A CERTÍSSIMA ESPERANÇA
18/08/2025
Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
No vasto cenário de cenário do mundo, a
esperança não se apresenta como um estandarte triunfante, mas como uma chama
pequena que resiste ao vento. Há momentos em que parece quase se extinguir nas
brumas de dos acontecimentos; ainda assim, permanece, silenciosa, firme, quase
tímida, mas invencível, pois a força verdadeira não se mede pela lâmina da
espada, mas pela coragem de seguir caminhando quando o caminho parece sem
saída.
Na Escritura, essa lógica encontra eco no livro da Sabedoria
(18,6-9), onde a esperança nasce numa noite em que Israel se vê cercado pelo
poder do Egito. É noite de opressão, mas também de promessa. O povo não é
chamado a se armar, mas a confiar. E é essa confiança que o conduz à
libertação.
Jesus, no Evangelho (Lc 12,32-48), retoma essa mesma
perspectiva, ao dizer: “Não tenhais medo, pequenino rebanho, pois foi do agrado
do Pai dar a vós o Reino”.
Não é palavra de consolo, mas um decreto silencioso de
vitória. O Reino não é um projeto que se constrói pela força humana, mas dom
irrevogável que brota da generosidade de Deus. Por isso, a esperança não é
fragilidade exposta ao vento. Ela tem raiz cravada na terra fértil da promessa
divina.
A vigilância do discípulo não nasce do receio de perder
algo, mas da alegria de quem espera alguém. Vigiar, no Evangelho, não é esperar
com ansiedade. É, bem mais transformar o tempo da demora em tempo fecundo,
tecido de fidelidade e amor. Quem ama, espera, e espera com alegria.
Os grandes mestres da fé entenderam esse mistério. Santo
Agostinho escreveu que “esperar é já amar”, como quem afirma que a esperança é
um amor lançado para o amanhã. Tomás a descreve como “tensão firme por um bem
futuro, difícil, mas possível com a ajuda de Deus” (Suma Teológica,
II-II, q.17). E Bento XVI, em Spe Salvi, proclama: “Quem tem
esperança vive de modo diferente; foi-lhe dada uma vida nova”.
Na caminhada neste mundo, não é o vigor físico que o
sustenta mas a esperança! Ela é uma luz que, embora pequena, ainda é maior que
a grande sombra.
Assim também vive o católico. De um lado, guardamos a
memória da libertação já recebida; de outro, contemplamos a promessa de um
encontro ainda por vir. A esperança é mais forte que a morte porque se apoia
naquele que já venceu a morte. É mais que otimismo humano, é certeza nascida da
fidelidade divina. É força que atravessa gerações, sustenta os pobres, renova a
Igreja e abre caminhos onde antes só havia muros.
A Palavra ressoa clara: “Não tenhais medo”! A esperança não
se apaga porque Deus não se retrata. É ela, e não a força bruta, que carrega o
mundo nos ombros. É a virtude que ousa esperar quando tudo parece perdido,
porque sabe que o Senhor vem. E, quando Ele vier, será como a aurora que rompe
a noite mais longa do mundo.
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