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segunda-feira, 15 de agosto de 2022

O mistério da Igreja

Celebração da Paixão do Senhor (02/04/2022)  (Vatican Media)

"A Igreja, sendo uma realidade visível e histórica, é, no fundo, a realidade histórica do desígnio de salvação que nasce da Trindade e que à ela conduz. O mistério de Deus operado em Cristo por meio da Igreja tem, pois, como contraponto o mistério da iniquidade. É a ação de satanás que põe obstáculos à ação salvadora de Deus. Mas a vitória final dos eleitos e escolhidos tem em sua base e fundamento o mistério pascal de Cristo."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

“É na Igreja que Cristo realiza e revela o seu próprio mistério, como a meta do desígnio de Deus: «recapitular tudo n'Ele». São Paulo chama «grande mistério» à união esponsal de Cristo e da Igreja. Porque está unida a Cristo como a seu esposo, a própria Igreja, por seu turno, se torna mistério. E é contemplando nela este mistério, que S. Paulo exclama: «Cristo em vós — eis a esperança da glória!» (CIC 772).”

Dando sequência a sua série de reflexões sobre a Igreja, padre Gerson Schmidt* nos fala hoje sobre "O mistério da Igreja":

"O Concílio se voltou à teologia do Mistério da Igreja. A Igreja só pode ser entendida como é, como o mistério de salvação, que nascendo no seio da Trindade, se realiza em Cristo por obra do Espírito Santo para introduzir os homens na família de Deus, superando o pecado e a morte[1]. A Igreja não nasce de iniciativa humana no intento de superar os limites e sofrimentos humanos. Não é uma fraternidade puramente social nem consequências de forças puramente humanas. A Igreja é superior ao tempo e está preparada desde toda a eternidade no desígnio salvador de Deus Pai em Cristo.

No Cristianismo, se fala do mistério de Cristo que o homem não pode conquistar por sua inteligência, tão somente por suas próprias forças e cumprimento exaustivo da lei, senão recebendo somente como dom e graça do alto. Jesus mesmo diz: “Ninguém vem a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair”(Jo 6,44).

Muitos teólogos escrevem sobre o Mistério da Igreja: Casel, Congar, Romano Guardini, Philips e outros. O Teólogo Collantes aponta assim: “A Igreja é vida e ação de Deus sobre a história humana. Cada indivíduo é uma pequena Igreja, porque no mais íntimo da decisão pessoal se desenrola o drama de sua própria entrega à ação salvadora de Deus ou de sua frustração como escolhido. A Igreja, em grande, não é outra coisa senão a socialização da ação divina que se realiza comunitariamente em todos aqueles que aceitam a chamada de Deus”[2].

Enquanto Cristo é o sacramento do Pai, temos que entender que a Igreja é o sacramento de Cristo, como sinal que tem presente entre nós o mistério do desígnio salvador de Deus. São Paulo fala da teologia do mistério quando aponta que o mistério escondido desde toda a eternidade, tem sido revelado e tem se manifestado em Cristo Jesus, chegando ao conhecimento das nações por meio do Evangelho e a pregação, para conduzir-nos à fé e à obediência. “A Igreja é a realização efetiva do mistério. A Igreja é o mistério de Cristo tornado visível através dos séculos. O plano de salvação não é só revelado ou proclamado por meio do Evangelho, mas também é realizado efetivamente pela Igreja. Como Cristo é o mistério de Deus tornado visível, assim a Igreja é o mistério (aqui poderíamos dizer sacramento) de Cristo tornado visível nos séculos. Neste sentido, ‘mistério” é equivalente a ‘sacramento’: Cristo, sacramento de Deus; a Igreja, sacramento de Cristo”[3].

A Igreja, sendo uma realidade visível e histórica, é, no fundo, a realidade histórica do desígnio de salvação que nasce da Trindade e que à ela conduz. O mistério de Deus operado em Cristo por meio da Igreja tem, pois, como contraponto o mistério da in equidade. É a ação de satanás que põe obstáculos à ação salvadora de Deus. Mas a vitória final dos eleitos e escolhidos tem em sua base e fundamento o mistério pascal de Cristo. Por isso, toda a importância da Igreja deriva de sua relação com Cristo. Na Igreja se tem presente a páscoa do Senhor, que é nossa salvação. Se compreende assim que mistério e sacramento vem a ser o mesmo. Por isso, o termo latino “sacramentum” se traduz em termo grego “mysterion”. É na Eucaristia, segundo a linguagem paulina, que a Igreja se congrega como Corpo do Senhor, pois nos alimentamos com o mesmo pão e formamos a mesma família (cf. 1Cor 10,17). A LG, no número 26, aponta que o mistério da Igreja se realiza ali onde se reúnem os fiéis mediante a pregação e se alimentam do corpo do Senhor, sob a presidência do pastor."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

____________________

[1] SAYÉS, José Antonio. La Iglesia de Cristo, Curso de Eclesiologia, Editora Pelicano, Madrid, 1999, p.25.

[2] J. COLLANTES, La Iglesia de la palavra, Madrid, 1972, I, 108.

[3] SAYÉS, José Antonio. La Iglesia de Cristo, Curso de Eclesiologia, Editora Pelicano, Madrid, 1999, p. 28.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Diferentes títulos de Nossa Senhora recordam o dogma da Assunção da Virgem

Nossa Senhora da Assunção / Facebook Caminhada com Maria
Por Natália Zimbrão

REDAÇÃO CENTRAL, 14 ago. 22 / 12:00 pm (ACI).- No dia 15 de agosto, a Igreja celebra a solenidade da Assunção da Virgem Maria e diversas devoções marianas, como Nossa Senhora da Glória, da Boa Viagem, da Boa Morte, da Guia, da Abadia, da Ponte. Segundo o especialista em mariologia Vinícius Paiva, todos esses títulos “giram em torno do mistério da Assunção, que é um dogma da nossa fé”.

Em 1950, através da constituição apostólica Munificentissimus Deus, o papa Pio XII definiu esse dogma, ao afirmar que “a Imaculada Mãe de Deus, a sempre Virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre foi assunta em corpo e alma à glória celestial”.

Segundo Vinícius Paiva, esse “mistério da fé” pode ser contemplado por diferentes ângulos e, “dependendo do ângulo que você contempla, tem uma devoção que se desenvolve”. Assim, “por exemplo, se você olha para o mistério da Assunção e enxerga nele a confirmação da vitória sobre a morte alcançada com a ressurreição de Cristo, confirmada com a Assunção de Maria, essa Nossa Senhora passa a ser Nossa Senhora da Boa Morte, porque a morte não é mais o fim, não tem mais domínio sobre Maria, por isso, seu corpo, sua pessoa viva é assunta aos céus. Nós estamos contemplando o dogma da Assunção pelo ângulo da morte. Agora, se contemplar sobre o ângulo da glória, essa Maria assunta aos céus é Aquela que foi glorificada, que está na glória”, disse.

Entre as diversas devoções a Nossa Senhora recordadas em 15 de agosto, algumas chamam a atenção por seus títulos diferentes ou por serem mais locais. Uma dessas é Nossa Senhora da Ponte, padroeira da cidade e arquidiocese de Sorocaba (SP). Nessa cidade está a única catedral que venera a Mãe de Deus com este título.

Segundo o site da catedral de Sorocaba, esta devoção de origem portuguesa pode ter uma explicação geográfica e outra teológica. “A primeira seria a capela junto a uma ponte na cidade de Ponte de Lima, em Portugal, existente até hoje. A outra nasce da função de todas as pontes: unir o que está separado, aproximar o que está distante, encurtar as distâncias, pois ao gerar em seu virginal ventre o Salvador Maria torna-se essa ‘ponte’ que une o céu à terra e assim nos aproxima de Deus”.

Enfim, afirmou Vinícius Paiva, “o mesmo mistério comporta diferentes ângulos de contemplação e, portanto, diferentes devoções. O ponto central é o mistério da Assunção de Maria, é esse dogma que está brilhando, que a Igreja celebra como uma solenidade no dia 15 de agosto, e estas devoções, esses títulos derivam dessa solenidade, dessa contemplação”.

O padre Márcio Ruback, do santuário Nossa Senhora da Abadia, em Romaria (MG), chamou a atenção para o fato de que, embora sejam diferentes títulos atribuídos à Virgem Maria e com imagens diferentes, todas essas imagens das devoções celebradas em 15 de agosto “mostram Maria assunta aos céus, com os anjos em volta”. No caso da Abadia, o sacerdote afirmou que esse termo significa “casa do Pai”, ou seja, “é a Virgem Maria que volta para o Pai”.

Assim como Nossa Senhora da Ponte, também Nossa Senhora da Abadia e outras devoções marianas celebradas em 15 de agosto tiveram origem em Portugal e hoje estão enraizadas no Brasil, honradas como padroeiras de diferentes cidades. Entre elas, estão Nossa Senhora da Boa Viagem, padroeira de Belo Horizonte; Nossa Senhora do Porto da Eterna Salvação, padroeira de Andrelândia (MG); Nossa Senhora da Guia, padroeira de Acari (RN), cuja igreja foi elevada a basílica menor em março deste ano.

Segundo o especialista em mariologia, Vinícius Paiva, “nossa devoção mariana do Brasil é muito devedora, quase em sua totalidade, a Portugal”. Apesar de haver no país algumas devoções por influência de outras culturas, Paiva disse que, “em função da colonização portuguesa e do fato de o povo português ser bastante mariano, desde a época que o Brasil foi colonizado, essas devoções foram trazidas de Portugal e nós acabamos assumindo os desdobramentos do caráter devocional do povo português. É uma boa herança”.

“Todas as igrejas, as devoções, as confrarias, as irmandades, os títulos, as imagens marianas, o próprio costume brasileiro de se reportar a uma imagem da Virgem Maria, isso se deve à grande devoção da cultura portuguesa à pessoa de Maria” e que veio para o Brasil como uma “bonita contribuição para a nossa formação católica”, disse.

Festejos por todo o país

Como muitas cidades e dioceses no Brasil possuem Nossa Senhora como padroeira e a celebram em 15 de agosto, em diferentes partes do país é possível encontrar uma grande festa dedicada à Mãe de Deus neste dia. Uma dessas celebrações é de Nossa Senhora da Abadia que, segundo padre Ruback, “é a quarta maior devoção do Brasil em número de fiéis e a maior de Minas Gerais”, chegando a reunir 500 mil pessoas. 

Em Fortaleza (CE), que tem como padroeira Nossa Senhora da Assunção, a Caminhada com Maria é um tradicional evento em honra à Virgem. Em 2019, reuniu mais de 2 milhões de pessoas pelas ruas da cidade. Os fiéis fazem um percurso de aproximadamente 12,5 quilômetros entre o santuário de Nossa Senhora da Assunção e a catedral metropolitana. Em 2015, foi reconhecida como patrimônio cultural imaterial do Brasil. 

Em Belo Horizonte, cuja padroeira é Nossa Senhora da Boa Viagem, a festividade também possui um tradicional evento chamado Caminhada com Maria. A imagem da Virgem é levada por diversas igrejas da cidade dedicadas a Maria. 

Para o especialista em mariologia, Vinícius Paiva, “é muito importante nos locais onde se celebram esses feriados religiosos dedicados a Maria que se viva de maneira digna, de maneira honrosa, de maneira celebrativa, comunitária, para que se mantenha viva a cultura da devoção mariana” frente a uma “tendência de laicidade” na sociedade.

Paiva afirmou que tais celebrações possuem uma importância histórica e cultural no Brasil, mas sobretudo religiosa. Segundo ele, os católicos devem aproveitar as celebrações de 15 de agosto para “celebrar o nosso amor filial à Virgem Maria, reconhecer no dogma da Assunção a nossa própria vocação ao céu. O céu, a eternidade com Deus, não pode ser esquecido”.

“Celebrar o dogma da Assunção e todos os outros títulos vinculados a esse acontecimento da nossa fé é sim reavivar a nossa vocação ao céu, aquilo que será a nossa condição final. Maria já é aquilo que seremos e Ela já está onde um dia estaremos”, concluiu.

Fonte: https://www.acidigital.com/

A Solenidade da Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria

Assunção de Nossa Senhora  (©Pavle - stock.adobe.com)
15 de agosto

A Solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria, em corpo e alma ao Céu, é um sinal eloquente do que, não só a "alma", mas também a "corporeidade" confirmam que "tudo era muito bom" (Gn 1,31), tanto que, como aconteceu com a Virgem Maria, também a "nossa carne" será elevada ao céu.

Vatican News

A Solenidade da Assunção da Bem-aventurada Virgem Maria é celebrada no dia 15 de agosto, desde o século V, com o significado de "Nascimento para o Céu" ou, segundo a tradição bizantina, de "Dormição". Em Roma, esta festa era celebrada desde meados do século VII, mas foi preciso esperar até 1° de novembro de 1950, quando Pio XII proclamou o Dogma da Assunção de Maria, elevada ao céu em corpo e alma.

No Credo Apostólico, professamos a nossa fé na "ressurreição da carne" e na "vida eterna", fim e sentido último do caminho da vida terrena. Esta promessa de fé cumpriu-se em Maria, sinal de “consolo e esperança” (Prefácio). Trata-se de um privilégio de Maria, por ser intimamente ligado ao fato de ser Mãe de Jesus: visto que a morte e a corrupção do corpo humano são consequências do pecado, não era oportuno que a Virgem Maria - isenta de pecado - fosse implicada nesta lei humana. Daí o mistério da sua "Dormição" ou "Assunção ao céu".

O fato de Maria ter sido elevada ao céu é motivo de júbilo, alegria e esperança para nós: "Já e ainda não". Uma criatura de Deus, Maria, já está no Céu e, com ela e como ela, também nós, criaturas de Deus, estaremos um dia. Portanto, o destino de Maria, unida ao corpo transfigurado e glorioso de Jesus, será o mesmo destino de todos os que estão unidos ao Senhor Jesus, na fé e no amor.

É interessante notar que a liturgia - através dos textos bíblicos, extraídos do livro do Apocalipse e de Lucas – nos leva não tanto a refletir sobre o canto do Magnificat, mas a rezar. O Evangelho sugere ler o mistério de Maria à luz da sua oração, o Magnificat: o amor gratuito, que se estende de geração em geração; a predileção pelos simples e pobres encontra em Maria o melhor fruto: poderíamos dizer que é a sua obra-prima, um espelho no qual todo o Povo de Deus pode refletir seus próprios lineamentos.

A Solenidade da Assunção da Bem-Aventurada Virgem Maria, em corpo e alma ao Céu, é um sinal eloquente do que, não só a "alma", mas também a "corporeidade" confirmam que "tudo era muito bom" (Gn 1,31), tanto que, como aconteceu com a Virgem Maria, também a "nossa carne" será elevada ao céu. Isto, porém, não quer dizer que somos isentos do nosso compromisso com a história; pelo contrário, é precisamente o nosso olhar, voltado para a Meta, o Céu, a nossa Pátria, que nos dá o impulso para nos comprometermos com a vida presente, nas pegadas do Magnificat: felizes pela misericórdia de Deus, atenciosos com todos nossos irmãos e irmãs, que encontramos ao longo do caminho, começando pelos mais fracos e frágeis.

Proclamação do Dogma

"Pelo que, depois de termos dirigido a Deus repetidas súplicas, e de termos invocado a paz do Espírito de verdade, para glória de Deus onipotente que à virgem Maria concedeu a sua especial benevolência, para honra do seu Filho, Rei imortal dos séculos e triunfador do pecado e da morte, para aumento da glória da sua augusta mãe, e para gozo e júbilo de toda a Igreja, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos bem-aventurados apóstolos s. Pedro e s. Paulo e com a nossa, pronunciamos, declaramos e definimos ser dogma divinamente revelado que: a imaculada Mãe de Deus, a sempre virgem Maria, terminado o curso da vida terrestre, foi assunta em corpo e alma à glória celestial" (Pio XII, Munificentissimus Deus, 1º de novembro de 1950).

Evangelho do dia:

«Naqueles dias, Maria se levantou e foi às pressas às montanhas, a uma cidade de Judá. Entrou em casa de Zacarias e saudou Isabel. Ora, apenas Isabel ouviu a saudação de Maria, a criança estremeceu no seu seio; e Isabel ficou cheia do Espírito Santo. E exclamou em alta voz: “Bendita és tu entre as mulheres e bendito é o fruto do teu ventre. Donde me vem esta honra de vir a mim a mãe de meu Senhor? Pois assim que a voz de tua saudação chegou aos meus ouvidos, a criança estremeceu de alegria no meu seio. Bem-aventurada és tu que creste, pois se hão de cumprir as coisas que da parte do Senhor te foram ditas!”. E Maria disse:

“Minha alma glorifica ao Senhor,

meu espírito exulta de alegria em Deus, meu Salvador,

porque olhou para sua pobre serva.

Por isso, desde agora, me proclamarão bem-aventurada

todas as gerações, porque realizou em mim maravilhas

aquele que é Poderoso e cujo nome é Santo.

Sua misericórdia se estende, de geração em geração,

sobre os que o temem.

Manifestou o poder do seu braço:

desconcertou os corações dos soberbos.

Derrubou do trono os poderosos

e exaltou os humildes.

Saciou de bens os indigentes

e despediu de mãos vazias os ricos.

Acolheu a Israel, seu servo,

lembrado da sua misericórdia,

conforme prometera a nossos pais,

em favor de Abraão e sua posteridade, para sempre”.

Maria ficou com Isabel cerca de três meses. Depois voltou para casa» (Lc 1,39-56).

Dar louvor

Hoje, com o seu Magnificat, a Virgem Maria nos ensina a dar louvor e glória a Deus. Com este convite, por meio do qual a Virgem Maria é contemplada na glória, ela nos exorta a superar o nosso modo exagerado de encarar os problemas e dificuldades habituais. Maria é capaz e, hoje, nos ensina também a olhar a vida de outro ponto de vista: o nosso coração é bem maior que os nossos pecados; e, se o nosso coração nos censurar, Deus é maior que o nosso coração! (cf. 1 Jo 3,20). Logo, não se trata, de uma ilusão, como se não houvesse problemas na vida, mas de valorizar a beleza e o bem que existe na vida, sabendo dar graças a Deus por tudo isso! Dessa forma, até os problemas se tornam relativos.

Deus surpreende

Outro aspecto, que merece destaque neste dia, é o fato de Maria ser virgem e Isabel estéril. Deus é aquele que vai “além”, que surpreende com a sua ação salvífica providencial.

A Meta

Maria encontra-se na glória de Deus; ela alcançou a Meta, onde, um dia, todos nos encontraremos. Eis porque, hoje, Maria é sinal de consolação e esperança, pois, se ela, criatura como nós, conseguiu, também nós conseguiremos. Mantenhamos nosso olhar e coração fixos naquela Mulher, que nunca abandonou seu Filho Jesus e, com Ele, agora, goza da alegria e da glória celeste. Confiemos em Maria! Que ela nos ajude a percorrer o caminho da vida, reconhecendo as grandes coisas, que Deus faz em nós e em torno de nós, sendo capazes de engrandecê-Lo com o Canto da nossa existência!

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

domingo, 14 de agosto de 2022

Envelhecer: Fracasso? Sabedoria? (Parte 1)

Editora Cléofas

Envelhecer: Fracasso? Sabedoria? (Parte 1)

 POR PROF. FELIPE AQUINO

A velhice é tida por muitos como idade ingrata, entregue à solidão e aos achaques. Na verdade, uma velhice vivida com Deus na perspectiva da vida eterna pode ser um período fecundo.

Com efeito; o ancião possui o cabedal da experiência, que ele pode comunicar às gerações posteriores (desde que não se feche em saudosismo lamurioso e na repetição enfadonha de histórias passadas). Além disto, o ancião, tendo ultrapassado as metas que absorvem a atenção dos mais jovens em sua vida profissional, deve poder realizar com nitidez a autêntica escala de valores; os bens definitivos lhe estão muito presentes, exercendo benigna influência sobre o seu coração. O Apóstolo São Paulo, em suas últimas cartas (1/2 Tm, Tt), dá testemunho de quanto o ancião pode ser sereno e voltado para os mais nobres ideais, mesmo sofrendo a inclemência do seu tempo. Importa que o ancião aceite a sua idade. Não se engane a propósito, como quem quer viver anacronicamente décadas passadas.

Todavia, para que a idade provecta possa ser assim serena e fecunda, requer-se que a pessoa se prepare para ela precisamente nos anos em que ela parece distante; é nas fases de lucidez e plena maturidade que o cristão deve armazenar o cabedal espiritual de que ele desfrutará na reta final de sua existência terrestre; querer começar a encarar o fim da vida quando se este se faz sensivelmente presente, com seus achaques físicos ou mentais, é tarefa difícil e de pouco êxito.

Nos tempos atuais, é maior do que outrora o número de pessoas que chegam a idade provecta, dado que os recursos da medicina prolongam a vida humana além dos limites do passado. Para muitos, a velhice se torna um fardo pesado, pois o ancião não raro sofre da solidão que os outros lhe impõe ou que ele impõe a si mesmo. Daí os sentimentos de melancolia e desânimo que podem invadir o coração dos anciãos. Estes se dispõem a dizer com o sábio do Antigo Testamento: “São anos dos quais não gosto” (Ecl 12, 1).

Como se compreende, a experiência da velhice e do termo desta vida terrestre é diferente naqueles que têm fé, e naqueles que não têm fé. Para estes últimos, o fim da caminhada terrestre é simplesmente fim e naufrágio, após o qual nada existe – o que contraria violentamente o instinto natural de auto conservação e a aspiração de todo homem a viver. Para quem tem fé, o caminhar para a dita “morte” é simplesmente caminhar para a plenitude ou a consumação da vida. Nas páginas subsequentes voltar-nos-emos para a velhice tal como a consideram a sã razão e o olhar da fé cristã.

Compreender o sentido da velhice

Eis como o S. Padre João Paulo II apresenta a velhice:

“A velhice é uma fase da vida muito especial. Nela é elevado ao termo e consumado tudo o que uma longa vida tenha realizado. A velhice faz a colheita de tudo que foi aprendido, vivenciado e conseguido…, como também a colheita de tudo o que foi sofrido e superado”.

Um olhar retrospectivo do ancião sobre o seu passado tende a ver neste facetas positivas e valores que nos momentos de tribulação passaram despercebidos. A Providência Divina, que escreve direito por linhas tortas, aparece mais nitidamente como a artesã que sabe tirar dos males maiores bens. Em suma, uma visão global e desapaixonada dos acontecimentos permite conceber otimismo em relação aos anos de velhice: embora o ancião sinta as forças diminuírem e as moléstias a acometê-lo, ele guarda a paz; tem a convicção de que, afinal, tudo o que o acomete vem a ser um caminhar para Deus; somente o pecado é incompatível com esse direcionamento. – Uma paciência cheia de confiança e esperança dá estrutura a tal fase da vida.

A idade ancião, além disto, ajuda o homem a distinguir melhor o essencial e o acidental na vida; o olhar se purifica, os horizontes se clareiam e a pessoa percebe melhor o que merece empenho e o que não vale a pena… Muita coisa que outrora parecia importante e “empolgava”, aparece como secundária. Pode-se dizer que então a pessoa cresce em sabedoria, ou seja, na intuição do mundo como Deus o vê. A eternidade penetra mais desembaraçadamente no presente do homem e projeta luz sobre a existência terrestre.

Em consequência, o ancião que pela idade é impedido de tomar parte na vida da família e na vida pública como outrora, nem por isto se torna uma pessoa inútil. Ele tem seu papel a exercer, comunicando aos mais jovens suas experiências de vida, abrindo-lhes o olhar para possíveis ilusões e percalços que sorrateiramente os ameaçam. Os jovens hão de ter interesse em procurar ouvir os mais velhos. Notemos, porém, que isto só será possível se os mais velhos se abstiverem de contar sempre as mesmas histórias, fechados num saudosismo que não seja capaz de compreender o momento presente. A tendência dos anciãos a reviver o passado, dando por vezes a impressão de que o presente é simplesmente decadência, contribui para isolá-los e impedir-lhes o exercício da importante função de acompanhar os mais jovens. Ora tal função é indispensável, como nota o S. Padre João Paulo II:

“Os mais jovens e os mais velhos…, aqueles que hoje são velhos e os que amanhã serão velhos,… os sadios e os doentes, nós todos realizamos juntos a plenitude do Corpo de Cristo, e amadurecemos juntos em direção dessa plenitude”.

Embora o ancião não possa aprovar tudo o que vê, ele não deve ser um mero arauto de críticas e contradições, mas, antes, procure ser um pacificador e reconciliador; a sua idade, já isenta de certas paixões, deve ajudá-lo a atenuar os ânimos exaltados e amainar os afetos acalorados dos mais jovens, sem detrimento da Verdade e do Bem.

Aceitar a idade

A perspectiva de envelhecer assusta muitas pessoas e suscita nelas a rejeição da sua idade. Querem então passar por indivíduos menos idosos, tomando atitudes artificiais ou anacrônicas no vestir-se, no linguajar, na frequentação de certos ambientes… Isto redunda não raro em cenas ridículas. Além disto, a natureza pode levar o ancião a procurar poupar-se, guardando tanto quanto possível o que lhe vai escapando; pode intensificar-se nele o apego às pequenas coisas e aos objetos do seu uso – coisas que outrora ele olhava com mais indiferença porque sabia como recuperá-las caso as perdesse. Vêm a propósito as ponderações de Emérico da Gama:

“O jovem é um ser livre; está sempre pronto para partir; o velho de espírito envelhecido necessita de um número cada vez maior de pontos de apoio, não só nos seus movimentos físicos, mas de alma. E esses pontos de apoio são outras tantas amarras que o prendem e podem amesquinhar. É curioso como, contrariando as leis da lógica, quanto mais perto para o homem está de ter que deixar as coisas desta vida, mais costuma agarrar-se a elas. Faz lembrar aquele que se queixava, já perto do fim: E as minhas barras de ouro, padre? – Não vale a pena, meu filho, se você não se arrepender. Não vale a pena, porque se derreterão todas” (posfácio do livro de Romano Guardini, As Idades da Vida, p. 105).

Ora aceitar a idade é aceitar as restrições que ela impõe; é aceitar a aposentadoria e certa marginalização; é aceitar ser dependente dos outros, sem, porém, os onerar mesquinhamente… É aceitar isto tudo com realismo e magnanimidade. Quem o aceita, descobre também os valores da idade provecta; esta já não é obnubilada pelo anseio de conseguir títulos, honras e vitórias; isto tudo, que tanto solicita o jovem, impede-o por vezes de olhar para os valores definitivos, que ficam além de todos os títulos e honras da terra. O ancião já não tem o olhar embaçado pela cortina de conquistas de sua carreira terrestre; já não é perturbado pelas paixões que as competições, as rivalidades, as rixas…, freqüentes nos decênios profissionais, suscitam em muitos homens. Assim com o olhar mais perspicaz ou liberto do colorido das metas terrestres ou imediatas, o ancião tem o coração mais livre para considerar os valores definitivos e encaminhar-se para eles sem tantos entraves; a mensagem da fé pode falar-lhe mais eloquente e persuasivamente do que em outras fases da vida. São palavras de Emérico da Gama:

“Os anciãos sabem muito bem que não se aproximam do fim de tudo, mas da definitiva rampa de lançamento, e por isto veem sentido em aumentar o caudal de sua prontidão armazenada. Ou seja, percebem que têm muito a fazer, talvez mais – e, sem dúvida, mais importante – do que tudo o que já fizeram. Por isto se compreende que São Paulo tenha dito: “Esquecendo o que fica para trás, e avançando para o que está adiante, corro em direção à meta…” (Fl 3, 13s). O velho, segundo São Paulo, é alguém para quem o passado não conta, exatamente como o jovem. E, como o jovem, corre, é um ser que tem pressa” (ib., pp. 103s).

Em vez de perder sua generosidade e seus predicados juvenis de coragem e idealismo, o ancião que tem fé conserva em grau ainda mais elevado tais valores. É o que se pode confirmar considerando a figura do Apóstolo São Paulo sobre o fundo de cena da filosofia pré-cristã.

O testemunho do Apóstolo

Em sua Retórica (ll 12s), o grande filósofo grego Aristóteles (384-322 a.C.), procurando caracterizar a juventude e a velhice da vida humana, afirmava que os jovens vivem para os valores morais e artísticos; concebem um ideal de virtude, mesmo de heroísmo, cuja beleza os atrai e ao qual se entregam sem medir coeficientes de ordem material; gastam desmedidamente forças físicas e bens materiais na consecução do seu ideal. Numa palavra: “vivem para o belo (pros to kalón), não para o útil (pros to sympherón, o interesse pessoal, egoísta)”. A razão disto, conforme Aristóteles, é que sentem em si uma vitalidade ardorosa, que os leva a procurar o que o homem pode conceber de mais nobre, o belo e o bem (moral) dos gregos; é justamente a consciência de possuir a vida que neles desperta elevadas aspirações. – Consequentemente, para Aristóteles, os anciãos, experimentando em si o definhar lento das forças físicas, vivem não mais para um ideal de bravura e beleza, mas para o interesse particular; visam, antes do mais, baseados em cálculos e especulações, a aquilo que lhes possa trazer proveito físico e conservar a existência; numa palavra: vivem não mais para o belo, mas para o útil, o interesse pessoal.

Esta caracterização do ancião não deixa de impressionar: significa uma retorsão total da anterior, uma desdita às aspirações mais espontâneas e nobres da natureza humana. É lógica, porém: a vida é o fundamento pressuposto a todo e qualquer ideal que o homem possa conceber. Ora Aristóteles e seus contemporâneos, só conhecendo a vida neste corpo, julgavam que as aspirações variam, chegando mesmo a deturpar-se e renegar-se de acordo com o grau de vitalidade que o homem experimenta nas sucessivas idades de sua vida.

O quadro é triste. Pergunta-se, porém: estará, de fato, o homem destinado a renegar seus ideais nobres?

O fato é que, três séculos mais tarde, um outro pensador, que tomara conhecimento profundo do Evangelho e da sua mensagem de ressurreição e vida imortal, São Paulo, manifestava um modo de ver bem diferente. Para o percebermos, basta dizer que o Apóstolo escreveu treze epístolas, sendo as três últimas, ditas “Pastorais” (1/2 Tm, Tt), devidas a Paulo quase septuagenário e, no caso da 2 Tm, encarcerado em Roma, consciente de que estava prestes a ser condenado à morte. Pois bem; ao passo que nas dez epístolas anteriores o Apóstolo empregara vinte vezes o termo kalón (belo e bem moral), nas três Pastorais ele o usou vinte e quatro vezes, e geralmente como adjetivo aposto aos diversos substantivos com que delineava a vida cristã. A mente de São Paulo aparece assim impregnada pelo ideal da beleza, pelas aspirações supremas, na idade decrépita muito mais ainda do que no vigor dos anos. Que contraste com o quadro anterior proposto pelo homem pré-cristão, por muito sensato que fosse! E qual a razão de ser deste contraste? É que justamente São Paulo percebia o sentido que a morte tomou após Cristo, sentido que o homem antes de Cristo não podia perceber: enquanto este a julgava termo da existência humana, Paulo a via qual etapa ou passagem para outra vida, muito mais rica e fecunda do que a terrestre; por isto também, quanto mais próximo se achava da morte, tanto mais afirmava os valores da mente humana, pois sabia que o seu definhar na vida terrestre era, na realidade, um rejuvenescimento para a vida verdadeira, eterna.

Eis como a morte, para o cristão, importa em autêntico desabrochar, em vez de extinção da personalidade. Ela pode e deve ser dita “transfiguração” do discípulo de Cristo. Consequentemente, a idade anciã consciente de tal sentido da morte não pode deixar de se reconfortar, guardando um vigor de alma juvenil dentro dos seus muitos anos de peregrinação terrestre.

Armazenar na juventude e na maturidade

É espontâneo ao ser humano afastar a noção de que será velho e deverá dizer Adeus a este mundo visível. Pensar nisto é, para muitos, um pesadelo. Por isto procuram viver uma idade que não têm, como se a verdadeira vida fosse apenas a da fase juvenil e a da maturidade biológica. Na verdade, porém, é precisamente quando o fim da vida parece distante que se faz mister pensar nele, pois é somente com a inteligência lúcida e a vontade dócil que a pessoa pode armazenar as considerações e os propósitos que lhe permitirão enfrentar o declínio das forças físicas e psíquicas; não é quando estas vão diminuindo (por motivo de moléstias, como a arteriosclerose, a deficiência visual, a auditiva, a paralisia…) que o indivíduo se pode dispor a encarar as exigências da velhice; quem não se preparou nos anos belos e sadios, dificilmente se preparará quando começar a sofrer os ataques da idade.

D. Estevão Bettencourt, osb
Revista: “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”

Nº 339 – Ano 1990 – p. 352

Fonte: https://cleofas.com.br/

Vocação: identidade e missão

Cristãos leigos e leigas | arquidiocesedepassofundo

Dom Leomar Antônio Brustolin
Arcebispo de Santa Maria (RS)

Vocação é chamar alguém pelo nome que, biblicamente, designa eleição para uma missão. Ao chamado, corresponde uma resposta livre e decidida. Somente há resposta quando se escuta o chamado. O homem bíblico se descobre na relação com o Deus que chama. Assim ocorreu com Moisés, diante da sarça ardente, ao receber a missão, confiada por Deus, de libertar o povo da escravidão no Egito. Diante da chamada, Moisés responde: “Quem sou eu para ir ao Faraó e fazer sair do Egito os israelitas?” (Ex 3,11). Moisés se questiona sobre sua identidade e condição. O vocacionado sente seu limite e suas impossibilidades concretas que lhe são inerentes. Sente-se fraco e incapaz para a grande missão solicitada.  

O chamado exige que o vocacionado, consciente de seus limites, torne-se uma nova pessoa, e isso o atinge de forma tão profunda que exige que revise toda sua existência. A nova condição do ser humano, que se encontra com o Deus único e verdadeiro, é possível pela ação direta daquele que chama. Assim, à questão de Moisés titubeando em aceitar a missão, Deus responde: “Eu estarei contigo!” (Ex 3,12). No original hebraico, o “eu estarei” pode ser compreendido também como “eu serei”, uma alusão direta ao nome de Iahweh que significa: “Eu sou aquele que sou” (v. 14). Isso possibilita compreender que, diante da pergunta: “Quem sou eu?”, não há uma resposta. O ser humano só se autocompreende no contexto de sua relação com o seu Criador. A criatura foi vocacionada à vida, mas precisa, livremente, responder ao convite de levar à plenitude essa existência.  

Na visão bíblica, o ser humano não é concebido a partir de sua estrutura biológica ou de um sentido filosófico. A essência do ser humano é abordada a partir de sua relação com Deus. Seu objetivo é descrever as relações fundamentais do ser humano no seu ser e no seu existir-no-mundo, tendo como centro sua relação criacional e dialógica com Deus. O ser humano se relaciona com a Terra, as plantas e os animais numa postura de senhorio e de autonomia, mas seu relacionamento mais importante é com Deus. Ao garantir sua presença nos caminhos da vida, Deus não diz quem é o ser humano, nem o que deve (ou não) fazer. O Deus do Evangelho é Emanuel, é Deus-conosco no mundo, que trabalhou com mãos humanas na carpintaria de José e chorou a morte de seu amigo Lázaro.

Uma vocação cristã é sempre uma resposta a Jesus Cristo que convida, ainda hoje, homens e mulheres, a segui-lo no serviço à humanidade, para que todos tenham vida e vida em abundância (Jo 10,10). O ser humano é vocacionado a viver gestos de fraternidade no cotidiano, onde o amor se faz concreto e é personalizado. Especialmente o cristão não pode sustentar a ideia de que devemos amar a todos sem amar ninguém, pois somente a cultura da proximidade é capaz de anunciar o Cristo.

XX Domingo do Tempo Comum - Ano C

Lectionautas Brasil

Dom Paulo Cezar Costa

Arcebispo de Brasília

Eu vim trazer fogo sobre a terra

Neste vigésimo domingo comum, temos diante de nós Jesus Cristo e seu Evangelho que não nos deixam na indiferença (Lc 12, 49 – 53), pois ele veio para lançar fogo sobre a terra. Talvez a imagem do fogo nos assuste, mas Jesus quer dizer que diante dele e da sua Palavra não se pode ficar indiferente. Papa Francisco, comentando este Evangelho, diz: “Jesus adverte os seus discípulos de que chegou o momento de tomar uma decisão. A sua vinda ao mundo coincide com o tempo das escolhas decisivas: a opção pelo Evangelho não pode ser adiada. E para que esta chamada seja compreendida melhor, ele serve-se da imagem do fogo que ele mesmo veio trazer a terra. Ele diz: «Eu vim lançar fogo sobre a terra; e como gostaria que ele já se tivesse ateado!» (v. 49). Estas palavras pretendem ajudar os discípulos a abandonar toda atitude de preguiça, apatia, indiferença e fechamento para acolher o fogo do amor de Deus, aquele amor que, como recorda São Paulo, «foi derramado nos nossos corações pelo Espírito Santo» (Rm 5, 5). Porque é o Espírito Santo que nos faz amar a Deus e amar o próximo; é o Espírito Santo que todos nós temos dentro de nós” (Papa Francisco, Angelus, 18 de agosto de 2019).

Jesus deve receber um batismo e está ansioso até que se cumpra (Lc 12, 50). O batismo é a sua morte que deve acontecer em Jerusalém. A ânsia de Jesus é a realização da vontade do Pai, para isso ele veio. Ele deve dar a vida pela nossa salvação.

Com ele chegou o juízo de Deus. Juízo com misericórdia e amor, mas que nos tira da indiferença. Nele se realiza este juízo, por isso, diante dele é impossível ter uma atitude neutra, uma atitude de indiferença. Jesus censurou esta atitude nos seus contemporâneos. O Israel do tempo de Jesus foi chamado a perceber que estava alguém no meio dos homens, Jesus Cristo, o Filho de Deus, diante do qual não era possível a indiferença. O seu seguimento exige radicalidade e coerência, pois o encontro com Jesus trás sentido e realização à existência. Quem O encontrou verdadeiramente não fica na indiferença. Nas origens da Igreja, no cristianismo primitivo, tanta gente sofreu por causa do nome de Jesus, tanta gente viu esta realidade da divisão tocar a sua porta, a sua vida, a vida de sua família. Ainda hoje, há tanta gente que vive o sofrimento e a divisão por causa da sua adesão e da sua fidelidade a Jesus Cristo e à sua Palavra.

Não devemos ter medo da divisão por causa da fidelidade a Jesus e ao seu Evangelho. Devemos ter medo de posturas de indiferença que manifestam um coração frio e tíbio. Na corrida da fé é preciso perseverança, como nos exorta a epístola aos Hebreus: “Empenhemo-nos com perseverança, com os olhos fixos em Jesus Cristo, que em nós começa e completa a obra da fé” (Hb 12, 1-2). Ele suportou a cruz, a infâmia e assentou-se à direita do Pai. Cristo sofreu na sua fidelidade ao Pai. O caminho de Cristo é, também, do cristão. O cristão é aquele que, ancorado em Cristo, olhando para Cristo, vai trilhando o caminho da fé e suporta até sofrimentos, incompreensões por causa de Jesus Cristo, em fidelidade a Ele.

Fonte: https://arqbrasilia.com.br/

Nicarágua: governo proíbe procissão de Nossa Senhora de Fátima

Nossa Senhora de Fátima | Guadium Press
Continua a perseguição aos católicos na Nicarágua.

Redação (13/08/2022 11:41Gaudium Press) O regime de Daniel Ortega proibiu uma procissão com uma réplica da Imagem de Nossa Senhora de Fátima, trazida de Portugal, marcada para este sábado, dia 13 de agosto, na capital, o mais recente sinal de tensões entre o governo e a Igreja Católica.

A Arquidiocese de Manágua exortou os fiéis a irem direta e pacificamente à catedral no sábado “para rezar pela igreja e pela Nicarágua”.

Em um comunicado a arquidiocese declarou: “A Polícia Nacional informou-nos que, por motivos de segurança interna, a procissão marcada para as 7h do dia 13 de agosto, atividade prevista por ocasião do Congresso Mariano e a conclusão da Romaria da imagem de Nossa Senhora de Fátima em território nacional, não foi permitida”.

“Nos dias 14 e 15 de agosto, ofereçamos todas as Eucaristias na Solenidade da Assunção de Maria, pedindo que os nicaraguenses cresçam na fé e na esperança”, continuou o comunicado.

A polícia não permite grandes aglomerações públicas, exceto aquelas patrocinadas pelo governo ou pelo partido no poder, a Frente Sandinista de Libertação Nacional, desde setembro de 2018.

A Organização dos Estados Americanos (OEA) emitiu uma declaração, ressaltando que “o ambiente de opressão tem se agravado, com um número crescente de prisões e detenções arbitrárias, o fechamento forçado de organizações não governamentais, a tomada autocrática das prefeituras de cinco municípios cujos chefes eram de um partido político da oposição, a intensificação da repressão contra os jornalistas, a liberdade de imprensa e ataques aos sacerdotes e religiosas da fé católica”.

Fonte: https://gaudiumpress.org/

Como envelhecer bem: 10 dicas de um sexagenário feliz

Shutterstock
Por Robert Mc Teique, SJ - Marzena Devoud

É possível viver melhor a segunda metade da sua vida do que a primeira? Não tenha dúvidas. Veja estas 10 dicas valiosas de um feliz sexagenário sobre como envelhecer bem (serve para qualquer que seja a sua idade...).

“Houve um tempo em que uma pessoa de 60 anos era considerada “velha”, mas, pelo menos no meu círculo, não é assim. Afinal de contas, a idade não está na mente? Quem conversa conosco é o padre jesuíta americano Robert McTeigue, professor de filosofia e teologia. O religioso recorda que, aos 10 anos de idade, decidiu que já não era uma criança. Para provar, doou toda a sua colecção de carrinhos para seu primo mais novo. “Essa foi a minha primeira experiência de estoicismo”, ele brinca.

Depois, no seu vigésimo aniversário, sentiu-se “enganado”: “Eu tinha acabado de compreender o que era a adolescência, mas aí ela já tinha acabado… Enquanto isso, o meu entusiasmo pelo mundo adulto e a minha confiança na minha capacidade de viver como adulto estavam incompletos”.

Só nos seus trinta anos é que o Padre Robert McTeigue aceitou estar no mundo dos adultos como um fato inegável. As responsabilidades eram óbvias, e as possibilidades pareciam não ter fim. Para ele, o ritmo acelerou significativamente nos seus quarenta anos, quando a vida passou a parecer muito séria.

“Eu já andava pelo mundo há tempo suficiente para ter arrependimentos profundos e fracassos dolorosos. No entanto, ainda tinha tempo – pensei – para fazer uma vida melhor para mim. Mas de repente os meus cinquenta anos chegaram “com um estrondo: comecei a lamentar cada vez mais todas as oportunidades perdidas. O tempo parecia estar atrás de mim e não à minha frente… Agora estou definitivamente além da metade do caminho. E pergunto-me: posso esperar viver esta segunda metade da minha vida melhor do que a primeira?”

De fato, e se fosse possível viver melhor a segunda metade da vida do que a primeira? Para isso, aqui estão os conselhos do Padre Robert McTeigue, que se aplica a todos, qualquer que seja a sua idade:

1LISTAR DIARIAMENTE AS GRAÇAS RECEBIDAS

Aqueles que espontaneamente têm o hábito de cultivar a gratidão todos os dias, cultivam a alegria dentro de si próprios. Pois, na gratidão, há sempre uma mão estendida em direção a outra. Ela afasta o foco do seu próprio ego e para aqueles que o rodeiam. E esta é a chave da felicidade. À noite, num caderno ou diário, tente escrever as graças recebidas durante o dia: uma conversa inspiradora com um amigo(a), o canto dos pássaros que o acordou de manhã, os parabéns do seu patrão… À medida que se vai avançando, o exercício vai-se tornando cada vez mais natural. E você perceberá que a felicidade é uma série de pequenas alegrias diárias. Quando disser “obrigado”, tente fazê-lo sinceramente, concentrando toda a sua atenção na gratidão que sente quando o diz.

2LIVRAR-SE DA ILUSÃO DE QUE SE PODE PECAR SEM RISCO

O pecado é um animal selvagem, astuto e nunca satisfeito! Para viver melhor, é essencial livrar-se da ilusão de que se pode pecar sem risco ou sem consequências. De acordo com São Luís de Granada, o primeiro remédio é ter um desejo absoluto de escapar do pecado e de resolver fazer o que for preciso para acabar com ele. É uma questão de continuidade: “Aprenda esta lição com o carpinteiro, que, quando deseja pregar um grande prego, não se contenta com alguns golpes, mas continua a bater até que esteja bem concluído. Você deve imitá-lo se quiser ancorar firmemente esta resolução na sua alma”, aconselha ele.

3REZAR TODOS OS DIAS

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d.ee_angelo | Shutterstock

Rezar todos os dias é aprender a ouvir a voz de Deus e a sentir a sua presença. Uma boa maneira de estar ligado a Ele é ler a Sua Palavra. É como correr para Ele, deixar-se levar nos Seus braços. “Nada temas, pois eu te resgato, eu te chamo pelo nome, és meu. Se tiveres de atravessar a água, estarei contigo. E os rios não te submergirão; se caminhares pelo fogo, não te queimarás, e a chama não te consumirá”. (Isaías 43, 1-3). Isso diz tudo.

4IR CONFESSAR-SE FREQUENTEMENTE

Por que ir à confissão? Se a confissão permanece um grande mistério, o do encontro com Deus na parte mais íntima de cada pessoa, para o santo Cura d’Ars, ela permite-nos sentir alegria e redescobrir “a alma de um filho”: “a misericórdia de Deus é uma torrente que varre tudo no seu caminho. Ir frequentemente a confessar-se é deixar-se levar por este imenso amor de Deus.

5ESTAR SEMPRE PERTO DE MARIA

Quando relemos as inúmeras meditações, homilias e discursos do Papa João Paulo II, vemos que ele concluiu quase todos os seus discursos com uma saudação à Mãe de Jesus. Aquele homem, que tinha uma devoção especial a Maria, sempre salientou que existe apenas um mediador entre Deus e o homem, Cristo, e que a Virgem Maria é a melhor maneira de alcançá-Lo.

6PRATICAR O DISCERNIMENTO COMO SANTO INÁCIO NOS ENSINA

Quer seja crente ou não, os exercícios espirituais de Santo Inácio de Loyola permitem-nos olhar para os nossos erros e corrigir o nosso comportamento. Por exemplo, o seu “exame particular e diário”, destinado a sondar a própria alma. A sua repetição diária pretende afastar a alma do pecado e elevá-la ao amor de Deus. Os exercícios incluem dois exames de consciência a serem feitos todos os dias. A ser praticado o mais frequentemente possível!

7ESTAR PREPARADO PARA PERDOAR

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Africa Studio | Shutterstock

Para não mencionar a sua dimensão moral, os estudos psicológicos e fisiológicos demonstram os efeitos benéficos do perdão. Embora seja um processo que não pode ser forçado (especialmente nos primeiros momentos após a ferida), para viver melhor, tente predispor-se ao perdão lembrando-se dos benefícios diretos para a saúde mental de quem perdoa. O perdão é simplesmente um caminho para a cura.

8NUNCA GUARDAR RANCORES CONTRA OS OUTROS

Os ressentimentos são uma toxina mortal para a alma. Mesmo que seja muito difícil dar o primeiro passo no restabelecimento de uma relação com a pessoa que lhe está a causar dor, pense que o processo de se libertar dela é para a sua própria serenidade. Para viver melhor, é essencial não guardar rancores contra ninguém.

9VIVER EM HARMONIA COM TODOS

Para São Josemaria, a chave para uma vida melhor é viver “em harmonia com todos”, mostrando compreensão para com todos: “Tens de ser irmão dos teus semelhantes, tens de pôr amor – como diz São João da Cruz – onde não há amor, para colher o amor”, repetiu ele.

10PROCURAR O EQUILÍBRIO CERTO

A vida muitas vezes parece estar demasiado cheia de urgências e, ao mesmo tempo, de coisas supérfluas e de superficialidade. O perigo é perder de vista o que é essencial: a nossa “falta de ser”. São Bento deu este conselho surpreendentemente simples para ir sempre ao essencial: “O ser humano precisa de medidas. Ele deve encontrar constantemente um equilíbrio entre excesso e falta”. Para esse grande santo, há uma tentação de ir todos numa direção, enquanto que a vida exige um equilíbrio constante nos esforços e nas atividades. Paradoxalmente, o excesso também pode envolver rezar demasiado, jejuar demasiado, corrigir demasiado ou gastar demasiada energia… Enfim, equilíbrio.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF