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domingo, 5 de fevereiro de 2023

Existe açúcar saudável?

Foto: Shutterstock / Saúde em Dia

Nutricionista revela 14 tipos diferentes do produto

Veja abaixo quais são as principais variações disponíveis no mercado e o que esperar de cada uma delas.

  • Redação - 5 fev 2023

Se você gosta de um docinho, mas quer iniciar ou manter uma alimentação mais saudável, fatalmente já deve ter se perguntado sobre isso. Afinal, existe algum tipo de açúcar saudável ou não? E a resposta não é tão simples assim, já que tudo depende de um contexto geral.

Isso significa que, caso a sua alimentação esteja bem planejada, tem espaço para tudo. Mas, é fato que, para incluir na dieta, existem opções mais interessantes do que o açúcar refinado tradicional. Por isso, com a ajuda da nutricionista funcional esportiva e vegetariana, Cintia Pettinati, detalhamos 14 tipos diferentes do produto. Confira:

14 tipos de açúcar e o que esperar de cada um

1. Açúcar mascavo: ele é o açúcar bruto, escuro e úmido, extraído depois do cozimento do caldo de cana. Como esse tipo não passa pela etapa de refinamento, ele conserva o cálcio, o ferro e os sais minerais. Dessa forma, acaba sendo uma opção mais saudável do que o tradicional. Mas, vale lembrar que, ainda assim, ele é calórico. Sem falar que o seu gosto, bem parecido com o do caldo de cana, não é unânime.

2. Açúcar demerara: conhecido por ser uma das formas mais caras dos açúcares extraídos da cana, o demerara é também um dos tipos mais utilizados para fazer doces sofisticados. De sabor mais ameno que o mascavo, os ingredientes passam pelo processo de purificação e refinamento, porém, sem aditivos químicos. Portanto, ele mantém os teores minerais da cana-de-açúcar.

3. Açúcar orgânico: muito parecido com o mascavo, o açúcar orgânico não utiliza produtos agrotóxicos em seu plantio e cultivo, nem componentes químicos artificiais no processo de industrialização. Além disso, não é refinado, o que lhe confere grãos mais grossos e cor mais escura. Portanto, seus benefícios estão relacionados à ausência de aditivos químicos e preservação dos sais minerais e não aos valores calóricos e nutricionais.

4. Açúcar light: a versão mais indicada para aquelas que estão querendo emagrecer com dietas naturais, o açúcar light é a mistura de açúcar refinado com adoçantes artificiais, como o aspartame, que adoça quatro vezes mais que as versões naturais. Portanto, embora não seja isento de gorduras e calorias, o açúcar light adoça mais e é utilizado em menor quantidade, ação que resulta em ingestão de menos calorias.

Os mais diferentes

5. Açúcar de coco: uma das melhores opções para programas alimentares com restrições. Ele é mais leve, menos calórico e muito mais nutritivo que os adoçantes comuns do mercado. Sem falar que um dos benefícios é o seu baixo nível glicêmico. Ou seja, isso impede que ele se transforme em glicose no sangue muito rápido, sendo bom tanto para quem está seguindo uma dieta específica, como para os portadores de diabetes.

6. Melado de cana: é a forma líquida extraída direto da cana-de açúcar, que também tem o poder de adoçar muito forte. Sendo assim, conserva todos nutrientes, como ferro, cálcio, selênio, manganês e o cobre, e é indicado para quem tem imunidade baixa, anemia, para evitar o excesso de coagulação e dar muita energia para os músculos.

7. Maltodextrina: é o resultado da hidrólise do amido ou da fécula, normalmente se apresentando comercialmente na forma de pó branco, composto por uma mistura de vários oligômeros da glicose, compostos por 5 a 10 unidades. Estas moléculas são metabolizadas de forma rápida no organismo humano. Ou seja, contribuem para um aumento exponencial de insulina (pico de insulina) na corrente sanguínea.

8. Frutose: ela também é um tipo de adoçante natural, é extraído de frutas ou do milho. De sabor muito mais doce, o ingrediente carrega menores valores nutricionais e é utilizado na produção de doces industrializados.

Os tradicionais

9. Açúcar cristal: entre os tipos de açúcar existentes, este tem como característica os cristais grandes, transparentes ou levemente amarelados. E possui praticamente as mesmas propriedades do açúcar refinado. Existe também o açúcar cristal colorido, que contém corantes alimentícios. É perfeito para preparar receitas e adoçar líquidos e para uso decorativo em pães, docinhos e biscoitos.

10. Açúcar de confeiteiro: também conhecido como o glaçúcar, o ele é ideal para o preparo de chantilly, coberturas e glacês mais homogêneos, pois possui grãos superfinos que permitem uma mistura mais eficaz, mesmo a frio. No processo de fabricação, o refinamento é sofisticado e inclui a adição de amido para evitar que os microcristais se juntem novamente. Por ser um açúcar muito fino (parece um talco para bebês), é o tipo ideal para decorar tortas, bolos e biscoitos.

11. Açúcar refinado: o tradicional, que encontramos facilmente em qualquer supermercado. Como seu nome já diz, os grãos são finos e, portanto, de fácil solução. Mas, vale lembrar que, no processo de fabricação, são adicionados produtos químicos. Isso faz com que ocorra uma perda de vitaminas e sais minerais.

A indústria também usa açúcar

12. Açúcar invertido: a aparência é igual a de um xarope, que é exatamente o que ele é. Em uma reação da sacarose, o açúcar tradicional, com água e calor, a molécula se quebra e se divide em glicose e frutose. É usado comumente para fazer balas e biscoitos, pois ele impede a cristalização e funciona como um "conservante". Está à venda em lojas de confeitaria e especializadas.

13. Açúcar líquido: esse tipo é bastante usado em indústrias alimentícias para o preparo de bebidas gasosas, doces, balas e é difícil ser encontrado em supermercados. Para preparar em casa, basta dissolver o refinado em água. É bom para preparar caldas e coberturas de sobremesas.

14. Xarope de glicose: o principal uso da glicose na culinária é impedir que o açúcar forme aquela crosta cristalizada em volta do doce. Isso porque ela tem um ponto de congelamento baixo, o que ajuda a não deixar brigadeiros duros, por exemplo. Fácil de achar, também aparece como xarope de milho.

Fonte: https://www.terra.com.br/

Reflexão para o 5º Domingo do Tempo Comum (A)

Evangelho de Domingo | Vatican News

"A luz brilha e Jesus nos chamou de luz do mundo. Deveremos brilhar no mundo, iluminá-lo para levá-lo ao Senhor."

Padre Cesar Augusto, SJ - Vatican News

“Reparte o pão com o faminto, acolhe em casa os pobres e peregrinos. Quando encontrardes um nu, cobre-o, e não desprezes a tua carne. Então, brilhará tua luz como a aurora e tua saúde há de recuperar-se mais depressa; à frente caminhará tua justiça e a glória do Senhor te seguirá.”

Compreendemos desse texto do Profeta Isaías que o jejum é solidariedade com os famintos, é partilhar o próprio pão e o próprio teto. Não existe culto a Deus separado da justiça social. Experimentamos Deus a partir dos sofrimentos humanos. Deus não nos pede que provoquemos dor e desconforto em nosso corpo. Ele nos pede misericórdia, compaixão com aquele que sofre, solidariedade, partilha de dons. A privação que Deus nos pede não é um gesto de ascese, de autodisciplina, mas de acolhida do outro na situação em que se encontra, é compaixão. O crescimento espiritual não pode ser voltado para si mesmo, seria estéril, mas quando me privo para ir em socorro do outro, por causa do outro, por causa de Deus e não de mim mesmo, aí cresço. Não podemos confundir o jejum cristão, os exercícios de abnegação com mera privação em que eu saio melhor porque dominei meu corpo, dominei meus desejos. Para isso não precisamos amar o próximo e nem a Deus.

O atleta, a pessoa que cultiva sua elegância física, o e a modelo também se privam de alimentos, fazem bastantes exercícios físicos, vão passar fome em um spa não por amor ao próximo ou a Deus, mas por beleza, por saúde, por vaidade. O dinheiro economizado com esse jejum, se é que economizou e não gastou mais ainda, certamente não será dado aos pobres, mas gasto em produtos que realcem o sacrifício realizado: a beleza física! Do mesmo modo, certos caminhos espirituais que propõem uma vida ascética, difícil até, mas com o único objetivo de crescimento e auto domínio, se tornam estéreis - dentro de uma visão judaico-cristã - porque se esquecem da verdadeira dimensão espiritual que direciona o culto religioso a Deus concretizando-se no serviço ao próximo. Segundo Isaías, a partilha é a transfiguração da pessoa, quando ele diz: “Então, brilhará tua luz como a aurora”!

No Evangelho Jesus diz que os seus discípulos são sal da terra e luz do mundo. Como entender isso?

No passado, como por exemplo no livro dos Números 18,19 está escrito “aliança de sal”, uma aliança que se pereniza. Ora, o Senhor ao falar que somos “sal da terra” quer nos dizer que somos aqueles em que Ele confia para perenizar entre os homens o seu amor, sua aliança, para construir o Reino de Justiça. E o sal não perde o sabor, nos alerta o Mestre, nos dizendo da necessidade de nos mantermos fiéis à nossa missão, caso contrário, se perdermos o sabor, seremos jogados por terra para sermos pisados, desprezados, pois perdemos nossa sublime missão.

A luz brilha e Jesus nos chamou de luz do mundo. Deveremos brilhar no mundo, iluminá-lo para levá-lo ao Senhor. “A luz de vocês brilhe diante das pessoas, para que elas vejam as boas obras que vocês fazem, e louvem o Pai que está no céu”.

Concluindo a mensagem deste domingo poderemos levar a seguinte mensagem: Meu relacionamento com Deus me leva a abrir meu coração e meus bens aos pobres e ser misericordioso. Com essa atitude estarei colaborando com o Senhor na construção do Reino de Justiça. Estarei sendo sal, conservando sua aliança de Amor com o ser humano e também estarei sendo farol, luz para aqueles que são de boa vontade e desejam chegar até Deus.

“Tu és Deus que me vê.”

Palavra de vida fevereiro 2023 | cidadenova

“Tu és Deus que me vê.” (Gn 16,13) | Palavra de Vida Fevereiro 2023

por Web Master   em 30/01/2023

O VERSÍCULO da Palavra da Vida deste mês é tirado do livro do Gênesis. As palavras são ditas por Agar, escrava de Sarai. Uma vez que Sarai não podia ter filhos, ela fez seu esposo Abraão se unir a Agar para garantir uma descendência. Mas, quando Agar descobriu que estava grávida, sentiu-se superior à sua senhora. Então Sarai humilhou-a tanto que ela se viu obrigada a fugir para o deserto. E é precisamente aí que se dá um encontro único entre Deus e essa mulher, que recebe uma promessa de descendência semelhante àquela que Deus fez a Abraão. O filho que dela nascerá será chamado Ismael, que significa “Deus ouviu”, porque Ele acolheu a angústia de Agar e lhe deu uma estirpe.

“Tu és Deus que me vê.”

A reação de Agar reflete a ideia, muito comum no mundo antigo, de que os seres humanos não podem resistir a um encontro próximo demais com o divino. Agar fica surpresa e grata por ter sobrevivido. Ela experimenta o amor de Deus justamente no deserto, o lugar privilegiado onde se pode experimentar um encontro pessoal com Ele. Agar sente a Sua presença e se sente amada por um Deus que a “viu” nessa sua situação dolorosa, um Deus que se preocupa e envolve de amor as suas criaturas. “Ele não é um Deus ausente, distante, indiferente aos destinos da humanidade, ao destino de cada um de nós. Muitas vezes nós constatamos isso. [...] Ele está aqui comigo, está sempre comigo, conhece tudo de mim e compartilha cada pensamento meu, cada alegria, cada desejo; carrega comigo cada preocupação, cada provação da minha vida”.1

“Tu és Deus que me vê.”

Esta Palavra de Vida reaviva uma certeza e nos conforta: nunca estamos sozinhos em nosso caminho, Deus está aí e nos ama. Às vezes, como Agar, nos sentimos “estrangeiros” nesta terra, ou procuramos maneiras de escapar de situações pesadas e dolorosas. Mas devemos ter a certeza da presença de Deus e da nossa relação com Ele que nos torna livres, nos tranquiliza e nos permite sempre recomeçar.

Essa foi a experiência de Paula [nome fictício] que viveu sozinha o período da pandemia. Ela diz: “Desde o início do fechamento total de todas as atividades em nosso país, estou sozinha em casa. Não tenho fisicamente ao meu lado ninguém com quem possa partilhar essa experiência e procuro ocupar o dia do jeito que posso. Com o passar dos dias, porém, fico cada vez mais desanimada. À noite, tenho muita dificuldade em adormecer. Fico com a impressão de que não consigo mais sair desse pesadelo. No entanto, também sinto fortemente que devo confiar-me completamente a Deus e acreditar em seu amor. Não duvido de sua presença que me acompanha e me conforta nesses meses de solidão. Pequenos sinais que me chegam dos irmãos me dão a entender que não estou sozinha. Como aquela vez em que, comemorando online o aniversário de uma amiga, recebi logo em seguida uma fatia de bolo da minha vizinha de casa”. 

“Tu és Deus que me vê.” 

Então, protegidos pela presença de Deus, também nós podemos ser mensageiros do seu amor. De fato, somos chamados a ver as necessidades dos outros, a socorrer nossos irmãos nos seus desertos, a compartilhar suas alegrias e suas tristezas. O esforço é manter os olhos abertos para a humanidade na qual também nós estamos imersos.

Podemos nos deter um momento e marcar presença junto àqueles que procuram um sentido e uma resposta aos muitos porquês da vida: amigos, familiares, conhecidos, vizinhos de casa, colegas de trabalho, pessoas em dificuldades econômicas e, quem sabe, socialmente marginalizadas. 

Podemos recordar e partilhar aqueles momentos preciosos em que encontramos o amor de Deus e redescobrimos o sentido da nossa vida.

Podemos enfrentar juntos as dificuldades e, nos desertos que atravessamos, descobrir em nossa história a presença de Deus, que nos ajuda a seguir confiantes em nosso caminho.

Por Patrizia Mazzola com a comissão da Palavra de Vida 

1) LUBICH, C., Palavra de Vida, julho de 2006.

Fonte: https://www.cidadenova.org.br/

A doença que provavelmente cegou São Francisco de Assis

Fred de Noyelle I Godong / "Saint François priant", Le Greco
Por Igor Precinoti - Vanderlei de Lima

Francisco foi ao Oriente pregar o Evangelho e, nessa viagem, adquiriu uma doença nos olhos que o levou à cegueira.

Nascido em uma rica família de comerciantes, durante um momento de oração, Francisco de Assis teve uma experiência mística: “Francisco, restaura a minha Igreja”. A ordem divina que o jovem rico ouviu, na igreja de São Damião, foi atendida, e, mesmo sob protestos de seu pai, Francisco optou pela vida religiosa. 

O santo, atendendo à ordem divina, percebeu que a vida opulenta na qual viviam alguns religiosos poderia afastar a Igreja dos ensinamentos de Cristo. Optou, então, por uma vida simples, fez voto de pobreza e, nos anos de 1200, e recebeu autorização do Papa para erigir oficialmente sua Ordem dos Frades Menores.

O trabalho de São Francisco foi exitoso, suas sementes germinaram no mundo todo e os seus frutos são até hoje colhidos. Porém, a vida de São Francisco não foi fácil. Em toda a sua biografia, são descritos relatos de doenças que o acometiam. Desde uma malária adquirida na juventude até uma cegueira que o impedia de vislumbrar a beleza da criação.

Sim, na história deste santo, se relata que, em 1219, em meio às Cruzadas, Francisco foi ao Oriente pregar o Evangelho e, nessa viagem, adquiriu uma doença nos olhos que o levou à cegueira. Fazendo um estudo das possíveis causas dessa cegueira de São Francisco de Assis, pensamos ser muito provável que ela tenha sido causada pelo tracoma, enfermidade muito presente na época e no local de peregrinação do santo.

O tracoma é uma moléstia infecciosa muito antiga, com relatos encontrados em achados arqueológicos que remontam há 1500 a.C.  Tal doença é causada por uma bactéria chamada Chlamydia trachomatis e se manifesta com uma inflamação ocular. Esta inflamação crônica é percebida inicialmente com uma leve irritação nos olhos e nas pálpebras, mas que evolui com dor nos olhos e turvação visual. Se não for adequadamente tratada, leva à cegueira.

Essa doença ainda está presente em áreas pobres e rurais do Oriente Médio, da África, das Américas Central e do Sul e sua transmissão se dá por meios do contato com pessoas doentes ou objetos que foram utilizados pelas pessoas contaminadas tais como toalhas de rosto, produtos de maquiagem, lenços etc. Daí o principal motivo para se evitar o compartilhamento de produtos de uso pessoal como pincéis e lápis de olho usados em maquiagem e evitar o uso de toalhas de pano em ambientes públicos, dando preferência sempre a toalhas descartáveis. No caso de contaminação, o tratamento deve ser feito com antibióticos. 

Até hoje, o tracoma é a maior causa de cegueira evitável no mundo e dados da Organização Mundial da Saúde de 2022 relatam que 1,9 milhões de pessoas sofrem de cegueira ou deficiência visual devido a essa doença. Apesar de a prevenção ser relativamente simples, como o acesso a água limpa para uma higiene pessoal adequada e evitar o compartilhamento de alguns produtos potencialmente contaminados (toalhas de rosto e pincéis de maquiagem, por exemplo), o tracoma ainda se apresenta como um problema de saúde pública que, infelizmente, é negligenciado por não poucas autoridades governamentais. 

Ao meditarmos, ainda que muito brevemente, à luz da fé, sobre os sofrimentos na vida dos santos em geral e no modo como eles os aceitaram, devemos recordar que o mal é, por definição, a ausência de um bem necessário (no caso da cegueira, a falta de luz) e – seja ele físico ou moral – decorre da própria finitude das criaturas. Nunca de Deus. Ele não quer, de modo algum, o mal, mas o permite. Não o permitiria, porém, segundo Santo Agostinho de Hipona, se não pudesse tirar dele bens ainda maiores (cf. Enchridion, XXVIII), mesmo que, por ora, desconheçamos tais bens. Mais: o sacrifício não provocado, mas aceito por amor a Deus e ao próximo (cf. Mt 22,37-39), reveste-se do caráter de ascese (= exercício) passiva e muito ajuda na santificação do sofredor que, sem deixar de buscar a cura, se possível for, não se revolta ante as agruras da vida (cf. Dom Estêvão Bettencourt, OSB. Curso de Espiritualidade. Rio de Janeiro: Mater Ecclesiae, 2006, p. 37-42).

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Papa: “Todo o mundo está em guerra, em autodestruição, vamos parar!”

Papa Francisco | Vatican News

No voo de regresso do Sudão do Sul, foi realizado o colóquio do Papa, do arcebispo de Cantuária e do moderador da Igreja da Escócia com os jornalistas. Francisco falou de Bento XVI: “A sua morte foi instrumentalizada por pessoas de partido, não de Igreja, ele não estava amargurado pelo que fiz”. E sobre os homossexuais: “Criminalizá-los é uma injustiça”.

VATICAN NEWS

“Todo o mundo está em guerra, em autodestruição, vamos parar!”. Papa Francisco, ao lado do arcebispo de Cantuária, Justin Welby, e do moderador da assembleia geral da Igreja da Escócia, Ian Greenshields, dialogou com os jornalistas no voo de regresso do Sudão do Sul. Os três, em várias ocasiões, responderam conjuntamente às perguntas. E foi a ocasião para Francisco, além de reiterar a “injustiça” da criminalização das pessoas homossexuais, falar também da morte do Papa emérito Bento XVI, cujo falecimento, ocorrido em 31 de dezembro, foi acompanhado por reconstruções polêmicas que o colocaram contra o predecessor: “A sua morte foi instrumentalizada” por pessoas “de partido e não de Igreja”. O Papa explicou ainda que Bento XVI, consultado por ele várias vezes nesses anos, “não estava amargurado por aquilo que fiz”. No início, Francisco reiterou que se tratou de “uma viagem ecumênica” e, por isto, “quis na coletiva de imprensa que estivessem também os dois. Sobretudo o arcebispo de Cantuária, que tem uma história de anos neste caminho da reconciliação” no Sudão do Sul.

WELBY

Em janeiro de 2014, eu e minha mulher visitamos o Sudão do Sul no âmbito de uma viagem da comunhão anglicana e, chegando, o arcebispo nos pediu para ir a uma cidade chamada Bor. A guerra civil tinha iniciado cinco semanas antes e era muito feroz. Quando chegamos a Bor, no aeroporto havia os primeiros corpos no portão, havia na época cinco mil cadáveres não enterrados em Bor, havia as Nações Unidas, fomos para a Catedral onde todos os padres tinham sido assassinados e as mulheres violentadas e mortas.  Era uma situação horrível. Voltando para casa, seja eu, seja minha mulher, sentimos uma chamada profunda para ver o que poderia ser feito para ajudar as pessoas do Sudão do Sul e, desde então, em um dos encontros regulares que tenho o privilégio de realizar com o Papa Francisco, falamos muito do Sudão do Sul e desenvolvemos a ideia de um retiro no Vaticano. A minha equipe em Lambeth e o Vaticano trabalharam juntos, visitaram o Sudão do Sul em 2016, trabalharam in loco e com os líderes para tentar organizar esta visita. Minha mulher trabalhou com mulheres líderes de comunidades e esposas de bispos. Visitamos líderes em exílio em Uganda. Em 2018, ficou claro que havia a possibilidade para uma visita no início de 2019 e conseguimos, foi um milagre que tenha ocorrido. Um dos dois vice-presidentes estava em Cartum em prisão domiciliar. Recordo que 36 horas antes, num estacionamento de uma escola Nottingham, falei com o secretário-geral das Nações Unidas para que concedessem a ele o visto, coisa que fez brilhantemente, e conseguiu viajar pouco antes que fosse fechado o espaço aéreo para um golpe de Estado. O momento crucial do encontro de 2019 foi, obviamente, o inesquecível gesto do Papa que se ajoelhou e beijou os pés dos líderes para implorar a paz, e tentaram detê-lo. Foi um momento extremamente notável. Tivemos discussões duras, mas no final se empenharam em renovar o acordo de paz e penso que o gesto do Papa tenha sido o  momento-chave, a reviravolta. Mas como diz um treinador, você é bom até o próximo jogo. E a covid adiou o jogo sucessivo. Creio que o resultado tenha sido a perda do momento. Quando viemos para esta visita, as equipes continuavam trabalhando, mas com menos confiança que em 2019. Mas terminei esta visita com um profundo sentimento de encorajamento, não tanto porque houve uma guinada, mas porque houve o sentimento, como disse o Papa, de coração que fala a coração. Não foi em nível intelectual que se realizaram os contatos nos vários encontros, o coração falou ao coração. E há um ímpeto em nível médio e na base e aquilo de que precisamos agora é de uma séria mudança do coração da parte da liderança. Devem concordar um processo que leva a uma transição pacífica. Eles o disseram publicamente, é preciso de um compromisso contra a corrupção e o contrabando para deter o enorme acúmulo de armas. Para isso, será necessário um ulterior trabalho conjunto, com o Vaticano, e com a Troika, para que esta porta aberta, que não está aberta quanto gostaria, se escancare e progrida. Daqui dois anos, haverá eleições, precisamos de progressos sérios até o fim de 2023

GREENSHIELDS

A minha experiência foi muito diferente, esta foi a minha primeira vez no Sudão do Sul, mas o meu predecessor esteve lá, encontrando situações vulneráveis. A reconciliação foi o centro do encontro que tivemos em 2015. Como igreja presbiteriana, ajudamos refugiados sul-sudaneses. Nesta viagem, como disse, foi pronunciada a verdade do coração. A situação agora é clara, as ações falam mais do que as palavras. O governo nos convidou a entrar e nós nos comprometemos a fazer todo o possível para fazer a diferença nesta situação, encontrar os nossos parceiros, e agora pedimos a quem pode fazer a diferença que inicie urgentemente o processo.

Jean-Baptiste Malenge (RTCE-Radio Catolique Elikya ASBL)

Santo Padre, vocês desejaram há muito visitar a RDC… vieram a alegria. Qual importância teve o acordo assinado em 2016 entre a Santa Sé e a RDC sobre educação e saúde.

PAPA FRANCISCO

Não conheço aquele acordo, tem a Secretaria de Estado que pode dar uma opinião. Sei que nos últimos tempos se preparava um acordo. Não posso responder. Nem conheço a diferença do novo que está sendo preparado, essas coisas são feitas pela Secretaria de Estado, ou Gallagher e eles são bons em fazer acordos pelo bem de todos. Eu vi ali no Congo muita vontade de ir avante, tanta cultura. Antes de chegar aqui, tive alguns meses atrás um encontro via zoom com universitários africanos inteligentíssimos, vocês têm pessoas de uma inteligência superior, é uma de suas riquezas, jovens inteligentes e se deve dar lugar a eles, não fechar as portas. Ter tantas riquezas naturais que atraem as pessoas para explorar o Congo, desculpem-me a palavra. Esta é a ideia. A África deve ser explorada. Alguém diz, não sei se é verdade, que os países que mantinham colônias deram a independência do solo para cima, não para baixo, e vêm para explorar os minerais. Mas a ideia de que a África deve ser explorada deve acabar. E falando de exploração, me impressionou, provoca dor o problema do Leste. Pude realizar um encontro com vítimas daquela guerra, feridos, amputados, tanta dor, tudo para pegar as riquezas. Isso não pode, não pode. O Congo tem inúmeras possibilidades.

Coletiva de imprensa - voo papal | Vatican News

WELBY

Não conheço o Leste assim tão bem. Minha mulher trabalhou com mulheres em conflito, mas em 2018 fez muitas viagens, logo antes da  covid, e quero concordar com todo o coração com o que disse Sua Santidade: devemos ser claros, o Congo não é um parque de diversões das grandes potências, todo o lucro das pequenas companhias minerárias, que operam irresponsavelmente com minas artesanais, o uso de crianças-soldado, sequestros, estupros em larga escala, e estão simplesmente depredando o país, que deveria ser um dos mais ricos da face da terra, capaz de ajudar o restante da África. O país foi torturado, lhe foi dada a independência política tecnicamente, mas sem independência econômica. Durante o ebola, formamos os pastores para administrar o ebola, a Igreja fez um trabalho extraordinário, a Igreja católica faz um trabalho extraordinário, o projeto para os Grandes Lagos é maravilhoso, mas as grandes potências devem dizer: a África, em especial o Congo, têm tantos recursos que servem para o resto do mundo se o resto do mundo quiser fazer uma transição ecológica, e salvar o planta das mudanças climáticas, que o único modo para fazê-lo é não cobrir nossas mãos de sangue, buscar a paz do Congo e não a sua prosperidade.

https://youtu.be/DqCfeQFhGYM

GREENSHIELDS

Minha experiência nos países em via de desenvolvimento é que, para promover o desenvolvimento, devem ser reconhecidos os direitos das mulheres e, em particular, das mulheres jovens.

Jean-Luc Mootosamy (CAPAV)

Temos visto como a violência não cessa apesar de décadas de presença de missões da ONU. Como podem os senhores, juntos, ajudar a promover um novo modelo de intervenção, dada a crescente tentação de muitas nações africanas de escolher outros parceiros para garantir sua segurança, parceiros que podem não respeitar as leis internacionais, como algumas empresas privadas russas ou outras organizações, na região do Sahel, por exemplo?

PAPA FRANCISCO

O tema da violência é um tema cotidiano. Acabamos de vê-lo no Sudão do Sul. É doloroso ver como a violência é provocada. Uma das questões é a venda de armas. O arcebispo Welby também disse algo a esse respeito. A venda de armas: eu acho que esta é a maior praga do mundo. O negócio... a venda de armas. Alguém que entende me disse que sem a venda de armas por um ano acabaria à fome mundial. Eu não sei se isso é verdade. Mas hoje no topo está a venda de armas. E não apenas entre as grandes potências. Também para estas pobres pessoas... eles semeiam a guerra dentro. É cruel. Eles lhes dizem: "Vão para a guerra!" e lhes dão armas. Porque por detrás há interesses econômicos para explorar a terra, os minerais, a riqueza. É verdade que o tribalismo na África não ajuda. Agora eu não sei realmente como é no Sudão do Sul. Acho que ali também seja assim. Mas é preciso que haja diálogo entre as diferentes tribos. Lembro-me de quando estive no Quênia, no estádio completo. Todos se levantaram e disseram não ao tribalismo, não ao tribalismo. Cada um tem sua própria história, existem inimizades antigas, culturas diferentes. Mas também é verdade que se provoca a luta entre as tribos vendendo armas e depois se explora a guerra de ambas as tribos. Isto é diabólico. Não consigo pensar em outra palavra. Isto é destruir: destruir a criação, destruir a pessoa, destruir a sociedade. Não sei se isso também ocorre no Sudão do Sul, mas em alguns países isso ocorre: os adolescentes são recrutados para fazer parte da milícia e combater com outros adolescentes. Em resumo, acho que o maior problema é a ânsia de pegar a riqueza daquele país - coltan, lítio... essas coisas - e através da guerra, para a qual eles vendem armas, eles também exploram as crianças.

Coletiva de imprensa - voo papal | Vatican News

GREENSHIELDS

Um dos problemas que emergem é o alto nível de analfabetismo: as pessoas não têm uma compreensão clara de quem são, onde estão, de fazer escolhas informadas. Devemos certamente colocar isso em discussão, superar a divisão com o diálogo. Quero lhes contar uma pequena história sobre a Escócia: meu país esteve religiosa e profundamente dividido, ocorreram violências terríveis, divisões terríveis, então começou um processo de diálogo entre nós - Igreja da Escócia e católicos - que no ano passado levou à assinatura de uma declaração de amizade, com a qual gostaríamos de caminhar juntos nas nossas diferenças, mas também concordando com o que concordamos, e só então neste momento se pode derrubar os muros. A educação, sob este ponto de vista, ajuda.

WELBY

O senhor disse as Nações Unidas ou outra coisa, mas não é "ou", é "e": o que a Igreja contribui não é apenas fornecer redes que não sejam corruptas, por isso a ajuda chega aos países, e ajuda a cruzar as linhas que dividem duas partes em conflito. No sábado, o arcebispo celebrou o funeral de 20 pessoas, e isso fez uma grande diferença. É a mudança de coração, e esse foi o objetivo desta visita. Cem anos atrás os Nuer e Dinka estavam sempre em guerra, era uma cultura de vingança, os Nuer em particular estavam sempre entre eles. A diferença não a fez o governo, mas as Igrejas que afetaram a mudança de coração quando as pessoas receberam a fé em Cristo e perceberam que há outra maneira de viver. Após esta visita não há apenas muito ativismo, mas também que o Espírito de Deus traga um novo espírito de reconciliação e cura para o povo do Sudão do Sul.

Claudio Lavanga (NBC NEWS)

Gostaria de perguntar ao senhor, Santo Padre, já que o arcebispo Welby recordou aquele momento incrível em 2019, quando o senhor se ajoelhou diante dos líderes do Sudão do Sul para pedir a paz, infelizmente dentro de quinze dias será o primeiro aniversário de outro terrível conflito, o da Ucrânia, e minha pergunta é: O senhor estaria preparado para fazer o mesmo gesto para com Vladimir Putin se tivesse a oportunidade de conhecê-lo, já que seus apelos pela paz até agora não foram ouvidos? E gostaria de perguntar a vocês três se gostariam de fazer um apelo conjunto pela paz na Ucrânia, pois este é um momento raro, o encontro de vocês três?

PAPA FRANCISCO

Estou aberto para me encontrar com ambos os presidentes, o presidente da Ucrânia e o presidente da Rússia, estou aberto para o encontro. Se eu não fui a Kiev é porque não era possível naquela época ir a Moscou, mas eu estava em diálogo, de fato no segundo dia da guerra fui à embaixada russa para dizer que queria ir a Moscou para falar com Putin, desde que houvesse uma pequena abertura para negociar. Então o ministro Lavrov respondeu que valorizava isto, mas "vamos ver mais tarde". Esse gesto foi algo que eu pensei, que "estou fazendo por ele" (por Putin, ndr). Mas o gesto do encontro de 2019 não sei como aconteceu, não foi pensado, e coisas que não foram pensadas não se podem repetir, é o Espírito que o leva lá, não se pode explicar, ponto final. E eu me esqueci disso. Foi um serviço, fui instrumento de algum impulso interior, não uma coisa planejada. Hoje estamos neste ponto, mas não é a única guerra, eu gostaria de fazer justiça: há doze ou treze anos a Síria está em guerra, há mais de dez anos o Iêmen está em guerra; pense em Mianmar, no pobre povo Rohingya que viaja pelo mundo porque foi expulso de sua pátria. Em toda parte, na América Latina, quantos focos de guerra existem! Sim, há guerras mais importantes por causa do barulho que fazem, mas, não sei, o mundo inteiro está em guerra, e em autodestruição. Temos que pensar seriamente: está em autodestruição. Temos que parar em tempo, porque uma bomba leva a outra maior e a outra maior ainda e nessa escalada não se sabe onde vai parar. É preciso ter a cabeça fria. Também tanto Sua Graça como o Bispo Greenshields falaram das mulheres, mas as mulheres, eu as vi no Sudão do Sul: elas criam seus seus filhos, às vezes ficam sozinhas, mas têm força para criar um país, as mulheres são fortes. Os homens vão à luta, vão à guerra, e estas senhoras com duas, três, quatro, cinco crianças vão em frente, eu as vi no Sudão do Sul. E por falar em mulheres, gostaria de dizer uma palavra às religiosas, as irmãs que entram na vida do povo, vi algumas delas aqui no Sudão do Sul, e hoje na missa ouvimos o nome de tantas religiosas que foram mortas.... Voltemos à força da mulher, devemos levá-la a sério e não usá-la como um anúncio de maquiagem: por favor, isto é um insulto à mulher, a mulher é para coisas maiores! Sobre o outro ponto eu já lhes disse, vejamos as guerras que estão no mundo.

WELBY

Em relação à Rússia, Putin e Ucrânia, onde eu estava no final de novembro e início de dezembro, eu realmente não tenho nada a acrescentar, exceto que esta guerra está nas mãos do Sr. Putin, ele poderia detê-la com a retirada e o cessar-fogo e, em seguida, negociações sobre acordos de longo prazo. É uma guerra terrível e terrificante, mas quero dizer que concordo com o Papa Francisco, há muitas outras guerras, falo todas as semanas com o chefe da nossa Igreja em Mianmar, falei com os líderes da nossa Igreja na Nigéria, onde 40 pessoas foram mortas ontem, falei com muitos em todas as partes do mundo. Concordo plenamente com o Santo Padre, a guerra leva ao envolvimento de mulheres e jovens, pelas razões que ele disse.

Bruce De Galzain (Radio France)

Santo Padre, antes de partir em sua jornada apostólica o senhor denunciou a criminalização da homossexualidade. No Sudão do Sul e no Congo ela não é aceita pelas famílias. Esta semana encontrei-me em Kinshasa com cinco homossexuais, cada um deles rejeitado e até expulso de suas famílias - eles me explicaram que sua rejeição vem da educação religiosa de seus pais - alguns deles são levados a padres exorcistas porque suas famílias acreditam que estão possuídos por espíritos impuros. Minha pergunta, Santo Padre: o que o senhor diz às famílias do Congo e do Sudão do Sul que ainda rejeitam seus filhos, e o que o senhor diz aos padres, aos bispos?

PAPA FRANCISCO

Falei sobre este assunto em duas viagens, a primeira vez (retorno, ndr.) do Brasil: se uma pessoa com tendências homossexuais é um crente, procura Deus, quem sou eu para julgá-lo? Isto eu disse naquela viagem. Na segunda vez, voltando da Irlanda, foi uma viagem um pouco problemática porque naquele dia tinha sido publicada a carta daquele menino ... mas ali eu disse claramente aos pais: as crianças com esta orientação têm o direito de ficar em casa, não se pode expulsá-las de casa. E depois, recentemente, falei também alguma coisa, não me lembro bem o que, na entrevista à Associated Press. A criminalização da homossexualidade é um problema que não deve ser permitido passar. O cálculo é que, mais ou menos, cinquenta países, de uma forma ou de outra, levam a esta criminalização - eles me dizem mais, mas digamos que pelo menos cinquenta - e até mesmo alguns destes - eu acho que são dez, têm a pena de morte (para os homossexuais, ndr.) - isto não está certo, pessoas com tendências homossexuais são filhos de Deus, Deus os ama, Deus os acompanha. É verdade que alguns estão neste estado devido a várias situações indesejáveis, mas condenar tal pessoa é um pecado, criminalizar pessoas com tendências homossexuais é uma injustiça. Não estou falando de grupos, mas de pessoas. Alguns dizem: eles fazem grupos que fazem barulho, estou falando das pessoas, lobbies são outra coisa, estou falando das pessoas. E eu acho que o Catecismo da Igreja Católica diz: eles não devem ser marginalizados. Acho que a questão sobre este ponto seja clara.

WELBY

Vocês devem ter visto que recentemente falamos sobre esse assunto na Igreja da Inglaterra... incluindo uma boa dose de debate no Parlamento. Quero dizer que gostaria de ter falado com a elegância e clareza que o Papa fez. Concordo inteiramente com cada palavra que ele disse e, no que diz respeito à criminalização, a Igreja da Inglaterra, a Comunhão Anglicana aprovou duas resoluções contra a criminalização, mas isso não mudou realmente a mentalidade de muitas pessoas. Nos próximos quatro dias no Sínodo Geral será o principal tema de discussão e certamente citarei o que o Santo Padre disse de forma maravilhosa e precisa.

GREENSHIELDS

Digo apenas que na minha leitura dos quatro Evangelhos onde vejo Jesus expulsando (?) alguém, nos quatro Evangelhos não encontro nada além de Jesus expressando amor por todos os seres humanos, e isto é o que, como cristãos, podemos dar a cada ser humano em todas as circunstâncias.

Alexander Hecht (ORF TV)

Uma pergunta ao Papa: nos últimos dias falou-se muito de unidade, houve também uma demonstração da unidade da Cristandade, no Sudão do Sul, também de unidade da própria Igreja Católica. Gostaria de perguntar-lhe se o senhor sente que depois da morte de Bento XVI ficou mais difícil o seu trabalho e a sua missão, por que se reforçaram as tensões entre as diferentes alas da Igreja Católica?

PAPA FRANCISCO

Sobre este ponto, gostaria de dizer, que pude falar de tudo com o Papa Bento XVI. (Também por, ndr.) mudar minha opinião. Ele estava sempre ao meu lado, me apoiando e se tivesse alguma dificuldade, ele me dizia e nós conversávamos. Não havia problemas. Uma vez falei sobre o matrimônio das pessoas homossexuais, sobre o fato de que o matrimônio é um sacramento e que nós não podemos fazer um sacramento, mas que existe a possibilidade de garantir os bens através da lei civil, que começou na França... qualquer pessoa pode fazer uma união civil, não necessariamente de casal. Senhoras idosas que estão aposentadas, por exemplo... porque se pode ganhar muitas coisas. Uma pessoa que se acha um grande teólogo, através de um amigo do Papa Bento XVI, foi até ele e fez a queixa contra mim. Bento não se assustou, ele chamou quatro cardeais teólogos de primeiro nível e disse: expliquem-me isso e eles explicaram. E foi assim que a história terminou. É uma anedota para ver como Bento se movia quando havia uma denúncia.

Algumas histórias que contam, que Bento XVI estava amargurado sobre o que o novo Papa fez, são histórias de 'telefone sem fio' (o Papa usa a expressão 'histórias chinesas' para significar isto, ndr). Bento, melhor, eu o consultei sobre algumas decisões a serem tomadas. E ele estava de acordo. Ele estava de acordo. Acredito que a morte de Bento tenha sido instrumentalizada por pessoas que querem levar água para seu próprio moinho. E aqueles que instrumentalizam uma pessoa tão boa, tão de Deus, quase diria um santo padre da Igreja, diria que são pessoas sem ética, que são pessoas de partido, não de Igreja... pode-se ver em toda parte, a tendência de transformar posições teológicas em partidos. Estas coisas cairão sozinhas, ou se não caírem, seguirão em frente, como aconteceu tantas vezes na história da Igreja. Eu queria dizer claramente quem era o Papa Bento XVI, ele não era uma pessoa amargurada.

Jorge Barcia Antelo (RNE)

Bom dia Santidade. Voltamos hoje de dois países que são vítimas do que o senhor chamou de globalização da indiferença. O senhor tem falado disso desde o início de seu pontificado e desde sua viagem a Lampedusa. De certa forma, esta semana chegou ao fim do círculo. O senhor ainda pensa em ampliar o raio deste círculo, e ir além, de visitar outros países esquecidos? A quais lugares o senhor tem em mente de ir? E depois desta viagem que foi tão longa, tão exigente, como o senhor está? Sente-se ainda forte? Sente ter uma condição de saúde suficiente para ir a todos esses lugares?

PAPA FRANCISCO

Há a globalização da indiferença em todos os lugares. Dentro do país, muitas pessoas se esqueceram de olhar para seus compatriotas, seus concidadãos, e os colocaram no ângulo para não pensar sobre isso. Pensar que as maiores fortunas do mundo estão nas mãos de uma minoria. E essas pessoas não olham para as misérias, seus corações não se abrem para ajudar.  Sobre as viagens: acho que a Índia será no próximo ano. Vou a Marselha no dia 23 de setembro, e há a possibilidade que de Marselha voe para a Mongólia, mas ainda não foi definido, é possível. Outra este ano, não me lembro. Lisboa. O critério: eu escolhi visitar os países pequenos da Europa.

Dirão: "mas ele foi a França", não, eu fui a Estrasburgo; eu irei a Marselha, não a França. Os pequenos, os pequenos. Para conhecer um pouco a Europa escondida, a Europa que tem tanta cultura, mas que não é conhecida. Para acompanhar países, por exemplo a Albânia, que foi o primeiro, que foi o país que sofreu a ditadura mais cruel, mais cruel da história. Então minha escolha é a seguinte: tentar não cair na globalização da indiferença. (Sobre a saúde, ndr): Você sabe que erva ruim nunca morre. Não como no início do pontificado, este joelho incomoda, mas está indo lentamente, então veremos. Obrigado.

Para os outros dois: os senhores se unirão para outra viagem com o Papa?

WELBY

Certamente esta é a melhor companhia aérea com a qual já viajei! Brincadeira à parte, eu ficaria feliz, se o Santo Padre sentisse que no futuro poderíamos acrescentar valor, é sempre um enorme privilégio estar com ele, que fosse uma ajuda para ele.

GREENSHIELDS

Eu ficaria feliz, a única limitação é que meu mandato expira no dia 20 de maio e serei sucedido por uma mulher, muito capaz, e tenho certeza de que ela ficaria feliz em fazer o mesmo.

(transcrição de trabalho)

Santa Ágata, mártir: protetora contra as doenças mamárias

Santa Ágata | gaudiumpress
Os católicos comemoram no dia de hoje, 5 de fevereiro, a memória de Santa Ágata, cuja intercessão a Igreja determinou que fosse invocada diariamente na Santa Missa.

Redação (05/02/2021 09:00, Gaudium Press) Santa Ágata ou Santa Águeda é uma das mais gloriosas heroínas da Igreja primitiva. A Igreja determinou que sua intercessão fosse invocada diariamente na Santa Missa. Nascida na Sicília, pertenceu a uma das famílias mais nobres do país. Ainda muito jovem, Ágata consagrou-se à Deus, pelo voto da castidade.

Santa Ágata perseguida por ser cristã

O governador Quintiano, tendo tido notícia da formosura e grande riqueza de Ágata, acusada do crime de pertencer à religião cristã, mandou-lhe ordem de prisão. A Santa, vendo-se nas mãos dos perseguidores, exclamou: “Jesus Cristo, Senhor de todas as coisas, vós vedes o meu coração e lhe conheceis o desejo. Tomai posse de mim e de tudo que me pertence. Sois o Pastor, meu Deus; sou vossa ovelha. Fazei que seja digna de vencer o demônio”.

Estando diante do governador, este comprovou sua extraordinária beleza e ficou tomado de uma violenta paixão e fez-lhe propostas indecorosas. Ágata, indignada, rejeitou as impertinências desavergonhadas e declarou ali mesmo preferir morrer a macular o nome de cristã.

Um plano diabólico contra Santa Ágata

Quintiano, falsamente, deu mostras de ter desistido de seus maus desejos para conseguir coisas piores ainda. Ele mandou entregar a donzela a uma tal Afrodisia, mulher de péssima fama, para que, na convivência com esta má pessoa, Ágata cedesse. Nisso ele errou totalmente, pois não conhecia as virtudes de Ágata: Afrodisia nada conseguiu e depois de um trabalho inútil de trinta dias, pediu a Quintino que tirasse Ágata de sua casa.

Santa Ágata | gaudiumpress

Começa o martírio de Santa Ágata

Aí começou, então, o martírio da nobre siciliana. Tendo-a citado perante o tribunal, o Governador apostrofou-a com estas palavras: “Não te envergonhas de rebaixar-te à escravidão do cristianismo, quando pertences a nobre família?”

Ágata respondeu-lhe: “A servidão de Cristo é liberdade e está acima de todas as riquezas dos reis”. A resposta a esta declaração foram bofetadas, tão barbaramente aplicadas, que lhe causaram hemorragias no rosto. Depois desta e de outras brutalidades a Virgem foi metida no cárcere e ameaçada de poder passar por torturas maiores, se não resolvesse abandonar a religião de Jesus Cristo.

O tirano governador cumpriu suas promessas ordenando que a donzela fosse esticada sobre uma mesa e seus membros fossem desconjuntados, todo o corpo de Ágata fosse queimado com chapas de cobre em brasa, os seios fossem amassados com torqueses e, depois, cortados. Referindo-se a esta última brutalidade, Ágata disse ao juiz: “Não te envergonhas de mutilar na mulher, o que tua mãe te deu para te aleitar?”

Santa Ágata levada novamente ao Cárcere: o milagre da cura

Após esta tortura, Ágata foi levada novamente ao cárcere, entregue às suas dores, sem que lhe fosse administrado o mínimo tratamento. Deus, porém, que confunde os planos dos homens, veio em auxílio de sua pobre serva. Durante a noite lhe apareceu um venerável ancião, que se dizia mandado por Jesus Cristo, para trazer-lhe alívio e curá-la.

O ancião, que era o Apóstolo São Pedro, elogiou-lhe a firmeza e animou-a a continuar firme no caminho da vitória. A visão desapareceu e Ágata com muita admiração viu-se completamente restabelecida, inclusive com seus seios curados.

Cheia de gratidão, entoou cânticos, louvando a misericórdia e bondade de Deus. Os guardas, ouvindo-a cantar, abriram a porta do cárcere e vendo a Mártir completamente curada, fugiram cheios de pavor.

As companheiras de prisão de Ágata aconselharam-na que fugisse, aproveitando ocasião tão propícia para isto. Ela, porém, disse: “Deus me livre de abandonar a arena antes de ter segura em minha mão a palma da vitória”.

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Santa Ágata diante do juiz mais uma vez

Quatro dias se passaram e ela foi novamente apresentada ao juiz. O espanto dele foi grande, misto de pavor e admiração, vendo-a completamente restabelecida.

Ágata disse-lhe: “Vê e reconhece a onipotência de Deus, a quem adoro. Foi ele quem me curou as feridas e me restituiu os seios. Como podes, pois exigir de mim que o abandone? Não, não poderá haver tortura, por mais cruel que seja, que me faça separar-me do meu Deus”.

Mais tormentos… e os castigos de Deus

O juiz não mais se conteve. Deu ordem para que Ágata, fosse rolada sobre cacos de vidros e brasas. No mesmo momento a cidade foi abalada por um forte tremor de terra. Uma parede, bem perto de Quintiano, desabou e sepultou dois seus amigos.

O povo, diante disto, não mais se conteve e em altas vozes exigiu a libertação da Mártir, dizendo: “Eis o castigo que veio, por causa do martírio da nobre donzela. Larga a tua inocente vítima, juiz perverso e sem coração!”.

Fé mais forte que os tormentos

Ágata voltou ao cárcere e lá chegada, de pé, com os braços abertos, orou a Deus nestes termos: “Senhor, que desde a infância me protegestes, extinguistes em mim o amor ao mundo e me destes a graça de sofrer o martírio, ouvi as preces da vossa serva fiel e aceitai a minha alma”. Santa Ágata acreditava que a morte seria um final feliz para suas torturas.

Os carrascos tinham o cuidado para não deixá-la morrer e carregaram o seu corpo alquebrado de volta à cela, enquanto ela orava pela liberdade. Naquele exato momento um terremoto sacudiu a prisão e ela então veio a falecer. Deus ouviu a voz de sua filha e recebeu-a em sua glória no ano 252.

Santa Ágata faz cessar a erupção do Vulcão Etna

Um ano depois da morte de Santa Ágata, a cidade de Catania assistiu apavorada, a erupção do Vulcão Etna. O povo, em sua indizível aflição, quando viu as ondas da lava incandescentes ameaçarem a cidade, correu ao túmulo da Santa, tomou o véu que cobria o seu rosto e estendeu-o contra a torrente de fogo. Imediatamente o perigo estava afastado.

Por conta deste fato, Santa Ágata é a padroeira de Catania, sendo invocada contra terremotos e erupções e incêndios. O seu túmulo está na Catania, Sicília e o seu véu está num santuário na Catedral de Florença.

Santa Ágata | gaudiumpress

Pães de Santa Ágata

Uma santa que resiste a tais torturas é muito reverenciada e o local de sua tumba é um local sagrado para os cristãos. Surgiram pinturas de Santa Ágata carregando seus seios cortados em um prato, foram confundidos com pães e isto levou a prática dos “pães de Santa Ágata”, que são distribuídos no dia da santa para combater uma grande variedade de doenças e infortúnios.

Na arte litúrgica da Igreja ela é mostrada como uma mártir com uma palma e os dois seios em um prato ou às vezes com os seios em duas pinças ou coroada com palmas. Ela está representada no mosaico de Santo Apolinário Nuevo, em Ravenna, Itália e em outro mosaico, mostrando seu martírio por Sebastião del Piombo, no Palácio del Pitti em Florença, Itália

As Relíquias de Santa Ágata

As relíquias de Santa Ágata foram levadas à Constantinopla em 1040 por um general bizantino. Em 1126, dois soldados (talvez franceses), Giliberto e Goselino, furtaram os restos mortais de Ágata, que foram entregues ao Bispo Maurício no Castelo de Aci. Em 17 de agosto de 1126, as “relíquias” voltaram à Catedral de Catânia, onde até hoje permanecem em nove relicários. (EPC)

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF