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quinta-feira, 29 de maio de 2025

Desarmar a comunicação com mansidão e esperança

Comunicação (Vatican News)

A verdadeira comunicação sempre abre caminhos, constrói pontes, aproxima pessoas e grupos derramando ternura e compreensão para todos/as.

Dom Roberto Francisco Ferreria Paz - Bispo Diocesano de Campos

A mensagem para o 59º Dia mundial das comunicações sociais, apresentada pelo falecido Papa Francisco se inspira no texto da Primeira Carta de Pedro (1 Pd 3, 15-16): “Partilhai com mansidão a esperança que está em vossos corações”.

Muito atual e premente focalizada em desarmar e purificar a comunicação e seus processos, afastando o medo a intimidação e o extremismo, que contaminam a convivência levando a polarização e a intolerância. O Papa expressava: “Sonho com uma comunicação que não venda ilusões ou medos, mas seja capaz de dar razões para ter esperança”.

Ao mesmo tempo a comunicação superando a tentação do individualismo auto referenciado que torna as infovias em solilóquios ou performances de afirmação narcisista, se colocará sempre ao serviço da paz e mansidão do Reino buscando construir e ser um projeto comunitário que congrega, interage incentivando o diálogo e a partilha.

A verdadeira comunicação sempre abre caminhos, constrói pontes, aproxima pessoas e grupos derramando ternura e compreensão para todos/as.

Neste ano jubilar levemos como ar fresco a brisa da proximidade e solidariedade as prisões, hospitais, periferias, zonas de conflito fazendo ecoar e relembrar que somos construtores da paz e por isso nos tornamos filhos de Deus (Mt 5,9).

É crucial recuperar o foco e resgatar o interesse público e o bem comum contra a “dispersão programada da atenção” que nos fragmenta e dissolve na busca de particularismos e hegemonias de grupos financeiros.

Nossa forma de falar e expressar-nos terá sempre como atitude e intenção junto a darmos razões da nossa esperança fazer ressoar com autenticidade a beleza do amor, da ternura de resgatar as pequenas coisas e a singularidade de cada pessoa.

A nossa comunicação nestes tempos de ira e polarização terá como marca sempre como afirma São Pedro a mansidão e o respeito, o tempero do sal da proximidade e acolhida incondicional. Finalmente o Papa nos pede de não esquecer o coração, para além da técnica ou dos protocolos cuidar sempre do coração, de uma comunicação cordial, sensível e compassiva, que gera confiança e esperança, construindo pontes, espaços de encontro, canais de entendimento, que possa atravessar os muros e as fronteiras fechadas no nosso tempo.

Contar e tecer narrativas e gestos que possam esperançar e inspirar a vida das pessoas e comunidades, escrevendo na graça do amor e da esperança, que não decepciona, uma nova história. Deus seja louvado!

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

A Ascensão do Senhor aos céus (Parte I)

Ascensão do Senhor (Opus Dei)

A Ascensão do Senhor aos céus

Homilia de São Josemaria sobre a festa da Ascensão do Senhor, publicada no livro "É Cristo que passa".

28/05/2025

Uma vez mais, a liturgia põe diante dos nossos olhos o último dos mistérios da vida de Jesus Cristo entre os homens: a sua Ascensão aos céus. Desde o seu Nascimento em Belém, muitas coisas aconteceram: encontramo-lo no berço, adorado por pastores e por reis; contemplamo-lo nos longos anos de trabalho silencioso, em Nazaré; acompanhamo-lo pelas terras da Palestina, pregando aos homens o reino de Deus e fazendo o bem a todos. E, mais tarde, nos dias da sua Paixão, sofremos ao presenciar como o acusavam, com que fúria o maltratavam, com quanto ódio o crucificavam.

À dor seguiu-se a alegria luminosa da Ressurreição. Que fundamento tão claro e tão firme para a nossa fé! Não deveríamos continuar duvidando. Mas talvez ainda sejamos fracos, como os Apóstolos, e perguntemos a Cristo neste dia da Ascensão: É agora que vais restaurar o reino de Israel? ; é agora que vão desaparecer definitivamente todas as nossas perplexidades e todas as nossas misérias?

O Senhor responde-nos subindo aos céus. Tal como os Apóstolos, ficamos meio admirados, meio tristes ao ver que nos deixa. Na realidade, não é fácil acostumarmo-nos à ausência física de Jesus. Comove-me recordar que Jesus, num gesto magnífico de amor, foi-se embora e ficou; foi para o céu e entrega-se a nós como alimento na Hóstia Santa. Sentimos, no entanto, a falta da sua palavra humana, da sua forma de atuar, de olhar, de sorrir, de fazer o bem. Gostaríamos de voltar a vê-lo de perto, quando se senta à beira do poço, cansado da dura caminhada , quando chora por Lázaro , quando se recolhe em prolongada oração , quando se compadece da multidão.

Sempre me pareceu lógico - e me cumulou de alegria - que a Santíssima Humanidade de Jesus Cristo subisse à glória do Pai. Mas penso também que esta tristeza, própria do dia da Ascensão, é uma manifestação do amor que sentimos por Jesus, Senhor Nosso. Sendo perfeito Deus, Ele se fez homem, perfeito homem, carne da nossa carne e sangue do nosso sangue. E separa-se de nós, indo para o céu. Como não havíamos de notar a sua falta?

Se soubermos contemplar o mistério de Cristo, se nos esforçarmos por vê-lo com os olhos limpos, perceberemos que é possível, mesmo agora, aproximar-se intimamente de Jesus, em corpo e alma. Cristo marcou-nos claramente o caminho: pelo Pão e pela Palavra; alimentando-nos com a Eucaristia e conhecendo e praticando o que nos veio ensinar, ao mesmo tempo que conversamos com Ele na oração. Quem come a minha carne e bebe o meu sangue permanece em mim e eu nele. Aquele que retém os meus mandamentos e os guarda, esse é o que me ama. E aquele que me ama será amado por meu Pai, e eu o amarei e me manifestarei a ele.

Não são simples promessas. São o âmago, a realidade de uma vida autêntica: a vida da graça, que nos impele a entrar numa relação pessoal e direta com Deus. Se observardes os meus preceitos, permanecereis no meu amor, assim como eu observei os preceitos de meu Pai e permaneço no seu amor. Esta afirmação de Jesus, no discurso da Última Ceia, é o melhor preâmbulo para o dia da Ascensão. Cristo sabia que era necessário ir-se embora porque, de um modo misterioso que não acertamos a compreender, depois da Ascensão é que chegaria - numa nova efusão de Amor divino - a terceira Pessoa da Trindade Santíssima: Digo-vos a verdade: convém que eu vá. Se não for, o Paráclito não virá a vós. Mas, se for, eu vo-lo enviarei.
Foi-se e envia-nos o Espírito Santo, que governa e santifica a nossa alma. Ao atuar em nós, o Paráclito confirma o que Cristo nos anunciava: que somos filhos de Deus e que não recebemos o espírito de escravidão, para continuarmos agindo por temor, mas o espírito de adoção de filhos, em virtude do qual clamamos: “Abba”, Pai!

Vemos? É a ação trinitária nas nossas almas. Todo o cristão tem acesso a essa inabitação de Deus no mais íntimo do seu ser, desde que corresponda à graça que o leva a unir-se a Cristo no Pão e na Palavra, na Sagrada Hóstia e na oração. A Igreja submete todos os dias à nossa consideração a realidade do Pão vivo, e consagra-lhe duas das grandes festas do ano litúrgico: a da Quinta-Feira Santa e a do Corpus Christi. Hoje, vamos deter-nos na forma de conseguir intimidade com Jesus escutando atentamente a sua Palavra.

Uma oração ao Deus da minha vida. Se Deus é vida para nós, nada tem de estranho que a nossa existência de cristãos deva estar entretecida de oração. Mas não pensemos que a oração é um ato que se realiza e depois se abandona. O justo compraz-se na lei de Iavé e tende a acomodar-se a essa lei durante o dia e durante a noite. Pela manhã penso em Ti ; e, de tarde, a Ti se eleva minha oração como o incenso. O dia inteiro pode ser tempo de oração: da noite até à manhã e da manhã até à noite. Mais ainda: como nos recorda a Escritura Santa, o próprio sono deve ser oração.

Lembremo-nos do que os Evangelhos nos contam de Jesus. Às vezes, passava a noite inteira ocupado num colóquio íntimo com seu Pai. Como cativou os primeiros discípulos a figura de Cristo em oração! Depois de contemplarem esta atitude constante do Mestre, pedem-lhe: Domine, doce nos orare , Senhor, ensina-nos a orar assim.

São Paulo - oratione instantes , contínuos na oração, escreve - difunde por toda a parte o exemplo vivo de Cristo. E São Lucas, numa pincelada, retrata a maneira de agir dos primeiros fiéis: Animados de um mesmo espírito, perseveravam juntos na oração.

A têmpera do bom cristão adquire-se, mediante a graça, na forja da oração. E, por ser vida, este alimento que é a oração não segue uma trilha única. O coração saberá desafogar-se habitualmente, por meio de palavras, nessas orações vocais ensinadas pelo próprio Deus - o Pai Nosso - ou por seus anjos - a Ave Maria. Outras vezes, utilizaremos orações acrisoladas pelo tempo, nas quais se verteu a piedade de milhões de irmãos na fé: as da liturgia - lex orandi -, ou as que nasceram do ardor de um coração enamorado, como tantas antífonas marianas: Sub tuum praesidium..., Memorare..., Salve Regina...
Em outras ocasiões, serão suficientes duas ou três expressões lançadas ao Senhor como setas, iaculata: jaculatórias, que aprendemos na leitura atenta da história de Cristo: Domine, si vis potes me mundare - Senhor, se quiseres, podes curar-me; Domine, tu omnia nosti, tu scis quia amo te - Senhor, Tu sabes tudo, Tu sabes que eu te amo; Credo, Domine, sed adiuva incredulitatem meam - Creio, Senhor, mas ajuda a minha incredulidade, fortalece a minha fé; Domine, non sum dignus - Senhor, não sou digno!; Dominus meus et Deus meus - Meu Senhor e meu Deus!... Ou outras frases, breves e afetuosas, que brotam do fervor íntimo da alma e correspondem a circunstancias particulares.

A vida de oração deve apoiar-se, além disso, em alguns minutos diários dedicados exclusivamente ao trato com Deus. São momentos de colóquio sem ruído de palavras, junto do Sacrário sempre que possível, para agradecer ao Senhor por essa espera - como está só! - de vinte séculos. A oração mental é esse diálogo com Deus, de coração a coração, em que intervém a alma toda: a inteligência e a imaginação, a memória e a vontade. É uma meditação que contribui para dar valor sobrenatural à nossa pobre vida humana, à nossa vida diária e corrente.

Graças a esses momentos de meditação, às orações vocais, às jaculatórias, saberemos converter o nosso dia num contínuo louvor a Deus, sempre com naturalidade e sem espetáculo. Assim, à semelhança dos enamorados, que não tiram nunca os sentidos da pessoa que amam, manter-nos-emos sempre na sua presença; e todas as nossas ações - mesmo as mais pequenas e insignificantes - transbordarão de eficácia espiritual.

Por isso, quando um cristão envereda por este caminho de intimidade ininterrupta com o Senhor - e é um caminho para todos, não uma senda para privilegiados -, a vida interior cresce, segura e firme; e o homem consolida-se nessa luta, simultaneamente amável e exigente, por realizar até o fundo a vontade de Deus.

A partir da vida de oração, podemos entender esse outro tema que a festa de hoje nos propõe: o apostolado, a realização dos ensinamentos de Jesus transmitidos aos Apóstolos pouco antes de subir aos céus: Vós me servireis de testemunhas em Jerusalém e em toda a Judéia e Samaria e até os confins do mundo.

Com a maravilhosa normalidade do divino, a alma contemplativa expande-se em ímpetos de ação apostólica: Ardia-me o coração dentro do peito, ateava-se o fogo em minha meditação. Que fogo é este, senão o mesmo de que fala Cristo: Fogo vim trazer à terra e que hei de querer senão que arda?. Fogo de apostolado, que se robustece na oração: não há melhor meio do que este para desenvolver, por toda a redondeza do mundo, essa batalha pacífica em que cada cristão é chamado a participar - cumprir o que resta por padecer a Cristo.

Jesus subiu aos céus, dizíamos. Mas, pela oração e pela Eucaristia, o cristão pode ter com Ele a mesma intimidade que tinham os primeiros Doze, inflamar-se no seu zelo apostólico, para com Ele realizar um serviço de corredenção, que é semear a paz e a alegria. Servir, portanto, porque o apostolado não é outra coisa. Se contarmos exclusivamente com as nossas próprias forças, nada obteremos no terreno sobrenatural; se formos instrumentos de Deus, conseguiremos tudo: Tudo posso nAquele que me conforta. Por sua infinita bondade, Deus resolveu servir-se destes instrumentos ineptos. Daí que o apóstolo não tenha outro fim senão deixar agir o Senhor, mostrar-se inteiramente disponível, para que Deus realize - através das suas criaturas, através da alma escolhida - a sua obra salvadora.

Apóstolo é o cristão que se sente enxertado em Cristo, identificado com Cristo, pelo Batismo; habilitado a lutar por Cristo, pelo Crisma; chamado a servir a Deus com a sua ação no mundo, pelo sacerdócio comum dos fiéis, que lhe confere uma certa participação no sacerdócio de Cristo - embora essencialmente diferente daquela que constitui o sacerdócio ministerial - e o torna capaz de participar no culto da Igreja e de ajudar os homens a caminhar para Deus, mediante o testemunho da palavra e do exemplo, mediante a oração e a expiação.

Cada um de nós tem que ser ipse Christus, o próprio Cristo. Ele é o único Medianeiro entre Deus e os homens ; e nós unimo-nos a Ele para com Ele oferecermos todas as coisas ao Pai. Nossa vocação de filhos de Deus, no meio do mundo, exige não apenas que procuremos atingir a nossa santidade pessoal, mas que avancemos pelos caminhos da terra, para convertê-los em atalhos que, através dos obstáculos, levem as almas ao Senhor; que tomemos parte, como cidadãos comuns, em todas as atividades temporais, para sermos levedura que informe a massa inteira.

Cristo subiu aos céus, mas transmitiu a tudo o que é humano e honesto a possibilidade concreta de ser redimido. São Gregório Magno aborda este grande tema cristão com palavras incisivas: Partia assim Jesus para o lugar de onde era e regressava do lugar em que continuava morando. Com efeito, no momento em que subia ao céu, unia com a sua divindade o céu e a terra. Na festa de hoje, devemos destacar solenemente o fato de ter sido suprimido o decreto que nos condenava, o juízo que nos submetia à corrupção. A natureza a que se dirigiam aquelas palavras: “Tu és pó e em pó te hás de tornar” (Gen. III, 19) -, essa mesma natureza subiu hoje ao céu com Cristo.

Não me cansarei de repetir, portanto, que o mundo é santificável, e que compete especialmente aos cristãos levar a cabo essa tarefa: purificando-o das ocasiões de pecado com que os homens o desfeiam e oferecendo-o ao Senhor como hóstia espiritual, apresentada e dignificada mediante a graça de Deus e o nosso esforço. Em rigor, não se pode dizer que haja nobres realidades exclusivamente profanas, uma vez que o Verbo se dignou assumir uma natureza humana íntegra e consagrar a terra com a sua presença e com o trabalho de suas mãos. A grande missão que recebemos no Batismo é a corredenção. A caridade de Cristo nos compele a tomar sobre os ombros uma parte dessa tarefa divina de resgatar as almas.

Tenhamos presente que a Redenção, que se consumou quando Jesus morreu na vergonha e na glória da Cruz - escândalo para os judeus, loucura para os gentios -, continuará a realizar-se por vontade de Deus até que chegue a hora do Senhor. Não são coisas compatíveis viver segundo o Coração de Jesus Cristo e não nos sentirmos enviados, como Ele, peccatores salvos facere , a salvar todos os pecadores, convencidos de que nós mesmos necessitamos de confiar cada vez mais na misericórdia de Deus. Daí o desejo veemente de nos considerarmos corredentores com Cristo, de salvar com Ele todas as almas, porque somos, queremos ser ipse Christus, o próprio Jesus Cristo; e Ele deu-se a si mesmo em resgate por todos.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/a-ascensao-do-senhor-aos-ceus/

Uma homília de mais de mil anos sobre a Visitação de Maria

Renata Sedmakova | Shutterstock
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Francisco Vêneto - publicado em 31/05/23 - atualizado em 29/05/25

"Maria nada atribui a seus méritos, mas reconhece toda a sua grandeza como dom daquele que, sendo por essência poderoso e grande, costuma transformar os seus fiéis, pequenos e fracos, em fortes e grandes."

A Visitação de Nossa Senhora a sua prima Santa Isabel é um dos mais belos episódios narrados pelo Evangelho a respeito da personalidade de Maria, pró-ativa na caridade e no cuidado para com todos, inclusive quando ela própria estava grávida e, portanto, também necessitada de cuidados.

Foi durante a visitação à prima que Maria proferiu o célebre hino do "Magnificat", em que proclama as maravilhas que Deus fez nela.

É isto o que se exalta no seguinte trecho de uma homilia de São Beda, o Venerável, monge inglês do século VIII:

Minha alma engrandece o Senhor e exulta meu espírito em Deus, meu Salvador (Lc 1,46). Com estas palavras, Maria reconhece, em primeiro lugar, os dons que lhe foram especialmente concedidos; em seguida, enumera os benefícios universais com que Deus favorece continuamente o gênero humano.

Engrandece o Senhor a alma daquele que consagra todos os sentimentos da sua vida interior ao louvor e ao serviço de Deus; e, pela observância dos mandamentos, revela pensar sempre no poder da majestade divina. Exulta em Deus, seu Salvador, o espírito daquele que se alegra apenas na lembrança de seu Criador, de quem espera a salvação eterna.

Embora estas palavras se apliquem a todas as almas santas, adquirem contudo a mais plena ressonância ao serem proferidas pela santa Mãe de Deus. Ela, por singular privilégio, amava com perfeito amor espiritual aquele cuja concepção corporal em seu seio era a causa de sua alegria. Com toda razão pôde ela exultar em Jesus, seu Salvador, com júbilo singular, mais do que todos os outros santos, porque sabia que o autor da salvação eterna havia de nascer de sua carne por um nascimento temporal; e sendo uma só e mesma pessoa, havia de ser ao mesmo tempo seu Filho e seu Senhor.

O Poderoso fez em mim maravilhas, e santo é o seu nome! (Lc 1,49). Maria nada atribui a seus méritos, mas reconhece toda a sua grandeza como dom daquele que, sendo por essência poderoso e grande, costuma transformar os seus fiéis, pequenos e fracos, em fortes e grandes.

Logo acrescentou: E santo é o seu nome! Exorta assim os que a ouviam, ou melhor, ensina a todos os que viessem a conhecer suas palavras que, pela fé em Deus e pela invocação do seu nome, também eles poderiam participar da santidade divina e da verdadeira salvação. É o que diz o Profeta: Então, todo aquele que invocar o nome do Senhor será salvo (Jl 3,5). É precisamente este o nome a que Maria se refere ao dizer: Exulta meu espírito em Deus, meu Salvador.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2023/05/31/uma-homilia-de-mais-de-mil-anos-sobre-a-visitacao-de-maria

quarta-feira, 28 de maio de 2025

Boas razões para acordar cedo e deixar o telefone para trás

Gorodenkoff | Shutterstock

Daniel R. Esparza - publicado em 27/05/25

Ao acordar cedo e resistir à atração do seu telefone, você recupera seu tempo e redescobre a beleza de uma vida mais tranquila e intencional.

Para muitos de nós, o botão soneca virou um ritual matinal, mas fazer o esforço de acordar cedo pode transformar o seu dia – e até a sua vida. A chave não é apenas acordar antes do nascer do sol, mas sim recuperar o seu tempo e encontrar equilíbrio em um mundo que muitas vezes parece conectado demais. Aqui estão quatro motivos convincentes para programar o despertador um pouco mais cedo – e porque você pode deixar o celular na cozinha.

  • Uma mente tranquila em um mundo barulhento

As manhãs oferecem uma rara janela de silêncio antes que o mundo acorde. Sem a enxurrada de notificações e mensagens vibrantes, você pode começar o dia do seu jeito. Este é o momento perfeito para reflexão, oração ou simplesmente alguns momentos de reflexão ininterrupta. Estudos mostram que começar o dia sem pegar o celular imediatamente reduz o estresse e proporciona um clima mais tranquilo para as horas que virão.

  • Domine sua agenda; não deixe que ela domine você

Ao acordar cedo, você ganha horas preciosas e não aproveitadas – tempo para priorizar o que mais importa. Em vez de reagir a e-mails ou mensagens urgentes, você pode planejar seu dia proativamente. Seja um treino matinal, uma caminhada na natureza ou simplesmente um café da manhã tranquilo e consciente, esse tempo passa a ser seu. Com o tempo, essa sensação de controle pode reduzir a ansiedade e melhorar o bem-estar mental geral.

  • Aprimore seu foco e aumente sua criatividade

As horas da manhã costumam ser as mais produtivas para um trabalho profundo e focado. Sem as distrações digitais que tendem a surgir no final do dia, sua mente fica mais aguçada e criativa. Muitos dos maiores pensadores da história, desde Santo Agostinho, até para os inovadores modernos, as manhãs são consideradas as horas mais produtivas. Nesta era impulsionada pela tecnologia, dar ao cérebro uma pausa da atividade agitada pode ser uma maneira poderosa de desbloquear novas ideias.

  • Redescubra conexões da vida real

Acordar cedo também pode significar passar mais tempo com as pessoas ao seu redor. Seja um café tranquilo com seu cônjuge, um bate-papo com seus filhos no café da manhã ou até mesmo uma caminhada matinal com um amigo, esses pequenos momentos sem telas podem enriquecer seus relacionamentos. Como o Papa Francisco costumava nos lembrar, a conexão humana tem a ver com presença – um lembrete para largarmos nossos dispositivos e estarmos verdadeiramente com os outros.

Ao acordar cedo e resistir à atração do celular, você recupera seu tempo e redescobre a beleza de uma vida mais tranquila e com mais propósito. Então, amanhã de manhã, resista à vontade de rolar a tela – o mundo pode esperar.

Fonte: https://pt.aleteia.org/2025/05/27/boas-razoes-para-acordar-cedo-e-deixar-o-telefone-para-tras

Começa no Rio de Janeiro a 40ª Assembleia Geral Ordinária do CELAM

Participantes da 40ª Assembleia Geral Ordinária do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (CELAM). | Crédito: CELAM.

Começa no Rio de Janeiro a 40ª Assembleia Geral Ordinária do CELAM

Por Nathália Queiroz*

27 de maio de 2025

“Somos herdeiros e responsáveis de iniciativas vigorosas para a aplicação das orientações do Concílio Vaticano II”, disse o arcebispo de Porto Alegre, dom Jaime cardeal Spengler, na missa de abertura da 40ª Assembleia Geral Ordinária do Conselho Episcopal Latino-Americano e Caribenho (CELAM), hoje (27), no Colégio Sagrado Coração de Maria, no Rio de Janeiro (RJ).

Para dom Jaime, presidente do CELAM e da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), os 70 anos da primeira Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e a criação do CELAM, em 1955, que a assembleia deste ano marca, são “a realização no tempo de um sonho, um projeto eclesial de comunhão, participação e missão”.

“As Conferências do Episcopado indicaram caminhos, assinalaram rotas, ofereceram orientações valiosas para a evangelização do continente. Também inspiraram igrejas de outros continentes”, disse o cardeal em sua homilia.

“Para onde vamos? Essa é a pergunta que agora devemos construir juntos, iluminados pela herança do Concílio de Niceia, inspirados pelo documento final do sínodo, e orientados pela constituição Praedicate Evangelium ”, disse dom Jaime. “Que a mãe, a Senhora de Guadalupe, continue sussurrando nos nossos ouvidos: Fazei tudo o que meu Filho vos disser”.

Os presidentes e secretários-gerais das 22 conferências episcopais da América Latina e do Caribe estão reunidos no Centro de Estudos de Sumaré, da arquidiocese do Rio de Janeiro. O encontro tem como objetivo “fortalecer o espírito de colegialidade e serviço aos povos da região, promovendo o discernimento dos sinais dos tempos e os caminhos de comunhão que revitalizam a presença e a missão evangelizadora da Igreja nesses territórios”.

Segundo o programa do encontro, nos quatro dias de trabalho, os bispos discutirão sobre a fé e a comunhão eclesial no âmbito do Jubileu da Esperança, que transcorre neste ano de 2025; refletirão sobre a realidade social e eclesial na América Latina e Caribe e os desafios para o trabalho pastoral da Igreja; falarão sobre a recepção do Sínodo da Sinodalidade, encerrado em outubro passado em Roma em seus países. Também discutirão sobre o papel e a missão das conferências episcopais, celebrarão os dez anos da encíclica Laudato Si’ do papa Francisco e o legado dos 1.700 anos do Concílio de Niceia para a busca de novos caminhos para a unidade cristã. 

*Nathália Queiroz: Escrevo para a ACI Digital há oito anos e desde 2023 sou correspondente do Brasil para o telejornal EWTN Notícias. Sou certificada em espanhol pelo Instituto Cervantes. Tenho experiência em redação de conteúdo religioso para mídias católicas em português e espanhol e em tradução de sites religiosos. Sou casada, tenho três filhos e sou catequista há mais de 15 anos. Escrevo de Petrópolis (RJ).

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/62923/comeca-no-rio-de-janeiro-a-40a-assembleia-geral-ordinaria-do-celam

Embrião do cristianismo

Cristianismo primitivo (Appai)

EMBRIÃO DO CRISTIANISMO 

26/05/2025

Dom Paulo Mendes Peixoto
Arcebispo de Uberaba (MG)

O Antigo Testamento foi uma experiência demorada para a construção das bases fundamentais de toda a História da Salvação. Realmente tudo foi uma gestação bastante longa, que começou com os antepassados, Abrão e Sarai (cf. Gn 11,29), originários de UR, na Caldeia, passando por Abraão e Sara (Gn 17,15), Moisés, os profetas, chegando ao grande acontecimento, a vinda e a vida de Jesus Cristo. 

Aquilo que chamamos de embrião em todo o passado, tem uma continuidade no surgimento dos passos do cristianismo. Os fundamentos continuam no Novo Testamento, porque podemos dizer que o grande embrião mesmo foi a vinda do Espírito Santo, no acontecimento de Pentecostes. Ele toma forma ao entregar à Igreja a tarefa de ser sinal de sua presença no mundo. 

A Igreja, como expressão viva e concreta do cristianismo no mundo e fruto maduro de uma antiga promessa, se torna realidade visível no testemunho de fidelidade de cada pessoa que procura viver sua fé em Deus. É Jesus mesmo quem disse aos seus apóstolos: “Recebei o Espírito Santo” (Jo 20,22). Este fato é relatado como sendo cinquenta dias depois da Festa da Páscoa, daí, Pentecostes. 

Entre os judeus havia a chamada festa das Tendas (cf. Lv 23,34). Por influência dos gregos, esta festa passou a receber o nome de Pentecostes (cf. Tb 2,1). Era a festa das colheitas, quando os agricultores iam a Jerusalém, levando os melhores frutos em sinal de agradecimento a Deus. Passou a ser também gesto de gratidão pelo dom da Lei dada por Deus a Moisés, no monte Sinai. 

No Novo Testamento, o entendimento é que a Lei do Decálogo era a presença do Espírito Santo para guiar o povo. Por isto, Pentecoste é o embrião da Igreja, como dom do Ressuscitado na nova História de atuação de Deus na humanidade. Jesus sopra sobre os apóstolos e o Espírito vem em forma de fogo, revitalizando o acontecido nos arredores do monte Sinai (cf. Ex 19,18). 

Por causa da solidez da gestação e de seus fundamentos, a Igreja está presente no mundo e continua a missão de Jesus, mesmo enfrentando maus testemunhos, mudanças ligadas à caminhada da cultura, mas está de pé firme. Ainda é uma voz forte voltada para a dignidade e o respeito pelas pessoas mais fragilizadas, porque o Espírito de Pentecostes continua com todo seu vigor em nossos dias. 

Fonte: https://www.cnbb.org.br/

Relíquia de São Leão Magno inserida na cruz peitoral de prata do Papa

As relíquias de São Leão Magno, Santo Agostinho, São Tomás de Vilanova e do Beato Anselmo Polanco (Vatican News)

Foram inseridos os fragmentos de ossos de quatro bispos na cruz peitoral de prata doada pelo Círculo de São Pedro a Leão XIV no dia de sua eleição. Os bispos são: São Leão Magno, Santo Agostinho, São Tomás de Vilanova e o Beato Anselmo Polanco. A ideia foi do guardião do sacrário apostólico, padre Silvestrini, que compreendeu o desejo do Papa de se confiar à proteção de seu homônimo predecessor.

Tiziana Campisi – Vatican News

Guiando os passos de Leão XIV está agora também São Leão Magno, o quadragésimo quinto sucessor de Pedro, que viveu entre os séculos IV e V, contemporâneo de Santo Agostinho. Ele promoveu a unidade da Igreja, combateu heresias, definiu a primazia do bispo de Roma e compôs as mais belas coletas do Missal Romano. Na cruz peitoral de prata doada ao Papa Prevost no dia de sua eleição, 8 de maio, pelo Círculo de São Pedro, estão guardadas as relíquias de ossos de quatro bispos: a de São Leão Magno, bispo de Roma, a de Santo Agostinho, bispo de Hipona, a de São Tomás de Vilanova, arcebispo de Valência, e a do Beato Anselmo Polanco, bispo de Teruel, mártir.

As relíquias de São Leão Magno, Santo Agostinho, São Tomás de Vilanova e do Beato Anselmo Polanco (Vatican News)

A ideia do guardião do Sacrário Apostólico

A ideia de mandar fazer um novo "relicário" para Leão XIV, para ser inserido na cruz peitoral dada de presente ao Papa, partiu do guardião do sacrário apostólico, padre Bruno Silvestrini, da comunidade agostiniana da Sacristia Pontifícia. Aproveitando o desejo de seu confrade Pontífice de se confiar à proteção e orientação de Leão Magno, o religioso decidiu recorrer ao especialista em relicários Antonino Cottone, que já tinha feito cinco relíquias, com técnicas medievais tradicionais, para a cruz peitoral doada a Prevost pela Cúria Geral dos Agostinianos no dia em que foi criado cardeal, 30 de setembro de 2023.

A confecção da "cruz relicária" (Vatican News)

Um trabalho meticuloso

Dito e feito, na última segunda-feira, o especialista levou apenas duas horas para dar vida, com meticulosa precisão e apaixonada dedicação, a uma nova pequena cruz com filigranas de papel dourado (paperoles) sobre moiré vermelho (um tecido tafetá cuja aparência simula os veios da madeira ou do mármore, produzindo um efeito variável), onde 4 pequenas flores de papel acolheram as relíquias dos 4 ilustres pastores da Igreja. Com suas mãos experientes, Cottone enrolou, modelou e colou pequenas tiras de papel, criando uma série de elementos decorativos entre os quais inseriu os preciosos fragmentos de "ossos sagrados".

Antonino Cottone enquanto prepara as relíquias para serem inseridas na cruz peitoral do Papa (Vatican News)

A entrega a Leão XIV

Concluída a obra, o artesão colocou a "cruz-relicário" dentro da cruz peitoral papal e, muito emocionado, entregou-a a Leão XIV, colocando-a em seu pescoço. O Papa acolheu com alegria a cruz peitoral, enriquecida com as relíquias dos quatro bispos que lhe são particularmente queridos.

Antonino Cottone entrega a cruz peitoral na qual inseriu as relíquias dos quatro bispos queridos ao Papa Leão XIV (Vatican News)
Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

terça-feira, 27 de maio de 2025

São Tomás de Aquino e o momento da Infusão da Alma no Corpo

A Suma Teológica de São Tomás de Aquino (apologistascatolicos)

São Tomás de Aquino e o momento da Infusão da Alma no Corpo

By Rafael Rodrigues

Abril 4, 2025

Para a doutrina católica a infusão da alma da pessoa ocorre no momento exato da concepção, ou seja, no momento exato em que o espermatozoide fecunda o óvulo no ventre da mulher. Porém no passado, para os escolásticos e outros pensadores que se baseavam em ideia da filosofia grega, isto não era assim. São Tomás de Aquino, um dos mais influentes teólogos e filósofos da Idade Média, desenvolveu uma visão detalhada sobre a infusão da alma no corpo humano, baseada na síntese de filosofia aristotélica e teologia cristã. A compreensão de São Tomás sobre este tema está amplamente documentada em sua obra principal, a “Suma Teológica”.

A NATUREZA DA ALMA

Para entender a visão de São Tomás sobre a infusão da alma, é essencial primeiro compreender sua definição de alma. Tomás de Aquino segue Aristóteles ao definir a alma como a “forma do corpo” (forma corporis). Em sua “Suma Teológica”, ele afirma:

A alma é o primeiro princípio da vida em coisas vivas, e não só a razão do movimento, mas também da sensação e do alimento e do crescimento” (ST I, q. 75, a. 1).

A alma, portanto, é o princípio vital que anima o corpo, conferindo-lhe vida e capacidade de movimento, percepção e crescimento.

O PROCESSO DE INFUSÃO DA ALMA

Tomás de Aquino distingue entre três tipos de alma: vegetativa, sensitiva e racional. Cada uma dessas almas corresponde a diferentes formas de vida: plantas, animais e seres humanos, respectivamente. Ele argumenta que a alma racional, própria dos humanos, é infundida diretamente por Deus.

Aquino aborda o momento da infusão da alma racional na “Suma Teológica”:

Diz-se que a alma racional é criada por Deus quando é infundida no corpo, e que o corpo é gerado pelos pais; de modo que aquilo que se gera pelo processo natural é o corpo, ao qual, no término da geração, é unida a alma racional, criada por Deus” (ST I, q. 118, a. 2).

Aqui, Aquino sugere que a alma racional é infundida no corpo humano após o término da geração do corpo, implicando um momento específico no desenvolvimento fetal, e não diretamente na concepção ou fecundação do óvulo.

A INFUSÃO DA ALMA NA FORMAÇÃO DO CORPO

São Tomás de Aquino também discute a formação do corpo e a subsequente infusão da alma racional. Ele adota uma perspectiva que pode ser descrita como “animacionismo mediado”, onde as almas vegetativa e sensitiva são infundidas antes da alma racional. Isso ocorre em etapas durante o desenvolvimento fetal.

Em sua obra “Questões Disputadas sobre a Alma”, Aquino explica:

O corpo humano é primeiro vivificado pela alma vegetativa, depois pela sensitiva, e finalmente pela racional” (De Anima, q. 11, a. 3).

São Tomás de Aquino se baseia na filosofia aristotélica, e muitos estudiosos medievais, incluindo alguns tomistas, interpretaram as ideias de Aristóteles para concluir que a alma racional seria infundida em um ponto específico do desenvolvimento fetal, embora Tomás em si não tenha fornecido esses números exatos.

Para ser mais preciso, aqui está uma citação direta de São Tomás sobre a infusão da alma racional sem especificar um tempo exato:

A alma intelectual é criada por Deus, infundida no corpo perfeito, não transmitida pelos pais, e ao corpo é dada a forma na geração pela alma sensitiva, que é retirada na chegada da alma intelectual” (Suma Teológica, I, q. 118, a. 2).

Portanto, São Tomás de Aquino discute a criação e infusão da alma racional por Deus quando o corpo está suficientemente formado e apto para receber a alma.

A ideia de que a alma racional é infundida no corpo humano em um determinado número de dias após a concepção remonta a interpretações da obra “A Geração dos Animais” de Aristóteles, sugere que a formação do embrião humano ocorre em etapas, com a alma racional sendo infundida após um certo tempo de desenvolvimento. Os tempos mencionados variam entre 40 dias para machos e 80 dias para fêmeas, uma ideia que foi amplamente aceita e discutida por filósofos e teólogos medievais.

Embora São Tomás de Aquino não mencione especificamente esses dias, ele está fortemente influenciado pelas ideias aristotélicas sobre a animação retardada. Vamos olhar diretamente para Aristóteles e alguns comentários medievais para ver como essas ideias se desenvolveram.

Aristóteles

Aristóteles discute o desenvolvimento do embrião humano em “A Geração dos Animais” (Livro II, Capítulo 3):

“Quanto aos seres humanos, o embrião tem uma alma vegetativa desde o começo, depois uma alma sensitiva e, finalmente, a alma racional é infundida.” (Generation of Animals, II, 3).

Aristóteles não especifica o número de dias na obra citada, mas sua obra “História dos Animais” (Livro VII, Capítulo 3) sugere o desenvolvimento progressivo do feto.

Comentadores Medievais

Santo Alberto Magno

Santo Alberto Magno, o mentor de São Tomás de Aquino, em sua obra “De Animalibus”, interpreta Aristóteles e menciona especificamente os 40 e 80 dias:

“Diz-se que para os machos, a alma racional é infundida no quadragésimo dia após a concepção, e para as fêmeas, no octogésimo dia.” (De Animalibus, Livro II).

Comentários Escolásticos

Os comentários escolásticos sobre Aristóteles frequentemente mencionam esses tempos. Por exemplo, o comentário de Pedro Lombardo nas “Sentenças” também ecoa essa visão, embora de maneira mais geral:

Há um entendimento que a alma racional é infundida após a formação inicial do corpo, aproximadamente 40 dias após a concepção para os machos e mais tempo para as fêmeas.” (Sentenças, Livro II, Distinção 18).

CONCLUSÃO

Para entender o processo de infusão da alma combina a filosofia aristotélica com a teologia cristã, resultando em uma compreensão detalhada do processo de infusão da alma. A alma racional, criada diretamente por Deus, é infundida no corpo humano após aproximadamente 40 dias para os machos e 80 dias para as fêmeas, marcando o início da plena vida. Hoje já não se cogita essa ideia de animação tardia, porém o estudo desse pensamento do Aquinate serve-nos para entender sua ideia de concepção humana inclusive no que tange suas opiniões a respeito da imaculada conceição de Maria.

Fonte: https://apologistascatolicos.com.br/sao-tomas-de-aquino-e-o-momento-da-infusao-da-alma-no-corpo/

Uma muralha intransponível: O dia de guarda

Uma muralha intransponível (Crédito: Opus Dei)

Uma muralha intransponível: O dia de guarda

O dia de guarda é um costume no Opus Dei que consiste em dedicar um dia da semana para viver com especial intensidade a fraternidade cristã, lembrando-nos dos outros na oração, na mortificação e nos pequenos detalhes de caridade.

24/03/2025

Não é raro que, ao viajar por algum país e visitar seus monumentos mais emblemáticos, nos deparemos com alguma grande construção de pedra. Ficamos atônitos, impressionados com os séculos - ou milênios - que essas edificações viram passar. Talvez tenham precisado de alguma restauração, mas não muitas, em comparação com o tempo em que estão de pé. Alguns deles, além disso, não têm nenhuma argamassa ou cimento para unir seus blocos de pedra: tudo o que é necessário é a compressão de umas pedras sobre as outras.

Filhos de um mesmo Pai

Ao olharmos para esses monumentos, lembramo-nos da citação do Livro dos Provérbios: “um irmão ajudado pelo irmão é como uma cidade fortificada; é forte como os ferrolhos dum castelo” (Prov. 18,19). É como um desses muros de pedra que resistiram ao ataque dos exércitos inimigos, à inclemência do tempo e ao passar dos anos. Mas ele permanece lá: firme, forte e compacto.

Somos como essas pedras e, se nos apoiarmos uns aos outros, a Obra será como uma cidade firme: “Hoje faço de ti uma cidade fortificada, uma coluna de ferro e muros de bronze” (Jer 1,18). “Dessa forma -dizia o Prelado do Opus Dei - o amor que nos une é o mesmo amor que mantém a Obra unida”[1]. Portanto, poderíamos dizer que, de certa forma, a unidade no Opus Dei — aspecto essencial e paixão dominante — depende da nossa vida. Isto é algo que a Bem-aventurada Guadalupe experimentou na própria pele e contava a São Josemaria: “A Obra sou eu mesma e não poderia ser de outra forma. Que alegria me dá sentir isso tão claramente e sempre, desde o primeiro dia e cada vez mais!”[2].

Cuidamos dos outros membros da Obra porque eles são nossos irmãos e irmãs. Unidos por laços sobrenaturais, mais fortes que os de sangue, estamos construindo o Opus Dei. Ou seja, vamos nos ajudando a ser santos e a ser apóstolos. Mas a fraternidade não é apenas uma tarefa a mais por realizar, como o trabalho ou as normas de piedade, mas sim uma realidade que anima nossa vida cotidiana. Vivemos, rezamos, alegramo-nos e sofremos sabendo que somos filhos do mesmo Pai e, portanto, irmãos entre nós: “A filiação divina é uma atitude profunda da alma, que acaba por informar a existência inteira: está presente em todos os pensamentos, em todos os desejos, em todos os afetos.E expande-se necessariamente em fraternidade”[3].

Vigilância amorosa

O dia de guarda nos ajuda a querer reforçar essa cidade amuralhada. Dom José Luis Múzquiz lembra o momento em que ouviu falar pela primeira vez sobre esse costume. Foi durante uma meditação no centro da Rua Diego de León, por volta de 1942, quando São Josemaria, aludindo à vigilância fraterna que deveríamos viver na Obra, “repetia as palavras da Escritura: Custos, quid de nocte? - Sentinela, alerta! (Is 21,11). E então essa prática começou a ser vivida, levando cada um a estar 'de guarda' um dia por semana, procurando viver com mais delicadeza o espírito de fraternidade”.

Essa frase da Escritura serviu de inspiração para São Josemaria ao escrever aquele ponto em Sulco: “- Sentinela, alerta! Tomara que tu também te acostumes a ter, durante a semana, o teu dia de guarda: para te entregares mais, para viveres com mais amorosa vigilância cada detalhe, para fazeres um pouco mais de oração e de mortificação[4]. Se voltarmos ao exemplo das cidades fortificadas, é fácil imaginarmos soldados de guarda patrulhando suas muralhas, subindo e descendo. O trabalho deles é importante. Se eles vigiam, seus irmãos dentro da cidade, protegidos, podem viver tranquilamente: sabem que o inimigo não poderá entrar. A cidade estará bem protegida.

É próprio de qualquer família que todos se ocupem em levar o lar para frente. Cada um contribui à sua maneira. O pai e a mãe dividem certas tarefas, ao mesmo tempo que sabem confiar outras tarefas aos filhos, especialmente aos mais velhos. E, em épocas em que um membro da família está especialmente necessitado, não hesitam em combinar entre todos para garantir que ele se sinta cuidado e bem acompanhado o tempo todo.

Esse lar que constitui cada família não é algo que já vem pronto: é um trabalho artesanal e cotidiano. O dia de guarda nos convida a considerar a maneira como “criamos um lar”, porque “cada um traz um valor necessário e insubstituível”[5]. Todos nós temos capacidades únicas que podem contribuir para a felicidade dos outros. Com nossos talentos e nosso modo de ser, podemos ajudar nossos irmãos a trilhar o caminho da santidade. Mais do que realizar algo específico nesse dia, trata-se de vivê-lo com um coração transformado pelos sentimentos e afetos do Senhor: “Não tenham medo de amar nobremente, santamente. Amem-se muito: não tenham vergonha de ter coração. Não basta apenas tolerar-nos. Isso é pouco. Não basta a caridade oficial, fria. Carinho!, humano e sobrenatural. Devemos colocar o carinho de Cristo inflamado de amor pelos homens, por sua Mãe, pelos apóstolos, por Lázaro. Quando alguém sofre, todos sofrem com ele. E, se alguém tem uma alegria, alegramo-nos com ele também”[6].

Manancial de água fresca

Todos os homens são chamados a tecer relacionamentos. Nossa felicidade não depende tanto dos sucessos que possamos colher ou dos bens que consigamos alcançar, mas da forma como – a exemplo de Jesus Cristo – soubemos amar e nos entregar aos outros. O cristão é chamado a sair de si mesmo e estabelecer vínculos profundos e estáveis com seus irmãos. A verdadeira fraternidade é aquela que “sabe olhar a grandeza sagrada do próximo, que sabe descobrir Deus em cada ser humano, que sabe tolerar os incômodos da convivência apegando-se ao amor de Deus, que sabe abrir o coração ao amor divino para buscar a felicidade dos outros como a busca seu bom Pai”[7].

Quando vivemos essa lógica cristã de nos aproximarmos dos outros e buscarmos o seu bem, estamos ampliando nosso mundo interior para compartilhar e receber os dons de Deus: isso nos permite ser esse manancial que dá água fresca aos nossos irmãos. Por isso, o que vivermos no dia de guarda estará dirigido a cultivar essas relações, a ir ao encontro do outro e descobrir nele o rosto de Jesus.

Nesse dia, cada um tratará de pedir a Deus pelos seus irmãos: cuidará a prática das “normas e costumes; procurará intensificar seu relacionamento habitual com Deus, dedicará mais tempo à oração, acrescentará alguma mortificação especial”[8]. Esse empenho muitas vezes poderá se expressar a partir das realidades que o dia nos propõe: desde as práticas de piedade que já realizamos – e que, alguma, podemos prolongar um pouco – ou realizando outras que naquele dia nos convenham, oferecendo as lutas da vida familiar ou do trabalho, mortificações que nos facilitem o exercício da caridade etc. Em suma, as maneiras concretas de viver esse costume – que não é uma questão de quantidade – são formas de nos despertar, de nos lembrar de algo que já estamos procurando viver habitualmente: ter nossos irmãos no coração e na mente. E, neste âmbito, podemos aplicar a criatividade e engenhosidade dos filhos de Deus.

Isso pode nos levar a participar das alegrias e sofrimentos de nossos irmãos. Nos encontros ou momentos de convivência, muitas vezes teremos ouvido falar de anseios e sonhos: projetos apostólicos e de formação, notícias do trabalho ou da família de cada um... Se estivermos atentos e com o coração voltado para as coisas dos outros, saberemos encontrar em tudo um motivo a mais para nossa resposta à graça. O dia de guarda nos traz à memória tudo isso e o transforma em impulso para a vida interior: “Não cessamos de dar graças a Deus por todos vós, e de lembrar-vos em nossas orações. Com efeito, diante de Deus, nosso Pai, pensamos continuamente nas obras da vossa fé, nos sacrifícios da vossa caridade e na firmeza da vossa esperança em nosso Senhor Jesus Cristo, sob o olhar­ de Deus, nosso Pai.” (1 Tess 1,2-3). A fé, a esperança e a caridade de nossos irmãos estão, de algum modo, em nossas mãos.

* * *

“Perceba que a Santa Igreja é como um grande exército em ordem de batalha. E você, dentro desse exército, defende uma ‘frente’, onde há ataques, lutas e contra-ataques. Compreende? Essa disposição, ao aproximar-se mais de Deus, impulsionará a que você transforme as suas jornadas, uma após outra, em dias de guarda”[9]. De fato, o espírito com que vivemos essa prática não é algo acessório e restrito a apenas aquele dia, mas busca informar progressivamente nossa existência, para que esteja cada vez mais enraizada no amor do Senhor. Somos chamados a ser aquela lâmpada que ilumina todos os cantos, o sal que sabe desaparecer para dar sabor à vida em família. E assim, viveremos “para tornar mais fácil o serviço das almas que se entregam a Deus” [10].


[1] Mons. Fernando Ocáriz, Carta pastoral, 1-XI-2019, n. 14.

[2] Bem-aventurada Guadalupe Ortiz de Landázuri, Cartas a um santo, carta 28-V-1959.

[3] Mons. Fernando Ocáriz, Carta pastoral, 28-X-202, n. 03.

[4] São Josemaria, Sulco, n. 960.

[5] Mons. Fernando Ocáriz, Mensagem, 19-III-2021.

[6] São Josemaria, Anotações de uma tertúlia, 1-XI-1964.

[7] Francisco, Evangelii Gaudium, n. 92.

[8] De spiritu, n. 124.

[9] São Josemaria, Sulco, n. 960.

[10] São Josemaria, Anotações de uma tertúlia, V-1955.

Fonte: https://opusdei.org/pt-br/article/uma-muralha-intransponivel-o-dia-de-guarda/

Breve dicionário comunicacional do Papa Francisco

Breve dicionário comunicacional do Papa Francisco (CNBB)

Subsídio gratuito elaborado pelo Grupo de Reflexão sobre Comunicação da CNBB resgata palavras essenciais da comunicação do Papa Francisco.

Vatican News

O Grupo de Reflexão sobre Comunicação da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (Grecom/CNBB) apresenta o Breve dicionário comunicacional do Papa Francisco, um e-book gratuito que celebra o legado de Francisco na arte de comunicar. O subsídio é publicado como homenagem póstuma ao primeiro pontífice latino-americano, por ocasião dos 30 dias de sua Páscoa definitiva, ocorrida no Domingo de Páscoa de 2025, no dia 21 de abril passado.

Composto por 12 verbetes que evocam os 12 anos de pontificado de Francisco, o dicionário apresenta palavras-chave que marcaram seu magistério comunicacional: alegriacoraçãodiálogoencontroescutaesperançafraternidademisericórdiapazproximidadeternura e verdade. A obra é um convite à contemplação do estilo comunicativo do papa que falou ao coração da humanidade com seus gestos, silêncios e palavras, desde sua primeira aparição na sacada da Basílica de São Pedro, naquele saudoso e memorável 13 de março de 2013.

Na apresentação do subsídio, Dom Valdir José de Castro, presidente da Comissão Episcopal Pastoral para a Comunicação da CNBB, afirma que Francisco foi um guia espiritual que testemunhou “a alegria de evangelizar, de uma forma verdadeira, suave e terna, decidida e profética”. Ao refletir sobre o legado do pontífice, Dom Valdir ressalta que sua comunicação foi geradora de uma cultura do encontro, marcada pela proximidade e pela interação humana, e não apenas por técnicas ou estratégias.

Na introdução do e-book, o coordenador do Grecom, Moisés Sbardelotto, professor da PUC Minas, sublinha que a obra nasce do desejo de rememorar, “com ternura e esperança”, um pontificado que moveu e comoveu a Igreja e o mundo com seu jeito de comunicar. Para Sbardelotto, mais do que meros conceitos, as palavras reunidas no dicionário são “sementes que o papa lançou nos sulcos da Igreja, da sociedade e da história”, convidando a cultivar uma comunicação que seja “presença e profecia”.

Fruto da reflexão dos membros do Grecom, cada verbete foi escrito a partir de uma escuta atenta e sensível ao pensamento e ao testemunho do papa, revelando como suas ideias e ações desafiam e inspiram todas as pessoas, especialmente aquelas que atuam no campo da comunicação. Não se trata de um compêndio técnico ou teórico, mas sim de um tributo vivo ao “coração comunicador” de Francisco, um papa que acreditava que comunicar é, antes de tudo, promover a proximidade e construir pontes em vez de muros.

Destinado a todas as pessoas que desejam comunicar com proximidade, compaixão e ternura, seguindo o “estilo de Deus”, como dizia o pontífice, o Breve dicionário busca manter vivo o sonho de Francisco: promover, na vida e na missão da Igreja, uma comunicação “em saída”, pastoral e sinodal, dialógica e missionária. O novo tempo eclesial, com o pontificado de Leão XIV, também pede uma comunicação “desarmada e desarmante”, a serviço da verdade, da justiça e da paz, a fim de reacender a esperança nos dias de hoje. Com este subsídio, o desejo do Grecom é de que o legado comunicacional do Papa Francisco permaneça vivo e fecundo na vida da Igreja, que segue a caminho, sempre adelante.

O Grecom é um grupo de reflexão sobre comunicação de natureza consultiva ligado à Comissão Episcopal para a Comunicação Social da CNBB. O grupo articula especialistas de várias partes do Brasil, a fim de oferecer um aprofundamento sobre comunicação a serviço da evangelização e da sociedade, em um permanente “mutirão”. Atualmente, o grupo é formado por Aline Amaro da Silva (PUC Minas, vice-coordenadora), Ir. Joana T. Puntel, fsp (Sepac/Itesp), Claudenir Modolo Alves (Faculdade São Bento), Magali do Nascimento Cunha (Iser e Coletivo Bereia), Marcus Tullius (Cáritas América Latina e Caribe), Moisés Sbardelotto (PUC Minas, coordenador) e Ricardo Alvarenga (UFMA).

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF