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segunda-feira, 22 de maio de 2023

Santa Rita de Cássia

Santa Rita de Cássia / Guadium Press

Santa Rita de Cássia

O sofrimento que tanto causa horror ao homem moderno é um dos meios mais eficazes de conferir celebridade. É o que encontramos nestas linhas sobre Santa Rita.

Redação (22/05/2021 10:37, Gaudium PressA obediência é uma das virtudes mais difíceis de serem praticadas, pois obedecer significa contrariar a própria vontade para fazer a de outrem, mortificando de modo especial a natureza humana, que recebeu de Deus a liberdade.

A História nos revela inúmeros belos exemplos de obediência. O mais sublime, sem dúvida, é o de Jesus, o qual, para redimir o gênero humano, “fez-se obediente até a morte, e morte de cruz”.

Abaixo do Salvador, o mais excelso modelo de obediência é Maria Santíssima, a perfeita discípula de seu Filho Divino, nesta como em todas as outras virtudes.

Convido o leitor a passear comigo, neste artigo, pela vida de uma santa que sorveu desde menina o cálice da obediência, seguindo o exemplo supremo de Jesus e excelso de Maria: Santa Rita de Cássia.

Sua festa se celebra no dia 22 de maio. Ela é invocada especialmente como protetora das causas impossíveis, pelo motivo que o leitor verá adiante.

Menina privilegiada

Embora já de avançada idade, Antônio Mancini e sua esposa, Amanta, não cessavam de rogar a Deus, confian­te e insistentemente, a bênção de terem um filho que ­lhes alegrasse o lar. Viviam eles na pequena aldeia de Rocca Porena, em Cássia, na Úmbria.

Para atender às preces desse piedoso casal, realizou Deus o primeiro “impossível” da vida de Santa Rita: seu nascimento no dia 22 de maio de 1381.

Era uma encantadora menina. E desde sua mais tenra idade, a Divina Providência começou a manifestar especiais desígnios a seu respeito. Segundo narra uma tradi­ção, enquanto ela dormia na cestinha que lhe servia de ber­ço, com frequência apareciam umas raras abelhas bran­cas que esvoaçavam em torno dela e depositavam suavemente mel em seus lábios, sem feri-la ou despertá-la. Um dos camponeses vizinhos, presenciando a cena por primeira vez, quis afastar os insetos com a mão aleijada que tinha. No mesmo instante sua mão ficou curada.

Depois da morte de Santa Rita, essas mesmas abelhas brancas começaram a aparecer anualmente no mosteiro das agostinianas, onde ela passou os últimos anos de sua vida. Lá chegavam na Semana Santa e permaneciam até o dia 22 de maio. Depois se retiravam, para retornarem na Semana Santa seguinte. Até hoje podem ser vistos pelos peregrinos os buraquinhos feitos por elas nas paredes do mosteiro.

Infância marcada pela piedade e obediência

Santa Rita de Cássia / Guadium Press

Desde pequena, demonstrava Rita grande inclinação para a piedade. Seus pais, apesar de não saberem ler nem escrever, ensinaram-lhe o Catecismo e a história de Jesus. Dedicava-se com grande gosto à oração, meditava sempre sobre a Paixão de Nosso Senhor. Não sabia ler nem escrever. Entretanto, “lia” continuamente o mais mag­nífico de todos os livros: o Crucifixo.

Além de ser especialmente devota de Nossa Senhora, es­colheu como padroeiros São João Batista, Santo Agos­tinho e São Nicolau de Tolentino. Procurava abs­ter-se de brinquedos e travessuras próprias à ida­de infantil, como mortificação para consolar a Jesus Crucificado.

O maior anseio de sua alma era ser religiosa. Exa­tamente neste ponto, exi­giu dela a Providência um enorme ato de obediência, acei­tando um estado de vida oposto ao chamado religioso que sentia na alma. Com apenas 12 anos de idade, foi obri­gada pelos pais a contrair matri­mô­nio com o noivo por eles escolhido, chamado Paulo Ferdinando.

Sofrimentos na família

O marido logo revelou-se um homem agressivo, de mau gênio, beberrão e dissoluto, o que fazia Rita sofrer tremendamente. Ela, entretanto, não só lhe foi sempre fiel, como também suportou tudo isso com extrema pa­ciência, durante 18 anos, sempre rezando e oferecendo esta espécie de martírio pela conversão dos peca­do­res, sobretudo de seu detestável marido.

E mais uma vez o “impossível” se realizou na vida des­sa mulher exemplar. Teve ela, afinal, a alegria de ver o es­­poso converter-se e pedir-lhe perdão por todos os maus tratos e pela vida devassa que havia levado. Quão oportuna foi esta conversão! Pouco tempo depois de reconci­liar-se com Deus, pelo Sacramento da confissão, Paulo Ferdinando foi assassinado por alguns dos maus compa­nheiros que tivera.

Os filhos do casal, dois gêmeos, então com 14 anos, juraram vingar a morte do pai. Vendo Santa Rita quanto os filhos haviam herdado as más tendências do pai, e te­men­do pelo destino eterno dos dois, dirigiu a Deus uma súplica: preferia ver seus filhos mortos a seguirem o cami­nho da perdição. Logo demonstrou o Pai de Misericórdia seu comprazimento com essa súplica de uma mãe verdadeiramente católica. Em menos de um ano, os dois fi­ca­ram doentes e faleceram, perdoando os assassinos de Paulo Ferdinando.

Entrada na vida religiosa

Viúva, sem filhos, livre de tudo que poderia atá-la ao mundo, Rita desejava fazer-se religiosa. Pediu para ser aceita no mosteiro das freiras agostinianas de Cássia, on­de sempre quisera ter estado. Mas – oh decepção! – a supe­riora lhe disse que infelizmente não podiam acei­tar viúvas na congregação, a qual era destinada apenas a virgens.

Imagine-se sua desilu­são e tristeza ao voltar pa­ra ca­sa!… Mas ela era uma mulher santa. Enquanto tal, em vez de deixar-se abater ou desanimar, decidiu seguir com mais ardor ainda do que antes sua vida de oração e peni­tência.

Acorreram em seu au­xí­lio seus padroeiros, San­to Agos­tinho, São João Batista e São Nicolau de Tolentino, obtendo da Medianeira de todas as graças a realização de mais um “impossível” em favor de sua protegida.

Conta-se que numa noite, estando ela imersa em ora­ção, apareceram-lhe estes três Santos e convidaram-na a segui-los. Em êxtase, ela os acompanhou. Quando voltou a si, estava dentro do mosteiro das agostinianas… Havia entrado lá milagrosamente, pois todas as portas e janelas encontravam-se perfeitamente fechadas.

Na manhã seguinte, a madre superiora reconheceu nesse prodigioso fato uma clara indicação da vontade divina e decidiu acolher Rita como noviça nessa santa congregação.

Obediência recompensada pelo milagre

Já revestida do hábito, a nova religiosa foi um exemplo de virtude para todas as suas irmãs de vocação.

Dos três votos da religião, aquele em que mais se esmerava era o de obediência, fazendo sempre a vontade das outras em tudo, até mesmo no que poderia parecer ridículo e insensato. Por exemplo, a superiora mandou-lhe regar todos os dias uma parreira que já estava seca e morta. A obediente freira cumpriu rigorosamente a ordem durante um ano. Uma vez mais o que parecia impossível se realizou: do tronco morto brotaram sarmentos que cresceram e produziram flores e frutos! Existe ainda essa “videira de Santa Rita”, que produz uvas de um sabor especial, as quais amadurecem em novembro.

Partícipe das dores de Jesus coroado de espinhos

Durante a Quaresma de 1443, o grande pregador Santiago de Monte Brandone fez em Cássia um magnífico sermão sobre a Paixão de Jesus, destacando sobretudo o episódio da coroação de espinhos. Depois de ouvir esse sermão, Santa Rita sentiu-se tomada do desejo de parti­cipar dos sofrimentos de Nosso Senhor nesse lance de sua Paixão.

Rezando diante de seu crucifixo, viu espargir-se dele suavemente uma luz, e um espinho desprender-se da co­roa e cravar-se em sua fronte, provocando-lhe uma ferida que a fez sofrer durante seus últimos 15 anos de vida. Além de exalar mau odor, essa provocava-lhe muitas enfermidades. Assim, teve ela atendido deu desejo de ser verdadeiramente partícipe das dores de Jesus coroado de espinhos.

Morte santa, a recompensa

Santa Rita teve uma morte santa, sendo obediente à vontade de Deus até o fim.

Estando já muito enferma, pediu a Jesus um sinal de que seus filhos estavam no Céu. Em meio a um rigoroso inverno, recebeu uma rosa colhida no jardim de sua antiga casa, em Rocca Porena… Pediu um segundo sinal e, no fim do inverno, recebeu um figo, também de seu jardim. Com a realização desses dois “impossíveis”, Deus, por assim dizer, mostra seu comprazimento em que essa gran­de Santa seja invocada como a “Advogada dos impossíveis”.

No dia 22 de maio de 1457, voou para o Céu a bela alma de Santa Rita.

Santa Rita de Cássia / Guadium Press

A chaga de sua fronte transformou-se em uma mancha vermelha como um rubi, de onde se exalava uma agradável fragrância. Sua cela ficou iluminada por uma luz celestial e os sinos, sozinhos, repicaram num toque de júbilo e glória.

Foi velada na igreja, aonde acorreu uma multidão de pessoas para vê-la e venerá-la. De seu santo corpo ema­nava um tal perfume que nunca foi enterrado. Perma­ne­ce incorrupto até hoje, exposto à veneração dos fiéis no convento de Cássia.

Mensagem de Santa Rita para os dias atuais

Qual é a mensagem que esta grande Santa nos transmitiria nestes dias em que vivemos?

Creio que a resposta está nas palavras proferidas pelo Santo Padre João Paulo II, em 20 de maio de 2000, saudando os devotos de Santa Rita que faziam a peregrinação jubilar:

É uma mensagem que brota de sua vida: a humildade e a obediência foram o caminho que Rita percorreu para uma semelhança cada vez mais perfeita com Cristo crucificado. O estigma que brilha em sua fronte é a autenticação de sua maturidade cristã. Na cruz com Jesus culminou o amor que já havia conhecido e expressado de modo heroico em seu lar e mediante a participação nas vicissitudes de sua cidade.

Seguindo a espiritualidade de Santo Agostinho, fez-se dis­cípula do Crucificado e ‘especialista em sofrimento’, aprendeu a compreender as penas do coração humano. Deste modo, Rita se converteu na advogada dos pobres e dos desesperados, obtendo inumeráveis graças de consolo e for­taleza aos que a invocam nas mais diversas situações.

Que Santa Rita de Cássia nos ajude a compreender os desígnios de Deus para cada um de nós individualmente, e a sorver até a última gota o cálice da obediência à sua vontade santíssima, ao longo de nossa existência.

(Fonte: Revista Arautos do Evangelho)

https://gaudiumpress.org/

domingo, 21 de maio de 2023

Como entender a Mediação de Maria?

Nossa Senhora | Cléofas

Como entender a Mediação de Maria?

 POR PROF. FELIPE AQUINO

Há cristãos que não entendem a mediação da Virgem Maria, e até pensam que ela não existe ou que menospreza Jesus. Nada disso.

Grandes Santos Padres da Igreja, como Santo Afonso de Ligório, São Bernardo, e vários outros, ensinam que todas as graças que chegam a nós, vêm pelas mãos de Maria. Isto porque a maior de todas as Graças que o Pai nos deu foi Jesus, e Ele veio por Maria, que São Bernardo chamava de “aqueduto de Deus”. Vejamos então como a Igreja explica isso; especialmente pela palavra dos Papas.

A mediação de Nossa Senhora, bem como a dos anjos e santos, não é uma mediação substitutiva a de Jesus, mas, ao contrário, com base nela, por dentro dela. Sem a Mediação única e essencial de Cristo, homem e Deus, Sumo Pontífice (ponte) entre Deus e os homens, todas as outras mediações não teriam eficácia; portanto, a mediação de Maria não é uma mediação paralela a de Jesus, mas subordinada, cooperadora, por vontade de Deus. Jesus não quis salvar o mundo sozinho; Ele quis e quer a nossa ajuda e cooperação, tanto em termos de trabalho como de oração. E a pessoa que mais coopera com a redenção da humanidade é Sua Mãe.

O Concílio Vaticano II, na “Lumen Gentium”, explica-nos bem como é a mediação de Nossa Senhora diante de Deus. Vejamos:

“A maternidade de Maria na dispensação da graça perdura ininterruptamente a partir do consentimento que ela fielmente prestou na Anunciação, que sob a Cruz ela resolutamente manteve e manterá até a perpétua consumação de todos os eleitos. Assumida aos céus, não abandonou esta salvífica função, mas por sua multíplice intercessão continua a granjear-nos os dons da salvação eterna. Por seu maternal amor cuida dos irmãos do seu Filho que ainda peregrinam rodeados de perigos e dificuldades, até que sejam conduzidos à feliz pátria”.

“Por isto e Bem-aventurada Virgem Maria é invocada na igreja sob os títulos de Advogada, Auxiliadora, Protetora, Medianeira. Isto, porém, se entende de tal modo que nada derrogue, nada acrescente à dignidade e eficácia de Cristo, o único Mediador”.

“Com efeito; nenhuma criatura jamais pode ser colocada no mesmo plano com o Verbo Encarnado e Redentor. Mas, como o sacerdócio de Cristo é participado de vários modos seja pelos ministros, seja pelo povo fiel, e como a indivisa bondade de Deus é realmente difundida nas criaturas de maneiras diversas, assim também a única mediação do Redentor não exclui, mas suscita nas criaturas uma variegada cooperação, que participa de uma única fonte”.

“A Igreja não hesita em proclamar essa função subordinada de Maria. Pois sempre de novo experimenta e recomenda-se ao coração dos fiéis para que, encorajados por esta maternal proteção, mais intimamente deem sua adesão ao Mediador e Salvador” (LG, nº 62).

O Papa Paulo VI em sua Exortação Apostólica Signum Magnum nº 1, escreveu:

“A Virgem continua agora no céu a exercer a sua função materna, cooperando para o nascimento e o desenvolvimento da vida divina em cada uma das almas dos homens redimidos. É esta uma verdade muito reconfortante, que, por livre disposição de Deus sapientíssimo, faz parte do mistério da salvação dos homens; por conseguinte, deve ser objeto da fé de todos os cristãos”.

O Papa João Paulo II assim se expressou:

“Os cristãos invocam Maria como “Auxiliadora”, reconhecendo-lhe o amor materno que vê as necessidades dos seus filhos e está pronto a intervir em ajuda deles, sobretudo quando está em jogo a salvação eterna. A convicção de que Maria está próxima de quantos sofrem ou se encontram em situações de grave perigo, sugeriu aos fiéis invocá-la como “Socorro”. A mesma confiante certeza é expressa pela mais antiga oração mariana, com as palavras: “sob a vossa proteção recorremos a vós, Santa Mãe de Deus: não desprezeis as súplicas de nós que estamos na prova, e livrai-nos sempre de todos os perigos, ó Virgem gloriosa e bendita!” (Do Breviário Romano). Como Medianeira materna, Maria apresenta a Cristo os nossos desejos, as nossas súplicas e transmite-nos os dons divinos, intercedendo continuamente em nosso favor. (L’Osservatore Romano, ed. port. n.39, 27/09/1997, pag. 12(448)).

Disse ainda o Papa: “Como recordo na Encíclica Redemptoris mater, “a mediação de Maria está intimamente ligada à sua maternidade e possui um caráter especificamente maternal, que a distingue da mediação das outras criaturas” (n. 38). Deste ponto de vista, Ela é única no seu gênero e singularmente eficaz… o mesmo Concílio cuidou de responder, afirmando que Maria é “para nós a Mãe na ordem da graça” (LG, 61). Recordamos que a mediação de Maria se qualifica fundamentalmente pela sua maternidade divina. O reconhecimento do papel de Medianeira está, além disso, implícito na expressão “nossa Mãe”, que propõe a doutrina da mediação Mariana, pondo em evidência a maternidade. Por fim, o título “Mãe na ordem da graça” esclarece que a Virgem coopera com Cristo no renascimento espiritual da humanidade.

“O Concílio afirma, além disso, que “a função maternal de Maria em relação aos homens de modo algum ofusca ou diminui esta única mediação de Cristo; antes, manifesta a sua eficácia” (LG, 60).

“Longe, portanto, de ser um obstáculo ao exercício da única mediação de Cristo, Maria põe antes em evidência a sua fecundidade e a sua eficácia. “Com efeito, todo o influxo salvador da Virgem Santíssima sobre os homens se deve ao beneplácito divino e não a qualquer necessidade; deriva da abundância dos méritos de Cristo, funda-se na Sua mediação e dela depende inteiramente, haurindo aí toda a sua eficácia” (LG, 60).

“De Cristo deriva o valor da mediação de Maria e, portanto, o influxo salvador da Bem-aventurada Virgem “de modo nenhum impede a união imediata dos fiéis com Cristo, antes a favorece” (ibid.).

“Ao proclamar Cristo como único Mediador (cf. 1 Tm 2, 5-6), o texto da Carta de São Paulo a Timóteo exclui qualquer outra mediação paralela, mas não uma mediação subordinada. Com efeito, antes de ressaltar a única e exclusiva mediação de Cristo, o autor recomenda “que se façam súplicas, orações, petições e ações de graças por todos os homens…” (2,1). Não são porventura as orações uma forma de mediação? Antes, segundo São Paulo, a única mediação de Cristo é destinada a promover outras mediações dependentes e ministeriais. Proclamando a unicidade da mediação de Cristo, o Apóstolo só tende a excluir toda a mediação autônoma ou concorrente, mas não outras formas compatíveis com o valor infinito da obra do Salvador.

“Nesta vontade de suscitar participações na única mediação de Cristo, manifesta-se o amor gratuito de Deus que quer compartilhar aquilo que possui. Na verdade, o que é a mediação materna de Maria senão um dom do Pai à humanidade? Eis por que o Concílio conclui: “Esta função subordinada de Maria, não hesita a Igreja em proclamá-la; sente-a constantemente e inculca-a nos fiéis…” (ibid.).

“Maria desempenha a sua ação materna em contínua dependência da mediação de Cristo e d’Ele recebe tudo o que o seu coração desejar transmitir aos homens. Na sua peregrinação terrena, a Igreja experimenta “continuamente” a eficácia da ação da “Mãe na ordem da graça”. (L’Osservatore Romano, ed. port. n.40, 04/10/1997, pag. 12(460)).

Portanto, que fique bem entendido que a mediação de Maria não “coloca Jesus na sombra”, ao contrário, o engrandece.

Prof. Felipe Aquino

Fonte: https://cleofas.com.br/

Como rezar a Via Lucis, o Caminho da Luz

Mosaico do Cristo Ressuscitado da Basílica Nacional da Imaculada Conceição em Washington D.C. / Flickr - Lawrence OP (CC BY-NC-ND 2.0)

Por Cynthia Perez

REDAÇÃO CENTRAL, 19 Mai. 23 / 11:47 am (ACI).- A oração Via Lucis, que em latim significa "Caminho de Luz", é um exercício piedoso feito no tempo pascal, que começa com a celebração da Ressurreição do Senhor e termina cinquenta dias depois com a solenidade de Pentecostes.

O jornal oficial da arquidiocese primaz do Mexico, Desde la Fe, diz que “assim como na oração da via-sacra acompanhamos Cristo em seu caminho ao calvário”, com a oração da Via Lucis “acompanhamos Jesus em seu caminho da Glória”. 

“Do domingo de Páscoa até o Pentecostes, foram 50 dias repletos de acontecimentos inesquecíveis que as pessoas próximas a Jesus viveram intensamente, e que recordamos a cada estação da Via Lucis”, explica o semanário.

Por isso, durante a oração da via-lucis, “são percorridas 14 estações com Cristo triunfante, desde a Ressurreição até o Pentecostes, seguindo as narrativas evangélicas”, acrescenta a publicação.

Via Lucis também pode ser rezada levando em procissão a imagem de Cristo Ressuscitado, "uma vela acesa, que representa a luz de Nosso Senhor, e o livro dos Evangelhos, aberto nas narrativas da Ressurreição". Os fiéis participantes devem acompanhar a procissão “com ramos de flores, em sinal de vida”, conclui.

A seguir, a oração da Via Lucis publicada pelo jornal Desde la Fe:

PASSO 1

No início de cada estação se diz o seguinte:

– Moderador: O Senhor ressuscitou verdadeiramente. Aleluia.

– Resposta: Conforme anunciado pelas Escrituras. Aleluia.

– Moderador: Glória ao Pai e ao Filho e ao Espírito Santo.

– Resposta: Como era no princípio, agora e sempre. Amém.

PASSO 2

Depois, lê-se uma passagem do Evangelho em cada estação e se faz uma oração.

1ª estação: Cristo vive! Ele ressuscitou! (Mateus 28,1-7).

2ª estação: O encontro com Maria Madalena (Jo 20, 10-18).

3ª estação: Jesus aparece às mulheres (Mateus 28,8-10).

4ª estação: O caminho de Emaús (Lc 24,26-27).

5ª estação: A fracção do Pão (Lucas 24, 30-31).

6ª estação: O Ressuscitado aparece aos discípulos (Lc 24, 38-39).

7ª estação: O Ressuscitado dá poder para perdoar os pecados (Jo 20,22-23).

8ª estação: A fé de Tomé (João 20,27-28).

9ª estação: Pesca milagrosa (João 21, 7.11.13).

10ª estação: Pedro, o guia (João 21,15).

11ª estação: O envio dos discípulos (Mateus 28,19-20).

12ª estação: Volta ao Pai (Atos 1,11).

13ª estação: A Espera do Espírito (At 1,14).

14ª estação: O Ressuscitado envia o Espírito prometido (At 2,2-4).

PASSO 3

Depois de rezar as catorze estações, é feita esta oração:

"Senhor e nosso Deus, fonte de alegria e esperança, vivemos com vosso Filho os acontecimentos de sua Ressurreição e Ascensão até a vinda do Espírito Santo; enchei vossa Igreja com o Espírito Santo, manifestai ao mundo os tesouros de vosso amor e tornai-nos participantes da ressurreição eterna convosco, que viveis e reinais pelos séculos dos séculos. Amém.

Fonte: https://www.acidigital.com/

O caminho da África, ou seja, a África a caminho

O caminho da África | sklein

Arquivo 30Dias - 04/2010

O caminho da África, ou seja, a África a caminho

Encontro com o presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz: as crises na Nigéria e no nordeste da República Democrática do Congo. A dívida externa que preocupa os governos do Continente africano. Mas também os progressos e as esperanças do “pulmão espiritual da humanidade” segundo Bento XVI.

Entrevista com o cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson de Roberto Rotondo e Davide Malacaria

O cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson, ganense, há seis meses presidente do Pontifício Conselho Justiça e Paz, é o mais jovem purpurado africano e com a mais alta posição no Vaticano entre os homens de Cúria do Continente Negro. Nascido em Wassaw Nsuta, na parte oeste de Gana, foi consagrado sacerdote para a arquidiocese de Cape Coast em 1975, da qual tornou-se arcebispo em 1992. Foi presidente da Conferência Episcopal de Gana de 1997 a 2005. Estudou nos Estados Unidos e no Instituto Bíblico de Roma. Fala inglês, francês, italiano e alemão. Conhece o hebraico, o grego antigo e o latim. Foi criado cardeal em 2003 – primeiro purpurado ganense da história – foi relator geral no Sínodo Especial para a África no final de 2009. Com ele, que declarou várias vezes querer trazer para a sua nova experiência em Roma o “grande sentido de solidariedade e de busca da justiça” do povo da África, conversamos sobre alguns graves problemas infelizmente “crônicos” da África subsaariana. E começamos com a sua última viagem à Nigéria.

O cardeal Peter Kodwo Appiah Turkson [© Reuters/Contrasto]

Em março deste ano o senhor foi à Nigéria, poucos dias depois do massacre de centenas de pessoas em três vilarejos de camponeses, na maioria católicos, da diocese de Jos. Qual é o seu parecer sobre a situação depois dos ataques de 7 de março, que num primeiro momento tinham sido apressadamente atribuídos à rivalidade entre cristãos e islâmicos?
PETER KODWO APPIAH TURKSON: Quando fiquei sabendo dos ataques noturnos aos vilarejos e das centenas de mulheres e crianças mortas, imediatamente pensei em ir até lá para ajudar o arcebispo de Jos, monsenhor Ignatius Kaigama, a acalmar os ânimos e a frear os que, querendo se vingar, corriam o risco de alimentar uma grande onda de violência. Conheço bem Kaigama, é também presidente do Conselho para o diálogo Inter-religioso da Nigéria e sempre se preocupou em promover a paz, mas naqueles dias era quase o único a convidar as pessoas a acalmarem-se. Desde o primeiro momento ficou bem claro que se tratava de uma terrível vingança tribal e até mesmo L’Osservatore Romano tinha excluído a marca religiosa, mas apesar disso, passou a ideia na mídia de todo o mundo que na Nigéria a raiz da violência era determinada pelo contraste entre muçulmanos e cristãos.
Então o que era?
TURKSON: Tragicamente, tratou-se de uma represália dos pastores nômades Fulani na maioria islâmica, contra os trabalhadores rurais, estáveis, na maioria cristãos. As causas dessas represálias? A morte de alguns animais de rebanho e alguns episódios de violência que sofreram os pastores Fulani, acusados pelos camponeses de destruir a colheita com seus rebanhos, os quais, por causa da estiagem, dirigem-se cada vez mais para o sul nas regiões cultivadas. O fato é que para os Fulani o rebanho vale mais do que a vida, mas também para os camponeses, a colheita é uma questão de vida ou morte.
Uma trágica guerra entre pobres...
TURKSON: É um problema que se arrasta há muitos anos. A Igreja local tenta de todos os modos chegar a uma concórdia, mas enquanto o governo da região e o Estado central não conseguirem garantir a segurança e justiça, a situação continuará sempre a risco. Justamente por isso, em 19 de março, depois de ter presidido uma celebração eucarística de sufrágio pelas vítimas, na qual li uma mensagem de Bento XVI, fomos encontrar os responsáveis do governo da região e repetimos-lhes o quanto essa pobre gente – que durante cada missa reza também pelo governo, pelo Estado, pelo presidente – tenha o direito de poder dormir com segurança. Com efeito, o que mais me impressionou, é que os ataques aos vilarejos aconteciam às duas da madrugada, quando as pessoas estavam em casa dormindo, justamente para causar maiores danos possíveis. Enfim foi uma vingança calculada, não uma explosão irracional de violência.
E por parte dos muçulmanos surgiu alguma vontade de acalmar os ânimos?
TURKSON: Em Jos encontrei também o líder muçulmano Amil que trabalha em estreito contato com Kaigama. Eles dois querem ser as centelhas da paz, mas em ambas as partes há os que não aprovam: alguns cristãos dizem que o arcebispo confia demais nos muçulmanos e alguns muçulmanos afirmam que o emir acabará sendo convertido pelo bispo ao cristianismo. Mas o caminho deles é a única possibilidade para a convivência, a paz e o desenvolvimento da zona. Chegaram até a falar com o sultão de Sokoto, que é a maior autoridade do islã na Nigéria, e esperamos que muitos outros decidam seguir o caminho do diálogo.
A errada atribuição dos combates a uma guerra de religião é também fruto da nossa incapacidade de ouvir e entender o que acontece na África?
TURKSON: Sim, sem dúvida. Visto daqui, tudo parece apenas “África”: a África esfomeada, a África vítima das violências tribais, da luta pelos recursos naturais... Mas na África subsaariana há 48 Estados nacionais, cada um com uma própria situação, os próprios problemas, os próprios dramas, os próprios progressos. Respeitar a África quer dizer antes de tudo aprender a não generalizar. Em Gana, onde nasci, por exemplo, o presidente do Parlamento, o ministro da Justiça e o chefe da polícia são mulheres, mas isso não quer dizer que a África tenha aprendido a valorizar o papel da mulher. Assim, os problemas relativos aos equilíbrios demográficos, religiosos e étnicos mudam de país para país: na Nigéria, muçulmanos e cristãos numericamente se equivalem, em Serra Leoa os islâmicos são a maioria. Em Gana, o islã é minoria e representa 18% da população, assim temos um problema que não há em outros países: há grupos que não ficam satisfeitos com o equilíbrio religioso e étnico alcançado no país e que permite a convivência. E nos últimos anos estes grupos colocaram em ato estratégias para mudar os equilíbrios demográficos. Não estou lançando uma cruzada, mas temos consciência de que o fenômeno existe e, como dizem tanto os italianos quanto os franceses, quem avisa amigo é...
A situação de crise permanente na região nordeste da República Democrática do Congo (que é uma área com maioria católica) ainda é uma ferida aberta no Continente africano. Por que não se consegue sair desta situação de perene instabilidade? É apenas um problema de luta pela exploração das imensas riquezas naturais?
TURKSON: A luta pelos recursos é um fator importante da crise, mas não é só isso. Um outro elemento é a falta de infraestruturas como estradas ou pontes: em um país tão grande, faz com que o poder central fique muito afastado e lento para intervir. Além disso, os vários grupos tribais e étnicos são um ulterior elemento de instabilidade quando, também por causa das ingerências externas no Congo, estes não conseguem mais encontrar um equilíbrio entre si.
Parte da população congolesa, com efeito, considera-se ruandesa ou mesmo burundinesa. Este é um problema comum em muitas regiões da África, onde as fronteiras dividem tribos, etnias ou grupos homogêneos pela história e tradições. A mesma coisa acontece também em Gana: há um vilarejo na fronteira com o Togo no qual uma rua divide os dois Estados: de um lado os ganenses e de outro os togoleses. Para nós é apenas uma situação bizarra, mas na região do Kivu, na República Democrática do Congo, tornou-se um caso dramático. Também porque os interessados em extrair os imensos recursos naturais da região, tanto o ouro ou diamantes, madeira ou coltan, têm todo o interesse que reine um estado de caos permanente. Quando há anarquia, confusão, mesmo com um pequeno grupo armado pode-se aterrorizar um inteiro vilarejo, abrir minas ilegais, levar tudo embora. Apenas com um governo forte é possível resolver a situação um pouco de cada vez.

Católicos congoleses durante a procissão do Domingo de Ramos [© M.Merletto/Nigrizia]

Falando dos problemas da África subsaariana o senhor disse que alguns homens da classe política e econômica africana são inadequados e, às vezes, ou até mesmo corruptos e cúmplices das lobbies externas que exploram o continente…
TURKSON: A corrupção sempre existiu em todas as partes do mundo, mesmo nas nações mais evoluídas. Mas em todas as sociedades evoluídas há os que vigiam e colocam um freio. Aqui, o poder central e os políticos muitas vezes não conseguem desenvolver esta função porque são obrigados a pensar somente no imediato sem poder realizar nada que tenha um mínimo de prazo e de perspectiva. Sempre faltam os recursos para realizar o que planejado de nobre na campanha eleitoral, e muitos governos, já sufocados pelas dívidas assumidas em anos anteriores, pensam apenas em como encontrar rapidamente capital para enfrentar as situações de maior emergência. Por isso são feitas escolhas ditadas apenas pela emergência, sem pensar se as escolhas feitas hoje trarão alguma consequência negativa no futuro. Assim acontecia em Gana: primeiro as minas de ouro penetravam nas profundidades do subsolo, hoje, ao invés, prefere-se fazer imensas clareiras na superfície do terreno, derrubando a floresta. Ninguém se preocupa se um dia teremos, no lugar da floresta e dos campos cultivados, apenas um solo com grandes crateras vazias, porque o governo precisa urgentemente de recursos financeiros e tudo aquilo que traz dinheiro a curto prazo é preferível a projetos a longo prazo. Por isso a Mensagem para a Paz do Papa Bento XVI deste ano, que fala de solidariedade com o ambiente e de solidariedade entre as gerações atuais e as futuras, é muito concreta e tem implicações políticas, sociais, econômicas muito sentidas na África.
No ano 2000, dez anos atrás, houve uma grande campanha para zerar a dívida externa dos países em desenvolvimento. Houve algum resultado?
TURKSON: A dívida não é o maior problema: se anulam as nossas dívidas, mas ficamos sem meios para produzir bens e mercadorias, jamais conseguiremos criar capitais. Novamente nos endividaremos.
Mas neste momento os países africanos mal conseguem pagar os juros, sem nunca conseguir extinguir a própria dívida…
TURKSON: Seria mais importante que os governos dos países africanos conseguissem aumentar a capacidade produtiva e industrial, porque se continuarmos a vender apenas matéria-prima ou produtos não industrializados não conseguiremos criar uma economia forte e seremos sempre sufocados pelas dívidas. Por exemplo, Gana é um dos maiores produtores de cacau no mundo: mas quantas fábricas de chocolate existem em Gana? Nós cultivamos tomates em abundância, mas quantas fábricas de conservas temos? É principalmente nas indústrias de manufatura que se pode criar riqueza e desenvolvimento estável, mas é justamente ali que a África é mais fraca. Somente quando soubermos converter o couro do gado em sapatos é que sairemos deste círculo vicioso de empréstimos e juros.
Durante o Sínodo Especial para a África, Bento XVI definiu o continente como o pulmão espiritual da humanidade. Mas o que a África pode dar ao mundo?
TURKSON: O Papa referia-se aos valores cristãos, religiosos e humanos da África e disse que devemos prestar atenção para não danificar este pulmão da humanidade. É um pulmão sadio quando sabe olhar para aqueles valores do Evangelium vitae dos quais nos falara João Paulo II; e a fonte dos males são o secularismo e o relativismo, dos quais a África, até este momento, ao menos, parece protegida, mesmo se vivemos em um mundo globalizado e há muitas outras ameaças que nos chegam através de muitos meios que, por si, são muito positivos. Por exemplo, a internet, com a qual chega de tudo aos nossos jovens sem qualquer mediação. A rede transmite muitas coisas belas, mas também é possível acessar a sites que ensinam a construir bombas e fomentam ódio.
O senhor é muito apegado a Gana e à África, e segundo alguns, o Papa teve de convencê-lo a vir a Roma. O que o senhor trouxe consigo da sua experiência de pastor?
TURKSON: Creio ter feito o mínimo que podia fazer em Cape Coast, com a graça e a ajuda de Deus. Eu era o sucessor de um arcebispo muito famoso e amado, John Kodwo Amissah, o primeiro arcebispo nativo de Gana e talvez também o primeiro arcebispo africano de toda a África Ocidental. Foi uma figura de referência durante o processo político que nos levou à independência da Inglaterra. Recordo que, no momento da minha ordenação, perguntaram-me se eu me sentia à altura para suceder uma figura tão carismática e eu respondi, retomando um antigo ditado, que queria apenas calçar os meus sapatos, porque os dos outros poderiam ser ou muito grandes ou muito pequenos. Tudo dependia do que o Senhor me consentiria fazer. Todavia fiquei ali de 1993 a 2010, e procurei fazer fundamentalmente duas coisas: investir muito na formação dos padres – temos um bom seminário maior com professores preparados e no qual formam-se muitos sacerdotes – e tentar envolver os jovens, com muitas iniciativas ligadas à escola, para aproximá-los da Igreja Católica.
O seu pai era católico e sua mãe metodista. Como nasceu a sua vocação sacerdotal?
TURKSON: Minha mãe era metodista, mas se converteu ao catolicismo quando se casou com meu pai. A história da minha vocação é muito simples. Talvez toda a vocação sacerdotal nasce por um motivo aparentemente banal, mas depois no seminário cresce e se clarifica. A vocação é um pouco como o starter dos automóveis, a centelha que acende o motor, e a história da minha vocação é algo semelhante. O motivo original pelo qual entrei para o seminário foi a figura de um padre holandês que a cada dois meses vinha celebrar a missa na minha pequena cidade onde cresci. Meu pai era marceneiro e a nossa cidade era perto de uma mina de manganês. Não havia um pároco estável e recordo deste sacerdote que vinha de vez em quando, dormia na igreja e pela manhã estava sempre ali, pronto, esperando a chegada dos fiéis para a missa. Isso impressionou-me e, mais tarde quando cheguei à idade de frequentar a escola secundária, fiz o pedido para entrar no seminário menor. Digo sempre aos seminaristas, a história da nossa vocação começa com algo muito pequeno, mas é o seminário o lugar onde a vocação cresce e se clarifica.
>A encíclica social do Papa Caritas in veritate, da qual o Pontifício Conselho Justiça e Paz está aprofundando o estudo de algumas linhas de orientação, foi publicada em um particular período histórico, no qual a crise econômica mundial colocou à luz os excessos das finanças sem regras e as injustiças que derivam disso. A quase um ano da publicação, hoje, a encíclica é um instrumento de reflexão útil para sair da crise?
TURKSON: Como se sabe, a Caritas in veritate tinha sido programada em vista do 40º aniversário da Populorum progressio e o seu lançamento foi adiado justamente para que se pudesse reelaborá-la à luz da crise que tinha investido os mercados financeiros. Se é considerada útil ou não, resta a juízo dos leitores, mas a intenção não era de dar uma receita econômica nova, mas sim confirmar a necessidade de introduzir o homem como critério de base da economia, das finanças, mas também do progresso tecnológico. Um desenvolvimento que não ajuda e não apoia o desenvolvimento da pessoa, não pode ser considerado um verdadeiro desenvolvimento. Portanto foi um apelo a humanizar a economia e também, considerando que o mundo é cada vez mais globalizado e que nenhum país pode enfrentar a situação isoladamente, o Santo Padre pediu se não era tempo de desenvolver um organismo mundial que possa guiar a globalização. Sei que nos Estados Unidos criticaram o Papa acusando-o de querer ser o guia espiritual de um governo mundial, mas é uma bobagem. Seria suficiente ler o que acontece no mundo nestes dias: ninguém tem força suficiente para enfrentar estes fenômenos e esta crise sozinho.

Fonte: http://www.30giorni.it/

A Ascensão do Senhor é a sua entrada na glória e a exaltação humana

Santo Agostinho de Hipona, bispo nos séculos IV e V afirmou que o Senhor após a ressurreição foi exaltado além dos altos céus, sentando-se à direita do Pai.   (Godong contact@godong-photo.com)

"Ainda que os fiéis passem como peregrinos pelo vale deste mundo, muitas vezes de lágrimas, de cruzes, de perseguições, de martírios, mas a vista para o alto, onde está Jesus à direita do Pai dá força para prosseguir os caminhos duros deste mundo. O Senhor está sempre presente pela prática da paz, e do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. A Ascensão de Jesus é a vitória humana sobre o mal, porque à direita do Pai está o Senhor com natureza humana."

por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá (PA)

Após quarenta dias de sua ressurreição, Jesus elevou-se ao céu, onde está sentado à direita do Pai, sendo a sua entrada na glória de Deus. É também a exaltação da natureza humana, a vitória humana sobre o pecado e a morte pela vida de Jesus. A Escritura diz de uma forma clara: “Jesus foi elevado, à vista deles, e uma nuvem ocultou aos seus olhos” (At 1,9). Jesus Cristo entrou novamente na glória de Deus Pai com a natureza humana exaltada. Ele voltou ao Pai de onde estava desde sempre com Deus. A seguir dar-se-á uma visão a respeito da Ascensão do Senhor a partir dos Padres da Igreja os primeiros escritores cristãos.

A festa do oitavo dia

A Igreja dos primeiros séculos celebrava em um conjunto a Páscoa do Senhor pela sua morte, ressurreição e a sua glorificação[1]. A Carta a Barnabé, do século II afirmou que era celebrada com festa alegre o oitavo dia, no qual Jesus ressuscitou dos mortos e, depois de se manifestar, subiu aos céus[2]. A festa da Ascensão não era mencionada, mas havia uma celebração única pelo oitavo dia que era o domingo, dia do Senhor e a Ascensão do Senhor era celebrada pela comunidade dentro da dimensão de sua subida aos céus, à direita de Deus.

A exaltação do Senhor

Santo Agostinho de Hipona, bispo nos séculos IV e V afirmou que o Senhor após a ressurreição foi exaltado além dos altos céus, sentando-se à direita do Pai. Desta forma exortava os fiéis para dar louvores a Deus em Jesus Cristo porque a Igreja como corpo é chamada a ir à glória com o Senhor, visando a participação um dia como membros vivos, porque todos são chamados à unidade em um só corpo, cuja cabeça é o Senhor Jesus[3].

Quarenta dias após a ressurreição do Senhor

São Leão Magno, papa no século V afirmou que a Ascensão ocorreu após quarenta dias da Ressurreição de Jesus. Foram dias santificados, dispostos segundo um plano sagrado e empregado para a instrução, contando a partir da bem-aventurada ressurreição de nosso Senhor Jesus Cristo, pois o poder divino reergueu no terceiro dia, o verdadeiro templo de Deus, Jesus Cristo[4]. O Senhor prolongou a sua presença corporal neste espaço de tempo para dar provas necessárias à fé, à sua ressurreição. Ele apareceu às mulheres, aos apóstolos e outros discípulos demonstrando a verdade de sua nova realidade, a sua ressurreição e depois voltou para a glória do Pai.

A morte de Jesus

São Leão Magno disse que a morte de Jesus turbou os corações dos discípulos pelo fato de que eles estavam cheios de tristeza, por causa do suplício da cruz, pelo último suspiro e do sepultamento do Mestre Jesus. Quando as santas mulheres anunciaram que a pedra tinha sido deslocada no túmulo, o sepulcro estava vazio e os anjos testemunharam que o Senhor estava vivo, suas palavras não receberam muito crédito por parte dos apóstolos[5].

O Papa afirmou que o Espírito da Verdade não permitiu que a vacilação proveniente da fraqueza humana penetrasse na mente de seus discípulos, em vista dos fundamentos da fé cristã, católica. Assim eles viram de modo que instruíram outras pessoas, ouviram, deram a sua instrução, tocaram de modo que confirmaram a vida e a pessoa de Jesus[6], o enviado do Pai e ele voltou ao Pai, pela Ascensão.

A Ascensão, motivo de alegria para os discípulos

São Leão disse também que os discípulos ficaram alegres pela Ascensão de Jesus aos céus. Decorridos os dias entre a ressurreição e a Ascensão do Senhor, a Providência de Deus estabeleceu diante dos olhos e dos corações dos discípulos, o reconhecimento do Senhor Jesus Cristo verdadeiramente ressuscitado, como verdadeiramente ele havia nascido, crescido, sofrido e morrido. Os apóstolos, atemorizados com a morte do Mestre na cruz e oscilantes da fé na ressurreição, fortaleceram-se com a evidência da verdade que a subida do Senhor aos céus não só entristeceu por verem Jesus subindo, mas encheu-os de grande alegria (Lc 24,52)[7].

A natureza humana elevada

O Papa disse que era grande e inefável motivo de júbilo a elevação da natureza humana na presença acima da dignidade de todas as criaturas celestes, ultrapassar as ordens angélicas, dos santos anjos, e subir mais alto que os arcanjos, atingindo o termo de sua ascensão, sendo assentada junto do eterno Pai, sendo assim associada ao trono de glória Daquele a cuja natureza estava sempre em unidade com o Filho[8].

A Ascensão de Cristo é a nossa exaltação

A Ascensão do Senhor é, portanto, a exaltação humana e é para lá onde precedeu a glória da Cabeça, é atraída a esperança do Corpo. É fundamental exultar, repletos de alegria com piedosa ação de graças, porque não só o ser humano foi firmado como possuidor do paraíso, mas até ele foi penetrado com Cristo no mais alto dos céus, tendo obtido pela inefável graça de Cristo, muito mais do que foi perdido no início da criação. O Filho de Deus colocou a natureza humana junto de si, à direita do Pai[9].

Páscoa e Ascensão

Para São Leão Magno as duas solenidades estão bem relacionadas, interligadas. Se na solenidade pascal, a ressurreição do Senhor foi causa da alegria para as mulheres, aos discípulos e para a humanidade, a sua Ascensão aos céus é motivo presente de alegria, enquanto faz-se memória e venera-se aquele dia em que a humildade da natureza  humana em Cristo foi elevada acima de todas as milícias celestes, das ordens dos anjos, além das potestades, ao trono de Deus Pai[10]. É preciso ter fé neste mistério porque ele exalta o ser humano além do que é visível, para estar no invisível.

A felicidade da Ascensão

Cristo deu ao ser humano a felicidade porque tendo consumado a pregação evangélica e tendo cumprido os mistérios do Novo Testamento, no quadragésimo dia após a ressurreição, diante de seus discípulos, elevou-se aos céus (Lc 24,52; Mc 16,19). Ele pôs fim à sua presença corporal, pois permanece à direita do Pai até decorreram os tempos determinados por Deus, na propagação da Igreja pelos seus filhos e filhas e ele volte para julgar os vivos e os mortos, com o mesmo corpo com o qual ele subiu[11]. Para o Papa Leão tudo o que havia de visível no Redentor da humanidade, passou para os mistérios[12]. A fé na Ascensão de Jesus fez muitas pessoas no passado e também no presente a dar a vida pelo Senhor[13].

A sua presença junto ao seu povo

O Senhor Jesus pela sua Ascensão está na majestade paterna de modo que pela maneira inefável começou a estar mais presente pela divindade. São Leão Magno reforçou o dado bíblico que quando Jesus subiu aos céus dois anjos falaram para os discípulos para que vivessem a missão junto ao povo, pois o Senhor virá da mesma forma que ele subiu aos céus (At 1,1)[14]. Jesus garantiu a sua presença no meio do povo de Deus, para que a sua missão na Igreja continuasse nas pessoas deles, através da fé, da esperança e da caridade.

São Leão Magno afirmou que é preciso levantar os olhos dos corações humanos às alturas onde Cristo se encontra. Os desejos da terra não deprimam os espíritos chamados para o alto. Ainda que os fiéis passem como peregrinos pelo vale deste mundo[15], muitas vezes de lágrimas, de cruzes, de perseguições, de martírios, mas a vista para o alto, onde está Jesus à direita do Pai dá força para prosseguir os caminhos duros deste mundo. O Senhor está sempre presente pela prática da paz, e do amor a Deus, ao próximo como a si mesmo. A Ascensão de Jesus é a vitória humana sobre o mal, porque à direita do Pai está o Senhor com natureza humana.

[1] Cfr. V. Saxer - .S. Heid. Ascensione. In: Nuovo Dizionario Patristico e di Antichità Cristiane, diretto da Angelo Di Berardino. Genova-Milano, Marietti, 2006, pg. 569.

[2] Cfr. Carta de Barnabé, 15,9. In: Padres Apostólicos. São Paulo, Paulus, 1995, pg. 310.

[3] Cfr. Agostino. Le Lettere, II,142,1-2 (A Saturnino ed Eufrate). In: La Teologia dei Padri, vol. 4. Roma, Città Nuova Editrice1982, pg. 20.

[4] Cfr. LXXIII Sermão. Primeiro Sermão na Ascensão do Senhor, 1. In: Sermões. Leão Magno. São Paulo, Paulus, 1996, pg. 168.

[5] Cfr. Idem, pg. 168.

[6] Cfr. Idem, pg. 169.

[7] Cfr. Idem, 2, pgs. 170-171.

[8] Cfr. Idem, 4, pg. 171.

[9] Cfr Idem, 4, pg. 171.

[10] Cfr. LXXIV. Segundo Sermão na Ascensão do Senhor, 1Idem, pgs. 172-173.

[11] Cfr. Idem, 2. pg. 173.

[12] Cfr. Idem, pg. 174.

[13] Cfr. Idem, 3, pg. 174.

[14] Cfr. Idem, 4, pg. 175.

[15] Cfr. Idem, pg. 176.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF