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segunda-feira, 3 de novembro de 2025

Como evitar comer microplásticos presentes na nossa comida (Parte 1/2)

Crédito: Getty Images

Como evitar comer microplásticos presentes na nossa comida

Autor: Ally Hirschlag e Martha Henriques

De BBC Future

29 setembro 2025

Você não consegue vê-las, mas elas estão ali: centenas de minúsculas partículas de plástico se escondem no seu bife.

Assim que você acende o fogo, esses convidados indesejados se liquidificam e se misturam na carne, voltando ao estado sólido quando o bife esfria no seu prato.

O plástico não está presente apenas na carne. Na verdade, nós o ingerimos sem saber o tempo todo.

Esses intrusos que invadem nossa comida são os microplásticos e nanoplásticos — partículas de menos de 5 mm ou entre 1 e 1 mil nanômetros, respectivamente.

Mas como eles chegam aos nossos alimentos? E, em um mundo mergulhado em plástico, o que podemos fazer para reduzir sua presença no nosso prato?

A presença física dos microplásticos no corpo é de grande interesse, devido à sua enorme prevalência. Um estudo recente descobriu que existe até uma colherada de plástico no cérebro humano médio.

Se você olhar com mais atenção para a sua cozinha, começará a identificar de onde vêm os microplásticos que entram na nossa refeição: da espátula que você usa para cozinhar, da garrafa d'água que você coloca na mochila do seu filho, da xícara de chá que vai à mesa.

E eles também estão infiltrados profundamente nos alimentos que comemos, do hambúrguer até o mel.

Quando você começa a procurar, a quantidade de pontos de exposição aos microplásticos pode rapidamente se tornar assustadora. Mas é importante saber que é possível tomar medidas para reduzir a quantidade de microplásticos na nossa cozinha.

"Existem muitas soluções simples em casa, realmente fáceis de adotar", explica a professora de pediatria e ciências da saúde ambiental e ocupacional Sheela Sathyanarayana, da Universidade de Washington e do Instituto de Pesquisas Infantis de Seattle, nos Estados Unidos.

"Realmente acho que isso oferece às pessoas uma sensação de controle sobre suas próprias vidas e, de fato, temos um pouco mais de controle do que imaginamos."

Comida

Os microplásticos estão presentes nas frutas, legumes, verduras, mel, pão, laticínios, peixe e carne de vaca e frango. E também estão dentro das gemas (e das claras) dos ovos.

Um estudo realizado em 109 países concluiu que a quantidade de plástico normalmente consumida pelas pessoas em 2018 aumentou em mais de seis vezes, em relação a 1990.

Os microplásticos podem chegar aos nossos alimentos quando são absorvidos pelas raízes das plantas ou consumidos pelos animais na sua ração.

"Se você cultivar um pedaço de terra que, antes, tinha uso industrial e o solo está contaminado, [existe o] potencial de acúmulo dos contaminantes do solo nas plantas", explica Sathyanarayana.

Após a colheita, existem muitas outras oportunidades de contaminação durante o processamento. "As fábricas usam uma enorme quantidade de plástico para aumentar a eficiência e o rendimento dos produtos."

No caso de certos alimentos, é possível nos livrarmos de parte dos microplásticos antes de ingeri-los.

Um estudo realizado na Austrália concluiu que as pessoas consomem tipicamente 3 a 4 mg de plástico por porção de arroz cozido em casa e até 13 mg por porção de arroz pré-cozido. Foram encontrados microplásticos em arroz embalado em papel e em sacos plásticos.

Mas os pesquisadores descobriram que enxaguar o arroz reduz os microplásticos servidos em 20 a 40%. E lavar a carne e o peixe também pode reduzir os microplásticos, mas não eliminá-los completamente.

Estudos recentes demonstram que a água engarrafada contém mais partículas de microplástico do que se pensava (Crédito: Getty Images)

Existem alimentos que não podem ser enxaguados. O sal, por exemplo, costuma conter microplásticos devido à contaminação dos pontos de mineração e processamento.

Um estudo de 2018 concluiu que 36 dentre 39 marcas de sal analisadas continham microplásticos.

O sal marinho continha os níveis mais altos de microplásticos, provavelmente devido aos altos níveis de poluição causada por plástico nos oceanosrioslagos e reservatórios de água do planeta.

Sathyanarayana e Annelise Adrian, responsável por programas da equipe científica de materiais e plástico do WWF, propõem passar a consumir alimentos frescos e integrais ou, pelo menos, evitar ultraprocessados sempre que possível.

"Quanto mais um alimento for ultraprocessado, mais provavelmente ele terá sofrido alta contaminação por plástico, pois existem muitos pontos de contato nas fábricas produtoras de alimentos", explica Sathyanarayana.

Reduzir a quantidade de plástico na cadeia alimentar exigirá muito mais do que as simples mudanças na nossa cozinha doméstica.

Globalmente falando, se a quantidade de fragmentos de plástico que polui o ambiente fosse reduzida em 90%, poderíamos reduzir pela metade a quantidade de plástico consumida pelas pessoas nos países mais afetados.

"O plástico é um ótimo material e é barato", afirma a bióloga marinha Vilde Snekkevik, pesquisadora de microplásticos do Instituto Norueguês para Pesquisas da Água.

"O problema é que, simplesmente, nós o usamos demais. Ele está em toda parte."

Água

Seja da torneira ou da garrafa, a água é outro ponto notável de exposição aos microplásticos.

Um estudo concluiu que o simples ato de abrir e fechar a tampa de uma garrafa plástica aumenta drasticamente a quantidade de microplásticos encontrada na água dentro dela. Cada abertura e fechamento gera 553 partículas de microplástico por litro de água.

"Estão surgindo estudos que demonstram que existem muito mais micro e nanoplásticos na água engarrafada do que se pensava anteriormente", segundo Adrian.

Os microplásticos também são presença comum na água da torneira. Um estudo realizado no Reino Unido encontrou partículas em todas as 177 amostras analisadas de água da torneira, sem diferença considerável de concentração com a água engarrafada.

Conclusões similares no continente europeu, na China, Japão, Arábia Saudita e Estados Unidos sugerem que este é um problema mundial.

Mas, se analisarmos as opções, beber água da torneira pode ser uma forma melhor de reduzir a exposição aos microplásticos, se a fonte da água for segura.

Adrian afirma que investir em um filtro de boa qualidade faz diferença considerável. Um simples filtro de carvão pode retirar até 90% dos microplásticos.

Mas, mesmo se a sua água contiver baixo teor de microplásticos e você for usar um saquinho de chá que contenha plástico na sua composição, saiba que ele pode liberar cerca de 11,6 bilhões de partículas de microplástico e 3,1 bilhões de pedaços de nanoplástico na sua xícara.

O plástico é frequentemente empregado em pequenas quantidades para ajudar a vedar os saquinhos de papel. Mas existem fabricantes que passaram a usar saquinhos sem plástico na sua composição.

Embalagens e recipientes

Existe também o plástico que embala grande parte da nossa comida.

"Os alimentos embalados em plástico, inevitavelmente, conterão microplásticos", explica Adrian. "Isso pode também incluir as latas de alumínio revestidas com plástico, como as de feijão."

O simples ato de abrir embalagens plásticas libera uma grande quantidade de microplásticos.

Seja usando uma tesoura, rasgando o pacote com as mãos, cortando com uma faca ou torcendo a tampa até retirá-la, você irá liberar até 250 pedaços de microplástico por centímetro, segundo um estudo australiano.

"É desnecessário lembrar que os processos repetidos de abertura na mesma posição são similares ao uso de uma serra, destinado a gerar fragmentos", destacam os autores do estudo.

A idade de um recipiente de plástico também pode fazer diferença.

Um estudo realizado na Malásia examinou tigelas reutilizáveis de melamina e concluiu que, após 100 lavagens, a liberação de microplásticos era uma ordem de magnitude maior do que na primeira vez em que a tigela era lavada.

Outros materiais, como o silicone, podem se comportar de forma diferente à medida que envelhecem.

Mesmo se o alimento ficar no recipiente por curto período, a possibilidade de contaminação ainda é grande.

Um estudo de microplásticos em diversos tipos de recipientes usados para delivery de alimentos na China estimou que as pessoas que consomem este tipo de refeição cinco a 10 vezes por mês podem consumir entre 145 e 5.520 pedaços de microplástico, provenientes dos recipientes que embalam esses alimentos.

Continua...

Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Earth.

Fonte: https://www.bbc.com/portuguese/articles/cqxzqyq5558o

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF