Por Solène Tadié*
18 de julho de 2025
A decisão de um bispo francês de remover a Fraternidade
Sacerdotal de São Pedro (FSSP) das comunas francesas de Valence e Montélimar no
fim do verão francês reacendeu as tensões sobre o papel da missa tradicional em
latim na França.
A diocese justificou sua decisão alegando o recorrente
desrespeito da comunidade às orientações diocesanas — especialmente em relação
à concelebração, que não existe na liturgia tradicional — e disse que a medida
tinha como objetivo promover a unidade paroquial.
O impacto da medida sobre uma comunidade tradicionalista
florescente na região sudeste de Drôme, no entanto, gerou forte reação e parece
refletir um padrão mais amplo de conflito em toda a França desde a publicação
de Traditionis custodes em julho de 2021, motu proprio do
papa Francisco que restringe a missa rezada segundo a liturgia anterior à
reforma do Concílio Vaticano II.
A FSSP, sociedade clerical de vida apostólica dedicada à
liturgia tradicional, atua em Valence e Montélimar há cerca de duas décadas.
Seus sacerdotes — em particular o padre Bruno Stemler, designado para Valence
desde 2017 — têm atraído um número crescente de fiéis, muitos deles famílias
jovens.
Uma paróquia dentro da paróquia
Em comunicado datado de 15 de maio, o bispo de Valence,
François Durand, anunciou que, a partir de 1º de setembro, a celebração da
missa tradicional em latim em Valence seria confiada ao clero diocesano. Ele
disse que um padre da FSSP poderá continuar celebrando o rito mais antigo uma
vez por semana em Montélimar, aguardando novas discussões. A catequese e
atividades como o coral gregoriano também poderão continuar, mas sob supervisão
paroquial.
Um ponto-chave de discórdia tem sido a recusa da FSSP em
concelebrar missas — entre elas a missa do crisma — conforme permitido por suas
constituições, reafirmadas pelo papa Francisco em 2022 e 2024. Para os líderes
diocesanos, essa recusa em concelebrar — prática na qual vários padres celebram
a missa em conjunto num único altar — sinaliza uma falta de comunhão eclesial.
Em carta de acompanhamento aos seus paroquianos, o bispo
Durand enfatizou que a medida não era uma sanção pessoal contra o padre
Stemler, mas disse que o padre estava conduzindo iniciativas pastorais
"sem levar em conta as orientações diocesanas".
O vigário-geral de Valence, padre Éric Lorinet, criticou
ainda mais a abordagem da FSSP falando à revista francesa Famille
Chrétienne, dizendo que ela funcionava "como uma paróquia dentro da
paróquia", causando atrito com o clero local e prejudicando a unidade
presbiteral.
O anúncio, no entanto, foi um choque para os paroquianos.
Cerca de 400 membros assinaram uma carta aberta descrita como um "grito do
coração" instando o bispo a reconsiderar. Um pequeno grupo iniciou uma
rigorosa vigília de jejum e oração perto da igreja de Notre-Dame em Valence.
Da perspectiva dos fiéis, a decisão ameaça uma comunidade
vibrante e crescente, que agora tem cerca de 200 participantes regulares só em
Valence, além de 13 grupos de catequese.
Uma longa série de confrontos
A disputa em Valence é o mais recente de uma série de
conflitos em torno da liturgia tradicional na França — país que, junto com os
EUA, abriga um dos movimentos tradicionalistas mais dinâmicos do mundo. Essas
comunidades, conhecidas por seu zelo missionário e população jovem, são
frequentemente vistas com cautela por bispos.
Em junho de 2021, pouco antes da publicação de Traditionis
custodes, a arquidiocese de Dijon, no leste da França, expulsou a FSSP da
basílica de Fontaine-lès-Dijon depois de 23 anos de presença, alegando
problemas logísticos. Um mês depois, a comunidade perdeu a licitação para
adquirir a abadia medieval de Pontigny, apesar de ter oferecido um preço mais
alto do que o comprador, uma fundação secular que planejava converter o local
num resort de luxo, supostamente devido, em parte, à falta de
apoio diocesano.
Enquanto isso, em Isère, na região dos Alpes, os paroquianos
iniciaram uma greve de doações depois que o bispo de Toulouse, Guy de Kerimel,
acusou os participantes da missa tradicional de solapar a validade da
missa novus ordo, a liturgia aprovada por são Paulo VI em 1970 de
acordo com os princípios do Concílio Vaticano II. Em Paris, o arcebispo Michel
Aupetit também reduziu o número de igrejas autorizadas a celebrar a missa em
latim de cerca de uma dúzia para cinco, gerando descontentamento.
Os paroquianos de Bastia, na Córsega, protestaram contra a
transferência de seu padre, Sébastien Dufour, de uma paróquia central para uma
capela mais remota, medida que eles consideram marginalização da missa em
latim.
O caso de maior visibilidade, no entanto, continua sendo a
renúncia forçada, no início deste ano, do bispo de Fréjus-Toulon, Dominique
Rey, conhecido por fazer de sua diocese um centro de renovação tradicionalista
e carismática.
Uma possível saída para a crise
Esses desenvolvimentos cumulativos alimentaram temores entre
muitos fiéis de que o afastamento gradual das comunidades tradicionais possa
levar a um afastamento em direção à Fraternidade São Pio X, fundada pelo bispo
francês Marcel Lefebvre (1905-1991), que permanece canonicamente separada de
Roma.
Esse mal-estar provavelmente será um dos muitos temas
delicados para o papa Leão XIV, que herdou o complexo legado da Traditionis
custodes e sua contestada implementação. Em 7 de julho, ele
estabeleceu um novo grupo de trabalho sinodal sobre a liturgia, conforme
solicitado pelo Sínodo da Sinodalidade — ação vista como sinal de seu desejo de
dedicar tempo e fazer amplas consultas antes de tomar novas decisões.
Observadores dizem que a próxima nomeação de um novo
prefeito para o Dicastério para o Culto Divino, cujo prefeito, o cardeal Arthur
Roche, está perto da idade de aposentadoria, será um sinal fundamental da
direção litúrgica do papa Leão XIV.
*Solène Tadié é correspondente europeia do National
Catholic Register. Ela é franco-suíça e cresceu em Paris (França). Depois de se
formar em jornalismo pela Universidade Roma III, ela começou a fazer matérias
sobre Roma e o Vaticano para a Aleteia. Ingressou no L’Osservatore Romano em
2015, onde trabalhou sucessivamente na seção francesa e nas páginas culturais
do jornal italiano. Ela também colaborou com várias organizações de mídia
católicas de língua francesa. Solène é bacharel em filosofia pela Pontifícia
Universidade de São Tomás de Aquino.
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