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terça-feira, 21 de outubro de 2025

Padre Mattia Ferrari: “Sem os movimentos populares, a democracia se atrofia”

Padre Mattia Ferrari, capelão da ONG Mediterrânea e coordenador do EMMP   (©P. Johan Pacheco)

O 5º Encontro Mundial dos Movimentos Populares (EMMP) se realiza em Roma a partir desta terça-feira, 21/10, e vai até o dia 24/10. Já a peregrinação ocorre entre os dias 25 e 26/10. O capelão da ONG Mediterrânea e coordenador do EMMP explica como nasceu esse “espaço fraterno”. “Pedimos à sociedade de hoje”, ressalta, “de assumir o desafio da complexidade e a cultura do encontro”.

Francesco De Remigis - Cidade do Vaticano

O Encontro Mundial dos Movimentos Populares, coordenado pelo padre Mattia Ferrari,  é um espaço fraterno, presente nos cinco continentes. À mídia do Vaticano, o sacerdote conta que essa experiência nasceu dos quatro encontros romanos dos Movimentos Populares. Hoje é uma rede que une seis países e se põe a serviço das relações dos movimentos com a Igreja e com os diversos atores sociais. Um processo iniciado em várias localidades, entre elas, Buenos Aires. Depois, se expandiu para outras partes do mundo onde os movimentos populares caminham com as igrejas locais e com os movimentos sociais. Eles são formados pelos excluídos que se organizam para lutar por moradia, por trabalho, pela terra, por comida e para construir novas relações sociais, transformando a solidariedade em uma forma de fazer história. 

Dos agricultores aos migrantes

“Estamos celebrando o quinto encontro e o primeiro do pontificado do Papa Leão XIV. Depois, haverá a peregrinação jubilar dos movimentos populares”, explica Pe. Ferrari. “É uma graça de Deus celebrar este encontro”, acrescentou. Perguntado sobre como as atividades dessa onda de participação popular têm se desenvolvido, ele disse: “Os movimentos populares são formados pelos excluídos do sistema, pelos descartados, recicladores, camponeses, migrantes e todos aqueles que, de várias maneiras, são oprimidos pelo sistema socioeconômico. Em vez de se conformarem, eles se organizam para mudar a situação, para construir a solidariedade por meio das relações sociais, para lutar contra as injustiças, para praticar e construir uma nova sociedade e uma nova economia. Essa grande galáxia de realidades ao redor do mundo pode ser abarcada na expressão ‘Movimentos populares’”.

Os pobres se organizam e caminham com a Igreja

“Esse percurso nasceu, paralelamente, em muitas partes do mundo, em muitas cidades, muitas campanhas, onde os Movimentos Populares - que não são necessariamente católicos, mas reúnem católicos, aqueles que professam outras religiões ou nenhuma religião - começaram a caminhar com a Igreja, a experimentar a sua presença materna que os acompanha”, continua Padre Ferrari. 

Ele recorda que isso aconteceu também em Buenos Aires, “quando o cardeal Jorge Mário Bergoglio era arcebispo e, então, nasceu esse acompanhamento pastoral, com o qual a Igreja começou a levá-los pela mão, pelos motivos que explicou o Papa Leão na Dilexi te: porque a Igreja vive esse amor aos pobres e, consequentemente, aos movimentos populares, onde os pobres se organizam e constroem solidariedade”. 

Um “caminho sinodal’ começou em 2014

Padre Mattia Ferrari explica que, quando o arcebispo Bergoglio se tornou Papa Francisco, “tendo vivido esse acompanhamento em primeira pessoa e visto que, em muitas partes do mundo, existia essa experiência pastoral, junto aos Movimentos ele pensou que havia chegado o momento de construir um processo que, reunindo as experiências locais, estivesse a serviço dessas relações a nível local e universal”. 

O percurso foi iniciado em 2014, a serviço das relações dos movimentos populares entre si e com a Igreja, para juntos conseguir organizar a esperança. Isso porque, para ela ser concreta, é necessário que seja organizada. Sobretudo, afirma Padre Ferrari, “é um caminho sinodal. Francisco disse isso já no primeiro encontro”. 

A continuidade entre Francisco e Leão

Daquele primeiro encontro de 2014, relata padre Mattia, o que veio depois “foi uma graça de Deus, que foi possível graças ao trabalho de muitos, graças à Igreja, graças a todos aqueles que participaram. É um grande processo. Estamos gratos e surpresos por esta grande participação. Não é inexplicável, mas é uma surpresa”.

Ele afirma que, entre outras coisas, durante audiência com o Papa Leão, nestes dias, os movimentos serão acompanhados pelas Igrejas locais do Panamá, Filipinas, Senegal e Estados Unidos. O grande desafio que os Movimentos Populares lançam em todo o mundo, enfatiza o coordenador do EMMP, é aquele de “assumir o desafio da complexidade e da cultura do encontro nesta sociedade. Vemos, ao contrário, que as pessoas preferem frequentemente fugir do encontro e partir para o confronto”.  

Para Pe. Ferrari, em vez disso, os Movimentos Populares, com sua humildade, dizem: “Se quisermos verdadeiramente assumir os desafios que a história coloca diante de nós, devemos assumir o desafio do encontro, da humildade, e da perseverança, como disse Papa Leão no seu primeiro discurso: ‘caminhar juntos, mesmo com quem pensa diferente de nós”.

De Francisco à Dilexi te

Segundo o sacerdote, “é fundamental recordarmos que, sem os Movimentos Populares, a democracia se atrofia, como disse Francisco e reitera Leão em sua Exortação Apostólica".  Corre o risco de se tornar uma democracia formal. Em vez disso, ela é verdadeira quando é substancial, quando os povos participam ativamente. O nosso caminho tem também esse objetivo: a coisa mais importante da vida são as relações. Devemos fazer de modo que todos os atores sociais tenham relações vivas.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

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