ROBÓTICA
E se um robô cuidar de você ou dos seus pais na velhice?
Parece coisa de filme de ficção científica — mas alguns
cientistas acreditam que essa tecnologia inovadora pode ajudar a aliviar a
pressão sobre o sistema de cuidados.
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Pallab Ghosh - Correspondente de ciência
postado em 28/10/2025 18:18 / atualizado em 28/10/2025 22:25
Dos laboratórios para o mundo real
Praminda Caleb-Solly, professora da Universidade de
Nottingham, está determinada a fazer com que esses robôs funcionem bem na
prática. "Estamos tentando tirar esses robôs dos laboratórios e levá-los
para o mundo real", diz ela.
Para isso, criou a rede 'Emergence', que conecta fabricantes
de robôs a empresas e indivíduos que os utilizarão — e também para descobrir
diretamente com os idosos o que eles esperam dessas máquinas.
As respostas variam.
Algumas pessoas disseram que querem robôs com interação por
voz e, compreensivelmente, aparência não ameaçadora. Outras preferem um
"design fofo". Mas muitos pedidos se resumem à forma prática como o
robô deve se adaptar às necessidades em mudança — e ao fato de que ele deve se
carregar e se limpar sozinho.
"Não queremos cuidar do robô — queremos que o robô
cuide de nós", disse uma pessoa entrevistada.
Algumas empresas no Reino Unido também estão testando robôs.
O provedor de cuidados domiciliares Caremark vem
experimentando o Genie, um pequeno robô ativado por voz, com algumas pessoas
que utilizam seus serviços em Cheltenham.
Um homem com início precoce de demência explicou que gostava
de pedir ao Genie para tocar músicas de Glenn Miller.
No geral, entretanto, as reações foram "como
Marmite", segundo o diretor Michael Folkes — algumas pessoas adoraram o
Genie, enquanto outras foram menos entusiasmadas.
Mas Folkes também ressalta que esses dispositivos não têm o
objetivo de substituir pessoas. "Estamos tentando construir um futuro em
que os cuidadores tenham mais tempo para cuidar."
Mãos robóticas: aprendendo com a evolução
De volta ao laboratório da Shadow Robot Company, em Londres,
Rich Walker aponta outro grande desafio: dominar a mão robótica perfeita.
"Para que o robô seja útil, ele precisa ter a mesma
capacidade de interagir com o mundo que um humano", explica. "E, para
isso, precisa de destreza semelhante à humana."
A mão robótica que Walker me mostra certamente parece ágil.
É feita de metal e plástico, equipada com 100 sensores, e possui a destreza e a
força de uma mão humana. Cada dedo se move para tocar o polegar de forma suave,
rápida e precisa, finalizando com um gesto de "OK".
Ela consegue até resolver um cubo mágico usando apenas uma
das mãos.
Ainda assim, está longe de realizar tarefas mais delicadas,
como usar uma tesoura ou pegar objetos pequenos e frágeis.
"O jeito como usamos uma tesoura é realmente
impressionante, quando você pensa nisso", diz Walker.
"Se você tentar analisar o que acontece, está usando o
sentido do tato de maneira sutil e precisa, recebendo feedback que faz você
ajustar a forma de cortar. Como você ensina um robô a fazer isso?"
A equipe de Walker, junto com outras 35 empresas de
engenharia, está trabalhando para projetar uma mão mais parecida com a nossa —
parte do que é conhecido como Programa de Destreza Robótica.
É um dos projetos conduzidos por uma agência governamental
chamada Advanced Research and Invention Agency (ARIA), que busca apoiar
pesquisas científicas de alto risco (porque podem não dar certo), mas também de
alto retorno, pelo seu potencial de transformar a sociedade.
A líder do projeto, professora Jenny Read, explica que estão
estudando como os animais se movimentam para orientar melhor o design, não
apenas da mão, mas para repensar completamente como os robôs são construídos.
"Uma das coisas mais impressionantes nos corpos dos
animais é a graça e eficiência que eles apresentam; a evolução garantiu
isso", diz ela.
"Acho que a graça é realmente uma forma de
eficiência."
Replicando músculos humanos
Guggi Kofod, engenheiro e agora empreendedor da Dinamarca,
está tentando desenvolver músculos artificiais para robôs que possam ser usados
no lugar de motores.
Sua empresa, Pliantics, com sede na Dinamarca, ainda está em
fase inicial de desenvolvimento, mas já alcançou um avanço importante:
encontrou um material que parece funcionar e é durável.
Ele também é movido por motivos profundamente pessoais.
"Várias pessoas próximas a mim morreram recentemente de
demência", explica. "Vejo como é desafiador para quem cuida de
pacientes com demência.
"Então, se pudermos construir sistemas que os ajudem a
não ter medo e que permitam viver, pelo menos, com uma qualidade de vida
decente… Isso é incrivelmente motivador para mim."
Os músculos que a empresa de Kofod desenvolve são feitos de
um material macio que se estende e se contrai, de forma semelhante aos músculos
reais, quando uma corrente elétrica é aplicada.
Guggi Kofod está trabalhando com a Shadow Robot, como parte
do projeto ARIA, para desenvolver uma mão robótica do tamanho humano cujos
músculos artificiais possam proporcionar uma pegada mais precisa e delicada.
O objetivo final é que a mão consiga detectar pequenas
mudanças de pressão ao segurar um objeto e saiba exatamente quando parar de
apertar, assim como a pele das pontas dos dedos faz.
O que os robôs significam para os cuidadores
O professor Wright, que observou os robôs no Japão, tem uma
preocupação final: se a tecnologia se popularizar, os robôs podem acabar
tornando a vida dos cuidadores humanos mais difícil.
"A única forma economicamente viável de fazer isso
funcionar é pagar menos aos cuidadores e ter casas de repouso muito maiores,
padronizadas para facilitar a operação dos robôs", argumenta.
"Como resultado, haveria mais robôs cuidando das
pessoas, enquanto os cuidadores seriam pagos com salário mínimo apenas para dar
suporte aos robôs — o oposto da visão de que os robôs devolveriam tempo aos
cuidadores para que pudessem passar mais momentos de qualidade com os
residentes, conversar com eles."
Outros especialistas têm uma visão mais positiva. "Vai
se tornar uma indústria enorme, considerando o déficit que temos atualmente na
força de trabalho. A demanda por cuidadores, à medida que a população
envelhece, será enorme", afirma Gopal Ramchurn, professor de inteligência
artificial na University of Southampton.
Ele também é CEO da Responsible AI, organização que busca
garantir que sistemas de inteligência artificial sejam seguros, confiáveis e
dignos de confiança.
Mas ele cita o robô humanoide Optimus, de Elon Musk, que serviu bebidas e interagiu em um evento
da Tesla no ano passado, como sinal de que — gostemos ou
não — os robôs estão chegando.
"Estamos tentando antecipar esse futuro, antes que as
grandes empresas de tecnologia implantem essas máquinas sem nos perguntar o que
pensamos sobre elas", acrescenta.
Portanto, agora é o momento de desenvolver regulamentações
adequadas para garantir que os robôs trabalhem a nosso favor, e não o
contrário, argumenta.
"Precisamos estar preparados para esse futuro."
BBC



 
 
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