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terça-feira, 22 de julho de 2025

EDITORIAL: A Carta da ONU, oitenta anos de um frágil milagre

Bandeira da ONU (Vatican News)

As guerras em curso, o declínio do multilateralismo, a voz profética dos Papas.

Andrea Tornielli

Oitenta anos, e sentir todo o seu peso. Em 26 de junho de 1945, era assinada em São Francisco a Carta das Nações Unidas, que em seu Preâmbulo indica o propósito de "salvar as futuras gerações do flagelo da guerra" e de "promover o progresso social e um mais elevado padrão de vida dentro de uma liberdade mais ampla". Ela foi assinada pelos representantes de 50 países emergentes da mais catastrófica – e ainda não concluída – guerra mundial vivida pela humanidade. Uma guerra que marcaria o recorde macabro de aproximadamente 50 milhões de mortes, a maioria civis.

Oitenta anos depois desta instituição – templo do multilateralismo, que tem sua razão de ser na primazia da negociação sobre o uso da força, na manutenção da paz e no respeito ao direito internacional – mostra todas as suas rugas. No entanto, sua instituição representou um verdadeiro milagre, ocorrido na cidade estadunidense que leva o nome do Santo de Assis. Um milagre frágil, como o vidro do Palácio de Vidro, que levou a resultados importantes: a codificação e o desenvolvimento do direito internacional, a construção das normativas dos direitos humanos, o aprimoramento do direito humanitário, a resolução de muitos conflitos e muitas operações de paz e reconciliação.

Precisamos desse frágil milagre mais do que nunca hoje. Devemos torná-lo menos frágil, acreditar nele como demonstraram acreditar os Sucessores de Pedro, que de 1965 a 2015 visitaram o Palácio de Vidro, reconhecendo que as Nações Unidas foram e continuam sendo a resposta jurídica e política adequada aos tempos em que vivemos, marcados por um poder tecnológico que, nas mãos de ideologias, pode produzir atrocidades terríveis.

Nestes dias, pronunciando-se em uma conferência na Universidade de Pádua, o ministro da Defesa italiano, Guido Crosetto, afirmou com lúcido realismo: "Devemos proteger as conquistas de anos que nos levaram a codificar o direito internacional, que é totalmente diferente de uma ordem internacional e, muitas vezes, em contraposição a uma ordem internacional. Porque a ordem internacional — acrescentou o ministro — é normalmente imposta por alguém, pelo mais forte, que pode decidir que essa lei, em alguns casos, não conta. Que é o que estamos vivendo hoje... Isso porque o multilateralismo está morto e a ONU conta tanto quanto a Europa no mundo, nada!".

Não é preciso muita imaginação para entender a que se referem suas palavras: basta observar o que aconteceu nos últimos três anos, desde a agressão russa contra a Ucrânia até o ataque desumano do Hamas contra Israel em 7 de outubro; desde a guerra que arrasou Gaza, transformando-a em uma pilha fantasmagórica de escombros e cadáveres, até o perturbador conflito entre Israel e Irã, que também contou com a intervenção dos Estados Unidos. É verdade, infelizmente, que a ordem internacional é imposta pelo mais forte, que decide quando proclamar e quando esquecer o direito internacional e o direito humanitário, conforme a conveniência.

Por isso, oitenta anos após o início daquele frágil milagre, com a voz de Leão XIV, repetimos as palavras “mais urgentes do que nunca” do profeta Isaías: «Uma nação não levantará a espada contra outra nação, e não se adestrarão mais para a guerra». “Que seja ouvida esta voz que vem do Altíssimo”, disse o Papa, “sejam curadas as feridas causadas pelas ações sangrentas dos últimos dias. Rejeite-se toda a lógica da arrogância e da vingança e seja escolhida com determinação a via do diálogo, da diplomacia e da paz.” Os caminhos do multilateralismo e da negociação. Os caminhos trilhados há oitenta anos, que representam a única alternativa para o nosso mundo tão próximo do abismo da autodestruição.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

«André e João são a figura do que devemos fazer»


Apóstolos João e André (Wikipedia)

Arquivo 30Dias nº 07/08 - 2005

Trechos de padre Luigi Giussani sobre o encontro de Jesus com os dois primeiros discípulos

«André e João são a figura do que devemos fazer»

(L'attrattiva Gesù, Milão, Bur, 1999, p. 25)

Introdução e organização de Lorenzo Cappelletti

Introdução

“Eu errava por pensar que a fé por meio da qual acreditamos em Deus não era dom de Deus, mas vinha, em nós, de nós mesmos [...]. Realmente, eu não pensava que a fé fosse precedida pela graça de Deus [...]. Certamente, pensava que não poderíamos acreditar sem antes receber o anúncio da verdade, mas, uma vez tendo-nos sido anunciado o Evangelho, imaginava que o consentimento fosse obra nossa e algo que possuímos em nós mesmos. Esse meu erro se encontra em muitos dos livros que escrevi antes de meu episcopado” (Agostinho, De praedestinatione sanctorum 3, 7).

No De praedestinatione sanctorum, obra dos últimos anos de sua vida, Agostinho confessa esse seu erro com simplicidade - e esse não é o último dos motivos pelos quais sentimos Agostinho tão moderno e persuasivo -, um erro presente em livros anteriores a sua ordenação episcopal, ocorrida trinta anos antes (395 ou 396).

O erro de Agostinho parece dominar - sem ser confessado - o cenário destas últimas décadas do catolicismo mais discursante e vistoso.

Em padre Giussani, ao contrário, a unidade entre as palavras, o olhar, a atração de graça é sempre e de novo proposta e descrita diante dos nossos olhos a partir do comentário que faz do encontro de Jesus com os dois primeiros discípulos, João e André, que pode ser sintetizado na expressão: “Olhavam-no falar”. Se nos ativermos ao testemunho dado sobre ele pelo então cardeal Ratzinger, nos funerais do sacerdote, veremos que isso acontece graças ao que o próprio padre Giussani viveu em primeira pessoa: “Padre Giussani teve sempre o olhar de sua vida e de seu coração fito em Cristo. Dessa forma, entendeu que o cristianismo é um encontro, uma história de amor, um acontecimento”.

Afirmar que a fé nasce de um maravilhamento como o de João e André - como se poderia traduzir a palavra suavitas, usada pelo Concílio Ecumênico Vaticano I, na constituição dogmática sobre a fé (citando, não por acaso, o segundo Concílio antipelagiano de Orange, que padre Giussani gostava de recordar) - não significa deixar de ter cuidado com a maneira de apresentar as verdades cristãs. Significa fazer com que prevaleça a humilde fidelidade à doutrina (“Todo aquele que se adianta e não permanece na doutrina de Cristo, não possui a Deus. Aquele que permanece na doutrina, esse possui o Pai e o Filho”, 2Jo 9) e a oração de cada instante Àquele único que pode tocar e atrair a mente e o coração do homem.

De qualquer forma, o recente Compêndio do Catecismo da Igreja Católica também tem uma pequena frase que, repetindo com simplicidade o fato de que a graça precede e vem antes, ilumina, como um raio de sol quando ilumina os vitrais de uma catedral, todas as verdades contidas no Compêndio: “A oração é sempre dom de Deus que vem ao encontro do homem” (nº 534).

Introdução e organização de Lorenzo Cappelletti

Foi ser batizado, como todos os outros

O que aconteceu primeiro? Primeiro aconteceu Jesus, que nasceu em Belém, como um menino; e os pastores se reuniram. Depois cresceu em sua casa. E depois, quando já era um pouco mais velho, foi ser batizado, como todos os outros. E quando Jesus deixou a multidão, assim que João Batista apontou para ele e disse: “Eis o cordeiro de Deus”, João e André puseram-se a seguir aquele indivíduo. E estabeleceram um relacionamento com aquele indivíduo, ficaram lá para ouvi-lo. Eu sempre digo: “Olhavam-no falar” . 1

Esse Tu enchia o rosto e o coração deles

E André e João - como narra o primeiro capítulo de São João -, que seguiam a Cristo quase acanhados, no momento em que Ele se voltou e disse: “O que buscais?”, não disseram Tu, mas disseram a Ele: “Mestre, onde moras?”. Era uma maneira de dizer Tu. E quando voltaram para casa e disseram: “Encontramos o Messias”, era esse Tu que enchia o rosto e o coração deles.2

Diante de seus olhos

Para André e João, o cristianismo, ou melhor, o cumprimento da lei, o realizar-se da promessa antiga, de cuja espera de resposta vivia o povo judeu bom [...], aquilo que o povo esperava, Aquele que tinha de vir, era um homem ali diante dos seus olhos: encontraram-no diante dos seus olhos.

[...] Era um homem ali diante dos seus olhos [...]. Era uma coisa que estava acontecendo.
[...] Não é que André e João tenham dito: “É um acontecimento que nos aconteceu”. Evidentemente, não era necessário que explicitassem com uma definição, já numa definição, aquilo que lhes estava acontecendo: lhes estava acontecendo!3

Olhavam-no falar

Nós nos identificamos facilmente com aqueles dois lá sentados, que olham para aquele homem que diz coisas nunca ouvidas, e no entanto tão próximas, tão pertinentes, com reflexos tão familiares.

Eram as palavras com as quais a grande promessa bíblica se revelava ao coração de todo judeu, e de geração em geração passava para dentro de seu sangue; as palavras que aquele homem usava participavam daquela promessa, mas eles não entendiam, eram simplesmente agarrados, arrastados, revolvidos por aquela maneira de falar: olhavam-no falar.4

Correspondia mais

Se fosse um filme, a cena inicial seria a de João e André olhando para Cristo enquanto este falava em sua casa.

Um impacto: o impacto com uma realidade que eles sentem corresponder como nada jamais correspondeu [...].

André e João, quanto mais olhavam para ele, mais entravam naquilo que já era uma realidade em Cristo, ou seja, o conhecimento da verdade, o conhecimento da justiça, o conhecimento da letícia e da alegria, “para que a minha alegria esteja em vós e a vossa alegria seja plena”. Correspondia mais.5

Assim nasceu a primeira certeza sobre Cristo

O que aquele homem lhes havia dito correspondia ao coração deles, à espera do coração deles, tão intensamente, tão evidentemente, tão imediatamente, que era como se dissessem: “Se não acreditarmos nesse homem, não poderemos mais acreditar nem nos nossos olhos”. Foi assim que nasceu, que surgiu na história do mundo a primeira certeza pública, para além da de Sua mãe e de Seu pai: a primeira certeza sobre Cristo. [...]

Imaginem: voltaram para casa e começaram a dizer a todos os seus irmãos, aos conhecidos e às pessoas que participavam de sua pequena cooperativa de barcos: “Encontramos o Messias”.6

Começa a memória

João e André começaram a seguir aquele homem, e aquele homem se voltou, e eles lhe fizeram uma pergunta, foram à casa dele... eles ouviam - não estavam distraídos -, mas ouviam olhando para ele.

Isso é a memória. Desde aquele momento, começou a memória, que, partindo daqueles dois, chegou até nós.7

Imaginem, fomos movidos por aqueles dois! Fomos movidos por aqueles dois que O olharam falar, que O olhavam falar com simplicidade, humildade, ingenuidade de coração: aqueles dois moveram as nossas vidas e as movem agora!8

Uma familiaridade imediata

Mas para aqueles dois, os dois primeiros, João e André - André, muito provavelmente, era casado, tinha filhos -, como foi possível que fossem convencidos tão imediatamente e que o reconhecessem (não há uma outra palavra que possa ser dita diferente de reconhecê-lo)?
Direi que, se este fato aconteceu, reconhecer aquele homem, quem era aquele homem, não quem era no fundo e minuciosamente, mas reconhecer que aquele homem era algo de excepcional, de incomum - era absolutamente incomum -, irredutível a qualquer análise, reconhecer isso devia ser fácil.9

Aquela era uma casa diferente, e aquele homem tratava as pessoas de um jeito diferente, pensava de um jeito diferente - dava para ver nos seus olhos -; quando seus pensamentos se exprimiam em palavras, ele falava de um jeito diferente: era uma coisa diferente.
E se estabelecia uma familiaridade imediata com Ele; para dizer a verdade, era Ele quem estabelecia uma familiaridade imediata com aqueles que encontrava. E, com dignidade e com ternura, afirmava coisas que interessavam à vida daqueles que O ouviam, das pessoas que encontrava. Como naquele caso: mudou a vida deles!10

São uma coisa só, de tanto que estão cheios da mesma coisa

E quando voltaram, à noite, no fim do dia - muito provavelmente percorrendo todo o caminho de volta em silêncio, pois nunca haviam falado um com o outro como naquele grande silêncio no qual um Outro falava, no qual Ele continuava a falar, ecoando dentro deles.11

Mas imaginem aqueles dois que ficam a ouvi-lo durante algumas horas e que depois têm de ir para casa. Ele se despede deles e eles voltam calados, calados porque invadidos pela impressão que tiveram do mistério que sentiram, pressentiram, ouviram. E depois se separam. Cada um dos dois vai para a sua casa. Não se cumprimentam, não porque não costumem se cumprimentar, mas se cumprimentam de um outro modo, cumprimentam-se sem se cumprimentar, porque estão repletos da mesma coisa, são uma só coisa aqueles dois, de tanto que estão repletos da mesma coisa.12

O que é a fé

A pessoa entende o que é a fé quando se coloca no lugar dos primeiros: de André e João, que O seguiram e Lhe perguntaram: “Mestre, onde moras?” (Jo 1,38).
Diante daquele homem, o que era a fé? Era reconhecer a presença divina. Eles nem ousavam pensar nisso, não tinham clareza, mas reconheciam naquele homem a presença que libertava, que salvava.13

João e André tinham fé, porque tinham certeza de uma Presença experimentável: quando estavam lá, primeiro capítulo de São João, sentados na sua casa, àquela noite, olhando-O falar, era uma certeza de uma Presença experimentável de uma coisa excepcional, do divino numa Presença experimentável. Depois - acrescento - foram para suas casas dormir: André voltou para sua mulher; João, para sua mãe. Voltaram às suas casas, comeram nas suas casas, dormiram nas suas casas, levantaram-se, foram pescar junto aos outros companheiros.
Aquilo que tinham visto na tarde anterior dominava a sua cabeça: sim ou não? Sim. Eles o viam? Não.14

Era ele, mas era diferente

Ela lhe perguntou: “O que aconteceu?”. Ele a abraçou. André abraçou sua mulher e beijou seus filhos: era ele mesmo, mas nunca a havia abraçado daquele jeito! Era como a aurora ou o crepúsculo matinal de uma humanidade diferente, de uma humanidade nova, de uma humanidade mais verdadeira. Quase como se dissesse: “Finalmente!”, sem acreditar nos próprios olhos. Mas era evidente demais para que não acreditasse em seus olhos!15

Seu marido tinha se tornado uma outra coisa: não uma coisa pensada, imaginada, mas real, porque nunca fora abraçada assim por seu marido. Deu-se conta disso: em primeiro lugar porque jamais fora olhada assim por seu marido, depois porque jamais fora abraçada assim por seu marido.

E depois, também no dia seguinte, via como ele tratava os amigos, como falava com as crianças: tinha acontecido alguma coisa que estava transformando o rosto concreto, carnal, temporal da vida deles.16

Como se toda a pessoa deles fosse um pedido

Imaginemos Simão Pedro, Felipe e João diante de Jesus, andando atrás dele pelas trilhas dos campos, ou na praça do templo, ou numa casa sentados à mesa para comer. Como é que eles estão? Estão olhando para ele, ouvindo-o, querendo aprender; mas esses ainda são termos insuficientes, incompletos: pois é como se toda a pessoa deles fosse um pedido.17

Basta a embrionária percepção daquilo que Ele é para fazer você pedir

A sua relação com Cristo não precisa ser evoluída, capacitada, madura, para que a sua personalidade nasça dela e a sua personalidade saiba criar uma companhia a partir dela. Basta - como poderíamos dizer - a surpresa que tiveram João e André, que não entendiam nada; basta a surpresa, basta uma ponta de devoção, basta o maravilhamento. Mais precisamente: basta pedi-lo, basta a embrionária percepção daquilo que Ele é para fazer você pedir, para fazer com que você o peça.18

Trechos de padre Luigi Giussan sobre o encontro de Jesus com os dois primeiros discípulos.

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L’attrattiva Gesù, Milão, Bur, 1999, p. 27.

Exercícios da Fraternidade de Comunhão e Libertação, suplemento da revista Litterae Communionis - CL, nº 5, maio de 1991, p. 25.

3 “O acontecimento de Cristo e a sua permanência na história”, tradução de Durval Cordas, in: Litterae Communionis, nº 41, setembro-outubro de 1994, p. 19.

Exercícios da Fraternidade de Comunhão e Libertação, suplemento da revista Litterae Communionis - Tracce, nº 7, julho-agosto de 1994, p. 24.

L’attrattiva Gesù, op. cit., pp. 44-45.

6 “La comunione come strada”, in: Litterae Communionis - Tracce, nº 7, julho-agosto de 1994, p. III.

Affezione e dimora, Milão, Bur, 2001, p. 215.

Exercícios da Fraternidade de Comunhão e Libertação, suplemento da revista Litterae Communionis - Tracce, nº 7, julho-agosto de 1994, p. 24.

9 “Reconhecer Cristo”, tradução de Durval Cordas, in: Litterae Communionis, nº 43, janeiro-fevereiro de 1995, p. 20.

10 Exercícios da Fraternidade de Comunhão e Libertação, suplemento da revista Litterae Communionis - Tracce, nº 6, junho de 1995, p. 13.

11 Exercícios da Fraternidade de Comunhão e Libertação, suplemento da revista Litterae Communionis - Tracce, nº 7, julho-agosto de 1994, p. 25.

12 “Reconhecer Cristo”, op. cit., p. 22.

13 “Na fé, homem e povo”, tradução de Durval Cordas, in: Litterae Communionis, nº 66, novembro-dezembro de 1998, p. 24.

14 É possível viver assim?, tradução de Neófita Oliveira e Francesco Tremolada, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1998, pp. 256-257.

15 Exercícios da Fraternidade de Comunhão e Libertação, suplemento da revista Litterae Communionis - Tracce, nº 7, julho-agosto de 1994, p. 25.

16 “O acontecimento de Cristo e a sua permanência na história”, op. cit., p. 20.

17 Exercícios da Fraternidade de Comunhão e Libertação, Rímini, 1988, p. 25.

18 L’attrattiva Gesù, op. cit., p. 23.

Fonte: https://www.30giorni.it/

Dom Oriolo: Vida cristã e Inteligência Artificial generativa

Dom Oriolo Bispo da Igreja Particular de Leopoldina MG (Vatican News)

Dom Oriolo: "nos tempos atuais, temos de usar de todos os recursos para vivenciar e proclamar a Palavra de Deus".

Dom Oriolo Bispo da Igreja Particular de Leopoldina MG

A Inteligência Artificial Generativa (IAG), desde 2020, representa um avanço enorme no campo da inteligência artificial (IA), indo muito além da simples automação. Ao invés de apenas processar informações existentes, a IAG é capaz de criar conteúdo original, em diversas formas, como textos, códigos de programação, imagens, áudios e vídeos. Essa capacidade da IAG é única tornando uma ferramenta verdadeiramente transformadora, impactando profundamente as pessoas e todos os setores da sociedade em escala global.

Nos tempos atuais, temos de usar de todos os recursos para vivenciar e proclamar a Palavra de Deus. O desafio que temos é aprender a como usar dos recursos da técnica digital para proclamar a Palavra de Deus de modo a provocar a sua vivência. Eis a sublime missão da Igreja! É o anúncio da Boa-Nova que reúne os fiéis (cf. LG 26; PO 4), na dinâmica da Igreja doméstica. Somos impelidos a ser ousados e criativos na evangelização. A Palavra de Deus anunciada, escutada, meditada e encarnada na vida das pessoas é a origem e o princípio das comunidades paroquiais e eclesiais missionárias, que têm como centro e ponto culminante a Eucaristia (cf. CD 30).

A Exortação Apostólica sobre Evangelização no Mundo Contemporâneo (EN), n. 40 afirma: “A importância do conteúdo da evangelização não deve esconder a importância das vias e dos meios da mesma evangelização. O problema de ‘como evangelizar’ apresenta-se sempre atual, porque as maneiras de o fazer variam em conformidade com as diversas circunstâncias de tempo, de lugar e de cultura, e, por isso mesmo, lançam, de certo modo, um desafio à nossa capacidade de descobrir e de adaptar”.

A mesma Exortação afirma que “nunca será possível haver evangelização sem ação do Espírito Santo (...). É um fato que o Espírito Santo de Deus tem um lugar eminente em toda a vida da Igreja, mas, é na missão evangelizadora da mesma Igreja que ele mais age (...). As técnicas da evangelização são boas, obviamente, mas, ainda as mais aperfeiçoadas não poderiam substituir a ação discreta do Espírito Santo. A preparação mais apurada do evangelizador nada faz sem ele. De igual modo, a dialética mais convincente, sem ele, permanece impotente em relação ao espírito dos homens. E ainda os mais bem elaborados esquemas com base sociológica e psicológica, sem Ele, em breve se demonstram desprovidos de valor” (EN 75).

Destarte, o magistério da Igreja, ciente da crescente relevância da IA, reconhece que essa tecnologia, embora prometa ampliar a criatividade e a eficiência, e até mesmo auxiliar na dinâmica da evangelização, também acende uma alerta. Papa Leão XIV já expressou preocupação com o potencial da IA, de comprometer a dignidade humana, a justiça e o trabalho. A Igreja Católica tem se dedicado a refletir sobre os impactos da IA enfatizando a importância de garantir que o progresso tecnológico não comprometa os valores fundamentais. Se por um lado, a IA pode ser uma ferramenta poderosa, oferecendo novos caminhos para a propagação da fé criando textos, códigos, imagens, áudios e vídeos, por outro lado surge a preocupante questão dos perigos que IAG pode trazer no campo da evangelização.

A IAG oferece um potencial enorme para ajudar a compartilhar e espalhar o Evangelho através de conteúdos, imagens, áudios, vídeos, códigos. No entanto, é crucial que seu uso não resulte na banalização do conteúdo religioso online. As ferramentas de IAG devem preservar a profundidade e a sacralidade do Evangelho, evitando a superficialidade que pode surgir da interação humana com a IA (prompts). Tal superficialidade pode desviar do comprometimento dos fiéis em participar nas suas comunidades paroquiais e eclesiais missionárias.

O conteúdo fundamental da evangelização é Jesus Cristo e Sua revelação sobre Deus, configurando, assim, uma experiência de fé. No entanto, a IAG pode ser uma ferramenta auxiliar valiosa quando aplicada na reflexão teológica, no esclarecimento doutrinal, no planejamento pastoral, na proposta ética ou na prática religiosa. É importante notar que a IAG tende focar em uma moral comportamental, em vez de promover um aprofundamento ético quanto aos valores e seus conflitos em situações concretas. Contudo, seu uso, quando explicitamente reconhecido, demostra honestidade intelectual.

A principal preocupação reside no risco de que a busca por reações imediatas e o foco em métricas, ao utilizar a IAG para criar, gerar, escrever, resumir, desenhar, responder e falar sobre ideias e conteúdos para evangelização, possam levar à manipulação. Isso pode resultar em respostas superficiais ou desalinhadas com os princípios éticos e teológicos da fé, um problema já perceptível nos resultados de muitos prompts.

Assim sendo, devemos ter a consciência de que o uso da IAG como técnica para ajudar a lançar as sementes do Verbo requer muita cautela. A verdadeira evangelização vai além da automação e da otimização algorítmica, ela se enraíza na ação discreta, mas poderosa, do Espírito Santo.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

segunda-feira, 21 de julho de 2025

O poder das chaves

O Poder das Chaves (Diocese de Campina Grande - PB)

O poder das chaves

Por Pe. Assis Pereira Soares

Atualizado em 22/08/20

Quem tem as chaves de uma casa tem o poder sobre ela. Com as chaves se fecha e se abre, entra, sai, faz e desfaz. Em um oráculo do profeta Isaías (cf. Is 22,19-23) usando o simbolismo das chaves quer mostrar a atuação de Deus. Sobna, administrador do palácio do rei Ezequias (716-687 a.C), homem rico e ambicioso, se aproveita em benefício próprio de sua situação privilegiada como encarregado do palácio real e estava construindo um mausoléu que escandaliza o profeta, frente à situação que vive o povo. Isaías diz que Deus vai intervir restituindo a ordem, destituindo este administrador: “Eu farei levar aos ombros a chave da casa de Davi; ele abrirá, e ninguém poderá fechar; ele fechará e ninguém poderá abrir”.

O oráculo diz tudo: um pai para o povo e em suas mãos estarão as chaves do reino de Davi; Eliacim era o homem de confiança que necessitava o rei Ezequias naquele momento. Será um administrador justo para um povo destroçado, onde os pobres são mais pobres e os ricos mais ricos. Essa é a situação que deve mudar. Quem tem as chaves, deve saber que é o administrador de Deus. E que não tem direito a impedir liberdades nem permitir misérias.

A chave é sinal, mais que de poder, de uma responsabilidade muito maior que tem que cumprir com autêntica fidelidade. Os Santos Padres viram no texto profético um sentido messiânico enlaçando-o com o Evangelho (cf. Mt 16,13-20), onde Jesus concede a Pedro uma grande responsabilidade: “Eu te darei as chaves do Reino dos Céus: tudo o que tu ligares na terra será ligado nos céus; tudo o que tu desligares na terra será desligado nos céus”(v. 19).

Ter as chaves não é um privilégio mas sim uma responsabilidade de serviço que Pedro terá que ir aprendendo e que o levará a entregar a vida como seu Mestre e Senhor, o “Messias, o Filho do Deus vivo”. O poder refletido nas chaves, conferido por Jesus à sua Igreja na pessoa de Pedro, “pedra”, é o de abrir, “dar acesso”, ao caminho e ao projeto do Reino de Deus, assim como “fechá-lo” a todo aquele que se comporta mal ou luta ousadamente contra este projeto de vida nova que Deus nos oferece.

Conta-nos o evangelho de hoje que "pelos lados de Cesaréia de Filipe", ostentação do poder romano, região pagã do antigo território da Palestina; a localização da cena não é um dado insignificante para ver o alcance do que se nos narra o texto. Jesus perguntou aos seus discípulos: “Quem dizem os homens ser o Filho do Homem?” (v. 13) para chegar à uma outra que a Ele interessa mais: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (v. 15)

O povo tinha uma opinião formada sobre Jesus: Ele é João Batista ressuscitado, Elias, que precede à chegada do Messias, ou um profeta. Estas opiniões apontam para a singularidade da pessoa de Jesus, é alguém especial, mas e para os discípulos? Pedro se adianta e responde que Jesus é o Messias, o Filho de Deus. Trata-se de uma resposta “inspirada”. Pedro não sabe na realidade seu significado mais profundo. Entre a concepção que os discípulos e o povo em geral têm do messianismo de Jesus e a verdade de Jesus-Messias, há uma distância muito grande. O estilo de Messias que Jesus encarna choca-se fortemente com as expectativas dos sumos sacerdotes e mestres de Israel, que esperavam um messianismo glorioso, de poder político. Jesus, no entanto, é um Messias pobre e servidor, sem linhagem sacerdotal, isso para a tradição judaica era algo incompreensível.

A partir da resposta de Pedro Jesus vai confirmá-lo em uma missão que para levá-la adiante, ele necessitará saber o verdadeiro significado da mesma e não o que ele imagina. Seguindo a Jesus, dia a dia, irá compreender a responsabilidade de sua missão de ser “pedra” da Igreja de Jesus. Entendendo pouco a pouco o messianismo de Jesus estará preparado para desempenhar seu serviço e sua própria entrega.

Pedro não estará isento de erros e quedas: pelo contrário, como veremos depois, de rocha sólida ele se tornará “pedra de tropeço” e por causa dos seus sentimentos mundanos será até chamado por Jesus de “satanás” (cf. Mt 16,23). Mas isso não deve nos escandalizar, nem nos induzir a diminuir a autoridade de Pedro. Pelo contrário, devemos nos encantar com a extraordinária condescendência com que Jesus confiou a ele, homem frágil, o ministério decisivo para a comunhão e a unidade da Igreja; e, ao mesmo tempo, recordar que, na comunidade cristã, a autoridade só pode ser exercida conformando-se ao sentimento de Cristo, a única verdadeira Rocha sobre a qual se funda a Igreja (cf. 1Cor 3,11; 1Pd 2, 4-8)!

Diante da pergunta de Jesus o evangelho realça a resposta de Pedro e a missão que Jesus lhe confere. Assim o Apóstolo é instigado a entrar no caminho do poder-serviço, amor-serviço do Mestre; e isso não pode ser confundido com “transferência de poder”. Pior ainda é quando confundimos o “poder das chaves” com a “chave do poder”. Quem tem a chave tem o poder.

Todo “poder” corrompe, é o que se diz, ou ainda, quer conhecer alguém dê-lhe poder! Nenhum exercício do poder é evangélico; muito menos o “poder religioso”. Não há nada mais contrário à mensagem de Jesus que o poder. Jesus não transfere “poder” a Pedro, ele não “toma posse”; reforça nele a liderança para o cuidado e o serviço aos outros. Nenhum ser humano é mais que outro, nem está acima do outro. “Não chameis a ninguém de pai, não chameis a ninguém chefe, não chameis a ninguém senhor, porque todos vós sois irmãos” (cf. Mt 23, 8-12). A única autoridade que Jesus admite é o serviço.

O Messias despojou-se, despiu-se de todo poder, não exerceu poder porque o poder nunca é mediação para a libertação do ser humano, seja poder político, religioso, ou qualquer outra expressão de poder. Jesus tem autoridade: “ensinava-lhes com autoridade e não como os escribas” (Mt 7,29). Sua autoridade é caminho para o serviço e a promoção da vida. Por isso a autoridade de Jesus não tem nada a ver com o poder que domina ou a liderança que se impõe, às vezes autoritariamente pela força.

Jesus tem “autoridade” porque o “centro” está no outro; Ele veio para servir. Quem tem “poder”, ao contrário, o centro está em si mesmo, no seu ego autoritário; por isso é que toda expressão de poder é violenta, exclui, impõe-se ao outro, decide por ele... O poder alimenta dependência e submissão. Precisamos repensar nossas relações de poder na Igreja e na comunidade cristã.

Também hoje, Jesus dirige a cada um de nós a mesma pergunta feita aos seus discípulos: “E vós, quem dizeis que eu sou?” Ele não nos pergunta para saber nossa resposta teológica sobre a identidade d’Ele, mas para que revisemos nossa relação com Ele. Somos seus seguidores, da pessoa de Jesus ou de uma religião, doutrina, normas, leis? Conhecemos cada vez melhor a Jesus, ou o fechamos em nossos velhos esquemas doutrinários? Somos comunidades vivas, formadas por servidores que colocam Jesus no centro de nossas vidas e de nossas atividades, ou vivemos estancados na rotina e na mediocridade?

Padre Assis Pereira Soares Pároco da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus.

Fonte: https://diocesecg.org/noticia/30853/o-poder-das-chaves

Cabo Verde. Exposição sobre Franz Kafka na Praia e no Mindelo

Franz Kafka - Escritor checo - 101 anos de nascimento - Exposição em Cabo Verde | Vatican News.

A figura e obra do escritor checo, Franz Kafka, um dos pilares da literatura mundial, estarão, em setembro de 2025, no centro duma exposição nas cidades cabo-verdianas da Praia e do Mindelo. A iniciativa é fruto duma parceria entre o Consulado Honorário da República Checa em Cabo Verde, o ex-Presidente e escritor, Jorge Carlos Fonseca, e a Rosa de Porcelana Editora - anunciou esta última no final da 7ª edição do Festival de Literatura-Mundo do Sal, realizado de 26 a 29 de junho 2025.

Dulce Araújo - Vatican News

Há 101 anos falecia o famoso escritor checo, Franz Kafka. A efeméride vai ser recordada nas duas principais cidades de Cabo Verde com a exposição "Franz Kafka, um homem do seu e do nosso tempo".

Uma das protagonistas desta iniciativa é a Rosa de Porcelana Editora que a anunciou como uma das atividades em pauta entre a 7ª edição e a 8ª do Festival, esta última agendada para junho de 2026.

A abertura da exposição inicialmente prevista para o dia 18 de julho, no Espaço Oficial do antigo Chefe de Estado e escritor, Jorge Carlos Fonseca, na cidade da Praia, foi adiada para 4 de setembro na capital cabo-verdiana e a partir de 13 do mesmo mês, no Mindelo.  Ela consiste num conjunto de painéis foto-biográficos sobre Kafka, concebidos a partir do livro homónimo do poeta Radek Maly e da ilustradora Renata Fucikova - revela Filinto Elísio, cofundador da Rosa de Porcelana Editora, na sua página fb.

Extensões do Festival e homenageados em 2026

As outras atividades anunciadas pela Rosa de Porcelana Editora, prendem-se com extensões em diversas cidades e países. Têm a duração de um dia e consistem numa mesa de análise científica e numa de reflexão e debate entre escritores. A primeira extensão deste ano foi a 1 de julho, no Tarrafal, ilha de Santiago. Preveem-se outras em Lisboa, Roma, Brasil.

No final da 7ª edição do Festival no Sal - do qual os organizadores saíram “contentes” e com sentimento de “objetivos cumpridos”, embora, afirmem, seja sempre uma “aprendizagem” - foi também anunciado que os homenageados de 2026 serão a cabo-verdiana, Maria Inácia Gomes Correia (Nha Nácia Gomi), cantadeira de finaçon e batucadeira, e o poeta brasileiro, Manoel de Barros, pelo centenário dos respetivos nascimentos.  

De salientar que com exceção de 2024 em que, pela importância da personalidade, se homenageou apenas Amílcar Cabral, e este ano, os quatro países que celebram 50 anos de independência, o Festival homenageia geralmente duas personagens: uma cabo-verdiana e uma estrangeira. Nha Nácia Gomi e Manoel de Barros têm em comum a organicidade poética, através da oratura e da desconstrução da língua, respetivamente - frisa Filinto Elísio.

Reestruturação do Festival

Ainda como novidade para as próximas edições do Festival, está em vista, graças a novas parcerias, em particular a “Novamonti”, uma reestruturação do Festival com aumento dos dias da edição no Sal, a estabilização da extensão no Tarrafal e a criação de extensões noutras ilhas de Cabo Verde.

Em fase de preparação está também a nova regulamentação para o Prémio Llana, o maior da literatura em Cabo Verde (sustentado pelo Ministério do Turismo e Transportes e pela Câmara Municipal do Sal) e que no próximo ano será sobre a poesia.

Fazer do Sal um ponto vibrante e ativo da Literatura

Ao traçar o balanço da 7ª edição do FLM-Sal, em que a poesia teve um lugar de destaque com a homenagem a quatro poetas africanos (Agostinho Neto - Angola; Onésimo Silveira - Cabo Verde; Noêmia de Sousa - Moçambique; e Alda Espírito Santo - São Tomé e Príncipe) Filinto Elísio exalta o valor deste género literário na humanização do mundo e como pilar da cabo-verdianidade. Salienta igualmente a forma como escolas do Sal são envolvidas no Festival e o entusiasmo com que os alunos se vão apropriando do evento. Tudo contribuindo para fazer da ilha “um ponto vibrante e ativo da literatura” como era, aliás, a intenção dos fundadores do FLM-Sal. É uma “sementeira em campo fértil” , cujos frutos virão com o tempo, remata Filinto Elísio, que podeis aqui ouvir:

Ouça aqui Filinto Elísio:

https://media.vaticannews.va/media/audio/s1/2025/07/13/13/138724228_F138724228.mp3

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

DIPLOMACIA: “Falar-se sinceramente, ouvir-se reciprocamente”

O embaixador Ding Wei [© Embaixada da República Popular da China na Itália] | 30Giorni

Arquivo 30Dias nº 06/07 - 2010

ROMA VISTA POR PEQUIM. Quarenta anos de amizade

“Falar-se sinceramente, ouvir-se reciprocamente”

“Quem governa deveria saber ouvir de maneira sincera o que os outros têm a dizer, ao invés de recorrer sempre a ações que são a escapatória de uma tentação de hegemonia”. Palavras do embaixador da República Popular da China na Itália.

de Ding Wei

Como todo novo embaixador no início do seu mandato eu também estou acumulando sensações. E a primeira foi muito forte. Logo que coloquei os pés na Itália fui como que envolvido pela sua longa história, pela esplêndida cultura, em uma palavra, pela sua tradição. Na arte e na arquitetura, no direito e na ciência e na astronomia, na religião, o seu país deu muito ao mundo inteiro. Por isso estou muito orgulhoso de poder estar aqui.

Em segundo lugar a característica dos italianos que mais impressiona é a sua criatividade. Por isso que por idealização e realização o pavilhão italiano da Expo Xangai é uma obra excelsa de inovação, e não é um caso que seja uma das mais visitadas, com mais de 3 milhões de presenças: apesar do clima tórrido e das três horas de fila que algumas vezes são necessárias antes de entrar...

A terceira sensação sobre os italianos é de que seja um povo em busca da beleza e da elegância, pelo estilo, pelo design, e representam uma vanguarda. Por isso, de fato, muitos produtos italianos são conhecidos pelos chineses: eles reconhecem aos italianos esta tendência para a excepcionalidade, que nós chineses devemos estudar e assimilar.

Generoso, amistoso, e determinado a uma vida bela: este é o povo que mora no seu país. E que exprime todas estas qualidades na acolhida ao estrangeiro. Tudo o que percebi até agora, creio que deva ser mostrado também aos outros, aos meus compatriotas chineses em primeiro lugar.

Isso é mais facilitado pela descoberta que as relações entre o seu e o meu país sejam boas em todos os níveis de competência e de pessoas, das mais importantes às mais simples.

Na administração dos negócios estrangeiros, no plano bilateral como no multilateral, são numerosas as posições compartilhadas. Do mesmo modo, as trocas econômicas e a cooperação estão se intensificando e no ano passado, apesar da crise financeira, os intercâmbios alcançaram os 31,2 bilhões de dólares. As empresas italianas já trabalham há anos na China agora começaram os fluxos de investimentos chineses no seu país, e segundo as estatísticas do nosso Ministério do Desenvolvimento a exportação italiana para a China, único caso entre os países destinatários das mercadorias italianas, era em crescimento já no ano passado, em contratendência com relação à crise. Nos primeiros três meses deste ano o comércio entre a China e a Itália aumentou de 64%, um valor que encoraja a todos a alcançar o nível programado de 40 bilhões de dólares.

Este ano marca também o início do Ano da Cultura Chinesa na Itália, e é ainda mais significativo porque coincide com o 40º aniversário do estabelecimento das relações diplomáticas entre a China e a Itália. Isso deve ser celebrado. Em 1970 as trocas comerciais anuais eram de 120 milhões de dólares e no decorrer de 40 anos este valor se multiplicou 400 vezes: hoje as nossas trocas comerciais de um dia correspondem ao que se fazia em um ano.

A Itália é uma das principais metas dos turistas chineses: no ano passado vieram à Itália 400 mil, e o número de chineses que cada dia visita o seu país é superior à soma dos turistas chineses na Itália e dos turistas italianos na China antes das relações diplomáticas. Com orgulho e com entusiasmo reconhecemos que em quarenta anos aconteceram mudanças importantes nas relações bilaterais.

Também para celebrar tudo isso, os líderes italianos e chineses concordaram sobre a oportunidade de inaugurar este ano o Ano da Cultura Chinesa na Itália. Graças ao Ano da Cultura Italiana na China de 2006 o número de admiradores chineses do seu país aumentou muito, e o nosso desejo é que agora aconteça o mesmo entre os italianos, que esperamos, possam conhecer o nosso país em toda a sua tradição e a sua modernidade, e por isso amá-lo. Em outubro os nossos líderes políticos chegarão à Itália vindos de Pequim para a abertura do Ano da Cultura Chinesa que tem agendado mais de cem eventos.

Definitivamente, entre nós há amizade, e graças ao que já representa a tradição das relações entre Itália e China, tenho confiança que a nossa cooperação se tornará mais vital e visível.

No Ano da Cultura Chinesa queremos comunicar que, assim como a Itália, a China é um país de longa história, esplêndida cultura e milenar tradição, e que os chineses são um povo trabalhador, inteligente e que ama a paz: desejamos a paz, em um mundo harmonioso, e iniciativas que reforcem as ligações entre os povos. Anunciamos também que ainda há muitos espaços abertos na cooperação econômica, e podem-se obter muitos frutos. A mensagem que trazemos é que os chineses querem muito conhecer a cultura italiana, querem saber mais, e nós esperamos que o mesmo fosse válido para os italianos em relação à China.

O presidente chinês Hu Jintao com o presidente Giorgio Napolitano no Palácio Quirinal a 6 de julho de 2009 por ocasião da visita de Estado [© AFP/Getty Images]

Na Itália há outro pequeno Estado que se chama Cidade do Vaticano, sede do governo da Igreja Católica. Respirando a Itália entra-se em contato com a sua tradição católica. Na China já conhecemos muito da cultura católica, a qual, assim como outras importantes culturas, tem uma grande influência em muitos países, enquanto que a fé católica, como todas as grandes religiões, jogou o seu papel na evolução do nosso mundo. A liberdade religiosa é sancionada pela nossa Constituição. Na China desenvolveram-se muitas fés religiosas, e vivem numerosos fiéis do budismo, do islamismo, do catolicismo e do cristianismo protestante. A difusão do catolicismo tem muitos séculos de história e se deve reconhecer que nos últimos cinquenta-sessenta anos esta teve um bom progresso no nosso país. Nós chineses somos radicais no princípio, que reafirmamos, de amar a pátria, amar a Igreja e administrar de modo independente os negócios religiosos. Os fiéis católicos na China hoje são mais ou menos 6 milhões, e em muitas cidades, incluindo as principais como Pequim, Xangai, Tianjin, há várias igrejas católicas. Nós acreditamos que também no futuro a Igreja Católica continuará a se desenvolver de modo sadio e estável. Estamos animados pela boa vontade e desejosos de melhorar as relações com a Santa Sé.

A sua revista é dirigida pelo presidente Giulio Andreotti, um amigo de sempre da China, um homem de Estado que merece o total respeito dos chineses. Estudou profundamente a política interna e internacional, e com essa sua bagagem sabe propor singulares observações. Como a de que, segundo ele, os líderes dos países dever sabem ouvir as razões dos interlocutores e não dar voz apenas e sempre às próprias. Este é um critério essencial para poder manter boas relações na comunidade internacional, e deverá sempre ser mais observado. Pensemos em quantos problemas surgiram no decorrer da história dos povos simplesmente por causa das incompreensões: quem governa deveria sempre ouvir de maneira sincera o que os outros têm a dizer, ao invés de recorrer sempre a ações que são o sinal de tentação de hegemonia. Sobre este princípio – falar-se sinceramente, ouvir-se reciprocamente – os líderes chineses encontram uma grande sintonia com o presidente Andreotti, e ocasiões de sinergia.

(Conversa com Giovanni Cubeddu revisada pelo autor)

Fonte: https://www.30giorni.it/

Infâncias difíceis: como mudar nossa forma de encarar os traumas?

Foto: Duets | Shutterstock

Zyta Rudzka - Aleteia Brasil - publicado em 17/02/17 - atualizado em 21/07/25

As experiências da infância têm reflexos na idade adulta. Mas não precisa ser assim.

Gabi faz de tudo para que seu marido esteja contente com ela. Mas André continua se queixando. “Por que comprou tanto queijo? Estacionou mal o carro. Não deixou bem alinhado. Vai sair novamente? Aonde vai? Todas as suas amigas são idiotas.... Quem mudou minhas chaves de lugar?”

Gabi não diz nada, não tenta corrigi-lo, apesar de seu comportamento tão desagradável.

Mas, por que aguentá-lo? Porque poderia ser pior!

Gabi, que é filha de um alcoólatra, sabe que o comportamento de Andrés é algo insignificante comparado aos espancamentos, insultos, ao fato de ter sido largada na rua ou ter as coisas jogadas pela janela. Quando conheceu Andrés, a informação principal para ela era que ele não tomava bebidas alcoólicas. Que alívio! Sentia que, finalmente, ia encontrar refúgio depois de uma infância difícil. E agora, depois de 10 anos de casamento, não acha que este seja um mau refúgio.

Muito frequentemente, encaramos com ironia o trabalho dos psicoterapeutas a quem recorremos com os recentes problemas matrimoniais. Eles nos pedem para contar toda a nossa vida, desde os tempos de Adão e Eva. Não sem razão. O cenário da infância só pode ser reproduzido na vida adulta.

Na casa de Gabi não tem álcool, tampouco felicidade

Gabi anda sempre em silêncio e pisando em ovos. Sofre, mas finge ser uma bailarina.

Tinha medo de seu pai, e, agora, cede diante de seu marido. É passiva, impotente. As más recordações são como um radar que alerta constantemente: “aperte os dentes. Aguente firme. Lembre-se: poderia ser pior.”

Ela justifica que seu marido é prepotente. Não consegue ver que sua relação poderia ser de outra maneira. Segue olhando o mundo através dos olhos da filha de um alcoólatra: o papai está zangado, tenho que me retirar do seu caminho.

Uma infância difícil pode ser uma fonte de fortaleza

Na verdade, existe uma grande quantidade de literatura psicológica e científica que mostra que as pessoas que alcançaram o sucesso na vida adulta geralmente tiveram sobrecarga emocional negativa nos primeiros anos de vida. Na infância, sofreram abuso, negligência, abandono, mas foi justamente isto que construiu suas resistências mentais.

A literatura não ensina somente como sobreviver, mas também como não se dar por vencido. Ensina como atuar em uma situação de medo, sofrimento, impotência e falta de apoio. Como tirar forças quando só podemos contar com nós mesmos.

Os velhos traumas não devem cortar nossas asas

Geralmente, um pato feio se transforma em um lindo cisne. O autor deste conto de fadas, Hans Christian Andersen, escreveu sobre si mesmo, que nasceu como o filho não desejado de uma lavadeira alcoólatra e de um sapateiro pobre e se transformou em um dos dez escritores mais publicados do mundo, traduzido para 163 idiomas.

Gabi, como a maioria das crianças, provavelmente chorou pelo destino do patinho feio. Mas ela foi, realmente, como ele? Por que então ela não se deu bem? Por alguma razão seu doloroso passado é para ela um colete de forças, e não como um fundo de onde pode extrair suas forças.

Através da síndrome da “criança maltratada” pode-se justificar tudo. É uma boa desculpa para não fazer nada com sua vida. Para submeter-se, ter medo, proteger, perdoar, estar sempre na segunda fila.

Podem haver muitas lascas dolorosas do passado. Se não superarmos, podemos sofrer as consequências de uma infância difícil na vida adulta.

É bom olhar para trás. Mas é preciso saber o motivo

Gabi deve deixar de se ver como vítima: “não é por culpa minha que meu pai bebia. Já não sou criança, não tenho que me fechar no museu de queixas e temores infantis.”

Crescer em uma casa com vícios não é razão para ter vergonha, mas, sim, de orgulho! Diga a si mesma: “Estou orgulhosa por ter sobrevivido. Sobrevivi por que fui forte. É assim que penso de mim mesma, que sou uma mulher forte. Vou seguindo com a cabeça erguida.”

Cuide-se

O amor, o sentimento de segurança, o apoio, o respeito e a compreensão, tudo o que Gabi não recebeu de seu pai agora ela pode receber de si mesma.

Na infância, ela era dependente do amor de seu pai. Agora, não precisa mais disso. Talvez devesse se cuidar. Então, existe uma possibilidade de não ter que pagar para sempre pelos seus traumas com juros.

Com todo o respeito pelo que você sente e pensa, agora não importa o que passou, mas o que você aprendeu com estas experiências. O que você venceu? Contra o que você criou resistência? Como isso tudo a preparou para o papel de esposa e mãe?

Gabi, quando era criança, te feriam. Agora, você é uma mulher adulta e, finalmente, pode viver em um mundo em que você define as regras.

Você já não é mais uma menina indefesa

Defenda-se, fale, negocie, estabeleça. Você tem os mesmo direitos de seu marido. Em vez de agir com submissão, fale. Defenda seu direito à liberdade, à amizade, a comprar a quantidade de queijo que quiser. E você pode cuidar desta menina sofredora dentro de você. Fazer com que ela não chore mais, que não se sinta ferida nem só.

Se você não sabe como fazer, participe de alguma reunião dos grupos de apoio às famílias de alcoólatras, obtenha ajuda terapêutica e faça contato com pessoas que estão enfrentando aquilo que uma vez as ajudou a sobreviver em um lar problemático.

Crescer significa assumir a responsabilidade de nossa própria história, comprovar a data de validade de nossos medos. Creio que o melhor é trabalhar para superar-se, ao invés de consentir que nossas vidas sejam governadas por medos infantis.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2017/02/17/infancias-dificeis-como-mudar-nossa-forma-de-encarar-os-traumas/

De braços abertos, a crônica de um gesto inesquecível

Papa Pacelli em meio à multidão após o bombardeio de 19 de julho de 1943 (Vatican News)

Passaram-se 82 anos desde o bombardeio de San Lorenzo, em 19 de julho de 1943, e desde a visita que Pio XII, sem se importar com sua própria segurança, fez imediatamente naquele dia entre as pessoas e os escombros de um bairro devastado. Vamos reviver aquela tarde através da notícia do época e dos detalhes contados passo a passo pelo jornal vaticano "L'Osservatore Romano".

Amedeo Lomonaco – Vatican News

É 19 de julho de 1943. Bombardeiros americanos atacam a cidade de Roma pela primeira vez desde o início da Segunda Guerra Mundial. Morrem pelo menos 3 mil pessoas. Na edição de 21 de julho daquele ano, o jornal vaticano L'Osservatore Romano publica na primeira página o artigo intitulado “O Santo Padre entre os fiéis da sua diocese de Roma atingidos pelo ataque aéreo”. Recorda-se, em primeiro lugar, que o Papa Pio XII, assim que tomou conhecimento da operação militar no bairro San Lorenzo e na estação ferroviária de Tiburtino, expressa a intenção de se dirigir às ruínas, às feridas lacerantes. O artigo indica também a hora exata em que a intenção se tornou um primeiro passo entre os escombros, não apenas materiais, de Roma. São 17h20 e o bombardeio ainda não terminou. O Pontífice, sem se importar com sua própria segurança, deixa o Vaticano para compartilhar aquele momento dramático com a população de Roma. O Papa, escreve o jornal da Santa Sé, é acompanhado pelo então substituto da Secretaria de Estado, Giovanni Battista Montini, que subirá ao trono de Pedro em 1963.

A primeira página do jornal sobre o bombardeio de Roma em 1943 | Vatican News.

Pelas ruas de Roma bombardeada

O itinerário de Pio XII em julho de 1943 é um percurso por ângulos de Roma devastados pela guerra. Em várias passagens dessa reportagem, o relato do Osservatore Romano se sobrepõe ao mapa da cidade. Destaca-se, em particular, que ao longo do percurso e até Porta Maggiore, a passagem do carro papal é notada por muitas pessoas. A notícia se espalha rapidamente e o povo de Roma vê o Pontífice avançar entre as ruínas. Diante das cenas de devastação, conta ainda o jornal, o Papa faz o carro diminuir a velocidade e pergunta sobre as vítimas e os danos causados pelas bombas. Atravessando lentamente as ruas adjacentes à zona de Verano, o Papa Pacelli vê uma multidão crescente de pessoas. Sua chegada ao bairro San Lorenzo está associada sobretudo àquele gesto que ficará imortalizado na história, Pio XII abrindo os braços entre cidadãos e fiéis como uma espécie de anjo protetor. 

A foto do Papa com os braços abertos que foi imortalizada | Vatican News.

Ao lado da dor do povo

Osservatore Romano descreve aquela cena e aquele abraço na praça em frente à Basílica de San Lorenzo, relatando também algumas frases pronunciadas pelo Papa Pacelli. São palavras de conforto à população, de solidariedade pela “indizível angústia de tantas famílias tão tragicamente privadas de seus entes queridos e de suas casas”. O Papa – escreve ainda o jornal da Santa Sé – implora ao Senhor “que queira transformar tanta dor em tanta força espiritual e moral”. E abençoa os presentes, suas famílias, toda a cidade de Roma.

Veja o vídeo que conta sobre a ida do Papa em meio às ruínas de Roma em 1943:

https://youtu.be/t-JedC6Br40

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

domingo, 20 de julho de 2025

Tensão em torno da missa tradicional se acirra na França

Horizonte de Valence, França, com a catedral de Santo Apolinário no centro. | Anna Dufour / Shutterstock

Por Solène Tadié*

18 de julho de 2025

A decisão de um bispo francês de remover a Fraternidade Sacerdotal de São Pedro (FSSP) das comunas francesas de Valence e Montélimar no fim do verão francês reacendeu as tensões sobre o papel da missa tradicional em latim na França.

A diocese justificou sua decisão alegando o recorrente desrespeito da comunidade às orientações diocesanas — especialmente em relação à concelebração, que não existe na liturgia tradicional — e disse que a medida tinha como objetivo promover a unidade paroquial.

O impacto da medida sobre uma comunidade tradicionalista florescente na região sudeste de Drôme, no entanto, gerou forte reação e parece refletir um padrão mais amplo de conflito em toda a França desde a publicação de Traditionis custodes em julho de 2021, motu proprio do papa Francisco que restringe a missa rezada segundo a liturgia anterior à reforma do Concílio Vaticano II.

A FSSP, sociedade clerical de vida apostólica dedicada à liturgia tradicional, atua em Valence e Montélimar há cerca de duas décadas. Seus sacerdotes — em particular o padre Bruno Stemler, designado para Valence desde 2017 — têm atraído um número crescente de fiéis, muitos deles famílias jovens.

Uma paróquia dentro da paróquia

Em comunicado datado de 15 de maio, o bispo de Valence, François Durand, anunciou que, a partir de 1º de setembro, a celebração da missa tradicional em latim em Valence seria confiada ao clero diocesano. Ele disse que um padre da FSSP poderá continuar celebrando o rito mais antigo uma vez por semana em Montélimar, aguardando novas discussões. A catequese e atividades como o coral gregoriano também poderão continuar, mas sob supervisão paroquial.

Um ponto-chave de discórdia tem sido a recusa da FSSP em concelebrar missas — entre elas a missa do crisma — conforme permitido por suas constituições, reafirmadas pelo papa Francisco em 2022 e 2024. Para os líderes diocesanos, essa recusa em concelebrar — prática na qual vários padres celebram a missa em conjunto num único altar — sinaliza uma falta de comunhão eclesial.

Em carta de acompanhamento aos seus paroquianos, o bispo Durand enfatizou que a medida não era uma sanção pessoal contra o padre Stemler, mas disse que o padre estava conduzindo iniciativas pastorais "sem levar em conta as orientações diocesanas".

O vigário-geral de Valence, padre Éric Lorinet, criticou ainda mais a abordagem da FSSP falando à revista francesa Famille Chrétienne, dizendo que ela funcionava "como uma paróquia dentro da paróquia", causando atrito com o clero local e prejudicando a unidade presbiteral.

O anúncio, no entanto, foi um choque para os paroquianos. Cerca de 400 membros assinaram uma carta aberta descrita como um "grito do coração" instando o bispo a reconsiderar. Um pequeno grupo iniciou uma rigorosa vigília de jejum e oração perto da igreja de Notre-Dame em Valence.

Da perspectiva dos fiéis, a decisão ameaça uma comunidade vibrante e crescente, que agora tem cerca de 200 participantes regulares só em Valence, além de 13 grupos de catequese.

Uma longa série de confrontos

A disputa em Valence é o mais recente de uma série de conflitos em torno da liturgia tradicional na França — país que, junto com os EUA, abriga um dos movimentos tradicionalistas mais dinâmicos do mundo. Essas comunidades, conhecidas por seu zelo missionário e população jovem, são frequentemente vistas com cautela por bispos.

Em junho de 2021, pouco antes da publicação de Traditionis custodes, a arquidiocese de Dijon, no leste da França, expulsou a FSSP da basílica de Fontaine-lès-Dijon depois de 23 anos de presença, alegando problemas logísticos. Um mês depois, a comunidade perdeu a licitação para adquirir a abadia medieval de Pontigny, apesar de ter oferecido um preço mais alto do que o comprador, uma fundação secular que planejava converter o local num resort de luxo, supostamente devido, em parte, à falta de apoio diocesano.

Enquanto isso, em Isère, na região dos Alpes, os paroquianos iniciaram uma greve de doações depois que o bispo de Toulouse, Guy de Kerimel, acusou os participantes da missa tradicional de solapar a validade da missa novus ordo, a liturgia aprovada por são Paulo VI em 1970 de acordo com os princípios do Concílio Vaticano II. Em Paris, o arcebispo Michel Aupetit também reduziu o número de igrejas autorizadas a celebrar a missa em latim de cerca de uma dúzia para cinco, gerando descontentamento.

Os paroquianos de Bastia, na Córsega, protestaram contra a transferência de seu padre, Sébastien Dufour, de uma paróquia central para uma capela mais remota, medida que eles consideram marginalização da missa em latim.

O caso de maior visibilidade, no entanto, continua sendo a renúncia forçada, no início deste ano, do bispo de Fréjus-Toulon, Dominique Rey, conhecido por fazer de sua diocese um centro de renovação tradicionalista e carismática.

Uma possível saída para a crise

Esses desenvolvimentos cumulativos alimentaram temores entre muitos fiéis de que o afastamento gradual das comunidades tradicionais possa levar a um afastamento em direção à Fraternidade São Pio X, fundada pelo bispo francês Marcel Lefebvre (1905-1991), que permanece canonicamente separada de Roma.

Esse mal-estar provavelmente será um dos muitos temas delicados para o papa Leão XIV, que herdou o complexo legado da Traditionis custodes e sua contestada implementação. Em 7 de julho, ele estabeleceu um novo grupo de trabalho sinodal sobre a liturgia, conforme solicitado pelo Sínodo da Sinodalidade — ação vista como sinal de seu desejo de dedicar tempo e fazer amplas consultas antes de tomar novas decisões.

Observadores dizem que a próxima nomeação de um novo prefeito para o Dicastério para o Culto Divino, cujo prefeito, o cardeal Arthur Roche, está perto da idade de aposentadoria, será um sinal fundamental da direção litúrgica do papa Leão XIV.

*Solène Tadié é correspondente europeia do National Catholic Register. Ela é franco-suíça e cresceu em Paris (França). Depois de se formar em jornalismo pela Universidade Roma III, ela começou a fazer matérias sobre Roma e o Vaticano para a Aleteia. Ingressou no L’Osservatore Romano em 2015, onde trabalhou sucessivamente na seção francesa e nas páginas culturais do jornal italiano. Ela também colaborou com várias organizações de mídia católicas de língua francesa. Solène é bacharel em filosofia pela Pontifícia Universidade de São Tomás de Aquino.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/63703/tensao-em-torno-da-missa-tradicional-se-acirra-na-franca

Santo Apolinário, Martir

Santo Apolinário (franciscanos)

Santo Apolinário

O nome, o culto, e a glória de Santo Apolinário são legados que recebemos da história, e também da arte de Ravena, a capital do Império Bizantino no Ocidente, no período entre meados do século I e o século II.

Existem ali duas grandiosas igrejas dedicadas a Santo Apolinário, ambas célebres na história da arte e do cristianismo. Na igreja nova de Santo Apolinário, no centro da cidade, encontramos o célebre mosaico representativo, mais extenso do que um quarteirão, com todos os mártires e as virgens. No destaque, encontra-se Santo Apolinário. Na outra igreja, fora da cidade, está o outro esplêndido mosaico, no qual, pela primeira vez, a figura de um santo, e não a de Cristo, ocupa o centro de uma composição, circundado por duas fileiras de ovelhas.

Apolinário, o primeiro bispo de Ravena, segundo a tradição, teria sua origem no Oriente. A mando do próprio apóstolo Pedro, de quem foi discípulo, foi enviado para converter os pagãos nas terras ao norte do Império Romano.

A sua obra de evangelização transcorreu num ambiente repleto de imensas dificuldades, fruto do ódio, do egoísmo, da incredibilidade que o cercavam, além do culto aos ídolos pagãos que teve de combater. Dedicou toda a sua vida ao apostolado. Embora representado sereno e tranquilo no mosaico da cidade, na realidade era um homem de vida dura, combativa e atuante. Apolinário sempre foi considerado um mártir. Mártir de um suplício muito longo, que foi todo o seu episcopado.

Ele não viu o resultado de sua obra, que só se revelou após a sua morte. A população da nova capital do Império Romano tornou-se exclusivamente cristã, reforçando suas raízes no próprio culto de seu primeiro bispo, considerado por eles um exemplo de santidade.

Dessa maneira se explica a grande devoção a ele, não somente em Ravena, mas em muitas outras localidades da Itália, da França e da Alemanha. Aliás, nessas regiões, foi amplamente difundida, devido os mosteiros beneditinos e camaldulenses que Apolinário ali fundara.

Apolinário morreu como mártir da fé no dia 23 de julho, durante as primeiras perseguições impostas contra os cristãos. Entretanto não se encontrou nenhuma referência indicando o ano e a localidade.  Suas relíquias, encontradas nas catacumbas, foram enviadas para a catedral de Santo Apolinário, em Ravena, na Itália. A tradicional festa de Santo Apolinário, Padroeiro de Ravena, em 23 de julho, foi mantida pela Igreja.

Fonte: https://franciscanos.org.br/

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF