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sábado, 23 de agosto de 2025

EDITORIAL: Leão e o testemunho dos mártires da Argélia

Monges de Tibhirine (Vatican News)

As palavras do Papa ao Meeting 2025, indicam qual é o verdadeiro caminho da missão.

Andrea Tornielli

Na mensagem enviada ao Encontro pela Amizade entre os Povos, em andamento em Rimini, Leão XIV citou a exposição sobre os mártires da Argélia, nos quais “resplandece a vocação da Igreja a habitar o deserto em profunda comunhão com a humanidade toda, superando os muros de desconfiança que contrapõem as religiões e as culturas, na imitação integral do movimento de encarnação e de doação do Filho de Deus”. O Papa destacou que “é esta via de presença e de simplicidade” o “verdadeiro caminho da missão”. Uma indicação preciosa e particularmente significativa, não apenas para o povo reunido em Rimini, mas para toda a Igreja. A missão, continua a se ler na mensagem, “nunca é uma autoexibição, na contraposição das identidades, mas o dom de si até o martírio de quem adora dia e noite, na alegria e nas tribulações, só a Jesus como Senhor”.

É comovente, ao seguir o percurso da exposição sobre os mártires da Argélia, ver como se dedicaram àquele povo, simplesmente compartilhando em tudo e por tudo suas vidas, oferecendo um testemunho de fraternidade, amizade, proximidade e de ajuda concreta. Sem protagonismos, sem se preocupar com os números, sem confiar em estratégias teóricas. É o que emerge de uma homilia do bispo mártir Pierre Claverie, que em 1996, pouco antes de ser morto por fundamentalistas islâmicos, respondendo à pergunta sobre por que continuava a viver na Argélia, sabendo que arriscava a vida todos os dias, havia dito: “Onde é a casa para nós? Estamos ali por causa deste Messias crucificado. Por nenhum outro motivo, por nenhuma outra pessoa! Não temos interesses a defender, nenhuma influência a manter... Não temos poder algum, mas estamos ali como à cabeceira de um amigo, de um irmão doente, em silêncio, segurando-lhe a mão, enxugando-lhe a testa. Por causa de Jesus, porque é Ele quem sofre, naquela violência que não poupa ninguém, crucificado novamente na carne de milhares de inocentes”.

E continuava: “Onde deveria estar a Igreja de Jesus, que é ela mesma o Corpo de Cristo, senão, antes de tudo, ali? Eu acredito que ela morre justamente pelo fato de não estar suficientemente próxima da cruz de Jesus… A Igreja se engana, e engana o mundo, quando se apresenta como uma potência entre as outras, como uma organização, mesmo humanitária, ou como um movimento evangélico espetacular. Pode até brilhar, mas não arde do fogo do amor de Deus”.

Um julgamento lúcido e dramático: a Igreja morre quando não está suficientemente próxima da cruz de Jesus, quando se mundaniza, transformando-se em uma ONG, quando persegue o poder político e econômico, quando confia nos números, quando pensa que para evangelizar basta repetir o nome de Jesus Cristo em toda ocasião, em vez de aceitar o desafio de segui-lo na concretude da vida, na radicalidade das escolhas e no compromisso em favor dos últimos. A Igreja morre quando transforma o anúncio da fé em show, quando pensa que pode brilhar com luz própria, esquecendo que só pode refletir a luz de um Outro.

O testemunho dos mártires da Argélia, tão distantes do protagonismo autocentrado de hoje, representa uma provocação e um chamado à essência do Evangelho, um sinal de contradição. É significativo que, na conclusão da sua mensagem ao Meeting, Leão XIV tenha feito questão de lembrar o Papa Francisco e seu ensinamento: “a opção pelos pobres é mais uma categoria teológica que cultural, sociológica, política ou filosófica. De fato, Deus “escolheu os humildes, os pequenos, os sem poder e, do ventre da Virgem Maria, fez-se um deles, a fim de escrever na nossa história a sua história. O autêntico realismo é, portanto, aquele que inclui quem tem um outro ponto de vista, que enxerga aspectos da realidade que não são reconhecidos nos centros de poder onde são tomadas as decisões mais determinantes”. Foi o que testemunharam os mártires da Argélia até o fim, misturando o sangue cristão com o de tantos muçulmanos vítimas do fundamentalismo".

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF