IGREJA
Arquivo 30Dias nº 02 - 2002
Um Decálogo para a Paz
Um mês após o Dia Mundial da Paz em Assis, João Paulo II
publicou uma carta aos chefes de Estado e de governo, divulgando o compromisso
de dez pontos assumido por todos os participantes do Dia de Oração em 24 de
janeiro.
por João Paulo II
A Suas Excelências,
os Chefes de Estado ou de Governo.
Há um mês, realizou-se em Assis o Dia de Oração pela Paz Mundial. Hoje, meus pensamentos voltam-se espontaneamente para os líderes da vida social e política dos países ali representados pelos líderes religiosos de numerosas nações.
As intervenções inspiradas desses homens e mulheres, representantes das
diversas confissões religiosas, bem como seu sincero desejo de trabalhar pela
harmonia, pela busca comum do verdadeiro progresso e pela paz em toda a família
humana, encontraram sua expressão elevada, porém concreta, em um
"Decálogo" proclamado ao final deste dia excepcional.
Tenho a honra de apresentar o texto deste compromisso comum
a Vossa Excelência, convicto de que estas dez propostas inspirarão a ação
política e social de seu governo.
Pude constatar que os participantes do encontro de Assis
estavam, mais do que nunca, movidos por uma convicção comum: a humanidade deve
escolher entre o amor e o ódio. E todos, sentindo-se membros da mesma família
humana, puderam traduzir essa aspiração por meio deste Decálogo, convictos de
que, se o ódio destrói, o amor, ao contrário, constrói.
Espero que o espírito e o compromisso de Assis levem todas
as pessoas de boa vontade a buscar a verdade, a justiça, a liberdade e o amor,
para que todo ser humano possa desfrutar de seus direitos inalienáveis e todo povo possa desfrutar da
paz. Por sua vez, a Igreja Católica, que
deposita sua confiança e esperança no
"Deus de amor e paz" (2 Cor 13,11), continuará a
trabalhar para que o diálogo honesto, o perdão mútuo e a harmonia mútua marquem
o caminho da humanidade neste terceiro milênio.
Grato a Vossa Excelência pelo interesse em minha mensagem,
aproveito esta oportunidade para assegurar-lhe minha mais alta consideração.
Do Vaticano, 24 de fevereiro de 2002.
JOÃO PAULO II
1 Prometemos proclamar nossa firme convicção de
que a violência e o terrorismo se opõem ao verdadeiro espírito religioso e,
condenando qualquer recurso à violência e à guerra em nome de Deus ou da
religião, prometemos fazer todo o possível para erradicar as causas do
terrorismo.
2. Comprometemo-nos a educar as pessoas no
respeito e na estima mútuos, para que a coexistência pacífica e a solidariedade
possam ser alcançadas entre membros de diferentes grupos étnicos, culturas e
religiões.
3. Comprometemo-nos a promover a cultura do
diálogo, para que a compreensão e a confiança mútuas se desenvolvam entre
indivíduos e povos, pois essas são as condições para uma paz autêntica.
4. Comprometemo-nos a defender o direito de cada pessoa
humana a uma vida digna, de acordo com a sua identidade cultural, e a
constituir livremente a sua própria família.
5. Comprometemo-nos a dialogar com sinceridade e paciência,
não considerando o que nos separa como um muro intransponível, mas, pelo
contrário, reconhecendo que o confronto com a diversidade do outro pode
tornar-se uma oportunidade para uma maior compreensão mútua.
6. Comprometemo-nos a perdoar-nos mutuamente os erros e preconceitos do passado
e do presente, e a apoiarmo-nos uns aos outros no esforço comum para superar o
egoísmo e o abuso, o ódio e a violência, e a aprender com o passado que a paz
sem justiça não é a verdadeira paz.
7. Comprometemo-nos a estar ao lado daqueles que sofrem com
a pobreza e o abandono, a dar voz aos que não a têm e a trabalhar concretamente
para superar tais situações, convictos de que ninguém pode ser feliz sozinho.
8. Comprometemo-nos a fazer nosso o clamor daqueles que se
recusam a resignar-se à violência e ao mal, e desejamos contribuir com todas as
nossas forças para dar à humanidade, no nosso tempo, uma esperança real de
justiça e paz.
9. Comprometemo-nos a incentivar qualquer iniciativa que
promova a amizade entre os povos, convictos de que, sem uma sólida compreensão
entre eles, o progresso tecnológico expõe o mundo a riscos crescentes de
destruição e morte.
10. Comprometemo-nos a solicitar aos líderes nacionais que
envidem todos os esforços possíveis para construir e consolidar, a nível
nacional e internacional, um mundo de solidariedade e paz fundado na justiça.

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