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domingo, 27 de julho de 2025

Formação da personalidade (3): O correto amor a nós mesmos (Parte 2/2)

Foto/Crédito: Opus Dei

Formação da personalidade (3): O correto amor a nós mesmos

O autoconhecimento, com virtudes e defeitos, me faz feliz?

13/07/2021

Aceitação pessoal: o Senhor nos ama assim

Ao considerar o nosso modo de ser à luz de Deus, estamos em condições de nos aceitarmos como somos: com talentos e virtudes, mas também com defeitos que admitimos humildemente. A verdadeira autoestima implica reconhecer que nem todos são iguais e aceitar que outras pessoas podem ser mais inteligentes, tocar melhor um instrumento musical, ser mais atléticas... Todos temos boas qualidades que podemos desenvolver e, o que é mais importante, todos somos filhos de Deus. Nisso consiste a genuína autoaceitação, o sentido positivo do amor próprio do cristão que quer servir a Deus e aos outros, rejeitando as comparações excessivas que poderiam nos levar à tristeza.

Também nos aceitaremos como somos se não perdemos de vista que Deus nos ama com as nossas limitações, que fazem parte do nosso caminho de santificação e são matéria da nossa luta. O Senhor nos escolhe, como os primeiros Doze: homens comuns, com defeitos, com fraquezas, com a palavra mais fácil que as obras. E, entretanto, Jesus chama-os para fazer deles pescadores de homens, corredentores, administradores da graça de Deus[5].

Diante dos sucessos e dos fracassos

Com base nessa perspectiva sobrenatural, contemplam-se com maior profundidade o nosso modo de ser e a nossa trajetória biográfica, compreendendo todo o seu sentido. Relativizamos, com uma visão de eternidade, os sucessos e as conquistas temporais. Então, se nos alegramos com o sucesso na nossa atividade, sabemos também que o mais importante é que esta tenha servido para crescer em santidade. É o realismo cristão, maturidade humana e sobrenatural, que, do mesmo modo que não se deixa levar pela exaltação, que pode provocar o triunfo ou elogios, não se deixa levar pelo pessimismo diante de uma derrota. Como ajuda dizer, como São Pedro, que fizemos o bem em nome de Jesus Cristo Nazareno![6]

Ao mesmo tempo, admitir que as dificuldades externas e as próprias imperfeições limitam as nossas conquistas é um dos aspectos que dá forma à nossa autoestima, fundamenta a maturidade pessoal e abre as portas do aprendizado. Só podemos aprender com o reconhecimento das nossas carências e com a atitude de extrair experiências positivas do que aconteceu. Fracassaste! – Nós nunca fracassamos. – Puseste por completo a tua confiança em Deus. Não omitiste, depois, nenhum meio humano. Convence-te desta verdade: o teu êxito – agora e nisto – era fracassar. – Dá graças ao Senhor e... torna a começar![7]. Estamos em condições de empreender o caminho da Cruz, que mostra os paradoxos da fortaleza da fraqueza, a grandeza da miséria e o crescimento na humilhação, e ensina sua extraordinária eficácia.

Trabalhar com segurança e saber retificar

A segurança pessoal é mais firme quando nos apoiamos em saber-nos filhos amados de Deus, e não na certeza obter o sucesso, que muitas vezes foge de nós. Essa convicção permite tolerar o risco que acompanha qualquer decisão, superar a paralisia da insegurança e ter uma atitude de abertura à novidade. Não é prudente quem nunca se engana, mas quem sabe retificar os seus erros. Esse é prudente porque prefere não acertar vinte vezes a deixar-se levar por um cômodo abstencionismo. Não atua com tresloucada precipitação ou com absurda temeridade, mas assume o risco das suas decisões e não renuncia a conseguir o bem por medo de não acertar[8].

Partindo das limitações pessoais e da capacidade de aprender do ser humano, retificar supõe uma melhoria, um enriquecimento pessoal que, por sua vez, reverte nas coisas e pessoas que nos rodeiam, contribuindo simultaneamente a aumentar a confiança em nós mesmos e no ambiente em que vivemos. Quem se põe nas mãos do Pai celestial está seguro, pois todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus[9], inclusive as quedas, quando pedimos perdão ao Senhor e, com a sua graça, nos levantamos com mais humildade. Deste modo, saber retificar faz parte do processo de conversão: Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos a nós mesmos, e a verdade não está em nós. Se reconhecemos os nossos pecados, (Deus aí está) fiel e justo para nos perdoar os pecados e para nos purificar de toda iniquidade[10].

Uma virtude indispensável

A autoestima cresce, em síntese, com a ajuda da humildade, porque é a virtude que nos ajuda a conhecer simultaneamente a nossa miséria e a nossa grandeza[11]. Quando falta essa atitude da alma, não é raro que apareçam problemas de estima pessoal. Mas quando se cultiva, a pessoa se enche de realismo, e se avalia de modo certo: não somos homens nem mulheres impecáveis, mas também não somos seres corrompidos! Somos filhos de Deus, e, acima das nossas limitações, temos uma dignidade inesperada.

A humildade gera um ambiente interior que permite conhecer-nos como somos e nos impulsiona a procurar sinceramente o apoio dos outros, ao mesmo tempo que os damos o nosso. Em última análise, todos e cada um de nós necessitamos de Deus, em quem vivemos, nos movemos e existimos[12], que é Pai misericordioso e vela continuamente por nós. Quanta segurança e confiança existiram na vida de Santa Maria! Ela pôde dizer realizou em mim maravilhas aquele que é poderoso e cujo nome é Santo[13] por ser muito consciente da sua humildade de escrava de Deus[14]. Nela, humildade e consciência da grandeza da própria vocação se conjugam maravilhosamente.

J. Cavanyes


[5] É Cristo que passa, n. 2.

[6] At 3,6.

[7] Caminho, n. 404.

[8] Amigos de Deus, n. 88.

[9] Rm 8,28.

[10] 1 Jo 1,8-9.

[11] Amigos de Deus, n. 94.

[12] At 17,28.

[13] Lc 1, 49.

[14] Lc 1, 48.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/o-bom-amor-proprio/

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