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segunda-feira, 30 de janeiro de 2023

Apresentação do Senhor

Apresentação do Senhor | diocesedesaojoaodelrei

APRESENTAÇÃO DO SENHOR

Dom Eurico dos Santos Veloso
Arcebispo Emérito de Juiz de Fora (MG) 

Meus olhos viram a tua salvação (Lc 2,30) 

Celebramos nesta quinta-feira, 2 de fevereiro, a Festa da Apresentação do Senhor. O Menino Jesus é levado ao Templo, por Maria e José, e é oferecido ao Pai. Assim como toda oferta implica uma renúncia, a Apresentação do Senhor começa a nos preparar para o sofrimento da Paixão, Morte e Ressurreição de Jesus. 

A Festa da Apresentação do Senhor ocorre 40 dias após celebrarmos o Natal. Ela nos lembra, ainda, que está cada vez mais próximo da celebração da Semana Santa. A Festa da Apresentação do Senhor reforça que devemos ficar vigilantes com as velas acesas e todos prontos para irmos ao encontro de Nosso Senhor. 

Maria e José unem-se à oferta do seu divino Filho estando a seu lado e colaborando, cada um a seu modo, na obra da Redenção. Cumprindo a Lei Hebraica, os pais de Jesus levam o primogênito do sexo masculino para ser consagrado ao Senhor. A lei também dizia que a Mãe, após dar à luz, necessitava passar por um ritual de purificação no Templo. 

Na sua chegada ao Templo, a Sagrada Família é recebida pelo profeta ancião, Simeão, que guardava dia e noite no templo, sob a promessa do Senhor de que não partiria da vida terrena sem antes ver o Messias. O profeta diz ao avistar a criança: “Ó Soberano, como prometeste, agora podes despedir em paz o teu servo. Pois os meus olhos já viram a tua salvação, que preparaste à vista de todos os povos: luz para revelação aos gentios e para a glória de Israel, teu povo” (Lc 2,29-32). 

A profetiza Ana também vai ao encontro da Sagrada Família. Portanto, vemos a Antiga Aliança, representada por Simeão e Ana, que se alegra com a chegada da Nova Aliança, o Menino Jesus, levado por Maria e José. Esse mistério é contemplado nos mistérios Gozosos do Rosário.  

E, então, Simeão, ao abençoar o Menino Jesus, agradece a Deus e diz à mãe do menino: “Este menino está destinado a causar a queda e o soerguimento de muitos em Israel, e a ser um sinal de contradição, de modo que o pensamento de muitos corações será revelado. Quanto a você, uma espada atravessará a sua alma” (Lc 2,34-35). 

A Sagrada Família era fiel à lei judaica, cumprindo todos os preceitos da religião, e repassando esses ensinamentos a Jesus. Por isso, José é considerado o justo, pois servia fielmente à lei judaica. As famílias consideradas mais ricas de Israel ofereciam outros animais na apresentação de seus filhos no templo, como cordeiros e cabritos. Mas as famílias mais humildes, como era o caso da Sagrada Família, ofereciam animais mais simples, como um par de rolas ou dois pombinhos.  

A partir da celebração dessa festa, lembramos outras duas celebrações nessa mesma data, 2 de fevereiro: Nossa Senhora da Candelária e Nossa Senhora da Luz ou dos Navegantes.  

Assim, somos convidados a ir à celebração Eucarística, ao encontro do Senhor, com as nossas velas acesas, tendo a certeza absoluta de que Ele ilumina as nossas vidas e, com essa luz que Ele e nos ilumina, vamos iluminar todos aqueles que nos cercam. É nesta celebração, também, que nos preparamos para a festa central do cristianismo, que é a Páscoa.  

Imersos na Festa Litúrgica da Apresentação do Senhor, que possamos reconhecer Jesus como o Sacerdote por Excelência, por meio de sua entrega em prol do Mistério da Salvação a todos nós: Luz que ilumina as nações e glória a todos os povos. Jesus, Luz das Nações e glória de Israel, se manifesta no rosto de milhares de irmãos e irmãs, que acolhem os dons do Espírito Santo na vivência alegre dos múltiplos carismas suscitados. 

Apresentemos ao Senhor as nossas vidas, as nossas fragilidades e angústias e, principalmente, a vida da nossa família, oferecendo-a ao Senhor. Que saibamos escutar a voz do Senhor nesse dia e aceitemos os planos d’Ele para a nossa vida.  

Que a Virgem Maria, a Virgem das Luzes, a Senhora da Luz, da Candelária e das Candeias nos guie e proteja sempre. Amém.  

Louvado Seja Nosso Senhor Jesus Cristo!

A cura do homem da mão seca à luz da Medicina e da Fé

Jesus Cervantes | Shutterstock
Por Igor Precinoti - Vanderlei de Lima

Fazendo uma análise das Escrituras à luz dos conhecimentos médicos atuais, qual seria o problema na mão daquele homem e como a Medicina o trataria hoje?

No Evangelho de São Lucas 6,6-10, é descrita a cura do homem da mão seca.

“Num outro sábado, Jesus entrou na sinagoga e começou a ensinar. Lá estava um homem que tinha a mão direita seca. Os escribas e os fariseus observavam Jesus, para ver se ele faria uma cura no dia de sábado, a fim de terem motivo para acusá-lo. Ele, porém, conhecendo-lhes os pensamentos, disse ao homem da mão seca: ‘Levanta-te e fica aqui no meio!’. Ele se levantou e ficou de pé. Jesus disse-lhes: ‘Eu vos pergunto: em dia de sábado, o que é permitido, fazer o bem ou fazer o mal? Salvar uma vida ou deixar morrer?’. Passando o olhar sobre todos eles, Jesus disse ao homem: ‘Estende a mão!’. O homem assim o fez e a mão ficou curada.”

Fazendo uma análise das Escrituras à luz dos conhecimentos médicos atuais, qual seria o problema na mão deste homem e como a Medicina o trataria hoje?

Raciocinemos! Todas as células e órgãos do corpo necessitam de oxigênio e nutrientes. Ora, estes componentes são distribuídos para todas as partes do corpo através dos vasos sanguíneos. Existem, porém, algumas situações em que esta distribuição de oxigênio e nutrientes se torna prejudicada, ocorrendo sofrimento e até a morte das células e órgãos que deixam de ser nutridos adequadamente. Pois bem, quando este suprimento é criticamente insuficiente pode levar a uma condição chamada gangrena. 

A gangrena é uma doença caracterizada pela deterioração dos tecidos do corpo. Pode resultar de comprometimento dos vasos sanguíneos (causando uma isquemia) ou de alguma infecção. Quando essa gangrena é causada por infecção, a chamamos de úmida; se é causada pela isquemia (comprometimento dos vasos sanguíneos), é chamada de seca. Na gangrena seca, o local afetado (normalmente as mãos, os pés, os dedos etc.) torna-se frio, tem uma coloração escurecida e, aos poucos, vai perdendo líquido para o ambiente, desidrata-se. Com o tempo, o local afetado vai diminuindo de tamanho, ficando cada vez mais seco e a pele se escurece tomando uma aparência mumificada. 

Estas características nos permitem concluir que a doença a atingir o homem referido por São Lucas era uma gangrena seca. E atualmente, com todo conhecimento e tecnologia que temos, a única opção terapêutica para a gangrena seca é ainda a amputação do local. Ora, considerando que os tratamentos para a gangrena são mutilantes, o ideal é a prevenção. Por isso, é importante conhecer os fatores que estão relacionados ao surgimento da doença. São eles: diabetes, tabagismo, uso de drogas, uso prolongado de torniquetes, mas, dentre todas os fatores mencionados, o tabagismo é o maior. Desta forma, é importante que todos os que ainda possuem esse hábito façam um exame de consciência e procurem ajuda para interromper o uso do tabaco.  

Do ponto de vista teológico, sem entrarmos na exegese (= interpretação) do texto em si, devemos afirmar, sem sombra de dúvidas, que a cura narrada por São Lucas é um verdadeiro milagre. A etimologia da palavra milagre se prende a miraculum, i, do Latim, e quer dizer algo admirável ou capaz de despertar admiração. Na Teologia, se liga a semeion, do grego, e quer dizer sinal. Sinal de Deus para confirmar algo por Ele apresentado aos homens. É a sua assinatura única e infalsificável.

Para se ter o milagre, precisamos estar diante de um fato real, inexplicável pelas ciências contemporâneas ao fato em questão e tal ocorrência se dar em autêntico contexto religioso. Vejamos: 1) Real – O episódio apresentado como possível milagre há de ser um caso autêntico, histórico, passível de pesquisas e comprovações. 2) Inexplicável pelas ciências contemporâneas ao fato – O fato real deve ser submetido ao exame de cientistas da área em foco, sejam eles de quais correntes filosóficas ou religiosas forem, desde que ajam com honestidade e real espírito científico perante a questão. 3) Realizado em autêntico contexto religioso – Para a Igreja não basta ter um fato real e inexplicável pelas ciências contemporâneas a ele. É preciso que tal fato seja realizado num contexto de fé pura e autêntica em resposta à prece humilde dos fiéis ou em confirmação a uma doutrina da qual se tem dúvida.

Eis uma passagem bíblica que muito une a Medicina e a Fé.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Mundo descarta nascituros, velhos e pobres, diz o papa Francisco

Papa Francisco fala da janela do Palácio Apostólico / Vatican Media

Vaticano, 29 Jan. 23 / 01:38 pm (ACI).- Em seu discurso do Ângelus de hoje (29), o papa Francisco condenou uma cultura que “descarta” crianças não-nascidas, velhos e pobres se eles não forem úteis.

“A cultura do descartável diz: ‘Eu uso você tanto quanto preciso. Quando não estou mais interessado em você, ou você está no meu caminho, eu o expulso'. São especialmente os mais fracos que são tratados dessa maneira – crianças nascituras, idosos, necessitados e desfavorecidos”, disse o papa.

“Mas as pessoas nunca devem ser expulsas. Os desfavorecidos não podem ser jogados fora. Cada pessoa é um presente sagrado e único, não importa qual seja sua idade ou condição. Respeitemos e promovamos sempre a vida! Não desperdicemos a vida.”

Falando da janela do Palácio Apostólico, o papa observou que a "cultura do descartável" é predominante nas sociedades mais ricas. “É um fato que cerca de um terço da produção total de alimentos é desperdiçado no mundo a cada ano, enquanto muitos morrem de fome”.

“Os recursos da natureza não podem ser usados assim. Os bens devem ser cuidados e repartidos de modo que a ninguém falte o necessário. Em vez de desperdiçar o que temos, vamos disseminar uma ecologia de justiça e caridade, de partilha”.

Para o papa, o chamado de Jesus nas bem-aventuranças para ser “pobre de espírito” inclui o “desejo de que nenhum dom seja desperdiçado”. Ele disse que isso inclui não desperdiçar “o dom que somos”.

“Cada um de nós é um bem, independente dos dons que tenha. Toda mulher, todo homem é rico não apenas em talentos, mas também em dignidade. Ele ou ela é amado por Deus, é valioso, é precioso”, disse ele.

“Jesus nos lembra que somos abençoados não pelo que temos, mas por quem somos.”

Um pequeno palco foi montado na praça de São Pedro antes do discurso do Papa no Ângelus, onde jovens se reuniram com balões e faixas cantando hinos como parte da “Caravana da Paz” da Ação Católica.

No final do Ângelus, um menino e uma menina se juntaram ao Papa Francisco na janela do Palácio Apostólico e leram em voz alta uma carta sobre seu compromisso com a paz.

O papa agradeceu a iniciativa da Ação Católica pela paz. “Pensando na atormentada Ucrânia, nosso compromisso e oração pela paz devem ser ainda mais fortes”, disse ele.

O papa também falou da Terra Santa, onde um atentado a tiros diante de uma sinagoga em Jesrusalém matou sete israelenses. O atentado terrorista seguiu-se a uma ofensiva do Exército de Israel na Cisjordânia que deixou dez palestinos mortos.

“A espiral da morte que aumenta dia após dia não faz outra coisa senão fechar os poucos vislumbres de confiança que existem entre os dois povos”, disse o papa. “Desde o início do ano, dezenas de palestinos foram mortos em tiroteios com o Exército israelense. Apelo aos dois governos e à comunidade internacional para que encontrem, desde já e sem demora, outros caminhos, que incluam o diálogo e a busca sincera da paz. Irmãos e irmãs, oremos por isso!”

O papa Francisco pediu às pessoas que rezem por sua viagem apostólica à República Democrática do Congo e ao Sudão do Sul de 31 de janeiro a 5 de fevereiro.

“Estas terras, situadas no centro do grande continente africano, sofreram muito com longos conflitos. A República Democrática do Congo, especialmente no leste do país, sofre com confrontos armados e exploração. O Sudão do Sul, devastado por anos de guerra, anseia pelo fim da violência constante que obriga muitas pessoas a serem deslocadas e a viver em condições de grande privação”, afirmou. “No Sudão do Sul, chegarei junto com o arcebispo de Canterbury e o Moderador da Assembleia Geral da Igreja da Escócia. Juntos, como irmãos, faremos uma peregrinação ecumênica de paz, para suplicar a Deus e aos homens o fim das hostilidades e a reconciliação. Peço a todos, por favor, que acompanhem esta Jornada com suas orações”.

Fonte: https://www.acidigital.com/

A espiritualidade da Igreja como corpo

Praça São Pedro | Vatican News

"A espiritualidade do corpo aponta para isso. O importante no corpo não é ser olho para ver, nem ouvido para ouvir, nem boca para falar, nem mãos para atuar, nem pés para andar, mas fazer parte e ser corpo para viver e gerar vida, cada qual em sua missão específica."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

“Ao participar realmente do corpo do Senhor, na fracção do pão eucarístico, somos elevados à comunhão com Ele e entre nós. «Porque há um só pão, nós, que somos muitos, formamos um só corpo, visto participarmos todos do único pão». E deste modo nos tornamos todos membros desse corpo, sendo individualmente membros uns dos outros» (...). A cabeça deste corpo é Cristo. Ele é a imagem do Deus invisível e n 'Ele foram criadas todas as coisas. (Lumen Gentium n. 7)”

O capítulo I da Constituição Dogmática Lumen Gentium - O Mistério da Igreja - ao falar sobre "A Igreja, sociedade visível e espiritual"explica no número 8, que "Cristo, mediador único, estabelece e continuamente sustenta sobre a terra, como um todo visível, a Sua santa Igreja, comunidade de fé, esperança e amor, por meio da qual difunde em todos a verdade e a graça. Porém, a sociedade organizada hierarquicamente, e o Corpo místico de Cristo, o agrupamento visível e a comunidade espiritual, a Igreja terrestre e a Igreja ornada com os dons celestes não se devem considerar como duas entidades, mas como uma única realidade complexa, formada pelo duplo elemento humano e divino."

Ao participar realmente do corpo do Senhor, na fração do pão eucarístico, "somos elevados à comunhão com Ele e entre nós, e deste modo nos tornamos todos membros desse corpo, sendo individualmente membros uns dos outros". O Espírito Santo, "unificando o corpo por si e pela sua força e pela coesão interna dos membros, produz e promove a caridade entre os fiéis." Mas "a cabeça deste corpo é Cristo. Ele é a imagem do Deus invisível e n 'Ele foram criadas todas as coisas."

Aprofundando nossa compreensão sobre a Igreja, Pe. Gerson Schmidt* nos propõe hoje a reflexão "A espiritualidade da Igreja como corpo":

"Arcebispo emérito da Arquidiocese de Porto Alegre-RS, Dom Dadeus Grings, em seu livro “Igreja do Diálogo Ecumênico”, reflete sobre essa temática da espiritualidade da Igreja como um Corpo. A visão da Igreja como um Corpo sugere uma espiritualidade de comunhão e unidade. É a busca que todos sejam um como foi a prece de Jesus ao Pai. (cf Jo 17,21). Vivendo o amor recíproco por meio da convivência humana conforme a vontade do Pai, concretizamos o desejo de Cristo da unidade na humanidade. Todos sejam um. Não simplesmente uma comunidade seleta. Escreve assim Dom Dadeus: “Neste contexto percebe-se a convivência humana. Consiste não só em estar aí, mas estar unido. Formamos todos um só Corpo, com cabeça divina e alma divina no Espírito Santo. Somos, sem dúvida, muitos membros. Mais que sociedade, que se forma pela consecução do bem comum, pela convergência da atividade de todas as ações humanas livres, no Corpo Místico se integram sujeitos, num mesmo organismo vivo. Interpenetram-se as subjetividades, da fé, da esperança e da caridade. Todos formam uma unidade em Cristo”[1]. A organicidade na Igreja não é obra simplesmente do ser humano, capaz de formar uma sociedade perfeita, mas obra da redenção, fruto do Espírito Santo que congrega, une, reúne na fé, costura o amor recíproco. Por isso recebemos infusas as virtudes teologais de fé, esperança e caridade. Elas atuam em nós, no campo eclesial, social, harmônico, construindo relações.

Em relação a espiritualidade que decorre do conceito da Igreja como um Corpo Místico de Cristo, Grings ainda diz assim: “Não podemos esquecer a espiritualidade deste corpo sobrenatural. Cristo nos orienta com a graça do Espírito Santo. O Pai, no qual cremos, em primeiro lugar, é alguém muito próximo e indispensável para esta espiritualidade. A referência a Cristo, como irmão, também nos assume neste Corpo no Espírito Santo, com seus dons sobrenaturais. É preciso imbuir-se da mentalidade do Corpo, do qual fazemos parte: amar este Corpo e se empenhar por ele, para que chegue à plenitude em cada membro[2].

Lembramos reflexão do programa anterior, já introduzíamos essa temática da espiritualidade do Corpo Eclesial. Cada um tem uma missão específica dentro do Corpo Místico. A espiritualidade do corpo aponta para isso. O importante no corpo não é ser olho para ver, nem ouvido para ouvir, nem boca para falar, nem mãos para atuar, nem pés para andar, mas fazer parte e ser corpo para viver e gerar vida, cada qual em sua missão específica. Tal como São Paulo diz: “Se o pé disser: mão eu não sou, logo não pertenço ao corpo. E se a orelha disser, olho eu não sou, logo não pertenço ao corpo, nem por isso deixará de fazer parte do Corpo” (1 Cor 12, 15-16). Podemos imaginar o mostro que seria a Igreja se todo o corpo fosse cabeça ou todo o corpo fosse pés. O importante é o todo, bem maior que a soma das partes e a unidade no corpo orgânico. Cada membro tem sua função e missão específica, de acordo com sua condição, idade, profissão, carisma, ministério, dons recebidos. “Assim aparece a maravilha do corpo, com seus membros, tanto contemplativos como ativos. Na atuação de cada um está a espiritualidade do todo”[3]."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

________________________

[1] GRINGS, Dadeus. “Igreja do Diálogo Ecumênico”. Evangraf, Porto Alegre, 2022, p. 47.
[2] GRINGS, Dadeus. “Igreja do Diálogo Ecumênico”. Evangraf, Porto Alegre, 2022, p. 47.
[3] Ibidem.

domingo, 29 de janeiro de 2023

Os países onde os católicos vão com mais frequência à Missa

Rawpixel.com | Shutterstock
Por Ricardo Sanches - John Burger

Conheça também as nações que têm os índices mais baixos de frequência na Missa.

O país onde os fiéis vão com mais frequência à Missa católica pode ser a Nigéria. É o que aponta um novo estudo publicado pelo Centro de Pesquisa Aplicada ao Apostolado (CARA).

Quando perguntado “Além de casamentos, funerais e batizados, com que frequência você frequenta serviços religiosos atualmente?” 94% dos autodenominados católicos nigerianos entrevistados disseram que frequentam a Missa pelo menos uma vez por semana.

A pesquisa foi conduzida pela World Values ​​Survey, que começou a rastrear os dados na década de 1980 e tem estatísticas para 36 países com grandes populações católicas. A CARA, que reuniu os resultados, disse que não é possível determinar exatamente qual país tem a maior taxa de comparecimento à Missa, “porque não foram realizadas pesquisas sobre o assunto em todos os países do mundo”.

Mas entre os entrevistados pela WVS, além da Nigéria, a frequência à Missa uma vez por semana ou mais é maior entre os adultos autodenominados católicos no Quênia (73%) e no Líbano (69%)

América Latina e Europa

O próximo segmento de países, onde metade ou mais dos católicos frequentam a Missa todas as semanas, inclui as Filipinas (56%), Colômbia (54%), Polônia (52%) e Equador (50%). De acordo com a pesquisa, um terço ou mais dos católicos adultos frequentam a Missa todas as semanas nos seguintes países: Bósnia e Herzegovina (48%), México (47%), Nicarágua (45%), Bolívia (42%), Eslováquia (40%), Itália (34%) e Peru (33%)”.

A pesquisa também mostrou as nações em que mais de um quarto dos autodeclarados católicos vão à Missa pelo menos uma vez na semana: Venezuela (30%), Albânia (29%), Espanha (27%), Croácia (27%), Nova Zelândia (25%) e Reino Unido (25%).

Os níveis mais baixos de frequência na Missa semanal são observados na Lituânia (16%), Alemanha (14%), Canadá (14%), Letônia (11%), Suíça (11%), França (8%) e Holanda (7%).

Brasil

De acordo com a pesquisa, o Brasil está entre os países em que os adultos declaradamente católicos menos participam da Missa. Segundo o estudo, apenas 8% dos brasileiros entrevistados disseram que vão à Missa pelo menos uma vez na semana.

Por outro lado, 82% dos brasileiros disseram que, independentemente de irem à igreja ou não, consideram-se pessoas “religiosas”.

Correlação com riqueza

A CARA também notou uma correlação entre fatores econômicos e comparecimento à Missa e concluiu que o catolicismo é mais forte no que costuma ser chamado de “mundo em desenvolvimento”, onde o PIB per capita é menor.

“Os mecanismos precisos associados ao desenvolvimento econômico e à riqueza que estão impactando a participação dos católicos na fé e a identificação como religiosos não são claros. O que quer que sejam, eles importam significativamente”, aponta o centro de pesquisa.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Fortunata Bakhita Quascè, a força da liberdade e da fé contra a escravidão

Irmã Fortunata Bakhita Quascè, missionária comboniana |
Vatican News

A poucos dias da viagem do Papa à República Democrática do Congo e Sudão do Sul, foi apresentado o livro de Maria Tatsos, relatando a extraordinária história humana e espiritual da primeira missionária africana comboniana, que viveu no século XIX. Praticamente desconhecida, e de fato confundida com a mais famosa Josefina Bakhita a santa religiosa sudanesa.

Maria Milvia Morciano – Vatican News

"É uma mulher que merece absolutamente ser redescoberta. Sua vida não era apenas extraordinária, mas também cheia de aventuras, quase como um romance". É assim que a jornalista e escritora Maria Tatsos descreve a figura de Fortunata Bakhita Quascè, a primeira religiosa africana comboniana que viveu no século XIX, a quem dedicou um livro intitulado Fortunata Bakhita Quascè - Uma mulher livre contra a escravidão, apresentado na Sala Marconi do Palazzo Pio.

Uma figura a ser redescoberta

Fortunata Bakhita foi a primeira madre Missionária da Nigrizia sudanesa. Uma vida extraordinária, tanto em termos humanos quanto espirituais, e ainda uma figura que por muito tempo permaneceu praticamente desconhecida, e de fato confundida com Josefina Bakhita a famosa santa religiosa sudanesa. O livro de Maria Tatsos, uma autora sempre sensível às questões femininas, foi publicado em colaboração com o Instituto das Irmãs Missionárias Mães da Nigrizia.

Biografia

Nascida por volta de 1845 nas montanhas Nuba, atual Sudão do Sul, faleceu jovem em 1899. Quando criança, Fortunata foi sequestrada por traficantes de escravos e libertada por um sacerdote e levada para a Itália onde teve a oportunidade de estudar, o que era muito raro para uma criança da época. Tornou-se religiosa com idade bastante avançada por volta dos 35 anos, portanto como uma mulher consciente de ter feito uma "escolha muito precisa que durou a vida inteira", afirma a autora do livro. "Todos os episódios dos quais ela foi vítima e ao mesmo tempo protagonista denotam que ela era uma mulher livre, capaz de uma autonomia pessoal, de pensamento, e nisto uma figura também extremamente moderna que pode nos falar nos dias de hoje".

Uma mulher livre e de fé

Maria Tatsos conta que "para tornar sua história mais próxima de um público em geral, foi feita a escolha de dar ao livro uma inclinação de romance histórico". Obviamente, ao fazer isso, tivemos muito cuidado em adaptar os fatos históricos reais, de modo que não há nada inventado dentro da história, com exceção de alguns personagens, mas tudo o que se refere à Fortunata corresponde exatamente à sua história pessoal e de seus contemporâneos, que viveram com ela. Ela foi basicamente uma mulher livre, uma mulher com autonomia de pensamento que derivava da sua grande fé. Tornar-se missionária não foi uma escolha casual". E conclui: "É uma figura que, se me permitem, eu quase definiria como imagem de empoderamento feminino, um modelo de mulher que nos ensina como a fé e o saber dão liberdade, como podem ajudar a melhorar a sociedade e a criar um novo mundo. Fortunata dá uma mensagem muito atual, válida tanto para os que são religiosos como para os leigos".

Superar os limites

A próxima edição do “Mulheres, Igreja e Mundo”, publicado pelo Osservatore Romano terá como tema a obra missionária feminina. Contará séculos de história, mas acima de tudo questionará as razões que levam tantas mulheres a esta escolha e o significado de serem missionárias hoje. Gabriella Bottani, missionária comboniana e ex coordenadora internacional do Movimento Talitha Kum diz: "Para mim, ser missionária é deixar-me abraçar pelo amor de Deus e deixar que este amor que me abraça me leve a superar fronteiras, me leve a superar as divisões que construímos para nós mesmos e que nossa sociedade, às vezes com injustiça, nos impõe. Isso exige que superemos as fronteiras culturais, e que o façamos acima de tudo abraçados pelo amor de Deus em Cristo".

A dignidade da mulher em Cristo

Fortunata Bakhita Quascè representa um exemplo de história: foi uma pioneira, uma heroína. Deixou uma marca indelével naqueles que conheceram sua história, como aconteceu com a irmã Bottani: "Eu conheci a vida de Fortunata em 2005-2006, quando foi publicada a primeira pesquisa histórica da irmã Maria Vidale, e foi logo no início, quando me deparei com situações de mulheres crianças, vítimas de violência e abuso. Fortunata Quascè me acompanhou com seu pensamento e eu percebi que esta mulher falava de uma maneira especial àqueles que haviam sido vítimas de violência. Uma mulher que tinha vivido a escravidão, que tinha sido educada no mais alto nível possível para uma mulher do século XIX no Sudão do Sul, e que encontrou Daniele Comboni e decidiu fazer parte do projeto e voltar à África para educar as meninas que tinham sido resgatadas da escravidão. Ela é uma mulher de coragem, uma mulher que interiorizou a liberdade e deixou de viver relações de submissão. É uma mulher que descobriu o valor da sua dignidade em Cristo. É uma mulher que me diz muito, e estou convencida de que ela tem muito a dizer a muitas mulheres hoje em dia, mesmo na Igreja".


"A vida é missão"

A vida é missão | POM/CNBB

“A VIDA É MISSÃO”

Dom Jaime Vieira Rocha 
Arcebispo de Natal (RN)

Na próxima semana, no dia 2 de fevereiro, a Igreja celebra a Festa da Apresentação do Senhor e o Dia Mundial da Vida Consagrada. Um dia de louvor e gratidão por todos os religiosos e religiosas, de modo especial, os que vivem, trabalham e dão testemunho de consagração em nossa Igreja Particular: carmelitas, filhas da caridade, filhas de Santana, filhas do Amor divino, irmãs franciscanas do Bom Conselho, franciscanas hospitaleiras, irmãs da Divina Providência, irmãs da Glória, irmãs de Belém, do Bom Pastor de Quebec, do Imaculado Coração de Maria, do Sagrado Coração de Jesus, missionárias carmelitas, franciscanas missionárias de Maria Auxiliadora e Salesianas, todas anunciam a maternidade espiritual que gera filhos e filhas no ensinamento da fé, no cuidado aos enfermos e no compromisso de amor ao próximo, especialmente aos mais necessitados. E como não lembrar, também, os presbíteros e irmãos religiosos, missionários da Sagrada Família, capuchinhos, maristas, redentoristas, vicentinos, salesianos, jesuítas, filhos de Santana, bons e admiráveis colaboradores no serviço pastoral. Deus os abençoe sempre e torne fecunda a consagração que fizeram.  

Os religiosos e religiosas lembram a todos nós que a vida é missão. A presença e o testemunho deles nos mostram a centralidade de Jesus Cristo. Conhecer Jesus Cristo, encontrar nele o sentido verdadeiro da vida é o que caracterizará a nossa resposta aos questionamentos que a sociedade pós-moderna nos coloca. Para Jesus a vida é missão. Uma missão que é caminho, que dá liberdade e que abre o coração para o outro, para a comunidade, para a fraternidade. É esta a nossa grande motivação, é esta a força de nossa convicção. A nossa vida de fé terá sua eficácia a partir do momento em que formos iluminados e guiados pela mística de Jesus Cristo, anunciador do Evangelho e criador da fraternidade em nossas comunidades. Mística do dom, da abertura de coração, da vivência de rede de comunidades, da experiência de comunidades acolhedoras, servidoras e missionárias. A vida consagrada, e com ela, a vida cristã terá sentido através desse caminho: conhecer cada vez mais Jesus Cristo, o seu Evangelho, a sua centralidade. É urgente, é necessário. Somente insistindo no conhecimento de Jesus Cristo é que seremos verdadeiros missionários. Somente com mística é que nossas ações serão verdadeira missão, pois brotarão da vida e vida é missão. 

Também a vida consagrada experimenta suas tentações. Esquecer Jesus Cristo como centro, esquecer que a vida é missão, pode levar alguns ao narcisismo e à autorreferencialidade. O Papa Francisco refletiu isso no ano passado: “Podemos perguntar-nos, irmãos e irmãs: O que é que move os nossos dias? Que amor nos impele a seguir em frente: o Espírito Santo ou a paixão do momento, isto é, uma coisa qualquer? Como nos movemos na Igreja e na sociedade? Às vezes, mesmo por trás da aparência de boas obras, podem ocultar-se a traça do narcisismo ou o frenesi do protagonismo… Far-nos-á bem, a todos nós, verificar hoje as nossas motivações interiores, discirnamos as moções espirituais, porque a renovação da vida consagrada passa primariamente por aqui” (FRANCISCO. Homilia do dia 2 de fevereiro de 2022. Festa da Apresentação do Senhor. Basílica de São Pedro, Vaticano). 

Obrigado, Senhor, pela vida religiosa consagrada. Que ela seja sempre esse testemunho de uma vida cheia de alegria, de entrega à missão de evangelizar e de compromisso com Cristo e com os irmãos e irmãs.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

A humanidade a 90 segundos do Juízo Final

Shutterstock / Ronnie Chua
Por Ricardo Sanches - Jaime Septién

Cientistas movem os ponteiros do Relógio do Juízo Final e colocam a humanidade mais perto do que nunca do apocalipse.

A guerra lançada pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, motivou o Conselho de Ciência e Segurança do Boletim de Cientistas Atômicos a colocar o Relógio do Juízo Final a apenas 90 segundos do que eles consideram o fim da vida terrestre.

O Relógio do Juízo final é uma metáfora de quão perto o planeta está da sua autodestruição.

Em seus 76 anos de história, o Boletim nunca considerou que a humanidade estivesse tão perto do fim como agora. E olha que a entidade já testemunhou as guerras na Coreia, no Vietnã, a Guerra Fria, a Crise dos Mísseis de Cuba e o ataque terrorista de 11 de setembro nos EUA.

Eles conhecem as consequências

Os cientistas idealizadores do Relógio do Juízo Final sabem o que pode acontecer em uma guerra nuclear como a que Putin anuncia em sua ambição excessiva por “recuperar” a Ucrânia para a Rússia.

Como estabelece o Boletim, o Relógio do Juízo Final “é um indicador universalmente reconhecido da profunda vulnerabilidade do mundo às armas nucleares, mudanças climáticas e tecnologias disruptivas. Quanto mais perto da meia-noite, maior o perigo para a nossa existência.”

A guerra na Ucrânia está prestes a completar um ano e o Boletim afirma que, “o mundo está num momento muito perigoso. Dezenas de milhares de pessoas, incluindo muitos civis inocentes, foram mortos. Nenhuma solução óbvia para o conflito está em vista.”

De fato, o Conselho de Ciência e Segurança do Boletim dos Cientistas Atômicos vê com grande preocupação o movimento das tropas russas perto de Chernobyl e Zaporizhia, “violando os protocolos internacionais e arriscando a liberação generalizada de materiais radioativos”.

Certamente, a perspectiva de uma guerra nuclear é a que mais preocupa a entidade, mas também há outras ameaças que pairam sobre a humanidade, como as tensões entre os Estados Unidos e a China, as alterações climáticas, a utilização de combustíveis fósseis, a emissão de gases do efeito de estufa e as consequências imprevisíveis da Covid, entre outras.

Enfim, os membros do Boletim dizem que “se alguma vez houve um momento para os líderes mundiais agirem para voltar no tempo, é agora”.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Reflexão para o IV Domingo do Tempo Comum (A)

Evangelho do domingo | Vatican News

Jesus declara bem-aventurado um mundo novo, de acordo com os planos do Pai. Ele quer salvar aqueles que ainda vivem no mundo antigo, corrompido, onde os únicos valores são riqueza, poder e glória.

Padre Cesar Augusto, SJ – Vatican News

A liturgia deste domingo nos apresenta, para nossa reflexão, o tema da humildade. Na primeira leitura, o Profeta Sofonias nos recomenda a humildade para encontrarmos refúgio no Senhor e para a prática da justiça. Isto porque o humilde é pobre, sem poder e sem riqueza. Sua confiança está apenas no Senhor e não nos bens terrenos e nem na ação maléfica para garantir a estabilidade.

No contexto da liturgia de hoje, o conceito de pobre deixa de ser maldição e passa a ser bênção. O rico está de tal modo fascinado pelo conforto e segurança que o dinheiro traz, que se esquece de que tudo deve estar subordinado à justiça, à ética emanada da Lei de Deus, a Lei do Amor. O pobre, pelo contrário, confia plenamente no Senhor, em sua Providência, vivendo a justiça dos filhos de Deus, que nos torna irmãos de todos os homens.

No Evangelho, Jesus aprofunda o conceito de pobre e acrescenta pobres em espírito, ou seja, é bem-aventurado aquele que desapegado dos bens deste mundo, desapega-se também de atitudes nada fraternas como a arrogância, o poder opressor, e se compromete na construção de uma sociedade alicerçada na partilha de todos os bens, materiais ou não, e na fraternidade de seus pensamentos e ações.

Jesus declara bem-aventurado um mundo novo, de acordo com os planos do Pai. Ele quer salvar aqueles que ainda vivem no mundo antigo, corrompido, onde os únicos valores são riqueza, poder e glória. Jesus nos propõe desapego dos bens materiais, serviço e humildade. Esses são os valores da nova sociedade, vividos por aqueles que desejam construir o Reino de Deus. Nela todos serão felizes e não apenas um pequeno grupo de privilegiados.

Quando o Senhor fez seu sermão do alto da montanha, olhou em sua volta e encontrou a imensa  multidão de sofredores, injustiçados, cansados, sobrecarregados com todos os tipos de fardos que podemos imaginar. São Paulo, em sua Carta aos Coríntios, mostra um espelho aos seus seguidores e comenta que sua comunidade é formada por fracos, desprezados, pessoas sem importância e valor. Esses foram os escolhidos por Deus para manifestar, neles, o carinho de sua glória. É a nova sociedade, onde Deus impera com sua justiça de amor.

Caríssimos irmãos, como somos nós? Como está nossa paróquia, nossa associação religiosa? Vivemos essa nova sociedade promulgada por Jesus, do alto da montanha, onde o pobre, o pecador são acolhidos com carinho e humildade de nossa parte, ou nossa vida cristã mostra exatamente o contrário do que Nosso Senhor ensinou?

Que o projeto de Jesus, para uma nova sociedade, esteja presente não apenas em nossa vida eclesial, mas também em nossa casa, em nosso trabalho profissional, em tudo onde estivermos atuando. Bem-aventurados aqueles que abrem mão de seus conceitos e verdades, para seguir integralmente os ensinamentos do Senhor!

sábado, 28 de janeiro de 2023

Temas litúrgicos: a homilia

A homilia | Presbíteros

Temas litúrgicos: a homilia

«Se por meio da Sagrada Escritura é Deus que nos fala, é mediante a homilia que nos fala a Igreja». Os fiéis esperam do sacerdote que lhes torne acessível, compreensível, aplicável ao dia-a-dia, aquilo que ouviram da parte de Deus nas leituras. E isto, nas suas circunstâncias atuais. Procuram na homilia uma resposta para as suas dúvidas e buscas quotidianas. Uma resposta ancorada na Palavra de Deus. Uma resposta verdadeira, portanto.

Recordo um caso que ilustra esta expectativa de uma forma expressiva. Trata-se do caso de um sacerdote que viveu na sua família uma das mortes nos incêndios de Pedrógão. Quando as dúvidas se desvaneceram e a realidade caiu, inevitável, tremenda, dura, sobre toda a família, o sacerdote soube que, para ele, padre, se iriam levantar os olhares de todos. Olhares interrogativos, olhares de quem quer entender e não entende… Sabia que precisavam que ele lhes falasse da parte de Deus e que, tal como o egípcio perante o diácono Filipe, precisavam de ajuda para desvelar a Palavra de Deus neste contexto tão particular, e os ajudasse a compreender.[3] E, curioso, sabia que iriam esperar por esse momento litúrgico: pela homilia. Sim, na homilia daquele funeral havia um silêncio ensurdecedor. Um silêncio que gritava: – «Explica-nos o que aconteceu! Onde estava Deus nesse momento? Por que permitiu isto? E agora, onde está Deus? Como olha para nós e para o nosso sofrimento?». Olhares sedentos de resposta. Uma resposta que já tinha começado a ser dada pelo próprio Deus quando se proclamaram as leituras e se pronunciaram as orações daquela celebração litúrgica, mas que precisava de ser continuada, explicitada. Sentiu, pois, na pele, talvez da forma mais intensa até esse momento, aquilo que disse o Papa Francisco: «O pregador tem a belíssima e difícil missão de unir os corações que se amam: o do Senhor e os do seu povo. O diálogo entre Deus e o seu povo reforça ainda mais a aliança entre ambos e estreita o vínculo da caridade. Durante o tempo da homilia, os corações dos crentes fazem silêncio e deixam-No falar a Ele». Sim, querem que Aquele que lhes falou há pouco, seja mais claro, que lhes fale na sua linguagem, de forma compreensível. Francisco continua: «O Senhor e o seu povo falam-se de mil e uma maneiras diretamente, sem intermediários, mas, na homilia, querem que alguém sirva de instrumento e exprima os sentimentos, de modo que, depois, cada um possa escolher como continuar a sua conversa». Ao ler isto recordei ainda um pormenor do relato daquele sacerdote: um dia depois daquela Missa de corpo presente, aproximou-se uma pessoa e mostrou-lhe um papel onde anotara a sua oração. «Depois de o ouvir decidi-me a escrever isto». E o que escrevera era o que o Papa dizia: conversa pessoal com Deus, à luz da Sua Palavra e daquelas circunstâncias dramáticas que estava a viver. Sim, naquelas celebrações litúrgicas os corações daquela família, de amigos e conhecidos, que se poderiam ter afastado do Senhor pela dor e a incompreensão, iluminados com a Sua Palavra, uniram-se mais, por muito incompreensível que isso seja. Cumpriram-se aquelas outras palavras do Santo Padre: «a Palavra de Deus é proclamada na comunidade cristã para que o dia do Senhor se ilumine com a luz que provém do mistério pascal (…). Deus continua a falar hoje conosco como aos seus amigos, “entretém-se” conosco, para oferecer-nos a sua companhia e mostrar-nos o caminho da vida. A sua Palavra torna-se intérprete das nossas petições e preocupações, e é também resposta fecunda para que possamos experimentar concretamente a sua proximidade».

Recordo ainda o caso daquele capelão de um colégio a quem lhe deram a notícia de que o pai de um aluno fora baleado por um louco na rua e faleceu. Naquele momento ele soube que, no dia seguinte, os olhos de todos os alunos estariam postos nele com a pergunta: – «Porquê?». E foi com essa pergunta que começou a homilia dessa Missa única, multitudinária, em que todo o colégio acorreu em peso. «Porquê?». E, com base nos textos da celebração, foi procurando responder. Não sei o que disse, mas soube da reação daqueles adolescentes. Foi como soltar a pressão de uma panela que ameaçava explodir. A Palavra de Deus tinha-os confortado, tinha-os ajudado a aceitar a dor e a compreender um pouco o mistério da vida. Talvez tenha acontecido algo semelhante ao que sucedeu com os discípulos de Emaús. As palavras do Senhor iluminam o drama da cruz à luz das Escrituras e permitem-lhes vislumbrar um sentido para tudo aquilo que viviam e sentiam. E o coração daqueles discípulos aqueceu-se.

Perdoem-me estas divagações. Sei que qualquer sacerdote terá um sem-número de episódios certamente mais relevantes e ilustrativos. Efetivamente, resisti-me muito a escrever este artigo. Não queria falar sobre a homilia. Parecia-me mais um tema pastoral do que litúrgico. Porém, se a liturgia é esse diálogo entre Deus e o homem, mediado pelo sacerdócio, como pôr de parte a homilia? É tão sincero e belo o pedido dos discípulos: «explica-nos a parábola». Querem entender. Também agora, os fiéis querem entender e viver as palavras do mestre.

Aliás, encontramos essa prática já na sinagoga nos tempos do Senhor. O próprio Jesus é chamado a ler e, depois, todos esperam uma explicação. Estavam todos os olhos cravados nele. Aquelas palavras cumpriam-se naquele preciso momento. Ora a Palavra de Deus tem essa propriedade de se tornar vida no «hoje» da Igreja. Cabe ao ministro a tarefa de descobrir essa aplicação, de ser instrumento, para que Deus fale através da sua Igreja e a instrua. Daí que o Papa Francisco diga que «a homilia é o ponto de comparação para avaliar a proximidade e a capacidade de encontro de um Pastor com o seu povo».

Isso implica da sua parte uma atenção e preparação especial, a humildade de se saber instrumento, sabendo que fala não a título pessoal, mas em nome da Igreja e que, também na homilia está a desempenhar uma função litúrgica.

Daí que a Igreja dê indicações explicitas sobre o seu conteúdo: «deve ser a explanação de algum aspecto das leituras da Sagrada Escritura ou de algum texto do Ordinário ou do Próprio do dia, tendo em conta o mistério que se celebra, bem como as necessidades peculiares dos ouvintes».

Na exortação Sacramentum Caritatis o Papa Bento pedia: «Evitem-se homilias genéricas ou abstratas; de modo particular peço aos ministros para fazerem com que a homilia coloque a Palavra de Deus proclamada em estreita relação com a celebração sacramental (Cfr. SC 52) e com a vida da comunidade, de tal modo que a Palavra de Deus seja realmente apoio e vida da Igreja (Cfr. DV 21)».

Por ser litúrgica ela deve ser breve. Para respeitar a harmonia da celebração e o seu ritmo. «Quando a pregação se realiza no contexto da Liturgia, incorpora-se como parte da oferenda que se entrega ao Pai e como mediação da graça que Cristo derrama na celebração. Este mesmo contexto exige que a pregação oriente a assembleia, e também o pregador, para uma comunhão com Cristo na Eucaristia, que transforme a vida. Isto requer que a palavra do pregador não ocupe um lugar excessivo, para que o Senhor brilhe mais que o ministro».

Termino esta reflexão com outra citação do Papa Bento XVI. São três perguntas que formula com o intuito de ajudar o pregador a colocar-se diante do texto para preparar a sua homilia: «Que dizem as leituras proclamadas? Que me dizem a mim pessoalmente? Que devo dizer à comunidade, tendo em conta a sua situação concreta?» Se o sacerdote souber responder a estas três questões estará, certamente, em condições de ser um bom instrumento e ajudar a comunidade a dialogar com o seu Senhor.

P. PEDRO BOLÉO TOMÉ

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF