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sexta-feira, 2 de outubro de 2020

TEOLOGIA: A Catolicidade da Igreja (Parte 7/8)

George Florovsky | ECCLESIA

A Catolicidade da Igreja

Trad.: Pe. Pedro Oliveira Junior

9. A nova realidade

O nome grego ekklesia adotado pelos primitivos cristãos para denotar a nova realidade na qual eles tinham consciência de estarem participando, presumia e sugeria uma concepção bem definida do que a Igreja realmente era. Adotada sob a influência óbvia do uso septuaginto, essa palavra acentuava, antes de tudo, a continuidade orgânica das duas promessas divinas. A existência cristã foi concebida na perspectiva sagrada da preparação e realização messiânica (Hb 1:1-2). Uma teologia da História muito definida estava implicada aí. A Igreja era o verdadeiro Israel, o novo povo escolhido de Deus, "A geração eleita, o sacerdócio real, a nação santa, o povo adquirido" (1Pe 2,9). Ou melhor, ela, a fiel remanescente, escolhida dentre o antigo povo (Lc 12,32 "pequenino rebanho" parece significar precisamente o "remanescente," reconstituído, redimido e re-consagrado). E, todas as nações da terra, gregos e bárbaros, deveriam ser cooptadas e enxertadas nesse novo povo de Deus pelo chamado de Deus (esse foi o tema principal de São Paulo em Romanos e Gálatas, cf. Ef 2).

Já no Velho Testamento a palavra ekklisía (tradução em grego do hebreu Qahal) implicava numa especial ênfase na fundamental unidade do povo escolhido, concebida como um sagrado todo e essa unidade estava enraizada mais no mistério da divina eleição do que em qualquer característica "natural." Essa ênfase só poderia ser confirmada pela influência suplementar do uso helenístico da palavra ekklisía significando usualmente uma assembléia do povo soberano numa cidade, uma congregação geral de todos cidadãos regulares. Aplicada à nova existência cristã, a palavra manteve sua conotação tradicional. A Igreja era ambos, o povo e a cidade. Uma especial ênfase tem sido posta na unidade orgânica dos cristãos.

O cristianismo desde seu início existiu como uma realidade corporativa, como uma comunidade. Ser cristão significa justamente pertencer à comunidade. Ninguém pode ser cristão por si próprio, como um indivíduo isolado, mas só junto com os "irmãos," em uma "junção" com eles. Unus Christianus-nullus Christianus - (um cristão-nenhum cristão). Convicção pessoal ou mesmo uma regra de vida não faz de alguém um cristão. A existência cristã implica e presume numa incorporação, numa participação como membro da comunidade. Isso tem que ser qualificado imediatamente: na comunidade apostólica, isto é, em comunhão com os doze e com a mensagem deles. A "comunidade" cristã foi reunida e constituída pelo próprio Jesus Cristo "nos dias de sua carne," e foi dada a ela por Ele pelo menos uma constituição provisória pela eleição e indicação dos doze, a quem Ele deu o nome (ou melhor o título) de seus "mensageiros" ou "embaixadores" (ver Lc 6,13: "a quem também deu o nome de apóstolos"). Quanto ao "envio" dos doze não foi só uma missão, mas precisamente uma comissão, para a qual eles foram investidos com um poder (Mc 3,15; Mt 10,1; Lc 9,1). Em todo caso, como as "testemunhas" indicadas do senhor (Lc 24,48; At 1,8) os doze somente foram intituladas a assegurar a continuidade tanto da mensagem cristã quanto da vida em comunidade. Portanto, comunhão com os apóstolos foi uma nota básica da primitiva "Igreja de Deus" em Jerusalém (At 2,42 koinonia).

Cristianismo significa "vida comunitária," uma vida em comum. Os cristãos tem que ver a si próprios como "irmãos" (de fato esse foi um dos seus primeiros nomes), como membros de uma corporação, unidos muito próximos. E, por isso, caridade teve que ser a primeira marca e a primeira prova e também como se fosse o preço desse companheirismo. Estamos autorizados a dizer: O cristianismo é uma comunidade, uma corporação, um companheirismo, uma irmandade, uma "sociedade," coetus fidelium. E, seguramente, como primeira aproximação, tal descrição poderia ser uma ajuda. Mas, obviamente, ela requer uma melhor qualificação, e alguma coisa crucial está faltando nela. Pode-se perguntar: em exatamente o que essa unidade e junção dos muitos está baseada e enraizada? Qual é o poder que traz muitos a se juntarem e permanecerem unidos uns com os outros? É isso meramente um instinto social, algum poder de coesão social, um ímpeto de afeto mútuo, ou qualquer outra atração natural? Está essa unidade baseada simplesmente em unanimidade, em identidade de pontos de vista e convicções? Resumindo, é a comunidade cristã, a Igreja, meramente uma sociedade humana, uma sociedade de homens? Seguramente, a clara evidência do Novo Testamento nos leva a muito além desse nível puramente humano. Os cristãos são unidos não somente entre si mesmos, mas antes de tudo eles são um-em Cristo, e somente essa comunhão com Cristo faz a comunhão dos homens possível n'Ele. O centro da unidade é o Senhor, e o poder que efetua e ordena essa unidade é o Espírito. Os cristãos são constituídos nessa unidade por projeto divino, pela vontade e poder de Deus. A unidade deles vem de cima. Eles são um só em Cristo, como aqueles que renasceram n'Ele, "arraigados e sobre-edificados n'Ele" (Col. 2,7), que por um Espírito foram "batizados formando um Corpo" (1Cor. 12,13). A Igreja de Deus foi estabelecida e constituída por Deus através de Jesus Cristo, Nosso Senhor.: "ela é sua própria criação pela água e pela palavra." Então, não há sociedade humana, mas uma "sociedade divina," não uma comunidade secular, que ainda seria "desse mundo," ainda comensurável como outros grupos humanos, mas uma comunidade sagrada que, extrinsecamente não é "deste mundo," nem "desse tempo," mas do "tempo que há de vir."

Além disso, o próprio Cristo, pertence a essa comunidade, como sua cabeça e não só como seu Senhor e Mestre. Cristo não estava acima ou fora da Igreja. A Igreja está n'Ele. A Igreja não é meramente uma comunidade daqueles que acreditam em Cristo e seguem seus passos ou em seus mandamentos. Ela é comunidade daqueles que habitam, moram n'Ele e em quem Ele próprio está habitando e morando pelo Espírito. Cristãos são colocados à parte, "nascidos de novo", recriados e é dado a eles não só um novo padrão de vida como também um novo princípio: a nova vida no Senhor pelo Espírito. Eles são um "povo peculiar," "o povo da possessão do próprio Deus." O ponto é que a comunidade cristã, a ekklesía, é uma comunidade sacramental: communio in sacris, um "companheirismo em coisas sagradas," isto é, no Espírito Santo, ou até mesmo communio sanctorum (sanctorum sendo tomado como neutro e não como masculino talvez esse fosse o significado original da frase). A unidade da Igreja é efetuada através dos sacramentos: batismo e eucaristia são os dois "sacramentos sociais" da Igreja, e neles o verdadeiro significado da "junção" cristã é continuamente revelado e selado. Ou, ainda mais enfaticamente, os sacramentos constituem a Igreja. Só nos sacramentos a comunidade cristã vai além da medida puramente humana e torna-se a Igreja. Por isso, "a correta administração dos sacramentos" pertence à essência da Igreja. Os sacramentos devem de fato, serem recebidos "dignamente", portanto, não podem ser separados do esforço interior e da atitude espiritual dos fiéis. O batismo deve ser precedido por arrependimento e fé. A relação pessoal entre um aspirante e seu Senhor deve ser primeiro estabelecida pelo ouvir e receber do Verbo, a mensagem da salvação. E, de novo, um compromisso de fidelidade à Deus e seu Cristo é um pré-requisito e condição indispensável para a administração do sacramento (O primeiro significado da palavra sacramentum era precisamente "o compromisso" militar). Um catecúmeno já é "listado" entre os irmãos na base de sua fé. O dom batismal é recebido, e mantido por fé e fidelidade, pela firme permanência na fé e nas promessas. E, além disso, os sacramentos não são meramente sinais da fé professada, mas efetivos sinais da Graça salvadora, não só símbolos de aspiração e lealdade humanas, mas os símbolos exteriores da ação divina. Neles a nossa existência é ligada, ou melhor elevada para, a Vida divina, pelo Espírito, o doador de Vida.

A Igreja como um todo é uma comunidade sagrada (ou consagrada), distinguida por isso do "mundo (profano)." Ela é a santa Igreja. São Paulo, obviamente, usa os termos "Igreja" e "santos" como co-extensivos e sinônimos. É notável que no Novo Testamento a palavra "santo" é quase que exclusivamente usada no plural e, santidade sendo social no seu significado intrínseco. Pois o nome não se refere a nenhuma conquista humana, mas a um dom, para santificação ou consagração. Santidade vem do Santo, isto é, só de Deus. Ser santo para um homem significa partilhar da Vida divina. A santidade está disponível para indivíduos somente na comunidade, ou melhor "na comunidade do Espírito Santo." A expressão "comunhão dos santos" é um pleonasmo. Só se pode ser um "santo" na comunhão.

Falando estritamente, a comunidade messiânica reunida por Jesus o Cristo, ainda não era a Igreja, antes de sua Paixão e Ressurreição, antes da "promessa do Pai" ser enviada sobre ela sendo assim "legitimada com o poder do alto," "batizada com o Espírito Santo (conforme Lc 24-49 e At 1,4-5), no mistério do Pentecostes. Antes da vitória da Cruz revelada na gloriosa Ressurreição, ela estava ainda sub umbraculo legis (sob a sombra da lei). Era ainda a véspera da realização. E o Pentecostes esteve lá para testemunhar e selar a vitória de Cristo. "O poder do alto" havia entrado na história. O "novo tempo" tinha sido verdadeiramente revelado e iniciado. E a vida sacramental da Igreja é a continuação do Pentecostes.

A descida do Espírito Santo foi uma revelação suprema. Uma vez e para sempre, no "temível e inescrutável mistério" do Pentecostes, o Espírito Consolador entra no mundo no qual Ele não havia ainda estado presente da maneira como agora começa a habitar. Uma fonte abundante de água de vida é revelada naquele dia aqui na terra, no mundo que já tinha sido redimido e reconciliado com Deus pelo Senhor Crucificado e Ressuscitado. O Reino veio, pois o Espírito Santo é o Reino (cf. São Gregório de Nissa, De oratione Dominica 3, MG, 44, c.115f.-1160). Mas a "vinda" do Espírito depende da "ida" do Filho (Jo 16:7). "outro Consolador" vem para testemunhar o Filho, para revelar sua glória e selar sua vitória (Jo 15,26; 16,7 e 14). Na verdade, no Espírito Santo, o próprio Senhor Glorificado vem de volta ou retorna para seu floco para habitar com ele para sempre (Jo 14: 18 e 28) ... Pentecostes foi a consagração mística, o batismo de toda a Igreja. (At 1:5). Esse batismo ardente foi administrado pelo Senhor: Pois Ele batiza "com o Espírito Santo e com fogo" (Mt 3,15 e Lc 3,16). Ele enviou o Espírito da parte do Pai, como uma garantia em nossos corações. O Espírito Santo é o espírito de adoção, em Cristo Jesus, "O poder de Cristo" (2Co 12,9). Pelo Espírito nós reconhecemos e confessamos que Jesus é o Senhor (1Co 12,3). A obra do Espírito nos fiéis é precisamente sua incorporação em Cristo, o batismo em um corpo (1 Co 12,13), o Corpo de Cristo. Como Santo Atanásio expõe: "sendo-nos dado beber do Espírito, nós bebemos Cristo." Pois a pedra era Cristo (Santo Atanásio. Alex. Epist. I ad Seraponiem, M.G. 26. 576).

Pelo Espírito os cristãos são unidos ao Cristo, são constituídos em seu corpo. um só corpo, o de Cristo: essa excelente analogia usada por São Paulo em vários contextos, quando descrevendo o mistério da existência cristã, é ao mesmo tempo a melhor testemunha para a experiência íntima da Igreja apostólica. De maneira nenhuma essa foi uma imagem acidental, mas um sumário de fé e experiência. Com São Paulo, a principal ênfase foi sempre sobre a união íntima dos fiéis com o senhor, em sua participação em sua plenitude. Como São João Crisóstomo apontou, comentando (Col.3:4), em todos os seus escritos São Paulo esteve empenhado em provar que os fiéis " estão em comunhão com Ele em todas as coisas" e, "precisamente para mostrar essa união, refere-se a relação da cabeça e do corpo" (São João Crisóstomo, in Coloss. Hom. 7, MG, 62, 375). É muito provável que a expressão ou o termo tenha sido sugerida pela experiência eucarística (cf. 1 Co 10,17), e tenha sido deliberadamente usada para sugerir sua conotação sacramental. A Igreja de Cristo é una na eucaristia, pois a eucaristia é o próprio Cristo, e Ele sacramentalmente habita na Igreja, que é seu corpo. A Igreja, na verdade, é um corpo, um organismo, muito mais do que uma sociedade ou uma corporação. E talvez um "organismo" seja a melhor interpretação do termo soma, como usado por São Paulo.

Ainda mais, a Igreja é o corpo de Cristo e sua "plenitude." Corpo e plenitude (to soma e to pléroma) - esses dois termos são correlativos e firmemente ligados na mente de São Paulo, um explicando o outro: "Que é o seu corpo, a plenitude d'Aquele que cumpre tudo em todos" (Ef 1,23). A Igreja é o corpo de Cristo porque ela é seu complemento. São João Crisóstomo comenta a idéia Paulina justo nesse sentido. "A Igreja é o complemento do Cristo da mesma maneira pela qual a cabeça completa o corpo e o corpo é completado pela cabeça." Cristo não está sozinho. "Ele preparou todas as raças em comum para segui-Lo, aderir a ele, acompanhar seu séqüito." São João Crisóstomo insiste, "Observem como ele (isto é São Paulo) introduz Cristo como tendo necessidade de todos os seus membros. Isso significa que só então a cabeça estará preenchida, quando o corpo é tornado perfeito, quando estamos todos juntos, co-unidos e atados juntos" (São João Crisóstomo, in Ephes. Hom. 3, MG, 52, 29). Em outras palavras, a Igreja é a extensão e a "plenitude" da santa encarnação, ou melhor da vida encarnada do Filho, "com tudo que foi realizado por nós, a cruz, o sepulcro, a ressurreição ao terceiro dia, a ascensão aos céus, o trono à direita do Pai." (Liturgia de São João Crisóstomo, Oração de Consagração).

A Encarnação está sendo completada na Igreja. E, num certo sentido, a Igreja é o próprio Cristo, em sua plenitude toda-englobante (cf. 1 Co 12:12). Essa identificação foi sugerida e sustentada por Santo Agostinho: "Non solum nor Christianos factos esse, sed Christum" [Não fazer-nos só Cristãos, mas Cristo]. Pois, se Ele é a cabeça, nós somos os membros: o homem todo é Ele e nós-totus homo, ille et nos-Christus et Ecclesia." E de novo: "Pois Cristo não está simplesmente na cabeça e não no corpo, mas Cristo está inteiro na cabeça e no corpo" — "non enim Christus in capite et non in corpore, sed Christus totus in capite et in corpore" (São Agostinho em Evangelium Joannis tract, 21, 8, MG 35, 1568; cf. São João Crisóstomo em I Cor. Hom. 30, MG, 61, 279-283). Esse termo, totus Christu (Agostinho em Evangelium Joannis tr. ML, 38, 1622) é recorrente em Santo Agostinho, essa é sua idéia básica e favorita, sugerida obviamente por São Paulo. "Quando eu falo de cristãos no plural, eu entendo um no Cristo Uno. Vós sois portanto muitos, e vós sois no entanto um: nós somos muitos e nós somos um" — "cum plures Christianos appello, in uno Christiano unum intelligo" (São Agostinho em Ps. 127,3, ML, 37, 1679). "Pois nosso Senhor Jesus Cristo está não só em si próprio, mas também está em nós"- "Dominus enim Jesus non solum in se, sed et in nobis" (Santo Agostinio em Ps 90 enarr. 1, 9. ML 35, 1157). Um Homem até o final dos séculos" — "Unus homo usque ad finem saeculi extenditur" (Santo Agostinho em Ps 85, 5, ML, 37, 1083).

O principal resultado de todas essas afirmações é óbvio. Os cristãos são incorporados em Cristo e Cristo habita neles - essa íntima união constitui o mistério da Igreja. A Igreja é como sempre foi, o lugar e o modo da redentora presença do Senhor Ressuscitado no mundo redimido. "O Corpo de Cristo é o Próprio Cristo. A Igreja é Cristo, pois depois de sua Ressurreição Ele está presente conosco e nos encontra aqui na terra." (A. Nygren, Corpus Christi, em En Bok om Kyrkan, av Svenska teologer, Lund, 1943, p. 20). E, neste sentido, pode-se dizer: Cristo é a Igreja. "Ipse enim est Ecclesia, per sacramentum corporis sui in se ... eam continens" (Santo Hilário em Ps 125, 6, ML, 9, 688). [Pois Ele próprio é a Igreja, contendo-a em si próprio através do sacramento de seu Corpo.] Ou nas palavras de Karl Adam:Cristo, o Senhor, é o próprio Ego da Igreja" (Karl Adam, Das Wesen Katholizisimus, 4 Ausgabe, 1927, p. 24).

A Igreja é a unidade da vida carismática. A fonte dessa unidade está escondida no sacramento da Ceia do Senhor e no mistério do Pentecostes. E o Pentecostes continua na Igreja tornado permanente por meio da sucessão apostólica. Não é só meramente, como foi, o estrutura canônica da Igreja. Ministério (ou "hierarquia") em si é antes de mais nada um principio carismático, um "ministério de sacramentos" ou uma "divina economia." Ministério não é só uma comissão canônica, ele não pertence somente à estrutura institucional da Igreja, mas uma característica constitucional ou estrutural indispensável, exatamente porque a Igreja é um corpo, um organismo. Ministros não são, como foram, "oficiais comissionados" da comunidade, não somente líderes ou delegados das "multidões," do "povo" ou da "congregação" - eles não estão agindo somente in persona ecclesiae. Eles estão agindo primariamente in persona Christi. Eles são representantes do próprio Cristo, não dos fiéis, e neles e através deles, a Cabeça do Corpo, o único Sumo Sacerdote da Nova Aliança, está realizando, continuando e cumprindo Seu eterno serviço pastoral e sacerdotal. Ele é em Si o único verdadeiro Ministro da Igreja. Todos os outros não são mais do que dispenseiros dos seus mistérios. Eles se colocam por Ele, diante da comunidade - e justo porque o Corpo é um somente em sua Cabeça, é trazido junto e para a unidade por Ele e Nele, o Ministério na Igreja é primariamente o Ministério da unidade. No Ministério a unidade orgânica do Corpo é não somente representada ou exibida, mas também enraizada, sem nenhum prejuízo para a "igualdade" dos fiéis, assim como a "igualdade" das células de um organismo não é destruída por suas diferenças estruturais: todas as células são iguais como tais, e no entanto diferenciadas por suas funções, e de novo, essa diferenciação serve à unidade, capacita essa unidade orgânica a tornar-se mais compreensiva e mais íntima. A unidade de cada congregação local brota da unidade na refeição Eucarística. E é como celebrante da Eucaristia que o padre é o ministro e o construtor da unidade da Igreja. Mas há outro e mais elevado ofício: assegurar a unidade universal e católica de toda Igreja no espaço e no tempo. Esse é o ofício e função episcopal. De um lado, o Bispo tem autoridade para ordenar, e novamente esse não é só um privilegio jurisdicional, mas precisamente o poder de ação sacramental além daquele possuído pelo padre. Assim, o Bispo como "ordenador" é o construtor da unidade da Igreja numa escala maior. A Ultima Ceia e o Pentecostes estão inseparavelmente ligados um ao outro. O Espírito Consolador desce quando o Filho foi glorificado em Sua morte e Ressurreição. Mas eles ainda são dois sacramentos (ou mistérios) que não podem ser fundidos um no outro. Do mesmo modo o presbiterado e o episcopado diferem um do outro. No episcopado o Pentecostes torna-se universal e contínuo, no indivisível episcopado da Igreja (episcopatus unus de São Cipriano) e a unidade no espaço é assegurada. De outro lado, através de seu bispo, ou melhor, em seu bispo, toda Igreja particular ou local é incluída na plenitude católica da Igreja e é ligada com o passado e com todos os séculos. Em seu bispo toda Igreja se expande e transcende seus próprios limites e é organicamente ligada às outras. A Sucessão Apostólica não é tanto a canônica mas muito mais a mística base da unidade da Igreja. É alguma coisa outra do que a salvaguarda da continuidade histórica ou da coesão administrativa. É sim um último meio de manter a identidade mística do Corpo através do séculos. Mas, por certo, o Ministério nunca é separado do Corpo. Ele está no Corpo, pertence à estrutura deste. E dons ministeriais são dados dentro da Igreja (cf. 1 Cor. 12).

A concepção paulina do Corpo de Cristo foi tomada e muitas vezes comentada pelos padres, tanto no Oriente quanto no Ocidente e, então, completamente esquecida. (Ver E. Mersch, S.J., Le Corps Mystique du Christ, Etudes de Theologie Historique, 2 vols, 2a edição, Louvain, 1936). Está mais do que na hora de agora retornarmos a essa experiência da Igreja primitiva que pode nos prover com uma sólida base para moderna síntese teológica. Algumas outras metáforas similares foram usadas por São Paulo em outras partes do Novo Testamento, mas muitas com o mesmo propósito e efeito: acentuar a íntima e orgânica unidade entre Cristo e aqueles que são d'Ele. Mas, de todas essas várias imagens, a do Corpo é a mais inclusiva e impressionante e a mais enfática expressão da visão básica (a imagem da noiva e de seu místico casamento com Cristo, Ef. 5:23ss. , expressa a íntima união. Mesmo a imagem da casa construída com muitas pedras, a pedra angular sendo Cristo, Ef. 2:20; cf. 1 Pe. 2:6 tende ao mesmo propósito; muitos estão se tornando um e a casa aparece como se fosse construída com uma só pedra; conforme Hermas's Shephard, Vis. 3, 2, 6, 8. E de novo o "Povo de Deus" é para ser olhado como um todo orgânico. Não há qualquer razão para ficarmos incomodados com a variedade de vocábulos usados. A idéia principal é, obviamente, a mesma em todos os casos). Por certo, nenhuma analogia deve ser forçada excessivamente ou super-enfatizada. A idéia de um organismo, quando usada pela Igreja, tem suas próprias limitações. De um lado a Igreja é composta de pessoas humanas, que nunca podem ser encaradas meramente como elementos ou células do todo, porque cada um está em união direta e imediata com Cristo e com seu Pai. O pessoal não é para ser sacrificado ou dissolvido no corporativo, a "junção" cristã não deve degenerar em impersonalidades. A idéia de um organismo deve ser suplementada pela idéia de uma sinfonia de personalidades, na qual o mistério da Santíssima Trindade é refletido (cf Jo. 17:21 e 23), e isso é o âmago da concepção de "catolicidade" (sobornost, Cf. George Florovsky, "The Catholicity of the Church," acima). Esta é a razão principal pela qual nós deveriamos preferir uma orientação cristológica na teologia da Igreja ao invés de uma orientação pneumatológica (tal como a de Khomiakov ou na obra de Moehler, Die Einheit in der Kirche). Por outro lado, a Igreja, como, um todo, tem seu centro pessoal somente em Cristo, ela não é a encarnação do Espírito Santo, nem meramente uma comunidade do Espírito, mas precisamente o Corpo de Cristo, o Senhor encarnado. Isso salva-nos do impersonalismo sem comprometer-nos com qualquer personificação humanística. Cristo, o Senhor, é a única Cabeça e o único Mestre da Igreja. "Nele todo o edifício bem a justado, cresce para templo santo no Senhor. No qual também vós, sois juntamente edificados para morada de Deus em Espírito (Ef. 2:21-22).

A Cristologia da Igreja não nos conduz a um enevoado de vãs especulações ou misticismo sonhador. Ao contrário, ela assegura o único solo positivo e sólido para pesquisa teológica adequada. A doutrina da Igreja encontra ai seu lugar próprio e orgânico no esquema geral da divina economia da salvação. Pois nós ainda temos que procurar por uma visão compreensiva do mistério da nossa salvação, da salvação do mundo.

Uma última distinção precisa ser feita. A Igreja ainda está em statu viae e, no entanto, já está in statu patriae. Ela tem, como teve, uma dupla vida, "tanto no céu quanto na terra" (cf Santo Agostinho em Evang, Jaonnis tract, 124, 5, ML, 35, 19f, 7). A Igreja é uma sociedade histórica visível e o Corpo de Cristo. É tanto a Igreja dos redimidos como dos miseráveis pecadores. No nível histórico a meta final ainda não foi atingida. Mas a decisiva realidade foi aberta e revelada. Essa realidade decisiva está ainda à mão, é verdadeiramente disponível, apesar da imperfeição histórica e de estar em formas provisórias. Pois a Igreja é uma sociedade sacramental. Sacramental significa nada menos do que "escatológica' e escaton não significa primariamente final, na série temporal de eventos; seu significado é mais decisivo; e o decisivo está sendo realizado dentro da tensão dos acontecimentos e eventos históricos. O que é "não deste mundo" está aqui "neste mundo," não abolindo este mundo, mas dando-lhe novo valor, "trans-valorizando" o mundo como ele era. Seguramente isso é ainda somente uma antecipação, um "indício" da consumação final. No entanto o Espírito habita na Igreja. Isso constitui o mistério da Igreja: uma "sociedade" visível de homens frágeis é um organismo da Graça Divina (ver de Khomiakov o ensaio On the Church; tradução inglesa por W. J. Birkbeck, Russia and the English Church, primeira publicação 1895, cap. 23, pgs 193-222).

FONTE:

Folheto Missionário nP95. Holy Trinity Orthodox Mission
466 Foothill Blvd, Box 397, La Canada, Ca 91011
Redator: Bispo Alexandre Mileant

Ecclesia

No mês do Rosário, um milhão de crianças rezam pela paz e pelo fim da pandemia

ACI Digital

https://youtu.be/xfz9DNlxQnA

REDAÇÃO CENTRAL, 01 out. 20 / 10:41 am (ACI).- Neste mês do Rosário, a Fundação Pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre (ACN) convida novamente crianças do mundo todo a se unir em oração pela paz mundial e também pelo fim da pandemia de Covid-19.

Trata-se da campanha “Um Milhão de Crianças Rezam o Terço pela Paz”, que acontecerá no dia 18 de outubro, unindo cerca de 80 países, presentes em todos os continentes.

A iniciativa, que teve início em 2005, neste ano acontecerá em um contexto diferente, em meio a uma crise de saúde existencial, conforme assinalaram em uma carta aos padres o presidente internacional da ACN, Cardeal Mauro Piacenza, e o assistente eclesiástico da internacional da fundação, Pe. Martin Barta.

“Nunca antes houve uma crise de saúde e uma crise existencial tão global. A escala desta epidemia ultrapassa tudo o que a humanidade experimentou até hoje. O mundo inteiro foi, e ainda está, exposto a um vírus invisível que levou centenas de milhares de pessoas à morte e que gerou repercussões econômicas e sociais devastadoras e, ainda na sua maioria, imprevisíveis”, afirmaram na carta.

Entretanto, como recordaram Jesus “deu-nos um ‘soro’ universal, que pode nos tornar-nos imunes à praga que atingiu o nosso mundo. Jesus deu-nos novamente a confiança e a esperança de que Deus deseja curar-nos, mesmo que ainda tenhamos de vir a carregar a cruz”.

Para ajudar os homens, indicaram, de uma maneira especial, Jesus “envia aos nossos tempos, que muitos santos denominam de tempos apocalípticos, a Mãe d’Ele para nos assistir nas grandes necessidades”.

Assim, lançaram o convite para que todos se unam à iniciativa “Um Milhão de Crianças Rezam o Terço pela Paz”. “Esta oração conjunta mundial do Terço, com as crianças, deve encher-nos de uma nova confiança no amor e na proteção de Deus, que Ele nos deseja presentear através da Mãe d’Ele”, ressaltaram.

Uma iniciativa das próprias crianças

Como conta o site da Fundação ACN, a campanha “Um Milhão de Crianças Rezam o Terço pela Paz” surgiu em 2005, em Caracas, Venezuela, por parte de um grupo de crianças que rezavam espontaneamente o Terço, à beira do caminho para um santuário de Nossa Senhora.

Algumas mulheres que também estavam presentes sentiram uma profunda presença de Nossa Senhora. Uma delas recordou que, certa vez, São Pio de Pietrelcina havia dito: “Quando um milhão de crianças rezarem o Terço, então o mundo vai mudar”.

A campanha se espalhou pelo mundo e, desde 2008, conta com apoio da Fundação ACN, a qual assumiu a organização do evento em âmbito mundial há dois anos.

Segundo a Fundação ACN, esta iniciativa de oração tem como objetivo mostra que “a oração confiante das crianças pode voar como uma flecha diretamente para o coração de Deus e, consequentemente, tem grande poder”.

“Quão poderosa, então, é a oração do Terço, rezada pelas crianças na intenção pela paz e unidade dentro das famílias, dentro do seu próprio país e em todo o mundo”, completa.

Para participar da campanha, basta acessar o site da Fundação ACN e fazer download do material que inclui orações com instruções sobre como rezar o Terço, reflexões dos Mistérios Gloriosos adaptadas para as crianças e uma consagração à Nossa Senhora.

ACI Digital

SS. ANJOS DA GUARDA

SS. Anjos da Guarda  (© BAV, Vat. lat. 3769, f. 27v)

A existência dos Anjos é um dogma de fé, definida várias vezes e em muitas ocasiões pela Igreja, desde o Concílio de Nicéia ao Vaticano I. Tudo o que lhes diz respeito faz parte de um estudo próprio, denominado "angelologia", ao qual se dedicaram os Padres da Igreja e os maiores teólogos. Todos refletiram muito sobre a sua espiritualidade, tornando-a tema central do Magistério eclesial, que afirma: os anjos são seres totalmente espirituais, sem corpo, imortais e imutáveis, que se tornam visíveis apenas para manifestar a sua ação.

Quem e quantos são os Anjos?

O termo "anjo" indica uma criatura celeste bem próxima de Deus. Seu nome é citado 175 vezes no Novo Testamento e pelo menos 300 no Antigo, aonde vem especificada a função desta milícia sobrenatural, dividida em nove hierarquias: Querubins, Serafins, Tronos, Dominações, Poderes, Virtudes Celeste, Principados, Arcanjos, Anjos. Estes espíritos puros, dotados de inteligência e vontade, são chamados, muitas vezes, mensageiros ou intérpretes das ordens divinas; eles se manifestam, sobretudo, em momentos cruciais da história da salvação. Com efeito, o IV Concílio de Latrão definiu, como verdade de fé, o fato de que, se alguns anjos abusarem da sua liberdade, poderão cair no pecado: foi o que aconteceu com Lúcifer, o mais bonito de todos, que, ao pecar, por orgulho, contra Deus, caiu nas profundezas do inferno. Enfim, voltando à sua hierarquia, as criaturas celestes distinguem-se por suas funções e sinais específicos: por exemplo, os Serafins, os mais próximos de Deus, são coloridos de vermelho, para indicar seu amor particularmente ardente; os Querubins, ao invés, têm asas cobertas de manchas oculares, como as do pavão.

O Anjo da Guarda

As funções, atribuídas aos anjos pela Sagrada Escritura, são as de acompanhar o homem no caminho do bem e oferecer ao Senhor as nossas orações e sacrifícios: é esta a função do nosso Anjo da Guarda, que, embora seja uma verdade de fé, hoje encontra pouco espaço, como o Catecismo ensina às crianças. De fato, no Batismo, todo cristão recebe, como dom de Deus, o próprio Anjo da Guarda, uma presença silenciosa que o acompanha e guia ao longo de toda a sua existência: é um companheiro de viagem, uma figura exemplar, mas, também, irmão mais velho. Ao longo dos séculos, apesar de invisíveis, os anjos foram representados de várias maneiras: sobretudo, em atitude de adoração a Deus, mas também entristecidos, quando representados nas sepulturas; e, enfim, como músicos no presépio ou guerreiros na luta contra o demônio.

Origens da sua memória litúrgica

A memória litúrgica dos Santos Anjos é celebrada em 2 de outubro, desde 1670, por desejo do Papa Clemente X, enquanto a Igreja ortodoxa prefere celebrar em 11 de janeiro. Antigamente, a sua festa era celebrada em 29 de setembro, junto com a dos três Santos arcanjos: Miguel, Gabriel e Rafael. Porém, sua data foi diferenciada, tornando-se, de modo particular, memória própria dos Anjos da Guarda: primeiro, na Espanha, no século XV; depois, se difundiu em Portugal, Áustria e, por fim, em toda a Europa. Na verdade, a devoção aos Anjos é mais antiga que aos santos, de modo especial na Idade Média, graças aos monges eremitas, que viviam uma vida de recolhimento, silêncio e oração, em companhia só dos seus Anjos da Guarda. Finalmente, em 2005, o Parlamento italiano, inspirando-se na figura dos Anjos da Guarda, introduziu, na mesma data de 2 de outubro, a celebração civil da Festa dos Avós, verdadeiros Anjos da Guarda de suas famílias.

Oração ao Anjo da Guarda

Santo Anjo do Senhor, meu zeloso guardador, se a ti me confiou a Piedade divina, sempre me rege, me guarde, me governe, me ilumine, Amém!

Vatican News

quinta-feira, 1 de outubro de 2020

APASCENTA AS MINHAS OVELHAS!

Instituto Hesed

Cristo vivo e ressuscitado confiou ao Apóstolo Pedro o encargo de, em Seu nome, reger e orientar o Seu rebanho, dizendo: “Apascenta os meus cordeiros!” (Jo 21,15). “Apascenta as minhas ovelhas!” (Jo 21, 17). Desde os primórdios da Igreja até o fim dos tempos, o Sumo Pontífice é o chefe dos apóstolos, a Rocha sobre a qual se edifica a Igreja de Nosso Senhor Jesus Cristo. Desse modo, contemplando, com o olhar da fé, os duzentos e sessenta e seis papas que governaram a Igreja, podemos afirmar que Deus suscitou a autoridade do papa para que este possa nos demonstrar, com o seu exemplo, a sua voz e os seus escritos, o caminho seguro para a vida eterna, transmitindo-nos as verdades do Evangelho, clareando as nossas dúvidas, fazendo brotar em nossas almas as fontes da sabedoria cristã e o sol da esperança.
Impulsionados pelas virtudes teologais da fé e da esperança, professamos que Deus concede, em profusão, os dons de Sua graça à Igreja. Estas graças, muitas vezes, chegam até nós por meio da obediência aos ensinamentos pontifícios e à sua plena sintonia. É também pela fé que acreditamos que, tão logo são chamados a assumir a cátedra do príncipe dos apóstolos, os papas escutam, no fundo do coração, a suave voz de Cristo que lhes diz: “Confirma os teus irmãos!” (Lc 22,34).
Na missão de confirmar os fiéis na fé e na obediência ao Evangelho de Cristo, o papa nos fala por meio de audiências, pronunciamentos, cartas e exortações apostólicas, encíclicas e homilias. Anunciando, não a si mesmos ou suas vontades, mas o plano de salvação de Cristo, os papas anunciam e denunciam aos povos, “aberta e claramente com profundas e luminosas palavras, os dogmas de nossa santíssima religião, os preceitos da Igreja Católica e a doutrina dos Padres, para que os fiéis bem instruídos e restaurados pela palavra de Deus evitem todos os vícios, sigam as virtudes e, assim, possam escapar das penas eternas e obter a glória celeste”. (Pio X, Encíclica Qui pluribus).
Se formos dóceis ao Espírito Santo, Ele suscitará em nós uma maior
compreensão do valor do pontificado em todos os tempos de nossa história. Ele nos fará compreender a abrangência da afirmação de Cristo a Pedro: “Tudo o que atares sobre a terra será atado também nos céus; e tudo o que desatares sobre a terra será desatado nos céus”. (Mt 16,19). Sabendo da força da palavra do papa, em 1915 o Papa Bento XV se referia à Primeira Guerra Mundial, chamando-a de “horrenda carnificina”. Em sua exortação aos povos beligerantes e a seus chefes, ele bradou: “O equilíbrio do mundo e a tranquilidade próspera e segura das nações repousam sobre a benevolência mútua e sobre o respeito aos direitos e à dignidade dos outros, muito mais do que num enorme aparato de armas e do que num formidável circuito de fortificações”. (Papa Bento XV, Exortação apostólica Allorché fummo chiamati,7).
Ao tratar do mesmo assunto, o Papa Bento XVI, nos dias de seu pontificado, afirmou: “Os temas da paz e da tolerância são de vital importância em um mundo no qual atitudes rígidas provocam, com demasiada frequência, mal-entendidos e sofrimentos e podem inclusive levar à violência letal. Está claro que o diálogo é indispensável para encontrar soluções aos conflitos e às tensões que tantos danos causam à sociedade. O relativismo moral mina o funcionamento da democracia, que em si mesma não é suficiente para garantir a tolerância e o respeito entre os povos”. (Papa Bento XVI, “Mensagem à Conferência sobre Paz e Tolerância, em 08 de novembro de 2005).
Conhecendo os pronunciamentos dos papas e lendo, meditando e refletindo os ensinamentos que Deus nos concede por meio da maior autoridade da Igreja, somos chamados a reconhecer que o papa é o testemunho mais eloquente da misericórdia de Cristo e, por isso, com gratidão, podemos bradar: “O Papa é o doce Cristo na terra!”.
Podemos, também, em uma sublime oração dizermos ao Senhor: “Obrigado, meu Deus, pelo amor ao Papa que pusestes em meu coração!”. (São Josemaría Escrivá, Caminho 573).
Em nossas almas, devemos cultivar um profundo respeito pela pessoa do papa e nutrir em nossos corações um amor entusiasta pela cátedra petrina, pois, em sintonia com Pedro, adquirimos uma grande solidez doutrinária, bem como uma absoluta e fiel obediência aos ensinamentos de nosso Redentor. E não poderia ser diferente, pois, “na verdade, o Senhor ressuscitou e apareceu a Simão!” (Lc 24,34).
Pedro, o Sumo Pontífice, é a coluna universal do Deus vivo e, por isso, “Pedro tem que ser o custódio da comunhão com Cristo; tem que guiar até à comunhão com Cristo, de forma que a rede não se rompa, mas que sustente a grande comunhão universal. A responsabilidade de Pedro consiste em garantir assim a comunhão com Cristo, com a caridade de Cristo, guiando até a realização dessa caridade na vida de todos os dias”. (Papa Bento XVI, Audiência geral, em 07 de junho de 2006). Rezemos todos os dias, e em todas as celebrações da Santa Missa, por Pedro, para que “o Senhor o conserve, lhe dê vida e o torne feliz na terra, e não o entregue em poder dos seus inimigos”.

Aloísio Parreiras
(Escritor e membro do Movimento de Emaús)

Arquidiocese de Brasília

10 maneiras de fazer do Rosário um salva-vidas neste mês de outubro

Maria Marganingsih | Shutterstock
por Annabelle Moseley | Ricardo Sanches

Temos a resposta para tudo o que nos causa dor e ansiedade, e está literalmente em nossas mãos.

Outubro é o mês do Rosário. E, especialmente neste ano de 2020, com as preocupações abundantes relacionadas à pandemia, as próximas eleições, incêndios e mudanças sociais surreais, somos abençoados por ter este presente do céu. O Rosário, literalmente, salva vidas.

O Papa Pio XI já dizia: “O Rosário é uma arma poderosa para afugentar os demônios e evitar o pecado. Se desejais paz nos vossos corações, nas vossas casas e nos vossos países, rezai todas as noites o Rosário.”

Portanto, temos a resposta para tudo o que nos causa dor e ansiedade. E esse remédio está, literalmente, em nossas mãos. Seguramos Rosário como se segurássemos nas mãos de nossa mãe Maria. E, quando não temos as contas, podemos contar as orações em nossos 10 dedos, rezando para que nossas mãos sempre sejam usadas para fazer a obra de Deus.

Em suma: vamos nos unir neste mês de outubro, neste mês do Rosário! Não vamos passar um dia sem rezar o Rosário pela paz em nossos corações, em nossas casas e em nosso país.

Aqui estão 10 maneiras de honrar o Rosário e confiar nele como uma forma de salvar o mundo e também nossas próprias vidas:

1. Reze o Rosário todos os dias do mês de outubro

Se ainda não o faz, por que não começar a rezar o Rosário todos os dias? É uma ótima maneira de celebrar o mês do Rosário. E, e se você fizer isso diariamente, verá uma diferença perceptível em sua vida. Não deixe a preocupação de que você não está rezando-o perfeitamente interromper esse ciclo. Se você adormecer no meio da reza, encare isso como uma oração silenciosa.

2. Comece a rezar o Rosário em família

“Família que reza unida permanece unida”. Comece a rezar o Rosário em família. Depois, utilize esse momento de oração para compartilhar quaisquer preocupações pelas quais você gostaria de pedir ajuda. Deixe cada pessoa compartilhar uma intenção de oração.

3. Reze o Rosário on-line

Por outro lado, se você vive sozinho(a), encontre faça uma videochamada e reze o Rosário virtualmente com um amigo ou parente. Existem vários companheiros de oração online que ajudam a manter nosso foco durante o Rosário. É só procurar no Instagram ou no Youtube.

4. Aproxime-se da arte e da música mariana

Seja o canto gregoriano mariano, o Magnificat de Bach ou a Ave Maria de Pavarotti, encha sua casa com os belos sons de homenagem à nossa Mãe Celestial.  Além disso, por que não contemplar uma obra-prima mariana? A arte religiosa não é apenas para a igreja. Pesquise obras de arte clássicas de Nossa Senhora e encontre uma das favoritas. Depois, obtenha uma impressão para decorar sua casa. Da Vinci, Raphael, Botticelli… as possibilidades de belas imagens são abundantes. Por exemplo: clique aqui e veja uma bela imagem de Nossa Senhora do Rosário feita por Tommaso Minardi em 1840.

5. Faça orações inspiradas no Rosário

Faça, por exemplo, uma Ave- Maria antes ou após as refeições. Você também pode rezar a Salve Rainha ou uma oração a Nossa Senhora de Fátima em outros momentos do seu dia. Note, portanto, que este pode ser um mês especial para ler mais e considerar fazer uma consagração a Maria.

6. Leia um livro sobre o Rosário

Em uma busca na internet você pode encontrar bons títulos que trazem belas histórias relacionadas ao Santo Rosário. Aqui vamos dar uma sugestão: leia “O Segredo Admirável do Santíssimo Rosário“, de São Luís Maria de Montfort.

7. Construa um jardim dedicado ao Rosário

Seria uma atividade perfeita para unir a família inteira. Depois de pronto, já pensou que maravilha rezar os mistérios percorrendo seu quintal repleto de flores? Certamente será uma grande atividade meditativa. Use sua criatividade para escolher as flores que têm a ver com cada mistério.

8. Faça um altar para Nossa Senhora em sua casa

Você pode, por exemplo, construir um pequeno e simples altar ou colocar a imagem em uma mesa de destaque. Uma sugestão é forrar a mesa com uma toalha azul (cor de Maria) ou branca (paz) e colocar a imagem de Nossa Senhora do Rosário em cima dela. Depois, adorne com um vaso de flor e vela, que você pode acender à noite. Como é o mês do Rosário, inclua também um Rosário neste altar.

9. Dedique os sábados a Maria

O sábado é o dia que nossa Igreja reserva para Nossa Senhora. Faça uma visita a uma igreja que tem uma capela ou imagem mariana e peça a intercessão de nossa Mãezinha. Por outro lado, a Festa de Nossa Senhora de Fátima é 13 de outubro, e uma forma de homenageá-la é lembrar o pedido de Nossa Senhora de Fátima para os primeiros sábados. Clique aqui e saiba tudo sobre essa devoção.

10. Pratique a caridade

Escolha um dos dias de festa de outubro – por exemplo Nossa Senhora do Rosário (7 de outubro) e faça um ato especial de caridade para alguém em necessidade. Ofereça sua intenção ao Imaculado Coração de Maria.

Conclusão: faça deste mês uma maratona destinada ao Santo Rosário e colha os frutos dessa devoção.

Aleteia

Papa denuncia à ONU a promoção do aborto e a destruição da família

O Papa Francisco entrega sua mensagem.
Foto: Captura do Youtube

Vaticano, 25 set. 20 / 03:10 pm (ACI).- O Papa Francisco denunciou, perante a 75ª Assembleia Geral da ONU, que muitos “países e instituições internacionais estão promovendo o aborto como um dos chamados 'serviços essenciais' na resposta humanitária”.

“É triste ver como se tornou simples e conveniente, para alguns, negar a existência da vida como solução para problemas que podem e devem ser resolvidos tanto para a mãe como para o nascituro”, denunciou o Pontífice em uma vídeo-mensagem enviada do Vaticano nesta sexta-feira, 25 de setembro.

O Santo Padre implorou às autoridades civis "que prestem especial atenção às crianças a quem lhes são negados seus direitos e dignidade fundamentais, em especial seu direito à vida e à educação”.

Do mesmo modo, destacou que “os primeiros educadores da criança são sua mãe e seu pai, a família que a Declaração Universal dos Direitos Humanos descreve como o elemento natural e fundamental da sociedade”.

O Papa também denunciou o processo de desintegração da família. “Muitas vezes, a família é vítima de colonialismos ideológicos que a tornam vulnerável e acabam provocando em muitos de seus membros, principalmente nos mais indefesos, crianças e idosos, um sentimento de desenraizamento e orfandade”.

“A desintegração da família acarreta a fragmentação social que impede o compromisso de enfrentar inimigos comuns. É hora de reavaliar e comprometer-se novamente com nossos objetivos".

O Pontífice também citou “as consequências devastadoras da crise da Covid-19 sobre as crianças, compreendendo os menores migrantes e refugiados não acompanhados. A violência contra as crianças, incluindo o horrível flagelo do abuso infantil e da pornografia, também aumentou drasticamente”.

Recordou que “milhões de crianças não podem voltar à escola. Em muitas partes do mundo, esta situação ameaça o aumento do trabalho infantil, da exploração, dos maus-tratos e da desnutrição”.

Saída solidária para a pandemia

Em sua mensagem, o Pontífice destacou como a pandemia do coronavírus, ainda em curso, mudou o modo de vida das pessoas. “Esta crise está mudando nossa forma de vida, questionando nossos sistemas econômicos, de saúde e sociais, e expondo nossa fragilidade como criaturas”.

O Papa recordou as muitas pessoas que perderam a vida por causa da COVID-19 e destacou que é necessário “repensar nossa forma de vida e nossos sistemas econômicos e sociais, que estão ampliando as distâncias entre ricos e pobres, à raiz de uma distribuição dos recursos injusta”.

Nesse sentido, assinalou que a crise pode dar lugar a duas atitudes distintas: uma individualista e elitista, frente à outra multilateral e solidária.

Reforçou que o multilateralismo é “a expressão de uma corresponsabilidade mundial renovada, de uma solidariedade baseada na justiça e na realização da paz e da unidade da família humana, projeto de Deus no mundo”.

O outro caminho, o individualista, leva a “atitudes de autossuficiência, nacionalismo, protecionismo, individualismo e isolamento, deixando de fora os mais pobres, os mais vulneráveis, os habitantes das periferias existenciais. E certamente será prejudicial para toda a comunidade, causando automutilação para todos. E isso não deve prevalecer”.

Do mesmo modo, assegurou que “a pandemia destacou a necessidade urgente de promover a saúde pública e de realizar o direito de toda pessoa à atenção médica básica. Portanto, eu renovo o chamado aos responsáveis políticos e ao setor privado para que tomem as medidas adequadas para garantir o acesso às vacinas contra a COVID-19 e tecnologias essenciais necessárias para cuidar dos enfermos.

“Se for preciso privilegiar alguém”, pediu, “que esse seja o mais pobre, o mais vulnerável, aquele que normalmente é discriminado por não ter poder ou recursos econômicos”.

Garantir o direito ao trabalho

O Papa Francisco também pediu que tenham presente os efeitos do desenvolvimento tecnológico sobre o trabalho e, em concreto, advertiu sobre a tentação de servir-se da robotização e da inteligência artificial para desestabilizar o mercado laboral.

"É particularmente necessário encontrar novas formas de trabalho que sejam verdadeiramente capazes de realizar o potencial humano e que, ao mesmo tempo, afirmem nossa dignidade".

Exigiu uma mudança no “paradigma econômico dominante que visa apenas ampliar os lucros das empresas. Oferecer trabalho a mais pessoas deveria ser um dos principais objetivos de cada empresário, um dos critérios para o sucesso da atividade produtiva. O progresso tecnológico é útil e necessário sempre que sirva para tornar o trabalho das pessoas mais digno, seguro, menos pesado e opressor”.

Cultura de descarte

O bispo de Roma defendeu o desenvolvimento de “um quadro ético mais forte, capaz de superar a cultura do descarte”.

“Na origem desta cultura do descarte está um grande desrespeito pela dignidade humana, uma promoção ideológica com visões reducionistas da pessoa, uma negação da universalidade de seus direitos fundamentais e um desejo de poder e controle absolutos que domina a sociedade moderna hoje. Digamos pelo nome: isso também é um atentado contra a humanidade”.

O Papa denunciou os muitos direitos fundamentais que sendo violados com impunidade e, especificamente, citou perseguições por motivos religiosos, incluindo genocídios. “Também, entre os religiosos, nós, cristãos, somos vítimas: quantos sofrem ao redor do mundo, às vezes obrigados a deixar suas terras ancestrais, isolados de sua rica história e cultura”.

Guerras e refugiados

Denunciou o uso em guerras de armas "convencionais" cada vez menos convencionais e cada vez mais "armas de destruição em massa", o que faz com que os conflitos bélicos sejam cada vez mais destrutivos.

“Devemos nos perguntar se as principais ameaças à paz e à segurança, como pobreza, epidemias e terrorismo, entre outras, podem ser enfrentadas de forma eficaz quando a corrida armamentista, incluindo as armas nucleares, continua desperdiçando recursos preciosos que seriam mais bem aproveitados no benefício do desenvolvimento integral dos povos e para proteger o meio ambiente natural”.

Ele exigiu “desmantelar as lógicas perversas que atribuem à posse de armas a segurança pessoal e social. Tais lógicas só servem para incrementar as ganâncias da indústria bélica, alimentando um clima de desconfiança e de temor entre as personas os povos”.

Em particular, assegurou que “a dissuasão nuclear fomenta um espírito de medo baseado na ameaça de aniquilação mútua, que acaba envenenando as relações entre os povos e dificultando o diálogo. Por isso é tão importante apoiar os principais instrumentos jurídicos internacionais de desarmamento, não proliferação e proibição nuclear”.

O número de deslocados pelas guerras é cada vez maior. “Frequentemente, os refugiados, os migrantes e os deslocados internos nos países de origem, trânsito e destino sofrem abandonados, sem oportunidade de melhorar sua situação de vida ou de sua família”.

“Pior ainda, milhares são interceptados no mar e devolvidos à força aos campos de detenção, onde enfrentam tortura e abusos. Muitos são vítimas de tráfico, escravidão sexual ou trabalho forçado, explorados em trabalhos degradantes, sem um salário justo. O que é intolerável, porém, é hoje uma realidade que muitos ignoram intencionalmente!”.

Frente a esta situação, o Santo Padre apelou à promoção dos Pactos Globais sobre Refugiados e Migração.

Novo modelo econômico

Diante da “desigualdade cada vez maior entre os super ricos e os permanentemente pobres”, o Papa Francisco pediu “um modelo econômico que promova a subsidiariedade, apoie o desenvolvimento econômico local e invista em educação e infraestrutura que beneficie as comunidades locais”.

“A comunidade internacional deve fazer um esforço para acabar com as injustiças econômicas”, afirmou. “Temos a responsabilidade de fornecer assistência ao desenvolvimento para as nações empobrecidas e alívio da dívida para as nações altamente endividadas”.

Mudança climática

Em sua mensagem de vídeo, o Papa Francisco também fez um balanço dos últimos anos de luta contra as mudanças climáticas. Especificamente, citou os compromissos assumidos por meio da Agenda 2030 e do Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas.

Ele reconheceu que "embora algum progresso tenha sido feito, a capacidade limitada da comunidade internacional de cumprir suas promessas feitas cinco anos atrás me leva a reiterar que devemos evitar qualquer tentação de cair em um nominalismo declaracionista com um efeito tranquilizador sobre as consciências".

Referiu-se à "situação perigosa da Amazônia e de suas populações indígenas" e afirmou que "a crise ambiental está intrinsecamente ligada a uma crise social e que cuidar do meio ambiente exige uma abordagem integral para combater a pobreza e combater a exclusão".

Elogiou o aumento da sociedade ecológica integral e o desejo de ação, mas convidou também a perguntar-se seriamente sobre se existe “a vontade política para mitigar os efeitos negativos da mudança climática”.

Promoção da mulher

O Papa Francisco assinalou que “em todos os níveis da sociedade as mulheres estão desempenhando um papel importante, com sua contribuição única, assumindo as rédeas com grande coragem no serviço do bem comum”.

“Muitas mulheres ficaram para trás”, denunciou o pontífice. “São vítimas de escravidão, do tráfico, da violência, da exploração e do tratamento degradante”. O Papa sublinhou o seu empenho “na luta contra estas práticas perversas que levam à degradação não só das mulheres mas de toda a humanidade que, com o seu silêncio e não uma ação eficaz, se torna cúmplice”.

ACI Digital

O Cardeal Zen pede ao Papa um novo Bispo para Hong Kong

Cardeal Joseph Zen (imagem de arquivo).
Foto: Wikipedia (DC-BY-SEA-3.0)

Vaticano, 30 set. 20 / 07:00 pm (ACI).- O Cardeal Joseph Zen, Bispo Emérito de Hong Kong, esteve recentemente em Roma e, embora não tenha conseguido falar com o Papa Francisco, enviou-lhe uma carta na que mostra sua preocupação pela falta de um Bispo nesta Diocese chinesa e pela difícil situação que atravessa a cidade autônoma devido às pressões exercidas pelo governo de Pequim.

Em uma entrevista concedida ao grupo ACI / EWTN, o Cardeal Zen explicou que em Hong Kong os católicos estão à espera da nova nomeação episcopal. “Há mais de ano e meio que não temos Bispo”, lamentou.

Ele explicou que devido aos recentes protestos contra a nova Lei de Segurança sancionada pelo governo em Pequim, que supõe uma limitação de direitos e da autonomia da cidade, o atual clima é “muito mais político”.

“Eu gostaria de recordar ao Santo Padre que realmente precisamos de um Bispo que seja um bom pastor do rebanho. Lembro-me que ao começo de seu Pontificado nos deu muitas recomendações: ‘Um Bispo deve ser assim, e não deve ser deste outro modo…’. portanto, espero que recorde todas estas coisas e que nomeie um bom Bispo, que não dê muita importância aos aspectos políticos”.

Na entrevista, o Cardeal Zen também expressou a preocupação dos católicos de Hong Kong pela medida autoritária do governo chinês para com esta cidade que outrora foi colônia britânica, e que pretende reduzir sua autonomia e degradar seu sistema democrático.

“Todos sabem que quando Hong Kong ficou submetida à soberania do governo de Pequim, em 1997, nos foi prometido que desfrutaríamos de uma ampla autonomia. Essa autonomia está incluída na lei fundamental que nos permitiu ser uma democracia”.

O Cardeal afirmou que essa promessa de autonomia foi quebrada: “Pouco a pouco nos demos conta de que os comunistas não mantêm suas promessas. Então estalou este movimento de protesto. Neste momento, acredito que todos se uniram a ele porque se fez óbvio que, como colônia, possivelmente não desfrutávamos de democracia, mas desfrutávamos de todas as liberdades. Agora, necessitamos de uma democracia em Hong Kong para salvaguardar as liberdades”.

O purpurado assinalou que com a nova Lei de Segurança pretendeu-se silenciar as vozes dos cidadãos. “Isso é terrível porque é o único que temos, nossas vozes. Neste momento, eu partilho minha voz com todos, sendo cauteloso e sem falar muito, porque isto, agora, é realmente perigoso”.

Na entrevista, o Cardeal Zen recordou os muitos católicos encarcerados na China. “Não tiveram Missa durante anos, mas estão cheios de graça. Eu hoje aconselho a não enfrentar o governo porque pode-se sofrer de forma inútil, e podem tirar tudo de nós. Podem mandar-nos à prisão, e isso não é necessário. Basta manter silêncio. Não acredito que hoje seja fácil sobreviver. Mas precisamos sobreviver e esperar dias melhores”.

Por último, lamentou que “em Hong Kong a situação esteja se tornando igual à do resto da China. Por isso, eu dou o mesmo conselho: não provoquem o governo, porque agora é perigoso, porque podem mandar alguém para a prisão por uma simples palavra pronunciada. Em breve, quando for necessário, poderão dar este testemunho da verdade e de sua fé”.

ACI Digital

S. TERESA DO MENINO JESUS, VIRGEM CARMELITA, DOUTORA DA IGREJA, PADROEIRA DAS MISSÕES

S. Teresa do Menino Jesus  (Joachim Schäfer -
Ökumenisches Heiligenlexikon)

Salvar as almas

Thérèse Françoise Marie Martin nasceu em Alençon, em 2 de janeiro de 1873, de um casal de ourives, muito católicos, “dignos mais do céu do que da terra”, como Terezinha os definia. Ele era a última de oito filhos, três dos quais morreram quando crianças. Aos quatro anos, ficando órfã de mãe, reviveu o drama do abandono, por causa da entrada progressiva de quatro de suas irmãs para o Carmelo. No entanto, recebia o carinho especial do seu pai, que a chamava “pequena rainha da França e de Navarra”, como também “a pequena órfã de Beresina”.

Por sua vez, ela também entra para o Carmelo de Lisieux, com apenas quinze anos, por especial autorização do Papa Leão XIII, após ter ido suplicá-lo em Roma: “Você vai entrar, se Deus quiser”, foi a resposta do Pontífice.

O desejo da jovem era “salvar as almas” e, sobretudo, “rezar para ajudar os sacerdotes”. Na hora de fazer a profissão dos votos religiosos ela recebeu o nome de Irmã Teresa do Menino Jesus e da Santa Face.

A pedido da Superiora, Terezinha começou, imediatamente, a escrever um diário, no qual fez algumas anotações sobre as etapas da sua vida interior. Em 1895, escreveu: “No dia 9 de junho, festa da Santíssima Trindade, recebi a graça de entender, mais do que nunca, quanto Jesus quer ser amado!”.

Pequeno Caminho

Na França, no final do século XIX, difundia-se o pensamento positivista, impulsionado por grandes invenções e apoiado por ideias anticlericais e ateístas.

Por isso, a elaboração de uma espiritualidade muito original, por parte de Teresa, também chamada “teologia do Pequeno Caminho” ou “da Infância Espiritual”, assume particular importância; trata-se de uma espiritualidade, cuja pratica do amor a Deus não se baseava em grandes ações, mas em pequenos atos diários, aparentemente insignificantes.

Em sua autobiografia, Santa Teresa escreve: “Há somente uma coisa a ser feita: oferecer a Jesus as flores dos pequenos sacrifícios”. E, ainda: “Quero transmitir as pequenas ações que consegui fazer”.

Na sua elaboração original, o Diário tem um subtítulo: “História primaveril de uma florzinha branca”. No entanto, sob um aparente romanticismo, se oculta, na verdade, um caminho árduo rumo à santidade, marcado por uma forte resposta ao amor de Deus pelo homem.

Incompreendida pelas coirmãs do Carmelo, Teresa declara ter recebido “mais espinhos que rosas”, mas aceitava com paciência as injustiças e as perseguições, como também as dores e os sofrimentos da sua doença, oferecendo tudo “pelas necessidades da Igreja”, “lançar rosas sobre todos, justos e pecadores”.

Para João Paulo II e Bento XVI, a exclusividade da sua espiritualidade era a total abertura à invasão do amor de Deus, a capacidade de responder a este amor também nas “noites” do espírito: neste sentido, era irmã dos pecadores, dos distantes, dos ateus, dos desesperados; eis porque foi declarada Padroeira dos missionários.

Morte e acontecimentos da “História de uma alma”

Após nove anos de vida religiosa, Teresa morre, com apenas 24 anos de idade, em 3º de setembro de 1897, acometida por tuberculose. Em 1923, foi beatificada pelo Papa Pio XI, que a considerava a “estrela do seu Pontificado” e, logo a seguir, canonizada em 1925.

Nos anos 50, no século passado, o abade André Combes, - teólogo no “Institut Catholique”, na Sorbonne de Paris, e na Universidade Lateranense, em Roma, - descobriu as manipulações feitas, em boa fé, no Diário de Teresa, pelas suas próprias coirmãs, que a consideravam a pequena de casa; a doutrina espiritual e teologal da “Infância Espiritual” não se limitavam, apenas, em um princípio psicológico e sentimental, composto só de pequenas coisas. O coração da sua espiritualidade consistia mais na consciência de que o homem, mesmo na sua pequenez, acaba sendo divinizado pela Graça. Desta forma, Teresa responde aos “mestres suspeitosos”, como Feuerbach, Marx, Freud, Nietzsche. O homem-criatura, que se deixa divinizar pela invasão do amor de Deus, não é, absolutamente, “alheado”. A Cristologia e Antropologia caminham, portanto, de pari passu: Teresa antecipa, de quase um século, alguns textos do Concílio Vaticano II, de Paulo VI, e, em particular, alguns trechos da “Caritas in veritate” de Bento XVI.

Textos correlacionados:

- Santa Missa do Papa Pio XI, em honra de Santa Teresa de Lisieux, 17 de maio de 1925:

https://w2.vatican.va/content/pius-xi/it/homilies/documents/hf_p-xi_hom_19250517_benedictus-deus.html

- Mensagem radiofônica do Papa Pio XII na consagração da Basílica de Santa Teresa, em Lisieux:

http://w2.vatican.va/content/pius-xii/fr/speeches/1954/documents/hf_p-xii_spe_19540711_lisieux.html

- Capela papal de João Paulo II pela proclamação de Santa Teresa de Lisieux, Doutora da Igreja, 19 de outubro de 1997:

http://w2.vatican.va/content/john-paul-ii/it/homilies/1997/documents/hf_jp-ii_hom_19101997.html

- Audiência geral do Papa Bento XVI, 6 de abril de 2011:

http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/it/audiences/2011/documents/hf_ben-xvi_aud_20110406.html

- Encíclica de Bento XVI “Caritas in veritate”:

http://w2.vatican.va/content/benedict-xvi/it/encyclicals/documents/hf_ben-xvi_enc_20090629_caritas-in-veritate.html

- Santa Missa de Papa Francesco, na Casa Santa Marta, 1° de outubro de 2013:

http://w2.vatican.va/content/francesco/it/cotidie/2013/documents/papa-francesco-cotidie_20131001_forza-del-vangelo.html

- Do site “La santa Sede”:

http://www.vatican.va/news_services/liturgy/documents/ns_lit_doc_19101997_stherese_fr.html

Vatican News

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF