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quarta-feira, 29 de julho de 2020

Você é Marta ou Maria?

SAINT MARTHA,MARY,JESUS
Johannes Vermeer /Public Domain /Wikicommons


No dia de Santa Marta, o Evangelho parece opor-se à vocação contemplativa de Maria com a vida ativa de Marta. Mas isso é realmente o que nos quer dizer? Temos que escolher entre ficar no lugar de Marta e no de Maria?

Imagine a cena: Jesus, o grande amigo, é recebido em Betânia. Feliz em recebê-lo, Marta fica estimulada e com entusiasmo e eficiência: há muito o que fazer! Mas a irmã dela, Maria, parece não perceber isso, pois ela descansa tranquilamente sentada aos pés de Jesus, como se a comida fosse se preparar sozinha, como se parecesse normal deixar todo o trabalho para os outros.
Marta protesta. E que dona de casa não se reconhece nalgum dia nesses protestos? Todo o mundo gostaria de estar sentado em vez de estar cozinhando nos fogões! É muito bom ouvir o convidado, mas felizmente há alguém que se preocupa com as tarefas materiais. É o que Marta pensa, e nós a entendemos.
Quando nos tornamos escravos de tarefas materiais
E Jesus Cristo, percebe isso? Sim definitivamente. Para começar, porque ele vê, há trinta anos, sua mãe preparando refeições, lavando, colocando todas as coisas em ordem, como todas as mães do mundo. Ele sabe bem que tudo isso não é feito sozinho. Ele provou tanto o peso do cansaço como o da alegria de saborear uma boa refeição.
Jesus não ignora o valor e a verdadeira importância do trabalho de Marta, ele não a menospreza. Além do mais, adivinha a generosidade que empurra Marta a ficar estimulada dessa maneira: ela quer que tudo seja perfeito para Jesus. E as tarefas materiais são aquelas das quais Jesus falou: “Em verdade eu vos declaro: todas as vezes que fizeste isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, foi a mim mesmo que o fizeste” (Mt 25,40).
“Marta, por sua vez, sentiu-se oprimida porque tinha muito o que fazer” (Lc 10,40). “Oprimida” é a palavra na qual deveríamos colocar nossa atenção. Marta, de certa forma, se torna escrava das tarefas materiais. Ela corre risco de prestar mais atenção à comida do que ao seu convidado.
Esse defeito pode ser repetido em muitas outras áreas: no sistema, que prevalece sobre a vida que as pessoas deveriam servir; nos catequistas, mais preocupados com os problemas de método do que com o próprio Senhor; ou mesmo nos pais, mais pendentes dos resultados escolares de seus filhos do que atentos ao desenvolvimento geral de sua personalidade.
Como manter o foco no essencial?
Qual é a primeira coisa em nossa vida? Essa é a pergunta que somos convidados a nos perguntar incessantemente, para não nos deixarmos dominar, para preservar nossa liberdade e permanecer focados no essencial, em vez de dispersar.
Costumamos reclamar de ter um emprego com um horário sobrecarregado, de estar sempre correndo, de nunca ter a chance de respirar. Não seria que, como Marta, ficamos inquietos e agitados com muitas coisas?
“Apenas uma coisa é necessária”, diz Jesus Cristo à Marta (Lc 10,42). Do ponto de vista dessa necessidade única, não há nenhuma oposição entre a vocação de Marta e a de Maria. Qualquer que seja a nossa vocação – Carmelita ou mãe de família, eremita ou empresário -, a primeira coisa para nós é ficar aos pés de Jesus para ouvi-lo.
“Somente Deus é suficiente”, e isso não é verdade apenas para monges e freiras, mas para todos nós. Jesus repete para nós, assim como para Marta, que a primeira coisa no nosso dia a dia é a oração. A primeira coisa em nossas preocupações é cumprir a vontade de Deus. A primeira coisa em nossas ambições é a busca do Reino. Todo o resto nos será dado a mais. É claro que a vocação de Marta não é idêntica à de Maria.
Uma mãe não estará tanto tempo em oração quanto uma irmã carmelita; um franciscano não precisará ser um gerente financeiro tão bom quanto um empresário. Para cada um o seu lugar. O que muda, de um estado de vida para outro, é a maneira pela qual é procurada, a maneira pela qual essa “única necessidade” é servida. Essa única coisa necessária é sempre a mesma. O Senhor fez todos nós para Ele e, como diz Santo Agostinho, “nossos corações ficam inquietos até que descansem Nele”….. quer sejamos como Marta ou Maria!
Christine Ponsard
Aleteia

Podemos orar aos Santos?


Não categorizado

Por Alessandro Lima
Desde os tempos apostólicos a Igreja ensina que os que morreram na amizade do Senhor, não só podem como estão orando pela salvação daqueles que ainda se encontram na terra. Tal conceito é conhecido como a intercessão dos santos.
A Doutrina
Sobre a doutrina da intercessão dos santos, o Catecismo da Igreja Católica ensina:
  • “Pelo fato que os do céu estão mais intimamente unidos com Cristo, consolidam mais firmemente a toda a Igreja na santidade… Não deixam de interceder por nós ante o Pai. Apresentam por meio do único Mediador entre Deus e os homens, Cristo Jesus, os méritos que adquiriram na terra… Sua solicitude fraterna ajuda, pois, muito a nossa debilidade.” (CIC 956)
Por tanto para a Igreja Católica, os santos intercedem por nós junto ao Pai, não pelos seus méritos, mas pelos méritos de Cristo Nosso Senhor, o único Mediador entre Deus e os homens.
A Intercessão dos Justos no Antigo Testamento
Deus manda Abimelec pedir as orações de Abraão por ele:
  • “Agora, pois, restituí a mulher a seu marido [Abraão] porque é profeta e rogará por ti, para que vivias” (Gn 20,7).
O povo de Israel pede as orações de Samuel:
  • “Roga ao Senhor, teu Deus, pelos seus servos, para que não morramos” (1Rs 12,19).
O Rei Joroboão pediu a intercessão de um justo:
  • “Então disse o rei ao homem de Deus: ‘Aplaca o Senhor, teu Deus, e roga por mim para que me seja restituída a mão’. O homem de Deus aplacou o Senhor e o rei pôde trazer de novo a si a mão, que se tornou tal como era antes.” (1 Rs 13,6).
Ozias pede a intercessão de Judite: 
  • “Agora, pois, ora por nós, porque tu és uma mulher santa e temente a Deus” (Jdt 8,29).
Disse Deus aos amigos de Jó:
  • “Tomai, pois, sete touros e sete carneiros e vinde ter com meu servo Jó. Oferecei-os por vós em holocausto e meu servo Jó intercederá por vós. É em consideração a ele que não vos infligirei ignomínias por não terdes falado bem de mim, como Jó, meu servo” (Jo 42,8).
Como se vê é o próprio Deus que recomenda que oremos uns pelos outros.
Com efeito, ensinou também o Apóstolo Paulo:
  • “Nas contínuas orações que por vós fazemos, damos graças a Deus, Pai de nosso Senhor Jesus Cristo” (Col 1,3).
Jesus mesmo ensinou:
  • “Orai pelos que vos perseguem e caluniam” (Mt 5,44).
São Tiago ensinou:
  • “Orai uns pelos outros, para serdes salvos, porque a oração do justo, sendo fervorosa, pode muito” (Tg 5,16).
Tudo isso demonstra que Deus aceita a oração dos justos por nós.
Os Santos defuntos podem orar por nós
Alguém ainda poderia objetar: os exemplos até aqui são de vivos pedindo a oração de vivos e não de vivos pedindo a oração de mortos.
Primeiro, os justos que morreram na amizade de Deus estão vivos e não mortos.
É o próprio Cristo que o afirma:
  • “Ora, Deus não é Deus dos mortos, mas dos vivos; porque todos vivem para ele” (Lc 20,38).
Com efeito, os evangelhos relatam a presença de Moisés e Elias com Jesus no monte das oliveiras durante a sua transfiguração.
Em Jeremias lemos:
  • “E o Senhor disse-me: Ainda que Moisés e Samuel se pusessem diante de mim, a minha alma não se inclinaria para este povo; tira-os da minha face e retirem-se” (Jer 15,1).
No tempo do Profeta Jeremias ambos Moisés e Samuel já estavam falecidos. O texto bíblico ficaria totalmente sem sentido se os dois servos de Deus não estivessem vivos no mundo espiritual e se não pudessem interceder pelos que estão na terra. Em 1 Sm 28,14 temos mais uma evidência de que o Profeta Samuel estava muito vivo, apesar de falecido.
No Segundo Livro dos Macabeus também lemos:
  • “Este é o amador dos seus irmãos e do povo de Israel; este é Jeremias, profeta de Deus que ora muito pelo povo e pela santa cidade” (2 Mac 15,12-14).
Não só os santos defuntos rezam pelos que ainda vivem na terra, como também os santos anjos.
Em Zac 1,12-13 um anjo intercede a Deus por Jerusalém e várias cidades de Judá.
O arcanjo Rafael diz a Tobias:
  • “Quando rezavas com lágrimas, e sepultavas os mortos eu oferecia tua oração a Deus” (Tob 7,12).
Nosso Senhor Jesus Cristo, na parábola do Rico e Lázaro (Lc 16:19-31), nos mostra que mesmo após a morte o Rico (que estava no inferno) pede a intercessão de Abraão (que estava no céu), pelos seus parentes. Jesus não contaria esta parábola se os santos que morreram na esperança do Senhor, não pudessem rogar pelos vivos.
A comunhão dos Santos
O Apóstolo Paulo ensina que todos os fiéis cristãos estão unidos entre si como membros do corpo único de Cristo (cf. 1Coríntios 12,12-27), onde Nosso Senhor é a cabeça e nós seus membros:
  • “Mas, pela prática sincera da caridade, cresçamos em todos os sentidos, naquele que é a cabeça, Cristo. É por ele que todo o corpo – coordenado e unido por conexões que estão ao seu dispor, trabalhando cada um conforme a atividade que lhe é própria – efetua esse crescimento, visando a sua plena edificação na caridade” (Efésios 4,15-16).
Ora, estando Cristo no Céu e sendo a cabeça da Igreja, isso mostra que os fiéis defuntos também fazem parte do mesmo corpo místico de Nosso Senhor. Todos os fiéis sejam eles vivos ou mortos fazem parte do mesmo corpo, que é a Igreja, cuja cabeça é Jesus.
Logo, se todos somos membros do mesmo corpo místico, estamos unidos. E todos os bens e virtudes que um membro tem ou ganha pode ser comunicado a outro, assim como ocorre no corpo. Isso obviamente inclui as orações.
O livro do apocalipse é o livro que mais detalha o serviço que os Santos prestam a Deus. Eles se ocupam na oração (cf. Ap 5,8). Mas por que será que eles oram? Oram por nós que ainda estamos na caminhada.
Encontramos também a seguinte passagem:
  • “Quando abriu o quinto selo, vi sob o altar as vidas dos que tinham sido imolados por causa da Palavra de Deus e do testemunho que dela tinham prestado. E eles clamaram em alta voz: ‘Até quando, ó Senhor santo e verdadeiro, tardarás a fazer justiça, vingando nosso sangue contra os habitantes da terra?’ ” (Ap 6,9-10).
Os Santos estão pedindo por justiça e podem faze-lo porque estão na presença de Deus.
E não só podem orar, como oram e oferecem suas orações a Deus:
  • “Outro Anjo veio prostrar-se junto ao altar, com um turíbulo de ouro. Deram-lhe uma grande quantidade de incenso para que o oferecesse com as orações de todos os santos, sobre o altar de outro que está diante do trono.” (Ap 8,3).
O Apóstolo Paulo após referir-se aos Santos Mártires e Heróis na Fé do Antigo Israel (cf. Hb 11), logo em seguida diz que somos assistidos por eles e que são uma multidão de testemunhas nossas (cf. Hb 12,1).
Ora, o texto Paulino não faria qualquer sentido se não existisse a comunhão dos santos, isto é, a união mística dos fiéis vivos e defuntos num único organismo vivo que é a Igreja, corpo místico de Nosso Senhor Jesus Cristo.
O Testemunho dos primeiros cristãos
Vejamos agora o que professava os cristãos no tempo em que não havia divisão na Cristandade, em relação à doutrina da intercessão dos santos:
  • “O Pontífice [o Papa] não é o único a se unir aos orantes. Os anjos e as almas dos juntos também se unem a eles na oração” (Orígenes, 185-254 d.C. Da Oração).
  • “Se um de nós partir primeiro deste mundo, não cessem as nossa orações pelos irmãos” (Cipriano de Cartago, 200-258 d.C. Epístola 57)
  • “Aos que fizeram tudo o que tiveram ao seu alcance para permanecer fiéis, não lhes faltará, nem a guarda dos anjos nem a proteção dos santos“. (Santo Hilário de Poitiers, 310-367 d.C).
  • “Comemoramos os que adormeceram no Senhor antes de nós: patriarcas, profetas, Apóstolos e mártires, para que Deus, por suas intercessões e orações, se digne receber as nossas.” (São Cirilo de Jerusalém, 315-386 d.C. Catequeses Mistagógicas).
  • “Em seguida (na Oração Eucarística), mencionamos os que já partiram: primeiro os patricarcas, profetas, apóstolos e mártires, para que Deus, em virtude de suas preces e intercessões, receba nossa oração” (São Cirilo de Jerusalém, 315-386 d.C. Catequeses Mistagógicas).
  • “Se os Apóstolos e mártires, enquanto estavam em sua carne mortal, e ainda necessitados de cuidar de si, ainda podiam orar pelos outros, muito mais agora que já receberam a coroa de suas vitórias e triunfos. Moisés, um só homem, alcançou de Deus o perdão para 600 mil homens armados; e Estevão, para seus perseguidores. Serão menos poderosos agora que reinam com Cristo? São Paulo diz que com suas orações salvara a vida de 276 homens, que seguiam com ele no navio [naufrágio na ilha de Malta]. E depois de sua morte, cessará sua boca e não pronunciará uma só palavra em favor daqueles que no mundo, por seu intermédio, creram no Evangelho?” (São Jerônimo, 340-420 d.C, Adv. Vigil. 6).
  • “Portanto, como bem sabem os fiéis, a disciplina eclesiástica prescreve que, quando se mencionam os mártires nesse lugar durante a celebração eucarística, não se reza por eles, mas pelos outros defuntos que também aí se comemoram. Não é conveniente orar por um mátir, pois somos nós que devemos encomendar suas orações” (Santo Agostinho, 391-430 d.C. Sermão 159,1)
  • “Não deixemos parecer para nós pouca coisa; que sejamos membros do mesmo corpo que elas (Santa Perpétua e Santa Felicidade) (…) Nós nos maravilhamos com elas, elas sentem compaixão de nós. Nós nos alegramos por elas, elas oram por nós (…) Contudo, nós todos servimos um só Senhor, seguimos um só Mestre, atendemos um só Rei. Estamos unidos a uma Cabeça; nos dirigimos a uma Jerusalém; seguimos após um amor, envolvendo uma unidade” (Santo Agostinho, 391-430 d.C. Sermão 280,6)
  • “Por vezes, é a intercessão dos santos que alcança o perdão das nossas faltas [1Jo 5,16Tg 5,14-15] ou ainda a  misericórdia e a fé” (São João Cassiano. 360-435 d.C. conferência 20).
Veritatis Splendor

S. MARTA, DISCÍPULA DO SENHOR

S. Marta, Salterio hunterian
S. Marta, Salterio hunterian
São os Evangelhos que oferecem notícias sobre Marta de Betânia, uma aldeia a poucos quilômetros de Jerusalém. Irmã de Lázaro e Maria, ela é apresentada como uma mulher diligente e escrupulosa e, certamente, uma das primeiras mulheres a acreditar em Jesus. Ela o hospedou muitas vezes em sua casa, quando estava de passagem para pegar na Judeia. Lucas oferece um retrato detalhado de Marta, descrevendo-a no seu dia a dia. Ao narrar uma das vezes que Jesus se encontrava à mesa com os amigos de Betânia, o evangelista escreve: «Ela tinha uma irmã, chamada Maria, que, estando sentada aos pés do Senhor, ouvia as suas palavras. Marta, ao invés estava muito ocupada com os afazeres de casa. Então, aproximou-se e disse: “Senhor, não se importa que a minha irmã tenha me deixado sozinha no serviço doméstico? Diga-lhe que venha me ajudar”. Mas, o Senhor respondeu: “Marta, Marta, você está ansiosa e ocupada com tantas coisas, mas uma só é necessária “. Maria escolheu a parte melhor, que jamais lhe será tirada”» (Lc 10,38-42).
O Mestre repreende Marta, fazendo-lhe entender que seu louvável serviço arrisca levar-lhe a se descuidar da vida interior. Esta é uma advertência que faz refletir o quanto é importante o nutrimento do espírito, a escuta da Palavra de Deus, pois é esta Palavra que dá sentido à nossa ação quotidiana.
Em todo o caso, pela sua louvável dedicação aos preparativos, para oferecer ao hóspede uma confortável permanência na sua casa, Marta é reconhecida pela Igreja como modelo de laboriosidade. Marta e Maria são, respectivamente, exemplos de ação e contemplação, de vida ativa e de vida de oração. Logo, ambos os aspectos jamais devem faltar em um cristão, tampouco contrapor-se, mas completar-se.

Profissão de fé de Marta
Marta deu-nos um grande testemunho de fé! Das palavras que dirigiu a Jesus, há quatro dias da morte do irmão Lázaro, emerge um credo total, sem hesitação nem dúvida. Marta tem uma confiança ilimitada em Deus, mesmo diante daquilo que, aos homens, possa parecer impossível. «Marta, ouvindo que Jesus estava vindo, foi-lhe ao encontro. Maria ficou sentada em casa. Então, Marta disse a Jesus: “Senhor, se você estivesse aqui meu irmão não teria morrido. Mas, também, agora, sei que tudo o que pedir a Deus ele lhe concederá”. Esta, por si só, é uma extraordinária profissão de fé! Mas, a conversa entre Marta e Jesus continua. Desta simples mulher de Betânia aprendemos a lição do que significa acreditar em Jesus Cristo. “Jesus lhe disse: Seu irmão há de ressuscitar. Disse-lhe Marta: Eu sei que há de ressuscitar na ressurreição do último Dia. Disse-lhe Jesus: Eu sou a Ressurreição e a Vida; quem crê em mim, ainda que esteja morto, viverá; e todo aquele que vive e crê em mim nunca morrerá. Você acredita nisso? Disse-lhe ela: Sim, Senhor, sei que você é o Cristo, o Filho de Deus, que havia de vir ao mundo”» (Jo 11,20-27). Eis a essência do cristianismo! Marta condensa toda sua fé na sua resposta, porque esta é a fé de todo fiel; uma simples resposta na qual cada cristão encontra o seu propósito de vida.

As origens da memória litúrgica
A tradição narra que, depois das primeiras perseguições dos cristãos, Marta, Maria, Lázaro e outros discípulos e mulheres, que seguiam Jesus, tenham deixado sua terra e se transferido para Saintes-Maries-de-la-Mer, na região francesa da Provença, aonde teriam difundido a fé cristã. Os franciscanos foram os primeiros, em 1262, a festejar Santa Marta no dia 29 de julho, oito dias depois da festa de Santa Maria Madalena.
Em Betânia, hoje chamada El-Azariyeh (lugar de Lázaro), ainda existe seu sepulcro e um santuário, construído sobre algumas ruínas bizantinas e das cruzadas, que, por sua vez, confirmam lugares preexistentes. Provavelmente, ali se encontrava também, a casa de Marta. A igreja, em forma de cruz grega do santuário, foi decorada por mosaicos, que representam os episódios evangélicos, que tiveram como protagonistas Marta, Maria e Lázaro.
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S. LÁZARO

s. Lázaro, Luca di Tommè
s. Lázaro, Luca di Tommè  (© Musei Vaticani)
Amigos de Jesus
Lázaro e suas duas irmãs, Marta e Maria, eram amigos fraternos de Jesus de Nazaré. Viviam em Betânia, a cerca de três milhas de Jerusalém, e Jesus, muitas vezes, se hospedava na casa deles. A amizade entre Jesus e Lázaro é testemunhada pelas palavras, com as quais Maria e Marta tinham mandado dizer-lhe para visitar o irmão doente: “Senhor, aquele que amas, está enfermo”. E ainda, depois, com a chegada de Jesus, aparentemente tarde demais para salvá-lo: “Senhor, se tivesses vindo aqui – disse Marta – meu irmão não teria morrido”. As testemunhas do episódio, percebendo a perturbação e às lágrimas de Jesus, diante do sepulcro fechado do amigo, murmuravam entre si: “Vejam como ele o amava...” (cf. Jo 11,3.21.36).
As referências sobre a amizade entre ambos levam a identificar Lázaro, segundo alguns, com o “discípulo que Jesus amava”, ao invés de João Evangelista, que é mais plausível.
O episódio da ressurreição de Lázaro, narrado apenas no Evangelho de São João, tem um valor profético e simbólico, porque preanuncia a Ressurreição de Cristo. A casa dos amigos de Betânia e o sepulcro vazio de Lázaro tornaram-se, logo, desde os primórdios do cristianismo, meta de peregrinações, às vésperas do Domingo de Ramos. Segundo São Jerônimo, na época medieval, ao lado do sepulcro do amigo, teria sido fundado um mosteiro, que contava com a proteção do próprio imperador Carlos Magno.

Viver depois da morte
A narração de São João prossegue dizendo que, o episódio da ressurreição de Lázaro, fez com que muitos dos presentes se convertessem e cressem em Jesus. Isso contribuiu para aumentar ainda mais o clima de suspeita e de ódio, em relação a Jesus, por parte dos Sumos Sacerdotes e Fariseus, que viam nele um perigoso subornador. Além do mais, quando Lázaro participou de um banquete, oferecido em honra de Jesus, haviam decidido de matá-lo também, porque muita gente tinha acorrido para vê-lo, pois pensava que Ele, realmente, era o Filho de Deus.

Enigma das relíquias
Segundo a tradição oriental, com a Morte e Ressurreição de Jesus, Lázaro ter-se-ia transferido para Chipre, onde teria sido Bispo por trinta anos. Esta tradição foi confirmada, no ano 890, com a descoberta em Cítio, atual Larnaca, de uma lápide com a incisão: “Lázaro, amigo de Cristo”. A seguir, suas relíquias teriam sido trasladadas para Constantinopla, por ordem do imperador Leão VI, o sábio ou o filósofo, e depois para a França, pelos Cruzados.
No entanto, a transladação das relíquias teria sido apenas parcial, porque, em 1972, foi encontrada, em Larnaca, uma arca de mármore, com as relíquias atribuídas a São Lázaro.
Outra versão histórica afirma, ao invés, que Lázaro, Marta e Maria, acompanhados de certo Máximo, teriam partido de barco, - sem remos, sem velas, sem timão – que teria atracado nas costas da França meridional.
Esta versão faz parte também da “Lenda Dourada”, de Jacopo de Varagine, onde se lê que Lázaro e suas irmãs teriam partido para pregar na França, onde Lázaro teria sido o primeiro Bispo de Marselha. Ali, teria sido martirizado durante a perseguição do imperador Nero.

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S. BEATRIZ

s. Beatriz, catacumbas de Generosa
s. Beatriz, catacumbas de Generosa 
(© Pontificia commisione di archeologia sacra)
Precipitavam-se as perseguições contra os cristãos em Roma. Da ponte chamada Emília, perto da ilha Tiberina, foram jogados no rio Tibre os corpos dos dois irmãos de Beatriz, - Simplício e Faustino - por serem cristãos. O sofrimento e o temor deviam ser os sentimentos que invadiam o coração da santa mulher, que, porém, não hesitou em recuperar seus corpos para dar-lhes uma digna Sepultura. Graças à ajuda de dois sacerdotes, ela conseguiu tirá-los da correnteza do rio.

Martírio por Cristo
A mesma sorte dos irmãos coube também a Beatriz. Sendo denunciada como cristã, foi presa e, apesar das ameaças, perseverou na fé. Outra mulher, Lucina, ofereceu uma sepultura a Beatriz e Rufo, em uma escavação vulcânica, onde tinham sido postos os corpos dos seus irmãos.

Catacumba de Generosa
A Catacumba intitulada “Generosa” surgia na Via Portuense, tanto que os santos foram chamados Mártires Portuenses. Ali, descobriu-se um afresco em relevo, de características bizantinas, denominado Coronatio Martyrum, que remonta ao século VI. Nele estão representados cinco personagens: Cristo, ao centro, coloca a coroa do martírio em Simplício, na presença de Beatriz, enquanto, à esquerda, estão as figuras de Rufo e Faustino, com a palma do martírio na mão.
Com o tempo, as relíquias de Santa Beatriz e dos seus irmãos foram trasladadas para o Oratório da igreja de Santa Viviana, por volta do ano 682, por ordem do Papa Leão II. Mais tarde, o Papa Urbano VIII decidiu que a antiga igreja fosse restaurada pelo próprio Bernini, que mandou derrubar o Oratório. A arca de mármore com as relíquias foi levada para a Basílica de Santa Maria Maior. Algumas relíquias encontram-se em outros lugares da Europa. A mais significativa está na Alemanha.

Beatriz, um nome amado
Desde sempre, o nome desta mártir romana foi difundido e amado, devido ao seu culto. A sua fama aumentou também graças a várias personalidades, como Beatriz Portinari, a mulher amada por Dante Alighieri, e outras mulheres nobres e rainhas.

Vatican News

terça-feira, 28 de julho de 2020

Autorizada a reabertura gradual do Santuário de Aparecida

aparecida
Rodrigo Soldon / Flickr CC

Decreto da prefeitura da cidade prevê retomada das celebrações públicas com restrições a partir do fim de julho.

Um decreto publicado pela prefeitura de Aparecida, SP, autoriza a reabertura gradual do Santuário Nacional para celebrações públicas a partir do dia 28 de julho.
O decreto municipal exige que as Missas na Basílica tenham número reduzido de fiéis e que o Santuário adote medidas preventivas para evitar a transmissão do novo coronavírus. Mas o documento deixa claro que a reabertura só acontecerá nessa data se a região seguir na fase 2 estabelecida pelo Governo de São Paulo no chamado plano de “retomada consciente”. As fases foram definidas de acordo com o número de casos de Covid-19 em cada localidade e determina os segmentos econômicos e de serviços que poderão ter suas atividades retomadas.
Hoje, o Santuário está aberto apenas para a visita de fiéis. O número de pessoas que podem entrar é reduzido e os visitantes precisam seguir medidas sanitárias de prevenção ao coronavírus. As Missas estão sendo transmitidas pela internet e pelos canais de rádio e TV do Santuário.

Protocolo para a retomada das atividades

Os representantes do Santuário Nacional já apresentaram para a Secretaria Municipal de Saúde de Aparecida e para os membros do Comitê de Crise do município o protocolo que deverá ser adotado na retomada das atividades religiosas.
O plano detalha o trajeto que os romeiros serão orientados a seguir ao chegarem ao complexo religioso (para evitar aglomerações), além dos pontos em que deverão parar para aferir a temperatura corporal e os locais de permanência permitidos dentro da Basílica, respeitando a distância de segurança entre as pessoas.
O documento ainda aborda o reforço da higienização do local, a instalação de totens com álcool em gel, a utilização de bombas costais para aplicação de desinfetantes em grandes espaços, o uso obrigatório de máscaras e de outros equipamentos de segurança individual para os funcionários do Santuário, que já estão seguindo essas medidas preventivas.

Rede hoteleira e comércio

O decreto da prefeitura de Aparecida prevê a retomada das atividades da rede hoteleira e das pousadas da cidade também a partir do dia 28 de julho. Esses estabelecimentos deverão funcionar com ocupação reduzida e seguindo as normas de prevenção.
Já as galerias do Centro de Apoio ao Romeiro deverão reabrir apenas no dia 4 de agosto (com exceção das praças de alimentação). O retorno das atividades das feiras livres está previsto para o dia 15 de agosto.
Aleteia

A Lei de Moisés terminou por ocasião da morte de Cristo?


Apologética

– Não basta dizer: “Está na Bíblia!” O Antigo Testamento era exclusivo para os judeus e o Novo Testamento para os cristãos.
* * *
Compreender a diferença entre Antigo e Novo Testamento é vital para o estudo honesta da Bíblia. Muitas das diferenças doutrinárias entre cristãos católicos e evangélicos são automaticamente resolvidas quando este tema é bem compreendido.
Não basta dizer: “Está na Bíblia!”; o que realmente importa é: em que parte da Bíblia? No Antigo ou no Novo Testamento? Expliquemos:
Com a queda de Adão e Eva, o gênereo humano, mortalmente ferido pelo pecado, cai em tal grau de decadência, maldade e erro que Deus se vê obrigado a exterminar a humanidade pelos excessos a que chegaram:
  • “E viu o Senhor que a maldade do homem se multiplicara sobre a terra e que toda a imaginação dos pensamentos de seu coração era só má continuamente. Então arrependeu-se o Senhor de haver feito o homem sobre a terra e pesou-lhe em seu coração. E disse o Senhor: ‘Destruirei o homem que criei de sobre a face da terra, desde o homem até ao animal, até ao réptil, e até à ave dos céus; porque me arrependo de os haver feito'” (Gênesis 6,5-7).
A fim de brindar a humanidade com um novo e melhor começo, Deus eleva o homem de seu estado de total miséria, sem leis escritas, onde a idolatria (adoração de falsos deuses), a degeneração sexual, os assassinatos e um sem fim de depravações eram o pão cotidiano, sem a lei do mundo pagão, antes e depois do dilúvio universal.
O ANTIGO TESTAMENTO REPRESENTA A ETAPA INFANTIL DA HUMANIDADE
  • “E o Senhor sentiu o suave cheiro, e o Senhor disse em seu coração: ‘Não tornarei mais a amaldiçoar a terra por causa do homem; porque a imaginação do coração do homem é má desde a sua meninice, nem tornarei mais a ferir todo o vivente, como fiz'” (Gênesis 8,21).
Deus forma um povo, o povo de Israel, uma nação entre todas as nações, com quem faz uma “aliança”; a ela dará seus Mandamentos em forma escrita através de Moisés. Mas não devemos nos confundir: esta Lei ou Aliança era única e exclusiva do povo de Israel; todos os demais povos e nações ficavam de fora desta Aliança, que hoje conhecemos como “Antigo Testamento” ou “Lei de Moisés”.
  • “Agora, pois, se diligentemente ouvirdes a minha voz e guardardes a minha aliança, então sereis a minha propriedade peculiar dentre todos os povos, porque toda a terra é minha. E vós me sereis um reino sacerdotal e o povo santo. Estas são as palavras que falarás aos filhos de Israel” (Êxodo 19,5-6).
  • “Mostra a sua palavra a Jacó, os seus estatutos e os seus juízos a Israel. Não fez assim a nenhuma outra nação; e quanto aos seus juízos, não os conhecem” (Salmo 147,19-20).
  • “Portanto, lembrai-vos de que vós noutro tempo éreis gentios na carne, e chamados ‘incircuncisão’ pelos que na carne se chamam ‘circuncisão’ feita pela mão dos homens; que naquele tempo estáveis sem Cristo, separados da comunidade de Israel, e estranhos às alianças da promessa, não tendo esperança, e sem Deus no mundo” (Efésios 2,11-12).
CONTUDO, DEUS QUER QUE TODOS OS HOMENS SE SALVEM
  • “Porque isto é bom e agradável diante de Deus nosso Salvador, que quer que todos os homens se salvem, e venham ao conhecimento da verdade” (1Timóteo 2,3-4).
Como Deus quer a salvação de todos os homens, a Antiga Aliança ou Testamento representa uma superação do homem pagão, sem lei, a uma etapa de lei escrita que busca a elevação da humanidade para chegar em Deus. Porém, o homem é ainda criança e precisa amadurecer, chegar à plenitude dos tempos e comportar-se com adulto:
  • “Assim também nós, quando éramos meninos, estávamos reduzidos à servidão debaixo dos primeiros rudimentos do mundo. Mas, vindo a plenitude dos tempos, Deus enviou seu Filho, nascido de mulher, nascido sob a lei, para remir os que estavam debaixo da lei, a fim de recebermos a adoção de filhos” (Gálatas 4,3-5).
O ANTIGO TESTAMENTO ERA UM TREINAMENTO PARA O NOVO TESTAMENTO
O Antigo Testamento apresenta figuras; o Novo Testamento, a realidade:
  • “Porque até à lei estava o pecado no mundo, mas o pecado não é imputado, não havendo lei. No entanto, a morte reinou desde Adão até Moisés, até sobre aqueles que não tinham pecado à semelhança da transgressão de Adão, o qual é a figura daquele que havia de vir” (Romanos 5,13-14).
  • “E estas coisas [do Antigo Testamento] foram-nos feitas em figura, para que não cobicemos as coisas más, como eles cobiçaram” (1Coríntios 10,6).
  • “Os quais servem de exemplo e sombra das coisas celestiais, como Moisés divinamente foi avisado, estando já para acabar o tabernáculo; porque foi dito: ‘Olha, faze tudo conforme o modelo que no monte se te mostrou'” (Hebreus 8,5).
  • “Que é uma figura para o tempo presente, em que se oferecem dons e sacrifícios que, quanto à consciência, não podem aperfeiçoar aquele que faz o serviço” (Hebreus 9,9).
  • “Portanto, ninguém vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados, que são sombras das coisas futuras, mas o corpo é de Cristo” (Colossenses 2,16-17).
O NOVO TESTAMENTO É MELHOR E SUPERA O ANTIGO TESTAMENTO
  • “De sorte que, se a perfeição fosse pelo sacerdócio levítico (porque sob ele o povo recebeu a lei), que necessidade havia logo de que outro sacerdote se levantasse, segundo a ordem de Melquisedeque, e não fosse chamado segundo a ordem de Arão? Porque, mudando-se o sacerdócio, necessariamente se faz também mudança da lei. (…) Porque o precedente mandamento é abrogado por causa da sua fraqueza e inutilidade (pois a lei nenhuma coisa aperfeiçoou) e desta sorte é introduzida uma melhor esperança, pela qual chegamos a Deus” (Hebreus 7,11-19).
  • “Porque tendo a lei a sombra dos bens futuros, e não a imagem exata das coisas, nunca, pelos mesmos sacrifícios que continuamente se oferecem cada ano, pode aperfeiçoar os que a eles se chegam” (Hebreus 10,1).
  • “Provendo Deus alguma coisa melhor a nosso respeito, para que eles sem nós não fossem aperfeiçoados” (Hebreus 11,40).
O ANTIGO TESTAMENTO TERMINOU POR OCASIÃO DA MORTE DE CRISTO E ENTÃO INICIA O NOVO TESTAMENTO
  • “A lei e os profetas duraram até João; desde então é anunciado o reino de Deus, e todo o homem emprega força para entrar nele” (Lucas 16,16).
  • “Na sua carne desfez a inimizade, isto é, a lei dos mandamentos, que consistia em ordenanças, para criar em si mesmo dos dois um novo homem, fazendo a paz” (Efésios 2,15).
  • “Assim, meus irmãos, também vós estais mortos para a lei pelo corpo de Cristo, para que sejais de outro, daquele que ressuscitou dentre os mortos, a fim de que demos fruto para Deus” (Romanos 7,4).
  • “Porque o fim da lei é Cristo para justiça de todo aquele que crê” (Romanos 10,4).
Apesar de tudo o que vimos até aqui, as seitas afirmam que Jesus Cristo não anulou a lei do Antigo Testamento e tomam por referência o seguinte texto:
  • “Não cuideis que vim destruir a lei ou os profetas: não vim abrogar, mas cumprir. Porque em verdade vos digo que, até que o céu e a terra passem, nem um jota ou um til jamais passará da lei, sem que tudo seja cumprido. Qualquer, pois, que violar um destes mandamentos, por menor que seja, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no reino dos céus; aquele, porém, que os cumprir e ensinar será chamado grande no reino dos céus” (Mateus 5,17-19).
A LEI RITUAL E A LEI NATURAL OU MORAL
É importante saber que entre as leis que Deus entregou a Moisés existem dois tipos de leis: a lei cerimonial ou ritual; e a lei natural ou moral.
A lei cerimonial refere-se às leis que podem ser alteradas (como, p.ex., o sacrifício de animais) e rituais (como a proibição de se fazer imagens ou o dia de sábado), que não são necessárias para a salvação. Por isso podem ser alteradas.
A lei natural é a que sempre existiu, mesmo antes de Moisés, ainda que não tenha sido escrita (como [a proibição do] assassinato, adultério, incesto etc.). Sempre, em todo tempo e lugar, constitui um pecado; ou seja: a lei natural ou moral refere-se à conduta humana, indispensável para a salvação e, por isso, não altera nunca.
Jesus fala de não alterar a Lei e os Profetas, mas imediatamente começa a alterar os Mandamentos da Lei de Moisés:
  • “Ouvistes que foi dito aos antigos: ‘Não matarás’; mas qualquer que matar será réu de juízo. Eu, porém, vos digo que qualquer que, sem motivo, se encolerizar contra seu irmão, será réu de juízo; e qualquer que disser a seu irmão: ‘Raca’, será réu do sinédrio; e qualquer que lhe disser: ‘Louco’, será réu do fogo do inferno” (Mateus 5,21-22).
E assim continua até o final do capítulo 5 de Mateus, alterando a Lei de Moisés.
Jesus se contradisse? Claro que não! O que ocorre é que no Antigo Testamento a lei moral ainda é deficiente e deve ser aperfeiçoada, a fim de atualizá-la para o novo ambiente cultural cristão. Tanto é verdade, que o versículo 20 diz:
  • “Porque vos digo que, se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus, de modo nenhum entrareis no reino dos céus” (Mateus 5,20).
Os escribas e fariseus eram escrupulosos cumpridores da Lei de Moisés quanto ao cerimonial, mas não da lei natural ou moral. O próprio Jesus lançará na cara deles seu escrupuloso apego à lei ritual e seu total descumprimento da lei moral:
  • “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! pois que dizimais a hortelã, o endro e o cominho, e desprezais o mais importante da lei, o juízo, a misericórdia e a fé; deveis, porém, fazer estas coisas, e não omitir aquelas” (Mateus 23,23).
Outra passagem da Escritura que põe de manifesto a deficiência da Lei de Moisés no campo moral é esta:
  • “Então chegaram ao pé dele os fariseus, tentando-o, e dizendo-lhe: ‘É lícito ao homem repudiar sua mulher por qualquer motivo?’ Ele, porém, respondendo, disse-lhes: ‘Não tendes lido que aquele que os fez no princípio macho e fêmea os fez?’ E disse: ‘Portanto, deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão dois numa só carne?’ Assim não são mais dois, mas uma só carne. Portanto, o que Deus ajuntou não o separe o homem’. Disseram-lhe eles: ‘Então, por que mandou Moisés dar-lhe carta de divórcio, e repudiá-la?’ Disse-lhes ele: ‘Moisés, por causa da dureza dos vossos corações, vos permitiu repudiar vossas mulheres; mas ao princípio não foi assim'” (Mateus 19,3-8).
Como vemos, a lei natural ou moral é a mesma desde a criação do mundo. Cristo diz: “ao princípio não foi assim” – não pode alterar; mas a Lei de Moisés era imperfeita, como vimos ao longo deste artigo.
Se os protestantes insistem que a Lei de Moisés não foi cancelada por Jesus, por que eles não a cumprem? A Lei de Moisés estipula numerosos sacrifícios de animais e prescrições que não são em nada compatíveis com a lei do amor e da misericórdia do Novo Testamento; p.ex., a Lei de Moisés manda:
  • Apedrejar os idólatras, sectários e hereges: Deuteronômio 13,11; 17,5.
  • Apedrejar os filhos rebeldes: Deuteronômio 21,21.
  • Apedrejar os adúlteros: Deuteronômio 22,21.
  • Queimar os fornicadores: Gênesis 38,24; Levítico 21,9.
A lista seria interminável. Ademais, quem cumpre qualquer uma das leis de Moisés está obrigado a cumprí-la inteira, pois quem falha em um dos mandamentos da Lei peca contra toda a Lei:
  • “Todos aqueles, pois, que são das obras da lei estão debaixo da maldição; porque está escrito: ‘Maldito todo aquele que não permanecer em todas as coisas que estão escritas no livro da lei, para fazê-las'” (Gálatas 3,10).
  • “Porque qualquer que guardar toda a lei, e tropeçar em um só ponto, tornou-se culpado de todos. Porque aquele que disse: ‘Não cometerás adultério’, também disse: ‘Não matarás’. Se tu pois não cometeres adultério, mas matares, estás feito transgressor da lei” (Tiago 2,10-11).
Se os protestantes desejam cumprir a Lei do Antigo Testamento de qualquer jeito, devem cumprí-la por inteiro; mas qualquer pessoa pode ver que eles o dizem, mas não a cumprem. A contradição é a nota distintiva dos cristãos evangélicos e das demais seitas. Isto nos faz lembrar uma frase do Apóstolo São Paulo:
  • “Querendo ser mestres da lei, e não entendendo nem o que dizem nem o que afirmam” (1Timóteo 1,7).
Tudo isso significa que os católicos desprezam o Antigo Testamento? Absolutamente não! Ainda que as suas leis rituais já não estejam em vigor, é Palavra de Deus revelada ao homem e sem o Antigo Testamento não poderíamos compreender o Novo, como já dizia o grande Santo Agostinho:
  • “O Novo Testamento está oculto no Antigo e o Antigo nos é aberto no Novo”.
Sem o Antigo Testamento a Bíblia não estaria completa. Cristo cumpriu a Antiga Aliança ou Testamento e, ao cumprí-lo, começou uma Nova Aliança, já não apenas com os judeus, mas com toda a humanidade.
Os cristãos católicos não são judeus. São cristãos e não estão sob a Lei de Moisés.
Logo, não basta dizer: “Está na Bíblia”; deve-se ver em qual parte da Bíblia.
Antigo ou Novo Testamento? Novo Testamento!
Veritatis Splendor

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF