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sábado, 31 de maio de 2025

“Win or Lose” e a personagem cristã da Disney Pixar

Win or Lose Disney

Paulo Teixeira - publicado em 28/05/25

A nova série animada da Disney ganhou destaque na mídia por incluir um personagem abertamente cristão.

A série conta a história de um time de softball. A filha do treinador, chamada Laurie, tem dificuldades em relação à insegurança. Em um episódio ela é retratada dirigindo uma oração a Deus, pedindo ao “Pai celestial” ajuda para “pegar uma bola ou dar uma rebatida”. 

Esse episódio chamou a atenção para a inserção de um personagem cristão nas animações. As referências religiosas e multiculturais são sempre bem discretas no universo de Disney Pixar. 

Em O Corcunda de Notre-Dame (1996), por exemplo, o cenário é uma catedral e uma das canções é religiosa. Mas em outras animações, como Frozen em que um bispo aparece oficiando a coroação de Elsa, os elementos religiosos são discretos.

Influência

Disney e suas animações influenciam gerações que se afeiçoam a seus personagens. Isso é importante para as famílias, pois, pais e filhos podem assistir aos filmes novos e antigos e debater sobre os valores que transmitem. 

Dois eixos em que giram as tramas de Disney são a individualidade e a espiritualidade. Em geral os personagens centrais embarcam em jornadas épicas para descobrir a si mesmos e dar um sentido à vida (veja o caso de Moana, Red crescer é uma fera, e Rei Leão, por exemplo).

Essa busca da individualidade tem algo de espiritual no sentido que tem um chamado externo, algo de transcendente, alguma “magia”; ao mesmo tempo, leva a questões pessoais complexas e tratam a questão do individualismo, sempre falam de “seguir o caminho do coração”.

Contradições

A família pode conversar sobre o sentido da vida de um personagem, sobre o protagonismo dele na narrativa; e pode também falar sobre a “energia”, sobre as questões transcendentes que aparecem nas animações. Contudo, aparecem elementos não cristãos, como comunicação entre vivos e mortos como no Rei leão, ou a conversa com espíritos de Pochahontas.

Discernimento

Não precisa proibir as crianças de assistir animações com temas discordantes. É importante esclarecer para a criança que a fé cristã não é baseada em narrativas e que, embora seja importante contar histórias, a Bíblia não é um livrinho de contos. A Bíblia é a narrativa da fé cristã, nela está a verdade. 

É importante ajudar a criança a discernir. Mostrar para ela que o exemplo da Laurie que reza e confiança a Deus sua preocupação é importante; e que “magia”, conversas com espíritos e até mesmo soluções mágicas de problemas não são elementos da fé cristã.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/05/28/win-or-lose-e-a-personagem-crista-da-disney-pixar

O Papa: a identidade do padre depende da união com Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote

Missa celebrada na Basílica de São Pedro por Leão XIV (Vatican Media)

Juntos, reconstruiremos a credibilidade de uma Igreja ferida, enviada a uma humanidade ferida, dentro de uma criação ferida. Não somos ainda perfeitos, mas é necessário ser críveis: disse Leão XIV dirigindo-se aos onze diáconos por ele ordenados sacerdotes para a Diocese de Roma na Missa celebrada na manhã deste sábado, 31 de maio, na Basílica de São Pedro

Raimundo de Lima – Vatican News

Na homilia da Missa na qual Leão XIV ordenou 11 novos sacerdotes para a Diocese de Roma, na manhã deste sábado, 31 de maio, na Basílica de São Pedro, o Papa ressaltou ser fundamental a relação entre o que hoje celebramos e o povo de Deus. “A profundidade, a amplitude e até mesmo a duração da alegria divina que agora compartilhamos são diretamente proporcionais aos laços que existem e crescerão entre vocês, ordenandos, e o povo de onde vocês provêm, do qual vocês continuam sendo parte e para o qual são enviados”. O Santo Padre deteve-se sobre esse aspecto, tendo em mente que a identidade do sacerdote depende da união com Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote.

Leão XIV lembrou que somos povo de Deus e que o Concílio Vaticano II tornou essa consciência mais viva, quase antecipando um tempo em que a pertença se tornaria mais fraca e o sentido de Deus mais rarefeito. “Vocês são testemunhas do fato de que Deus não se cansou de reunir seus filhos, mesmo que diferentes, e de formá-los em uma dinâmica unidade”, frisou.

Viver segundo o estilo de Jesus

Ainda na homilia da celebração, antes do rito de ordenação presbiteral, numa Basílica Vaticana com 5.500 fiéis, o Santo Padre dirigiu-se aos ordenandos exortando-os a viverem segundo o estilo de Jesus:

Caros ordenandos, imaginem-se então, vós mesmos, no estilo de Jesus! Ser de Deus – servos de Deus, povo de Deus – nos liga à terra: não a um mundo ideal, mas àquele real. Como Jesus, são pessoas de carne e osso aquelas que o Pai coloca em vosso caminho. Consagrem-se a elas, sem se separarem, sem se isolarem, sem fazer do dom recebido uma espécie de privilégio. Papa Francisco nos alertou tantas vezes contra isso, porque a autorreferencialidade apaga o fogo do espírito missionário.

A Igreja é constitutivamente aberta, como abertas são a vida, a paixão, a morte e a ressurreição de Jesus, prosseguiu o Bispo de Roma. Vocês farão suas as palavras dele em cada Eucaristia: é "para vocês e para todos". Ninguém jamais viu a Deus. Ele se voltou para nós, saiu de si mesmo. O Filho se tornou a exegese disso, a história viva. E nos deu o poder de nos tornarmos filhos de Deus. Não busquem, não busquemos outro poder!

Santa Missa, 31 de maio de 2025 - Papa Leão XIV

https://youtu.be/B4PJse8BUkM

A missão é de Jesus, nenhum de nós é chamado a substituí-lo

Leão XIV destacou que a missão é de Jesus. Ele ressuscitou, portanto está vivo e nos precede, lembrando que nenhum de nós é chamado a substituí-lo.

Também nós, Bispos, queridos ordenandos, ao envolver-vos na missão hoje, damos espaço a vós. E vós dais espaço aos fiéis e a toda a criatura, a quem o Ressuscitado está próximo e em quem gosta de nos visitar e surpreender. O povo de Deus é mais numeroso do que vemos. Não definamos os limites.

Não somos ainda perfeitos, mas é necessário ser críveis

Antes de concluir sua reflexão, o Santo Padre lembrou aos ordenandos que estamos no meio do povo de Deus para podermos estar diante dele, com um testemunho crível:

Juntos, então, reconstruiremos a credibilidade de uma Igreja ferida, enviada a uma humanidade ferida, dentro de uma criação ferida. Não somos ainda perfeitos, mas é necessário ser críveis.

Jesus Ressuscitado mostra-nos as suas feridas e, mesmo sendo sinal de rejeição da humanidade, perdoa-nos e envia-nos. Não o esqueçamos! Ele sopra também hoje sobre nós e torna-nos ministros de esperança, frisou.

Vigília de oração pelos novos presbíteros

Por fim, Leão XIV agradeceu a Deus que os chamou para servir um povo inteiramente sacerdotal, pedindo que Nossa Senhora da Confiança e Mãe da Esperança interceda por nós.

Concluída a homilia, teve lugar o rito de ordenação. Entre os onze novos sacerdotes para a Diocese de Roma, o mais jovem tem 28 anos e o mais velho 49 anos. Na noite desta quinta-feira (29) a comunidade se reuniu na Basílica de São João de Latrão - sede da Diocese de Roma – para uma vigília de oração pelos novos presbíteros, na qual cada um deles testemunhou sua vocação.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

HISTÓRIA DA IGREJA: Leigo, isto é, cristão (Parte II)

A edição de L’Osservatore Romano de 17 de agosto de 1917 com o texto da Nota de Bento XV aos chefes dos povos beligerantes (30Giorni)

Arquivo 30Dias, número 04 – 2006

Leigo, isto é, cristão

Bento XV promoveu a caridade, a paz e a liberdade dos filhos de Deus por meio do respeito às pessoas e às instituições. Quarta e última etapa da resenha dos papas que adotaram o nome Bento.

de Lorenzo Cappelletti

A eleição ao pontificado

Justamente por representar essa posição mais moderada, Della Chiesa, mesmo tendo chegado ao cardinalato poucos meses antes, estava entre os papáveis e foi eleito papa, apesar da resistência imposta a seu nome do início ao fim do conclave por aqueles que gostariam de manter o leme na rota da intransigência. Durante o seu pontificado, esses mesmos fizeram soprar ventos de revolta, tanto mais insidiosos quanto mais sopravam de junto do Pontífice. Foram conhecidos como o “pequeno Vaticano”. Dois meses antes da morte de Bento XV, Merry del Val, criticando-o, escrevia numa carta particular que era preciso “fugir às táticas da política humana [...]. Num tempo em que o mundo perdeu a orientação e busca ansiosamente um ancoradouro que só nós somos capazes de oferecer, não deveríamos nos deixar arrastar pela corrente e parecer gente disposta a brincar com os princípios”. Bento não deu ouvidos a isso e não fez grandes mudanças. A não ser no caso da Secretaria de Estado, na qual, agindo com o conhecimento direto que tinha dos homens e dos organismos vaticanos, fez opções decisivas. Basta lembrar, além da nomeação de Gasparri, chamado para o lugar de Merry del Val como secretário de Estado depois da inesperada morte de Ferrata, os nomes de Bonaventura Cerretti, de Pacelli, de Ratti, do próprio Valfrè di Bonzo (e também de Roncalli e de Montini, que dava então os primeiros passos de sua carreira), todos destinados a cargos de relevo durante o pontificado de Bento. Um papa que escolheu esse nome não apenas em referência ao santo monge de Núrsia, mas também, como ele mesmo dizia (ao que parece), a Bento XIV, que fora seu predecessor tanto na sé de Bolo­nha quando na de Roma, em meados do século XVIII: jurista como ele e como ele obrigado a se defender daqueles que queriam ensinar doutrina ao papa.

Caridade e obediência são os elementos-chave de sua primeira encíclica programática, Ad beatissimi, de novembro de 1914. Afinal, esses haviam sido os elementos distintivos do trabalho de Della Chiesa, e que caracterizariam seu magistério e sua ação também como papa. Categorias que deveriam valer não apenas ad intra (o que é uma coisa óbvia, mas, talvez também por isso, muito rara de ser praticada), mas também ad extra, frisando, por um lado, o dever de “amor recíproco entre os homens” e, por outro, o princípio apostólico da sujeição a toda e qualquer autoridade legítima.

É interessante sublinhar que a encíclica identificava a raiz última do amor recíproco entre os homens no fato de que Jesus Cristo derramou seu sangue por todos. O Papa o frisava três vezes. Acabava de estourar a guerra, e essa insistência já sugeria implicitamente o quanto era inútil qualquer novo derramamento de sangue. A famosa Nota aos beligerantes de 1º de agosto de 1917, a do “massacre inútil” - que não por acaso começava com Dès le début (“Desde o início de nosso pontificado...”) -, nada mais teria feito senão explicitar esse juízo, consolidado por novos sistemas de ataque, mais bárbaros e sanguinários, como o dos bombardeios aéreos, citando abertamente.

A finalidade dessa Nota, por outro lado, não era definir nem denunciar, mas, sim, oferecer uma proposta concreta de paz. “Foi a primeira vez durante a guerra que qualquer pessoa ou potência formulou um esquema detalhado ou prático para uma negociação de paz” (Pollard, p. 148), com a consciência, expressa mais de uma vez pelo Papa desde a Ad beatissimi, de que a paz é a condição para que se realize o amor recíproco entre os homens: “A paz é um grandíssimo dom de Deus; entre as coisas terrenas, não nos é dado ver nada mais agradável, nem podemos desejar coisa mais doce: enfim, não podemos encontrar nada melhor”, escrevia, citando Agostinho, já na Pacem Dei munus.

Estes foram os artigos de Lorenzo Cappelletti sobre os papas que adotaram o nome Bento anteriormente publicados em 30Dias: <BR><BR> 1) Nomen omen, nº 10, outubro de 2005, pp. 64-69; <BR> 2) Um ‘continuum’ descontínuo, nº 11, novembro de 2005, pp. 38-43; <BR> 3) Benditos reformadores, nº 12, dezembro de 2005, pp. 40-45.

Mas o nacionalismo de muitos governos, hostis a qualquer solução que não fosse a sanguinolenta das armas, levou ao fracasso da proposta de 1917. Pesou também em sentido negativo a situação de menoridade em que se encontrava a Santa Sé do ponto de vista diplomático. De fato, o papado já não gozava desde 1870 de qualquer soberania, e Merry del Val, durante o pontificado anterior, promovera, se isso era possível, um crescente isolamento, quase se vangloriando de um encastelamento em torno dos valores: com a França, por exemplo, já não havia relações desde 1906. Com a Grã-Bretanha, elas haviam cessado três séculos e meio antes!

Assim, coube a Bento XV (apesar de ter reativado essas relações e muitas outras, mas sem chegar à reconciliação com a Itália) a tarefa de enfaixar as feridas produzidas pelo conflito, organizando campanhas de donativos, trocas de prisioneiros, coletas de informações. A maneira como depois foi louvado por sua ação pareceu às vezes expressar um reconhecimento diretamente proporcional à satisfação pela subalternidade a que essa ação havia se restringido.

Nem a guerra que havia terminado permitiu à Santa Sé participar da Conferência de Paz de Versalhes de meados de 1919. No entanto, Bento XV e Gasparri talvez fossem os analistas mais agudos naquele momento, diríamos hoje, e poderiam ter dado uma contribuição para a paz, se esta tivesse sido a finalidade da Conferência de Paz. Tanto assim, que perceberam logo que as condições impostas aos vencidos não diminuiriam as hostilidades, da mesma forma como sublinharam a impossível autossuficiência das nações que surgiram com a dissolução do Império Austro-Húngaro. “Uma previsão que a história, de maneira até dolorosa demais, demonstrou estar correta”, escreve Pollard.

Também a propósito de um Oriente Médio redesenhado pela queda do Império Otomano, reinava grande preocupação no Vaticano: a coexistência multirreligiosa que, no fundo, esse Império havia garantido estava começando a desmoronar bem naquele momento, como se lê num belo ensaio de Andrea Riccardi de título revelador, Bento XV e a crise da convivência religiosa no Império Otomano.

Uma das 58 litografias do Miserere de Georges Rouault, composta nos anos da Primeira Guerra Mundial (30Giorni)

Empreitadas cheias de lucidez

Até aqui, vimos a primeira parte do pontificado de Bento XV, dominada pela emergência da guerra, que durou bem além do final dela. A segunda parte, que cronologicamente mescla-se com a primeira, distingue-se por algumas empreitadas cheias de lucidez. Ainda que o projeto de todas elas não pertença ao Papa, ou que não sejam diretamente obra dele, devem porém a ele o fato de se terem tornado realidade: o Código de Direito Canônico, promulgado em 1917, coletânea iniciada já sob Pio X e devida em grande parte à competência e à capacidade de trabalho de Gasparri; também em 1917, o desmembramento, a partir de Propaganda Fide, de uma autônoma Congregação da Igreja Oriental (depois “das Igrejas Orientais”), cuja presidência foi assumida pelo próprio Papa, pelo interesse que o ligava a ela; e a criação de um Instituto de Estudos sobre o Oriente Cristão. Gestos aparentemente de simples cunho administrativo, mas na realidade significativos de uma concepção da catolicidade que não seria tal sem as Igrejas não-latinas, como frisou, num recente congresso desenvolvido em Anagni, o atual reitor daquele Instituto de Estudos: a abertura de uma nova temporada missionária, inaugurada pela encíclica Maximum illud, que programaticamente liberava a ação dos missionários dos laços perversos com o nacionalismo e o colonialismo, que penalizavam sobretudo o aparecimento de uma hierarquia autóctone na China; e, enfim, o início tímido mas real dos primeiríssimos diálogos ecumênicos, em Malines, com a autorização do Papa bem às vésperas da sua morte.

Além disso, com relação à Itália, ou melhor, à Questão Romana, foi por meio da relação leal entre Bento XV e o antigo colega de escola barão Carlo Monti, diretor-geral das Questões de Culto e, reservadamente, encarregado de negócios do governo italiano junto à Santa Sé, que começou a “Conciliação oficiosa” que dá título aos dois volumes recentemente publicados do diário de Monti, rico em “autenticidade e vigor singulares”, como escreve no prefácio o cardeal Silvestrini.

Da mesma forma, deve-se a Bento XV e a Gasparri o nascimento do Partido Popular Italiano (o Apelo aos livres e fortes é de 18 de janeiro de 1919). Não no sentido de que o tenham imposto. “O Partido Popular surgiu por geração espontânea, sem nenhuma interferência da Santa Sé nem pró nem contra”, escreveu Gasparri em suas memórias. Mas no sentido de que nasceu e se desenvolveu segundo as coordenadas de aconfessionalidade e reformismo que o teriam dado à Itália como um fator decisivo do “maior bem-estar de sua convivência”, para retomar ainda as palavras de Gasparri. Isso, sim, eles realmente quiseram, escreve padre Sale, agindo também contra aquela parte dos católicos e dos bispos que “pensava em criar um partido católico fortemente submisso às diretrizes da hierarquia”.
Explicit.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Hoje é dia do venerável frei Damião

Frei Damião de Bozzano | www.capuchinhos.org.br

Hoje é dia do venerável frei Damião, capuchinho que foi missionário no Nordeste brasileiro

Por Redação central

31 de maio de 2025

 Hoje (31) é dia do venerável frei Damião de Bazzano, capuchinho que ficou conhecido por suas Santas Missões no Nordeste do Brasil.

Frei Damião nasceu em Bozzano, na Itália, em 5 de novembro de 1898, tendo recebido o nome de Pio Gianotti. Era o segundo dos cinco filhos do casal de camponeses Felice e Maria Giannotti.

Aos dez anos, depois de crismado, começou a expressar os primeiros sinais de vocação e, aos 13 anos, entrou para o Seminário Seráfico de Camigliano, da Ordem dos Frades Menores Capuchinhos, em 17 de março de 1911.

Aos 17 anos, em julho de 1915, fez os primeiros votos e recebeu o nome de frei Damião de Bozzano. Em setembro de 1918, interromper os estudos porque foi convocado, e para o serviço para lutar na Primeira Guerra Mundial.

Voltou ao convento ao fim da guerra e fez a profissão perpétua. Em 1920, foi estudar Teologia na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma.

Frei Damião foi ordenado sacerdote em 25 de agosto de 1923, na igreja do antigo Colégio São Lourenço de Brindisi, em Roma. Em 1931, foi enviado ao Brasil, onde chegou em 17 de junho, tendo se estabelecido no Convento Nossa Senhora da Penha, em Recife (PE). Foram 66 anos dedicados às Santas Missões.

As Santas Missões costumavam durar de segunda-feira a domingo. Durante esta semana missionária, o frade proclamava a Palavra de Deus em uma cidade, por isso, afirmava ser apenas um mensageiro de Deus.

As Santas Missões contavam com sermões, catequeses, encontros específicos com homens, mulheres, jovens, crianças, doentes e presos. Ele também se dedicava a ouvir confissões por mais de 12 horas por dia.

Com os anos, Frei Damião adquiriu uma deformação na coluna que o deixou encurvado, dificultando a fala e a respiração. Ele sofreu durante muito tempo de erisipela por causa da má circulação sanguínea.

Em 1990, sofreu uma embolia pulmonar, por isso, a partir de então, diminuiu o ritmo das Santas Missões, passando apenas para os finais de semana. Mas, sua saúde se agravou em 1997, ano em que fez a sua última Santa Missão na cidade de Capoeiras (PE), no mês de fevereiro.

Em 12 de maio de 1997, foi internado no Real Hospital Português, em Recife, onde fez sua última missão, rezou o terço com os pacientes em uma das salas do hospital.

No dia seguinte, 13 de maio, sofreu um derrame cerebral e foi levado para a UTI. Morreu em 31 de maio de 1997, aos 98 anos. Frei Damião foi enterrado na capela de Nossa Senhora das Graças, de quem era devoto, no Convento São Félix, em Recife.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/58168/hoje-e-dia-do-veneravel-frei-damiao-capuchinho-que-foi-missionario-no-nordeste-brasileiro

CURIOSIDADES DA BÍBLIA: A Rainha de Sabá

Bíblia (Vatican News)

Ela foi a soberana de um Reino identificado como de Sabá, mas seu nome possui significados e denominações diferentes para diversos povos do norte da África e do Oriente Médio.

Padre José Inácio de Medeiros, CSsR - Instituto Histórico Redentorista

Existem pessoas, lugares, costumes e regiões citados na bíblia dos quais pouco conhecemos. Uma dessas pessoas é a Rainha de Sabá, citada tanto no antigo como no novo Testamento. É dela que hoje falamos.

A rainha de Sabá soube da fama de Salomão e foi a Jerusalém para pô-lo à prova com perguntas difíceis. Quando chegou, acompanhada de uma enorme caravana, com camelos carregados de especiarias, grande quantidade de ouro e pedras preciosas, foi até Salomão e lhe fez todas as perguntas que tinha em mente. Salomão respondeu a todas; nenhuma lhe foi tão difícil que não pudesse responder. Vendo a sabedoria de Salomão, bem como o palácio que ele havia construído, o que era servido em sua mesa, o lugar de seus oficiais, os criados e os copeiros, todos uniformizados, e os holocaustos que ele fazia no templo do Senhor, ela ficou impressionada. (II Crônicas 9, 1-5)

Quem foi a Rainha de Sabá

Além de ter sido mencionada no antigo testamento tanto no II Livro de Crônicas, como no I Livro de Reis, no Novo Testamento ela é citada como a Rainha do Sul, quando Jesus Cristo diz “No dia do julgamento, a Rainha do Sul se levantará contra essa geração e a condenará” (MT 12,42).

Ela foi a soberana de um Reino identificado como de Sabá, mas seu nome possui significados e denominações diferentes para diversos povos do norte da África e do Oriente Médio. Os etíopes a chamam de Makeda, os muçulmanos a chamam de Balkis ou Bilkis e os romanos a chamavam de Nicaula. O nome, porém, que ficou mais famoso na história veio da denominação que o rei Salomão lhe atribuiu, Rainha de Sabá. Independentemente da diferença da denominação os livros sagrados de diferentes religiões concordam que ela foi uma soberana de significativa importância para o Reino de Sabá, que incluía os territórios hoje ocupados pela Etiópia e Iêmen.  

A versão mais conhecida é a de que ela tenha vivido no século X antes de Cristo, teria viajado cheia de presentes até o Rei Salomão após ouvir histórias sobre ele, com a intenção de testar sua sabedoria. Daí surge outra versão de que Salomão tenha conquistado os encantos da rainha que chegou a engravidar dele e que dessa relação tenha surgido uma linhagem de imperadores do povo da Etiópia.

A Rainha de Sabá é tida como a mãe da família imperial etíope e sua relação com ele é detalhada em um texto da cultura do povo, o Kebra Negast. O filho do casal, Menelik I, foi o primeiro imperador da Etiópia.

No período medieval a Rainha de Sabá se tornou personagem de uma das versões sobre a lendária Arca da Aliança. De acordo com um relato fictício ao voltar para casa, a Rainha de Sabá teria levado consigo a Arca da Aliança, que estava no Templo de Jerusalém. Segundo esta versão, o templo de Salomão teria ruído por não ter mais consigo a Arca da Aliança, mas a sua presença no Império Etíope teria feito dele um dos maiores impérios do mundo durante vários anos, vencendo guerras e inimigos. Mas esta é apenas uma das versões lendárias sobre a Arca da Aliança.

Pesquisas arqueológicas descobriram informações preciosas sobre a Rainha de Sabá e alguns apontamentos mais recentes baseados em escavações feitas no Iêmen mostram que a Rainha de Sabá muito provavelmente teria sido a monarca da Arábia Meridional também. Há evidências de que a própria capital do Reino de Sabá pudesse estar localizada na região.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

sexta-feira, 30 de maio de 2025

HISTÓRIA DA IGREJA: Leigo, isto é, cristão (Parte I)

O frontispício dos Acta Apostolicae Sedis de 3 de setembro de 1914, com a notícia da eleição ao trono pontifício do cardeal Giacomo Della Chiesa; abaixo, a cerimônia de coroação de Bento XV na Capela Sistina, em 6 de setembro de 1914 (30Giorni)

Arquivo 30Dias, número 04 - 2006

Leigo, isto é, cristão

Bento XV promoveu a caridade, a paz e a liberdade dos filhos de Deus por meio do respeito às pessoas e às instituições. Quarta e última etapa da resenha dos papas que adotaram o nome Bento.

de Lorenzo Cappelletti

Depois que a última página do pontificado de Pio X (1903-1914) “foi virada por uma mão onipotente e invisível”, escreviam os jesuítas de Etudes em setembro de 1914, “nós nos vemos agora diante de uma outra página ainda toda em branco, cujo título aponta simplesmente o nome de um novo papa: Bento XV. Que palavras, que gestos registrará no futuro a história do papado? Que dirá a página em branco?”.

Essa página já está preenchida há quase um século, mas não deve ter sido de fácil interpretação, se levarmos em conta que as biografias dedicadas a Giacomo Della Chiesa, que se tornou o papa Bento XV (1914-1922), falam ainda hoje de um papa desconhecido ou até incompreendido.

“A aparência não me é favorável”, escrevia ele mesmo sendo autoirônico, numa carta de 21 de dezembro de 1898 a seu antigo colega da Academia dos Nobres Eclesiásticos Teodoro Valfrè di Bonzo (carta que faz parte de uma preciosa correspondência entre os dois publicada em 1991 em Civitas pelo saudoso Giorgio Rumi). Basta olhar para seus retratos, por mais generosos que sejam, para entender que ele não tinha le physique du rôle. “Era de estatura inferior à média e um pouco recurvado”, escrevia Francis MacNutt, outro colega seu da Academia; ou melhor, “tudo nele era recurvado: nariz, boca, olhos e costas - tudo carecia de projeto”.

De seu currículo também não parecia saltar nada além de um mediocris homo, como diria o cardeal Agliardi na véspera da eleição de Giacomo Della Chiesa ao papado. Diligente, seguro, meticuloso, mas uma espécie de “mero burocrata”, no dizer de Agliardi. Quem poderia imaginar que houvesse um projeto preciso naquele “nanico”, como era chamado na Cúria, e que vibrasse nele uma chama de caridade que no tempo certo lhe sugeriria coisas dignas de consideração? No entanto, a história da Igreja seria obrigada a ensinar que justamente o fato de se prender à forma que lhe fora transmitida - a especialidade de Giacomo Della Chiesa - foi decisivo, muitas vezes mais decisivo do que virtudes vistosas, para proteger a essência da caridade e da fé cristã.

Diferentemente de seus predecessores e sucessores imediatos na sé de Pedro (com exceção de Pio XII), Giacomo Della Chiesa era um “cidadão”. Nascera em 1854 numa família de ascendência nobre e de estilo de vida burguês naquela Gênova que, como bem sabe quem a conhece, foi uma cidade por excelência desde o início da Idade Média: algumas de suas antigas torres ainda competem com os modernos arranha-céus, que também apareceram lá pela primeira vez na Itália.

Sua formação não apenas foi urbana, mas também leiga, tanto que, segundo dizem alguns que pretendem fazer referência a palavras pronunciadas pelo próprio Bento XV, não se vangloriava de uma competência teológica excepcional. De fato, formou-se primeiro em Direito na Universidade de Gênova, ao mesmo tempo em que acompa­nhava como visitante os cursos de Filosofia e Teologia do seminário local. Cursos que completaria depois em Roma, na Gregoriana.

Giacomo, em 1875, chegaria a Roma como aluno do Colégio Capranica, no momento em que a Cidade Eterna se adaptava para se tornar a capital da Itália unida. Seria ordenado sacerdote em 21 de dezembro de 1878, no mesmo ano em que, depois de um pontificado cuja duração nunca foi superada, Pio IX (1846-1878) era sucedido por Leão XIII (1878-1903). Nos dois anos seguintes, frequentaria a Academia dos Nobres Eclesiásticos, a escola da diplomacia pontifícia.

O busto de bronze e a lápide dedicados a Bento XV que se encontram no Colégio Capranica (30Giorni)

Do ingresso na diplomacia ao episcopado bolonhês

A partir desse momento, dois nomes, ambos ligados à diplomacia leonina, assinalariam mais do que qualquer outro a biografia de Giacomo Della Chiesa: o de um mestre extraordinário, como foi para ele Mariano Rampolla del Tindaro, o secretário de Estado de Leão XIII, a quem deve a sua formação diplomática a partir de 1881, 1882; e o de alguém com graduação idêntica à sua, como foi seu valoroso coetâneo Pietro Gasparri, nomeado secretário para os Negócios Eclesiásticos Extraordinários em 1901, ao mesmo tempo em que ocorria a nomeação de Giacomo Della Chiesa a substituto. Gasparri, que se tornaria depois o inteligente secretário de Estado de Bento XV, seria também o mais significativo continuador da obra desse papa, conservando esse ofício durante o pontificado seguinte, de Pio XI (1922-1939). “Um feito quase sem precedentes na história do papado”, escreve John F. Pollard numa recente biografia dedicada a Bento XV. No entanto, Gasparri, no que diz respeito ao trato pessoal, era o exato oposto de Della Chiesa. Às vezes - escrevia padre Giuseppe De Luca em L’Osservatore Romano de 19 de novembro de 1952, num belíssimo perfil dedicado ao cardeal “camponês” no centenário de seu nascimento -, “seu desprezo pela forma chegou a extremos deploráveis, dos quais ele era o primeiro a rir”. Se é assim, o que é que os unia? Além do escrupuloso apego a seus ofícios e do pragmatismo de ambos, gostamos de identificar o ponto de contato entre os dois num soberano desapego de si. De fato, se Gasparri, escreve De Luca no mesmo artigo, “desconfiou ininterruptamente da força que sentia já em sua natureza, e da que teve em suas mãos enquanto homem de governo, como se fossem armas perigosíssimas”, Bento, mutatis mutandis, não ficou para trás. Basta reler suas palavras ao diretor de Civiltà Cattolica, ditas no momento crucial que precedeu a entrada da Itália na guerra: “É preciso distinguir as opiniões pessoais do papa do que é essencial para a doutrina. Tampouco sua conduta como papa é imposta a todos. O papa é supranacional: não faz votos pelo triunfo da Itália; mas se um católico italiano os fizer, não estará indo contra o papa. Da mesma forma, ele nunca disse que a guerra desta ou daquela nação fosse justa ou injusta”. São palavras citadas por padre Sale no livro recém-lançado Popolari e destra cattolica al tempo di Benedetto XV.

Mas voltemos ao cursus honorum de Giacomo Della Chiesa quando ainda não era Bento.

Quando Rampolla se tornou núncio em Madri em 1883, quis levá-lo consigo e, tão logo chamado a Roma em 1887, como secretário de Estado, novamente o levou à Cúria como seu minutador. Della Chiesa exerceu fielmente esse ofício por longo tempo. E em 1901, como já dissemos, se tornou substituto.

Mas, durante o pontificado de Leão XIII, com uma rapidez bem maior do que Della Chiesa e Gasparri, mesmo sendo muito mais jovem, outro diplomata, dom Raffaele Merry del Val, ganhou espaço. Ao se encerrar o conclave que se seguiu à morte do papa Pecci, como lembrou recentemente Gianpaolo Romanato nestas páginas de 30Dias (pp. 40-45), Merry del Val seria escolhido secretário de Estado de Pio X. Todos se surpreenderam com isso, inclusive Della Chiesa, que, em 8 de novembro de 1903, escrevia com muitos pontos de exclamação: “Amanhã realizaremos o Consistório ao qual se seguirá, pouco depois, a nomeação definitiva do secretário de Estado! Quem diria isso dez anos atrás!!!”.

Rampolla logo foi posto de lado. Della Chiesa continuou em seu posto por algum tempo, mas, no momento oportuno, em 1907, também foi destinado a outra sé: a do arcebispado de Bolo­nha. Certamente, foi destinado para lá pela estima que tinham por ele, mas talvez também para ver como se arranjaria numa diocese dirigida até então pelo arcebispo Domenico Svampa, suspeito de simpatias modernistas e democrata-cristãs por ter protegido, entre outros, os padres Giulio Belvederi e Alfonso Manaresi. Quando, em outubro de 1907, Della Chiesa, com a costumeira ironia sutil, escreveu ao amigo Teodoro Valfrè di Bonzo (que achava que Della Chiesa estivesse prestes a partir para a nunciatura de Madri), parecia confirmar que seu envio a Bolonha não deveria estar imune das intenções acima descritas: “Não respondi por telégrafo a seu cortês telegrama de felicitações por minha suposta nomeação a núncio de Madri porque não queria desmentir em público a sua suposição. O fato é que não fui nem serei nomeado núncio em Madri, pois o Santo Padre me quer... arcebispo de Bolonha. Nesse desejo do Santo Padre reconheci a vontade de Deus, pois nada era mais estranho a mim do que pensar na possibilidade de me tornar arcebispo de Bolonha. Ao primeiro anúncio da vontade pontifícia, fiquei chocado, e pensar na difícil situação em que deverá se encontrar o pobre arcebispo de Bolonha aumentou a minha comoção: mas, se o Senhor me quer em Bolonha, não me dará as graças necessárias para fazer um pouco de bem àquela gente?”.

Nos anos de seu episcopado em Bolonha (sobre os quais temos hoje um livro muito bem documentado publicado por Antonio Scottà em 2002), evidentemente a graça de estado o amparou para que agisse não apenas com prudência, mas também com caridade pastoral, o que logo o fez empe­nhar-se numa cansativa visita a toda a diocese e interessar-se pela formação catequética e no seminário. Quanto às tendências modernistas ou suspeitas de modernismo, mesmo aplicando com diligência as disposições que vi­nham de Roma - poderia ter agido de outra forma? -, nunca faltou ao respeito para com as pessoas - que era o que podia fazer.

Com tudo isso, foi criado cardeal apenas em maio de 1914, poucos meses antes de entrar no conclave do qual sairia papa. Talvez não seja um acaso que o barrete cardinalício só tenha chegado depois da morte de Rampolla, ocorrida no mês de dezembro anterior. Provavelmente não queriam que o entendimento entre os dois se reconstituísse e tivesse peso no Sacro Colégio.

Nesse meio tempo havia estourado a guerra, a Grande Guerra. Houve quem dissesse que Pio X morreu de desgosto em razão dela, mas também quem, como Pollard, afirmasse que “ele e seu secretário de Estado, cardeal Merry del Val, tenham contribuído para apressar a guerra, sugerindo inoportunamente a Francisco José que a Áustria tinha razão e que deveria humilhar a Sérvia”. Em todo caso, a maior parte dos historiadores concorda que, no conclave que se seguiu à morte de Pio X, mais que considerações relativas à guerra que acabara de estourar tenha tido um peso maior o debate interno entre uma linha de intransigência e outra de moderação com relação às tendências modernistas, verdadeiras ou presumidas.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Solidão e tecnologia

A solidão e as redes (Observatório Social)

SOLIDÃO E TECNOLOGIA

29/05/2025

Dom Pedro Carlos Cipollini
Bispo de Santo André (SP) 

Falar em amizade hoje pode parecer antiquado, em um momento da trajetória da humanidade onde o indivíduo ocupa o lugar central. Porém, falar em solidão, é comum e até linguagem corrente. Tanto com palavras como gestos, as pessoas hoje nos falam de solidão. Portanto, conclui-se que falar de amizade hoje não só não é antiquado, mas necessário e até urgente, pois a amizade é uma das maneiras mais sublimes de amar. E somente o amor pode anular a solidão do coração do homem.  

Muito já se escreveu sobre o desamparo e a solidão do homem moderno. O psicólogo e pedagogo Ignace Lepp chega a caracterizá-la de “trágica”, principalmente ao analisar o isolamento vivido nas grandes cidades. Devido a esse fenômeno, cada vez mais nos convencemos da necessidade de melhorar o relacionamento humano. Logo após a Segunda Guerra Mundial, incrementou-se o investimento de milhões e milhões em pesquisas dedicadas às ciências físicas. Por meio de todo tipo de “máquinas”, o homem conseguiu expandir as potencialidades de sua inteligência como nunca visto antes.  

Contudo, o resultado positivo e inegável desse desenvolvimento técnico, tem seu lado amargo: a incapacidade de solucionar com igual eficiência os mais elementares problemas humanos, como a simples convivência entre as pessoas, cada vez mais “alienadas”. 

O ser humano não pode viver sem relacionamentos profundos, sem laços afetivos duradouros, sem desenvolver suas potencialidades de amar, em níveis pessoal e social. Intui-se que a ciência tem que se voltar, com todas as suas capacidades, para explorar o campo das relações humanas. São as atitudes que deveriam tornar-se a maior preocupação científica.  

O computador, o milagre da eletrônica, é necessário certamente, porque somente com sua precisão se pode ter segurança em muitas tarefas imprescindíveis hoje. Mas a sede de relacionamento profundo, a inquietação por criar laços, que transcendam as leis da eficiência, permanecem. Porque o coração do homem permanece, e o coração tem razões que a razão desconhece, como escreve Pascal, e acrescenta: “A certas pessoas falta coração; não faríamos delas nossos amigos” (Pensamentos, capítulo 1),  

Os valores, os sonhos da Humanidade na era da tecnologia se realizam considerando os homens não como fins, mas como meios. Assim se transformam as virtudes em prestação de serviços. Chegamos a ter robôs, sempre amáveis, atenciosos, pacientes e gentis, porém o robô não sente solidão, aliás, não sente nada. Nem mesmo pode relacionar-se nos graus mais primitivos da amizade: ser “conhecido”, “companheiro”, “colega”. O amigo verdadeiro é o que espontaneamente deseja fazer feliz a outro e vê seus sentimentos correspondidos de maneira saudável.   

Avaliando a situação atual, onde as pessoas estão ao desamparo por falta de lideranças que se coloquem a serviço do povo, podemos concluir pela falta de amizade no tecido das relações sociais.  

Por isso, adquire relevância a encíclica “Fratelli Tutti” do Papa Francisco, um chamado a vivermos a fraternidade universal.  

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

A Ascensão do Senhor aos céus (Parte II)

Ascensão do Senhor (Opus Dei)

A Ascensão do Senhor aos céus

Homilia de São Josemaria sobre a festa da Ascensão do Senhor, publicada no livro "É Cristo que passa".

28/05/2025

Temos à nossa frente uma grande tarefa. Não é possível permanecermos passivos, porque o Senhor nos declarou expressamente: Negociai até que eu volte. Enquanto esperamos o regresso do Senhor, que voltará para tomar posse plena do seu Reino, não podemos estar de braços cruzados. A propagação do Reino de Deus não é apenas tarefa oficial dos membros da Igreja, que representam Cristo por terem recebido dEle os poderes sagrados. Vos autem estis corpus Christi : vós também sois corpo de Cristo - frisa o Apóstolo -, com mandato específico de negociar até o fim.

Ainda há tanto que fazer! Mas será que em vinte séculos não se fez nada? Em vinte séculos trabalhou-se muito. Não me parece nem objetiva nem honesta a persistência com que alguns se empenham em menosprezar a tarefa dos que nos precederam. Em vinte séculos realizou-se um grande trabalho e, com frequência, realizou-se muito bem. Em certas épocas, houve desacertos, recuos, como também hoje há retrocessos, medo, timidez, ao mesmo tempo que não faltam atitudes de valentia e generosidade. Mas a família humana renova-se constantemente; em cada geração é necessário continuar com o empenho de ajudar o homem a descobrir a grandeza da sua vocação de filho de Deus, e inculcar-lhe o mandamento do amor ao Criador e ao próximo.

Cristo ensinou-nos definitivamente o caminho desse amor a Deus: o apostolado é o amor a Deus que transborda e se dá aos outros. A vida interior exige crescimento na união com Cristo, pelo Pão e pela Palavra. E a preocupação de apostolado é a manifestação exata, adequada e necessária da vida interior. Quando se saboreia o amor de Deus, sente-se o peso das almas. Não se pode dissociar a vida interior do apostolado, como não é possível separar em Cristo o seu ser de Deus-Homem da sua função de Redentor. O Verbo quis encarnar-se para salvar os homens, para os fazer uma só coisa com Ele. Esta é a razão da sua vinda ao mundo: Por nós, homens, e por nossa salvação desceu dos céus, rezamos no Credo.

Para o cristão, o apostolado é algo congênito: não tem nada de artificial, de justaposto, não é externo à sua atividade diária, à sua ocupação profissional. Tenho-o dito sem cessar, desde que o Senhor dispôs que surgisse o Opus Dei. Trata-se de santificar o trabalho ordinário, de santificar-se nessa tarefa e de santificar os outros mediante o exercício da respectiva profissão, permanecendo cada um no seu estado de vida.

O apostolado é como a respiração do cristão; não pode um filho de Deus viver sem esse palpitar espiritual. Recorda-nos a festa de hoje que o zelo pelas almas é um mandamento amoroso do Senhor: ao subir para a sua glória, Ele nos envia pelo orbe inteiro como suas testemunhas. Grande é a nossa responsabilidade, porque ser testemunha de Cristo implica, antes de mais nada, procurar comportar-se segundo a sua doutrina, lutar para que a nossa conduta recorde Jesus e evoque a sua figura amabilíssima. Temos que conduzir-nos de tal maneira que, ao ver-nos, os outros possam dizer: este é cristão porque não odeia, porque sabe compreender, por que não é fanático, porque está acima dos instintos, porque é sacrificado, porque manifesta sentimentos de paz, porque ama.

Com a doutrina de Cristo, não com as minhas idéias, acabo de traçar um caminho ideal para o cristão. Temos de convir em que é alto, sublime, atrativo. Mas talvez nos perguntemos: será possível viver assim na sociedade de hoje?

É verdade que o Senhor nos chamou em momentos em que se fala muito de paz, e não há paz: nem nas almas, nem nas instituições, nem na vida social, nem entre os povos. Fala-se continuamente de igualdade e de democracia, e proliferam as castas: fechadas, impenetráveis. Chamou-nos num tempo em que se clama por compreensão; e a compreensão brilha pela sua ausência, mesmo entre pessoas que agem de boa fé e querem praticar a caridade, porque, não o esqueçamos, a caridade, mais do que em dar, consiste em compreender.
Atravessamos uma época em que os fanáticos e os intransigentes - incapazes de admitir as razões dos outros - se protegem de antemão tachando de violentas e agressivas as suas vítimas. Chamou-nos, enfim, quando se ouve tagarelar muito sobre unidade, e talvez seja difícil conceber maior desunião, não já entre os homens em geral, mas entre os próprios católicos.

Nunca faço considerações políticas, porque não é esse o meu ofício. Para descrever sacerdotalmente a situação do mundo atual, basta-me pensar de novo numa parábola do Senhor: a do trigo e do joio. O reino dos céus é semelhante a um homem que semeou boa semente em seu campo; mas, enquanto os trabalhadores dormiam, veio certo inimigo seu, espalhou joio no meio do trigo, e foi-se. Está tudo bem claro: o campo é fértil e a semente é boa; o Senhor do campo lançou a mãos cheias a semente no momento propício e com arte consumada; além disso, organizou uma vigilância para proteger a semeadura recente. Se depois apareceu o joio, foi porque não houve correspondência, porque os homens - os cristãos especialmente - adormeceram e permitiram que o inimigo se aproximasse.

Quando os servidores irresponsáveis perguntam ao Senhor por que cresceu o joio no seu campo, a explicação salta aos olhos: Inimicus homo hoc fecit , foi o inimigo! Nós, os cristãos, que devíamos estar vigilantes para que as coisas boas postas pelo Criador no mundo se desenvolvessem a serviço da verdade e do bem, nós adormecemos - triste preguiça, esse sono! -, enquanto o inimigo e todos os que o servem se moviam sem descanso. Bem vemos como cresceu o joio: que semeadura tão abundante e por toda a parte!

Não tenho vocação para profeta de desgraças. Não desejo com as minhas palavras apresentar um panorama desolador, sem esperança. Não pretendo queixar-me destes tempos em que vivemos por providência do Senhor. Amamos esta nossa época, porque é o âmbito em que temos de alcançar a nossa santificação pessoal. Não admitimos nostalgias ingênuas e estéreis: o mundo nunca esteve melhor. Desde sempre, desde o nascimento da Igreja, quando ainda se escutava a pregação dos primeiros Doze, surgiam já com violência as perseguições, começavam as heresias, propalava-se a mentira e desencadeava-se o ódio.

Mas também não é lógico negar que o mal parece ter prosperado. Dentro de todo esse campo de Deus, que é a terra, que é herança de Cristo, irrompeu o joio: e não apenas joio, mas abundância de joio! Não nos podemos deixar enganar pelo mito do progresso perene e irreversível. O progresso retamente ordenado é bom e Deus o quer. Mas hoje tem-se mais em conta esse outro falso progresso, que cega os olhos a tanta gente, porque com frequência não se percebe que a humanidade, em alguns de seus passos, volta para trás e perde o que antes havia conquistado.

O Senhor - repito - deu-nos o mundo por herança. E é necessário termos a alma e a inteligência despertas; temos que ser realistas, sem derrotismos. Só uma consciência cauterizada, só a insensibilidade produzida pela rotina, só o aturdimento frívolo podem permitir que se contemple o mundo sem ver o mal, a ofensa a Deus, o prejuízo, às vezes irreparável, que se causa às almas. Temos que ser otimistas, mas com um otimismo que nasça da fé no poder de Deus - Deus não perde batalhas -, com um otimismo que não proceda da satisfação humana, de uma complacência néscia e presunçosa.

Que fazer? Disse que não procurava descrever crises sociais ou políticas, derrocadas ou mazelas culturais. Sob a perspectiva da fé cristã, venho-me referindo ao mal no sentido preciso de ofensa a Deus. O apostolado cristão não é um programa político nem uma alternativa cultural: consiste na difusão do bem, no contágio do desejo de amar, numa semeadura concreta de paz e de alegria. E desse apostolado derivarão sem dúvida benefícios espirituais para todos: mais justiça, mais compreensão, mais respeito do homem pelo homem.

Há muitas almas à nossa volta; e não temos o direito de ser obstáculo ao seu bem eterno. Estamos obrigados a ser plenamente cristãos, a ser santos, a não defraudar Deus nem todos aqueles que esperam do cristão o exemplo e a doutrina.

O nosso apostolado deve basear-se na compreensão. Insisto novamente: a caridade, mais do que em dar, consiste em compreender. Não escondo que aprendi na minha própria carne quanto custa não ser compreendido. Sempre me esforcei por fazer-me compreender, mas há quem se empenhe em não me compreender: eis outra razão, prática e viva, para que deseje compreender a todos. Mas não há de ser um impulso circunstancial o que nos obrigue a ter esse coração amplo, universal, católico. O espírito de compreensão é expressão da caridade cristã do bom filho de Deus: porque o Senhor quer que estejamos presentes em todos os caminhos retos da terra, para espalhar a semente da fraternidade - não a do joio -, da desculpa, do perdão, da caridade, da paz. Nunca nos sintamos inimigos de ninguém.

O cristão tem que se mostrar sempre disposto a conviver com todos, a dar a todos - com o seu trato - a possibilidade de se aproximarem de Cristo Jesus. Há de sacrificar-se de bom grado por todos, sem estabelecer distinções, sem dividir as almas em compartimentos estanques, sem lhes aplicar rótulos, como se fossem mercadorias ou insetos dissecados. Não pode o cristão separar-se dos outros, porque então a sua vida seria miserável e egoísta: deve fazer-se tudo para todos, para salvar a todos.

Quem dera que vivêssemos assim, que soubéssemos impregnar a nossa conduta desta semeadura de generosidade, deste desejo de convivência, de paz! Desse modo, fomentar-se-ia a legítima independência pessoal dos homens e cada um assumiria a sua responsabilidade pelas tarefas que lhe incumbem na ordem temporal. O cristão saberia defender acima de tudo a liberdade alheia, para poder depois defender a sua própria. Teria a caridade de aceitar os outros como são - porque não há ninguém que não arraste consigo uma cauda de misérias e não cometa erros -, ajudando-os com a graça de Deus e com delicadeza humana a vencer o mal, a arrancar o joio, a fim de que todos possamos mutuamente amparar-nos e viver com dignidade a nossa condição de homens e de cristãos.

A tarefa apostólica, que Cristo confiou a todos os seus discípulos, produz, portanto, resultados concretos na esfera social. Não é admissível pensar que, para sermos cristãos, seja preciso voltarmos as costas ao mundo, sermos uns derrotistas da natureza humana. Tudo, até o mais ínfimo dos acontecimentos honestos, encerra um sentido humano e divino. Cristo, perfeito homem, não veio destruir o que é humano, mas enobrecê-lo, assumindo a nossa natureza humana, à exceção do pecado: veio compartilhar todas as aspirações do homem, exceto a triste aventura do mal.

O cristão deve estar sempre disposto a santificar a sociedade a partir de dentro, permanecendo plenamente no mundo, mas sem ser do mundo naquilo que o mundo encerra - não por ser característica real, mas por defeito voluntário, pelo pecado - de negação de Deus, de oposição à sua amável vontade salvífica.

A festa da Ascensão do Senhor sugere-nos também outra realidade: esse Cristo que nos anima a empreender esta tarefa no mundo espera-nos no céu. Por outras palavras: a vida na terra, que nós amamos, não é a realidade definitiva; pois não temos aqui cidade permanente, mas andamos em busca da futura cidade imutável.

Cuidemos, porém, de não interpretar a Palavra de Deus dentro dos limites de horizontes estreitos. O Senhor não nos incita a ser infelizes enquanto caminhamos, esperando a consolação apenas no mais além. Deus nos quer felizes também aqui, se bem que anelando pelo cumprimento definitivo dessa outra felicidade, que só Ele pode consumar plenamente.

Nesta terra, a contemplação das realidades sobrenaturais, a ação da graça em nossas almas, o amor ao próximo como fruto saboroso do amor a Deus, representam já uma antecipação do céu, uma incoação destinada a crescer de dia para dia. Nós, os cristãos, não suportamos uma vida dupla: mantemos uma unidade de vida, simples e forte, em que se fundamentam e se compenetram todas as nossas ações.

Cristo espera-nos. Vivemos já como cidadãos do céu , sendo plenamente cidadãos da terra, no meio das dificuldades, das injustiças, das incompreensões, mas também no meio da alegria e da serenidade que nos dá saber-nos filhos amados de Deus. Perseveremos no serviço do nosso Deus, e veremos como aumenta em número e em santidade este exército cristão de paz, este povo de corredenção. Sejamos almas contemplativas, absorvidas num diálogo constante com Deus, procurando a intimidade com o Senhor a toda a hora: desde o primeiro pensamento do dia até o último da noite; pondo continuamente o nosso coração em Jesus Cristo, Nosso Senhor; achegando-nos a Ele por Nossa Mãe, Santa Maria, e por Ele, ao Pai e ao Espírito Santo.

E se, apesar de tudo, a subida de Jesus aos céus nos deixar na alma um travo de tristeza, acudamos à sua Mãe, como fizeram os Apóstolos: Tornaram então a Jerusalém... e oravam unanimemente... com Maria, a Mãe de Jesus.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/a-ascensao-do-senhor-aos-ceus/

Papa: há muita violência no mundo, o “nós” deve se traduzir em nível institucional

O israelense Maoz Inon e o palestino Aziz Sarah cumprimentam o Papa Leão XIV na Sala Clementina (Vatican Media)

Leão XIV encontra no Vaticano os movimentos e associações que deram origem à “Arena da Paz”. Entre eles, também o israelense Inon e o palestino Sarah, que há um ano, em Verona, foram os protagonistas, na presença de Francisco, de um abraço corajoso e significativo diante de 12 mil pessoas. “A não violência como método e como estilo", incentiva o Pontífice, "deve caracterizar nossas decisões, as nossas relações, as nossas ações”.

Antonella Palermo - Vatican News

Querer a paz implica a criação de instituições de paz. É essa a mensagem central do discurso de Leão XIV na audiência da manhã desta sexta-feira (30/05) a representantes de movimentos populares e associações da cidade italiana de Verona que deram origem à “Arena da Paz”, uma realidade dinâmica na qual convergem grupos pluralistas, pacifistas e populares, fruto da colaboração entre a diocese de Verona, a Fundação Nigrizia, os padres combonianos, o jornal católico italiano Avvenire e a revista italiana Aggiornamenti sociali.

No grupo de cerca de 300 pessoas reunidas na Sala Clementina do Palácio Apostólico desta sexta-feira (30/05) também estava o israelense Maoz Inon, cujos pais foram mortos pelo Hamas, e o palestino Aziz Sarah, que teve o irmão morto pelo exército israelense, e que agora são amigos e colaboradores. Eles foram os protagonistas daquele abraço histórico e corajoso há um ano em Verona, na presença do Papa Francisco, que permanece, como reconhece Prevost, “testemunho e sinal de esperança”.

O caminho pela paz é comunitário

Em discurso, Leão XIV parte justamente da perspectiva compartilhada e incentivada por Bergoglio no encontro de 18 de maio de 2024 na arena da cidade veneziana, ou seja, a perspectiva das vítimas. Colocar-se no lugar delas, afirma o Pontífice, “é essencial para desarmar os corações, os olhares, as mentes e denunciar as injustiças de um sistema que mata e se baseia sobre a cultura do descarte”. A paz e o bem comum estão interligados, sublinha o Papa, citando São João Paulo II quando falava da paz como um bem indivisível. No discurso desta sexta (30/05) do Sucessor de Pedro, reitera-se, em suma, que a paz não é algo inerte, mas um ativador das consciências. 

O caminho pela paz requer corações e mentes treinados e formados para a atenção ao outro e capazes de reconhecer o bem comum no contexto atual. O caminho que leva à paz é comunitário, passa pelo cuidado das relações de justiça entre todos os seres vivos.

As diferenças devem ser reconhecidas, assumidas, superadas

Construir a paz pode significar longos processos de formação para a paz, tempos que devem ser buscados em uma época em que, ao contrário, se prefere a velocidade e o imediatismo. 

A paz autêntica é aquela que toma forma a partir da realidade (territórios, comunidades, instituições locais e assim por diante) e na escuta dela. Precisamente por isso, percebemos que essa paz é possível quando as diferenças e os conflitos que ela acarreta não são removidos, mas reconhecidos, assumidos e superados.

Há muita violência no mundo

O Papa elogia o empenho dos movimentos pela paz, definindo-os como “preciosos”. São realidades “de baixo”, dialogantes, que colocam em campo “criatividade e genialidade”. É assim, precisa o Papa, que se gera esperança. Os jovens "precisam de experiências que eduquem para a cultura da vida, do diálogo, do respeito mútuo”, afirma ainda o Papa, que constata amargamente: “há muita violência no mundo, há muita violência nas nossas sociedades”.

Do nível local e cotidiano até aquele de ordem mundial, quando aqueles que sofreram injustiça e as vítimas da violência sabem resistir à tentação da vingança, tornam-se os protagonistas mais credíveis dos processos não violentos de construção da paz. A não violência como método e como estilo deve caracterizar as nossas decisões, as nossas relações, as nossas ações.

O “nós” deve se traduzir em nível institucional

Em nível nacional e internacional é necessário que as instituições políticas, econômicas, educativas e sociais se sintam interpeladas a cooperar pela cultura da paz. O Papa Leão XIV recorda a Fratelli tutti e aquele “nós” que, salienta, deve se traduzir também em nível institucional. Daí o incentivo final ao compromisso e à presença, acompanhado pela oração, para que o trabalho pela paz seja sempre animado pela paciência e tenacidade:

[...] Presentes na massa da história como fermento de unidade, de comunhão, de fraternidade. A fraternidade precisa ser descoberta, amada, experimentada, anunciada e testemunhada, na confiante esperança de que ela é possível graças ao amor de Deus.

Um mosaico de compromisso pela paz

Entre os grupos e movimentos presentes no Vaticano na manhã desta sexta-feira (30/05) em audiência com o Papa, havia um mundo diversificado e unido por um mesmo caminho para a construção da justiça social e da paz: estavam presentes a Mediterranea Human Saving, Libera, Rete Italiana Pace e Disarmo; as presidências da Ação Católica, da Acli, do Movimento Não Violento, Médicos Sem Fronteiras, a associação Comunidade Papa João, Economia de Francisco, Anpi, Agesci, Cipax, Colibrì, Pax Christi, Fundação Perugia Assisi, Il mondo di Irene, Beati i costruttori di pace, Movimento dos Focolares, Aipec, Anistia, Comunidades Cristãs de Base, Mamme NoPFasUltima Generazione. Participaram também a Assopace Palestina e a Un Ponte Per, sempre empenhadas com uma presença constante nos territórios palestinos. Além disso, estava presente Olga Karach, ativista bielorrussa exilada na Lituânia, que por seu empenho em nome da objeção de consciência está ameaçada de morte.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

quinta-feira, 29 de maio de 2025

Estudando o Catecismo: “O pecado”

A malícia do pecado (cnbbne3)

Estudando o Catecismo: “O pecado”

23/07/2024

Confira o que ensina o Catecismo da Igreja Católica sobre o pecado:

ARTIGO 8

O PECADO

I.                    A misericórdia e o pecado

O Evangelho é a revelação, em Jesus Cristo, da misericórdia de Deus para com os pecadores. O anjo assim o disse a José: «Pôr-Lhe-ás o nome de Jesus, porque Ele salvará o seu povo dos seus pecados» (Mt 1, 21), o mesmo se diga da Eucaristia, sacramento da Redenção: «Isto é o meu sangue, o sangue da Aliança, que vai ser derramado por todos para a remissão dos pecados» (Mt 26, 28). (1876)

«Deus, que nos criou sem nós, não quis salvar-nos sem nós». O acolhimento da sua misericórdia exige de nós a confissão das nossas faltas. «Se dizemos que não temos pecado, enganamo-nos, e a verdade não está em nós. Se confessarmos os nossos pecados, Ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados e para nos purificar de toda a maldade» (1 Jo 1, 8-9). (1847)

Como afirma São Paulo: «Onde abundou o pecado, superabundou a graça» (Rm 5, 20). Mas para realizar a sua obra, a graça tem de pôr a descoberto o pecado, para converter o nosso coração e nos obter «a justiça para a vida eterna, por Jesus Cristo, nosso Senhor» (Rm 5, 21). Como um médico que examina a chaga antes de lhe aplicar o penso, Deus, pela sua Palavra e pelo seu Espírito, projeta uma luz viva sobre o pecado:

«A conversão requer o reconhecimento do pecado. Contém em si mesma o juízo interior da consciência. Pode ver-se nela a prova da ação do Espírito de verdade no mais íntimo do homem. Torna-se, ao mesmo tempo, o princípio dum novo dom da graça e do amor: “Recebei o Espírito Santo”. Assim, neste “convencer quanto ao pecado”, descobrimos um duplo dom: o dom da verdade da consciência e o dom da certeza da redenção. O Espírito da verdade é o Consolador». (1848)

II.                  Definição de pecado

O pecado é uma falta contra a razão, a verdade, a reta consciência. É uma falha contra o verdadeiro amor para com Deus e para com o próximo, por causa dum apego perverso a certos bens. Fere a natureza do homem e atenta contra a solidariedade humana. Foi definido como «uma palavra, um ato ou um desejo contrários à Lei eterna». (1849)

O pecado é uma ofensa a Deus: «Pequei contra Vós, só contra Vós, e fiz o mal diante dos vossos olhos» (Sl 51, 6). O pecado é contrário ao amor que Deus nos tem e afasta d’Ele os nossos corações. É, como o primeiro pecado, uma desobediência, uma revolta contra Deus, pela vontade de os homens se tornarem «como deuses», conhecendo e determinando o que é bem e o que é mal (Gn 3, 5). Assim, o pecado é «o amor de si próprio levado até ao desprezo de Deus». Por esta exaltação orgulhosa de si mesmo, o pecado é diametralmente oposto à obediência de Jesus, que realizou a salvação. (1850)

É precisamente na paixão, em que a misericórdia de Cristo o vai vencer, que o pecado manifesta melhor a sua violência e a sua multiplicidade: incredulidade, ódio assassino, rejeição e escárnio por parte dos chefes e do povo, cobardia de Pilatos e crueldade dos soldados, traição de Judas tão dura para Jesus, negação de Pedro e abandono dos discípulos. No entanto, mesmo na hora das trevas e do príncipe deste mundo, o sacrifício de Cristo torna-se secretamente a fonte de onde brotará, inesgotável, o perdão dos nossos pecados. (1851)

III.                A diversidade dos pecados

É grande a variedade dos pecados. A Sagrada Escritura fornece-nos várias listas. A Epístola aos Gálatas opõe as obras da carne aos frutos do Espírito: «As obras da natureza decaída (“carne”) são claras: imoralidade, impureza, libertinagem, idolatria, feitiçaria, inimizades, discórdias, ciúmes, fúrias, rivalidades, dissensões, facciosismos, invejas, excessos de bebida e de comida e coisas semelhantes a estas. Sobre elas vos previno, como já vos tinha prevenido: os que praticam ações como estas, não herdarão o Reino de Deus» (Gl 5, 19-21). (1852)

Os pecados podem distinguir-se segundo o seu objeto, como todo o ato humano; ou segundo as virtudes a que se opõem; por excesso ou por defeito; ou segundo os mandamentos que violam. Também podem agrupar-se segundo outros critérios: os que dizem respeito a Deus, ao próximo, à própria pessoa do pecador; pecados espirituais e carnais: ou, ainda, pecados por pensamentos, palavras, obras ou omissões. A raiz do pecado está no coração do homem, na sua vontade livre, conforme o ensinamento do Senhor: «do coração é que provêm pensamentos malévolos, assassínios, adultérios, fornicações, roubos, falsos testemunhos, maledicências – coisas que tornam o homem impuro» (Mt 15, 19). Mas é também no coração que reside a caridade, princípio das obras boas e puras, que o pecado ofende. (1853)

IV.               A gravidade do pecado: pecado mortal e pecado venial

Os pecados devem ser julgados segundo a sua gravidade. A distinção entre pecado mortal e pecado venial, já perceptível na Escrituraimpôs-se na Tradição da Igreja. A experiência dos homens corrobora-a. (1854)

O pecado mortal destrói a caridade no coração do homem por uma infracção grave à Lei de Deus. Desvia o homem de Deus, que é o seu último fim, a sua bem-aventurança, preferindo-Lhe um bem inferior. O pecado venial deixa subsistir a caridade, embora ofendendo-a e ferindo-a. (1855)

O pecado mortal, atacando em nós o princípio vital que é a caridade, torna necessária uma nova iniciativa da misericórdia de Deus e uma conversão do coração que normalmente se realiza no quadro do sacramento da Reconciliação:

«Quando […] a vontade se deixa atrair por uma coisa de si contrária à caridade, pela qual somos ordenados para o nosso fim último, o pecado, pelo seu próprio objeto, deve considerar-se mortal […], quer seja contra o amor de Deus (como a blasfêmia, o perjúrio, etc.), quer contra o amor do próximo (como o homicídio, o adultério, etc.) […] Em contrapartida, quando a vontade do pecador por vezes se deixa levar para uma coisa que em si é desordenada, não sendo todavia contrária ao amor de Deus e do próximo (como uma palavra ociosa, um risco supérfluo, etc.), tais pecados são veniais». (1856)

Para que um pecado seja mortal, requerem-se, em simultâneo, três condições: «É pecado mortal o que tem por objeto uma matéria grave, e é cometido com plena consciência e de propósito deliberado». (1857)

A matéria grave é precisada pelos dez Mandamentos, segundo a resposta que Jesus deu ao jovem rico: «Não mates, não cometas adultério, não furtes, não levantes falsos testemunhos, não cometas fraudes, honra pai e mãe» (Mc 10, 18). A gravidade dos pecados é maior ou menor: um homicídio é mais grave que um roubo. A qualidade das pessoas lesadas também entra em linha de conta: a violência cometida contra pessoas de família é, por sua natureza, mais grave que a exercida contra estranhos. (1858)

Para que o pecado seja mortal tem de ser cometido com plena consciência e total consentimento. Pressupõe o conhecimento do carácter pecaminoso do ato, da sua oposição à Lei de Deus. E implica também um consentimento suficientemente deliberado para ser uma opção pessoal. A ignorância simulada e o endurecimento do coração não diminuem, antes aumentam, o carácter voluntário do pecado. (1859)

A ignorância involuntária pode diminuir, ou mesmo desculpar, a imputabilidade duma falta grave. Mas parte-se do princípio de que ninguém ignora os princípios da lei moral, inscritos na consciência de todo o homem. Os impulsos da sensibilidade e as paixões podem também diminuir o carácter voluntário e livre da falta. O mesmo se diga de pressões externas e de perturbações patológicas. O pecado cometido por malícia, por escolha deliberada do mal, é o mais grave. (1860)

O pecado mortal é uma possibilidade radical da liberdade humana, tal como o próprio amor. Tem como consequência a perda da caridade e a privação da graça santificante, ou seja, do estado de graça. E se não for resgatado pelo arrependimento e pelo perdão de Deus, originará a exclusão do Reino de Cristo e a morte eterna no Inferno, uma vez que a nossa liberdade tem capacidade para fazer escolhas definitivas, irreversíveis. No entanto, embora nos seja possível julgar se um ato é, em si, uma falta grave, devemos confiar o juízo sobre as pessoas à justiça e à misericórdia de Deus. (1861)

Comete-se um pecado venial quando, em matéria leve, não se observa a medida prescrita pela lei moral ou quando, em matéria grave, se desobedece à lei moral, mas sem pleno conhecimento ou sem total consentimento. (1862)

O pecado venial enfraquece a caridade, traduz um afeto desordenado aos bens criados, impede o progresso da pessoa no exercício das virtudes e na prática do bem moral; e merece penas temporais. O pecado venial deliberado e não seguido de arrependimento, dispõe, a pouco e pouco, para cometer o pecado mortal. No entanto, o pecado venial não quebra a aliança com Deus e é humanamente reparável com a graça de Deus. «Não priva da graça santificante, da amizade com Deus, da caridade, nem, portanto, da bem-aventurança eterna».

«Enquanto vive na carne, o homem não é capaz de evitar totalmente o pecado, pelo menos os pecados leves. Mas estes pecados, que chamamos leves, não os tenhas por insignificantes. Se os tens por insignificantes quando os pesas, treme quando os contas. Muitos objetos leves fazem uma massa pesada; muitas gotas de água enchem um rio; muitos grãos fazem um monte. Onde, então, está a nossa esperança? Antes de mais, na confissão…». (1863)

«Todo o pecado ou blasfêmia será perdoado aos homens, mas a blasfêmia contra o Espírito não lhes será perdoada» (Mt 12, 31). Não há limites para a misericórdia de Deus, mas quem recusa deliberadamente receber a misericórdia de Deus, pelo arrependimento, rejeita o perdão dos seus pecados e a salvação oferecida pelo Espírito Santo. Tal endurecimento pode levar à impenitência final e à perdição eterna. (1864)

V.                  A proliferação do pecado

O pecado arrasta ao pecado; gera o vício, pela repetição dos mesmos atos. Daí resultam as inclinações perversas, que obscurecem a consciência e corrompem a apreciação concreta do bem e do mal. Assim, o pecado tende a reproduzir-se e reforçar-se, embora não possa destruir radicalmente o sentido moral. (1865)

Os vícios podem classificar-se segundo as virtudes a que se opõem, ou relacionando-os com os pecados capitais que a experiência cristã distinguiu, na sequência de São João Cassiano e São Gregório Magno. Chamam-se capitais, porque são geradores doutros pecados e doutros vícios. São eles: a soberba, a avareza, a inveja, a ira, a luxúria, a gula e a preguiça ou negligência (acídia). (1866)

A tradição catequética lembra também a existência de «pecados que bradam ao céu». Bradam ao céu: o sangue de Abel; o pecado dos sodomitas; o clamor do povo oprimido no Egito; o lamento do estrangeiro, da viúva e do órfão; a injustiça para com o assalariado. (1867)

O pecado é um ato pessoal. Mas, além disso, nós temos responsabilidade nos pecados cometidos por outros, quando neles cooperamos:

– tomando parte neles, direta e voluntariamente;
– ordenando-os. aconselhando-os, aplaudindo-os ou aprovando-os;
– não os denunciando ou não os impedindo, quando a isso obrigados;
– protegendo os que praticam o mal. (1868)

Assim, o pecado torna os homens cúmplices uns dos outros, faz reinar entre eles a concupiscência, a violência e a injustiça. Os pecados provocam situações sociais e instituições contrárias à Bondade divina; as «estruturas de pecado» são expressão e efeito dos pecados pessoais e induzem as suas vítimas a que, por sua vez, cometam o mal. Constituem, em sentido analógico, um «pecado social». (1869)

Fonte: Catecismo da Igreja Católica, nº 1846 a 1869.

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF