Fatos e Fotos - Comunidade I

sábado, 25 de outubro de 2025

“Não temas, pequeno rebanho”. Evangelizar em uma época de mudanças (1) (Parte 2/3)

Combate, proximidade e missão (Opus Dei)

“Não temas, pequeno rebanho”. Evangelizar em uma época de mudanças (1)

É hora de mudar o olhar, de passar da nostalgia à audácia, de uma fé em posição defensiva a uma fé que propõe com confiança uma visão do mundo e da vida.

23/10/2025

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Um “apóstolo moderno”[3] pode se sentir também, como um desses exploradores de baixa estatura, em um mundo de gigantes. Exploradores que desejariam levar ao coração do mundo a arca da aliança que iluminará todas as nações. “Filhos da luz, irmãos da luz: isso somos. Portadores da única chama capaz de iluminar os caminhos terrenos das almas, do único fulgor, no qual nunca poderão dar-se obscuridades, penumbras ou sombras”[4].

Como o povo que acompanhava Josué, gostaríamos de encontrar a confiança para passar do deserto a uma terra compartilhada com pessoas muito diferentes. Porque é essa imersão que nos permitirá converter-nos em luz para os povos. Para consegui-lo, no entanto, é preciso primeiro dar esse grande passo que o povo no deserto deixou pendente. É necessário decidir-se a entrar em contato. Nós, um povo eleito, mas bem consciente de nossa pequenez e insuficiência; e os outros, que são a verdadeira razão pela qual o Senhor nos escolheu. Esses outros, que parecem às vezes gigantes, e que podem dar a impressão de ser tão diferentes, mas que no fundo são como nós. Alguns deles ainda não conhecem o Deus vivo e verdadeiro, ou têm uma imagem equivocada d’Ele. E necessitam de nós, porque apesar de viver em uma terra rica, passam frequentemente por momentos difíceis.

Em todo caso, “não é verdade que toda a gente de hoje – assim, em geral e em bloco – esteja fechada ou permaneça indiferente ao que a fé cristã ensina sobre o destino e o ser do homem; não é verdade que os homens destes tempos se ocupem só das coisas da terra e se desinteressem de olhar para o céu. Ainda que não faltem ideologias – e pessoas que as sustentam – que permanecem fechadas, há em nossa época anseios elevados e atitudes rasteiras, heroísmos e covardias, idealismos e desenganos; criaturas que sonham com um mundo novo mais justo e mais humano, embora outras, decepcionadas talvez com o fracasso dos seus primitivos ideais, se refugiem no egoísmo de procurar apenas a sua própria tranquilidade ou de permanecer imersas no erro”[5].

Como sair ao seu encontro? Como decidir-se, não apenas a entrar em contato, mas a permanecer em um intercâmbio permanente com tantas pessoas que encontramos pelo caminho da vida? Em muitos lugares do mundo é evidente que nós, cristãos nos convertemos em um “pequeno rebanho” (Lc 12, 32), como eram os nossos primeiros irmãos na fé. Como é claro, lemos de vez em quando com alegria notícias alentadoras: por exemplo sobre o crescente número de batismos de adultos em alguns países ou sobre o aumento de vocações sacerdotais em outros continentes. Dá-nos também segurança ver tantos jovens celebrando o jubileu junto com o Papa. Tudo isso nos dá alegria, porém, não impede que, em alguns lugares, continuemos sendo uma minoria, às vezes silenciada por uma cultura que com frequência não assimila a fé cristã. As gerações mudam e a transmissão da fé torna-se mais difícil. Compreende-se o desconcerto de muitos pais e mães que, apesar de seus esforços, não conseguiram transmitir a fé cristã a seus filhos. Com frequência, tentaram fazer o que viram seus pais fazerem. Desta vez, no entanto, a transmissão não funcionou. Algo saiu mal. Entre outros fatores causados por este fenômeno, um deles é a mudança radical do contexto, que agora exige algo diferente.

Bento XVI explicava como “enquanto, no passado, era possível reconhecer um tecido cultural unitário, amplamente compartilhado no seu apelo aos conteúdo da fé e aos valores por ela inspirados, hoje parece que já não é assim em grandes sectores da sociedade devido a uma profunda crise de fé que atingiu muitas pessoas”[6].

Anos atrás o venerável Fulton Sheen já o havia anunciado também com grande lucidez, diante de um público atônito: “estamos no fim da cristandade. Não do cristianismo, não da Igreja, mas da cristandade. Pois bem, o que se entende por cristandade? A cristandade é a vida econômica, política e social inspirada nos princípios cristãos. Isso está chegando a seu fim, nós o vimos morrer”. No entanto, acrescentava, “estes são dias grandes e maravilhosos para estarmos vivos (...). Não se trata de um panorama sombrio, é simplesmente uma visão instantânea da Igreja em meio a uma oposição crescente por parte do mundo. Vivam, portanto, suas vidas com plena consciência desta hora de prova e apoiem-se no coração de Cristo”[7].


[3] São Josemaria, Caminho n. 335.

[4] São Josemaria, Carta 6, n. 3.

[5] São Josemaria, É Cristo que passa, n. 132. Cfr. também F. Ocáriz, Carta pastoral, 14/02/2017, n. 1.

[6] Bento XVI, Carta apostólica Porta fidei, n.2.

[7] Fulton Sheen, citado em De la cristiandad a la misión apostólica, Universidade de Mary, Rialp, Madrid, 2025, p. 30.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/nao-temas-pequeno-rebanho-evangelizar-em-uma-epoca-de-mudancas-1/

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