Translate

sábado, 31 de dezembro de 2022

Afinal, quem foi São Silvestre?

Creative Commons
31 de dezembro
São Silvestre

Sim, porque este não é apenas o nome de uma corrida de rua...

São Silvestre, nascido em Roma no ano 285, se tornou o 33º Papa da Igreja Católica no dia 31 de janeiro de 314, sucedendo São Melquíades.

Foi sob o seu pontificado que o imperador romano Constantino decretou o fim da brutal perseguição contra os cristãos, que tinha marcado de sangue os primeiros séculos da Igreja. Aliás, São Silvestre foi um dos primeiros santos canonizados que não sofreram o martírio.

A propósito da conversão de Constantino, a tradição narra que ele teria tido uma visão antes da batalha da Ponte Mílvio, em 312: confira o resto dessa história aqui. No entanto, existe outra versão, segundo a qual o imperador teria lepra e, assim que São Silvestre o batizou por imersão numa piscina, viu-se instantaneamente curado. Praticamente não existem fundamentos para esse relato alternativo, pois Constantino foi batizado no final da vida pelo bispo Eusébio, de Nicomédia.

Sob o papado de São Silvestre, com o estabelecimento da autoridade da Igreja, foram construídos alguns dos primeiros grandes monumentos cristãos, como a Igreja do Santo Sepulcro, em Jerusalém, e as primitivas basílicas de São João de Latrão e de São Pedro, em Roma, além das igrejas dos Santos Apóstolos em Constantinopla.

São Silvestre enviou emissários pontifícios para o representarem no sínodo de Arles (314) e no primeiro Concílio de Niceia (325), convocados ambos por Constantino. A ausência do Papa, que até hoje é motivo de debate, se deveu possivelmente a razões de saúde.

São Silvestre faleceu em 31 de dezembro de 335, aos 50 anos de idade, encerrando assim um pontificado de 21 anos de duração. Foi sucedido pelo brevíssimo pontificado de São Marcos Papa, que durou apenas 8 meses e meio.

O último dia de dezembro, que também tinha sido a data da sua eleição ao papado, foi ainda a data da sua canonização e é a data da sua festa litúrgica.

É em homenagem ao santo do dia que a famosa corrida de rua que acontece todos os anos em São Paulo leva o nome de “Corrida de São Silvestre“.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Um Papa entre dois tempos

Bento XVI | Vatican News

Durante toda sua vida, Bento XVI procurou, investigou, perguntou; também como Pontífice os seus discursos e as suas homilias são caracterizadas por esta constante busca. Por este motivo gerou animados debates, talvez principalmente, dentro da própria Igreja.

Vatican News

“Eu já não pertenço ao mundo antigo, mas o novo, na realidade, não começou ainda”: palavras do Papa emérito, Bento XVI, sobre si mesmo. Esta frase se encontra no livro “Últimas conversações” (com Peter Seewald). Um Papa entre dois tempos: assim se definira na ocasião. Acrescentando depois que só na posteridade, tem-se condições de reconhecer a avaliar os tempos e as mudanças dos tempos.

Na realidade, é a segunda frase que impressiona: “O mundo novo, na realidade, não começou ainda”. É virtude de Joseph Ratzinger, teólogo, cardeal e Papa, não se contentar com definições que estabeleçam o que seja “novo”. Durante toda sua vida procurou, investigou, perguntou; também como Pontífice os seus discursos e as suas homilias são caracterizadas por esta constante busca. Por este motivo gerou animados debates, talvez principalmente, dentro da própria Igreja.

Uma das últimas homilias do Papa Bento XVI exprime este conceito de modo maravilhoso e definitivo: quando fala dos Reis Magos em busca do rei recém-nascido. “Os homens que então partiram rumo ao desconhecido eram, em definitiva, pessoas de coração inquieto; homens inquietos movidos pela busca de Deus e da salvação do mundo; homens à espera, que não se contentavam com seus rendimentos assegurados e com uma posição social provavelmente considerável, mas andavam à procura da realidade maior. Talvez fossem homens eruditos, que tinham grande conhecimento dos astros e, provavelmente, dispunham também duma formação filosófica; mas não era apenas saber muitas coisas que queriam; queriam sobretudo saber o essencial, queriam saber como se consegue ser pessoa humana. E, por isso, queriam saber se Deus existe, onde está e como é; se Se preocupa conosco e como podemos encontrá-Lo. Queriam não apenas saber; queriam conhecer a verdade acerca de nós mesmos, de Deus e do mundo. A sua peregrinação exterior era expressão deste estar interiormente a caminho, da peregrinação interior do seu coração. Eram homens que buscavam a Deus e, em última instância, caminhavam para Ele; eram indagadores de Deus”. (Homilia, 6 de janeiro de 2013, Epifania do Senhor). As mesmas palavras Joseph Ratzinger poderia usá-las para si mesmo.

Consideremos a questão do Concílio: a sua aplicação está longe de ser completada e seria prejudicial não continuar a indagar e a aplicá-la. “A hermenêutica da reforma”, “hermenêutica da renovação da continuidade” tinha definido Papa Bento, opõem-se à “hermenêutica da descontinuidade e da ruptura”.

Muitos de seus pensamentos continuarão em nossas reflexões: suas inspirações permanecerão conosco. Como teólogo, cardeal e Papa, tinha feito a sua parte para que “o novo” fosse descoberto. Apesar de todos seus livros, seus discursos e suas contribuições, foi um homem irrequieto até o fim. Na homilia citada, pronunciada por ocasião do fim de seu pontificado, o Papa emérito fala da peregrinação interior da fé que se exprime substancialmente na oração. Uma oração que nos desperta de uma falsa acomodação e que quer comunicar a inquietação para com Deus e a inquietação para com o próximo. Viveu essa inquietação até o fim, na oração, no retiro, mas com solidez.

A sua frase sobre o mundo velho e o novo, escritas no livro “Últimas conversações” é profética. Apresenta-se a nós de modo inocente, como muitas outras coisas ditas pelo Papa, principalmente nos seus textos espirituais e nas suas homilias. Porém esta frase tem uma dinâmica teológica e espiritual. Os tempos mudam, isso é irreversível: nem reinventando o “velho” em versão “nova” – como agradaria muito aos tradicionalistas – nem na invenção de um “novo” que não considere a tradição e a evolução.

Bento XVI, o Papa emérito, demonstrou que tinha uma avaliação de si mesmo bastante equilibrada, porque colocava-se entre duas épocas, mas sem se deixar ligar a uma ou a outra. A mudança: isso é o que ele viveu e onde se reconhece. Por isso foi um Papa da transição?

Só por isso não. Exatamente porque foi a transição, seus sinais permanecerão além da sua morte. As transições são importantes. Joseph Ratzinger representa a Igreja que, a partir do Concílio, retomou a sua estrada. Joseph Ratzinger marcou seu sigilo à transição eclesial, mas principalmente à transição papal. A Igreja poderá se nutrir por muito tempo com o seu exemplo, com suas palavras, com seus escritos. Vivia entre dois tempos, mas permanecerá conosco.

Morre Bento XVI, "humilde trabalhador na vinha do Senhor"

Bento XVI | Vatican News

Papa emérito morreu às 9h34 deste sábado, 31 de dezembro. O funeral será na quinta-feira, 5 de janeiro, às 9h30 locais na Praça São Pedro, presidido pelo Papa Francisco.

Vatican News

Comunicado do diretor da Sala de Imprensa da Santa Sé, Matteo Bruni:

“Com pesar informo que o Papa Emérito Bento XVI faleceu hoje às 9h34, no Mosteiro Mater Ecclesiae, no Vaticano. Assim que possível, serão enviadas novas informações.”

Desde quarta-feira passada, quando o Papa Francisco afirmou que seu predecessor estava muito doente, fiéis do mundo inteiro se uniram em oração pela saúde do Papa emérito. Bento XVI tinha 95 anos e vivia no Mosteiro Mater Ecclesiae desde sua renúncia ao ministério petrino, em 2013.

O corpo do Papa emérito estará na Basílica de São Pedro para a saudação dos fiéis a partir da segunda-feira, 2 de janeiro. O funeral será na quinta-feira, 5 de janeiro, às 9h30 locais na Praça São Pedro, presidido pelo Papa Francisco.

Ainda de acordo com o diretor da Sala de Imprensa, Bento XVI recebeu a unção dos enfermos na quarta-feira, ao final da missa celebrada no Mosteiro e na presença das "Memores Domini", que há anos o assistem diariamente.

A biografia de Bento XVI

Joseph Ratzinger recebeu a Ordenação Sacerdotal em 29 de junho de 1951. Em 25 de março de 1977, o Papa Paulo VI nomeou-o arcebispo de München e Freising. Em 28 de maio seguinte, recebeu a sagração episcopal. Paulo VI criou-o cardeal no Consistório de 27 de junho desse mesmo ano.

Vatican News

O cardeal Joseph Ratzinger, Papa Bento XVI, nasceu em Marktl am Inn, Diocese de Passau (Alemanha), no dia 16 de abril de 1927 (Sábado Santo), e foi batizado no mesmo dia. O seu pai, comissário da polícia, provinha duma antiga família de agricultores da Baixa Baviera, de modestas condições econômicas. A sua mãe era filha de artesãos de Rimsting, no lago de Chiem, e antes de casar trabalhara como cozinheira em vários hotéis.

Passou a sua infância e adolescência em Traunstein, uma pequena localidade perto da fronteira com a Áustria, a trinta quilômetros de Salisburgo. Foi neste ambiente, por ele próprio definido “mozarteano”, que recebeu a sua formação cristã, humana e cultural.

O período da sua juventude não foi fácil. A fé e a educação da sua família prepararam-no para enfrentar a dura experiência daqueles tempos, em que o regime nazista mantinha um clima de grande hostilidade contra a Igreja Católica. O jovem Joseph viu os nazistas açoitarem o pároco antes da celebração da Santa Missa.

Precisamente nesta complexa situação, descobriu a beleza e a verdade da fé em Cristo; fundamental para ele foi a conduta da sua família, que sempre deu um claro testemunho de bondade e esperança, radicada numa conscienciosa pertença à Igreja.

Até o mês de setembro de 1944 esteve alistado nos serviços auxiliares anti-aéreos.

Recebeu a Ordenação Sacerdotal em 29 de junho de 1951.

Um ano depois, começou a sua atividade de professor na Escola Superior de Freising.

No ano de 1953, doutorou-se em teologia com a tese “Povo e Casa de Deus na doutrina da Igreja de Santo Agostinho”. Passados quatro anos, sob a direção do conhecido professor de teologia fundamental Gottlieb Söhngen, conseguiu a habilitação para a docência com uma dissertação sobre “A teologia da história em São Boaventura”.

Depois de desempenhar o cargo de professor de teologia dogmática e fundamental na Escola Superior de Filosofia e Teologia de Freising, continuou a docência em Bonn, de 1959 a 1963; em Münster, de 1963 a 1966; e em Tubinga, de 1966 a 1969. A partir deste ano de 1969, passou a ser catedrático de dogmática e história do dogma na Universidade de Regensburg, onde ocupou também o cargo de Vice-Reitor da Universidade.

De 1962 a 1965, prestou um notável contributo ao Concílio Vaticano II como “perito”; viera como consultor teológico do Cardeal Joseph Frings, Arcebispo de Colônia.

A sua intensa atividade científica levou-o a desempenhar importantes cargos ao serviço da Conferência Episcopal Alemã e na Comissão Teológica Internacional.

Em 25 de março de 1977, o Papa Paulo VI nomeou-o Arcebispo de München e Freising. A 28 de maio seguinte, recebeu a sagração episcopal. Foi o primeiro sacerdote diocesano, depois de oitenta anos, que assumiu o governo pastoral da grande arquidiocese bávara. Escolheu como lema episcopal: “Colaborador da verdade”; assim o explicou ele mesmo: “Parecia-me, por um lado, encontrar nele a ligação entre a tarefa anterior de professor e a minha nova missão; o que estava em jogo, e continua a estar – embora com modalidades diferentes –, é seguir a verdade, estar ao seu serviço. E, por outro, escolhi este lema porque, no mundo atual, omite-se quase totalmente o tema da verdade, parecendo algo demasiado grande para o homem; e, todavia, tudo se desmorona se falta a verdade”.

Paulo VI criou-o cardeal, do título presbiteral de “Santa Maria da Consolação no Tiburtino”, no Consistório de 27 de junho desse mesmo ano.

Em 1978, participou no Conclave, celebrado de 25 a 26 de agosto, que elegeu João Paulo I; este nomeou-o seu Enviado especial ao III Congresso Mariológico Internacional que teve lugar em Guayaquil (Equador) de 16 a 24 de setembro. No mês de outubro desse mesmo ano, participou também no Conclave que elegeu João Paulo II.

Foi Relator na V Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos realizada em 1980, que tinha como tema “Missão da família cristã no mundo contemporâneo”, e Presidente Delegado da VI Assembleia Geral Ordinária, celebrada em 1983, sobre “A reconciliação e a penitência na missão da Igreja”.

João Paulo II nomeou-o Prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé e Presidente da Pontifícia Comissão Bíblica e da Comissão Teológica Internacional, em 25 de novembro de 1981. No dia 15 de fevereiro de 1982, renunciou ao governo pastoral da arquidiocese de München e Freising. O Papa elevou-o à Ordem dos Bispos, atribuindo-lhe a sede suburbicária de Velletri-Segni, em 5 de abril de 1993.

Foi Presidente da Comissão encarregada da preparação do Catecismo da Igreja Católica, a qual, após seis anos de trabalho (1986-1992), apresentou ao Santo Padre o novo Catecismo.

A 6 de novembro de 1998, o Santo Padre aprovou a eleição do Cardeal Ratzinger para Vice-Decano do Colégio Cardinalício, realizada pelos Cardeais da Ordem dos Bispos. E, no dia 30 de novembro de 2002, aprovou a sua eleição para Decano; com este cargo, foi-lhe atribuída também a sede suburbicária de Óstia.

Em 1999, foi como Enviado especial do Papa às celebrações pelo XII centenário da criação da diocese de Paderborn, Alemanha, que tiveram lugar a 3 de janeiro.

Desde 13 de novembro de 2000, era Membro honorário da Academia Pontifícia das Ciências.

No dia 6 de fevereiro de 2013, durante o Consistório Ordinário Público para a canonização de alguns Santos, anunciou a decisão de renunciar ao ministério petrino com estas palavras: “Depois de ter examinado repetidamente a minha consciência diante de Deus, cheguei à certeza de que as minhas forças, devido à idade avançada, já não são idóneas para exercer adequadamente o ministério petrino. Estou bem consciente de que este ministério, pela sua essência espiritual, deve ser cumprido não só com as obras e com as palavras, mas também e igualmente sofrendo e rezando. Todavia, no mundo de hoje, sujeito a rápidas mudanças e agitado por questões de grande relevância para a vida da fé, para governar a barca de São Pedro e anunciar o Evangelho, é necessário também o vigor quer do corpo quer do espírito; vigor este, que, nos últimos meses, foi diminuindo de tal modo em mim que tenho de reconhecer a minha incapacidade para administrar bem o ministério que me foi confiado. Por isso, bem consciente da gravidade deste ato, com plena liberdade, declaro que renuncio ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro”.

O seu pontificado se concluiu em 28 de fevereiro de 2013.

Em seguida, Bento XVI foi morar na Cidade do Vaticano, junto ao Mosteiro “Mater Ecclesiae”, como Papa Emérito.

Na Cúria Romana, foi Membro do Conselho da Secretaria de Estado para as Relações com os Estados; das Congregações para as Igrejas Orientais, para o Culto Divino e a Disciplina dos Sacramentos, para os Bispos, para a Evangelização dos Povos, para a Educação Católica, para o Clero, e para as Causas dos Santos; dos Conselhos Pontifícios para a Promoção da Unidade dos Cristãos, e para a Cultura; do Tribunal Supremo da Signatura Apostólica; e das Comissões Pontifícias para a América Latina, “Ecclesia Dei”, para a Interpretação Autêntica do Código de Direito Canónico, e para a revisão do Código de Direito Canónico Oriental.

Entre as suas numerosas publicações, ocupam lugar de destaque o livro “Introdução ao Cristianismo”, uma compilação de lições universitárias publicadas em 1968 sobre a profissão de fé apostólica, e o livro “Dogma e Revelação” (1973), uma antologia de ensaios, homilias e meditações, dedicadas à pastoral.

Grande ressonância teve a conferência que pronunciou perante a Academia Católica Bávara sobre o tema “Por que continuo ainda na Igreja?”; com a sua habitual clareza, afirmou então: “Só na Igreja é possível ser cristão, não ao lado da Igreja”.

No decurso dos anos, continuou abundante a série das suas publicações, constituindo um ponto de referência para muitas pessoas, especialmente para os que queriam entrar em profundidade no estudo da teologia. Em 1985 publicou o livro-entrevista “Informe sobre a Fé” e, em 1996, “O sal da terra”. E, por ocasião do seu septuagésimo aniversário, publicou o livro “Na escola da verdade”, onde aparecem ilustrados vários aspectos da sua personalidade e da sua obra por diversos autores.

Recebeu numerosos doutoramentos “honoris causa”: pelo College of St. Thomas em St. Paul (Minnesota, Estados Unidos), em 1984; pela Universidade Católica de Eichstätt, em 1987; pela Universidade Católica de Lima, em 1986; pela Universidade Católica de Lublin, em 1988; pela Universidade de Navarra (Pamplona, Espanha), em 1998; pela Livre Universidade Maria Santíssima Assunta (LUMSA, Roma), em 1999; pela Faculdade de Teologia da Universidade de Wroclaw (Polônia) no ano 2000.

sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

O sentido da Sagrada Família

Jesus foi acolhido por Maria e também por José num contexto
familiar, da Sagrada Família | Vatican News

A Sagrada Família colocou a presença do Filho de Deus na família humana. Este fato valorizou as ações que a família faz e também da família que o Senhor deseja de cada um de nós. Ela é dom de Deus e é também missão. A Igreja é chamada a estar com todas as famílias, a rezar por elas, para que vivam na paz e no amor e um dia glorifiquem a Deus Uno e Trino na eternidade. A Sagrada Família acompanhe e abençoe a todas as famílias do mundo inteiro.

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá (PA)

Após o Natal celebra a Igreja a Sagrada Família, de Jesus, Maira e José. É uma festa expressiva porque diz respeito à família humana na qual viveu o Filho de Deus, tendo como pais adotivos, Maria e José. A encarnação do Verbo ocorreu num contexto familiar. Assim como Jesus estava sempre no seio do Pai e junto com o Espírito Santo, ele entrou na realidade humana pela família. A família é fundamental para a vida humana e para a salvação. A salvação é sempre dada como iniciativa de Deus, da qual exige a participação humana num contexto familiar, comunitário e social.

A família vem do latim família, cujo significado é doméstico, um conjunto de pessoas ligadas entre si por uma relação de convivência, de parentesco, de afinidade[1]. Nós dizemos que a família é projeto de Deus, no qual a nossa vida dar-se-á a graça da vida eterna. Rezemos pela unidade de nossas famílias, para que haja a fraternidade, o amor e menos violência sobretudo contra as mulheres, contra as pessoas idosas e assim todas vivam o espírito de unidade e de amor como ocorreu na Sagrada Família de Nazaré. Os Papas e o magistério realçam sempre a unidade nas famílias. Em nível de CNBB estamos celebrando o ano vocacional, rezando pelas vocações e também pela vocação à vida matrimonial. A seguir, nós veremos algumas considerações importantes a partir da Sagrada Escritura e dos primeiros escritores cristãos sobre a festa da Sagrada Família.

José acolheu Maria, como sua mulher

Jesus foi acolhido por Maria e também por José num contexto familiar, da Sagrada Família. O evangelista Mateus falou que o anjo do Senhor apareceu em sonho para José dizendo que Maria estava grávida por obra do Espírito Santo. O anjo ressaltou para Ele para não temer de tomar Maria como sua mulher, sua esposa pois o que fora gerado nela era ação do Espírito de Deus. Ela daria à luz um filho e ele poria o nome de Jesus, pois ele salvaria o seu povo dos seus pecados. Portanto Jesus é o Salvador. Ela conceberia um filho cujo nome seria também Emanuel, cujo significado é Deus conosco. Quando José despertou do sono, José fez tudo conforme o anjo do Senhor lhe disse e acolheu Maria como sua mulher ( Mt 1, 19-24).

 José e Maria acolheram o Filho de Deus na carne

São Cromácio de Aquiléia, bispo no século IV afirmou que José e Maria acolheram o Filho de Deus na realidade humana. Quando eles estavam em Belém para fazerem o registro, Maria deu a luz o filho primogênito. Ela o enfaixou e depôs na manjedoura porque não havia lugar para eles na hospedaria (Lc 2,7). As coisas foram colocadas em evidência pelo nascimento do Verbo de Deus como Primogênito da Virgem porque era o primeiro e único a nascer dela, e era também o Unigênito do Pai, porque foi o único gerado pelo Pai, desde sempre. É essencial perceber a humildade do Filho de Deus por causa do ser humano, sendo colocado na manjedoura, aquele que com o Pai reina nos céus e é envolto em faixas aquele que concede a veste da imortalidade, mostra-se pequeno no corpo aquele que é sublime e poderoso[2].

A alegria pelo nascimento do Verbo de Deus é de toda a humanidade

São Cromácio ainda disse que o anjo comunicou aos pastores uma grande alegria porque nasceu para eles o Salvador, Cristo Senhor, na cidade de Davi (Lc 2,11). A alegria não seria somente dos pastores, mas também aos anjos de Deus. A Escritura disse que em seguida juntou-se ao anjo uma multidão do exército celeste dizendo: ´Glória a Deus no mais alto dos céus, e na terra, paz a todos por ele amados´ (Lc 2,13--14). Era conveniente que ao nascimento de um Rei assim poderoso se alegrassem não somente os seres humanos, mas também os anjos, porque ele era o Criador dos seres humanos, mas também o Criador dos anjos e o Deus de todo o poder[3].

O dia eterno de unidade com a humanidade

Santo Agostinho, bispo de Hipona, séculos IV e V afirmou que a encarnação do Verbo iniciou um dia sem o seu fim na realidade humana, familiar. Aquele único Verbo de Deus, a vida, a luz dos seres humanos era então o dia eterno. Assim a família humana foi enriquecida com a presença do Filho de Deus na Sagrada Família. Aquele dia da unidade com a carne humana tornou-se como um esposo que sai do quarto nupcial (Sl 18,6). Desta forma aquele que nasceu lembra o eterno nascido da Virgem, porque o eterno nasceu da Virgem, consagrando o cotidiano da existência humana[4].

A mesma pessoa, Jesus Cristo, Deus e Homem

São Leão Magno, papa no século V, ressaltou a unidade da pessoa do Verbo de Deus como Filho de Deu e Filho do Homem. Cristo Senhor subsistiu na unidade da pessoa: sendo Filho de Deus pelo qual os seres humanos foram criados, tornou-se ele também Filho do Homem mediante a assunção da carne, com o fim de morrer como disse o Apóstolo pelos pecados por todos e ele ressurgiu para a justificação de todos (Rm 4,25)[5]. Desta forma a sua unidade com a família humana foi total, para reconciliá-la com Deus e com a humanidade.

A importância da Sagrada Família na Família humana

Santo Ambrósio, bispo de Milão, final do século IV, colocou também na festa da Sagrada Família, a Família humana. Simeão, o ancião que esperou o Senhor, recebeu o menino Jesus, em seus braços na presença de Maria e de José. Outras pessoas e personagens viram o Salvador como os anjos, os pastores, mas também os idosos e os justos receberam o testemunho do nascimento do Senhor. Todas as idades testemunharam que uma virgem deu à Luz, uma mulher estéril teve um filho, um mudo falou, Isabel profetizou, os magos adoraram, um menino pulou de alegria, uma viúva louvou a Deus, um justo esteve na espera[6].

A alegria de Simeão

Santo Ambrósio disse também que Simeão esperou ver o Messias prometido, o Ungido do Senhor, ao recebeu em suas mãos o Verbo de Deus e o agarrou entre os seus braços da sua fé, de modo que não veria mais a morte, porque viu a vida. Assim se a profecia é negada aos incrédulos, mas não aos justos (cfr. 1 Cor 14,22), eis que também Simeão profetizou que o Senhor Jesus veio para a ruína e para ressurreição de muitos (Lc 2,34), para fazer a divisão entre os justos e os injustos, segundo os merecimentos e para dar-nos como juiz verdadeiro e justo, seja a pena seja a graça da vida eterna segundo as ações de caridade e de amor[7].

A Sagrada Família colocou a presença do Filho de Deus na família humana. Este fato valorizou as ações que a família faz e também da família que o Senhor deseja de cada um de nós. Ela é dom de Deus e é também missão. A Igreja é chamada a estar com todas as famílias, a rezar por elas, para que vivam na paz e no amor e um dia glorifiquem a Deus Uno e Trino na eternidade. A Sagrada Família acompanhe e abençoe a todas as famílias do mundo inteiro.

[1] Cfr. Famiglia. In: Il vocabolario treccani, Il Conciso. Milano, Trento, 1998, pg. 570.

[2] Cfr. Cromazio di Aquileia. Sermone 32,2. In: Ogni Giorno con i Padri della Chiesa. A cura di Giovana della Croce. Presentazione di Enzo Bianchi. Milano, Paoline, 1996, p. 399.

[3] Cfr. Idem, Sermone 32,5. In: Idem, pg. 400.

[4] Cfr. Agostino d´Ippona. Sermone188,2. In: Idem, pg 403.

[5] Cfr. Sermone 10 (30), Sul Natale Del Signore 10, 5. In: Leone Magno. I Sermoni del Ciclo Natalizio, a cura di Elio Montanari, Mario Naldini, Marco Pratesi. Bologna, Edizioni Dehoniane Bologna, 2007, pg. 213.

[6] Cfr. Ambrogio. Exp. In Luc., 2,58-60. In: I Padri vivi. Commenti Patristici al Vangelo dominicale, Anno B, a cura di Marek Starowleyski. Roma, Città Nuova Editrice, 1984, pg. 31.

[7] Cfr. Idem, pg. 31.

O Arquivo Secreto Vaticano

Uma vista do depósito do Arquivo Secreto | 30Giorni
Arquivo 30Dias - 03/04 - 2012

O Arquivo Secreto Vaticano

por Roberto Rotondo

Quando se fala de Arquivo Secreto Vaticano, fala-se do moderno Arquivo da Santa Sé fundado por Paulo V perto do ano 1610, na sede situada no Pátio Belvedere onde se encontra até agora, porém com dimensões bem maiores. Mas a história dos arquivos dos romanos pontífices afunda em tempos bem mais remotos, ligando-se à origem, à natureza, à atividade e ao desenvolvimento da própria Igreja.

O patrimônio documentário conservado nos grandes depósitos abrange um período cronológico de cerca de doze séculos (do século VIII ao século XX). Constituído por mais de seiscentos fundos arquivísticos, estende-se por oitenta e cinco quilômetros lineares de estantes, colocadas, algumas delas, no Bunker, um local de dois andares, construído no subsolo do Pátio da Pigna dos Museus do Vaticano. Desde que o Papa Leão XIII, em 1881, abriu suas portas aos estudiosos, o Arquivo Secreto Vaticano tornou-se um dos centros de pesquisas históricas mais importantes e célebres do mundo. Para aprofundar a sua história e evolução, indicamos o livro Archivio Secreto Vaticano, curado pelo monsenhor Sergio Pagano (ed. Gangemi, 2000). No ensaio é explicada a longa história de como foi formado o Arquivo, os arquivos que armazenou, as vicissitudes e os deslocamentos (como nos anos que ficaram nas salas do Castelo Sant’Ângelo ou a mudança forçada do arquivo por ordem de Napoleão e a sua sucessiva volta a Roma).

Os historiadores que solicitam a consulta do Arquivo são centenas em todo o mundo, porém, o Arquivo tem também uma sua atualidade do ponto de vista jornalístico, como observou alguns anos atrás o famoso vaticanista Benny Lai, escrevendo que o Arquivo permite aprofundar o conhecimento das estruturas e do método de trabalho dos departamentos do Vaticano, penetrando na sua intimidade. A correspondência diplomática entre a Secretaria de Estado e os núncios apostólicos, além do valor dos temas tratados, com efeito, ilumina o modo de pensar e de agir que o decorrer dos anos substancialmente não modificou. Além disso, a consulta dos documentos conservados no Arquivo não serve apenas para esclarecer problemas históricos, grandes ou pequenos que sejam, para estudar vários aspectos das fases da formação da civilização ocidental ou a perene questão de fundo das relações entre a Igreja e o Estado; às vezes, a partir de antigos papéis, que muitos se obstinam a considerar um passado morto, emergem fatos humanos que o tempo não conseguiu apagar.

O erro que você não pode cometer no exame de consciência de fim de ano

Shutterstock
Por Matilde Latorre

Siga estes passos propostos por Santo Agostinho e comece 2023 com um novo impulso vital.

O fim de ano está aí! E, desde os tempos antigos, esta é uma ocasião natural para fazer uma pausa no caminho da vida, um exame de consciência e, assim, poder agradecer a Deus pelos dons recebidos. Uma maneira ideal de começar o novo ano com um novo impulso vital…

Santo Agostinho de Hipona (354-430) ofereceu em seu livro mais lido, “Confissões” a chave para entender o significado do exame de consciência: uma reflexão, na oração, para avaliar a vida com os olhos de Deus.

Grande conhecedor de Santo Agostinho, o cardeal Carlo Maria Martini SI, arcebispo de Milão (1927-2012), observou que “o exame de consciência é a primeira das práticas de piedade que desaparece quando a vida interior começa a declinar”. 

Por que isso acontece? Provavelmente porque o exame de consciência se tornou para muitos uma prática formal, de pouca utilidade, em que se limitam a responder à pergunta: “Que pecados cometi?”

Como recomenda Santo Agostinho, nosso exame de consciência deve responder à pergunta central: “Quem sou eu diante de ti, meu Deus?”; “Como vivo diante de ti, pai?”

Santo Agostinho propõe três etapas a percorrer para compreendermos a vida à luz de Deus. São três momentos que também podem ser analisados ​​na preparação para a confissão sacramental. 

1CONFISSÃO DE LOUVOR

Todo exame de consciência deve começar respondendo à pergunta: por que motivo devo louvar a Deus, principalmente neste momento?

É a “confissão de louvor” ou de ação de graças. Trata-se de colocar a nossa vida à luz do amor misericordioso de Deus. 

2CONFISSÃO DE VIDA

Depois de nos colocarmos na presença de Deus, surge espontaneamente a “confissão de vida”. 

Trata-se de responder às perguntas: “Que aspecto da minha vida não agrada ao olhar de Deus e por que minha pobre vida não está à altura dos dons e do amor de Deus?” 

A confissão de vida não consiste em arrependimento amargo, em autopiedade, em sentimento de culpa.

A confissão de vida é confessar: “Senhor, tu me conservaste no teu amor até agora e eu não pude retribuir, viver à altura da minha vocação”.

É o momento de reconhecer o que me distancia de Deus, o que mancha a harmonia da minha relação com Ele, os meus pecados para com os outros e com os dons que o Senhor me deu.

A confissão de vida reconhece as ofensas causadas ao coração de Deus. Assim, sofremos com Ele, pelas feridas que causamos. Em última análise, nossa dor pela dor que infligimos a Ele deve nos levar a um ato de amor.

3CONFISSÃO DE FÉ

Desta forma, a confissão de vida, nos leva então à confissão de fé: a certeza de que Deus, com o seu amor, me acolhe e me cura. O ato de dor torna-se uma manifestação de fé e, consequentemente, de amor. 

Daí surge não só o propósito de arrependimento, mas também a resolução específica que adotarei para que, em 2023, minha vida esteja em harmonia com o amor de Deus.

A confissão de fé é a própria essência da fé cristã: fé em Jesus Salvador, fé no Evangelho de Jesus, que salva o homem do pecado

É chegado o momento de dizer: “Senhor, creio na tua força que me sustenta na minha fraqueza, creio no poder dos teus dons, que fortalecem a minha fraqueza e iluminam a minha falta de serenidade, que iluminam o meu caminho escuro e sombrio; Eu creio que tu és o Salvador da minha vida, que morreste na cruz pelos meus pecados.”

Em suma, Santo Agostinho e tantos contemplativos ao longo da história mostram-nos que o exame de consciência, se for verdadeiro, torna-se necessariamente um ato de amor a Deus. 

Te Deum

Por isso, após este exame de consciência, a Igreja recomenda encerrar o ano com a proclamação do “Te Deum”, hino que há séculos os cristãos atribuem (não por acaso) a Santo Ambrósio e a Santo Agostinho, por ocasião do batismo deste último pelo primeiro, em 387, na catedral de Milão.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pelé: "Deus me deu o dom de saber jogar futebol"

Papa recebeu em 2014 camiseta da seleção autografa por Pelé
Vatican News

"Deus me deu o dom de saber jogar futebol, porque realmente é só um dom de Deus. Meu pai me ensinou a usá-lo, me ensinou a importância de estar sempre pronto e treinado, e que além de jogar bem, devia ser também um homem." A declaração foi publicada pelo jornal vaticano em 2009.

Bianca Fraccalvieri - Vatican News

Quem foi melhor: Pelé ou Maradona?

Em seus quase 10 anos de pontificado, o Papa ouviu e fez esta pergunta inúmeras vezes quando encontrou com brasileiros em suas audiências.

A opinião de Francisco não conhecemos, mas sabemos do valor que o Pontífice atribui ao esporte, assim como os seus antecessores que se encontraram com Pelé.

Francisco não teve a ocasião, mas ganhou do Rei, em 21 de fevereiro de 2014, uma camiseta da seleção brasileira autografada com os dizeres: "Para o Papa Francisco, com respeito e admiração. Edson Pelé".

Na Alemanha, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude, em 20 de agosto de 2005 Bento XVI recebeu Pelé por ter sido escolhido pela prefeitura como "embaixador" do evento. "Parece que a gente está falando mais perto de Cristo quando é abençoado pelo Papa. Ele pegou nas minhas mãos e falou assim: 'O esporte é muito importante para o ser humano. Foi uma benção maravilhosa."

Em seus 82 anos de vida, o Rei ainda foi recebido por dois santos: São João Paulo II e São Paulo VI.

O jornal vaticano, L'Osservatore Romano, publicou em sua edição de 9 de julho de 2009, a seguinte declaração:

"Deus me deu o dom de saber jogar futebol, porque realmente é só um dom de Deus. Meu pai me ensinou a usá-lo, me ensinou a importância de estar sempre pronto e treinado, e que além de jogar bem, devia ser também um homem.

De certos valores tive ainda o privilégio de falar com três Papas. Com efeito, me considero um homem muito abençoado porque pude encontrar e receber a bênção de Paulo VI, João Paulo II e Bento XVI. Daqueles encontros guardo com prazer as fotografias que o Vaticano me enviou. Com esses três Pontífices pude falar da minha vida e de Deus. Foram momentos muito importantes para mim, que ficaram no coração."

Santa Anísia

Santa Anísia | ACI Digital
30 de dezembro
Santa Anísia

REDAÇÃO CENTRAL, 30 Dez. 22 / 06:00 am (ACI).- Santa Anísia foi uma virgem e mártir do século III. Ela nasceu em Tessalônica, na Grécia, no ano 284. Quando ainda era nova ficou órfã de pai e mãe e herdou uma grande fortuna. Anísia usou seus bens para a caridade e se dedicou a ajudar os pobres e necessitados. Nessa época, os cristãos geralmente compartilhavam o que possuíam com outros membros da Igreja.

Uma resposta sem hesitação

No tempo do governador Ducisio começou uma perseguição na Tessalônica para impedir que os cristãos se reunissem e celebrassem a sagrada liturgia, e incorporassem mais cristãos mediante o batismo.

A tradição conserva o relato do martírio de Anísia. Era o ano 304 e, depois de cumprir com os seus deveres, Anísia foi ao lugar onde a comunidade se reunia para celebrar a missa. De repente, ela foi interceptada por um dos guardas do imperador, que bloqueou seu caminho e perguntou aonde ela estava indo.

A santa confessou que era cristã e que estava a caminho da missa. A firmeza de sua resposta provocou o ódio do guarda, que a matou imediatamente.

Anos depois da morte de Anísia, a paz voltou à Tessalônica após o Édito de Milão, os cristãos daquela região construíram um oratório no lugar onde a jovem foi assassinada.

Fonte: https://www.acidigital.com/

Um ícone do esporte: Pelé

OMAR TORRES | AFP
Pelé durante os Jogos Pan-Americanos de 1995
Por Cardeal Dom Orani João Tempesta

O falecimento de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, desperta, sem dúvida alguma, em nós, diversas reflexões. Desejo destacar três delas:

A notícia comoveu a todos e foi rapidamente difundida. Aquele que fez acontecer muitas alegrias no futebol com sua arte e carisma terminou seus dias neste mundo. A sua história tantas vezes contada deverá ainda a ser aprofundada com essa visão do dever cumprido ao chegar o limiar da eternidade. Com a morte de Edson Arantes do Nascimento muitas reflexões brotam nas pessoas que viveram essa época da história do futebol brasileiro, e também mundial.

Eu vivi a minha juventude na “era Pelé”. Quando ele participou da conquista da primeira copa mundial de futebol eu tinha 8 anos. Aos poucos o time do Santos e do Brasil sempre contaram com a sua presença. Praticamente minha juventude foi nesse clima. Depois da Copa do Qatar e depois de tantos ícones do futebol mundial terem se destacado no passado e no presente é importante retomar e agradecer por aquilo que ele representou para o esporte brasileiro nestes últimos 70 anos. O tempo passa e as situações se modificam, mas somos chamados a não esquecer pessoas que marcaram nossa nação. É claro que no momento de sua partida me vêm à mente as experiências e emoções vividas nessa importante etapa da vida. Estavam iniciando as transmissões por televisão e as internacionais vinham mais ou menos pelo rádio. Recordo de muitas partidas estarmos juntos a torcer diante da TV em preto-e-branco. Aos poucos, porém rapidamente, as coisas foram se transformando. Experiências que me ajudaram a viver uma época e que são lições de vida ainda hoje. É importante refletir sobre a contribuição dele para o esporte em nosso país.

Edson Arantes do Nascimento (1940-2022) – depois conhecido mundialmente como Pelé ou o “Rei do Futebol”, devido à sua grande projeção nessa modalidade esportiva entre os anos de 1956 a 1974 – é mineiro de Três Corações, mas que, aos quatro anos de idade, se mudou com os pais, Sr. João e Dona Celeste, para Bauru, SP, onde logo começou a brincar de bola na rua com outras crianças de sua idade.

//www.instagram.com/embed.js

Dico, como era chamado pela família, passou a se destacar no gol. Seu modelo era o goleiro José Lino da Conceição Faustino, o Bilé, amigo de time de seu pai, e que atuava no Vasco de São Lourenço (MG). Como era muito criança, Edson, nosso futuro grande jogador brasileiro, não conseguia, ao fazer as defesas em seu gol, gritar: “Segura Bilé”. Acabava, então, por bradar entusiasmado: “Segura, Pilééé!”. Daí, veio seu apelido, Pelé, com o qual se tornou mundialmente conhecido.

Depois de trabalhar como engraxate nas ruas de Bauru, Pelé jogou em vários times amadores da região até ser convidado para o Clube Atlético de Bauru, ainda em formação. Vendo, no entanto, o talento do garoto, Waldemar de Brito, também jogador e responsável pelo ingresso de Pelé no Clube Atlético de Bauru, apresentou-o, em 1956, ao Santos Futebol Clube. Estreou, no segundo tempo, em um jogo de Santos e Corinthians de Santo André, SP. O time alvinegro praiano venceu seu rival por 7×1, sendo o sexto gol de Pelé.

No ano de 1957, com apenas 16 anos, nosso “Rei do Futebol” já era titular do Santos e o mais jovem artilheiro do Campeonato Paulista com 36 gols marcados. Entre Pelé e o Santos Futebol Clube ocorreu como que um casamento, pois aí atuando, nosso grande jogador ganhou, entre 1956 a 1974, além de dez títulos estaduais e seis campeonatos nacionais, duas Libertadores (à época chamada Copa Campeões da América), em 1962, contra o Peñarol, do Uruguai, e, em 1963, contra o Boca Juniors, da Argentina. É claro que os títulos de Campeão Mundial interclubes marcaram época com epopeias famosas, como aquela contra o Milan no Maracanã.

Depois de marcar, em 1969, o seu milésimo gol contra o Vasco da Gama, no Maracanã, em 1974, num jogo entre Santos e Ponte Preta, na Vila Belmiro, Pelé se ajoelhou no gramado, pediu perdão por deixar o “Peixão”, mas estava de partida para o New York Cosmos, nos Estados Unidos. Completara 1116 jogos no Santos com 1091 gols marcados. Já estávamos em outra fase desse esporte dando passos para o que vemos hoje.

A título de sadia curiosidade, Pelé, depois de apenas 10 meses jogando no Santos, já foi convocado para a Copa Roca (atual Superclássico das Américas). As duas partidas ocorreram em nosso País. Foi a estreia de Pelé com a camisa do Brasil e ocorreu no Maracanã. A Argentina venceu por 2 a 1, mas o gol brasileiro foi de Pelé. Na partida de volta, no Pacaembu, em São Paulo, o Brasil ganhou por 2 a 0, com um gol de Pelé e outro de Mazzola. Foi o primeiro título de Pelé pela Seleção Brasileira. Com apenas 17 anos, jogou, em 1958, na Copa do Mundo na Suécia, e fez seis gols. Mereceu, por isso, dos franceses o título de “Rei do Futebol”. Em 1977, Pelé deixou o futebol com muitos títulos conquistados (seria extenso por demais mencioná-los já que estão disponíveis aos interessados nas redes sociais sérias ou revistas de futebol) e 1281 gols feitos, sendo até agora o maior artilheiro da história do futebol.

Entre tantos outros detalhes da vida pessoal do “Rei do Futebol”, cumpre destacar que de 1995 e 1998, foi ministro do Esporte, no governo federal, época em que criou a “Lei Pelé”, a revolucionar a prática desportiva no Brasil. Muito atuou em favor dos Direitos Humanos e da Paz no futebol, de modo a merecer, nestas áreas, nosso respeito, admiração e gratidão (Informações colhidas na Infoescola, on-line). Sabemos que na vida pessoal nem tudo foi fácil e exemplar, sabemos que as falhas humanas machucam muitas pessoas, mas em nossas vidas somos chamados a ter a clareza da beleza de dons que a pessoa tem e que procura coloca-los em prática. Neste caso é a arte do futebol que traria depois muitos outros para alegrarem os seus países com o dom do esporte. Basta pensar no desenvolvimento do futebol a partir dos anos 60 em nosso país e que o tornou uma unanimidade nacional.

Reflexões

O falecimento de Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, desperta, sem dúvida alguma, em nós, diversas reflexões. Desejo destacar três delas.

A finitude da vida humana: O Cardeal Raniero Cantalamessa, OFM Cap., escreve: “Quando nasce um homem — escrevia [Santo Agostinho — nota nossa] — fazem-se tantas hipóteses: talvez será belo, talvez será feio; talvez será rico, talvez será pobre; talvez viverá muito, talvez não… Mas de nenhum se diz: talvez morrerá, talvez não morrerá. Esta é a única coisa absolutamente certa da vida. Quando sabemos que alguém está doente de hidropisia (à época, esta doença era incurável, hoje são outras), dizemos: ‘Coitado, deverá morrer; está condenado, não há remédio’. Mas não deveríamos dizer a mesma coisa sobre alguém que nasce? ‘Coitado, deverá morrer, não há remédio, está condenado!’. Que diferença há se em um tempo mais ou menos longo ou breve? A morte é a “doença mortal” que se contrai ao nascer (cf. Santo Agostinho, Sermo Guelf. 12,3 (Miscellanea Agostiniana, I, pp. 482ss. Primeira pregação do Advento de 2020). Quem discordaria destas afirmações?

Elas não são, todavia, motivo de medo doentio ou pavor, mas convite a enfrentarmos a realidade tal como ela é, buscando viver os mandamentos da Lei de Deus que Nosso Senhor assim resume: “‘Ame o Senhor, o seu Deus de todo o seu coração, de toda a sua alma e de todo o seu entendimento’. Este é o primeiro e maior mandamento. E o segundo é semelhante a ele: ‘Ame o seu próximo como a si mesmo’” (Mt 22,37-39), praticar os sacramentos e nunca se esquecer de que a divina e infinita misericórdia de Deus nos acompanha neste mundo em demanda da pátria definitiva, a Jerusalém do alto.

A fugacidade deste mundo: A morte de alguém nos lembra, com muito realismo, que este mundo é passageiro – “a figura deste mundo passa” (1Cor 7,31), ou que aqui não temos morada fixa – “Foi pela fé que ele habitou na terra prometida, como em terra estrangeira, habitando aí em tendas com Isaac e Jacó, coer­deiros da mesma promessa. Porque tinha a esperança fixa na cidade assentada sobre os fundamentos (eternos), cujo arquiteto e construtor é Deus” (Hb 11,9-10). Ora, isso, longe de trazer desespero, nos cumula, não obstante a tragicidade da morte, de alegria. Traz em nós o forte desejo de ser mensageiros de Deus, pelo testemunho e pela palavra, neste mundo, a fim de recebermos do Senhor as alegrias eternas de quem agiu com misericórdia para com o próximo neste mundo (cf. Mt 25,31-40). Ora, não poderíamos incluir o futebol como uma forma de obra boa a unir os povos e ter neste ponto Pelé como exemplo?

A importância do esporte para a fraternidade humana: no dia 23 de novembro último, em sua Audiência Geral na Praça de São Pedro, o Papa Francisco disse: “Envio minhas saudações aos jogadores, torcedores e espectadores que acompanham de vários continentes o Mundial de Futebol no Catar. Que este importante evento seja uma ocasião de encontro e confraternização entre as nações, promovendo a fraternidade e a paz entre os povos”. Sabemos como nós nos despedimos da Copa do Mundo do Qatar a 9 de dezembro passado assim como nos entusiasmamos com a épica disputa da final em que a Argentina se sagrou tricampeã mundial. Já em 14 de junho de 2018, por ocasião da Copa do Mundo de Futebol, na Rússia, o Santo Padre assim se expressava: “Envio uma saudação cordial aos jogadores e àqueles que acompanharão o Campeonato Mundial de Futebol, que começa hoje na Rússia. Espero que este evento esportivo seja uma oportunidade válida de encontro e de fraternidade”, escreveu em sua conta de Twitter.

Possa, portanto, o grande legado de Pelé, o “Rei do Futebol”, ajudar-nos, de modo grato a Deus pelo dom da sua vida, a ser mais e mais sal da terra e luz do mundo (cf. Mt 5,13-14). Um jovem que foi respeitado e promovido pelo esporte e trabalhou em muitas obras sociais. Teve várias dificuldades pessoais, mas marcou sua época. Os problemas deixamos na misericórdia de Deus. Porém é bom lembrar as boas situações que viveu e colaborou com a humanidade que carece de bons exemplos. Afinal, Deus também fala por meio de seus filhos e filhas, nossos irmãos e irmãs!

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF