Como vulcão pode ter provocado pandemia que dizimou metade da população da Europa no século 14
Autor: Helen Briggs
Repórter de meio ambiente,
Reportagens de BBC News
5 dezembro 2025
Uma erupção vulcânica por volta do ano de 1345 pode ter
iniciado uma reação em cadeia que culminou na pandemia mais letal da Europa, a Peste Negra, afirmam
cientistas.
Indícios preservados em anéis de árvores sugerem que a
erupção provocou um choque climático, desencadeando uma sequência de eventos
que trouxe a doença à Europa medieval.
Nesse cenário, cinzas e gases liberados pelo vulcão causaram
quedas extremas de temperatura e safras ruins.
Para evitar a fome,
cidades-Estados italianas populosas precisaram importar grãos de regiões
próximas ao mar Negro, trazendo inadvertidamente pulgas transmissoras da
bactéria Yersinia pestis, responsável pela doença.
Essa "tempestade perfeita" de choque climático,
fome e comércio lembra como doenças podem surgir e se espalhar em um mundo
globalizado e mais quente, segundo especialistas.
"Embora a coincidência de fatores que contribuiu para
que a Peste Negra pareça rara, a probabilidade de surgirem doenças zoonóticas
em função das mudanças climáticas e de se transformarem em pandemias tende a
aumentar em um mundo globalizado", disse Ulf Büntgen, da Universidade de
Cambridge (Reino Unido).
"Isso é especialmente relevante diante da nossa
experiência recente com a covid-19",
acrescentou Büntgen.
A Peste Negra (ou peste bubônica) varreu a Europa entre 1348
e 1349, matando até metade da população do continente. A doença era espalhada
por roedores selvagens, como ratos, e pulgas.
Acredita-se que o surto tenha se iniciado na Ásia Central e
se espalhado pelo mundo via comércio.
No entanto, a sequência exata de eventos que trouxe a doença
à Europa — causando milhões de mortes — tem sido objeto de estudo detalhado por
historiadores.
Agora, pesquisadores da Universidade de Cambridge e do
Instituto Leibniz de História e Cultura da Europa Oriental, em Leipzig
(Alemanha), preencheram uma lacuna nesse quebra-cabeça.
Eles analisaram anéis de árvores e núcleos de gelo para
examinar as condições climáticas na época da Peste Negra.
As evidências indicam que a atividade vulcânica em torno de
1345 provocou quedas acentuadas de temperatura por anos consecutivos, devido à
liberação de cinzas e gases que bloquearam parte da luz solar.
Isso, por sua vez, causou perdas generalizadas nas colheitas
do Mediterrâneo. Para evitar a fome, cidades-estados italianas passaram a
comercializar grãos com produtores ao redor do mar Negro, permitindo
inadvertidamente que a bactéria se estabelecesse na Europa.
Martin Bauch, historiador de clima medieval e epidemiologia
do Instituto Leibniz de História e Cultura da Europa Oriental, afirmou que os
eventos climáticos se encontraram com um "sistema complexo de segurança
alimentar", configurando uma "tempestade perfeita".
"Por mais de um século, essas poderosas cidades-estados
italianas mantinham rotas comerciais de longa distância pelo Mediterrâneo e
pelo mar Negro, criando um sistema eficiente para evitar a fome", disse
ele. "Mas, no fim, isso acabou levando acidentalmente a uma catástrofe
muito maior."
Os achados foram publicados na revista Communications Earth &
Environment.




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