uma fogueira. Carlos Lwanga e seus Companheiros, junto com alguns fiéis anglicanos, foram queimados vivos. Eles rezaram até o fim, sem gemer, dando prova luminosa de uma fé fecunda. Um deles, Bruno Ssrerunkuma, disse, antes de expirar: “Uma fonte, que tem muitas fontes, jamais secará. Quando nós não existirmos mais, outros virão depois de nós".

Canonizado por Paulo VI, em 1964
Em 1920, Bento XV proclamou a Beatificação destes mártires. Quatorze anos depois, em 1934, Pio XI elevou Carlos Lwanga "Padroeiro da Juventude da África cristã". Por fim, Paulo VI canonizou todo o grupo, em 18 de outubro de 1964, durante o Concílio Vaticano II. O mesmo Papa Montini, quando da sua viagem a Uganda, em 1969, consagrou o altar-mor do Santuário de Namugongo, construído no lugar do martírio. A forma da igreja, que lá surgiu, se parece com uma cabana africana tradicional, apoiada em 22 pilares, que representam os 22 mártires católicos ugandenses.

Papa Francisco: "Testemunhas do ecumenismo do sangue"
Em 28 de novembro de 2015, durante sua XI Viagem Apostólica a Uganda, o Papa Francisco celebrou Missa no mesmo Santuário, após visitar a vizinha igreja Anglicana, também dedicada aos mártires do país.
Em sua homilia, o Papa disse: “Hoje, recordamos com gratidão o sacrifício dos Mártires ugandenses, cujo testemunho de amor a Cristo e à sua Igreja atingiu até os confins da terra; recordamos também lembramos os Mártires anglicanos, cuja morte por Cristo testemunha o ecumenismo do sangue... vidas assinaladas pelo poder do Espírito Santo; vidas que, ainda hoje, dão testemunho do poder transformador do Evangelho de Jesus Cristo".
Vatican News

S. CLOTILDE, RAINHA DA FRANÇA

Santa Clotilde

Clotilde nasceu em Lion, França, no ano 475, filha do rei ariano Childerico de Borgonha. Mais tarde, o rei, junto com a esposa e três dos seus cinco filhos, foi assassinado pelo próprio irmão, que lhe tomou o trono. Duas princesas foram poupadas, uma era Clotilde.

A menina foi entregue a uma tia, que a educou na religião católica. Cresceu muito bonita, delicada, gentil, dotada de grande inteligência e sabedoria. Clodoveu, rei dos francos, encantou-se por ela. Foi aconselhado pelos bispos católicos do seu reino a pedir a mão de Clotilde. Ela aceitou e tornou-se a rainha dos francos.

Ao lado do marido, pagão, irrascível, ambicioso e guerreiro, Clotilde representava a gentileza, a bondade e a piedade cristã. Imbuída da vontade de fazer o rei tornar-se cristão, para que ele fosse mais justo com seus súditos oprimidos e parasse com as conquistas sangrentas, ela iniciou sua obra de paciência, de persuasão e de bom exemplo católico.

Clodoveu, de fato, amava muito a esposa. Com ela teve três herdeiros, que, infelizmente, herdaram o seu espírito belicoso. Não se importava que Clotilde rezasse para seu Deus, em vez de ir ao templo pagão levar oferendas aos deuses pagãos, quando partia e voltava vitorioso dos combates. Por outro lado, apreciava os conselhos do bispo de Reims, Remígio, agora santo, que se tornara confessor e amigo pessoal da rainha. Com certeza, a graça já atuava no coração do rei.

Foi durante a batalha contra os alemães, em 496, que ele foi tocado pela fé. O seu exercito estava quase aniquilado quando se lembrou do "Deus de Clotilde". Ele se ajoelhou e rezou para Jesus Cristo, prometendo converter-se, bem como todo o seu exército e reino, se conseguisse a vitória. E isso aconteceu.

Clodoveu, ao vencer os alemães, unificou o reino dos francos, formando o da França, do qual foi consagrado o único rei. Pediu o batismo ao bispo Remígio, assistido por todos os súditos. Em seguida, todos os soldados do exército foram batizados, seguidos por toda a corte e súditos. Ele tornou a França um Estado católico, o primeiro do Ocidente, em meio a tantos reinos pagãos ou arianos.

Clotilde e Clodoveu construíram a igreja dos Apóstolos, hoje chamada de igreja de Santa Genoveva, em Paris. Mas logo depois Clodoveu morreu. Pela lei dos francos, quando o rei morria o reino era dividido entre os filhos homens, que eram três.

Foi então que começou o longo período de sofrimento da rainha Clotilde, assistido por todos os seus súditos que a amavam e a chamavam de "rainha santa". Os filhos envolveram-se em lutas sangrentas disputando o reino entre si, gerando muitas mortes na família. Então, Clotilde retirou-se para a cidade de Tours, perto do sepulcro de são Martinho, para rezar, construir igrejas, mosteiros e hospitais para os pobres e abandonados.

Depois de trinta e quatro anos, a rainha faleceu, no dia 3 de junho de 545, na presença de seus filhos. Imediatamente, a fama de sua santidade propagou-se. O culto a santa Clotilde foi autorizado pela Igreja. A sua memória tornou-se uma bênção para o povo francês e para todo o mundo católico, sendo venerada no dia de sua morte.
*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br
Arquidiocese de São Paulo

terça-feira, 2 de junho de 2020

“GRATIDÃO A BRASÍLIA”, assim se despede Dom Sergio da Rocha

Cardeal Dom Sérgio da Rocha
O Cardeal Dom Sergio, que esteve frente a Arquidiocese de Brasília por quase 9 anos, escreve uma carta de despedida para os irmãos e irmãs do Distrito Federal.


GRATIDÃO A BRASÍLIA
Queridos irmãos e irmãs da Arquidiocese de Brasília,
Concluindo o período em que tive a graça de exercer o ministério episcopal como Arcebispo de Brasília, por nove anos, quero expressar, mais uma vez, ação de graças a Deus e profunda gratidão a todos os que têm me acompanhado com fraterna estima, orações e valiosa colaboração pastoral. Por tudo, dou graças a Deus, Por tudo, agradeço a querida Arquidiocese de Brasília. Em Brasília, me senti amado e acolhido numa grande família marcada pela convivência fraterna entre pessoas de diversas origens. Muito obrigado pelas inúmeras vezes em que fui acolhido com tanta generosidade.
Agradeço muito a Deus por esses anos de trabalho, em meio a tantos desafios pastorais. Tive a graça de ver o crescimento e a vitalidade da Igreja de Brasília em inúmeras ocasiões, nas celebrações e atividades pastorais. Nada foi realizado sem a graça de Deus e a colaboração dedicada e generosa de tantas pessoas que atuam nas paróquias, comunidades religiosas, pastorais, movimentos e organismos eclesiais, às quais muito agradeço, bem como na Cúria Arquidiocesana, Tribunal Eclesiástico, Seminários, Casa do Clero e demais instituições religiosas.
Gostaria de ter feito muito mais pela Igreja, em Brasília, e ter servido melhor. Peço perdão por não conseguir dar toda a atenção merecida por que cada um e pelas diferentes realidades de Brasília.
Há muito ainda a fazer para realizar a missão de “evangelizar a todos, com novo ardor missionário, nos diversos espaços do Distrito Federal”. Por isso, permaneçam unidos, sendo sempre mais Igreja missionária, misericordiosa e acolhedora, como temos procurado viver, em comunhão com o Papa Francisco. Durante estes nove anos, pude ressaltar em inúmeras ocasiões três palavras que nortearam o nosso trabalho: participação, comunhão e missão. Procuramos promover, o mais possível, a participação de todos, a união entre todos e o espírito missionário.
Por um desígnio da Divina Providência, pudemos celebrar, com alegria e grande participação do clero e dos fiéis, o Ano Jubilar durante o sexagésimo ano de criação da Arquidiocese e não após ter sido completado os 60 anos, o que não seria possível neste período difícil de pandemia. Continuemos a louvar a Deus pela história bonita da Igreja em Brasília, que tem em nossa bela Catedral a sua expressão visível que a todos encanta.
Agradeço a todos os irmãos e irmãs que têm me acompanhado com suas orações, com sua fraterna estima e com a valiosa colaboração pastoral, sem os quais eu não teria vivido o meu ministério episcopal. Minha gratidão imensa aos queridos irmãos e amigos Bispos auxiliares, D. José Aparecido e D. Marcony, aos quais muito devo; ao bispo emérito Dom Terra, ao Sr. Arcebispo emérito Cardeal Dom Falcão, que tem sido para mim, pai e irmão, aos padres e diáconos, aos religiosos e religiosas, aos seminaristas, aos fiéis leigos e leigas, uma multidão de irmãos que colaboram de modo admirável na missão da Igreja. Agradeço, de modo especial, a todos os que colaboraram comigo assumindo funções arquidiocesanas, sempre muito exigentes, saudando o nosso vigário geral Mons. Jeová Elias, bispo eleito de Goiás. Estendo este agradecimento ao Sr. Núncio Apostólico, Dom Giovanni D’Aniello e aos seus colaboradores na Nunciatura Apostólica; ao Sr. Cardeal Dom Damasceno e aos Srs. Bispos do Regional Centro-Oeste. Agradeço ainda a atenção recebida das autoridades civis ao longo destes anos. Por tudo, muito obrigado a todos!
Rezem por mim e pela Igreja de São Salvador da Bahia. Estejam certos que estarão sempre no meu coração e nas minhas orações. Suplico as bênçãos de Deus para todos, pela intercessão de nossa Padroeira, Nossa Senhora Aparecida. Amém!

Brasília, 30 de maio de 2020.
Cardeal Dom Sergio da Rocha
Arquidiocese de Brasília

Missas voltam a ser celebradas com a presença de fiéis na Arquidiocese de Brasília nessa quarta feira (03)

Após quase 70 dias de celebração celebrando sine populo (sem o povo), medida adotada para conter o  contágio da COVID-19, as paroquias em Brasília voltaram a celebrar a eucaristia a com a participação do povo a partir desta quarta-feira (03/06).
Em nota, o Cardeal Dom Sergio da Rocha, administrador da Arquidiocese de Brasília, emite diretrizes pastorais orientando o clero para esse retorno conforme o  Decreto N. 40.846, do Governo do Distrito Federal, de 30 de maio de 2020, que entrará em vigor no dia 03 de junho de 2020.

Arquidiocese de Brasília

Por que você deveria passar mais tempo em um jardim?

Por Michael Rennier

Faz muito sentido que o primeiro lar da humanidade tenha sido o Éden.

Nós nos mudamos para uma nova casa há cerca de um ano – uma residência espaçosa de tijolos vermelhos em um dos bairros mais antigos da cidade.
No interior da casa, há muitas peças e detalhes feitos de madeira. E lá fora é o Éden.

Um dos principais fatores que nos levaram a comprar esta casa foi a beleza do jardim.
Na área verde da frente fica uma imponente magnólia. A cada primavera, o espetáculo é adornado com milhares de flores rosas.
Sob a magnólia, há um tumulto de folhagens manchadas e listradas com mais tons de verde do que parece possível.
Elevando-se acima, como anjinhos, estão as pequenas flores brancas de lírio do vale.
Aninhados no portão da frente, há arbustos lilás, e qualquer visitante de nossa casa caminha entre eles, recebido por uma pitada de perfume floral. É divertido ver seus rostos se iluminarem de alegria.
O jardim que ganha vida a cada primavera traz uma sensação de esperança. Cada novo ramo que brota e cada flor que se abre para o sol é um ícone do renascimento.
Quaisquer que sejam os cuidados ou preocupações que assolam uma pessoa, em um jardim, eles desaparecem suavemente.
Fiz experimentos e concluí que me sinto mais tranquilo lendo um livro à sombra da nossa árvore florida do que sentado lá dentro lendo o mesmo livro.
Estudos mais rigorosos do que o meu parecem demonstrar o mesmo: as pessoas são mais felizes num jardim.
O sol em nossa pele, o ar puro, os pássaros cantando nos arbustos, tudo isso propicia uma maior saúde e bem-estar.
Os benefícios de um jardim vão além de um livro relaxante e do café com leite, e incluem sujar as mãos nele.
Trabalhar no jardim alivia o estresse, ajuda a função imunológica, aumenta os níveis de vitamina D, combate a depressão e mantém nosso cérebro mais jovem à medida que envelhecemos fisicamente.
A jardinagem é uma tarefa que poucas pessoas temem. Claro, talvez nos queixemos no começo. Mas quando chegamos lá com a sujeira entre os dedos, o cheiro da terra e das plantas como um incenso na pele, tudo muda. O dia se ilumina.
Há uma joaninha naquela folha, uma flor de peônia oscilando ao vento, uma sensação de calor irradiando no ar banhado pelo sol. Só observamos esses detalhes, e apenas algumas vezes, quando estamos no jardim. É ali que estamos mais em contato conosco.
Enquanto escrevo isso, a Solenidade da Ascensão que celebramos na semana passada ainda está em minha mente.
Como acontece entre as flores de maio, esta é uma celebração que naturalmente tem uma conexão com os jardins.
A Ascensão é um levantamento, uma entronização da beleza física e tátil deste mundo. Existe uma beleza inscrita neste mundo que é de valor infinito, tanto que Deus a leva ao Céu com Ele.
Suponho que seja por isso que a beleza natural tenha uma qualidade celestial e por isso que faz sentido que Adão e Eva tenham recebido um jardim para morar.
Eu penso melhor quando cercado pela natureza. Sua beleza evoca a melhor parte da minha alma. Conecta-me com a parte mais nobre de mim mesmo.
É um sentimento interessante, calmo, mas também energizante, relaxado, mas também criativo, atento a todos os detalhes, mas sem se sentir oprimido.
É o oposto de como me sinto quando cercado por concreto urbano e automóveis. Na cidade, sinto ambição. Sinto a energia do lugar, mas pode se tornar demais. É perturbador e, eventualmente, toda a energia é queimada e a exaustão a substitui.
Suspeito que a maioria das pessoas também sofra esse esgotamento, e é por isso que quando saímos de férias ou procuramos um refresco nos retiramos para a natureza para passear em um jardim, escalar uma montanha ou sentar à beira-mar.
A beleza de um jardim nos alimenta. Ela nos alimenta com seus frutos e suas flores. Ela oferece sua melhor decoração para nos encantar.
Um jardim também nutre a alma. Ele é como uma mãe, muito gentil e muito paciente. Ele coloca o dedo nos lábios e pede um silêncio pacífico e dourado. Nesse silêncio, estamos acolhidos. A beleza que encontramos aqui é uma beleza que nos fala de um grande e misterioso amor.
Se você precisar de mim, eu estarei no meu jardim.
Aleteia

Das Instruções de São Doroteu, abade

Doroteu de Gaza – Wikipédia, a enciclopédia livre
Wikipedia
(Doct.13, De accusatione sui ipsius, 2-3: PG 88, 1699)            (Séc.VI)

A falsa paz espiritual
            Quem se acusa a si mesmo, por mais que lhe venham importunações, danos, opróbrios, afrontas da parte de quem quer que seja, tudo recebe com serenidade e, julgando-se merecedor de tudo isso, sem que possa perturbar-se de modo algum. Quem mais tranquilo do que este homem?
            Talvez haja quem objete: “E se, quando um irmão me aflige, procuro e não vejo ter-lhe dado motivo para isto, por que então hei de me acusar?”
            Na verdade, se alguém com temor de Deus se examina com cuidado, nunca se julgará, de todo, inocente e verá que o motivo está em algum ato seu, palavra ou gesto. Se em nada se achou culpado, talvez em outra ocasião o tenha aborrecido em coisa parecida ou diferente. Ou ainda, quem sabe, maltratou outro irmão. Com razão deve sofrer por isto ou por outros pecados, tão numerosos, que cometeu. Perguntará alguém por que se acusar quando, quieto e sossegado, é molestado por palavras ou gestos ofensivos de um irmão. Não podendo suportar nada disso, julga-se com direito de se irritar. Pecaria, se porventura não se desse esse encontro e essa palavra?
            Isto é ridículo e é claro que não se apoia em motivo algum. Não foi por ter dito uma palavra qualquer que se lhe suscitou a paixão da cólera, mas, antes, revelou a paixão oculta que o minava; dela, se quiser, faça penitência. Este tal se fez semelhante a um pão branco, belo e todo limpo, que, ao ser cortado, mostra estar sujo por dentro.
            Do mesmo modo, se alguém se julga quieto e pacífico, tem, no entanto, uma paixão que não vê. Chega um irmão, lança uma palavra desagradável e imediatamente lhe jorra de dentro o pus e a sujeira oculta. Se quiser alcançar a misericórdia, faça penitência, purifique-se, esforce-se por progredir e reconheça que, em vez de retrucar à injúria, deveria agradecer ao irmão ocasião de tão grande utilidade. Depois disso, não se afligirá tanto com as tentações, pois quanto mais progredir, tanto mais lhe parecerão leves. A alma se fortalece à medida em que caminha, faz-se mais corajosa em suportar todas as coisas duras que lhe advêm.

Da Providência Divina (7/10)

DA  PROVIDÊNCIA DIVINA
São Tomás de Aquino
(cf. Suma Teológica)
ARTIGO 7º – SE OS PECADORES SÃO REGIDOS PELA DIVINA PROVIDÊNCIA.
Respondo dizendo que a divina providência se estende aos homens de dois modos. De um primeiro modo, na medida em que eles próprios são provistos; de outro modo, na medida em que eles próprios são providentes.
Falhado, pois, ao proverem, ou observando a retidão ao fazê-lo, por isto são ditos bons ou maus. Pelo fato de que são provistos por Deus, a eles são oferecidos bens ou males. E na medida em que eles de modo diverso se acham ao proverem, de modos também diversos são provistos por Deus.
Se, pois, observam a reta ordem ao proverem, a divina providência neles observa uma ordem condizente com a dignidade humana, de modo que nada lhes aconteça que não se lhes converta em bem, e que tudo o que lhes provenha os promova ao bem, segundo o que está escrito na Epístola aos Romanos: “Todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus” (Romanos 8,28).
Se, porém, ao proverem, não observam a ordem que é condizente com a criatura racional, provendo, em vez disso, segundo o modo dos animais brutos, a divina providência os ordenará segundo a ordem que compete aos animais brutos, isto é, de tal maneira que as coisas que neles são boas ou más não se ordenem para o bem deles próprios, mas para o bem dos outros, segundo o que diz o salmista: “O homem, estando em honra, não compreendeu; foi comparado aos ignorantes jumentos, e tornou-se semelhante a eles” (Salmo 48,13).
De tudo isto é evidente que a divina providência governa os bons de um modo mais alto do que os maus. Os maus, de fato, segundo que se retiram de uma determinada ordem da providência, não fazendo a vontade de Deus, caem sob uma outra ordem, sendo feito deles a divina vontade. Os bons, porém, quanto a ambas estas coisas estão sob a reta ordem da providência.
Veritatis Splendor

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF