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sábado, 29 de abril de 2023

A “Mensagem da CNBB ao povo brasileiro”

Celebração no Santuário Nacional (Vatican News)

Esses dias na casa da Mãe Aparecida foram uma oportunidade para experimentarmos a comunhão a partir da riqueza de nossas diversidades.

CNBB - Aparecida

A “Mensagem da CNBB ao povo brasileiro” elaborada e aprovada pela quase totalidade dos 326 bispos ativos e parte dos 157 bispos eméritos brasileiros presentes na 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) foi apresentada pelo arcebispo de São Paulo, cardeal Odilo Pedro Scherer, durante a Coletiva de Imprensa desta sexta-feira, 27 de abril, no Centro de Eventos Pe. Vítor Coelho de Almeida.

A íntegra abaixo:

Aparecida - SP, 28 de abril de 2023

MENSAGEM DA CNBB AO POVO BRASILEIRO

“Ele é a nossa paz: de dois povos fez um só, em sua carne derrubando o muro da inimizade que os separava” (Ef. 2,14) Animados pelo amor do Pai, pela luz do Senhor ressuscitado e com a força do Espírito Santo, nós, bispos católicos, nos reunimos em Aparecida para a 60ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB. Fizemos isso como pastores em comunhão com os presbíteros, diáconos, religiosos e religiosas, consagrados e consagradas, cristãos leigos e leigas. Sentimo-nos acompanhados pela oração de nosso povo, representado visivelmente pela multidão de peregrinos de todo o Brasil, que rezaram conosco nas celebrações eucarísticas. Maria, Mãe de Jesus, a Senhora Aparecida, esteve perto de nós, acolhendo-nos, cuidando de nossos trabalhos e intercedendo por nós.

Esses dias na casa da Mãe Aparecida foram uma oportunidade para experimentarmos a comunhão a partir da riqueza de nossas diversidades. Quem nos une é Cristo e, por ele, esperançosos e comprometidos, renovamos nossa opção radical e incondicional com a defesa integral da vida que se manifesta em cada ser humano e em toda a criação.

A renovação desse compromisso com a vida dá-se num tempo marcado por grandes desafios que, longe de nos desanimarem, estimulam a Igreja na promoção do Reino de Deus. Nossas comunidades estão respondendo, com solidariedade fraterna, às consequências das tragédias socioambientais; com compromisso cidadão na defesa da democracia e, com responsabilidade social, ao drama da fome que nos assola. Com alegria, reconhecemos que esse é o autêntico e eficaz testemunho de que o mundo necessita, à luz da Palavra de Deus, pois não temos ouro nem prata, mas trazemos o que de mais precioso nos foi dado: Jesus Cristo ressuscitado (cf. At. 3,6).

Essa alegria é consequente e, por isso, nos faz enxergar também os sofrimentos presentes na sociedade. Nossa atenção se volta especialmente para o que estamos vivendo: “uma terceira guerra mundial em pedaços” (Papa Francisco, em 13 de setembro de 2014, ao lembrar o início da Primeira Guerra Mundial,), evidenciada no solo ucraniano, mas também em outras regiões do planeta. Além do flagelo das guerras, muitas outras situações nos preocupam, como os autoritarismos, as polarizações, as desinformações, as desigualdades estruturais, o racismo, os preconceitos, a corrupção, a banalização do mal e das vidas, as doenças, a drogadição, o tráfico de drogas e pessoas, o analfabetismo, as migrações forçadas, as juventudes com poucas oportunidades, as violências em todas as suas dimensões, o feminicídio, a precarização do trabalho e da renda, as agressões desmedidas à “casa comum”, aos povos originários e comunidades tradicionais, a mineração predatória, entre tantas outras, que fragilizam o tecido social e tencionam as relações humanas.

Certa cultura da insensibilidade nos conduz a essas situações extremas. A degradação da criação e o descaso com os mais pobres e abandonados estão presentes, por exemplo, na criminosa tragédia ocorrida com o povo Yanomami. O mesmo ocorre com muitos dos povos das florestas, das águas e do campo, submetidos a graves e duras realidades que os expõem à globalização da indiferença.

Reconhecemos a importância da resistência histórica do movimento indígena, cujo fruto se traduz na chegada de suas lideranças a diversos postos de decisão no governo federal e em alguns governos estaduais. Contudo, essa presença não pode ser apenas figurativa. Há uma imensa necessidade de se adotarem providências e ações concretas em defesa desses povos. Não podemos mais aceitar em nossa história o descaso com os povos originários. Acreditamos que o julgamento da tese do marco temporal pelo Supremo Tribunal Federal, no próximo mês de junho, seja decisivo para que suas terras sejam reconhecidas como legítimas e legais. Temos esperança que essa definição venha a ser um passo importante para a garantia dos direitos constitucionais.

Esses problemas têm origem na opção por um modelo econômico cruel, injusto e desigual. Por trás da palavra “mercado” existe um sistema financeiro e econômico autônomo, que protagoniza ações inescrupulosas, destrói a vida, precariza as políticas públicas, em especial a educação e a saúde, adota juros abusivos que ampliam o abismo social, afeta a cadeia produtiva e reduz o consumo dos bens necessários à maioria do povo brasileiro.

Às vésperas do dia 1º de maio, saudamos os trabalhadores e as trabalhadoras de nosso País, com as palavras do Papa Francisco: “O mundo do trabalho é prioridade humana, é prioridade cristã, a partir de Jesus trabalhador. Onde há um trabalhador, ali há o olhar do amor do Senhor e da Igreja. Lugares de trabalho são lugares do povo de Deus” (Encontro com Trabalhadores em Gênova, Itália, 2017). Diante das mudanças do mundo do trabalho, percebemos que promessas de crescimento econômico, geração de empregos, melhores condições de trabalho, aumento de renda, redução da carga horária, mais tempo de descanso e convivência social, enfim, condições mais saudáveis de vida, continuam sendo desafios sem soluções. A crescente informalidade das relações trabalhistas reduz a segurança social e impede o acesso ao mínimo para a sobrevivência. O trabalho análogo à escravidão, presente em todo o território nacional, é uma chaga social que precisa ser energicamente combatida pelos poderes constituídos e por toda a sociedade.

As constatações desses tempos difíceis não podem nos limitar, nem servir para que as soluções sejam adiadas. As estruturas do Estado, os poderes da República, as autoridades públicas, as lideranças sociais, as organizações religiosas, os meios de comunicação, as plataformas e as redes sociais, cada um e cada uma, com sua competência, devem apoiar-se reciprocamente para o bem do País. Precisamos criar um “espaço de corresponsabilidade capaz de iniciar e gerar novos processos e transformações. Sejamos parte ativa na reabilitação e apoio das sociedades feridas” (Fratelli Tutti, 77). Assumindo nosso dever social, não podemos deixar de cobrar dos governos, legitimamente eleitos, o protagonismo que lhes foi confiado, uma opção clara e radical pela vida, desde a concepção até à morte natural, passando inevitavelmente pelos direitos sociais e humanos. Chamamos a atenção para a importância da vacinação, especialmente para das crianças. No cuidado com a vida, nenhuma seletividade pode ser tolerada e será sempre, por nós, denunciada.

Conclamamos toda a sociedade brasileira a construir um amplo projeto de reconciliação e pacificação, a partir de um diálogo franco e aberto, que possibilite superar o que nos afasta, com o objetivo de assegurar o que nos une: o país, o seu povo e a criação. O ponto de partida dessa construção se dá nas famílias, comunidades, relações sociais, profissionais, eclesiais e políticas, através da amizade social que promove a cultura do encontro. Como comunidade de fé, cremos que sua concretização passa necessariamente pelas nossas orações. Rezemos, pois, como nos pede o Papa Francisco, pelo fim das guerras, dos conflitos e das violências. Somos “caminhantes da mesma carne humana, como filhos desta mesma terra que nos alberga a todos, cada qual com a riqueza da sua fé ou das suas convicções, cada qual com a própria voz” (Fratelli Tutti, 8).

Reafirmamos nossa profunda confiança no povo brasileiro. Não tenhamos medo. A esperança é a nossa coragem! Sejamos semeadores de mudança, de solidariedade e de vida. Pelo amor do Cristo vivo e ressuscitado, por intercessão de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, invocamos a bênção de Deus sobre o povo brasileiro, suas famílias e comunidades.

Dom Walmor Oliveira de Azevedo Arcebispo de Belo Horizonte - MG Presidente da CNBB

Dom Jaime Spengler Arcebispo de Porto Alegre - RS - 1º Vice-Presidente

Dom Mário Antônio da Silva Arcebispo de Cuiabá - MT - 2º Vice-Presidente

Dom Joel Portella Amado Bispo auxiliar do Rio de Janeiro - RJ Secretário-Geral

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Oração a Santa Catarina de Sena, irmã leiga exemplo de amor e misericórdia

Santa Catarina de Sena | Aleteia

Obedecendo ao chamado de seu coração, essa notável religiosa italiana que viveu no século XIV serviu a Deus de forma extraordinária, inspirando centenas de pagãos a se converterem.

Quando jovem, Catarina teve uma visão de Jesus sentado em glória com São Pedro, Paulo e João ao seu lado, então ela decidiu fazer um voto particular. Então, ela resolveu obedecer ao chamado de seu coração e deu início a uma jornada extraordinária, que levou centenas de pagãos a se converterem ao catolicismo.

A notável Catarina nasceu em Sena, Itália, em 1347, em meio a Peste Negra que dizimou quase 1/3 da população europeia. Na época, sua mãe, Lapa Piacenti, tinha aproximadamente quarenta anos quando deu à luz as gêmeas Catarina (Caterina) e Joana (Giovanna), depois de já ter tido outros 22 filhos, mas metade deles já mortos na época.

Todavia, numa família extremamente humilde, Catarina não teve condições de estudar mas, aos 6 anos teve uma visão, o que revelou dons místicos que lhe levariam a santidade. Em seguida, ela passou a se dedicar a oração, silêncio e obras de mortificação e penitência, com o intuito de mitigar os males do mundo.

Contudo, aos 15 anos, ela decidiu ingressar na Ordem Terceira de São Domingos, ou, dominicana. Ao passo que seguia obstinada em se dedicar à vida religiosa, ela sentia que tinha como grande missão orientar o povo e, como não sabia escrever, passou a ditar cartas para as pessoas. Então, em suas correspondências, ela orientava em relação a atitudes conduzindo para a misericórdia e convocando a todos para o exercício da caridade, para o esforço pelo entendimento e pela paz.

Uma correspondência extraordinária

Dessa forma Santa Catarina de Siena conseguiu algo inacreditável que impactou profundamente a história da Igreja. Por meio de uma carta ditada, ela pediu ao Papa Gregório XI o fim do terrível “grande cisma do Ocidente”, que já durava 70 anos. A profundidade de suas palavras foi tamanha que ela exortou o Sumo Pontífice a deixar o exílio em Avignon, na França. Depois que voltou à Roma, o Papa finalmente devolveu a unidade – e paz – ao povo católico.

A vida de Santa Catarina foi curta, porém intensa. Por fim, com apenas 33 anos ela foi vítima de um derrame, provavelmente uma consequência de sua saúde deteriorada por tanto esforços físicos, mentais e espirituais em favor da Igreja.

Bem como a inesquecível correspondência destinada ao Papa Gregório XI, Catarina deixou uma série de obras de imensurável valor histórico, espiritual, religioso e místico, herança que levou o Papa Paulo VI a proclamá-la como “doutora da Igreja” em 1970.

Um de seus livros mais famosos é “Diálogo da Providência Divina”, que está entra as citações feitas pelo Papa Bento XVI na linda catequese que realizou em 24 de novembro de 2010:

“Por misericórdia Vós lavastes-nos no Sangue e por misericórdia desejastes dialogar com as criaturas. Ó Louco de amor! Não vos foi suficiente encarnar, mas também quisestes morrer! (…) Ó misericórdia! O meu coração ofega-me quando penso em Vós: para onde eu me dirija a pensar, mais não encontro do que misericórdia”.

Oração a Santa Catarina de Sena

“Ó notável maravilha da Igreja, serva virgem, que por causa de suas extraordinárias virtudes

e pelo que conseguistes para a Igreja

e a Sociedade fostes aclamada e abençoada por todos.

Volte teu bondoso olhar para mim,

que confiante na tua poderosa proteção pede com todo o ardor da afeição

e suplica a ti que obtenha pelas tuas preces

o favor que ardentemente desejo (dizer aqui a graça desejada).

Com tua imensa caridade recebestes de Deus os mais estupendos milagres

e tornou-se a alegria e a esperança de todos nós que oramos a ti

e rogamos ao teu coração tu recebestes do Divino Redentor.

Serva e virgem, demonstre de novo o seu poder e da sua caridade e o seu nome será novamente exaltado e abençoado

e consiga para nós, a graça suplicada com a eficácia de sua intercessão junto a Jesus e ainda a graça especial de que um dia estejamos juntos no Paraíso

em eterna alegria e felicidade.

Amém.”

Oração retirada do site dominicanas.com.br

Fonte: https://pt.aleteia.org/

sexta-feira, 28 de abril de 2023

Oito dados sobre a vida de santa Gianna Beretta Molla

Santa Gianna Beretta Molla. Crédito: Vatican.va

28 de abril

REDAÇÃO CENTRAL, 28 Abr. 23 / 09:00 am (ACI).- "Jamais acreditei estar vivendo com uma santa. Minha esposa tinha infinita confiança na Providência e era uma mulher cheia de alegria de viver", disse Pietro, esposo de Gianna Beretta Molla, em uma ocasião.

Por ocasião da celebração desta mãe coragem italiana, que se celebra hoje (28), fornecemos oito dados inspiradores que talvez não conhecia sobre a sua vida.

1. Foi "médica dos pobres"

Santa Gianna Beretta obteve o título de doutora em medicina e cirurgia, em 1949, na Universidade de Pavia, e em 1952, especializou-se em pediatria na Universidade de Milão.

Segundo indica sua biografia, ela “preferia os pobres entre seus pacientes”, assim como as mulheres grávidas, as crianças e os idosos.

“Não esqueçamos que no corpo de nossa paciente existe uma alma imortal. Sejamos honestos e médicos de fé”, costumava dizer santa Gianna.

2. Difundiu sua devoção por Nossa Senhora

Santa Gianna foi muito devota de Nossa Senhora. Quando sua mãe morreu, ela disse a Maria: "Confio em vós, doce mãe, e tenho certeza de que nunca me abandonareis".

Ela falava da Mãe de Deus para as jovens da Ação Católica e nas cartas dirigidas ao seu namorado Pietro, que mais tarde se tornou seu marido.

Em seu livro “Gianna Molla Beretta. Escritos, lembranças, testemunhos", Pietro indicou que, no dia de seu matrimônio, a santa "doou seu buquê de flores ao altar da Virgem da qual era muito devota".

3. É possível alcançar a santidade no matrimônio

Gianna conheceu o seu marido em uma Missa, em 1954. Ele era engenheiro e também pertencia à Ação Católica. A biografia da santa descreve que, durante o namoro, ela foi "muito clara em seus propósitos e em projetar sua nova família e, ao mesmo tempo, foi maravilhosa, transmitindo a Pietro sua grande alegria de viver".

Casaram-se em 24 de setembro de 1955. Gianna foi "uma esposa feliz" e "soube harmonizar, com simplicidade e equilíbrio, seus deveres como mãe e médica".

Pietro apoiou-a em sua decisão de não abortar seu bebê, como alguns médicos sugeriram, para salvar sua vida, e após a morte de Gianna, o marido nunca se casou novamente e cuidou dos quatro filhos.

4. Recusou-se a fazer um aborto "terapêutico"

No início de sua quarta gravidez, os médicos detectaram-lhe um tumor no útero e sugeriram que fizesse um aborto "terapêutico" para se salvar. Ela recusou e pediu ao cirurgião que protegesse o seu bebê a “todo custo”.

Foi operada e o bebê conseguiu se salvar. Antes do parto, Santa Gianna disse aos médicos: “se for necessário decidir entre a minha vida e a da criança, não duvidem; eu exijo que escolham a dele. Salvem-no”.

Segundo indica sua biografia, a santa considerava que seu bebê "tinha os mesmos direitos de viver" que seus outros três filhos e que ela "era apenas o instrumento da Providência para que aquela nova criaturinha viesse ao mundo".

5. Sua última filha nasceu no Sábado Santo

A biografia da santa destaca que, em 21 de abril de 1962, um Sábado Santo, ela deu à luz a sua quarta filha, Gianna Emmanuela, por cesariana.

Uma hora após o parto, Santo Gianna começou a sofrer dores abdominais e febre devido à peritonite séptica. Sua condição piorou nos dias seguintes. No meio dos sofrimentos, recebeu a Eucaristia e não parou de pronunciar jaculatórias de amor a Jesus.

Morreu em 28 de abril, aos 39 anos.

6. Uma carta de amor foi lida diante de milhares de famílias

Em 26 de setembro de 2015, durante o Encontro Mundial das Famílias (EMF), realizado na Filadélfia (Estados Unidos), Gianna Emanuela leu uma carta de amor que sua mãe escreveu ao seu pai quando ambos ainda namoravam.

Depois, a filha da santa cumprimentou o Papa Francisco e lhe presenteou com uma relíquia de sua mãe.

7. Teve três irmãos consagrados

Segundo sua biografia, santa Gianna foi a décima de treze filhos e três de seus irmãos optaram pela vida consagrada.

Seu irmão Enrico pertenceu à Ordem dos Frades Menores Capuchinhos e foi missionário no Brasil. Giuseppe, outro de seus irmãos foi sacerdote na diocese italiana de Bérgamo, e sua irmã Virginia foi religiosa na congregação das Filhas da Caridade Canossianas.

A irmã Virginia disse uma vez que, enquanto eu estava na Índia como missionária, “de forma inesperada e providencial, o Senhor me fez voltar para a Itália a tempo para ver Gianna, apenas quatro dias antes de sua morte. Assim, pude ajudá-la e confortá-la naqueles momentos tão dolorosos e preciosos aos olhos de Deus, e guardo uma lembrança viva destes momentos”.

8. Foi beatificada e canonizada por são João Paulo II

Gianna Beretta Molla foi beatificada por são João Paulo II em 24 de abril de 1994, durante o Ano Internacional da Família; e canonizada pelo mesmo Pontífice em 16 de maio de 2004.

Santa Gianna Beretta é considerada padroeira da defesa da vida.

Fonte: https://www.acidigital.com/

São Luís Maria Grignion de Montfort: o precursor dos apóstolos dos últimos tempos

São Luís Grignion de Montfirt (Guadium Press)
A Igreja Católica celebra no dia de hoje, 28 de abril, a memória de São Luís Maria Grignion de Montfort.

Redação (Sexta-feira, 28-04-2021, Gaudium Press) Puro como um Anjo, zeloso como um Apóstolo, sofredor como um penitente, foi ele o incansável missionário do amor a Jesus, por meio de Maria, na previsão de uma plêiade de almas abrasadas que viriam em tempos futuros. A Igreja comemora a festa deste Herói da Fé no dia 28 de abril.

Estamos falando de São Luís Maria Grignion de Montfort

Corria o ano de 1716. A missão em Saint-Laurent-sur-Sèvre – que seria a última! – começara em princípios de abril. Consumido pelo trabalho, o dedicado pregador foi São Luís Maria Grignion de Montfort acometido por uma pleurisia aguda, mas não cancelou o sermão prometido para a tarde da visita do Bispo de La Rochelle, Dom Étienne de Champflour, em 22 de abril, no qual falou sobre a doçura de Jesus. Contudo, teve de ser levado do púlpito quase agonizante…

São Luís Grignion de Montfirt (Guadium Press)

Passados alguns dias, pressentindo a morte que já previra para aquele ano, ele pediu que, quando o pusessem no ataúde, lhe fossem mantidas no pescoço, nos braços e nos pés as cadeias que usava como sinal de escravidão de amor à Santíssima Virgem. Em 27 de abril, o enfermo ditou seu testamento e legou sua obra missionária ao padre René Mulot.

A manhã seguinte parecia anunciar o momento derradeiro. Na mão direita segurava o Crucifixo indulgenciado pelo Papa Clemente XI e na esquerda, uma imagenzinha de Maria que sempre o acompanhara, os quais osculava e contemplava com enorme piedade. Pela tarde, o moribundo parecia travar sua luta extrema contra um inimigo invisível: “É em vão que tu me atacas. Eu estou entre Jesus e Maria. Deo gratias et Mariæ. Cheguei ao fim da minha carreira: pronto, não pecarei mais!”. Ao anoitecer, entregou sua alma a Deus, com apenas 43 anos de idade. Milhares de pessoas vieram venerar os restos mortais de seu apóstolo e Dom Champflour afirmou haver perdido “o melhor sacerdote da diocese”. Este era São Luís Maria Grignion de Montfort, um “padre que vivera com a pureza dum Anjo, trabalhara com o zelo dum Apóstolo e sofrera com o rigor dum penitente”.

Muito difundida é sua doutrina mariana. Sem embargo, menos conhecida é sua vida, tão fecunda apesar de curta, da qual poderemos contemplar alguns breves traços.

Escolhido desde a infância

Nasceu ele a 31 de janeiro de 1673, na cidade bretã de Montfort-La-Cane – hoje Montfort-sur-Meu -, no seio de uma numerosa família com 18 filhos. “O povo de Bretanha entrega-se por completo; é uma raça duma só peça”,4 e Luís herdou este vigor de espírito. Seus pais, Jean-Baptiste Grignion e Jeanne Robert, o levaram à pia batismal no dia seguinte de ter visto a luz, na Igreja paroquial de Saint-Jean.

 

São Luís Grignion de Montfirt (Guadium Press)

Quando ainda muito menino, a família se instalou na propriedade do Bois-Marquer, em Iffendic. A velha igreja desta cidade foi o cenário de suas primeiras orações e o berço de sua ardorosa devoção ao Santíssimo Sacramento. Ali fez a Primeira Comunhão e passava horas em recolhimento.

Seu espírito apostólico manifestava-se desde a infância, ao encorajar a mãe nas dificuldades domésticas ou na atenção a seus irmãos, em especial à pequena Luísa, que veio a ser religiosa beneditina do Santíssimo Sacramento, com sua ajuda.

Conheceu o amor a Maria Santíssima no coração de sua mãe, e este amor se tornou a via montfortiana por excelência. Na verdade, “a Santíssima Virgem foi a primeira a escolhê-lo e a elegê-lo um dos seus maiores favoritos, e gravara na sua jovem alma a ternura tão singular que ele sempre Lhe votara”.

No colégio dos jesuítas de Rennes

Aos 12 anos, seus pais o enviaram a Rennes, para estudar no Colégio São Tomás Becket, dirigido pelos jesuítas, famoso por seu curso de humanidades e por formar seus educandos no autêntico espírito cristão. O ensino era gratuito e seus mais de mil estudantes não eram internos, por isso Luís Maria hospedou-se com um tio, o Abade Alain Robert de la Vizuele.

Excelente aluno, dedicava-se ao estudo com afinco, compreendendo sua importância para a vida espiritual e o futuro ministério que tinha em vista. Seu espírito recolhido o afastava do bulício da multidão ruidosa dos rapazes e sua distração era visitar as igrejas da cidade onde havia belas e atraentes imagens de Maria Santíssima. Não há dúvida de que esta terna e sincera devoção foi a salvaguarda de sua pureza e abrigo seguro contra as solicitações do mundo.

São Luís Grignion de Montfirt (Guadium Press)

Ali conheceu Jean-Baptiste Blain e Claude-François Poullart des Places, dos quais tornou-se grande amigo. Mais tarde, eles lhe serão valiosos apoios em suas fundações. Pertencia à Congregação Mariana do colégio e, com Poullart des Places, organizou uma associação em honra da Santíssima Virgem, visando fazer crescer a dedicação a Ela, “encorajar os seus colegas ao fervor e fazer brilhar aos olhos das almas jovens as belezas do sacerdócio e do apostolado”. Blain, depois da morte do Santo, escreveu suas recordações pessoais e memórias, tornando-se uma das principais fontes históricas da vida dele.

Muito caritativo, inúmeras vezes se fez esmoler para ajudar algum condiscípulo mais pobre do que ele; atitude que se repetiu, com frequência, ao longo de sua vida missionária. “Só falava de Deus e das coisas de Deus; só respirava o zelo pela salvação das almas; e, não podendo conter o seu coração inflamado no amor de Deus, só procurava aliviá-lo, através de testemunhos efetivos de caridade em relação ao próximo”.

Apesar do intenso trabalho ao qual se dedicava, São Luís encontrava tempo para desenvolver seu veio artístico: esculpia com talento, em especial imagens de Maria, pintava, compunha melodias e poemas.

Em Rennes sentiu o chamado definitivo ao estado eclesiástico. Conta um de seus companheiros – a quem ele confidenciara esta graça – ter sido aos pés de Nossa Senhora da Paz, na igreja dos carmelitas, que conheceu sua vocação sacerdotal, “a única que Deus lhe indicava, por intermédio da Virgem Maria”.

São Luís Grignion de Montfirt (Guadium Press)

Em Paris, o seminário

Em 1693 dirigiu-se a Paris, a fim de preparar-se para o sacerdócio. Deixava para trás a terra natal e a família, e quis percorrer a pé os mais de 300 km que o separavam da capital francesa. Este será invariavelmente seu modo de viajar, seja em peregrinação, seja em missão.

Já nesse remoto século XVII, Paris exercia sobre seus visitantes fascinante atração. Ao entrar na cidade, o primeiro sacrifício feito por Luís foi o da mortificação da curiosidade: estabeleceu um pacto com seus olhos, negando-lhes o lícito prazer de contemplar as incomparáveis obras de arte parisienses. Assim, quando partiu, dez anos depois, nada havia visto que satisfizesse seus sentidos.

Começou os estudos no seminário do padre Claude de la Barmondière, destinado a receber jovens pouco afortunados. Com a morte deste religioso, Montfort se transferiu para o Colégio Montaigu, dirigido pelo padre Boucher. A alimentação ali era muito deficiente e suas penitências tão austeras que lhe abalaram a saúde e o levaram ao hospital. Todos acreditavam que morreria, tão grave era seu estado, mas ele nunca duvidou da cura, pois sentia não haver chegado sua hora. E, de fato, logo se restabeleceu.

Quis a Divina Providência obter-lhe os meios para terminar os estudos no Pequeno Seminário de Saint-Sulpice. O diretor daquela instituição, conhecedor da fama de santidade do seminarista, “encarou como uma grande graça de Deus a entrada deste jovem eclesiástico na sua casa. Para prestar a Deus ações de graças, mandou rezar o Te Deum”. Entretanto, tratava-o com muito rigor, para pôr à prova suas virtudes; começou então para nosso Santo uma via de humilhações, que se prolongou ao longo de toda a sua vida.

São Luís Grignion de Montfirt (Guadium Press)

Por fim, sacerdote!

Executava com a maior perfeição possível as funções que lhe eram designadas, quer nos serviços mais humildes ou nos estudos, quer na ornamentação da igreja do seminário ou como Cerimoniário litúrgico, no serviço do altar.

Suas primeiras missões remontam a esta época. Algumas eram feitas internamente, para aumentar a devoção de seus confrades; outras consistiam em aulas de catecismo ou pregações, para pessoas de fora do seminário. “Possuía um raro talento para tocar os corações”: às crianças falava de Deus, da bondade de Maria, dos Sacramentos que precisavam receber; aos adultos pedia que santificassem seu labor com as mentes postas no Céu.

Esforçava-se por comunicar a prática da escravidão de amor a Nossa Senhora a seus condiscípulos e estabeleceu no seminário uma associação dos escravos de Maria. Todavia, não faltaram opositores que o taxaram de exagerado. Aconselhado pelo padre Louis Tronson, superior de Saint-Sulpice, passou a designar esses devotos como “escravos de Jesus em Maria”, e vai ser esta expressão que mais tarde ficará consignada no seu Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem.

“À medida que a aurora do sacerdócio despontava no horizonte, Luís Maria sentia mais do que nunca a necessidade de separar-se da Terra a fim de se recolher completamente em Deus”. Foi ordenado em 5 de junho de 1700, dia de Pentecostes, e quis celebrar sua primeira Missa na capela de Maria Santíssima, situada atrás do coro da Igreja de Saint-Sulpice, tantas vezes ornada por ele durante os anos passados no seminário. Blain, seu amigo e biógrafo, resumiu em quatro palavras suas impressões sobre aquele espetáculo sobrenatural: era “um anjo no altar”.

São Luís Grignion de Montfirt (Guadium Press)

De Nantes a Poitiers

O espírito sacerdotal do padre Luís Maria sentia insaciável sede de almas e as missões em terras distantes o atraíam sobremaneira. Perguntava-se: “Que fazemos nós aqui […] enquanto há tantas almas que perecem no Japão e na Índia, por falta de pregadores e catequistas?”.

No entanto, tinha Deus outros planos para seu missionário naquele momento. Designado para exercer o ministério na comunidade de eclesiásticos Saint-Clément, em Nantes, na qual se pregavam retiros anuais e conferências dominicais para o clero da região, dirigiu-se para onde o mandava a obediência. Seu coração, porém, se dividia entre o desejo da vida oculta e recolhida e o apelo às missões populares, que tanto o atraíam.

Uma feliz experiência missionária em Grandchamps, nos arredores de Nantes, foi decisiva para tornar patentes seus dotes como evangelizador. Algum tempo depois, o Bispo de Poitiers o chamou para trabalhar no hospital desta cidade, pois uma curta permanência sua anterior por lá deixara tal rastro sobrenatural, que os pobres internos o solicitavam para capelão. Foi também nesta cidade que conheceu Catherine Brunet e Maria Luísa Trichet, com quem fundaria mais tarde, em Saint-Laurent-sur-Sèvre, as Filhas da Sabedoria.

Bênção papal: missionário apostólico

A ação missionária de São Luís Grignion acabou por despertar ciúmes, intrigas e até perseguições por parte dos que o deveriam defender, obrigando-o a regressar a Paris. Iniciava-se, assim, um longo caminho de dor que haveria de continuar nas subsequentes missões por ele empreendidas. A autenticidade de suas palavras e de seu exemplo despertavam tantas incompreensões e calúnias que o missionário decidiu peregrinar a Roma, a pé, a fim de procurar junto ao Papa uma luz que desse o rumo de sua vida. “Tanta dificuldade em fazer o bem em França e tanta oposição de todos os lados” o levaram a pensar se não seria mesmo o caso de exercer seu ministério num outro país.

São Luís Grignion de Montfirt (Guadium Press)

Recebido com extrema bondade por Clemente XI, este o encorajou a continuar exercendo seu trabalho missionário na própria França. E para “lhe conferir mais autoridade, deu ao padre Montfort o título de Missionário apostólico”. 16 A pedido do Santo, concedeu o Pontífice indulgência plenária a todos os que osculassem seu Crucifixo de marfim, na hora da morte, “pronunciando os nomes de Jesus e Maria com contrição dos seus pecados”.

Fortalecido pela bênção papal e com o Crucifixo afixado no alto do cajado que o acompanhava nas missões, Grignion voltou às terras gaulesas e, impertérrito, sem nada temer das perseguições ou contrariedades, continuou semeando por toda parte o amor à Sabedoria Eterna e a Nossa Senhora, e a excelência do Santo Rosário. Converteu populações inteiras, mudou costumes licenciosos no campo, nas cidades e aldeias, levantou Calvários, restaurou capelas e combateu o espírito jansenista, tão disseminado na época.

No entanto, foi pouco compreendido por muitos eclesiásticos seus contemporâneos e viu desencadear-se sobre si uma onda de interdições. Prosseguia sua missão, sem desanimar, sendo acolhido pelos Bispos das Dioceses de Luçon e La Rochelle, na Vandeia, região que reagirá, no fim daquele século, à impiedade difundida pela Revolução Francesa, sem dúvida como fruto de sua semeadura.

Olhar posto no futuro…

Seria um erro, contudo, considerar São Luís Grignion apenas como um excelente missionário na França do século XVIII. Com o olhar posto no futuro, sua fogosa alma tinha por meta estender o Reino de Cristo, por meio de Maria, e para isto servia-se de uma forma de evangelização que hoje não poderia ser mais atual: “ir de paróquia em paróquia, catequizar os pequeninos, converter os pecadores, pregar o amor a Jesus, a devoção à Santíssima Virgem e reclamar, em voz alta, uma Companhia de missionários a fim de abalar o mundo através
do seu apostolado”.

São Luís Grignion de Montfirt (Guadium Press)

Num élan profético, previu ele a vinda de missionários que, por seu inteiro abandono nas mãos da Virgem Maria, satisfariam os mais íntimos anseios do Coração de seu Divino Filho: “Deus quer que sua Santíssima Mãe seja agora mais conhecida, mais amada, mais honrada, como jamais o foi”. Não obstante, se perguntava: “Quem serão estes servidores, escravos e filhos de Maria?”. Serão eles, afirmava, “os verdadeiros apóstolos dos últimos tempos, aos quais o Senhor das virtudes dará a palavra e a força para operar maravilhas”. Antevia que seriam inteiramente abrasados pelo fogo do amor divino: “sacerdotes livres de vossa liberdade, desapegados de tudo, sem pai, sem mãe, sem irmãos, sem irmãs, sem parentes segundo a carne, sem amigos segundo o mundo, sem bens, sem obstáculos, sem cuidados, e até mesmo sem vontade própria”.

São Luís Maria Grignion de Montfort não foi senão o precursor desses apóstolos dos últimos tempos. Modelo vivo dos ardorosos missionários que prognosticava, manteve a certeza inabalável de que, quando se conhecesse e se praticasse tudo quanto ele ensinava, chegariam indefectivelmente os tempos que previa: “Ut adveniat regnum tuum, adveniat regnum Mariæ” – Para vir o Reino de Cristo, venha o Reino de Maria. Reino este que, em germe, já habitava em sua alma, tornando-o o primeiro apóstolo dos últimos tempos.

Por Irmã Juliane Vasconcelos Almeida Campos, EP

Fonte: https://gaudiumpress.org/

Nós, os Católicos

Católicos | Canção Nova

NÓS, OS CATÓLICOS

Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)

Dizem muitas coisas sobre nós, mas a verdade é que somos seguidores de Cristo. Nossa história começou há muito tempo, quando, vagando pela beira do lago de Genesaré, o Senhor chamou doze de nós, formou-nos como um grupo e nos deu uma missão: ir pelo mundo anunciando a esperança e o amor.

Não temos muitas leis ou normas, como lembrou mais tarde um de nós: “Para com os fracos tornei-me fraco, para ganhar os fracos. Tornei-me tudo para com todos, para de alguma forma salvar alguns” (1Cor 9,22). Essa coragem não brotou nem teve sua origem no coração daqueles que a testemunharam mais tarde, mas no coração do próprio Deus Encarnado, enquanto caminhava neste mundo.

Lembramos ainda de um dia memorável, quando, juntos com nosso Senhor, encontramos uma mulher que estava prestes a ser apedrejada por causa de seus pecados. Éramos submissos à lei, mas Ele nos ensinou que não há nada superior ao amor; por isso, diante de olhos escandalizados, Ele a tomou pela mão e a perdoou. E para aqueles que continuaram apostando no pecado e não na Graça, fez daquela que perdoou a primeira testemunha de sua Ressurreição.

Outra vez, o Senhor também nos ensinou que não devemos ter pressa. O bem e o mal continuarão juntos, o joio e o trigo crescendo no mesmo campo, testemunham a autonomia do mundo, e que deveríamos ser a alma no corpo, o sal que dá gosto à vida e a lente que faz refletir as cores do mundo.

À medida que convivíamos com Ele, fomos nos transformando Nele; ou melhor, fomos nos cristoformando. A identificação cresceu a tal ponto que, certa vez, um grupo abandonou o Senhor e quando Ele perguntou aos que já se tinham conformado à sua vida se eles também não queriam ir, aquele que seria o seu representante na missão de nos confirmar disse: “Aonde iremos, só o Senhor tem a palavra de vida eterna” (Jo 6,68).

Essa profissão de fé existencial é o que define a natureza do católico. Não temos aonde ir. Só temos o Senhor como garantia. Por Ele, aprendemos a doar a própria vida, pois, como Ele mesmo nos ensinou, é preciso perder esta vida para que a própria vida funcione plenamente. Exemplo que Ele nos deu em primeiro lugar.

Ficamos apaixonados por Ele, o coração nos ardeu, mesmo quando pensamos havê-lo perdido por três dias. Mas, depois que Ele apareceu vivo, Senhor da igreja e da história, nos reuniu ainda mais. Sua presença foi sentida em todo canto e, por onde quer que andássemos, éramos sempre precedidos por Sua presença. A Esperança cresceu dentre nós e começamos a crer que sempre se podia esperar.

Ficando cada vez mais forte na Esperança e na Caridade, Deus quis que estivéssemos em todo o mundo! Ressuscitado e reassumindo plenamente a sua condição e lugar divinos, Jesus acompanha de um lado a outro do mundo a comunidade e finalmente a constituiu naquilo que somos agora: Católicos.

Ao desejar ardentemente, ver em nós, o mesmo amor que tinha pela humanidade o Senhor disse a Pedro: “Simão, Simão, Satanás pediu vocês para peneirá-los como trigo. Mas eu orei por você, para que a sua fé não desfaleça. E quando você se converter, fortaleça os seus irmãos” (Lc 22,31-32).

O mesmo Simão, que havia dito tempos antes, não temos aonde ir, foi posto à nossa frente. Como emissário do Senhor ele assumiu a responsabilidade de nos guiar e declarou: “Estou pronto para ir contigo para a prisão e para a morte”. E, de fato, quando chegou a hora ele foi!

Porque a nossa missão é não deixar apagar no mundo a chama da esperança e acender o fogo do amor, que tudo aquece, o Senhor mandou que fossemos aos ermos e confins da terra, que nos tornássemos universais, e na língua antiga isso queria dizer, Católicos.

Nós, os Católicos, fomos por toda parte e o Senhor nunca nos abandonou. Ele continua, ainda hoje, indicando novos Pedros, que com coragem o segue até a morte. Do meio de nós Pedro nos confirma e nós repetimos seguidamente quando somos desafiados: não temos e não queremos ir a nenhum outro lugar, que não a ti, Senhor.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Teólogo diz que a Igreja se tornou insignificante e irrelevante no Brasil

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Por Pe. José Eduardo

A resposta do pe. José Eduardo de Oliveira.

Lia há pouco a interessante análise de um teólogo sobre o que ele mesmo define como “a insignificância e a irrelevância da Igreja no Brasil”. O interesse do texto é justamente provocado porque ele parte de um presumível fato. Segundo o autor, a Igreja se tornou insignificante e irrelevante.

O problema verdadeiro, ao meu ver, está no rastreio da causa desse fenômeno por ele excogitado. O teólogo, no caso, utiliza dois instrumentos analíticos forjados por Metz e Moltmann para traçar a linha de causalidade que explicaria o porquê do problema: “significado” – uma religião, para ter importância, precisaria responder a questões existenciais reais do indivíduo e, portanto, dar um significado aos seus dramas; “relevância” – do mesmo modo, precisaria tratar de questões que interferem no “nós” da sociedade; e fazê-lo é necessário, sob a pena de se tornar tão insignificante quanto irrelevante.

Até aqui, estou plenamente de acordo.

É então que o autor afirma que, no fundo, a teologia da libertação (TL) teria sido uma reflexão teológica que deu significado à luta do povo e, por isso, forneceu relevância à Igreja, por tratar de grandes questões que impactaram a sociedade. E, também neste sentido, o autor tem certa razão… Explico.

Não é possível entender o grande sucesso da TL descontextualizando-a da circunstância histórica concreta que, então, se vivia. No contexto global da guerra-fria, os regimes políticos da América Latina, além de utilizarem a repressão, usurparam a representação democrática para muito além do que era devido para controlar os atos de terrorismo das guerrilhas comunistas patrocinadas por Cuba e pela URSS, gerando o apelo generalizado pela redemocratização. Essa música de fundo é como que a trilha sonora que toca incessantemente no coração de toda aquela geração. E eles são incapazes de dissociá-la emocionalmente de qualquer coisa que lhe pareça contrastar, ainda que seja de maneira meramente simbólica.

Há outra camada na interpretação daquele período. Quando Raymundo Faoro mostrou que a história do Brasil é a de um povo que se tenta libertar de uma elite patrimonialista que se serve do Estado como propriedade privada, ele descreveu uma realidade que permanece até o momento presente.

Qual é o problema? É que aquilo que Faoro chamava de “Revolução brasileira” é um fenômeno que transcende as correntes políticas e, de certo modo, as usa apenas de maneira utilitária: quando uma bandeira coincide com a “Revolução brasileira”, esta a absorve; quando não, a despreza.

Quando nós nos perguntamos sobre de que lado da “Revolução brasileira” estava a Igreja das décadas de 70-80, a resposta é evidente: naquele contexto, estava do lado do povo que queria a redemocratização para poder exercer novamente o controle sobre as autoridades políticas. A “Revolução brasileira” foi lida e interpretada corretamente pela TL. Ali, ambas coincidiram.

Contudo, a realidade mudou muito.

Quando o PT conquistou o poder, ungido inclusive por nossos líderes, todos os seus maiores representantes se comportaram exatamente como a elite à qual o povo se opõe de modo tão obstinado ao longo de sua história: os escândalos de corrupção, dos quais hoje se pretende fingir a inexistência, demonstraram que a utilização do Estado como propriedade privada de um grupo é a constante que se manteve.

Ademais, a elitização da esquerda através da hegemonia dos meios de produção cultural (universidades e mídia) fez com que a mesma passasse a agir não mais em defesa dos operários, mas em defesa de pautas francamente burguesas, como a agenda verde e a agenda da revolução sexual, temas solenemente ignorados pela esquerda tradicional porque ignorados pelo próprio povo, que é moralmente conservador.

Por fim, quando essa mesma esquerda legitima atos não democráticos como a restrição à liberdade de expressão, a ilegítima invenção de crimes ao arrepio da lei, o abuso de autoridade – que faz coincidirem a vítima, o investigador, o promotor, o juiz e o executor na mesma pessoa –, o controle abusivo sobre a sociedade pela ditadura sanitária, quando essa mesma esquerda se serve da falta de isonomia como meio de se favorecer num teatro miserável de poder, à despeito do povo real e na defesa abstrata de uma democracia boicotada pela sua simultânea infração…, então, o ciclo se fecha! Trata-se de uma esquerda que se tornou, ela mesma, parte do estamento burocrático.

Com esta mudança de cenário, poderia um discurso religioso vendido para validar o que está aí ter alguma relevância?… É óbvio que não!

Acontece que a esquerda eclesiástica é tão enamorada de seu idealismo político que não percebe mais o mundo concreto, está completamente à serviço dessa mesma elite que diz combater. As pessoas percebem-no, e percebem, inclusive, que eles não percebem isso, pois estão encurralados psicologicamente naquele ambiente que não existe mais.

E o povo, perdido e desorientado, procura refugiar-se onde se encontram as respostas mais adequadas para os seus dramas pessoais e para a sua luta histórica. E garanto que se encontra muito mais representado pelos pentecostais, que não apenas reproduzem os seus valores morais conservadores, mas colocam-nos à serviço de um tipo de civilização que este mesmo povo gostaria de protagonizar, povo esnobado por essa elite, povo humilhado pelos seus discursos tão arrogantes quanto depravados.

Quando a crítica aos novos movimentos e comunidades, feita pelo autor, é vista fora da sua matriz ideológica e exposta à realidade nua e crua, então, percebe-se o quanto é risível, e ela mesma insignificante e irrelevante.

Para isso, não é preciso muita inteligência. Basta olhar ao redor e se perguntar: onde pulsa a vitalidade da Igreja? Pois bem! É justamente aí que o povo está!

Não seria a hora de se começar uma reflexão humilde, que escute todos os lados e procure enriquecer as perspectivas, ao invés de ocuparmo-nos com críticas tão amarguradas quanto esnobistas e com a reprodução de um discurso não apenas incoerente com o momento histórico, mas que se tornou hermético e exclusivo de iniciados, esotérico, portanto? Não é possível continuar fingindo que a realidade não existe e que estamos naquele cenário que não existe mais.

A única saída para esse impasse histórico, ao meu ver, é levar as tendências do povo à sério e começar a entender que esse discurso de sinodalidade que o Santo Padre requer de nós não pode ser como o jogo político brasileiro, que é uma encenação para que um grupo continue fazendo exatamente aquilo que sempre fez.

Se não revisarmos as nossas posições, consagrar-nos-emos na mais completa insignificância e irrelevância. E é justamente aí que os nossos irmãos evangélicos encontram o fértil espaço para continuarem a crescer.

That’all folks!

Pe. José Eduardo Oliveira, via Facebook

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF