As palavras do Papa ao Meeting 2025, indicam qual é o verdadeiro caminho da missão.
Andrea Tornielli
Na mensagem enviada ao Encontro pela Amizade entre os Povos,
em andamento em Rimini, Leão XIV citou a exposição sobre os mártires da
Argélia, nos quais “resplandece a vocação da Igreja a habitar o deserto em
profunda comunhão com a humanidade toda, superando os muros de desconfiança que
contrapõem as religiões e as culturas, na imitação integral do movimento de
encarnação e de doação do Filho de Deus”. O Papa destacou que “é esta via de
presença e de simplicidade” o “verdadeiro caminho da missão”. Uma indicação
preciosa e particularmente significativa, não apenas para o povo reunido em
Rimini, mas para toda a Igreja. A missão, continua a se ler na mensagem, “nunca
é uma autoexibição, na contraposição das identidades, mas o dom de si até o
martírio de quem adora dia e noite, na alegria e nas tribulações, só a Jesus
como Senhor”.
É comovente, ao seguir o percurso da exposição sobre os
mártires da Argélia, ver como se dedicaram àquele povo, simplesmente
compartilhando em tudo e por tudo suas vidas, oferecendo um testemunho de
fraternidade, amizade, proximidade e de ajuda concreta. Sem protagonismos, sem
se preocupar com os números, sem confiar em estratégias teóricas. É o que
emerge de uma homilia do bispo mártir Pierre Claverie, que em 1996, pouco antes
de ser morto por fundamentalistas islâmicos, respondendo à pergunta sobre por
que continuava a viver na Argélia, sabendo que arriscava a vida todos os dias,
havia dito: “Onde é a casa para nós? Estamos ali por causa deste Messias
crucificado. Por nenhum outro motivo, por nenhuma outra pessoa! Não temos
interesses a defender, nenhuma influência a manter... Não temos poder algum,
mas estamos ali como à cabeceira de um amigo, de um irmão doente, em silêncio,
segurando-lhe a mão, enxugando-lhe a testa. Por causa de Jesus, porque é Ele
quem sofre, naquela violência que não poupa ninguém, crucificado novamente na
carne de milhares de inocentes”.
E continuava: “Onde deveria estar a Igreja de Jesus, que é
ela mesma o Corpo de Cristo, senão, antes de tudo, ali? Eu acredito que ela
morre justamente pelo fato de não estar suficientemente próxima da cruz de
Jesus… A Igreja se engana, e engana o mundo, quando se apresenta como uma
potência entre as outras, como uma organização, mesmo humanitária, ou como um
movimento evangélico espetacular. Pode até brilhar, mas não arde do fogo do
amor de Deus”.
Um julgamento lúcido e dramático: a Igreja morre quando não
está suficientemente próxima da cruz de Jesus, quando se mundaniza,
transformando-se em uma ONG, quando persegue o poder político e econômico,
quando confia nos números, quando pensa que para evangelizar basta repetir o
nome de Jesus Cristo em toda ocasião, em vez de aceitar o desafio de segui-lo
na concretude da vida, na radicalidade das escolhas e no compromisso em favor
dos últimos. A Igreja morre quando transforma o anúncio da fé em show, quando
pensa que pode brilhar com luz própria, esquecendo que só pode refletir a luz
de um Outro.
O testemunho dos mártires da Argélia, tão distantes do
protagonismo autocentrado de hoje, representa uma provocação e um chamado à
essência do Evangelho, um sinal de contradição. É significativo que, na
conclusão da sua mensagem ao Meeting, Leão XIV tenha feito questão de lembrar o
Papa Francisco e seu ensinamento: “a opção pelos pobres é mais uma categoria
teológica que cultural, sociológica, política ou filosófica. De fato, Deus
“escolheu os humildes, os pequenos, os sem poder e, do ventre da Virgem Maria,
fez-se um deles, a fim de escrever na nossa história a sua história. O
autêntico realismo é, portanto, aquele que inclui quem tem um outro ponto de
vista, que enxerga aspectos da realidade que não são reconhecidos nos centros
de poder onde são tomadas as decisões mais determinantes”. Foi o que
testemunharam os mártires da Argélia até o fim, misturando o sangue cristão com
o de tantos muçulmanos vítimas do fundamentalismo".
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