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terça-feira, 29 de setembro de 2020

SÃO RAFAEL ARCANJO

Arcanjos Miguel, Gabriel e Rafael 

Na Bíblia, há todo um livro que apresenta o Arcanjo Rafael como protagonista. Ele era companheiro de Tobias, o jovem filho de Tobit e Ana, encarregado, por seu pai, de realizar uma missão delicada: devia empreender uma dura viagem, não isenta de perigos.

O grande coração de Tobit

A história do Arcanjo Rafael é narrada no Livro de Tobias, na época da revolta dos Macabeus. Tobit, pai do menino, era um homem generoso, que se esforçou, durante o período da deportação assíria, para aliviar o sofrimento dos seus compatriotas; dividiu seus bens com os mais pobres, era pródigo nas esmolas e pagava pontualmente o dízimo, com o que ganhava das suas terras e do seu gado; sua piedade o levava a arcar até com o enterro de cadáveres abandonados. As vicissitudes da vida o fizeram, de repente, perder todos os bens e, depois de um gesto de caridade, até a visão. Naquelas alturas, Tobit pediu ajuda ao seu filho.

O viajante

O pai pediu ao jovem Tobias para ir a um lugar distante, para cobrar uma grande quantidade de dinheiro, que havia emprestado a um amigo, muito tempo atrás. O rapaz estava pronto para partir, mas, a pedido de Tobit, foi à busca de um guia para acompanhá-lo. Tobias encontrou, antes, um viajante, que conhecia bem aquela região, e partiu com ele. Durante uma parada no rio Tigre, um grande peixe atacou o jovem, que se assustou, mas, depois, encorajado pelo viajante - que era o arcanjo Rafael disfarçado – pegou o peixe, do qual, sempre por orientação do viajante, arrancou o coração, o fígado e a bílis do peixe e os colocou no alforje.

Sara

Quando estavam quase chegando ao destino final, o Arcanjo insistiu para que Tobias se hospedasse na família de alguns parentes, onde conheceu sua prima Sara, que a lei de Moisés lhe reservou como esposa. A jovem já estava comprometida com sete homens, todos assassinados no tálamo nupcial pelo demônio Asmodeus, por ciúme da jovem. Sara queria se matar de vergonha, para não causar mais tristeza à família, mas concordou em se casar com Tobias. A nova tentativa de Asmodeus foi derrotada pelo coração e o fígado do peixe, que o viajante sugeriu colocar em um braseiro, para que a fumaça afugentasse o demônio.

O segredo revelado

Depois do casamento, Tobias voltou para a casa paterna, sabendo como devia fazer para curar a cegueira do seu pai: pegou a bílis do peixe, que trazia em seu alforje, e a espalhou nos olhos de Tobit, devolvendo-lhe imediatamente a visão. Tobias quis recompensar o viajante por toda a sua ajuda. Mas, chamando de lado os dois, o viajante revelou a sua identidade. Explicou-lhes que, devido às orações e caridade do pai e do filho, ele havia sido enviado por Deus para curá-los e guiá-los. E falando de si mesmo, lhes disse: “Eu sou Rafael, um dos sete Anjos, sempre prontos para entrar na presença da majestade do Senhor”.
Esta história sagrada deu origem a um costume: na Idade Média, quando um adolescente ou um jovem saía de casa pela primeira vez, levava consigo uma tabuinha, que representava Tobias, acompanhado pelo Arcanjo.

Vatican News

segunda-feira, 28 de setembro de 2020

3 padres católicos premiados em 2019 – e que passaram em branco para a mídia

Divulgação / Redes Sociais

Seus esforços exemplares no serviço ao próximo por amor a Deus foram divulgados muito timidamente por poucos veículos de comunicação.

Em meio aos esforços de grande parte da mídia para explorar ao máximo e de modo parcial os escândalos de abusos sexuais perpetrados por criminosos estudantes em seminários ou mesmo já ordenados sacerdotes, vêm passando em brancas nuvens (por que será?) os muitos casos exemplares de religiosos e padres fiéis, dedicados e entregues cotidianamente à missão de servir ao próximo por amor a Deus.

Vamos recordar apenas três dos mais recentes, todos ocorridos neste ano e divulgados timidamente por poucos veículos de comunicação:

Franciscano é eleito o melhor professor do mundo

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Youtube - Khaleej Times

O irmão franciscano Peter Tabichi, do Quênia, foi eleito o melhor professor do mundo pelo ‘Global Teacher Prize‘ de 2019. O prêmio é oferecido pela Fundação Varkey, uma entidade que se dedica à melhoria da educação para crianças carentes. A cerimônia de premiação aconteceu em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. Além do troféu, o religioso franciscano, que concorreu com outros dez mil indicados de 179 países, recebeu US$ 1 milhão ( cerca de R$ 3,9 milhões). O dinheiro deverá ser aplicado em atividades educacionais.

“Todos os dias, na África, viramos uma página e começamos um novo capítulo. Hoje é outro dia. Este prêmio não é um reconhecimento a mim, mas aos jovens deste grande continente. Estou aqui somente por causa do que os meus alunos alcançaram. Este prêmio dá a eles uma oportunidade, diz ao mundo que tudo é possível. A África produzirá cientistas, engenheiros, empresários cujos nomes serão, um dia, conhecidos em todos os cantos do mundo”.

O sacerdote é professor de ciências na Escola Secundária Keriko Mixed Day, localizada em uma zona rural do Quênia, e doa 80% de sua renda mensal para ajudar aos alunos mais pobres a comprar uniformes e materiais escolares. Muitos desses estudantes percorrem mais de 6 quilômetros diariamente para chegar até a escola. Além disso, 95% dos alunos são provenientes de famílias pobres, quase um terço são órfãos ou têm apenas um dos pais e muitos não têm comida em casa.

As classes, que deveriam ter entre 35 e 40 alunos, chegam a ter o dobro de estudantes. Além disso, por lecionar em uma escola onde há apenas um computador e uma conexão precária de internet, o irmão Peter Tabichi é obrigado a ir até um café para baixar os materiais necessários para suas aulas.

Segundo dados oficiais, o trabalho do professor Tabichi fez, em três anos, a quantidade de matrículas dobrar e os casos de indisciplina caírem de 30 por semana para apenas três. Em 2017, apenas 16 dos 59 alunos ingressaram na faculdade, enquanto em 2018, 26 alunos foram para a universidade. 

Na cerimônia de premiação, que foi apresentada pelo astro do cinema australiano Hugh Jackman e contou com a presença do primeiro-ministro dos Emirados Árabes, o religioso fez questão de usar o hábito da Ordem Franciscana. A veste tem o cordão de três nós, que simbolizam a pobreza, a castidade e a obediência. 

Em 2018, um brasileiro ficou entre os 10 indicados ao prêmio de melhor professor do mundo. Clique aqui e conheça a história dele. 

Com informações de Gaudium Press

Padre-bombeiro entre os heróis do incêndio na Catedral de Nôtre-Dame

Capture

Em entrevista ao canal KTOTV, o pe. Jean-Marc Fournier, capelão principal dos bombeiros de Paris conta que estava de plantão no trágico dia 14 de abril de 2019, quando a Catedral de Nôtre-Dame ardeu em chamas. Foi ele que conseguiu entrar na catedral e salvar um dos maiores tesouros do cristianismo que lá estava. Os detalhes da ação corajosa do padre foram debatidos durante aula ao vivo do Padre Paulo Ricardo nas redes sociais. O sacerdote brasileiro traduziu a entrevista do padre francês:

“Eu sou Padre Fournier, capelão principal da Brigada de Bombeiros de Paris. E eu era o capelão plantão, neste 15 de abril, quando aconteceu um incêndio enorme na Catedral Nôtre-Dame de Paris. Eu fui imediatamente convocado. E, logo de início, ao chegar, me pareceu que duas coisas essenciais precisavam ser feitas. A primeira era salvar o tesouro inestimável da coroa de espinhos e em seguida, é claro, Jesus presente no Santíssimo Sacramento.

Ao entrarmos na Catedral, ela estava um pouco tomada pela fumaça. Ainda não havia calor. À nossa frente tínhamos uma espécie de visão daquilo que poderia ser o inferno. Ou seja, uma cascata de fogo que caia justamente das aberturas causadas, seja pela queda da [torre] ‘flecha’, como também por várias aberturas no coro dos monges.

Acompanhado por um oficial superior, a dificuldade para nós foi encontrar a pessoa que possuía o código que permitia abrir a caixa-forte na qual a santa relíquia era guardada. Isto custou-nos um certo tempo. E durante esta busca, esta espécie de caça ao código, uma equipe de bombeiros já estava trabalhando a fim de preservar as relíquias. Ou seja, tiveram de golpear o cofre das relíquias que, infelizmente foi estraçalhado. Quando então encontramos as chaves, chegamos às santas relíquias, de forma mais ou menos simultânea. Elas foram retiradas e guardadas no mesmo espaço das operações, mas debaixo da proteção das forças da ordem, ou seja, de funcionários do departamento de polícia. Então todos sabemos que a Santa Coroa é uma relíquia absolutamente única e extraordinária e que o Santíssimo Sacramento é Nosso Senhor realmente presente no seu corpo, sua alma, sua divindade, sua humanidade.

Vocês compreendem então que é bem delicado ver alguém a quem amamos perecer nas chamas. Assim, tendo sempre que acompanhar os bombeiros, nós vemos com frequência pessoas vítimas de incêndios e, por isso, conhecemos bem as consequências. É por isso que eu quis preservar incólume a presença real de Nosso Senhor Jesus Cristo.

(…) Quando o fogo começou a atingir a torre norte, e tivemos medo de perdê-la, foi no momento exato em que eu peguei o Santíssimo. Assim, eu não quis somente retirar Jesus, eu aproveitei para dar uma Bênção do Santíssimo. Então eu estava sozinho na Catedral, com este ambiente de chamas, de fogo e de coisas incandescentes que caiam do teto, e com esta bênção eu provoquei Jesus e pedi que nos ajudasse a preserva sua casa. Devemos crer que ele nos ouviu! E a manobra do general foi brilhante! As duas coisas provavelmente. Aconteceu então que não somente o fogo foi bloqueado, mas salvou-se a torre norte e com ela também a torre sul foi salva”.

Prêmio “Melhor cidadão da Índia” vai para um padre católico

Pe Vineeth George
Pe. Vineeth George / Facebook

A International Publishing House, editora especializada em textos biográficos, concedeu no último 16 de abril o prêmio “Melhor cidadão da Índia” ao pe. Vineeth George, sacerdote católico claretiano de 38 anos, em reconhecimento pelo seu trabalho pastoral junto à população carente do norte do país majoritariamente hinduísta.

Nascido em Hyderabad, o sacerdote ordenado em janeiro de 2014 tinha se formado na Loyola Academy, dirigida pelos jesuítas, mas conta, em entrevista à Asia News, que a sua vocação

“é um dom nascido na minha infância. Sempre pensei em usar os talentos que Deus me deu para o benefício da Igreja”.

Graduado pela Universidade Jain Deemed e pós-graduado no Matrusri Institute, o jovem Vineeth George trabalhou na Dell Computer Corporation e na General Electric, além de ter sido subdiretor do jornal Deccan Chronicle e funcionário do Ministério de Energia da Índia.

“Eu era muito admirado pelo meu profissionalismo”.

No entanto, a excelente carreira que tinha pela frente não o satisfazia. Vineeth deixou tudo e entrou no seminário.

“Por graça de Deus, ainda sendo apenas seminarista, em 2006, os meus superiores me colocaram para ensinar administração no St. Claret College. Um ano depois da minha ordenação, fui nomeado vice-diretor do colégio e fiquei no cargo até dezembro de 2018. Desde janeiro estou fazendo doutorado em comportamento organizacional no Indian Institute of Technology de Hyderabad, um dos centros de ensino superior mais reconhecidos do país”.

No seu serviço à população carente, o pe. Vineeth George também foi professor num centro de capacitação profissional na periferia de Deli. Ele conta:

“A escola fica numa área onde só moram hindus, onde não há presença cristã. O centro recebe 30 jovens que abandonaram os estudos: as mulheres fazem cursos de estética e os homens estudam para serem eletricistas e encanadores”.

Após a ordenação, ele também assumiu uma paróquia:

“Fui vigário paroquial da igreja de São Pedro, na diocese de Daltonganj. Lá ensinei inglês para as crianças tribais que frequentavam a escola ao lado da paróquia”.

Além de prosseguir o doutorado, o sacerdote está à frente de atividades pastorais nas dioceses de Hyderabad e Shamshabad.

Com informações das agências Asia News e ACI Digital.

Aleteia

TEOLOGIA: A Catolicidade da Igreja (Parte 5/8)

Geoege Florovsky | ECCLESIA

A Catolicidade da Igreja

Trad.: Pe. Pedro Oliveira Junior

6. A inadequação do cânon vincentino

A bem conhecida fórmula de Vincente de Lerins é inexata, quando descreve a natureza católica da vida da Igreja nas palavras, Quod ubique, quod semper, quod ab omnibus creditum est. [O que foi acreditado em todo lugar, sempre e por todos]. Primeiro, não é claro se esse é um critério empírico ou não. E se é assim, então o "cânon vicentino" prova ser inaplicável e bastante falso. Pois a respeito de que omnes ele está falando? É uma exigência para um questionamento geral, universal de todos os fiéis, até mesmo daqueles que só se julgam fiéis? De qualquer modo, todos os fracos e pobres na fé, todos aqueles que duvidam e hesitam, todos aqueles que se rebelam, devem naturalmente ser excluídos. Mas o "cânon vicentino" não nos dá critério, pelo qual distinguir e selecionar. Muitas disputas são levantadas acerca da fé, ainda mais acerca de dogmas. Como, então, devemos entender omnes? Não estaríamos nós provando ser apressados se nos decidíssemos deixar todos os pontos duvidosos para serem decididos pela "liberdade" - in dubiis libertas - de acordo com a velha fórmula bem conhecida erroneamente atribuída a Santo Agostinho? Na verdade não há necessidade de questionamento universal. Muito freqüentemente, a medida da verdade é o testemunho de uma minoria. Pode acontecer que a Igreja Católica venha a se encontrar como um "pequeno rebanho." Talvez existam mais heterodoxos do que ortodoxos em mente. Pode acontecer que os heréticos espalhados por todos lugares, ubique, façam com que a Igreja seja relegada para segundo plano na História, que ela venha a se retirar para o deserto. Na História mais de uma vez, esse foi o caso, e muito possivelmente pode acontecer que mais uma vez seja assim. Falando estritamente, o "cânon vicentino" é alguma coisa de tautológico (redundante). A palavra omnes deve ser entendida como se referindo àqueles que são ortodoxos. Nesse caso o critério perde seu significado. Idem é definido per idem. E, de que eternidade e, de que onipresença essa regra fala? Para que relacionar semper com ubique? É à experiência de fé ou à definição de fé que ela se refere? Se é o segundo caso, então o "cânon vicentino" se torna uma fórmula perigosamente minimizante. Pois nenhuma das definições dogmáticas satisfaz estritamente a demanda de semper e ubique.

Será então necessário limitarmo-nos à letra morta dos escritos Apostólicos? Parece que o "cânon vicentino" é um postulado de simplificação histórica, de um nocivo primitivismo. Isso significa que não devemos procurar por critérios externos e formais de catolicidade; não devemos dissecar catolicidade em universalidade empírica. A tradição carismática é verdadeiramente universal. Em sua plenitude ela engloba todos os tipos de semper e ubique e une todos. Mas empiricamente ela pode não ser aceita por todos. De qualquer maneira não devemos tentar provar a verdade do cristianismo por meio de "consenso universal," per consensum omnium. Em geral, nenhum consensus prova a verdade. Esse seria um caso de agudo psicologismo e, em teologia, há ainda menos espaço para ele do que em filo. Ao contrário, verdade é a medida pela qual podemos avaliar o valor da "opinião geral." A experiência católica pode ser expressa mesmo por poucos, mesmo por confessores individuais da fé. Isso é suficiente. Falando estritamente, para sermos capazes de reconhecer e expressar a verdade católica, nós não precisamos de assembléia ecumênica, universal e voto; nem mesmo precisamos de um "Concílio Ecumênico." A sagrada dignidade dos concílios não esteve no número de membros representando suas igrejas. Um grande concílio "geral" pode acabar provando ser um "concílio de ladrões" (latrocinium), ou mesmo de apóstatas. E a ecclesia sparsa freqüentemente condena esse "concílio geral," por estar convencida de sua nulidade, com uma silenciosa oposição. Numerus Episcoporum não resolve a questão. Os métodos históricos e práticos de reconhecer Tradição sagrada e católica podem ser muitos; o de um Concílio Ecumênico é somente e nada mais do que um deles. Isso não significa que é desnecessário convocar concílios e conferências. Mas pode acontecer que durante o concílio a verdade venha a ser expressada pela minoria. E o que é mais importante: A verdade pode ser revelada mesmo sem um concílio. As opiniões dos padres e dos doutores ecumênicos da Igreja, freqüentemente tem maior valor espiritual e finalidade que as definições de certos concílios. E essas opiniões não necessitam serem verificadas e aceitas por "consenso universal." Ao contrário, são eles próprios que são o critério, e são eles que podem aprovar. É isso que a Igreja testifica em silencioso receptio. O valor decisivo reside na catolicidade interna e não em universalidade empírica. As opiniões dos padres são aceitas, não como uma sujeição formal a uma autoridade externa, mas por causa da evidência interna da verdade católica. O corpo todo da Igreja tem o direito de verificar e, para ser mais exato, o direito, e não só o direito mas o dever de certificar. Foi nesse sentido que, na bem conhecida carta e Encíclica de 1848 os patriarcas orientais escreveram que "o próprio povo" (λαος, laós), isto é, o Corpo da Igreja, "era o guardião da piedade" (υπερασπιοτης της Θρησκειας). E ainda antes disso o metropolita Philaret disse essa mesma coisa no seu catecismo. Em resposta à questão: "Existe um verdadeiro tesouro da sagrada Tradição?" ele diz: "todos os fiéis, unidos pela sagrada Tradição da fé, todos juntos e sucessivamente, são constituídos por Deus em uma Igreja, que é o verdadeiro tesouro da sagrada Tradição, ou para citar as palavras de São Paulo, "A Igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade" (1 Tm 3:15).

A convicção da Igreja Ortodoxa de que o "guardião" da Tradição e piedade é o povo todo, isto é, o Corpo de Cristo, de forma alguma diminui ou limita o poder de ensinar dado à hierarquia. Isso só significa que o poder de ensinar dado à hierarquia é uma das funções da plenitude católica da Igreja; é o poder de testemunhar, de expressar e de falar da fé e da experiência da Igreja, que foi preservado no corpo todo. O ensinamento da hierarquia é, como foi, a boca da Igreja. De omnium fideli ore pendeamus, quia in omnem fidelem Spiritus Dei Spirat. [Nós dependemos da palavra de todos os fiéis, porque o Espírito de Deus assopra em cada um dos fiéis. São Paulino Nolan, epístola 23, 25, M.L. 61 col. 281]. Só para a hierarquia foi dado o ensinar "com autoridade." A hierarquia recebeu esse poder de ensinar, não do povo da Igreja, mas do Sumo Sacerdote, Jesus Cristo, no sacramento da Ordem. Mas esse ensinamento encontra seus limites na expressão do todo da Igreja. A Igreja é chamada a testemunhar essa experiência, que é uma experiência inexaurível, uma visão espiritual. Um bispo da Igreja, episcopus in ecclesia, deve ser um mestre. Só o bispo recebeu plenos poderes e autoridade para falar em nome do seu rebanho. Esse recebe o direito de falar através do bispo. Mas para fazer isso o bispo deve conter a Igreja em si; ele deve tornar manifesta sua experiência e sua fé. Ele deve falar não de si mesmo, mas em nome da Igreja, ex consensu ecclesiae. Isto é justamente o contrário da fórmula do Vaticano: ex sese, non autem ex consensu ecclesiae. [De si próprio, mas não do consenso da Igreja].

Não é do seu rebanho que o bispo recebe o pleno poder para ensinar, mas de Cristo através da sucessão apostólica. Mas o pleno poder foi dado a ele para sustentar o testemunho da experiência católica do corpo da Igreja. Ele é limitado por essa experiência e, portanto, em questões de fé, o povo deve julgar da acordo com o ensinamento dele. O dever de obediência cessa quando o bispo desvia-se da norma católica e o povo tem o direito de acusá-lo e até mesmo depô-lo. (Para alguns detalhes a mais, ver meus artigos: "The Work of the Holy Spirit in Revelation," The Christian East, 5.13, No. 2, 1932, e o "The Sacrament of Pentecost," The Journal of the Fellowship of St Alban e St. Sergius, No 23, Março de 1934).

Ecclesia

Trump nomeia mãe católica Amy Coney Barrett como juíza da Suprema Corte

Amy Coney Barrett e o presidente de Estados Unidos, Donald Trump.
Crédito: Captura de vídeo / The White House.

WASHINGTON DC, 28 set. 20 / 08:51 am (ACI).- O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, apresentou oficialmente Amy Coney Barrett como sua indicada na tarde de sábado, 26 de setembro, para preencher a vaga na Suprema Corte deixada pela morte da juíza Ruth Bader Ginsburg.

Trump apresentou Coney Barrett em uma entrevista coletiva no Jardim das Rosas da Casa Branca. Agora, o comitê judicial do Senado deve programar audiências para a votação na Câmara Alta, que poderia ser realizada no final de outubro.

Ao anunciar a nomeação de Amy Coney Barrett, o Presidente dos Estados Unidos lembrou que "esta é minha terceira nomeação" para juízes da Suprema Corte. "Hoje é uma honra indicar uma de nossas mentes jurídicas mais brilhantes e talentosas".

Trump assegurou que Coney Barrett é "uma mulher de realizações incomparáveis, intelecto imponente, excelentes credenciais e lealdade inabalável à Constituição", assim como "eminentemente qualificada" para a Suprema Corte.

Por sua vez, a indicada à Suprema Corte disse que se sentia "profundamente honrada" com a decisão de Trump. "Prometo cumprir as responsabilidades deste trabalho com o melhor de minhas habilidades", acrescentou.

Barret nasceu em Nova Orleans e cresceu como a mais velha de sete irmãos, formou-se no Rhodes College e, depois, recebeu uma bolsa integral para a Faculdade de Direito Notre Dame, onde se formou como a melhor de sua turma.

Foi assistente jurídico do juiz Laurence Silberman e do falecido juiz da Suprema Corte, Antonin Scalia. Depois, dedicou-se a exercer sua profissão de forma privada. Em 2002, voltou para a Faculdade de Direito de Notre Dame para lecionar e em 2010 tornou-se professora.

A juíza elogiou Antonin Scalia como mentor intelectual e também por sua dedicação ao textualismo, que defende que a Constituição deveria ser interpretada no contexto no qual foi escrita.

Em um evento realizado em novembro de 2016, em Jacksonville, referindo-se a uma vaga anterior na Suprema Corte, Barrett disse que Scalia “resistiu à ideia de que a Suprema Corte deveria estar no negócio de impor seus pontos de vista de costumes sociais sobre o povo norte-americano", e que achava que deveria depender “do povo decidir” coisas na Constituição que não estavam explicitamente proibidas ou permitidas”.

A escolha de Coney Barrett foi muito aguardada, com muitos meios de comunicação assinalando-a como a principal candidata à indicação. Já havia enfrentado críticas de alguns meios de comunicação por causa de sua fé católica.

Durante sua audiência de nomeação em 2017 para o Tribunal de Apelações do Sétimo Circuito, a senadora Dianne Feinstein, do Partido Democrata, questionou Coney Barrett sobre seus valores pessoais e fé, dizendo que “quando lemos seus discursos, a conclusão à qual chegamos é que o dogma vive fortemente em você. E isso é algo preocupante”.

Pouco mais de duas semanas depois de Barrett ter sido confirmada no Tribunal de Apelações do Sétimo Circuito, foi adicionada à lista de possíveis candidatos à Suprema Corte do presidente Donald Trump, e houve rumores de que seria uma das finalistas para substituir o juiz Anthony Kennedy, que se aposentou do cargo em 2018.

Coney Barrett e seu marido têm sete filhos, incluindo dois haitianos adotivos. Em uma entrevista em um evento de ex-alunos da Notre Dame, em Washington, D.C., a juíza disse que criar os filhos é “onde você deve ter o seu maior impacto no mundo” e que ela não poderia imaginar nada maior.

Em meio a um renovado escrutínio da vida pessoal e da fé de Coney Barrett, e enfrentando um difícil processo de confirmação de sua nomeação, Robert George, professor da Universidade de Princeton, alertou para as críticas anticatólicas usadas contra a juíza.

“Era de se esperar que, tendo se envergonhado de si mesmos da última vez depois de atirar sua lança contra a juíza Barrett para atacar sua religião, desta vez tivessem mais cuidado para expor seu preconceito em público. Mas não", disse no Twitter.

Durante as audiências de confirmação, a relação de Coney Barrett com a organização leiga People of Praise (Povo do Louvor) também foi questionada.

Os meios de comunicação qualificaram People of Praise como um "culto" e criticaram a organização por uma prática, modificada desde então, que consistia em chamar líderes de "cabeças" e "donzelas", que são referências a passagens bíblicas.

Mas o grupo é uma expressão comum do desejo cristão de comunidade e santidade, e não um motivo de preocupação, disse Dom Peter Smith, membro da organização, à CNA, agência em inglês do Grupo ACI.

People of Praise foi fundada em 1971 como parte de um “grande surgimento de ministérios e movimentos leigos na Igreja Católica” após o Concílio Vaticano II. O grupo começou com 29 membros que formaram uma aliança ou acordo, não um juramento, de seguir princípios comuns, como dar cinco por cento da renda anual ao grupo e se reunir regularmente para projetos espirituais, sociais e de serviço.

As comunidades da aliança, protestantes e católicas, surgiram na década de 1970 como parte do movimento da Renovação Carismática do Cristianismo nos Estados Unidos.

Publicado originalmente em ACI Prensa. Traduzido e adaptado por Nathália Queiroz.

ACI Digital

SS. LOURENÇO E COMPANHEIROS, MÁRTIRES

SS. Lourenço e Companheiros | Vatican News

Transcorria o século XVII. As missões no Sudeste asiático, sobretudo nas ilhas do Japão, Filipinas e Taiwan – que se chamava Formosa - eram confiadas aos Dominicanos. Estes sacerdotes da Ordem dos Pregadores contribuíram para a difusão da Palavra de Deus naquelas terras, dando admirável testemunho da universalidade da fé cristã e confirmando o anúncio do Evangelho com o sacrifício da própria vida.

Edito contra os cristãos

O Cristianismo, inicialmente tolerado nos países do Extremo Oriente, começou a ser considerado uma ameaça por se difundir, rapidamente, graças à obra dos missionários, que conseguiam numerosas conversões. Assim, em 28 de fevereiro de 1633, o xogum, Tokagawa Yemitsu – chefe militar supremo da nação – estabeleceu, com um decreto, que todos os fiéis da nova religião, inclusive os estrangeiros, fossem perseguidos e encarcerados na prisão de Omura. Não era a primeira vez que se tomava uma decisão deste tipo no Japão: a primeira onda de perseguições, que ceifou a vida de cerca de duzentos mártires, ocorreu entre 1617 e 1632.

Lourenço Ruiz, mártir por amor de Cristo

Lourenço nasceu em Binondo, distrito da cidade de Manila, capital do arquipélago filipino, e logo abraçou a fé cristã. Casado e pai de família, uniu-se a um grupo de missionários Dominicanos da Província de Santo Rosário, que compreende as Filipinas. Com eles, exerceu o seu apostolado em vários países asiáticos, como Taiwan e Japão. Lourenço foi vítima das perseguições anticristãs em terras nipônicas, onde foi martirizado em 29 de setembro de 1637.

Quinze Companheiros mártires

Os 15 Companheiros mártires de Lourenço Ruiz, todos vinculados, de alguma forma, à Ordem Dominicana, formavam um grupo de nove japoneses, quatro espanhóis, um francês e um italiano: Domingos Ibañez de Erquicia Péerez de Lete, sacerdote; Francisco Shoyemon, noviço; Tiago Kyuhei Gorobioye Tomonaga, sacerdote; Lucas Alonso Gorda, sacerdote; Mateus Kohioye, noviço; Madalena de Nagasaki, Terciária dominicana e Agostiniana; Marina de Omura, Terciária dominicana; Jacinto Giordano Ansalone, sacerdote; Thomas Hioji Kokuzayemon Nishi, sacerdote; Antônio Gonzalez, sacerdote; Guilherme Courtet, sacerdote: Michele Lèibar Garay de Aozarara, sacerdote; Vicente Shiwozuka, sacerdote; Lázaro de Kyoto, leigo.

Vatican News

domingo, 27 de setembro de 2020

Lições sobre alegria de um santo que tinha tudo para não ser feliz

Th. Fink Veringen CC BY-SA 4.0
por Philip Koskoski

Hermano de Reichenau tinha fenda palatina, paralisia cerebral e espinha bífida, mas era o monge mais alegre do mosteiro.

A saúde física é algo tão valorizado na sociedade moderna que quando ficamos doentes ou gravemente incapacitados, é tentador desistir da vida. Podemos ser tentados a crescer em desespero e lamentar a perda de nossas habilidades físicas.

Por um motivo semelhante, muitas crianças diagnosticadas com deficiências são tristemente ignoradas e vistas por muitos como um erro.

No entanto, um santo nos mostra que nossa saúde física não deve ditar nossa saúde espiritual e que ainda podemos manter a alegria em meio ao nosso sofrimento.

Hermano de Reichenau “o aleijado”, viveu no século 11 e parecia destinado ao fracasso. O periódico periódico The Month, do início do século 20, abordou o início da vida dele:

“Seu filho Herman era terrivelmente aleijado e, na verdade, deformado, diz seu amigo e biógrafo, Berthold … Pois os membros do menino eram tão horrivelmente contorcidos que ele não conseguia se mover de um lugar para outro; mal conseguia sentar-se, até mesmo na cadeira que eles fizeram para ele; até seus dedos eram fracos e cheios de nós para escrever; até mesmo sua boca, ao que parece, era deformada, e seus lábios e sua língua formavam palavras que mal podiam ser entendidas.

Naquela época, era comum que crianças deficientes fossem abandonadas na montanha até a morte. No entanto, os pais de Hermano não desistiram dele e o confiaram a um mosteiro próximo. É notável que os monges o aceitaram e foram extremamente pacientes com ele, ensinando-lhe as profundezas da religião, ciência e matemática.

Contra todas as probabilidades, Herman tornou-se um estudioso. Além disso, ele era o monge mais feliz do mosteiro!

“Este homem, incapaz de andar, sentar-se, mentir corretamente; que nunca em sua vida pode ter se sentido confortável; ansioso para escrever, e com dedos que mal o serviam; cheio de ideias e tendo que gaguejá-las por meio de sons quase invisíveis, Hermano junta em torno de si todos os adjetivos que você menos espera.”

O exemplo de Hermano nos mostra claramente que a alegria nunca deve ser baseada no bem-estar físico. Podemos (e devemos) ser alegres tanto nos momentos bons quanto nos maus, na doença e na saúde.

A alegria de Hermano baseava-se exclusivamente em Jesus Cristo, e ele era feliz por estar vivo! A vida, para Hermano, era uma dádiva, e ele viveu feliz seus anos na terra.

Essa alegria foi expressa até em alguns dos hinos mais populares da Igreja Católica. Diz-se que Hermano compôs os hinos: “Salve Regina”, “Veni Sancte Spiritus” e “Alma Redemptoris Mater”.

A vida de Hermano é verdadeiramente notável, e sua história precisa ser ouvida em nosso mundo moderno, em que precisamos de uma alegria verdadeira e duradoura.

Aleteia

Início da Carta aos filipenses, de São Policarpo, bispo e mártir

Cléofas Editora

(Proêmio;nn.1,1-2,3: Funk 1,267-269)                  (Séc.I)

 

Por graça fostes salvos

Policarpo com seus presbíteros à Igreja de Deus que peregrina em Filipos: sejam copiosas em vós a misericórdia e a paz do Deus onipotente e de Jesus Cristo, nosso Salvador. 

Muitíssimo me alegrei convosco, em nosso Senhor Jesus Cristo, porque adquiristes as feições da verdadeira caridade, e, como convinha, assististes os que estão presos em cadeias, coroas dignas dos santos, dos verdadeiros eleitos de Deus e de nosso Senhor. E porque a sólida raiz de vossa fé, já proclamada desde os primeiros tempos, permanece até hoje e produz frutos em nosso Senhor Jesus Cristo. É ele quem por nossos pecados aceitou ir até à morte, a quem Deus ressuscitou, destruindo as dores do inferno (At 2,24); e embora sem tê-lo visto, nele credes com alegria inexprimível e cheia de glória (cf. 1Pd 1,8). Esta alegria na qual muitos desejam entrar, cientes de que por graça fostes salvos, não pelas obras (cf. Ef 2,8-9), mas por vontade de Deus mediante Jesus Cristo. 

Por isto, de rins cingidos (1Pd 1,13), servi a Deus no temor (Sl 2,11) e na verdade, abandonando toda palavra vã e erro vulgar. Tendo fé naquele que ressuscitou dos mortos a nosso Senhor Jesus Cristo (1Pd 1,21) e lhe deu a glória e o trono à sua direita. É ele a quem todas as coisas celestes e terrestres se submetem, todo espírito serve e que virá como juiz dos vivos e dos mortos. Deus reclamará seu sangue daqueles que não creem nele. 

Em verdade, quem o ressuscitou dos mortos também nos ressuscitará, se fizermos sua vontade, andarmos segundo seus preceitos e amarmos aquilo que ele amou. Se evitarmos toda injustiça, fraude, avareza, difamação, falso testemunho; se não pagarmos o mal com o mal nem a maldição com a maldição (1Pd 3,9) nem o golpe com outro nem o ódio com o ódio. Bem lembrados dos ensinamentos do Senhor: Não julgueis e não sereis julgados; perdoai e sereis perdoados; tende misericórdia para alcançardes a misericórdia; com a mesma medida com que medirdes sereis medidos (cf. Mt 7,1; Lc 6,36-38); e: Bem-aventurados os pobres e os que sofrem perseguição porque deles é o reino de Deus (cf. Mt 5,3.10).

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Por que é importante que os filhos também abençoem os pais?

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Os pais desenham uma cruz na testa de seus filhos para invocar a bênção do Senhor. No entanto, este gesto não é reservado apenas aos pais, os filhos também têm o direito de abençoar os mais velhos.

Muitos pais adotaram esta bela prática que consiste em abençoar seus filhos com o sinal da cruz desenhado em suas testas. O coração abriga muitas coisas neste momento: um ato de amor e carinho, o desejo de proteção do Céu, a inquietação silenciosa que atravessa o coração de cada pai e mãe. Mas também a oferenda daquele filho que não nos pertence e que deixamos nas mãos de Deus; o apego e o desapego parecem focar nesse simples gesto feito com o polegar.

Um gesto que acalma

A criança que se submete a este ritual não compreende totalmente o conteúdo do gesto, mas sempre sente seu amor. Nos momentos mais ingratos e duros, quando a relação é mais tensa, esse gesto pode ficar mais ausente, mas o filho mais velho vai perceber a falta daquela cruz desenhada na testa.

Se esse gesto é feito com pouca frequência, haverá ocasiões que permitirão que esta breve e doce bênção floresça novamente, a qual terá então a capacidade de acalmar a alma. Um aniversário, uma solenidade do calendário litúrgico, um acontecimento alegre ou doloroso partilhado pela família, oferecerá a este gesto todo o seu sabor e densidade. “Em nome do Senhor, continuo amando-te, embora você tenha se afastado de nós – o que é normal, em suma – e Dele – o que é menos normal”.

O dia em que nossos filhos nos abençoarão

Mas chega um dia em que a situação pode virar. Quando envelhecermos, serão nossos filhos que nos carregarão, que nos lavarão, nos alimentarão, nos tranquilizarão diante da morte. Eles também poderão nos abençoar e espalhar esse bálsamo e aquele frescor sobre nossa alma. A primeira vez que um filho abençoa seus pais pode ser no dia da crisma. Como Eliseo, que recebe de seu pai Elias a plena participação em sua graça, podemos pedir-lhes que compartilhem conosco o favor que receberam e que expressem com este gesto que a comunhão dos santos não é algo virtual.

Como padre, todos os dias dou as bênçãos a todas às crianças e jovens da congregação e às almas que Deus me confia. Gosto de reivindicar esta cruz na testa daqueles que finalmente são cristãos “completos” e consumados. Eles se tornam seres frutíferos na fé. Até agora eles tinham tudo para ser isso, mas faltava o toque final. E a primeira fecundidade que lhes podemos pedir é que nos abençoem, que abençoem seus pais e mães, seus irmãos e irmãs, os mesmos fiéis que assistiram ao acontecimento e, porque não, o próprio bispo que deu a crisma à eles.

Abade Vincent de Mello

Aleteia

TEOLOGIA: A Catolicidade da Igreja (Parte 4/8)

George Florovsky | ECCLESIA

A Catolicidade da Igreja

Trad.: Pe. Pedro Oliveira Junior

5. O sagrado e o histórico

A Igreja é a unidade da vida carismática. A fonte dessa unidade está encoberta no sacramento da Ultima Ceia do Senhor e no sacramento de Pentecostes, essa descida única do Espírito Santo no mundo. Por isso a Igreja é uma Igreja apostólica. Ela foi criada e selada pelo Espírito Santo nos doze apóstolos, e a sucessão apostólica é uma viva e misteriosa costura unindo o todo da histórica plenitude da vida da Igreja no todo católico. Aqui, de novo, nós vemos dois lados: o lado objetivo é a ininterrupta sucessão sacramental, a continuidade da hierarquia. O Espírito Santo não desceu sobre a terra de novo e de novo, mas habita na Igreja "visível" e histórica. E, é na Igreja que Ele sopra e envia seus raios. Aí está a plenitude e catolicidade do Pentecostes. O lado subjetivo é lealdade à Tradição apostólica: uma vida consumida de acordo com essa Tradição, como num vivo reino da verdade. Essa é a demanda fundamental ou postulado do pensamento ortodoxo; e aqui, mais uma vez, essa demanda inclui a negação do separatismo individualista; ela insiste na catolicidade. A natureza católica da Igreja é vista mais vividamente no fato de que a experiência da Igreja pertence a todos os tempos. Na vida e existência da Igreja o tempo é misteriosamente suplantado e dominado, o tempo, por assim dizer, fica parado. Ele fica parado não só porque existe o poder da memória ou da imaginação, que podem "voar sobre a dupla barreira de tempo e espaço"; ele fica parado por conta do poder da Graça, que junta em unidade católica de vida aquilo que tornou-se separado pelos muros constituídos no correr dos tempos. Unidade no Espírito Santo engloba, numa maneira misteriosa de conquista do tempo, os fiéis de todas as gerações.

Essa unidade conquistadora do tempo é manifestada e revelada na experiência da Igreja, especialmente em sua experiência eucarística. A Igreja é a viva imagem da eternidade no tempo. A experiência e vida da Igreja não são interrompidas ou quebradas pelo tempo. Isso também não é só por causa da continuidade do jorro de graça supra-pessoal, mas pela inclusão de tudo o que foi, na misteriosa plenitude do presente. Por isso, a história da Igreja nos dá não só as sucessivas mudanças, mas também identidade. Nesse sentido, Comunhão com os Cantos é uma conamunio sanctorum. A Igreja sabe que é uma unidade de todos os tempos e, como tal, ela constrói a sua vida. Por isso a Igreja pensa no passado não como em algo que não é mais, mas como algo que foi cumprido, realizado, como algo existente na plenitude católica do uno Corpo de Cristo. A Tradição reflete essa vitória sobre o tempo. Aprender da Tradição, ou ainda melhor, na Tradição, é aprender da plenitude dessa experiência conquistadora do tempo da Igreja, uma experiência que todo membro da Igreja deve aprender a conhecer e possuir de acordo com a estatura de sua humanidade espiritual; de acordo com a medida do seu desenvolvimento católico. Isso significa que podemos aprender da História assim como podemos aprender da Revelação. Lealdade à Tradição não significa lealdade a tempos passados e a autoridade externa; é uma conexão viva com a plenitude da experiência da Igreja. Referência à Tradição não é uma investigação do passado. A Tradição náo é limitada à arqueologia da Igreja e, não é um testemunho externo que pode ser aceito por alguém de fora. Só a Igreja é a testemunha viva da Tradição; e só de dentro da Igreja é que a Tradição pode ser sentida e aceita como uma certeza. A Tradição é a testemunha do Espírito Santo; a revelação incessante e a pregação de boas coisas pelo Espírito Santo. Para os membros vivos da Igreja não há autoridade histórica externa, mas sim a eterna e contínua voz de Deus - não só a voz do passado, mas a voz da eternidade. A fé procura suas bases, não meramente no exemplo e legado do passado, mas na Graça do Espírito Santo, testemunhando eternamente, agora e sempre, mundo sem fim.

Como Khomyakov admiravelmente coloca, "Nem indivíduos, nem uma multidão de indivíduos dentro da Igreja preserva a Tradição ou escreve as Escrituras, mas o Espírito de Deus que vive no todo do corpo da Igreja (Rússia e a Igreja Inglesa, p. 198). "Concordância com o passado" é só conseqüência da lealdade para com o todo; é simplesmente a expressão da constância da experiência católica no meio dos tempos mutáveis. Para aceitar e compreender a Tradição devemos viver no interior da Igreja, estar conscientes da presença doadora de Graça do Senhor e sentir o sopro do Espírito Santo nela. devemos, na verdade, dizer que quando aceitamos a Tradição, aceitamos, na fé, nosso Senhor que habita no meio dos fiéis; pois a Igreja é seu corpo que não pode ser separado d'Ele. Eis porque lealdade à Tradição significa não só concordância com o passado mas, num certo sentido, libertação do passado, como de algum critério formal exterior.

Tradição não é só um princípio protetor e conservativo; ela é, primariamente, o princípio de crescimento e de regeneração. Tradição não é um princípio empenhado em restaurar o passado, usando o passado como critério para o presente. Tal concepção de Tradição é rejeitada pela própria História e pela consciência da Igreja. Tradição é autoridade para ensinar, potestas magisterii, autoridade para ouvir testemunhos da verdade. A Igreja sustenta o testemunho da verdade não por reminiscência ou pelas palavras dos outros, mas por seu próprio viver, experiência incessante, por sua plenitude católica ... Nisso consiste aquela "Tradição da verdade," traditio veritatis, a respeito da qual Santo Irineu falou. (Adv. Haeres, i. 10, 2) Para ele, a Tradição está ligada com a "verdadeira unção da verdade," charisma veritatis certum" (Ibid, 4. 26,2), e o "ensinamento dos apóstolos" era, para ele, não tanto um exemplo imutável a ser repetido ou imitado, mas uma fonte de vida e inspiração, eternamente viva e inexaurível . A Tradição é a morada constante do Espírito Santo e não só a memória de palavras. A Tradição é um princípio "carismático," não um princípio histórico.

É falso limitar as "fontes de ensinamento" somente às Escrituras e à Tradição e separar Tradição das Escrituras como sendo aquela apenas um testemunho oral ou ensinamento dos apóstolos. Em primeiro lugar, tanto as Escrituras como Tradição foram dadas somente no interior da Igreja. Só na Igreja elas foram recebidas na plenitude de seu sagrado valor e significado. Nelas está contida a verdade da divina Revelação, uma verdade que vive na Igreja. Essa experiência da Igreja não se exaure nem nas Escrituras nem na Tradição, mas nelas se reflete. Por isso, somente na Igreja as Escrituras vivem e se tornam vivificadas, somente dentro da Igreja elas são reveladas como um todo e não partida em textos separados, mandamentos separados e aforismos separados. Isso significa que as Escrituras foram dadas em Tradição, mas não no sentido de que elas só podem ser entendidas de acordo com os ditames da Tradição, ou que são o registro escrito da tradição histórica ou do ensinamento oral. As Escrituras precisam ser explicadas. Elas são reveladas na teologia. Isso só é possível através da experiência viva da Igreja.

Não podemos assegurar que as Escrituras são auto-suficientes; e isso, não porque elas sejam incompletas ou inexatas ou tenham qualquer defeito, mas porque as Escrituras, em sua essência, não clamam por sua auto-suficiência. Podemos dizer que as Escrituras são um esquema ou imagem (eikón), inspirados por Deus, da verdade, mas não a própria Verdade. Estranho o que vai se dizer mas, freqüentemente, limitamos a liberdade da Igreja como um todo em favor da liberdade dos cristãos individuais. Em nome da liberdade individual a liberdade católica, ecumênica da Igreja, é negada e limitada. A liberdade da Igreja é algemada por um abstrato padrão bíblico para libertar as consciências individuais das demandas espirituais forçadas pela experiência da Igreja. Isso é uma negação da catolicidade, uma destruição da consciência católica; esse é o pecado da Reforma. O Deão Inge diz polidamente dos reformadores: "seu credo foi descrito como um retorno ao evangelho com o espírito do Corão" (Rvdo. W. R. Inge, The Platonic Tradition in English Religious Thought, 1926, p. 27).

Se declaramos ser as Escrituras auto-suficientes, só as expomos a interpretações subjetivas e arbitrárias, cortando-as assim de sua fonte sagrada. As Escrituras nos foram dadas em Tradição. É o centro vital e cristalizador. A Igreja, como Corpo de Cristo, coloca-se misticamente primeiro e é mais completa que as Escrituras. Isso não limita as Escrituras ou as põe na sombra. Mas a verdade nos é revelada não só historicamente. Cristo apareceu e ainda aparece para nós não só nas Escrituras; Ele, imutável e incessantemente, revela-se na Igreja em seu próprio Corpo. Nos tempos dos primeiros cristãos os evangelhos ainda não haviam sido escritos e não poderiam ser a única fonte de conhecimento. A Igreja atuava de acordo com o espírito do evangelho e, mais ainda, os evangelhos vieram à luz na Igreja, na santa eucaristia. No Cristo da eucaristia, os cristãos aprenderam a conhecer o Cristo dos evangelhos, e então sua imagem tornou-se vívida para eles.

Isso não significa que opomos as Escrituras à experiência. Pelo contrário, isso significa que nós as unimos da mesma maneira que elas estiveram unidas desde o início. Não devemos pensar que tudo que nós dissemos nega a História. Ao contrário, a História é reconhecida em todo o seu sagrado realismo. Ao contrastar com o testemunho histórico externo, nós não colocamos experiências religiosas subjetivas, não a consciência mística solitária, não a experiência de cristãos isoladamente, mas a experiência integral e livre da Igreja Católica, a experiência católica, e a vida da Igreja. E essa experiência inclui também a memória histórica; ela é cheia de história. Mas essa memória não é só uma reminiscência e uma lembrança de alguns eventos passados. Pelo contrário, ela é uma visão do que é, e do que tem sido realizado, uma visão da mística consciência do tempo e da catolicidade do todo do tempo. A Igreja conhece nada de esquecimento. A experiência doadora de Graça da Igreja torna-se integral em sua plenitude católica.

Essa experiência não se exaure, nem nas Escrituras, nem na tradição oral, nem em definições. Ela não pode, ela não deve, exaurir-se. Ao contrário todas as imagens e palavras devem ser regeneradas em sua experiência de vida espiritual. Essa experiência é a fonte do ensinamento da Igreja. No entanto, nem tudo dentro da Igreja data dos tempos apostólicos. Isso não significa que foi revelado algo que era "desconhecido" pelos apóstolos; tampouco significa que, o que é de data posterior, é menos importante e convincente. Tudo foi dado e revelado completamente desde o início. No dia de Pentecostes a revelação foi completada, e não admitirá ulterior completamento até o Dia do Juízo e sua última realização. A revelação não tem sido ampliada, mesmo o conhecimento não tem aumentado. A Igreja não conhece Cristo agora mais do que O conheceu no tempo dos apóstolos. Mas ela testifica de coisas maiores. Em suas definições ela sempre, imutavelmente, descreve coisas, mas na imagem imutável, novas características se tornam visíveis. Mas a Igreja conhece a Verdade não menos e não de outra forma do que era conhecido nos tempos antigos. A identidade da experiência é lealdade à Tradição. A lealdade à Tradição não impediu os padres da Igreja de "criarem novos nomes" (como São Gregório de Nazianzo diz) quando isso foi necessário para a proteção da fé imutável. Tudo o que fui dito posteriormente, foi dito de dentro da plenitude católica e é de igual valor e força comparado com o que foi pronunciado no início. E ainda agora, a experiência da Igreja não foi exaurida, mas protegida e fixada em dogmas. Mas, há muito do que a Igreja testifica que não está em forma dogmática, mas numa maneira litúrgica, no simbolismo do ritual sacramental, nas figuras de retórica das orações e no estabelecido ciclo anual de comemorações e festas. O testemunho litúrgico é tão válido quanto o testemunho dogmático. O concreto contido num símbolo é, às vezes, ainda mais vivo, claro e expressivo do que qualquer concepção lógica , como testemunha a imagem do Cordeiro tomando sobre si os pecados do mundo.

Errado e não verdadeiro é aquele minimalismo teológico que quer escolher e colocar à parte "as mais importantes, mais certas e mais obrigatórias" de todas as experiências e ensinamentos da Igreja. Esse é um caminho falso, e uma falsa colocação da questão. Por certo, nem tudo nas instituições históricas da Igreja é igualmente importante e venerável; e nem tudo nas ações empíricas da Igreja foi sancionado ainda. Há muito que é somente histórico. No entanto, nós não temos critério externo para discriminar entre os dois. Os métodos de criticismo histórico externo são inadequados e insuficientes. Somente de dentro da Igreja nós podemos discernir o sagrado do histórico. De dentro é que vemos o que é católico e pertence a todos os tempos, e o que é só "opinião teológica," ou até mesmo um simples e casual acidente histórico. Mais importante na vida da Igreja é sua plenitude, sua integridade católica. Há mais liberdade nessa plenitude que nas definições formais de um mínimo forçado nas quais nós perdemos, o que é mais importante - retidão, integridade, catolicidade.

Um dos historiadores da Igreja Russa deu uma definição de muito feliz do caráter único da experiência da Igreja. A Igreja não nos dá um sistema mas uma chave; não os planos da cidade de Deus, mas os meios para entrarmos nela. Talvez alguém perderá seu caminho porque não tem um plano. Mas tudo que ele verá, verá sem um mediador, verá diretamente, e o que vier a ver será real para ele; enquanto aquele que só estudou o plano, arrisca-se a permanecer fora, não encontrando nada (B.M. Melioransky, Lectures on the History of Ancient Christian Churches. The Pilgrim, Russian, 1910, 6, p. 931).

ECCLESIA

S. VICENTE DE PAULO, SACERDOTE, PADROEIRO DE TODAS AS ASSOCIAÇÕES DE CARIDADE

S. Vicente de Paulo, Juan Nepomuceno Herrera

“Meus irmãos, amemos a Deus, custe o que custar, com a fadiga dos nossos braços e o suor do nosso rosto”.
Vicente de Paulo nasceu, em 1581, em uma pequena cidade da Gasconha, região da França, no seio de uma família de camponeses. Embora tenha transcorrido a sua adolescência no campo, a sua perspicácia foi percebida por um benfeitor, que lhe ofereceu a oportunidade de estudar, tanto que, em 1600, com apenas 19 anos, foi ordenado sacerdote, mas obteve o diploma em teologia somente em 1604. Abriu uma escola particular, mas teve muitos gastos. Além disso, durante uma viagem marítima de Marselha a Narbonne, seu navio foi atacado por piratas: Vicente foi preso e vendido como escravo em Túnis. Ao receber sua alforria, dois anos depois, voltou para França, graças ao seu terceiro patrão, que, no entanto, se converteu ao cristianismo.

De mestre dos ricos a pároco dos pobres

Finalmente, em 1612, tornou-se pároco de uma igreja em Clichy, na periferia de Paris. No entanto, conheceu o Cardeal Pierre de Bérulle, que foi seu diretor espiritual, por muito tempo. Assim, começou suas atividades como catequista, mas, no ano seguinte, foi encarregado da formação dos filhos dos Marqueses de Gondi, onde permaneceu quatro anos. Ali, Vicente percebeu, pela primeira vez, o enorme abismo entre ricos e pobres, não só do ponto de vista material e social, mas também cultural e moral. Sua preocupação com a pobreza foi compartilhada pela Marquesa Gondi, que colocou uma grande quantidade de dinheiro à sua disposição, para que fosse instituída uma obra de pregação quinquenal entre os camponeses das suas terras. Contudo, não podendo contar com a ajuda de outros padres para esta missão, Vicente desistiu, deixando, temporariamente, o castelo para ir trabalhar em uma pequena paróquia na periferia de Châtillon-le-Dombez. Ali, em contato direto com a miséria dos camponeses, ficou mais chocado ainda com a situação.

A “descoberta” da Caridade, que mobiliza o mundo

A primeira coisa, que Vicente fez como pároco, foi cuidar de uma família doente, que não tinha o que comer. Por isso, promoveu uma rede promissora de solidariedade entre os paroquianos. Porém, percebeu que, quando o dinheiro acabasse, a família voltaria à sua indigência de antes. Daí, buscou outro meio, mais eficiente e em longo prazo, para ajudar esta e outras famílias necessitadas da região. Assim, em 20 de agosto de 1617, nasceu a primeira célula da Caridade Vicentina, que foi confiada, segundo os ditames da sociedade, às mulheres, que foram chamadas “Servas dos Pobres”. A instituição cresceu de modo extraordinário, obtendo, em tempo recorde, a aprovação do Bispo de Lyon. Vicente notou que a mobilizar todas as coisas era o amor; por isso, dedicou-se a ela de alma e corpo, transmitindo aos demais pelo menos um pouco daquele amor, com o qual se sentia profundamente amado por Deus.

Damas e Filhas: famílias da Caridade

Vicente voltou ao castelo de Gondi, mas, desta vez, só para tratar da promoção humana e material dos camponeses. Depois, transferiu-se para Paris, porque é nas grandes metrópoles que as diferenças sociais, entre quem tem tudo e quem não tem nada, são maiores: sentiu que era ali que devia intervir. Na capital, muitas senhoras nobres, ansiosas de fazer beneficência, quiseram contribuir, financeiramente, para suas obras de "Monsieur Vincent": assim, em 1617, nasceram as Damas da Caridade, entre as quais se encontrava também a futura rainha da Polônia. A obra mais importante que conseguiram realizar foi a abertura de um hospital municipal. Porém, as senhoras não davam conta, seja pelo seu número seja pela sua posição social, para atender às necessidades mais humildes. Por isso, em 1633, Vicente fundou uma Congregação feminina, inovadora para a época: as Filhas da Caridade, que não seriam "monjas", distantes do mundo e dedicadas à contemplação, mas "freiras", irmãs dos últimos, que vivem ao lado deles no mundo e deles cuidam diariamente. Enfim, pela primeira vez, também as mulheres consagradas participam do apostolado ativo. Ainda hoje, as Filhas da Caridade são a maior família religiosa feminina da Igreja.

Formação do clero e os "Lazaristas"

A obra incessante de Vicente não se limitou apenas à comunidade das Irmãs, mas começou a pregar a Palavra de Deus nas aldeias, onde muitos sacerdotes se uniram ele. Assim, nasceu uma nova comunidade, que contava com a ajuda financeira da família Gondi: a Congregação da Missão, mais tarde conhecida como Lazaristas, cuja sede foi o convento de São Lázaro. Entre as suas regras, destacavam-se a necessidade da vida em comum, a renúncia aos cargos eclesiásticos mais cobiçados, a assistência espiritual aos galeotes e o ensino do catecismo. Contudo, Vicente percebeu que, muitas vezes, a ignorância dos camponeses estava associada à pouca preparação dos sacerdotes, que deveriam cuidar deles, Por isso, comprometeu-se também com a formação do clero, promovendo exercícios espirituais e animando os "encontros das terças-feiras", nos quais os sacerdotes transmitiam suas experiências apostólicas e encaminhavam suas vocações à santidade.

“Regulae” de Monsieur Vincent

Vicente de Paulo faleceu em Paris, em 27 de setembro de 1660, com a idade de 79 anos, sem deixar nenhuma obra escrita. A sua única obra ou a sua obra-prima foi a Caridade: uma caridade, o verdadeiro amor, que não fazia distinção entre o de Deus e o ao próximo. A espiritualidade vicentina, fundada na dupla descoberta de Cristo e dos pobres, na igualdade entre a oração e ação, no compromisso com o mundo e para o mundo, concretiza-se com a evangelização e a promoção humana. Seus Filhos religiosos, portanto, se inspiram apenas nas "Regulae", que encarnam as características do espírito vicentino: simplicidade, humildade, mansidão, mortificação e zelo pela salvação das almas. São Vicente de Paulo foi canonizado por Clemente XII, em 1737, enquanto, em 1885, o Papa Leão XIII o proclamou padroeiro de todas as Associações católicas de caridade.

Vatican News

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF