Translate

terça-feira, 6 de junho de 2023

“A graça de Deus salvador: livre, suficiente, necessária para nós” (2/6)

Caravaggio, A conversão de Paulo, Capela Cesari, igreja de Santa Maria do Povo, Roma

Arquivo 30Dias – 06/07 – 2009

“A graça de Deus salvador: livre, suficiente, necessária para nós”

Com essas palavras, Giovanni Battista Montini, em suas notas sobre as Cartas de São Paulo, escritas quando ainda jovem sacerdote, sublinha a experiência e a mensagem do Apóstolo.

de padre Giacomo Tantardini

A conversão cristã, para Agostinho e para Paulo, é (permitam-me usar esta imagem de Dom Giussani, que, a meu ver, não tem equivalente) a passagem do entusiasmo da dedicação ao entusiasmo da beleza; do entusiasmo da nossa dedicação, que em si é bom, ao entusiasmo despertado por uma presença que atrai o coração, uma presença que se deixa encontrar gratuitamente e gratuitamente se deixa reconhecer. Paulo não fez nada para encontrá-Lo. O fato de Ele vir gratuitamente ao nosso encontro realiza a passagem da Poderíamos também dizer que, quando temos a graça de viver a mesma experiência que Paulo viveu, uma experiência idêntica à dele, mesmo infinitamente distante dele, é como se todas as palavras cristãs, a palavra fé, a palavra salvação, a palavra igreja, deixassem transparecer a iniciativa de Jesus Cristo. É Ele que desperta a fé. A fé é obra Sua. É Ele que salva. É Sua iniciativa doar a salvação. É Ele que constrói Sua igreja. “Aedificabo ecclesiam meam” (Mt 16, 18). Aedificabo é um futuro: “Edificarei minha Igreja” sobre a profissão de fé de Pedro, sobre a graça da fé doada a Pedro (cf. Mt 16, 18). É Ele que edifica pessoalmente, no presente, a Sua Igreja sobre um dom Seu.

Como é bonito dizer as palavras cristãs mais simples, a palavra fé, a palavra esperança, a palavra caridade, e perceber que essas palavras indicam uma iniciativa d’Ele, permitem vislumbrar um gesto Seu, a Sua ação. Como experimentou Santa Teresinha do Menino Jesus: “Quando sou caridosa, é só Jesus que age em mim”.

Nós, sacerdotes, na segunda semana depois da Páscoa, lemos no breviário as cartas que Jesus envia às sete igrejas, no livro do Apocalipse. Numa dessas cartas, Jesus diz: “Não renegaste a minha fé” (Ap 2, 13). A minha fé. É a fé de Jesus.

Gratia facit fidem”. Como é simples e bela essa expressão de Santo Tomás de Aquino! É a graça que cria a fé. É Ele que se deixa reconhecer. “Ninguém pode vir a mim se o Pai não o atrair” (Jo 6, 44 e 65), diz Jesus. E Santo Agostinho comenta: “Nemo venit nisi tractus / Ninguém vem [a Jesus], se não é atraído”. A fé é iniciativa Sua. A salvação é iniciativa Sua. É iniciativa Sua a Sua Igreja.

Permitam-me contar-lhes um de meus primeiros encontros com Dom Giussani. A oportunidade para esse encontro me foi dada pelo fato de ter conhecido Angelo Scola, o atual patriarca de Veneza, na época do seminário, em Venegono. Foi ele que me levou a encontrar Dom Giussani. Ainda me lembro daquele encontro em Milão. Giussani falava a um grupo de jovens. A certa altura, perguntou: “O que é que nos põe em relação com Jesus Cristo? O que é que, agora, nos põe em relação com Jesus Cristo?”. Alguns responderam: “A Igreja”, “a comunidade”, “a nossa amizade”, etc. Depois de todos esses depoimentos, Giussani repetiu a pergunta: “O que é que nos põe em relação com Jesus Cristo?”, e em seguida deu ele mesmo a resposta: “O fato de que Ele ressuscitou”. Isso não esquecerei jamais! “O fato que Ele ressuscitou”. Porque, se não tivesse ressuscitado, se não estivesse vivo, a Igreja seria uma instituição meramente humana, como tantas outras. Um peso a mais. Todas as coisas meramente humanas, no final, se transformam num peso.

“O que é que nos põe em relação com Jesus Cristo? O fato de que Ele ressuscitou”. A Igreja é a visibilidade d’Ele vivo. “A Igreja não goza de outra vida”, diz o Credo do povo de Deus, de Paulo VI, “senão a vida da sua graça”. Não tem outro início, a cada momento, senão a Sua atração, o fascínio da Sua graça. A igreja é o termo visível do gesto de Jesus vivo que encontra o coração e o atrai.

Ler Paulo, vivendo por graça o que Paulo compreendeu em sua conversão (como diz o Papa), faz Jesus Cristo transparecer em todas as palavras cristãs, dá a todas as palavras cristãs essa leveza. Do contrário, elas se tornam pesadas. Se a fé fosse uma iniciativa nossa, estaríamos acabados. Como é uma iniciativa d’Ele, é sempre possível a renovação do Seu dom. E, portanto, é sempre possível recomeçar. É uma iniciativa d’Ele, a cada instante. “Gratia facit fidem [...] quamdiu fides durat”.

Foi uma coisa muito bonita o fato de, em 1999, a Comissão Teológica de Estudos entre a Igreja Católica e os luteranos, valorizando justamente essa frase de Santo Tomás de Aquino, ter reconhecido que entre a teologia de Lutero sobre a justificação pela fé e os aspectos essenciais da doutrina dogmática do Concílio de Trento, no decreto De iustificatione, há uma surpreendente identidade.

Santo Tomás de Aquino, portanto, diz que “a graça cria a fé não apenas quando a fé começa, mas a cada instante em que dura”. E acrescenta esta observação belíssima: é necessária a mesma atração da graça, o mesmo tesouro de graça, quer para fazer que nós que cremos permaneçamos na fé, hoje, quer para fazer uma pessoa (caso haja aqui alguém que não crê) passar da não-fé para a fé.

Eu disse isso apenas para explicar que a conversão de Paulo, como de todo cristão, se realiza na passagem da iniciativa do homem para a iniciativa de Jesus, para a surpresa da iniciativa de Jesus, para a confessio supplex. Como era bonito, na missa em latim, quando, antes do Sanctus, dizíamos sempre: “Supplici confessione / Com reconhecimento que pede”. Pois não é possível reconhecer uma presença que ama você, a não ser pedindo que ela continue a amá-lo.
Agora, três sugestões.

Fonte: http://www.30giorni.it/

Mediação de Maria - Parte II

Nossa Senhora do Bom Conselho | Vatican News

"A Virgem Santíssima completou na própria carne as dores que faltaram à Cruz de Cristo, segundo o ensinamento de São Paulo (cf. Cl 1, 24). No último século, o Magistério ordinário da Igreja também falou repetidas vezes sobre o mesmo assunto."

Jackson Erpen - Cidade do Vaticano

“Maria é verdadeiramente «Mãe de Deus», pois é a Mãe do Filho eterno de Deus feito homem que, Ele próprio, é Deus. Permaneceu «Virgem ao conceber o seu Filho, Virgem ao dá-Lo à luz, Virgem grávida, Virgem fecunda, Virgem perpétua»; com todo o seu ser; ela é a «serva do Senhor» (Lc 1, 38). A Virgem Maria «cooperou livremente, pela sua fé e obediência, na salvação dos homens». Pronunciou o seu «fiat» – faça-se – «loco totius humanae naturae – em vez de toda a humanidade»: pela sua obediência, tornou-se a nova Eva, mãe dos vivos. (CIC 509 a 511)”

A Constituição Dogmática Lumen Gentium teve por um lado a intenção de esclarecer cuidadosamente o papel fundamental de Maria no mistério do Verbo encarnado e do Corpo místico, bem como "os deveres dos homens resgatados para com a Mãe de Deus, Mãe de Cristo e Mãe dos homens, sobretudo dos fiéis", sem no entanto pretender "propor toda a doutrina acerca de Maria, nem de dirimir as questões ainda não totalmente esclarecidas pelos teólogos".  Neste sentido, esclarece o n. 54, "conservam, por isso, os seus direitos as opiniões que nas escolas católicas livremente se propõem acerca daquela que na santa Igreja ocupa depois de Cristo o lugar mais elevado e também o mais próximo de nós”.

"Mediação de Maria, parte do patrimônio da fé cristã" foi o tema de nosso último programa. Hoje, padre Gerson Schmidt* dá sequência a sua série de reflexões sobre a mediação de Maria:

"Com base na Revista Eclesiástica Pergunte e Responderemos (PR) n. 425, outubro de 1997, p. 445-450, tentamos esclarecer um pouco mais a participação de Maria na obra da Redenção. Antes do Concílio Vaticano II, houve um debate teológico promovido por um grupo de bispos que deseja obter da Igreja a definição solene, como um dogma, de Maria Santíssima como Medianeira, Corredentora e Advogada do gênero humano. Essa corrente foi mais forte, especialmente nos anos de 1959 a 1962, antecedentes ao Concílio Vaticano II (1962-1965), por meio de petições diretas de 256 Bispos desejosos de ver proclamado o dogma da “Mediação universal de Maria Santíssima”, além de outros 48 bispos que pediam a mesma coisa, mas com uma ressalva: “se fosse considerado oportuno”.

O Concílio Vaticano II, por ser ecumênico e pastoral, evitou o atributo de Nossa Senhora ser corredentora, embora a doutrina do Magistério e dos Santos Padres utilizam esse atributo de Maria na história salvífica, sendo cooperadora e medianeira, tendo Cristo como único Mediador e redentor e Maria fazendo parte da ação salvífica de Cristo. Não existe um dogma que proclame Maria corredentora. É tão somente um título que se dá àquela que participou intimamente da obra e da paixão do seu Filho, Salvador da Humanidade. Não se proclamou nenhum dogma e o Papa Francisco ultimamente evitou a discussão de se criar um novo dogma, mas ressaltando Maria como Mãe e discípula. Maria auxilia na obra salvífica enquanto ligado a Cristo, por Ele e para ele. Durante a realização do Concílio, os pedidos para que Nossa Senhora fosse reconhecida como Medianeira, Corredentora e Advogada do gênero humano tornaram-se raros, chegando a cessar à medida que se adiantavam os estudos das diversas sessões conciliares, estudos sempre acompanhados de oração.

Finalmente, a Constituição Lumen Gentium, em seu capítulo VIII, apresenta uma síntese mariana que não contém a definição dogmática da Mediação Universal de Maria. Tal documento foi aprovado, em 21/11/1964, por 2151 votos numa assembleia de 2156 votantes. Este resultado beirava a unanimidade e exprimia bem o pensamento do magistério da Igreja: entre os 2151 votos favoráveis estavam, certamente, quase todos os dos 304 Bispos (256 + 48) que haviam pedido, a seu modo, a definição dogmática da Mediação Universal de Maria Santíssima.

Daí, o Papa Paulo VI, ao encerrar a terceira sessão do Concílio, em 21/11/64, declarou que o capítulo VIII da Lumen Gentium vem a ser a mais vasta síntese que um Concílio ecumênico já ofereceu “da doutrina católica referente à posição que a Santíssima Virgem Maria ocupa no mistério de Cristo e da Igreja” (cf. PR, p. 447).

Um dos pontos altos da Lumen Gentium sobre o tema em foco é o seu longo n. 62, redigido em linguagem teológica elevada: “A maternidade de Maria na dispensação da graça perdura ininterruptamente a partir do consentimento que ela fielmente prestou na Anunciação, que sob a Cruz ela resolutamente manteve e manterá até a perpétua consumação de todos os eleitos. Assumida aos céus, não abandonou esta salvífica função, mas por sua multíplice intercessão continua a granjear-nos os dons da salvação eterna. Por seu maternal amor cuida dos irmãos do seu Filho que ainda peregrinam rodeados de perigos e dificuldades, até que sejam conduzidos à feliz pátria”. A Lumen gentium então declara assim: “Por isto a Bem-aventurada Virgem Maria é invocada na Igreja sob os títulos de Advogada, Auxiliadora, Protetora, Medianeira. Isto, porém, se entende de tal modo que nada derrogue, nada acrescente à dignidade e eficácia de Cristo, o único Mediador”. Completa a declaração da LG: “Com efeito; nenhuma criatura jamais pode ser colocada no mesmo plano com o Verbo Encarnado e Redentor. Mas, como o sacerdócio de Cristo é participado de vários modos seja pelos ministros, seja pelo povo fiel, e como a indivisa bondade de Deus é realmente difundido nas criaturas de maneiras diversas, assim também a única mediação do Redentor não exclui, mas suscita nas criaturas cooperações diversas, que participam dessa única fonte”, que é Jesus Cristo."

*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.

_______________

[1] LAMERA, OP, Marceliano. María, Madre corredentora o la maternidad divino-espiritual de María y la Corredención. In: Estudios Marianos. Madrid. N.7 (1948); p.146.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

São Norberto

São Norberto | arquisp

06 de junho

São Norberto

Norberto nasceu, por volta de 1080, em Xauten, na Alemanha. Filho mais novo de uma família da nobreza, podia escolher entre a carreira militar e a religiosa. Norberto escolheu a segunda, mas buscou apenas prazeres e luxos, como faziam muitos nobres da Europa. Circulava em altas rodas, vestindo riquíssimas roupas da moda, dedicando-se a caçadas e à vida da corte, até que um dia foi atingido por um raio, quando cavalgava no bosque.

Seu cavalo morreu e, quando o jovem nobre despertou do desmaio, ouviu uma voz que lhe dizia para abandonar a vida mundana e praticar a virtude para salvar sua alma. Entendeu o acontecido como um presságio para uma conversa com Deus. A partir daquele instante, abandonou a família, amigos, posses e a vida dos prazeres. Passou a percorrer, na solidão, com os pés descalços e roupa de penitente, os caminhos da Alemanha, Bélgica e França. Para aprimorar o dom da pregação, completou os estudos teológicos no mosteiro de Siegburgo e recebeu a ordenação sacerdotal.

Talvez envergonhado pelo passado, empreendeu a luta por reformas na Igreja, visando acabar com os privilégios dos nobres no interior do cristianismo. Foi muito contestado, principalmente pelo próprio clero, mas conseguiu o apoio do papa e seu trabalho prosperou. Quando as reformas estavam já implantadas e em andamento, retirou-se para a solidão e fundou a Ordem dos Cônegos Regulares Premonstratenses, também conhecida como "dos Monges Brancos", uma referência ao hábito, que é dessa cor.

A principal regra da nova Ordem era fazer com que os sacerdotes vivessem sua vida apostólica com a disciplina e a dedicação dos monges, uma concepção de vida religiosa revolucionária para a época. Mas não encerrou aí seu apostolado, pois desejava continuar como pregador fora do mosteiro. Reiniciou sua obra de evangelização itinerante como um simples sacerdote mendicante.

Em 1126, foi nomeado arcebispo de Magdeburgo, lutando contra o cisma que ameaçava dividir a Igreja naquele tempo. Respeitado pelo rei Lotário III, da Alemanha, foi por ele escolhido para seu conselheiro espiritual e chanceler junto ao papa. Norberto morreu no dia 6 de junho de 1134, na sua sede episcopal, onde foi sepultado.

Ele foi canonizado, em 1582, pelo papa Gregório XIII. Devido à Reforma Protestante, suas relíquias foram trasladadas para a abadia de Strahov, na cidade de Praga, capital da República Tcheca, em 1627, onde estão guardadas até hoje.
Ao lado de são Bernardo, são Norberto é considerado um dos maiores reformadores eclesiásticos do século XII. Atualmente, existem milhares de monges da Ordem de São Norberto, em vários mosteiros encontrados em muitos países de todos os continentes, inclusive no Brasil.

*Fonte: Pia Sociedade Filhas de São Paulo Paulinas http://www.paulinas.org.br

https://arquisp.org.br/

segunda-feira, 5 de junho de 2023

Luz e escuridão espiritual: como a escolha definitiva dos anjos exorta os homens ao caminho da luz

Zwiebackesser | Shutterstock

Por Loo Burnett - Marcello Stanzione

Algumas de nossas escolhas podem conduzir-nos ao destino final dos anjos maus: a condenação eterna.

A angelologia é o estudo aprofundado sobre os anjos, e não tem como adentrarmos nesta área da teologia sem compreendermos a natureza e as virtudes das criaturas celestes, bem como as suas decisões. Diferentemente do homem, os anjos foram criados sem a possibilidade do arrependimento devido à sua natureza espiritual, razão pela qual suas escolhas foram definitivas quando Deus os colocou à prova.

Examinemos quais foram as consequências da escolha que os anjos fizeram: submissão a Deus e a revolta contra ele.

“Os primeiros, diz Santo Agostinho, ajoelhados diante do Verbo, tornaram-se luz; os segundos, habitando em si mesmos, tornaram-se noite”. E como o dia e a noite não podem coexistir, assim como a luz e as trevas não podem coabitar, houve divisão, e divisão irrevogável entre esta luz espiritual e esta escuridão espiritual. A luz espiritual, isto é, os anjos bons, ascenderam à fonte de pura luz que é Deus; as trevas espirituais, isto é, os anjos maus, foram expulsos para as regiões inferiores.

Os anjos no paraíso

Dizemos que os anjos foram criados numa espécie de paraíso de delícias. Nesse paraíso, os anjos bons foram imediatamente conduzidos ao céu superior, onde Deus é visto; os anjos maus foram imediatamente lançados no abismo do inferno.

Por seu ato de submissão, os primeiros mereceram contemplar Deus face a face; em vez disso, por seu ato de rebelião, os anjos maus – os últimos –  mereceram essa exclusão eterna de Deus que se chama condenação.

Um único ato bom colocou o primeiro na alegria da bem-aventurança suprema; uma única má ação mergulhou os segundos na reprovação com sua série de males intermináveis. E isso foi rápido como um flash. “Eu vi, diz Nosso Senhor, Satanás cair do céu como um relâmpago” (Lc 10, 18). 

Mesmo que Deus tenha nos criados inferiores aos anjos –  e dizemos isto pela constituição da natureza material e espiritual, intelecto e vontade –  o Senhor não deixou de nos coroar de graças especiais para que pudéssemos alcançar a salvação. E por isto nosso ser recebeu a possibilidade do arrependimento; somos fracos em comparação aos anjos!

“Entretanto, vós o fizestes quase igual aos anjos, de glória e honra o coroastes”. (Sl 8:6)

Caminho da perfeição

A condenação eterna que receberam os anjos maus acaba por nos exortar ao caminho da perfeição. Podemos expressar que o espírito fica atônito diante desse terrível castigo, tão rápido quanto o pensamento orgulhoso que o provocou e que não deixou espaço para o arrependimento. Mostra-nos claramente que Deus não deve nada aos pecadores senão a justiça, que não é obrigado a dar-lhes tempo de penitência e perdão, que Ele se digna distribuí-lo a nós, pobres criaturas humanas, é apenas por uma bondade pura e gratuita. 

O caráter instantâneo e irrevogável dessa punição também pode ser explicado pelo que foi dito sobre a natureza angélica. A inteligência dos anjos não tem as hesitações da razão humana, vai ao fundo das coisas de uma só vez. A vontade deles não tem as hesitações da nossa; ele se apega inteiro a um propósito com uma energia indomável e uma tenacidade irrevogável. Graças a essa penetração intelectual, a essa força de vontade, os anjos puderam determinar toda a sua vida em um único ato que estabeleceu seu destino eterno, abençoados e condenados, sem retorno possível.

Ato definitivo

No seu grito de submissão a Deus, os bons anjos – a exemplo de São Miguel –  puseram toda a sua inteligência, todo o seu livre arbítrio, todas as suas magníficas faculdades, toda a sua energia incomparável, todo o seu ser, numa palavra, que se encontrou irrevogavelmente fixado no bem e em Deus; assim como os anjos maus –  ludibriados por Lúcifer – lançaram seu grito de revolta, toda a sua bela natureza se desviou com seu vigor nativo e se viu desde então marcada pelo mal que havia escolhido livremente. De ambos os lados o ato foi definitivo; sendo definitiva a escolha, teve o efeito bem compreendido de abrir a porta do Céu para alguns, e a porta do Inferno para outros.

Houve, portanto, em síntese, apenas três momentos na história dos anjos; um primeiro momento que foi o da sua criação e também dos seus júbilos de louvor; uma segunda, durante a qual, tomando posse de si, estabeleceram livremente uma escolha que é definitiva; finalmente um terceiro, que marcava sua recompensa eterna ou seu castigo eterno. O primeiro momento teve uma duração que não é preciso calcular humanamente; a segunda foi absolutamente instantânea, esse tomar posse de si, essa reflexão profunda, esse ímpeto vigoroso rumo a uma meta, fundidos numa duração moral que não se pode estimar; quanto ao terceiro momento, dura e durará para sempre.

Aprender a escolher

Aristóteles expressou um pensamento que São Tomás transmitiu em sua Summa: “Existem, diz ele, seres que atingem seu fim com vários movimentos sucessivos”. Estas são as criaturas humanas que geralmente alcançam a alegria suprema do céu apenas com atos de virtude multiplicada. “Existem outros, continua o filósofo grego, que atingem seu objetivo com movimentos muito simples e em número muito pequeno”. São os anjos que mereceram sua bem-aventurança final com um único ato de virtude que contém a quintessência de todos os atos possíveis. “Finalmente, conclui, há um Ser que possui seu fim sem nenhum movimento.” Este Ser, entende-se, é Deus que encontra sua alegria em si mesmo e que não precisa procurá-la fora de si.

Felizes anjos que imediatamente vieram a Deus como a flecha que acerta o alvo em cheio, como a ave que com um largo golpe de sua asa volta ao ninho! Felizes os homens que compreendem que, mesmo tendo a possibilidade do arrependimento, talvez não tenham tempo de se arrepender e penitenciar! Algumas de nossas escolhas podem conduzir-nos ao destino final dos anjos maus: a condenação eterna. Que aprendamos a escolher como os anjos bons: a luz!

Fonte: https://pt.aleteia.org/

“A graça de Deus salvador: livre, suficiente, necessária para nós” (1/6)

São Paulo, mosaico da Capela Palatina, Palermo

Arquivo 30Dias – 06/07 – 2009

“A graça de Deus salvador: livre, suficiente, necessária para nós”

Com essas palavras, Giovanni Battista Montini, em suas notas sobre as Cartas de São Paulo, escritas quando ainda jovem sacerdote, sublinha a experiência e a mensagem do Apóstolo.

de padre Giacomo Tantardini

Agradeço a quem me convidou para vir a esta bela cidade de Ortona, onde, na Catedral, está preservado o corpo do apóstolo Tomé. Agradeço também a sua excelência dom Carlo Ghidelli, por sua presença neste encontro.

Não tenho a competência específica para falar de São Paulo. O que conheço de Paulo vem simplesmente da leitura de suas Cartas, em particular a leitura que fazemos na santa missa e na oração do breviário, mas creio que isso seja o mais importante. Paulo VI, num discurso proferido num congresso de exegetas sobre a ressurreição de Jesus, citando Santo Agostinho, dizia que, para compreender a Escritura, “praecipue et maxime orent ut intelligant”, a coisa “mais importante e principal é rezar para entender”.

Assim, na oração podemos receber o dom de intuir a experiência que fez Paulo, a experiência de ser amado por Jesus. Ao dar início ao Ano Paulino, o papa Bento XVI disse que Paulo é um nada amado por Jesus Cristo. “Eu nada sou”, diz o próprio Paulo ao final da Segunda Carta aos Coríntios (2Cor 12, 11), e, na Carta aos Gálatas: “Amou-me e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2, 20).
A nós, infinitamente distantes do apóstolo, pode acontecer também a mesma experiência, a mesma comunhão de graça, porque a comunhão dos santos é real. E é essa identidade de experiência, a experiência de sermos gratuitamente amados por Jesus Cristo, que faz as palavras do apóstolo reviverem, que pode tornar Paulo tão próximo, tão chegado, tão amigo, tão familiar.

Eu gostaria de começar lendo algumas frases ditas pelo papa Bento XVI no Ângelus de domingo 25 de janeiro. Este ano, a festa da conversão de São Paulo caiu num domingo, e o Papa, explicando o encontro de Saulo com Jesus no caminho para Damasco (o que lemos também na missa de hoje, nos Atos dos Apóstolos), disse estas palavras que me surpreenderam e confortaram, e que eu reli muitas vezes: “Naquele momento [quando encontrou Jesus: “Eu sou Jesus, a quem tu estás perseguindo” (At 9, 5)] Saulo compreendeu que a sua salvação [podemos até dizer a sua felicidade, pois o reflexo humano da salvação é a felicidade, o reflexo humano da Sua graça é o prazer pela Sua graça] não dependia das boas obras levadas a cabo segundo a lei [fiquei muito impressionado com esse adjetivo, boasBoas obras. O Papa quis sublinhar que a salvação não depende das boas obras, realizadas segundo a lei, obras tão boas como boa e santa é a lei (cf. Rm 7, 12)], mas do fato de que Jesus tinha morrido também por ele, o perseguidor [“Amou-me e se entregou a si mesmo por mim” (Gl 2, 20)], e tinha, e continua, ressuscitado”. A outra palavra que me impressionou foi esse verbo no presente: “Tinha, e continua, ressuscitado”.

Este ano, Bento XVI proferiu vinte meditações sobre Paulo nas audiências de quarta-feira. Uma dessas meditações, talvez a mais bela, a décima primeira, trata da fé de Paulo na ressurreição do Senhor. Comentando o capítulo 15 da Primeira Carta aos Coríntios, o Papa sublinhou que Paulo transmite aquilo que, por sua vez, recebeu (cf. 1Cor 15, 3), ou seja, que “Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras. Foi sepultado, ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras. Apareceu a Cefas, e depois aos Doze” (1Cor 15, 3-5). A ressurreição de Jesus é um fato que ocorreu num momento preciso do tempo, e Aquele que ressuscitou, naquele preciso momento, está vivo hoje, neste momento. Ressuscitou e, portanto, está vivo no presente.

A conversão de Paulo, segundo o Papa, está nessa passagem. A passagem da consideração de que a salvação dependia de suas boas obras, realizadas segundo a lei (a lei é a lei de Deus, a lei são os dez mandamentos de Deus), para o simples reconhecimento de que a salvação era e é a presença de um Outro. Era e é a presença de Jesus.

Ainda no Ângelus de domingo 25 de janeiro, o papa Bento XVI, (e isto chamou minha atenção, também porque o rabino-chefe de Roma, Riccardo Di Segni, por quem tenho grande estima e que posso chamar amigo de 30Dias, salientou essa observação do Papa), disse que não poderíamos falar propriamente de uma conversão de Paulo, pois Paulo já acreditava no Deus único e verdadeiro e era “irrepreensível” no que concerne à lei de Deus. Ele mesmo o diz na Carta aos Filipenses (3, 6).

A conversão de Paulo (e permitam-me aqui retomar as palavras que Santo Agostinho usa para indicar sua própria conversão) é simplesmente a passagem da sua dedicação a Deus para o reconhecimento do que Deus cumpriu e cumpre em Jesus.

Agostinho descreve assim a sua conversão: “Quando li o apóstolo Paulo [e logo depois – pois nem ler as Escrituras é suficiente – acrescenta:] e minhas feridas foram tocadas por vossos dedos e foram por eles curadas, discerni perfeitamente a diferença que havia inter praesumptionem et confessionem / entre a dedicação e o reconhecimento”. Praesumptio não indica a princípio uma coisa ruim. Com o tempo é que descamba para uma presunção ruim; mas, a princípio, indica a tentativa do homem de alcançar o ideal bom que intuiu. A conversão cristã é a passagem dessa tentativa do homem de realizar o bem (as boas obras, como dizia o papa Bento XVI) para o simples reconhecimento da presença de Jesus. Da praesumptio, dedicação, à confessio, reconhecimento. A confessio, o reconhecimento, é como quando a criança diz: “Mamãe”. Como quando a mãe vem ao encontro da criança e esta lhe diz: “Mamãe”.

Fonte: http://www.30giorni.it/

Como usar melhor as redes sociais, segundo o Vaticano

Irmhild B I Shutterstock I Montage Canva

Por Mathilde de Robien

O Dicastério para a Comunicação publicou o documento “Rumo à presença plena”. O texto oferece uma reflexão sobre o uso cristão das mídias sociais, tendo como modelo o Bom Samaritano.

O bom samaritano pode influenciar positivamente comportamento nas mídias sociais. Embora não estejamos mais falando do caminho para Jericó, mas de “rodovias digitais” como o Facebook, TikTok e Instagram, o desafio de chegar ao próximo continua o mesmo.

“A parábola pode inspirar relacionamentos nas redes sociais porque ilustra a possibilidade de um encontro profundamente significativo entre dois completos estranhos”, propõe o texto “Rumo à presença plena: Uma reflexão pastoral sobre a participação nas redes sociais“, publicado em 29 de maio.

O documento é assinado por Paolo Ruffini, prefeito do Dicastério para a Comunicação, e Monsenhor Lucio Ruiz, secretário do mesmo dicastério.

Com 20 páginas, o texto nos convida a refletir sobre como “devemos viver no mundo digital com ‘amor ao próximo’, genuinamente presentes e atentos uns aos outros na nossa viagem comum ao longo das ‘rodovias digitais'”.

O documento, publicado em cinco idiomas, é dirigido a todos os internautas. “Todos nós deveríamos encarar nossa ‘influência’ seriamente. Não existem apenas macroinfluencers com um grande público, mas também microinfluencers. Cada cristão é um microinfluencer. Cada cristão deveria estar ciente da sua influência potencial, seja qual for o número de seguidores que tiver”, afirma o documento.

O resultado é uma atitude cristã, como a do bom samaritano, que todos podem adotar ao postar, curtir ou comentar uma postagem nas redes sociais.

Saiba como melhorar seu comportamento nas redes sociais, segundo o Vaticano:

1PERGUNTE-SE QUEM É O SEU PRÓXIMO NAS REDES SOCIAIS

Assim como a parábola do bom samaritano nos convida a responder à pergunta: “Quem é o meu próximo?”, o texto do Dicastério para a Comunicação nos incita a nos perguntarmos quem é o nosso próximo nas redes sociais. “Ao longo das ‘rodovias digitais’, muitas pessoas são feridas pela divisão e pelo ódio. Não podemos ignorar isto. Não podemos ser apenas viandantes silenciosos”, afirma o documento.

O documento resume: “Reconhecer nosso próximo digital implica reconhecer que a vida de cada pessoa nos diz respeito, até quando sua presença (ou ausência) é mediada através de meios digitais (…) Ser próximo nas redes sociais significa estar presente nas histórias dos outros, especialmente de quem sofre.

2TOMAR CUIDADO COM ISOLAMENTO E A INDIFERENÇA

Os algoritmos das redes sociais têm a capacidade de conectar os usuários de acordo com suas características particulares, gostos, interesses… A desvantagem é que eles criam comunidades de pessoas semelhantes, impedindo que as pessoas “encontrem realmente o ‘outro’ que é diferente”.

O risco é que tais agrupamentos podem levar à indiferença para com os outros, como o sacerdote e o levita da parábola. “Retirar-se no isolamento dos próprios interesses não pode ser o caminho para restabelecer a esperança. Pelo contrário, o caminho a percorrer é o cultivo de uma ‘cultura do encontro’, que promova a amizade e a paz entre pessoas diferentes”, exorta o Dicastério.

É urgente imaginar uma forma diferente de usar as redes sociais, indo “além dos próprios silos, saindo do grupo dos seus ‘iguais’ para se encontrar com os outros”.

3OUVIR E TER COMPAIXÃO

Ouvir é o primeiro passo para alcançar os outros. “A boa comunicação começa pela escuta e a consciência de que outra pessoa está diante de mim. A escuta e a consciência visam fomentar o encontro e superar os impedimentos existentes, inclusive o obstáculo da indiferença”.

No entanto, não há diálogo entre o homem ferido e o samaritano. Para o Dicastério, trata-se de escutar com “o ouvido do coração”, ou seja, abrirmos aos outros com todo o nosso ser. É esta abertura de coração que torna possível a proximidade.

“O samaritano não viu aquele homem espancado como ‘outro’, mas simplesmente como alguém que precisava de ajuda. Sentiu compaixão, colocando-se no lugar do outro; e doou-se a si mesmo, seu tempo e seus recursos para ouvir e acompanhar alguém que ele tinha encontrado”, explica o documento.

É a essa atitude que o exemplo do Bom Samaritano convida todos os internautas.

4AJUDAR A PROMOVER A PROXIMIDADE DIGITAL

O Bom Samaritano, atento e aberto ao encontro dos feridos, é movido pela compaixão para agir e cuidar deles. “Do mesmo modo, nossos desejos de fazer das redes sociais um espaço mais humano e relacional devem traduzir-se em atitudes concretas e gestos criativos”, exorta o Dicastério.

Compartilhar ideias é necessário, mas ideias sozinhas não funcionam; elas precisam se tornar “carne”. O samaritano “não se detém na piedade; ele nem para para enfaixar as feridas de um estranho. Ele vai além, levando o ferido para uma pousada e providenciando a continuidade dos cuidados dele”, continua o documento.

Como isso se traduz em um contexto digital? O Dicastério dá o exemplo de “comunidades de cuidado” que se reúnem para apoiar outras pessoas em caso de doença ou luto, além de comunidades que ajudam alguém em necessidade financeira e que fornecem apoio social e psicológico.

5TIRAR UM TEMPO PARA DESCONECTAR

O documento insiste na necessidade de reservar um tempo para o silêncio, a fim de priorizar o relacionamento com os entes queridos e desenvolver uma vida interior. “Sem o silêncio e o espaço para pensar lenta, profunda e objetivamente, corremos o risco de perder não só as capacidades cognitivas, mas também a profundidade de nossas interações, tanto humanas como divinas. O espaço para a escuta, a atenção e o discernimento deliberados da verdade torna-se raro”.

O documento exemplifica: “Neste caso, o ‘silêncio’ pode ser comparado a uma ‘desintoxicação digital’, que não é simplesmente abstinência, mas ao contrário uma maneira de se comprometer mais profundamente com Deus e com os outros”.

6COMUNICAR A VERDADE

O Dicastério nos convida a ter cautela nas redes sociais e a ter tempo para discernir notícias falsas: “Para comunicar a verdade, primeiro devemos certificar-nos de que veiculamos informações verdadeiras; não apenas na criação de conteúdo, mas também na sua compartilha. Devemos estar certos de que somos uma fonte confiável”.

Além disso, o documento enfatiza a importância de um conteúdo positivo e de qualidade: “Para comunicar a beleza, devemos estar certos de que comunicamos uma mensagem em sua totalidade, o que exige a arte da contemplação – uma arte que nos torna capazes de ver uma realidade ou um acontecimento ligado a numerosas outras realidades e acontecimentos”.

7SER REFLEXIVO, NÃO REATIVO

O Dicastério adverte contra a publicação de conteúdos “possam causar mal-entendidos, exacerbar divisões, provocar conflitos e aprofundar preconceitos”.  Além de sermos devidamente cautelosos antes de publicar conteúdos, também devemos adotar um estilo cristão nas redes sociais. 

“O estilo cristão nas redes sociais deveria ser reflexivo, não reativo. Portanto, todos nós deveríamos prestar atenção para não cair nas armadilhas digitais escondidas em conteúdos intencionalmente concebidos para semear o conflito entre os usuários, causando indignação ou reações emocionais”, explica o texto.

8DAR TESTEMUNHO DA ALEGRIA

“Não estamos presentes nas redes sociais para ‘vender um produto’. Não fazemos publicidade, mas comunicamos a vida, a vida que nos foi concedida em Cristo. Por isso, cada cristão deve ter o cuidado de não fazer proselitismo, mas dar testemunho”.

“Fé significa sobretudo dar testemunho da alegria que o Senhor nos concede. E esta alegria brilha sempre de modo resplandecente contra o pano de fundo de uma memória grata. Falar aos outros sobre a razão da nossa esperança, e fazê-lo com delicadeza e respeito (1 Pd 3, 15), é sinal de gratidão”, diz o documento.

Essa alegria compartilhada pode provocar curiosidade ou questionamento nos outros. E isso é tudo que o Senhor nos pede. “Seguindo a lógica do Evangelho, tudo o que devemos fazer é suscitar uma pergunta, para despertar a procura. O resto é a obra misteriosa de Deus”, lembra o Dicastério.

Fonte: https://pt.aleteia.org/

Francisco de Assis e a natureza: cortesia e reverência

Francisco de Assis e a natureza | Santuário de Canindé

FRANCISCO DE ASSIS E A NATUREZA: CORTESIA E REVERÊNCIA

Dom Beto Breis
Bispo de Juazeiro (BA)

Encerramos recentemente a Semana Laudato Si’, celebrando o oitavo aniversário da Encíclica do Papa Francisco sobre o cuidado da criação. Sua proposta de uma ecologia integral encontra em Francisco de Assis “um modelo belo e motivador”. De fato, os números 10 a 12 desse histórico documento apresentam as características do Poverello que tem inspirado seu pontificado, a começar pela proximidade com os pobres, a escuta atenta de seus clamores e a “o urgente desafio de proteger a nossa casa comum” (13).

A partir de sua profunda e original experiência da paternidade de Deus e de uma vivência surpreendente e inaudita da dimensão horizontal dessa fé, o Assisiense não se colocava acima das outras obras da Criação, mas ao lado delas, consciente de que este planeta é a grande Casa que o Pai terno e amoroso preparou para todos. Compreendia que somos todos irmãos e irmãs nesta casa comum e o ser humano é chamado a ser o representante de Deus no seu cuidado e preservação. Dominar não é antropocentricamente subjugar todos os seres ao bel-prazer de interesses e ambições desmedidos, mas manter a casa (domus) habitável e acolhedora. Se o Cântico das Criaturas, composto por Francisco já cego dos olhos na proximidade da irmã morte, expressa de forma estupenda essa reconciliação e interação com a natureza, os primeiros biógrafos do Santo atestam como Francisco em todas as criaturas reconhecia as marcas indeléveis do Criador e se confraternizava com todas elas, sem desejo de posse e sem atitude depredatória. O Irmão Universal, que acolhe e reverencia indistintamente a todos a partir dos mais pobres e desprezados, é também o irmão cósmico, que não se define pelo que o diferencia das demais obras geradas pelo Artista Divino, mas pelo que com elas possui em comum, numa grande confraternização.

São Boaventura de Bagnoreggio, um dos seus primeiros biógrafos, chega a afirmar que Francisco reconhecia nas coisas belas o Belo por excelência, a fonte e origem de tudo o que existe nesse espaço vital que é a Terra. Os elementos da natureza tornam-se memória explícita do seu Autor e daí sua contemplação e reverência como possibilidade de comunhão e celebração com Ele. Assim, Boaventura sugere que todos os seres criados são como vestígios que permitem o reconhecimento do Criador.  Essa compreensão franciscana repercutiu fortemente em Giotto (1266-1337), iniciador da linguagem artística ocidental, precursor do Renascimento e bastante ligado aos frades menores de Florença. O primeiro grande ciclo giottesco é justamente o de Assis (Basílica de São Francisco) e nestes afrescos é evidente a conclusão de que o pintor bebeu nas fontes do Pobrezinho e de seus companheiros a percepção absolutamente realista do sagrado e positiva da realidade circundante. Rompendo o rigor do dourado bizantino, a Criação (céu esplendidamente azul, cascatas, árvores, montanhas da verde e bela Úmbria…) passa a ser compreendida como caminho, e não obstáculo para se adentrar no Mistério. Beleza e verdade, sem dualismos, pois tudo o que provém da Fonte da Vida é epifânico e diáfano (manifestação) de sua Bondade e presença.

Recordar Francisco de Assis e sua cortesia neste tempo de mudanças climáticas, de ameaças graves aos direitos dos povos originários com o Marco Temporal, de avanço de ávidas mineradoras em grande parte do território de nosso Regional e outras tantas expressões do descuidado humano com a casa-Terra, pois, é relevante. A propósito, sabe-se hoje que não é possível defender a Amazônia sem defender os seus moradores e habitantes. Os povos originários e populações tradicionais além de guardiões de hábitos e costumes milenares são também grandes defensores das florestas.

Como nosso caro Francisco de Roma, importa deixar-se impactar pelo seu atualíssimo testemunho para sermos também nós profetas da vida e defensores da Criação, num modo radicalmente novo de viver e conviver com os irmãos e irmãs que partilham conosco esse habitat comum ainda tão belo e encantador.

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Dom Roberto Francisco: Reavivar o sonho da sustentabilidade

Dom Roberto Francisco - Bispo de Campos (RJ) | Vatican News

A conversão à simplicidade, ao consumo consciente e sustentável precisa ser assumida por todos os cristãos e pessoas de boa vontade, compromissos firmes já pautados na economia de Francisco e de Clara.

Dom Roberto Francisco Ferrerìa Paz - Bispo Diocesano de Campos (RJ)

Neste ano celebramos o jubileu de ouro do Dia Mundial do Meio Ambiente sugerido na Conferência de Estocolmo. O país anfitrião será a República de Côte d’Ivoire com o apoio dos Países Baixos. O tema escolhido para este cinquentenário terá como foco as soluções para a poluição plástica que se constitui uma ameaça crescente a todos os ecossistemas.

Neste sentido foi aprovada na quinta sessão da Assembleia das Nações Unidas (UNEA-5.2) em Nairóbi uma importante resolução para acabar com a poluição plástica, tendo efeito jurídico vinculante até 2024. As estatísticas expressam um verdadeiro grito que brota do fundo do mar, 400 milhões de toneladas de lixo químico despejados por ano.

Também merecem reflexão e atenção os microplásticos, ou seja, pequenas partículas de plástico de até 5 mm de diâmetro que se ingerem em alimentos, água e ar. Cada pessoa do planeta consome mais de 50.000 partículas de plástico por ano, e muitas mais se a inalação for tomada em conta. Torna-se necessária uma nova economia do plástico e uma erradicação e limpeza profunda do lixo marinho, acompanhando todo o ciclo do plástico.

No oitavo ano da Encíclica Laudato Si, queremos unir-nos com um coração de cuidadores e guardiães da Terra e das Águas, para preservar a vida, a saúde e a harmonia na Casa Comum. Este empenho como afirma o título só terá uma resposta generosa e criativa reavivando o sonho de Deus sobre toda a Criação, estabelecendo como Noé uma verdadeira Aliança da Vida, com os povos nativos e originários, para respeitar e venerar os desígnios divinos e a comunhão com todos os seres.

A conversão à simplicidade, ao consumo consciente e sustentável precisa ser assumida por todos os cristãos e pessoas de boa vontade, compromissos firmes já pautados na economia de Francisco e de Clara, caminhos de restauração e cuidado para com nossa amada Casa Comum. Louvado seja Deus!

https://youtu.be/R2h3BKDaAZU

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Dia Mundial do Meio Ambiente

Dia Mundial do Meio Ambiente | Calendarr

Dia Mundial do Meio Ambiente

5 de Junho

O Dia Mundial do Meio Ambiente é comemorado anualmente em 5 de Junho e tem como objetivo promover atividades de proteção e preservação do meio ambiente.

A data serve como alerta à sociedade sobre os perigos de negligenciarmos a tarefa de cuidar do mundo em que vivemos.

Todos os anos, as Nações Unidas dão um tema diferente ao Dia Mundial do Meio Ambiente. Esta foi a forma encontrada pela ONU para dar ideias de atividades que promovam a conscientização da população para preservar o meio ambiente.

Em 2022, ao completar 50 anos desde a origem do Dia mundial do meio ambiente, o tema escolhido para a comemoração foi "Uma Só Terra". 

Origem do Dia do Meio Ambiente

O Dia do meio ambiente foi escolhido, porque no dia 5 de junho de 1972 foi realizada a Conferência de Estocolmo.

Essa foi a primeira conferência das Nações Unidas sobre o ambiente humano. Ela teve início no dia 5 e terminou no dia 16 de junho, e reuniu vários governos e ONG's.

A partir de então, o dia 5 de junho consta no calendário da ONU - Organização das Nações Unidas como o Dia Mundial do Meio Ambiente.

E para complementar essa data, em 1981, foi criada a Semana Nacional do Meio Ambiente, que é comemorada na primeira semana de junho.

Calendarr

Importância do Dia Mundial do Meio Ambiente

Essa data é importante para nos conscientizarmos sobre a necessidade de preservarmos os recursos naturais. Além disso, para refletirmos sobre os impactos ao meio ambiente provocados pela atividade humana, uma vez que é perceptível o crescente número de problemas ambientais ao longo dos anos.

Proteger e melhorar a relação entre a sociedade e a natureza é um dever de todos e pequenas ações podem ter grandes impactos, por isso a necessidade de discutir o tema.

Por exemplo, quando as pessoas jogam lixo no chão os materiais são arrastados pela chuva e se acumulam nos bueiros. Com isso, a água não tem para onde escoar e aumentam as chances de ocorrer alagamentos e até enchentes.

Hábitos que ajudam o meio ambiente

Confira algumas dicas de ações simples que você pode fazer no seu dia a dia e colaborar para a preservação do meio ambiente.

1. Jogue o lixo em locais adequados. Exemplo: não jogue lixo no chão e não jogue o óleo comestível no encanamento.

2. Pratique o consumo consciente. Exemplo: evite desperdiçar comida e comprar mais do que precisa.

3. Economize energia elétrica. Exemplo: em casa, mantenha a luz acesa apenas no cômodo que você está e deixe na tomada só os aparelhos que estiver usando.

4. Reutilize materiais. Exemplo: recipientes de vidro podem se tornar peças de decoração ou servir para armazenar outras coisas.

5. Economize água. Exemplo: ao escovar os dentes mantenha a torneira fechada e diminua o tempo com o chuveiro aberto no banho.

6. Diminua a utilização de materiais descartáveis. Exemplo: para o trabalho ou escola leve seu próprio copo na bolsa.

7. Separe o lixo corretamente para que os resíduos tenham o destino correto. Exemplo: em casa, identifique baldes para cada tipo de lixo.

O que fazer para celebrar o meio ambiente?

·         Pintar um mural sobre a natureza;

·         Ajudar a limpar uma praia;

·         Fazer coisas com material reciclado;

·         Plantar uma árvore;

·         Fazer um mini jardim em sua casa;

·         Começar a separar o lixo para ser reciclado;

·         Ajudar a limpar um parque público;

·         Brincar ao ar livre.

Frases para refletir sobre o meio ambiente

"Ambiente limpo não é o que mais se limpa e sim o que menos se suja." (Chico Xavier)

"É triste pensar que a natureza fala e que o gênero humano não a ouve."  (Victor Hugo)

"Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome." (Mahatma Gandhi)

Outras datas relacionadas com o meio ambiente

Confira algumas outras datas que chamam a atenção para assuntos relacionados com o meio ambiente e que são importantes para conscientização.

·         Dia Nacional da Conscientização sobre as Mudanças Climáticas – 16 de março

·         Dia Mundial da Água – 22 de março

·         Dia da Conservação do Solo – 15 de abril

·         Dia da Terra – 22 de abril

·         Dia Internacional da Biodiversidade – 22 de maio

·         Dia Mundial dos Oceanos – 8 de junho

·         Dia da Proteção das Florestas – 17 de julho

·         Dia da Árvore – 21 de setembro

·         Dia do Consumo Consciente – 15 de outubro

Leia também: Semana do Meio Ambiente

Outras Datas Comemorativas

·         Abr 28 SEX

Dia Nacional da Caatinga

 

·         Jun 01 QUI

Semana do Meio Ambiente

 

·         Jun 05 SEG

Dia Nacional da Reciclagem

 

·         Jun 05 SEG

Dia da Ecologia

 

·         Set 16 SÁB

Dia Internacional para a Preservação da Camada de Ozônio

 

·         Nov 06 SEG

Dia Internacional para a Prevenção da Exploração do Meio Ambiente em Tempos de Guerra e Conflito Armado

Fonte: https://www.calendarr.com/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF