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domingo, 26 de outubro de 2025

“Não temas, pequeno rebanho”. Evangelizar em uma época de mudanças (1) (Parte 3/3)

Combate, proximidade e missão (Opus Dei)

“Não temas, pequeno rebanho”. Evangelizar em uma época de mudanças (1)

É hora de mudar o olhar, de passar da nostalgia à audácia, de uma fé em posição defensiva a uma fé que propõe com confiança uma visão do mundo e da vida.

23/10/2025

Uma fé que procura mil modos de ser anunciada

E então? Então é a hora de ter outro olhar, de passar da nostalgia à audácia, de uma fé defensiva a uma fé que propõe com confiança uma visão do mundo e da vida. Diante deste mundo tão prometedor, mas aparentemente cheio de gigantes – tecnológicos, financeiros, culturais, mediáticos – somos chamados a confiar em Deus e a tomar uma decisão. Podemos idealizar com nostalgia os “bons tempos passados”: é tão fácil pensar, agora, que antes tudo era mais fácil... No entanto, além de que não era bem assim, nem sequer em toda parte, tal olhar bloqueia o apóstolo que observa com apreensão este mundo pós-cristão, e espera que melhore sozinho. A confiança em Deus, pelo contrário, leva-nos a olhar à frente e a enfrentar com assombro juvenil um mundo que tem às vezes muito mais de pré-cristão, porque deve descobrir, quase outra vez, a novidade de Cristo.

“Quem é esta que surge como a aurora, bela como a lua, brilhante como o sol?” (Ct. 6, 10). Nesta passagem bíblica, São Gregório Magno descobre a Igreja como o verdadeiro amanhecer do mundo, embora este amanhecer esteja a caminho até o final dos tempos. O novo dia não está atrás de nós, e sim na frente: “Nós, que nesta vida vamos seguindo a verdade somos como o alvorecer ou o amanhecer, porque já atuamos em parte segundo a luz, mas, em parte conservamos também restos de trevas (...). A santa Igreja dos eleitos será pleno dia quando já não tiver mistura alguma da sombra do pecado”[8].

Este olhar, que não é simplesmente um bonito ponto de vista, permite que nos enchamos de esperança e aceitemos o desafio que São João Paulo II lançou-nos quando começou a falar de uma “nova evangelização”[9]: uma renovada ação apostólica que requer cada vez mais iniciativa e criatividade pessoal. Se é verdade que hoje a Igreja já não pode contar com o vento a favor da cultura dominante, do “espírito dos tempos”, continua tendo, no entanto, um vento muito mais poderoso, o Espírito da verdade que, também nesta nova era de missão apostólica nos ensinará e nos recordará tudo (cfr. Jo 14, 26), para que possamos levar a todas as partes a vitalidade renovadora do Evangelho.

Hoje podemos reconhecer novamente em nossa própria pele – por nossa fragilidade, tanto numérica como pessoal – essa experiência de São Paulo: “Levamos um tesouro em vasos de barro” (2 Cor 4, 7). E talvez, precisamente agora, neste tempo que nos põe à prova, Deus nos convide a uma atitude mais missionária, criativa, pessoal, como a dos apóstolos e dos primeiros discípulos. Com uma fé que não se limita a defender-se, mas que procura mil modos de ser anunciada. “Impelidos pela força da esperança, (...) redescobriremos o mundo numa perspectiva feliz, porque o mundo saiu belo e limpo das mãos de Deus, e é assim, com essa beleza, que o havemos de restituir a Ele”[10].

“Não temais, pequeno rebanho, porque foi do agrado de vosso Pai dar-vos o Reino” (Lc 12, 32). Assim confortava Jesus o pequeno grupo de discípulos desorientados e cheios de dúvidas que o rodeava. E Ele o repete hoje a nós. Quando a fé é viva, é contagiosa. E essa vitalidade a torna perdurável. Os primeiros cristãos não tinham poder, nem estruturas, nem números. No entanto, um a um, com o fogo de Cristo que levavam no coração[11], transformaram o coração de muitos. Nós, cristãos de hoje, somos chamados a viver mais uma vez a parábola de Jesus que também descreve a Igreja das primeiras gerações: o levedo é pouco, mas fermenta toda a massa (cfr. Mt 13, 33).


[8] São Gregório Magno, Tratados morais sobre Jó 29, 2-4 (PL 76, 478-480).

[9] São João Paulo II usou pela primeira vez esta expressão em uma homilia na Polônia, no dia 9/06/1979 e repetiu de um modo jamais programático no Haiti no dia 9-03-1983; nessa ocasião falou de “uma evangelização nova. Nova em seu ardor, em seus métodos, em sua expressão”. Cfr. também Christifideles laici (1988), nn. 34-35, Redemptoris Missio (1990) nn. 33-34 e Novo Millennio ineunte (2001) n. 40.

[10] São Josemaria, Amigos de Deus, n. 219.

[11] Cfr. Caminho, n. 1.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/nao-temas-pequeno-rebanho-evangelizar-em-uma-epoca-de-mudancas-1/

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