Fatos e Fotos - Comunidade I

domingo, 7 de dezembro de 2025

Qual o significado da palavra “Paz”?

São José com o Menino Jesus, Guido Reni | 30Giorni.

NATAL 2000

Arquivo 30Dias nº 12 - 2000

Carta ao editor do jornal La Repubblica, publicada em 24 de dezembro.

Qual o significado da palavra “Paz”?

Uma carta de Luigi Giussani ao diretor de la Repubblica.

Prezado Editor, a bomba colocada há alguns dias na Catedral de Milão sugere um ataque à fonte da "paz e reconciliação para todos", como disse o Cardeal Martini em seu comentário sobre o incidente. Todos clamam por paz, crentes e não crentes, esquerda e direita, uma paz que se torna ainda mais evidente quanto mais a violência parece ser o único fator realmente eficaz para uma ou outra das partes em conflito. Assim, qualquer pessoa movida pelo desejo de paz não consegue evitar a desconfiança que mina todos os aspectos da segurança.

Vivemos numa época aparentemente descrita pela frase bíblica: "Sou pela paz, mas quando falo, eles procuram a guerra" (Salmo 119). Mas a consciência humana pode se abrir para a possibilidade da paz, ao menos em um aspecto: a afirmação clara e certa de um sentido para a vida humana. Este é o poder exortativo da palavra paz: ela pode destacar o sentimento humano em relação à própria vida; aqueles que a proclamam sentem que ela é a razão fundamental para os fatores que determinam suas vidas sociais, familiares e pessoais. O significado da palavra paz sempre abrange a totalidade dos sentimentos da vida; envolve-os segundo uma justiça que se apresenta diante do destino, seja ele escrito com inicial maiúscula ou minúscula.

Se existe uma palavra adequada para delinear esse "poço" que o sentimento humano de paz possui, é religiosidade, religiosidade como uma dimensão da vida. Ela engloba todas as fórmulas, implicando um propósito último pelo qual o homem aceita a existência e age. O que sentimos ser necessário para viver relacionamentos de todos os tipos, na verdade, é o pressentimento de uma positividade última. O julgamento que esse pressentimento lança sobre a vida cotidiana — que, como tal, é sentido por quase todos — pode também ser fruto do cinismo que abunda em nossa sociedade.

Assim, colocar a divindade — ou, em outras palavras, o propósito supremo da ação — no poder político pode iludir até mesmo as pessoas mais comprometidas e ponderadas, levando-as a crer que é possível alcançar o que os antigos chamavam de "Pax Romana" — uma tolerância genérica para com todos, exceto pela palavra final reservada ao poder político, pela qual a devoção a qualquer Deus era permitida, desde que não comprometesse a divindade do imperador — e que em nossos tempos poderia ser chamada de "Pax Americana" ou paz social.

Digo isso porque é mais difícil encontrar um verdadeiro uso da palavra "paz" nas grandes intrigas políticas e econômicas do que na relação familiar entre homem e mulher ou no emaranhado de tendências que anseiam por realização ou satisfação pessoal, ou seja, no coração humano.

Tudo isso direciona a atenção e a devoção para o Natal cristão. A única razão para este feriado reside no fato de que o destino misterioso se comunicou à humanidade identificando-se com um homem nascido de uma virgem, destinado a morrer para ressuscitar, cumprindo assim as expectativas de todos.

A paz, então, só pode ser sentida, experimentada e pensada sob duas condições: vocação, isto é, dependência de um Outro como o plano e o julgamento da própria vida — como surgiu inicialmente na história do povo judeu — e educação no conhecimento do bem e do mal.

Para nós, o Natal simboliza como a vocação de Cristo, sua vida, foi a vontade proclamada de obedecer à grande fonte do Mistério, numa educação vivida como uma paixão incansável pelo conhecimento do bem e do mal, tal como se manifesta na história do seu povo. Portanto, a paz depende de o homem admitir a impossibilidade de alcançar a perfeição por si mesmo, reconhecendo, ao mesmo tempo, indomável, a sua dívida para com o Ser.

O Natal é tudo isso, constantemente reafirmado para toda a humanidade, como a fonte perene de uma proposta de que a vida é, seja qual for a nossa condição. 

Na ternura diante da imagem de uma criança recém-nascida, a distância infinita entre a ação do homem e o seu destino é transposta como paz no perdão. Assim, para o homem reflexivo, o Natal não pode aparecer nem como doçura frustrada nem como desespero. A incansável humanidade do Papa convida-nos a esta síntese última, na qual a dignidade e a plenitude do homem são tudo, isto é, misericórdia.

Fonte: https://www.30giorni.it/

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