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sábado, 1 de novembro de 2025

História de Santa Maria de Cléofas

Santa Maria de Cléofas (Cruz Terra Santa)

Santa Maria de Cléofas

Origens

Santa Maria de Cléofas é uma tia de Jesus citada nos Evangelhos. A forma como ela é chamada, Maria “de Cléofas” é uma referência ao seu marido chamado Cléofas. Em algumas versões ele é chamado de Cléopas ou de Clopas, mas trata-se da mesma pessoa. Cléofas Alfeu era irmão de São José e Maria de Cléofas era irmã da Virgem Maria segundo algumas tradições. Santa Maria de Cléofas acompanhou Jesus desde a gravidez da Virgem Maria até sua morte e ressurreição. É, portanto, uma testemunha ocular e preciosa dos fatos relativos à História da Salvação.

A confusão com os chamados “irmãos de Jesus”

Santa Maria de Cléofas e seu marido tiveram três filhos mencionados nos Evangelhos: Simão, Tiago Menor, José e Judas Tadeu. Eles foram muitas vezes confundidos como sendo “irmãos do Senhor”, mas, na realidade, eram primos. É que nas línguas semíticas não existe uma palavra para designar “primo” e outros graus de parentesco. Por isso, parentes como tios e primos são chamados de irmãos.

Testemunha

Santa Maria de Cléofas vivia em Nazaré com sua família e, provavelmente, tinha sua casa ao lado da casa de Nossa Senhora, como era o costume das famílias naquele tempo. Por isso, ela certamente acompanhou a Virgem Maria em todos os momentos do Mistério de Cristo. Como tia, carregou Jesus no colo, amparou-o, encantou-se com a bondade do sobrinho e alegrou-se ao ver seus filhos seguindo os passos de Jesus.

Presente nos Evangelhos

Os Evangelhos atestam Santa Maria de Cléofas acompanhando Jesus em várias passagens. Encontramo-la fiel no sofrimento, aos pés da cruz de Jesus, ao lado da Virgem Maria:

Junto à cruz de Jesus estavam de pé sua mãe, a irmã de sua mãe, Maria, mulher de Cléofas, e Maria Madalena". (Jo 19,25) São  Mateus confirma esta presença (Mateus 27, 56 e 61). Depois, na madrugada do domingo da ressurreição (Mt 28,1).

São Marcos relata a presença de Santa Maria de Cléofas aos pés da Cruz (Mc 15, 40 e 47) e também que Santa Maria de Cléofas foi uma das testemunhas da ressurreição de Cristo:

"E passado o sábado, Maria Madalena, e Maria, mãe de Tiago, e Salomé, compraram aromas para irem ungi-lo (...) O mensageiro divino anunciou às piedosas mulheres: Por que procuram o vivo entre os mortos?" (Mc 16,1 e seguintes).

E depois, muito provavelmente, ela e seu marido Cléofas estiveram no Cenáculo no dia de Pentecostes quando o Senhor enviou o Espírito Santo, dando início à Igreja.

Apoio a Nossa Senhora

Santa Maria de Cléofas foi, sem dúvida, um apoio humano para a Virgem Maria. Na alegria e na tristeza ela é citada nos Evangelhos. Seus filhos certamente cresceram como irmãos de Jesus na pequena aldeia de Nazaré, que tinha, no máximo, 500 habitantes. É admirável sua fidelidade aos pés da cruz de seu sobrinho Jesus, e na alegria da ressurreição, quando ela e outras mulheres foram ao túmulo para ungir o corpo do Mestre e acabaram encontrando-o vivo, ressuscitado. Por tudo isso, Santa Maria de Cléofas pode ser chamada carinhosamente de padroeira das tias, pois ela foi tia amada e presente na vida de Jesus.

Oração a Santa Maria de Cléofas

Ó Deus, que destes a Santa Maria de Cléofas a graça de ser irmã de Nossa Senhora, cunhada de São José e tia de Jesus, presente em todos os momentos da vida dele, dai também a nós a graça de sermos presentes junto às nossas famílias, sejam as de laços consanguíneos, sejam as de laços afetivos. Por Cristo, nosso Senhor, amém. Santa Maria de Cléofas, intercedei por nós. Ajuda-nos na relação com nossas famílias e abençoe nossos entes queridos. Santa Maria de Cléofas, rogai por nós.”

Fonte: https://cruzterrasanta.com.br/

Catequese por ocasião do 60º aniversário da Declaração conciliar Nostra aetate

Crédito: Opus Dei

Por ocasião do sexagésimo aniversário da declaração conciliar Nostra Aetate, o Papa Leão XIV nos lembra que "O verdadeiro diálogo está enraizado no amor, único fundamento da paz, da justiça e da reconciliação".

29/10/2025

Estimados irmãos e irmãs, peregrinos na fé e representantes das diferentes tradições religiosas! Bom dia, bem-vindos!

No centro da reflexão de hoje, nesta Audiência geral dedicada ao diálogo inter-religioso, desejo colocar as palavras do Senhor Jesus à samaritana: "Deus é espírito, e aqueles que o adoram devem adorá-lo em espírito e verdade" (Jo 4, 24). No Evangelho, este encontro revela a essência do autêntico diálogo religioso: um intercâmbio que se estabelece quando as pessoas se abrem umas às outras com sinceridade, escuta atenta e enriquecimento recíproco. É um diálogo que nasce da sede: a sede de Deus pelo coração humano e a sede humana de Deus. No poço de Sicar, Jesus supera as barreiras de cultura, gênero e religião. Convida a samaritana a uma nova compreensão do culto, que não se limita a um lugar em particular – “nem nesta montanha, nem em Jerusalém” – mas que se realiza em Espírito e verdade. Este momento capta o núcleo do diálogo inter-religioso: a descoberta da presença de Deus, além de todas as fronteiras, e o convite a procurá-lo juntos com reverência e humildade.

Há sessenta anos, no dia 28 de outubro de 1965, o Concílio Vaticano II, com a promulgação da Declaração Nostra aetate, abriu um novo horizonte de encontro, respeito e hospitalidade espiritual. Este Documento luminoso ensina-nos a encontrar os seguidores de outras religiões não como estranhos, mas como companheiros de viagem no caminho da verdade; a honrar as diferenças, afirmando a nossa humanidade comum; e a discernir, em qualquer busca religiosa sincera, um reflexo do único Mistério divino que abraça toda a criação.

Em particular, não devemos esquecer que a primeira orientação da Nostra aetate foi para o mundo judaico, com o qual São João XXIII tencionava restabelecer a relação original. Assim, pela primeira vez na história da Igreja, devia adquirir forma um tratado doutrinal sobre as raízes judaicas do cristianismo que, nos planos bíblico e teológico, representasse um ponto de não retorno. "O povo do Novo Testamento está espiritualmente ligado à descendência de Abraão. Com efeito, a Igreja de Cristo reconhece que os primórdios da sua fé e eleição já se encontram, segundo o mistério divino da salvação, nos patriarcas, em Moisés e nos profetas" (NA, 4). Assim a Igreja, "lembrada do seu comum patrimônio com os judeus, e levada não por razões políticas, mas pela religiosa caridade evangélica, deplora todos os ódios, perseguições e manifestações de antissemitismo, seja qual for o tempo em que isto sucedeu e seja quem for a pessoa que isto promoveu contra os judeus" (ibid.). Desde então, todos os meus predecessores condenaram o antissemitismo com palavras claras. E assim também eu confirmo que a Igreja não tolera o antissemitismo e o combate, por causa do próprio Evangelho.

Hoje podemos olhar com gratidão para tudo o que foi realizado no diálogo judaico-católico nestas seis décadas. Isto não se deve apenas ao esforço humano, mas à assistência do nosso Deus que, segundo a convicção cristã, é em si mesmo diálogo. Não podemos negar que neste período houve também desentendimentos, dificuldades e conflitos que, no entanto, nunca impediram a continuação do diálogo. Também hoje não devemos permitir que as circunstâncias políticas e as injustiças de alguns nos desviem da amizade, sobretudo porque até agora conseguimos realizar muito.

O espírito da Nostra aetate continua iluminando o caminho da Igreja. Ela reconhece que todas as religiões podem refletir "um raio da verdade que ilumina todos os homens" (n. 2) e procuram respostas para os grandes mistérios da existência humana, de tal modo que o diálogo deve ser não apenas intelectual, mas profundamente espiritual. A Declaração convida todos os católicos – bispos, clero, pessoas consagradas e fiéis leigos – a participar sinceramente no diálogo e na colaboração com os seguidores de outras religiões, reconhecendo e promovendo tudo o que é bom, verdadeiro e santo nas suas tradições (cf. ibid.). Hoje isto é necessário em praticamente todas as cidades do mundo onde, devido à mobilidade humana, as nossas diversidades espirituais e de pertença são chamadas a encontrar-se e a conviver fraternalmente. A Nostra aetate recorda-nos que o verdadeiro diálogo afunda as suas raízes no amor, único fundamento da paz, da justiça e da reconciliação, ao mesmo tempo que rejeita com firmeza todas as formas de discriminação ou perseguição, afirmando a igual dignidade de todos os seres humanos (cf. NA, 5).

Portanto, caros irmãos e irmãs, sessenta anos após a Nostra aetate, podemos perguntar-nos: o que podemos fazer juntos? A resposta é simples: agir juntos. Mais do que nunca, o nosso mundo precisa da nossa unidade, amizade e colaboração. Cada uma das nossas religiões pode contribuir para aliviar o sofrimento humano e cuidar da nossa casa comum, o nosso planeta Terra. As nossas respectivas tradições ensinam a verdade, a compaixão, a reconciliação, a justiça e a paz. Devemos reafirmar o serviço à humanidade, em todos os momentos. Juntos, devemos vigiar contra o abuso do nome de Deus, da religião e do próprio diálogo, assim como contra os perigos representados pelo fundamentalismo religioso e pelo extremismo. Devemos abordar também o desenvolvimento responsável da inteligência artificial porque, se for concebida como alternativa ao humano, ela pode violar gravemente a sua dignidade infinita e neutralizar as suas responsabilidades fundamentais. As nossas tradições têm uma imensa contribuição a oferecer para a humanização da técnica e, por conseguinte, para inspirar a sua regulamentação, em defesa dos direitos humanos fundamentais.

Como todos nós sabemos, as nossas religiões ensinam que a paz começa no coração do homem. Neste sentido, a religião pode desempenhar um papel essencial. Devemos restituir a esperança à nossa vida pessoal, às nossas famílias, bairros, escolas, aldeias, países e ao nosso mundo. Esta esperança fundamenta-se nas nossas crenças religiosas, na convicção de que um mundo novo é possível.

Há sessenta anos, a Nostra aetate trouxe esperança ao mundo depois da segunda guerra mundial. Hoje somos chamados a refundamentar esta esperança no nosso mundo devastado pela guerra e no nosso ambiente natural degradado. Colaboremos, pois se estivermos unidos tudo é possível. Façamos com que nada nos divida. E, neste espírito, desejo manifestar mais uma vez a minha gratidão pela vossa presença e amizade. Transmitamos este espírito de amizade e colaboração também à geração futura, porque é o verdadeiro pilar do diálogo.

E agora, detenhamo-nos um momento em oração silenciosa: a oração tem o poder de transformar as nossas atitudes, pensamentos, palavras e ações.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/catequese-por-ocasiao-do-60o-aniversario-da-declaracao-conciliar-nostra-aetate/

A vida não obedece os nossos planos

PeopleImages.com - Yuri A | Shutterstock

Reportagem local - publicado em 06/12/16 - atualizado em 31/10/25

Independentemente de qual seja a perda que você vivencia nesse momento, lembre-se deste valioso conselho.

Existe uma expressão que diz “Quando penso que sei todas as respostas, a vida vai e muda as perguntas”; e é assim mesmo, quando menos esperamos tudo muda e as coisas tomam rumo muito diferente. Assim o é quando nos deparamos com as perdas, afinal nunca contamos com elas, não é mesmo? Perda da saúde, de entes queridos por morte ou separação, de confiança, de emprego, de sossego… Isso em relação a nós mesmos como também às pessoas que convivem conosco. Acontecimentos assim burlam nossos planos e são capazes de provocar grande insegurança, tristeza e desarmonia.

Mas o fato é que não se pode fugir das intemperanças e todos passam por momentos assim; a vida não obedece aos nossos planos e, não raras vezes, precisamos nos adequar às novas realidades. Lidar com perdas é uma das grandes dificuldades do ser humano, no entanto elas estão sempre acontecendo, fazendo parte da vida de casa um. O mais sábio, pois, e encarar a superação como um desafio constante e poderoso, capaz de nos mostrar novas oportunidades e meios diferentes de reencontrar o equilíbrio de nossas emoções. Fazer dos reveses alavanca que nos faça abandonar a zona de conforto e ir ao encontro de possibilidades diferentes é o que promove amadurecimento e evolução.

Facilita encontrar a superação quando entendemos que nada é eterno, tudo é passageiro e momentâneo, exceto nossa alma. É primordial, pois, nos livrar do apego, do desejo de manter tudo e todos. É preciso encarar a realidade de que um dia as situações e, até mesmo as pessoas se transformam e, por mais doloroso que isso possa ser, precisamos aceitar e reformular nossas vidas a partir disso. A aceitação e consequente adaptação faz parte do entendimento de que não tem mais jeito, que ocorreu mesmo a perda e a vida precisa continuar. Não estou dizendo que seja simples, longe disso; estou afirmando que é possível e que essa é, ainda, a forma menos dolorosa de encarar os fatos.

Independentemente de qual seja a perda que você vivencia nesse momento, lembre-se de manter a serenidade, não permitindo que o abalo seja ainda maior, dominando a sua mente. Procure equilibrar suas emoções de forma a aceitar o que não pode mudar e seguir em frente levando o aprendizado que certamente o fará mais forte diante dos torvelinos da vida. Encare a doença, a separação, o fim e qualquer revés como oportunidade de reflexão e mudança; certamente isso fará de você uma pessoa mais madura e preparada para a vida em toda a sua complexidade. Afinal, existem muitas alegrias a serem vivenciadas que não podem ser desvalorizadas ou preteridas.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2016/12/06/a-vida-nao-obedece-os-nossos-planos/

Descartes

Cultura do descarte (ISCF)

DESCARTES

31/10/2025

Dom Juarez Albino Destro
Bispo Auxiliar de Porto Alegre (RS)

Não, não me refiro ao famoso René Descartes, mundialmente conhecido pela frase que, certamente, já escutamos em algum momento da vida: “Penso, logo existo” (em latim: Cogito, ergo sum). O filósofo e matemático francês viveu entre os anos 1596 e 1650. Autor do “Discurso sobre o Método”, publicado em 1637, seu pensamento deu origem à Filosofia Moderna. Evidência, análise, síntese, enumeração, racionalismo, conhecimento… 

Justamente no dia em que eu estava concluindo a leitura – agradável – da autobiografia do papa Francisco, Esperança, naquela parte onde faz referência à sua última Encíclica, a quarta de seu pontificado de 12 anos, com o título em latim: Dilexit nos, sobre o amor humano e divino do Coração de Jesus Cristo, as notícias não paravam de chegar – desagradáveis – sobre as consequências da chamada “Operação Contenção”, em nossa querida e bela São Sebastião do Rio de Janeiro. “Ver avós chorarem sem que isso seja intolerável só pode ser sinal de um mundo sem coração”, afirmava o papa, referindo-se ao escândalo com o qual se confrontava “demasiadas vezes em demasiadas viagens, em demasiadas audiências, num mundo dilacerado por conflitos devastadores” (p. 348). Nas fotos estampadas no dia seguinte ao que ocorreu naquele conflito nos Complexos da Penha e do Alemão, impossível não se emocionar, sentir um “nó na garganta”, imaginando o choro daquela gente, pais, mães, avós, filhos… Intolerável! E os mortos? Anjos ou demônios? Certamente veremos “juízes” de ambos os lados! 

No sábado celebraremos a Solenidade de Todos os Santos, um dia para recordarmos nossa vocação, nosso chamado à santidade. Os santos e santas são os nossos numerosos intercessores. A eles costumamos pedir que interceda a Deus por nós. Como lemos no Apocalipse, um dos livros da Bíblia, trata-se de “uma multidão imensa de gente de todas as nações, tribos, povos e línguas, e que ninguém podia contar. Quem são esses? São os que vieram da grande tribulação. Lavaram e alvejaram as suas roupas no sangue do Cordeiro” (Ap 7,9.13-14). A Igreja nos propõe os exemplos dos santos para chegarmos a Deus. Mas, por sermos seus filhos e filhas, somos todos chamados à santidade! Desde as primeiras páginas da Bíblia, de várias maneiras, percebemos este chamado: “Anda na minha presença e sê perfeito” (Gn 17,1); “Antes da fundação do mundo Deus nos escolheu para sermos santos e irrepreensíveis diante dele no amor” (Ef 1,4). E o Papa Francisco, falecido há pouco mais de seis meses, dentre tantos belos escritos deixados, presenteou-nos também com uma Exortação Apostólica sobre o chamado à santidade no mundo atual: Gaudete et Exsultate (Alegrai-vos e Exultai). Nesse documento ele nos recorda que não devemos pensar que os santos sejam apenas aquelas pessoas já beatificadas e canonizadas: “Muitas vezes somos tentados a pensar que a santidade esteja reservada apenas àqueles que têm possibilidade de se afastar das ocupações comuns, para dedicar muito tempo à oração. Não é assim. Todos somos chamados a ser santos, vivendo com amor e oferecendo o próprio testemunho nas ocupações de cada dia, onde cada um se encontra” (GEx 14). E o Papa Francisco nos encoraja: “Não tenhas medo […] de te deixares amar e libertar por Deus. Não tenhas medo de te deixares guiar pelo Espírito Santo. A santidade não te torna menos humano, porque é o encontro da tua fragilidade com a força da graça” (GEx 34). Nessa frase ele acaba nos dando uma definição do que seja santidade: o encontro da nossa fragilidade com a força da graça de Deus! Em outras palavras, o encontro do humano com o divino! Isso nos dá um alento e nos estimula a praticar, no dia a dia, as bem-aventuranças proferidas por Jesus (cf. Mt 5,1-12): desapego, paciência, mansidão, misericórdia, pureza de coração, paz, justiça, alegria, ousadia, ardor… Desafios! 

No domingo faremos memória de todos aqueles que já passaram por essa vida e que estão vivos em outra dimensão. Alimentamos, claro, uma saudável saudade em relação aos nossos entes queridos que já não se encontram entre nós. No entanto, fazer memória dos falecidos é também ocasião para recordarmos que a morte é certa para todos e que podemos melhor projetar nossa vida, dando espaço para refletir sobre o autêntico sentido da vida. A morte, pois, ensina-nos a viver! E Deus é o Deus da vida, não é um Deus de mortos, mas de vivos, lemos em São Marcos (12,27). O Texto Conclusivo de Aparecida, a 5ª Conferência do Episcopado Latino-americano e Caribenho, de 2007, tratando dessa questão, afirmou que devemos “neutralizar a cultura da morte com a cultura cristã da solidariedade” (DAp 480), pois não queremos “andar pelas sombras da morte” (DAp 350), mas, sim, no caminho da vida, pois “a vida é presente gratuito de Deus, dom e tarefa que devemos cuidar desde a concepção, em todas as suas etapas, até a morte natural, sem relativismos” (DAp 464). O Dia de Finados, portanto, junto à memória de nossos entes queridos chamados à eternidade, nos ensina, mais uma vez, o valor da vida. E nos convoca a repudiar todo e qualquer sinal de morte em nossa vida. 

Na Exortação Apostólica do papa Leão XIV, Dilexi Te, sobre o amor para com os pobres, refletindo sobre as estruturas de pecado que criam pobreza e desigualdades extremas (n. 90-98), assim afirma: “Embora não faltem diversas teorias que tentam justificar o estado atual das coisas ou explicar que a racionalidade econômica nos exige esperar que as forças invisíveis do mercado resolvam tudo, a dignidade de cada pessoa humana deve ser respeitada já agora, não só amanhã, e a situação de miséria de tantas pessoas, a quem é negada esta dignidade, deve ser um apelo constante à nossa consciência” (n. 92). “A falta de equidade é a raiz dos males sociais. Com efeito, muitas vezes constata-se que, de fato, os direitos humanos não são iguais para todos” (n. 94). 

Certamente, mesmo sem ser mencionado ou compreendido, Descartes, o filósofo racionalista, com seus métodos de conhecimento, será bastante utilizado nas evidências análises, sínteses, enumerações do massacre histórico de São Sebastião do Rio de Janeiro, 28 de outubro de 2025. Mas, o título deste singelo artigo quer fazer referência a um outro significado da palavra “descarte”, que nos foi aprofundada pelo saudoso papa Francisco, desde, ao menos, 2015, há 10 anos, com a sua primeira Encíclica, a Laudato Si’, sobre o cuidado da Casa Comum, a Ecologia Integral. Nas páginas finais do livro Esperança, sua autobiografia lançada no início deste ano, lemos: “Na era da inteligência artificial, não podemos esquecer que a poesia e o amor são essenciais para salvar a humanidade” (p. 349). E, querendo indicar um antídoto ou espécie de remédio para as pessoas que não amam, ou mantém um ódio inconsciente, Francisco afirma que “o oposto mais comum ao amor de Deus, à compaixão de Deus, à misericórdia de Deus é a indiferença. Para aniquilar um homem ou uma mulher, basta ignorá-los. A indiferença é uma agressão. A indiferença pode matar. O amor não tolera indiferença” (p. 357). 

A cultura do descarte, que diz respeito não apenas aos alimentos e aos bens de consumo, mas, antes de tudo, às pessoas que são marginalizadas por sistemas tecnoeconômicos em cujo centro, mesmo sem percebermos, muitas vezes não está mais a humanidade, mas seus produtos, essa cultura do descarte só pode ser superada pela educação à fraternidade e à solidariedade concreta, recorda Francisco (p. 358). 

Que não fiquemos indiferentes aos tantos descartes que fazemos em nosso dia a dia, uma cultura que, de modo urgente, deve mudar. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Leão XIV: Newman, Doutor da Igreja, luz para as novas gerações

Papa Leão XIV na Solenidade de Todos os Santos 2025 (Vatican Media)

Na Solenidade de Todos os Santos, o Papa Leão XIV inscreveu São John Henry Newman entre os Doutores da Igreja e, por ocasião do Jubileu do Mundo Educativo, o nomeou co-padroeiro, com Santo Tomás de Aquino, de todos os agentes que participam no processo educativo. A celebração foi realizada neste sábado, 1º de novembro, na Praça São Pedro.

Vatican News

Na manhã deste sábado, 1º de novembro, Solenidade de Todos os Santos, o Papa Leão XIV presidiu a celebração da Santa Missa na Praça São Pedro, na qual inscreveu São John Henry Newman entre os Doutores da Igreja e, ao mesmo tempo, por ocasião do Jubileu do Mundo Educativo, o nomeou co-padroeiro, com Santo Tomás de Aquino, de todos os agentes que participam no processo educativo. Até hoje os Doutores da Igreja são 37, entre os quais 4 mulheres, com São John Newman serão 38.

O mais novo Doutor da Igreja, São John Henry Newman   (@Vatican Media)

Inspirar as novas gerações

O Papa Leão apresentou o novo Doutor da Igreja afirmando: "a imponente estatura cultural e espiritual de Newman servirá de inspiração para as novas gerações com o coração sedento de infinito, disponíveis a realizar, através da pesquisa e do conhecimento, aquela viagem que, como diziam os antigos, nos faz passar per aspera ad astra, ou seja, através das dificuldades até aos astros".

Escolas: laboratórios de profecias

Depois de afirmar que a vida dos santos testemunha-nos que é possível viver com paixão na complexidade do tempo presente sem deixar de lado o mandato apostólico, dirigindo-se aos educadores e às instituições educativas disse: “o Jubileu é uma peregrinação na esperança e todos vós, no vasto campo da educação, sabeis bem o quanto a esperança é uma semente indispensável! Quando penso nas escolas e nas universidades, penso nelas como laboratórios de profecia, onde a esperança é vivida e continuamente narrada e reproposta”.

Evangelho das Bem-aventuranças

Leão falou em seguida sobre o sentido do Evangelho das Bem-aventuranças hoje proclamado. “As Bem-aventuranças trazem consigo uma nova interpretação da realidade. São o caminho e a mensagem de Jesus educador. À primeira vista, parece impossível declarar bem-aventurados os pobres, aqueles que têm fome e sede de justiça, os perseguidos ou os que promovem a paz. Mas o que parece inconcebível na gramática do mundo, enche-se de sentido e luz na proximidade do Reino de Deus”. Continuando sobre o tema disse ainda: “As Bem-aventuranças não são um ensinamento entre tantos: são o ensinamento por excelência. Da mesma forma, o Senhor Jesus não é um entre tantos mestres, é o Mestre por excelência. Mais ainda, é o Educador por excelência. Nós, seus discípulos, encontramo-nos na sua escola, aprendendo a descobrir na sua vida, ou seja, no caminho por Ele percorrido, um horizonte de sentido capaz de iluminar todas as formas de conhecimento”. 

Não ao pessimismo

“Os desafios atuais podem parecer, por vezes, superiores às nossas forças, mas não é assim”, afirmou o Santo Padre reiterando, “não permitamos que o pessimismo nos vença!”. Citando o Papa Francisco recordou suas palavras sobre o pessimismo quando afirmava que “devemos trabalhar juntos para libertar a humanidade da escuridão do niilismo que a rodeia e que é, talvez, a doença mais perigosa da cultura contemporânea, pois ameaça ‘anular’ a esperança”. A referência à noite que nos rodeia, disse o Papa, recorda-nos um dos textos mais conhecidos de São John Henry, o hino “Luz terna, suave, leva-me mais longe”. Nessa linda oração, percebemos que estamos longe de casa, que temos pés vacilantes, que não conseguimos decifrar claramente o horizonte. Mas nada disso nos detém, porque encontrámos o nosso Guia: Luz terna, suave, no meio da noite, leva-me mais longe”.

Tarefa da educação

É tarefa da educação oferecer esta Luz Terna àqueles que, de outra forma, poderiam permanecer aprisionados pelas particularmente insidiosas sombras do pessimismo e do medo” reiterou Leão. “Por isso, gostaria de vos dizer: desarmemos as falsas razões da resignação e da impotência e façamos circular no mundo contemporâneo as grandes razões da esperança”. Encorajando os presentes: “Encorajo-vos a fazer das escolas, das universidades e de todas as realidades educativas, mesmo informais e de rua, limiares de uma civilização de diálogo e paz”.

Percurso educativo

São John Henry escreveu: “Deus criou-me para lhe prestar um serviço específico. Confiou-me uma tarefa que não confiou a outros. Tenho uma missão: talvez não a chegue a conhecer nesta vida, mas ela ser-me-á revelada na vida futura”. “Nestas palavras”, disse o Papa, “encontramos expresso, de um modo esplêndido, o mistério da dignidade de cada pessoa humana e também o da variedade dos dons distribuídos por Deus” Explicando em seguida:

A vida ilumina-se não porque somos ricos, bonitos ou poderosos. Ela ilumina-se quando uma pessoa descobre dentro de si esta verdade: sou chamado por Deus, tenho uma vocação, tenho uma missão, a minha vida serve para algo maior que eu próprio!” (...) “Não o esqueçamos: no centro dos percursos educativos não devem estar indivíduos abstratos, mas pessoas de carne e osso, especialmente aquelas que parecem não render, segundo os parâmetros de uma economia que exclui e mata. Somos chamados a formar pessoas, para que brilhem como astros em toda a sua dignidade”. Concluindo em seguida: “Portanto, podemos afirmar que a educação, na perspectiva cristã, ajuda todos a tornarem-se santos. Nada menos do que isso”.

“Rezo para que a educação católica ajude cada um a descobrir a sua vocação à santidade. Santo Agostinho, que São John Henry Newman tanto apreciava, disse uma vez que todos nós somos companheiros de estudo com um único Mestre, cuja escola se encontra na terra, mas cuja cátedra está no céu.”

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF