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quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Relatório da ACN revela: graves violações da liberdade religiosa em 62 países

Relatório ACN (Vatican News)

Foi apresentado em Roma o relatório de 2025 da fundação pontifícia Ajuda à Igreja que Sofre. Segundo os dados, mais de 5,4 bilhões de pessoas vivem em nações onde o direito de expressar livremente a própria fé é sistematicamente negado. O autoritarismo dos governos é uma ameaça global.

Federico Piana - Cidade do Vaticano

O número é perturbador: “dois terços da humanidade vive em países onde a liberdade religiosa não é plenamente garantida”. Se colocássemos em fila um por um dos homens, das mulheres e das crianças que são impedidos de rezar, externar a própria crença publicamente, ou que são até massacrados por causa de sua fé, teríamos diante de nós um exército infindável: mais de 5,4 bilhões de pessoas a quem é negado não um privilégio, mas um direito. 

Relatório extenso

E a Fundação pontifícia internacional Ajuda à Igreja que Sofre (ACN, sigla em inglês) reitera esse fato em cada página, em cada dado, em cada análise do novo relatório sobre a liberdade religiosa no mundo, apresentado nessa terça-feira, 21/10, no auditório do pontifício Instituto Patrístico Agostiniano de Roma. São 1.200 páginas - nunca assim tão numerosas desde que, há 25 anos, foi publicado pela primeira vez este estudo bienal. A extensão do documento demostra claramente como as coisas não estão indo bem. De fato, em um quarto de século, elas até mesmo pioraram. 

A intervenção do cardeal secretário de Estado no Pontifício Instituto Patrístico Augustinianum para a apresentação do Relatório 2025 sobre a liberdade religiosa no mundo publicado ...

Não apagar os holofotes

Isso foi confirmado pelos próprios palestrantes que, ao apresentarem o relatório, pediram que não fossem apagados os holofotes sobre um fenômeno sempre mais perigoso e talvez fora do controle. 

Sandra Sarti, presidente da ACS Itália, Regina Lynch, presidente da ACN Internacional, e Alfredo Matovano, subsecretário da Presidência do Conselho de Ministros Italiano, moderados por Alessandro Gisotti, vice-diretor da mídia do Vaticano, expressaram a convicção compartilhada de que toda a comunidade internacional não pode mais evitar uma intervenção imediata. Sem desviar o olhar.

Atitude também encorajada pelo cardeal secretário de Estado Pietro Parolin, que em seu discurso de abertura alertou que é "dever dos governos e das comunidades abster-se de forçar alguém a violar suas convicções profundas ou de impedir que alguém as viva autenticamente".

Poucos progressos

Mas ao ler o Relatório — apresentado pela diretora editorial do documento, Marta Petrosillo — entende-se como tudo isso é sistematicamente desconsiderado. Antes de tudo, porque a pesquisa minuciosa, que analisou 196 nações no período de janeiro de 2023 a dezembro de 2024, “documenta graves violações em 62 do total. Desse, 24 são classificados como países de ‘perseguição’ e 38 como países de ‘discriminação’”. 

Só duas nações – Cazaquistão e Sri Lanka – registraram melhorias em relação às edições anteriores do estudo. Na maioria dessas nações, a causa da repressão religiosa é resultado do autoritarismo: “Os governos recorrem a tecnologias de vigilância de massa, censura digital, legislações injustas e prendem arbitrariamente para atingir as comunidades religiosas independentes. O controle da fé se transformou em um instrumento de poder político”.  

Nacionalismo religioso

A África e a Ásia também sofrem com o aumento do jihadismo e do nacionalismo religioso. Segundo o relatório, “em 15 países dos dois continentes, essas são causas principais da perseguição e, em outros 10, contribuem para a discriminação”. O epicentro da violência jihadista parece estar em toda a área de Sahel, onde centenas de milhares de pessoas encontram a morte e onde comunidades e cidades inteiras são deslocadas. 

“O nacionalismo étnico-religioso - acrescenta o relatório - alimenta, paralelamente, a repressão de minorias em algumas áreas da Ásia. Estamos diante, em alguns casos, de uma ‘perseguição híbrida’, uma combinação de leis discriminatórias e violência perpetrada por civis, mas encorajada pela retórica política”. 

A causa das guerras

Os conflitos que estão ensanguentando o mundo, como aqueles na Ucrânia, no Mianmar e em Gaza, deram um impulso sem precedentes à violação da liberdade religiosa. “As guerras geraram um crise silenciosa de deslocamento. No Sahel, por exemplo, aldeias inteiras foram destruídas por milícias islâmicas.  Em tudo isso, também se insere o crime organizado que emergiu como um novo agente de perseguição: grupos armados matam ou sequestram líderes religiosos e extorquem dinheiro das paróquias para exercitar o controle territorial”. 

Europa e América do Norte também atacadas

Também na Europa e na América do Norte a liberdade religiosa é severa e constantemente atacada. Para se ter uma ideia sobre isso, basta observar os dados: “Em 2023, a França registrou quase mil ataques a igrejas. Na Grécia, foram verificados outros 600 atos de vandalismo. Números semelhantes foram registrados também na Espanha, na Itália e nos Estados Unidos”. 

Ajuda à Igreja que Sofre, pela primeira vez, lançou uma petição global, afirmaram os organizadores, para que “os governos e as organizações internacionais garantam a proteção efetiva do artigo 18 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, que reconhece, a todas as pessoas, o direito à liberdade de pensamento, de consciência e de religião”. 

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

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