Fatos e Fotos - Comunidade I

quarta-feira, 23 de julho de 2025

Casamento: 3 atitudes para evitar discussões e brigas

interstid | Shutterstock

Cecilia Pigg - publicado em 01/06/22 - atualizado em 09/01/25

Aqui estão três coisas que você pode fazer para se concentrar no que é bom e verdadeiro na sua relação e assim parar de discutir.

Quem nunca se viu apanhado num ciclo de "por que ele não faz isso" ou "por que ela não faz aquilo", culpando o seu cônjuge? Tudo o que ele(a) faz parece ser feito de forma errada ou no momento errado. Uma indignação monótona que nos põe sempre de mau humor, e depois irrompe perante as ações ou inações do cônjuge. E assim surge uma discussão atrás da outra.

É verdade que alguns dias (ou meses ou anos) de um casamento são mais difíceis do que outros. Precisa tomar cuidado, pois é fácil acumular ressentimentos. Eis 3 boas atitudes a adotar para evitar que este sentimento continue e que as brigas se multipliquem no seio do casal.

1 - ABANDONAR A MENTALIDADE DA CONTABILIDADE

Antes de tudo, é bom parar de contar quem faz mais tarefas, ou quem cuida mais das crianças, ou outras coisas. Um casal é uma equipe com um único objetivo. Se alguns dias o equilíbrio não estiver no ponto certo, não faz mal! Como equipe, um de nós é por vezes chamado a preencher as lacunas do outro. No entanto, se o desequilíbrio persistir de forma desproporcional, é uma boa ideia falar sobre o assunto em conjunto (ou mesmo com a ajuda de um conselheiro matrimonial) para encontrar o equilíbrio certo para o casal.

2 - AGRADECER SEMPRE

É importante adquirir o hábito de dizer "obrigado" frequentemente. Isto é ainda mais importante quando você se sente ressentido. É especialmente importante agradecer ao seu parceiro por coisas que toma como certas. Por exemplo, quando ele(a) retira o lixo, lava os pratos, conduz a oração familiar - mesmo que o tenha feito toda a sua vida - não se deve esquecer de lhe agradecer.

3 - ANOTE AS TAREFAS REALIZADAS PELO SEU CÔNJUGE

Fazer uma lista mental (ou por vezes física) de todas as coisas feitas pelo seu cônjuge ajuda a sair da lógica do "eu faço tudo" e contribui para o crescimento do amor no casal. Este exercício, que é mais ou menos fácil dependendo do dia, pode incluir várias tarefas (mesmo as que parecem triviais à primeira vista).

Fonte: https://pt.aleteia.org/2022/06/01/casamento-3-atitudes-para-evitar-discussoes-e-brigas/

Cardeal Paulo Cezar conclui visita à Igreja na Ucrânia

Cardeal Paulo Cezar Costa (Vatican Media)

O Arcebispo afirmou levar consigo uma experiência profunda de proximidade e oração, por ter estado junto ao povo ucraniano na súplica pelo dom da paz.

Vatican News

Ao final de sua missão na Ucrânia, nesta terça-feira (22), o Cardeal Paulo Cezar Costa deixou uma mensagem de esperança e solidariedade ao povo ucraniano.

Em meio às marcas deixadas pela guerra, expressou admiração pela fé daquele povo, pela força de uma Igreja viva e pelos bispos que, mesmo em meio ao sofrimento, doam a vida pela reconstrução do cristianismo.

O Arcebispo afirmou levar consigo uma experiência profunda de proximidade e oração, por ter estado junto ao povo ucraniano na súplica pelo dom da paz.

“Vos levo no coração. Contem sempre com as minhas orações, minha solidariedade e com a minha voz, que também deseja dar voz ao vosso sofrimento, dar voz aos horrores que a guerra vos faz passar. Fiquem com Deus.”

Ouça:

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2025/07/23/11/138745177_F138745177.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A noiva do Cântico e Maria Madalena

Maria Madalena e Jesus (Arquidiocese de Florianópolis)

A NOIVA DO CÂNTICO E MARIA MADALENA

23/07/2025

Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO) 

Na noite silenciosa da alma, quando o mundo dorme e os céus se cerram em silêncio, ela se levanta. 

“Em meu leito, durante a noite, busquei aquele que ama o meu coração. Busquei-o, mas não o encontrei.” 

O jardim ainda estava envolto em sombras. Era o primeiro dia da semana, e tudo parecia recomeçar, mas ainda sem luz. A pedra fora removida, mas o corpo não estava mais lá. A ausência cortava como lâmina. O silêncio gritava. O túmulo vazio não era resposta: era pergunta. 

“Levantar-me-ei, e percorrerei a cidade. Pelas ruas e pelas praças, buscarei aquele que ama o meu coração”. 

E ela foi. Correndo, buscando, como mulher ferida de amor. Não com ilusões, mas com lágrimas. Não com argumentos, mas com fidelidade. Como a amada do Cântico, que nada explica, mas tudo sente. Ela se move com a força de quem perdeu tudo, exceto a esperança. Porque quem ama, busca. 

“Encontraram-me os guardas que rondam a cidade. ‘Vistes aquele que ama o meu coração?’” 

Aos guardas, aos discípulos, aos anjos — ela pergunta. Mas nenhum responde com a voz que ela anseia. Nenhum tem o nome. Nenhum a toca no mais profundo. Ela chora, mas as lágrimas não a impedem de continuar.  

“Mal os havia deixado, encontrei aquele que ama o meu coração. Agarrei-o, e não o deixei mais.” 

No jardim, Ele aparece. Mas ela não O reconhece. Pensa tratar-se de um jardineiro, e no fundo, não se engana: é o Jardineiro da nova criação, o Segundo Adão, que transforma sepulcro em sementeira. 

E então, Ele diz uma única palavra: Maria. 

Nada mais foi necessário. Porque somente quem conhece chama pelo nome. E somente o verdadeiro Amado chama com ternura, com autoridade, com eternidade. 

Ela responde: “Rabunni!”. 

Não é o reconhecimento de um título. É a alma que se ajoelha. É o coração que se dobra. É o mundo que se reconstrói a partir daquele instante. 

Na esposa do Cântico, vemos o anseio. Em Maria Madalena, vemos o cumprimento. A esposa busca entre sombras, Maria busca entre anjos. A esposa encontra pelas praças, Maria encontra no jardim. A esposa segura o Amado, Maria é enviada por Ele. 

Maria Madalena não apenas encontra o Senhor, ela é enviada por Ele. E o amor que em Cânticos permanece no quarto, agora se torna missão no mundo. O noivado da antiga aliança se consuma na Aliança Nova, onde a mulher é voz da Páscoa, evangelho para os apóstolos, primeira anunciadora da Ressurreição. 

No Cântico, a amada diz: “agarrei-o, e não o deixei mais.” 

No jardim, Jesus lhe diz: “não me retenhas”. Porque o amor já não é posse, é anúncio. Não é mais segredo, é missão. 

E é por isso que Maria Madalena, unindo em si o desejo da discípula e o envio do Ressuscitado, é maior que a mulher do Cântico. Pois se aquela procurou no escuro o amor de sua juventude, Maria encontrou no escuro da morte o Amor eterno na Ressurreição. E foi por Ele conhecida, chamada, enviada. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

O Brasil no Jubileu dos Missionários Digitais: evangelizar pela comunicação

Jubileu dos Missionários Digitais (Vatican Media)

Começa em menos de uma semana o Jubileu dos Missionários Digitais e Influencers Católicos, um evento inédito que, até agora, "não existe nada parecido! Nada! Nunca teve nada!", disse Guilherme Cadoiss. O encontro de dois dias em Roma é "para construir - juntos - um mundo de evangelização sem fronteiras", comentou Lisiane Mazzurana, para que se possa ainda mais "evangelizar por meio da comunicação", acrescentou Felipe Padilha. São três jovens que representarão o Brasil na Itália.

Andressa Collet - Vatican News 

"Uma escola de doutrina para a leigos que querem amar mais Jesus." É assim que Guilherme Augusto Barbosa das Mercês descreve a sua missão digital que tem impactado mais de 4 milhões de pessoas por mês nas suas redes sociais, ao oferecer cursos e conteúdos que unem fidelidade à doutrina e inovação na comunicação. Formado em Belas Artes pela Universidade Federal de Goiás, Guilherme é catequista e há 11 anos se dedica como missionário digital: fundou a Escola Santa Carona, um dos principais apostolados digitais de formação de leigos no Brasil. É também um dos criadores do Santa Zuera, o podcast católico mais antigo em atividade no país, referência em evangelização e diálogo nas mídias digitais.

No Brasil, ele lidera o projeto “La Iglesia Te Escucha”, uma iniciativa vaticana, que nasceu de uma convocação do próprio Papa Francisco, para fortalecer a missão digital e ouvir as vozes dos fiéis no ambiente online, além de ajudar na implantação da Pastoral Digital no país, em colaboração direta com a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), contribuindo para que a Igreja esteja cada vez mais presente e atuante nos espaços digitais. Nestes dias, ele pode ser visto pelos corredores do Dicastério para a Comunicação da Santa Sé já está fazendo parte da equipe organizadora do Jubileu dos Missionários Digitais e Influencers Católicos que começa no mesmo dia daquele dedicado aos jovens, em 28 de julho. Durante dois dias, cerca de mil peregrinos irão unir esforços para celebrar, formar e inspirar aqueles chamados a evangelizar nas plataformas digitais, como já vem fazendo Guilherme:

“Eu confesso que é difícil definir o que que eu estou esperando por um motivo muito objetivo: quando nós vamos para uma Jornada Mundial da Juventude nós temos um expectativa própria do evento. Agora, neste caso, não existe nada parecido! Nada! Nunca teve nada!”

"O mais próximo disso que tivemos foi o Festival de Influencers que aconteceu em Lisboa - e foi um festival, nós não tivemos um momento de convívio como a gente vai ter agora. Então, vai ser algo completamente inesperado, encontrar missionários de todos os cantos do mundo. Eu só participei de eventos assim com missionários latino-americanos ou brasileiros. Eu nunca tive esse contato com outros missionários para poder conviver, se conhecer, trocar ideia. Esta é a minha grande expectativa: o que é que eu vou encontrar de missão digital nos países e quais são as dificuldades que esses missionários encontram. Porque, ainda mais no caso do Brasil, pelo menos no meu caso, porque estamos um pouco isolados por causa do idioma, saber o que outras culturas vivem em relação à 'fera internet' é uma experiência que eu quero ter, e que eu estou muito esperançoso de que vai acontecer nesse Jubileu dos Missionários Digitais."

O goiano Guilherme Cadoiss e a gaúcha Lisiane Mazzurana | Vatican News

Os gaúchos que estarão no Jubileu dos Influencers Católicos

O Jubileu dos Missionários Digitais e Influencers Católicos será um encontro inédito e histórico, através do qual a Igreja reconhece o continente digital como espaço de missão, congrega três momentos distintos: a fase espiritual com a passagem pela Porta Santa, a fase de formação e um festival. Quem não estará presente em Roma, poderá seguir a programação em modalidade on-line. Mas já tem jovem de "mala e cuia", ou ao menos por um período na capital eterna, como é o caso de Lisiane Mazzurana, que atualmente vive na Itália para um curso de doutorado no Instituto Universitário Sophia (IUS) ligado ao Movimento dos Focolares na região da Toscana, mas é natural da cidade gaúcha de Igrejinha, região metropolitana de Porto Alegre. "Em todo o tempo e lugar podemos catequizar" é a missão digital da jovem, catequista há mais de 15 anos, que criou um espaço digital de evangelização: ela administra a página Catequese Mediada, que nasceu de um projeto de mestrado voltado para a formação de catequistas porque, atualmente, "as crianças buscam em nós pessoas que vivem aquilo que realmente ensinam, testemunhando com a própria vida o amor e a relação com Jesus Cristo".

"Pra mim, participar do Jubileu dos Influencers e Missionários Digitais está sendo realmente uma grande alegria, porque é um momento em que a gente pode ultrapassar os limites e as barreiras que colocamos no nosso dia a dia: de territórios, questões culturais, propriamente também o diálogo com outras religiões. E, mundo digital, a gente está conectado ao mundo todo - a todos os lugares, a todas as partes e culturas e línguas e religiões, o modo de ver Deus e esta é uma oportunidade que a gente tem de estar junto nesse momento de Jubileu, de celebrar essa esperança que nos une e, ao mesmo tempo, poder nos conectar, nas redes sociais, de um modo a levar essa esperança, como diz o Papa Francisco, nesse novo continente."

“Somos chamados a evangelizar a partir desse continente que também precisa de esperança e também precisa de diálogo e também precisa de construção de paz. Espero que esse tempo de Jubileu possa ser também um tempo de renovação da nossa fé, da nossa esperança de estabelecer vínculos entre nós - mais concretos, não só digitais também - e podermos nos apoiar mutuamente nas missões particulares que cada um faz, no meio digital que faz, e podendo ser canal de graça uns para os outros.”

Felipe Padilha, assessor de comunicação da diocese de Caxias do Sul/RS   (Maurício Aoki)

De Igrejinha vamos viajar por cerca de 100 Km para a Serra Gaúcha, especificamente para Caxias do Sul, onde nasceu e trabalha Felipe Michelon Padilha. Jornalista de formação pela Universidade de Caxias do Sul (UCS), ele é pós-graduado em Influências Digitais na Comunicação pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Nos anos de 2022 e 2023, participou da equipe de comunicação do Ano Vocacional do Brasil como responsável pelas redes sociais do Ano Vocacional da CNBB. Há 2 ano Felipe faz parte do GT de Produção da Pastoral da Comunicação (Pascom) no país e há 4 anos é assessor de comunicação da diocese de Caxias do Sul e também das paróquias Santo Antônio, de Bento Gonçalves, e da Catedral Diocesana Santa Teresa D’Ávila. Também já são 10 anos de RUAH Comunicação, uma agência que Felipe criou especializada em soluções para a comunicação eclesial e que vai precisar contar com a sua ausência no escritório, já que também está com passagem marcada para Roma, para participar como peregrino do Jubileu dos Missionários Digitais:

"Eu confesso que a ansiedade já está batendo forte. É uma alegria poder participar, poder estar também me preparando para participar do Jubileu dos Missionários Digitais. O Papa Francisco, lá na Jornada Mundial da Juventude de Lisboa, ele deixou muito claro de que a Igreja é lugar de todos, todos, todos, e com a nossa missão de comunicadores e responsáveis pelo trabalho de evangelização nas redes sociais, temos essa missão de ajudar a todos, todos, todos, se sentirem parte desta Igreja, povo de Deus. Então, para mim, estar em Roma, em comunhão com o Papa Leão, nesse momento também novo para a nossa Igreja, celebrar o Ano Santo e o Jubileu dos Missionários Digitais é a graça de Deus, a graça de Deus que toca a minha vida. Estou muito feliz, a ansiedade é mil, e espero encontrar muitos amigos, fazer novas amizades, trocar muitos contatos, porque além de me ajudar a crescer pastoralmente, este encontro certamente vai me ajudar a crescer humanamente e profissionalmente, porque também faz parte da minha vida, do meu trabalho, justamente este de evangelizar por meio da comunicação."

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Cinco coisas a saber sobre santa Brígida da Suécia, mística e mãe

Santa Brígida da Suécia. | Carlston Macks, CC BY-SA 4.0, via Wikimedia Commons

Por Kate Quiñones*

23 de julho de 2025

A Igreja celebra hoje (23) a festa de santa Brígida da Suécia, mística da Idade Média que foi mãe de uma grande família, dama de companhia de uma rainha e fundadora de uma ordem religiosa que existe até hoje.

1. Santa Brígida teve sua primeira visão aos dez anos de idade.

Brígida, Birgitta em sua própria língua, nasceu de pais ricos e devotos na Suécia em 1303. Sua mãe morreu quando Brígida era muito jovem e ela e seus irmãos foram criados por uma tia. Aos dez anos de idade, Brígida teve uma visão de Cristo na cruz em seu sofrimento agonizante. Em sua visão, Brígida viu Cristo com suas feridas da Sexta-feira Santa, com as feridas do “Homem das Dores” de que se fala em Isaías 53. Ela perguntou a Jesus quem o feriu, e Ele respondeu: “Aqueles que me desprezam e recusam meu amor por eles.” Ela continuaria a escrever sobre essas revelações; suas obras foram publicadas postumamente.

2. Brígida serviu na corte real da Suécia.

Brígida casou-se em 1316, aos 13 anos, com Ulf Gudmarsson, de 18 anos, o príncipe sueco de Nerícia. Os dois se juntaram à Ordem Terceira de São Francisco e dedicaram seus recursos à construção de um hospital e ao cuidado das necessidades dos pobres. Ulf serviu no conselho do rei da Suécia, Magnus Eriksson, e o rei pediu que Brígida fosse uma dama de companhia de sua esposa, a rainha Blanche de Namur.

3. Brígida foi mãe de oito filhos, incluindo uma santa.

Brígida e Ulf criaram uma grande família juntos. Dos oito filhos de Brígida, dois morreram na infância e outros dois morreram nas cruzadas. Dois de seus filhos sobreviventes se casaram e outros dois ingressaram na vida religiosa. Uma delas foi canonizada como santa Catarina da Suécia. 

4. Brígida fundou uma ordem religiosa, os brigidinos, depois que seu marido morreu.

Brígida e Ulf fizeram uma peregrinação a Santiago de Compostela, Espanha, entre 1341 e 1343, mas na viagem de volta, Ulf ficou doente. O casal parou na França até Ulf recuperar a saúde, mas logo depois que retornaram à Suécia, em 1344, ele morreu.

Depois da morte de Ulf, Brígida deu sua riqueza aos pobres e dedicou sua vida a Cristo, seguindo um chamado de Deus para fundar uma nova ordem religiosa.

Ela fundou a Ordem do Santíssimo Salvador, agora conhecida como brigidinos, em 1346, e sua congregação foi aprovada pelo papa Urbano V em 1370. Os brigidinos seriam liderados por uma abadessa e compostos por freiras e sacerdotes. Os sacerdotes, que viviam em uma seção separada, serviam como capelães e confessores para as freiras.

O rei Magnus ajudou Brígida a fazer da abadia de Vadstena o lar dos brigidinos. Ele doou um pequeno palácio e terras para o novo mosteiro.

Mas Brígida nunca veria seu trabalho dar frutos. Ela teve uma visão de Cristo chamando-a para retornar a Roma e aguardar o retorno do papa da França durante o papado de Avignon. Ela nunca se tornou freira e nunca viu o mosteiro em Vadstena. Ela morreu vários anos antes do retorno permanente do papa a Roma.

Mas sua ordem se espalhou pela Europa e existe ainda hoje em mosteiros contemplativos e conventos apostólicos, com filiais em 19 países como Suécia, Noruega, Polônia, Itália, Israel, Índia, Filipinas, México e os EUA.

5. Santa Brígida é co-padroeira da Europa.

Depois que Brígida morreu em Roma em 23 de julho de 1373, seus filhos levaram seus restos mortais de volta para a sede de sua ordem religiosa. Menos de 20 anos depois, em 1391, o papa Bonifácio IX a proclamou santa. Suas revelações e escritos sobre os sofrimentos de Cristo foram publicados depois de sua morte. Em 1999, o papa são João Paulo II a escolheu como uma das três co-padroeiras da Europa, junto com santa Catarina de Siena e santa Edith Stein.

*Kate Quiñones é redatora da Catholic News Agency e membro do site de notícias The College Fix. Ela já escreveu para o Wall Street Journal, para o Denver Catholic Register e para o CatholicVote, e se formou pelo Hillsdale College. Ela mora com o marido no Colorado, nos EUA.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/58540/cinco-coisas-a-saber-sobre-santa-brigida-da-suecia-mistica-e-mae

Padre Mario Lanciotti, missionário xaveriano na Amazônia

Padre Mario Lanciotti rodeado por jovens indígenas na Amazônia | Vatican News.

Padre Mário Lanciotti (1901-1983), natural de Cupra Marittima (Ascoli Piceno, Itália), foi missionário xaveriano por cinquenta anos na China, no Japão e, por fim, no Brasil. Atuou nas áreas mais difíceis do Pará e do Xingu, dedicando sua vida a servir os mais pobres. Quase cego, pediu para passar seus últimos anos em uma casa de repouso em Belém, "pobre entre os pobres". Está sepultado em Abaetetuba, às margens do Rio Amazonas.

Por Gianluca Frinchillucci - Agência Fides

Uma nova luz se acende sobre o testemunho missionário entre os povos da Amazônia: o Prof. Mario Polia, antropólogo, historiador das religiões e profundo conhecedor das culturas andinas, editou a publicação de um precioso corpus de histórias orais reunidas pelo padre Mario Lanciotti, missionário xaveriano atuante no Brasil na década de 1960 e ex-missionário na China e no Japão.

A obra reúne mitos, lendas e contos cosmogônicos transmitidos oralmente por gerações de indígenas amazônicos. Padre Lanciotti os ouviu diretamente das vozes dos fiéis de suas missões, durante longas noites nas aldeias, muitas vezes ao luar, ao som de grilos e sapos noturnos. "Para mim - escreveu ele - não era um passatempo: eu o considerava indispensável ao meu trabalho como missionário."

“Procurei compreender melhor as pessoas a quem fui enviado e ajudá-las de acordo com minhas possibilidades e habilidades. Procurei amá-las e aceitá-las como são, esforçando-me para evitar o barulho e o paternalismo”, escreveu em um de seus depoimentos. E, dirigindo-se a um amigo, deixou palavras de luminosa serenidade: “Estou aqui, no meio da floresta amazônica, às margens do rio Xingu. Estou feliz. Quando consegui trabalhar neste lugar abandonado, eu tinha 71 anos, mas agora sinto de ter perdido 40. Aqui me sinto mais no meu lugar como missionário. O Senhor tem sido bom demais para mim na minha velhice! Se você quer ser feliz, venha comigo!”

“Padre Lanciotti - afirma Polia - soube coletar esses testemunhos orais apesar da consciência de que, para muitos, essas crenças precisavam ser superadas. Como ele mesmo disse, velhas superstições permanecem nas camadas profundas da alma, como cartazes colados uns sobre os outros: quando o primeiro é arrancado, o anterior reaparece. A grande inteligência de Lanciotti era a compreensão de que, para evangelizar, é preciso primeiro entender o pensamento do outro. Sua coleta é um ato de respeito e escuta.

“Passei muito tempo na região do Rio Xingu, na divisa entre as terras ocupadas pelos brancos e as florestas onde ainda vivem as tribos indígenas”, comentava o padre Lanciotti em outro relato. “Passei muitas noites com os índios ‘civilizados’. Sentávamo-nos na grama, ao luar, enquanto grilos, sapos e pássaros noturnos nos faziam companhia.” Depois da instrução religiosa, eu provocava meus interlocutores indígenas para que me contassem histórias da selva ou contos mitológicos que tinham sido transmitidos ao longo dos séculos."

Padre Mário Lanciotti (1901-1983), natural de Cupra Marittima (Ascoli Piceno, Itália), foi missionário xaveriano por cinquenta anos na China, no Japão e, por fim, no Brasil. Atuou nas áreas mais difíceis do Pará e do Xingu, dedicando sua vida a servir os mais pobres. Quase cego, pediu para passar seus últimos anos em uma casa de repouso em Belém, "pobre entre os pobres". Está sepultado em Abaetetuba, às margens do Rio Amazonas.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 22 de julho de 2025

EDITORIAL: A Carta da ONU, oitenta anos de um frágil milagre

Bandeira da ONU (Vatican News)

As guerras em curso, o declínio do multilateralismo, a voz profética dos Papas.

Andrea Tornielli

Oitenta anos, e sentir todo o seu peso. Em 26 de junho de 1945, era assinada em São Francisco a Carta das Nações Unidas, que em seu Preâmbulo indica o propósito de "salvar as futuras gerações do flagelo da guerra" e de "promover o progresso social e um mais elevado padrão de vida dentro de uma liberdade mais ampla". Ela foi assinada pelos representantes de 50 países emergentes da mais catastrófica – e ainda não concluída – guerra mundial vivida pela humanidade. Uma guerra que marcaria o recorde macabro de aproximadamente 50 milhões de mortes, a maioria civis.

Oitenta anos depois desta instituição – templo do multilateralismo, que tem sua razão de ser na primazia da negociação sobre o uso da força, na manutenção da paz e no respeito ao direito internacional – mostra todas as suas rugas. No entanto, sua instituição representou um verdadeiro milagre, ocorrido na cidade estadunidense que leva o nome do Santo de Assis. Um milagre frágil, como o vidro do Palácio de Vidro, que levou a resultados importantes: a codificação e o desenvolvimento do direito internacional, a construção das normativas dos direitos humanos, o aprimoramento do direito humanitário, a resolução de muitos conflitos e muitas operações de paz e reconciliação.

Precisamos desse frágil milagre mais do que nunca hoje. Devemos torná-lo menos frágil, acreditar nele como demonstraram acreditar os Sucessores de Pedro, que de 1965 a 2015 visitaram o Palácio de Vidro, reconhecendo que as Nações Unidas foram e continuam sendo a resposta jurídica e política adequada aos tempos em que vivemos, marcados por um poder tecnológico que, nas mãos de ideologias, pode produzir atrocidades terríveis.

Nestes dias, pronunciando-se em uma conferência na Universidade de Pádua, o ministro da Defesa italiano, Guido Crosetto, afirmou com lúcido realismo: "Devemos proteger as conquistas de anos que nos levaram a codificar o direito internacional, que é totalmente diferente de uma ordem internacional e, muitas vezes, em contraposição a uma ordem internacional. Porque a ordem internacional — acrescentou o ministro — é normalmente imposta por alguém, pelo mais forte, que pode decidir que essa lei, em alguns casos, não conta. Que é o que estamos vivendo hoje... Isso porque o multilateralismo está morto e a ONU conta tanto quanto a Europa no mundo, nada!".

Não é preciso muita imaginação para entender a que se referem suas palavras: basta observar o que aconteceu nos últimos três anos, desde a agressão russa contra a Ucrânia até o ataque desumano do Hamas contra Israel em 7 de outubro; desde a guerra que arrasou Gaza, transformando-a em uma pilha fantasmagórica de escombros e cadáveres, até o perturbador conflito entre Israel e Irã, que também contou com a intervenção dos Estados Unidos. É verdade, infelizmente, que a ordem internacional é imposta pelo mais forte, que decide quando proclamar e quando esquecer o direito internacional e o direito humanitário, conforme a conveniência.

Por isso, oitenta anos após o início daquele frágil milagre, com a voz de Leão XIV, repetimos as palavras “mais urgentes do que nunca” do profeta Isaías: «Uma nação não levantará a espada contra outra nação, e não se adestrarão mais para a guerra». “Que seja ouvida esta voz que vem do Altíssimo”, disse o Papa, “sejam curadas as feridas causadas pelas ações sangrentas dos últimos dias. Rejeite-se toda a lógica da arrogância e da vingança e seja escolhida com determinação a via do diálogo, da diplomacia e da paz.” Os caminhos do multilateralismo e da negociação. Os caminhos trilhados há oitenta anos, que representam a única alternativa para o nosso mundo tão próximo do abismo da autodestruição.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

«André e João são a figura do que devemos fazer»


Apóstolos João e André (Wikipedia)

Arquivo 30Dias nº 07/08 - 2005

Trechos de padre Luigi Giussani sobre o encontro de Jesus com os dois primeiros discípulos

«André e João são a figura do que devemos fazer»

(L'attrattiva Gesù, Milão, Bur, 1999, p. 25)

Introdução e organização de Lorenzo Cappelletti

Introdução

“Eu errava por pensar que a fé por meio da qual acreditamos em Deus não era dom de Deus, mas vinha, em nós, de nós mesmos [...]. Realmente, eu não pensava que a fé fosse precedida pela graça de Deus [...]. Certamente, pensava que não poderíamos acreditar sem antes receber o anúncio da verdade, mas, uma vez tendo-nos sido anunciado o Evangelho, imaginava que o consentimento fosse obra nossa e algo que possuímos em nós mesmos. Esse meu erro se encontra em muitos dos livros que escrevi antes de meu episcopado” (Agostinho, De praedestinatione sanctorum 3, 7).

No De praedestinatione sanctorum, obra dos últimos anos de sua vida, Agostinho confessa esse seu erro com simplicidade - e esse não é o último dos motivos pelos quais sentimos Agostinho tão moderno e persuasivo -, um erro presente em livros anteriores a sua ordenação episcopal, ocorrida trinta anos antes (395 ou 396).

O erro de Agostinho parece dominar - sem ser confessado - o cenário destas últimas décadas do catolicismo mais discursante e vistoso.

Em padre Giussani, ao contrário, a unidade entre as palavras, o olhar, a atração de graça é sempre e de novo proposta e descrita diante dos nossos olhos a partir do comentário que faz do encontro de Jesus com os dois primeiros discípulos, João e André, que pode ser sintetizado na expressão: “Olhavam-no falar”. Se nos ativermos ao testemunho dado sobre ele pelo então cardeal Ratzinger, nos funerais do sacerdote, veremos que isso acontece graças ao que o próprio padre Giussani viveu em primeira pessoa: “Padre Giussani teve sempre o olhar de sua vida e de seu coração fito em Cristo. Dessa forma, entendeu que o cristianismo é um encontro, uma história de amor, um acontecimento”.

Afirmar que a fé nasce de um maravilhamento como o de João e André - como se poderia traduzir a palavra suavitas, usada pelo Concílio Ecumênico Vaticano I, na constituição dogmática sobre a fé (citando, não por acaso, o segundo Concílio antipelagiano de Orange, que padre Giussani gostava de recordar) - não significa deixar de ter cuidado com a maneira de apresentar as verdades cristãs. Significa fazer com que prevaleça a humilde fidelidade à doutrina (“Todo aquele que se adianta e não permanece na doutrina de Cristo, não possui a Deus. Aquele que permanece na doutrina, esse possui o Pai e o Filho”, 2Jo 9) e a oração de cada instante Àquele único que pode tocar e atrair a mente e o coração do homem.

De qualquer forma, o recente Compêndio do Catecismo da Igreja Católica também tem uma pequena frase que, repetindo com simplicidade o fato de que a graça precede e vem antes, ilumina, como um raio de sol quando ilumina os vitrais de uma catedral, todas as verdades contidas no Compêndio: “A oração é sempre dom de Deus que vem ao encontro do homem” (nº 534).

Introdução e organização de Lorenzo Cappelletti

Foi ser batizado, como todos os outros

O que aconteceu primeiro? Primeiro aconteceu Jesus, que nasceu em Belém, como um menino; e os pastores se reuniram. Depois cresceu em sua casa. E depois, quando já era um pouco mais velho, foi ser batizado, como todos os outros. E quando Jesus deixou a multidão, assim que João Batista apontou para ele e disse: “Eis o cordeiro de Deus”, João e André puseram-se a seguir aquele indivíduo. E estabeleceram um relacionamento com aquele indivíduo, ficaram lá para ouvi-lo. Eu sempre digo: “Olhavam-no falar” . 1

Esse Tu enchia o rosto e o coração deles

E André e João - como narra o primeiro capítulo de São João -, que seguiam a Cristo quase acanhados, no momento em que Ele se voltou e disse: “O que buscais?”, não disseram Tu, mas disseram a Ele: “Mestre, onde moras?”. Era uma maneira de dizer Tu. E quando voltaram para casa e disseram: “Encontramos o Messias”, era esse Tu que enchia o rosto e o coração deles.2

Diante de seus olhos

Para André e João, o cristianismo, ou melhor, o cumprimento da lei, o realizar-se da promessa antiga, de cuja espera de resposta vivia o povo judeu bom [...], aquilo que o povo esperava, Aquele que tinha de vir, era um homem ali diante dos seus olhos: encontraram-no diante dos seus olhos.

[...] Era um homem ali diante dos seus olhos [...]. Era uma coisa que estava acontecendo.
[...] Não é que André e João tenham dito: “É um acontecimento que nos aconteceu”. Evidentemente, não era necessário que explicitassem com uma definição, já numa definição, aquilo que lhes estava acontecendo: lhes estava acontecendo!3

Olhavam-no falar

Nós nos identificamos facilmente com aqueles dois lá sentados, que olham para aquele homem que diz coisas nunca ouvidas, e no entanto tão próximas, tão pertinentes, com reflexos tão familiares.

Eram as palavras com as quais a grande promessa bíblica se revelava ao coração de todo judeu, e de geração em geração passava para dentro de seu sangue; as palavras que aquele homem usava participavam daquela promessa, mas eles não entendiam, eram simplesmente agarrados, arrastados, revolvidos por aquela maneira de falar: olhavam-no falar.4

Correspondia mais

Se fosse um filme, a cena inicial seria a de João e André olhando para Cristo enquanto este falava em sua casa.

Um impacto: o impacto com uma realidade que eles sentem corresponder como nada jamais correspondeu [...].

André e João, quanto mais olhavam para ele, mais entravam naquilo que já era uma realidade em Cristo, ou seja, o conhecimento da verdade, o conhecimento da justiça, o conhecimento da letícia e da alegria, “para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena”. Correspondia mais.5

Assim nasceu a primeira certeza sobre Cristo

O que aquele homem lhes havia dito correspondia ao coração deles, à espera do coração deles, tão intensamente, tão evidentemente, tão imediatamente, que era como se dissessem: “Se não acreditarmos nesse homem, não poderemos mais acreditar nem nos nossos olhos”. Foi assim que nasceu, que surgiu na história do mundo a primeira certeza pública, para além da de Sua mãe e de Seu pai: a primeira certeza sobre Cristo. [...]

Imaginem: voltaram para casa e começaram a dizer a todos os seus irmãos, aos conhecidos e às pessoas que participavam de sua pequena cooperativa de barcos: “Encontramos o Messias”.6

Começa a memória

João e André começaram a seguir aquele homem, e aquele homem se voltou, e eles lhe fizeram uma pergunta, foram à casa dele... eles ouviam - não estavam distraídos -, mas ouviam olhando para ele.

Isso é a memória. Desde aquele momento, começou a memória, que, partindo daqueles dois, chegou até nós.7

Imaginem, fomos movidos por aqueles dois! Fomos movidos por aqueles dois que O olharam falar, que O olhavam falar com simplicidade, humildade, ingenuidade de coração: aqueles dois moveram as nossas vidas e as movem agora!8

Uma familiaridade imediata

Mas para aqueles dois, os dois primeiros, João e André - André, muito provavelmente, era casado, tinha filhos -, como foi possível que fossem convencidos tão imediatamente e que o reconhecessem (não há uma outra palavra que possa ser dita diferente de reconhecê-lo)?
Direi que, se este fato aconteceu, reconhecer aquele homem, quem era aquele homem, não quem era no fundo e minuciosamente, mas reconhecer que aquele homem era algo de excepcional, de incomum - era absolutamente incomum -, irredutível a qualquer análise, reconhecer isso devia ser fácil.9

Aquela era uma casa diferente, e aquele homem tratava as pessoas de um jeito diferente, pensava de um jeito diferente - dava para ver nos seus olhos -; quando seus pensamentos se exprimiam em palavras, ele falava de um jeito diferente: era uma coisa diferente.
E se estabelecia uma familiaridade imediata com Ele; para dizer a verdade, era Ele quem estabelecia uma familiaridade imediata com aqueles que encontrava. E, com dignidade e com ternura, afirmava coisas que interessavam à vida daqueles que O ouviam, das pessoas que encontrava. Como naquele caso: mudou a vida deles!10

São uma coisa só, de tanto que estão cheios da mesma coisa

E quando voltaram, à noite, no fim do dia - muito provavelmente percorrendo todo o caminho de volta em silêncio, pois nunca haviam falado um com o outro como naquele grande silêncio no qual um Outro falava, no qual Ele continuava a falar, ecoando dentro deles.11

Mas imaginem aqueles dois que ficam a ouvi-lo durante algumas horas e que depois têm de ir para casa. Ele se despede deles e eles voltam calados, calados porque invadidos pela impressão que tiveram do mistério que sentiram, pressentiram, ouviram. E depois se separam. Cada um dos dois vai para a sua casa. Não se cumprimentam, não porque não costumem se cumprimentar, mas se cumprimentam de um outro modo, cumprimentam-se sem se cumprimentar, porque estão repletos da mesma coisa, são uma só coisa aqueles dois, de tanto que estão repletos da mesma coisa.12

O que é a fé

A pessoa entende o que é a fé quando se coloca no lugar dos primeiros: de André e João, que O seguiram e Lhe perguntaram: “Mestre, onde moras?” (Jo 1,38).
Diante daquele homem, o que era a fé? Era reconhecer a presença divina. Eles nem ousavam pensar nisso, não tinham clareza, mas reconheciam naquele homem a presença que libertava, que salvava.13

João e André tinham fé, porque tinham certeza de uma Presença experimentável: quando estavam lá, primeiro capítulo de São João, sentados na sua casa, àquela noite, olhando-O falar, era uma certeza de uma Presença experimentável de uma coisa excepcional, do divino numa Presença experimentável. Depois - acrescento - foram para suas casas dormir: André voltou para sua mulher; João, para sua mãe. Voltaram às suas casas, comeram nas suas casas, dormiram nas suas casas, levantaram-se, foram pescar junto aos outros companheiros.
Aquilo que tinham visto na tarde anterior dominava a sua cabeça: sim ou não? Sim. Eles o viam? Não.14

Era ele, mas era diferente

Ela lhe perguntou: “O que aconteceu?”. Ele a abraçou. André abraçou sua mulher e beijou seus filhos: era ele mesmo, mas nunca a havia abraçado daquele jeito! Era como a aurora ou o crepúsculo matinal de uma humanidade diferente, de uma humanidade nova, de uma humanidade mais verdadeira. Quase como se dissesse: “Finalmente!”, sem acreditar nos próprios olhos. Mas era evidente demais para que não acreditasse em seus olhos!15

Seu marido tinha se tornado uma outra coisa: não uma coisa pensada, imaginada, mas real, porque nunca fora abraçada assim por seu marido. Deu-se conta disso: em primeiro lugar porque jamais fora olhada assim por seu marido, depois porque jamais fora abraçada assim por seu marido.

E depois, também no dia seguinte, via como ele tratava os amigos, como falava com as crianças: tinha acontecido alguma coisa que estava transformando o rosto concreto, carnal, temporal da vida deles.16

Como se toda a pessoa deles fosse um pedido

Imaginemos Simão Pedro, Felipe e João diante de Jesus, andando atrás dele pelas trilhas dos campos, ou na praça do templo, ou numa casa sentados à mesa para comer. Como é que eles estão? Estão olhando para ele, ouvindo-o, querendo aprender; mas esses ainda são termos insuficientes, incompletos: pois é como se toda a pessoa deles fosse um pedido.17

Basta a embrionária percepção daquilo que Ele é para fazer você pedir

A sua relação com Cristo não precisa ser evoluída, capacitada, madura, para que a sua personalidade nasça dela e a sua personalidade saiba criar uma companhia a partir dela. Basta - como poderíamos dizer - a surpresa que tiveram João e André, que não entendiam nada; basta a surpresa, basta uma ponta de devoção, basta o maravilhamento. Mais precisamente: basta pedi-lo, basta a embrionária percepção daquilo que Ele é para fazer você pedir, para fazer com que você o peça.18

Trechos de padre Luigi Giussan sobre o encontro de Jesus com os dois primeiros discípulos.

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L’attrattiva Gesù, Milão, Bur, 1999, p. 27.

Exercícios da Fraternidade de Comunhão e Libertação, suplemento da revista Litterae Communionis - CL, nº 5, maio de 1991, p. 25.

3 “O acontecimento de Cristo e a sua permanência na história”, tradução de Durval Cordas, in: Litterae Communionis, nº 41, setembro-outubro de 1994, p. 19.

Exercícios da Fraternidade de Comunhão e Libertação, suplemento da revista Litterae Communionis - Tracce, nº 7, julho-agosto de 1994, p. 24.

L’attrattiva Gesù, op. cit., pp. 44-45.

6 “La comunione come strada”, in: Litterae Communionis - Tracce, nº 7, julho-agosto de 1994, p. III.

Affezione e dimora, Milão, Bur, 2001, p. 215.

Exercícios da Fraternidade de Comunhão e Libertação, suplemento da revista Litterae Communionis - Tracce, nº 7, julho-agosto de 1994, p. 24.

9 “Reconhecer Cristo”, tradução de Durval Cordas, in: Litterae Communionis, nº 43, janeiro-fevereiro de 1995, p. 20.

10 Exercícios da Fraternidade de Comunhão e Libertação, suplemento da revista Litterae Communionis - Tracce, nº 6, junho de 1995, p. 13.

11 Exercícios da Fraternidade de Comunhão e Libertação, suplemento da revista Litterae Communionis - Tracce, nº 7, julho-agosto de 1994, p. 25.

12 “Reconhecer Cristo”, op. cit., p. 22.

13 “Na fé, homem e povo”, tradução de Durval Cordas, in: Litterae Communionis, nº 66, novembro-dezembro de 1998, p. 24.

14 É possível viver assim?, tradução de Neófita Oliveira e Francesco Tremolada, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1998, pp. 256-257.

15 Exercícios da Fraternidade de Comunhão e Libertação, suplemento da revista Litterae Communionis - Tracce, nº 7, julho-agosto de 1994, p. 25.

16 “O acontecimento de Cristo e a sua permanência na história”, op. cit., p. 20.

17 Exercícios da Fraternidade de Comunhão e Libertação, Rímini, 1988, p. 25.

18 L’attrattiva Gesù, op. cit., p. 23.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Dom Oriolo: Vida cristã e Inteligência Artificial generativa

Dom Oriolo Bispo da Igreja Particular de Leopoldina MG (Vatican News)

Dom Oriolo: "nos tempos atuais, temos de usar de todos os recursos para vivenciar e proclamar a Palavra de Deus".

Dom Oriolo Bispo da Igreja Particular de Leopoldina MG

A Inteligência Artificial Generativa (IAG), desde 2020, representa um avanço enorme no campo da inteligência artificial (IA), indo muito além da simples automação. Ao invés de apenas processar informações existentes, a IAG é capaz de criar conteúdo original, em diversas formas, como textos, códigos de programação, imagens, áudios e vídeos. Essa capacidade da IAG é única tornando uma ferramenta verdadeiramente transformadora, impactando profundamente as pessoas e todos os setores da sociedade em escala global.

Nos tempos atuais, temos de usar de todos os recursos para vivenciar e proclamar a Palavra de Deus. O desafio que temos é aprender a como usar dos recursos da técnica digital para proclamar a Palavra de Deus de modo a provocar a sua vivência. Eis a sublime missão da Igreja! É o anúncio da Boa-Nova que reúne os fiéis (cf. LG 26; PO 4), na dinâmica da Igreja doméstica. Somos impelidos a ser ousados e criativos na evangelização. A Palavra de Deus anunciada, escutada, meditada e encarnada na vida das pessoas é a origem e o princípio das comunidades paroquiais e eclesiais missionárias, que têm como centro e ponto culminante a Eucaristia (cf. CD 30).

A Exortação Apostólica sobre Evangelização no Mundo Contemporâneo (EN), n. 40 afirma: “A importância do conteúdo da evangelização não deve esconder a importância das vias e dos meios da mesma evangelização. O problema de ‘como evangelizar’ apresenta-se sempre atual, porque as maneiras de o fazer variam em conformidade com as diversas circunstâncias de tempo, de lugar e de cultura, e, por isso mesmo, lançam, de certo modo, um desafio à nossa capacidade de descobrir e de adaptar”.

A mesma Exortação afirma que “nunca será possível haver evangelização sem ação do Espírito Santo (...). É um fato que o Espírito Santo de Deus tem um lugar eminente em toda a vida da Igreja, mas, é na missão evangelizadora da mesma Igreja que ele mais age (...). As técnicas da evangelização são boas, obviamente, mas, ainda as mais aperfeiçoadas não poderiam substituir a ação discreta do Espírito Santo. A preparação mais apurada do evangelizador nada faz sem ele. De igual modo, a dialética mais convincente, sem ele, permanece impotente em relação ao espírito dos homens. E ainda os mais bem elaborados esquemas com base sociológica e psicológica, sem Ele, em breve se demonstram desprovidos de valor” (EN 75).

Destarte, o magistério da Igreja, ciente da crescente relevância da IA, reconhece que essa tecnologia, embora prometa ampliar a criatividade e a eficiência, e até mesmo auxiliar na dinâmica da evangelização, também acende uma alerta. Papa Leão XIV já expressou preocupação com o potencial da IA, de comprometer a dignidade humana, a justiça e o trabalho. A Igreja Católica tem se dedicado a refletir sobre os impactos da IA enfatizando a importância de garantir que o progresso tecnológico não comprometa os valores fundamentais. Se por um lado, a IA pode ser uma ferramenta poderosa, oferecendo novos caminhos para a propagação da fé criando textos, códigos, imagens, áudios e vídeos, por outro lado surge a preocupante questão dos perigos que IAG pode trazer no campo da evangelização.

A IAG oferece um potencial enorme para ajudar a compartilhar e espalhar o Evangelho através de conteúdos, imagens, áudios, vídeos, códigos. No entanto, é crucial que seu uso não resulte na banalização do conteúdo religioso online. As ferramentas de IAG devem preservar a profundidade e a sacralidade do Evangelho, evitando a superficialidade que pode surgir da interação humana com a IA (prompts). Tal superficialidade pode desviar do comprometimento dos fiéis em participar nas suas comunidades paroquiais e eclesiais missionárias.

O conteúdo fundamental da evangelização é Jesus Cristo e Sua revelação sobre Deus, configurando, assim, uma experiência de fé. No entanto, a IAG pode ser uma ferramenta auxiliar valiosa quando aplicada na reflexão teológica, no esclarecimento doutrinal, no planejamento pastoral, na proposta ética ou na prática religiosa. É importante notar que a IAG tende focar em uma moral comportamental, em vez de promover um aprofundamento ético quanto aos valores e seus conflitos em situações concretas. Contudo, seu uso, quando explicitamente reconhecido, demostra honestidade intelectual.

A principal preocupação reside no risco de que a busca por reações imediatas e o foco em métricas, ao utilizar a IAG para criar, gerar, escrever, resumir, desenhar, responder e falar sobre ideias e conteúdos para evangelização, possam levar à manipulação. Isso pode resultar em respostas superficiais ou desalinhadas com os princípios éticos e teológicos da fé, um problema já perceptível nos resultados de muitos prompts.

Assim sendo, devemos ter a consciência de que o uso da IAG como técnica para ajudar a lançar as sementes do Verbo requer muita cautela. A verdadeira evangelização vai além da automação e da otimização algorítmica, ela se enraíza na ação discreta, mas poderosa, do Espírito Santo.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

segunda-feira, 21 de julho de 2025

O poder das chaves

O Poder das Chaves (Diocese de Campina Grande - PB)

O poder das chaves

Por Pe. Assis Pereira Soares

Atualizado em 22/08/20

Quem tem as chaves de uma casa tem o poder sobre ela. Com as chaves se fecha e se abre, entra, sai, faz e desfaz. Em um oráculo do profeta Isaías (cf. Is 22,19-23) usando o simbolismo das chaves quer mostrar a atuação de Deus. Sobna, administrador do palácio do rei Ezequias (716-687 a.C), homem rico e ambicioso, se aproveita em benefício próprio de sua situação privilegiada como encarregado do palácio real e estava construindo um mausoléu que escandaliza o profeta, frente à situação que vive o povo. Isaías diz que Deus vai intervir restituindo a ordem, destituindo este administrador: “Eu farei levar aos ombros a chave da casa de Davi; ele abrirá, e ninguém poderá fechar; ele fechará e ninguém poderá abrir”.

O oráculo diz tudo: um pai para o povo e em suas mãos estarão as chaves do reino de Davi; Eliacim era o homem de confiança que necessitava o rei Ezequias naquele momento. Será um administrador justo para um povo destroçado, onde os pobres são mais pobres e os ricos mais ricos. Essa é a situação que deve mudar. Quem tem as chaves, deve saber que é o administrador de Deus. E que não tem direito a impedir liberdades nem permitir misérias.

A chave é sinal, mais que de poder, de uma responsabilidade muito maior que tem que cumprir com autêntica fidelidade. Os Santos Padres viram no texto profético um sentido messiânico enlaçando-o com o Evangelho (cf. Mt 16,13-20), onde Jesus concede a Pedro uma grande responsabilidade: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”(v. 19).

Ter as chaves não é um privilégio mas sim uma responsabilidade de serviço que Pedro terá que ir aprendendo e que o levará a entregar a vida como seu Mestre e Senhor, o “Messias, o Filho do Deus vivo”. O poder refletido nas chaves, conferido por Jesus à sua Igreja na pessoa de Pedro, “pedra”, é o de abrir, “dar acesso”, ao caminho e ao projeto do Reino de Deus, assim como “fechá-lo” a todo aquele que se comporta mal ou luta ousadamente contra este projeto de vida nova que Deus nos oferece.

Conta-nos o evangelho de hoje que "pelos lados de Cesaréia de Filipe", ostentação do poder romano, região pagã do antigo território da Palestina; a localização da cena não é um dado insignificante para ver o alcance do que se nos narra o texto. Jesus perguntou aos seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” (v. 13) para chegar à uma outra que a Ele interessa mais: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (v. 15)

O povo tinha uma opinião formada sobre Jesus: Ele é João Batista ressuscitado, Elias, que precede à chegada do Messias, ou um profeta. Estas opiniões apontam para a singularidade da pessoa de Jesus, é alguém especial, mas e para os discípulos? Pedro se adianta e responde que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. Trata-se de uma resposta “inspirada”. Pedro não sabe na realidade seu significado mais profundo. Entre a concepção que os discípulos e o povo em geral têm do messianismo de Jesus e a verdade de Jesus-Messias, há uma distância muito grande. O estilo de Messias que Jesus encarna choca-se fortemente com as expectativas dos sumos sacerdotes e mestres de Israel, que esperavam um messianismo glorioso, de poder político. Jesus, no entanto, é um Messias pobre e servidor, sem linhagem sacerdotal, isso para a tradição judaica era algo incompreensível.

A partir da resposta de Pedro Jesus vai confirmá-lo em uma missão que para levá-la adiante, ele necessitará saber o verdadeiro significado da mesma e não o que ele imagina. Seguindo a Jesus, dia a dia, irá compreender a responsabilidade de sua missão de ser “pedra” da Igreja de Jesus. Entendendo pouco a pouco o messianismo de Jesus estará preparado para desempenhar seu serviço e sua própria entrega.

Pedro não estará isento de erros e quedas: pelo contrário, como veremos depois, de rocha sólida ele se tornará “pedra de tropeço” e por causa dos seus sentimentos mundanos será até chamado por Jesus de “satanás” (cf. Mt 16,23). Mas isso não deve nos escandalizar, nem nos induzir a diminuir a autoridade de Pedro. Pelo contrário, devemos nos encantar com a extraordinária condescendência com que Jesus confiou a ele, homem frágil, o ministério decisivo para a comunhão e a unidade da Igreja; e, ao mesmo tempo, recordar que, na comunidade cristã, a autoridade só pode ser exercida conformando-se ao sentimento de Cristo, a única verdadeira Rocha sobre a qual se funda a Igreja (cf. 1Cor 3,11; 1Pd 2, 4-8)!

Diante da pergunta de Jesus o evangelho realça a resposta de Pedro e a missão que Jesus lhe confere. Assim o Apóstolo é instigado a entrar no caminho do poder-serviço, amor-serviço do Mestre; e isso não pode ser confundido com “transferência de poder”. Pior ainda é quando confundimos o “poder das chaves” com a “chave do poder”. Quem tem a chave tem o poder.

Todo “poder” corrompe, é o que se diz, ou ainda, quer conhecer alguém dê-lhe poder! Nenhum exercício do poder é evangélico; muito menos o “poder religioso”. Não há nada mais contrário à mensagem de Jesus que o poder. Jesus não transfere “poder” a Pedro, ele não “toma posse”; reforça nele a liderança para o cuidado e o serviço aos outros. Nenhum ser humano é mais que outro, nem está acima do outro. “Não chameis a ninguém de pai, não chameis a ninguém chefe, não chameis a ninguém senhor, porque todos vós sois irmãos” (cf. Mt 23, 8-12). A única autoridade que Jesus admite é o serviço.

O Messias despojou-se, despiu-se de todo poder, não exerceu poder porque o poder nunca é mediação para a libertação do ser humano, seja poder político, religioso, ou qualquer outra expressão de poder. Jesus tem autoridade: “ensinava-lhes com autoridade e não como os escribas” (Mt 7,29). Sua autoridade é caminho para o serviço e a promoção da vida. Por isso a autoridade de Jesus não tem nada a ver com o poder que domina ou a liderança que se impõe, às vezes autoritariamente pela força.

Jesus tem “autoridade” porque o “centro” está no outro; Ele veio para servir. Quem tem “poder”, ao contrário, o centro está em si mesmo, no seu ego autoritário; por isso é que toda expressão de poder é violenta, exclui, impõe-se ao outro, decide por ele... O poder alimenta dependência e submissão. Precisamos repensar nossas relações de poder na Igreja e na comunidade cristã.

Também hoje, Jesus dirige a cada um de nós a mesma pergunta feita aos seus discípulos: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Ele não nos pergunta para saber nossa resposta teológica sobre a identidade d’Ele, mas para que revisemos nossa relação com Ele. Somos seus seguidores, da pessoa de Jesus ou de uma religião, doutrina, normas, leis? Conhecemos cada vez melhor a Jesus, ou o fechamos em nossos velhos esquemas doutrinários? Somos comunidades vivas, formadas por servidores que colocam Jesus no centro de nossas vidas e de nossas atividades, ou vivemos estancados na rotina e na mediocridade?

Padre Assis Pereira Soares Pároco da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus.

Fonte: https://diocesecg.org/noticia/30853/o-poder-das-chaves

Cabo Verde. Exposição sobre Franz Kafka na Praia e no Mindelo

Franz Kafka - Escritor checo - 101 anos de nascimento - Exposição em Cabo Verde | Vatican News.

A figura e obra do escritor checo, Franz Kafka, um dos pilares da literatura mundial, estarão, em setembro de 2025, no centro duma exposição nas cidades cabo-verdianas da Praia e do Mindelo. A iniciativa é fruto duma parceria entre o Consulado Honorário da República Checa em Cabo Verde, o ex-Presidente e escritor, Jorge Carlos Fonseca, e a Rosa de Porcelana Editora - anunciou esta última no final da 7ª edição do Festival de Literatura-Mundo do Sal, realizado de 26 a 29 de junho 2025.

Dulce Araújo - Vatican News

Há 101 anos falecia o famoso escritor checo, Franz Kafka. A efeméride vai ser recordada nas duas principais cidades de Cabo Verde com a exposição "Franz Kafka, um homem do seu e do nosso tempo".

Uma das protagonistas desta iniciativa é a Rosa de Porcelana Editora que a anunciou como uma das atividades em pauta entre a 7ª edição e a 8ª do Festival, esta última agendada para junho de 2026.

A abertura da exposição inicialmente prevista para o dia 18 de julho, no Espaço Oficial do antigo Chefe de Estado e escritor, Jorge Carlos Fonseca, na cidade da Praia, foi adiada para 4 de setembro na capital cabo-verdiana e a partir de 13 do mesmo mês, no Mindelo.  Ela consiste num conjunto de painéis foto-biográficos sobre Kafka, concebidos a partir do livro homónimo do poeta Radek Maly e da ilustradora Renata Fucikova - revela Filinto Elísio, cofundador da Rosa de Porcelana Editora, na sua página fb.

Extensões do Festival e homenageados em 2026

As outras atividades anunciadas pela Rosa de Porcelana Editora, prendem-se com extensões em diversas cidades e países. Têm a duração de um dia e consistem numa mesa de análise científica e numa de reflexão e debate entre escritores. A primeira extensão deste ano foi a 1 de julho, no Tarrafal, ilha de Santiago. Preveem-se outras em Lisboa, Roma, Brasil.

No final da 7ª edição do Festival no Sal - do qual os organizadores saíram “contentes” e com sentimento de “objetivos cumpridos”, embora, afirmem, seja sempre uma “aprendizagem” - foi também anunciado que os homenageados de 2026 serão a cabo-verdiana, Maria Inácia Gomes Correia (Nha Nácia Gomi), cantadeira de finaçon e batucadeira, e o poeta brasileiro, Manoel de Barros, pelo centenário dos respetivos nascimentos.  

De salientar que com exceção de 2024 em que, pela importância da personalidade, se homenageou apenas Amílcar Cabral, e este ano, os quatro países que celebram 50 anos de independência, o Festival homenageia geralmente duas personagens: uma cabo-verdiana e uma estrangeira. Nha Nácia Gomi e Manoel de Barros têm em comum a organicidade poética, através da oratura e da desconstrução da língua, respetivamente - frisa Filinto Elísio.

Reestruturação do Festival

Ainda como novidade para as próximas edições do Festival, está em vista, graças a novas parcerias, em particular a “Novamonti”, uma reestruturação do Festival com aumento dos dias da edição no Sal, a estabilização da extensão no Tarrafal e a criação de extensões noutras ilhas de Cabo Verde.

Em fase de preparação está também a nova regulamentação para o Prémio Llana, o maior da literatura em Cabo Verde (sustentado pelo Ministério do Turismo e Transportes e pela Câmara Municipal do Sal) e que no próximo ano será sobre a poesia.

Fazer do Sal um ponto vibrante e ativo da Literatura

Ao traçar o balanço da 7ª edição do FLM-Sal, em que a poesia teve um lugar de destaque com a homenagem a quatro poetas africanos (Agostinho Neto - Angola; Onésimo Silveira - Cabo Verde; Noêmia de Sousa - Moçambique; e Alda Espírito Santo - São Tomé e Príncipe) Filinto Elísio exalta o valor deste género literário na humanização do mundo e como pilar da cabo-verdianidade. Salienta igualmente a forma como escolas do Sal são envolvidas no Festival e o entusiasmo com que os alunos se vão apropriando do evento. Tudo contribuindo para fazer da ilha “um ponto vibrante e ativo da literatura” como era, aliás, a intenção dos fundadores do FLM-Sal. É uma “sementeira em campo fértil” , cujos frutos virão com o tempo, remata Filinto Elísio, que podeis aqui ouvir:

Ouça aqui Filinto Elísio:

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2025/07/13/13/138724228_F138724228.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

DIPLOMACIA: “Falar-se sinceramente, ouvir-se reciprocamente”

O embaixador Ding Wei [© Embaixada da República Popular da China na Itália] | 30Giorni

Arquivo 30Dias nº 06/07 - 2010

ROMA VISTA POR PEQUIM. Quarenta anos de amizade

“Falar-se sinceramente, ouvir-se reciprocamente”

“Quem governa deveria saber ouvir de maneira sincera o que os outros têm a dizer, ao invés de recorrer sempre a ações que são a escapatória de uma tentação de hegemonia”. Palavras do embaixador da República Popular da China na Itália.

de Ding Wei

Como todo novo embaixador no início do seu mandato eu também estou acumulando sensações. E a primeira foi muito forte. Logo que coloquei os pés na Itália fui como que envolvido pela sua longa história, pela esplêndida cultura, em uma palavra, pela sua tradição. Na arte e na arquitetura, no direito e na ciência e na astronomia, na religião, o seu país deu muito ao mundo inteiro. Por isso estou muito orgulhoso de poder estar aqui.

Em segundo lugar a característica dos italianos que mais impressiona é a sua criatividade. Por isso que por idealização e realização o pavilhão italiano da Expo Xangai é uma obra excelsa de inovação, e não é um caso que seja uma das mais visitadas, com mais de 3 milhões de presenças: apesar do clima tórrido e das três horas de fila que algumas vezes são necessárias antes de entrar...

A terceira sensação sobre os italianos é de que seja um povo em busca da beleza e da elegância, pelo estilo, pelo design, e representam uma vanguarda. Por isso, de fato, muitos produtos italianos são conhecidos pelos chineses: eles reconhecem aos italianos esta tendência para a excepcionalidade, que nós chineses devemos estudar e assimilar.

Generoso, amistoso, e determinado a uma vida bela: este é o povo que mora no seu país. E que exprime todas estas qualidades na acolhida ao estrangeiro. Tudo o que percebi até agora, creio que deva ser mostrado também aos outros, aos meus compatriotas chineses em primeiro lugar.

Isso é mais facilitado pela descoberta que as relações entre o seu e o meu país sejam boas em todos os níveis de competência e de pessoas, das mais importantes às mais simples.

Na administração dos negócios estrangeiros, no plano bilateral como no multilateral, são numerosas as posições compartilhadas. Do mesmo modo, as trocas econômicas e a cooperação estão se intensificando e no ano passado, apesar da crise financeira, os intercâmbios alcançaram os 31,2 bilhões de dólares. As empresas italianas já trabalham há anos na China agora começaram os fluxos de investimentos chineses no seu país, e segundo as estatísticas do nosso Ministério do Desenvolvimento a exportação italiana para a China, único caso entre os países destinatários das mercadorias italianas, era em crescimento já no ano passado, em contratendência com relação à crise. Nos primeiros três meses deste ano o comércio entre a China e a Itália aumentou de 64%, um valor que encoraja a todos a alcançar o nível programado de 40 bilhões de dólares.

Este ano marca também o início do Ano da Cultura Chinesa na Itália, e é ainda mais significativo porque coincide com o 40º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e a Itália. Isso deve ser celebrado. Em 1970 as trocas comerciais anuais eram de 120 milhões de dólares e no decorrer de 40 anos este valor se multiplicou 400 vezes: hoje as nossas trocas comerciais de um dia correspondem ao que se fazia em um ano.

A Itália é uma das principais metas dos turistas chineses: no ano passado vieram à Itália 400 mil, e o número de chineses que cada dia visita o seu país é superior à soma dos turistas chineses na Itália e dos turistas italianos na China antes das relações diplomáticas. Com orgulho e com entusiasmo reconhecemos que em quarenta anos aconteceram mudanças importantes nas relações bilaterais.

Também para celebrar tudo isso, os líderes italianos e chineses concordaram sobre a oportunidade de inaugurar este ano o Ano da Cultura Chinesa na Itália. Graças ao Ano da Cultura Italiana na China de 2006 o número de admiradores chineses do seu país aumentou muito, e o nosso desejo é que agora aconteça o mesmo entre os italianos, que esperamos, possam conhecer o nosso país em toda a sua tradição e a sua modernidade, e por isso amá-lo. Em outubro os nossos líderes políticos chegarão à Itália vindos de Pequim para a abertura do Ano da Cultura Chinesa que tem agendado mais de cem eventos.

Definitivamente, entre nós há amizade, e graças ao que já representa a tradição das relações entre Itália e China, tenho confiança que a nossa cooperação se tornará mais vital e visível.

No Ano da Cultura Chinesa queremos comunicar que, assim como a Itália, a China é um país de longa história, esplêndida cultura e milenar tradição, e que os chineses são um povo trabalhador, inteligente e que ama a paz: desejamos a paz, em um mundo harmonioso, e iniciativas que reforcem as ligações entre os povos. Anunciamos também que ainda há muitos espaços abertos na cooperação econômica, e podem-se obter muitos frutos. A mensagem que trazemos é que os chineses querem muito conhecer a cultura italiana, querem saber mais, e nós esperamos que o mesmo fosse válido para os italianos em relação à China.

O presidente chinês Hu Jintao com o presidente Giorgio Napolitano no Palácio Quirinal a 6 de julho de 2009 por ocasião da visita de Estado [© AFP/Getty Images]

Na Itália há outro pequeno Estado que se chama Cidade do Vaticano, sede do governo da Igreja Católica. Respirando a Itália entra-se em contato com a sua tradição católica. Na China já conhecemos muito da cultura católica, a qual, assim como outras importantes culturas, tem uma grande influência em muitos países, enquanto que a fé católica, como todas as grandes religiões, jogou o seu papel na evolução do nosso mundo. A liberdade religiosa é sancionada pela nossa Constituição. Na China desenvolveram-se muitas fés religiosas, e vivem numerosos fiéis do budismo, do islamismo, do catolicismo e do cristianismo protestante. A difusão do catolicismo tem muitos séculos de história e se deve reconhecer que nos últimos cinquenta-sessenta anos esta teve um bom progresso no nosso país. Nós chineses somos radicais no princípio, que reafirmamos, de amar a pátria, amar a Igreja e administrar de modo independente os negócios religiosos. Os fiéis católicos na China hoje são mais ou menos 6 milhões, e em muitas cidades, incluindo as principais como Pequim, Xangai, Tianjin, há várias igrejas católicas. Nós acreditamos que também no futuro a Igreja Católica continuará a se desenvolver de modo sadio e estável. Estamos animados pela boa vontade e desejosos de melhorar as relações com a Santa Sé.

A sua revista é dirigida pelo presidente Giulio Andreotti, um amigo de sempre da China, um homem de Estado que merece o total respeito dos chineses. Estudou profundamente a política interna e internacional, e com essa sua bagagem sabe propor singulares observações. Como a de que, segundo ele, os líderes dos países dever sabem ouvir as razões dos interlocutores e não dar voz apenas e sempre às próprias. Este é um critério essencial para poder manter boas relações na comunidade internacional, e deverá sempre ser mais observado. Pensemos em quantos problemas surgiram no decorrer da história dos povos simplesmente por causa das incompreensões: quem governa deveria sempre ouvir de maneira sincera o que os outros têm a dizer, ao invés de recorrer sempre a ações que são o sinal de tentação de hegemonia. Sobre este princípio – falar-se sinceramente, ouvir-se reciprocamente – os líderes chineses encontram uma grande sintonia com o presidente Andreotti, e ocasiões de sinergia.

(Conversa com Giovanni Cubeddu revisada pelo autor)

Fonte: https://www.30giorni.it/