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sábado, 7 de junho de 2025

EDITORIAL: Chamados a ser humanos

O Bom Samaritano (Vatican News)

As palavras de Leão XIV, a profecia de Ratzinger

Andrea Tornielli

"Antes de sermos crentes, somos chamados a ser humanos." Essa é uma das passagens da catequese proposta pelo Papa Leão XIV na quarta-feira, 28 de maio. Refletindo sobre a parábola do Bom Samaritano, o Papa explicou que nos encontros que tecem nossas vidas "revelamo-nos pelo que somos" e, diante da fragilidade e fraqueza do outro, podemos "cuidar dele ou fingir que nada aconteceu".

Assim como aconteceu na narração de Jesus: os dois ministros religiosos, que tinham o privilégio de entrar no espaço sagrado do Templo de Jerusalém, não pararam diante do homem ferido por ladrões, jogado à beira da estrada. Quem demonstrou compaixão foi um samaritano, alguém considerado impuro pelos judeus. É ele quem cuida do homem que a tradição religiosa considerava um "inimigo". O Papa Leão XIV observou em sua catequese: “a prática do culto não leva automaticamente a ser compassivo. Com efeito, antes de ser uma questão religiosa, a compaixão é uma questão de humanidade!”.

Ser crentes e praticantes, ser ministros de Deus, não assegura a compaixão, nem garante que nos deixemos "ferir" pela realidade, pelos encontros, pelas situações de necessidade com as quais nos deparamos: antes de sermos crentes, somos chamados a ser humanos. É precisamente esse ser humano, ou seja, compassivo, que se torna uma oportunidade para testemunhar o Evangelho.

Já notava isso em 1959, com lucidez profética, o padre Joseph Ratzinger, jovem professor de teologia fundamental na Universidade de Bonn. Em seu ensaio "Os Novos Pagãos e a Igreja", ao refletir sobre as condições mutáveis das sociedades secularizadas, ele falava sobre o testemunho missionário da seguinte forma: "O cristão deve ser, antes, um homem alegre no meio dos outros, um próximo onde não pode ser um irmão cristão”. Portanto, alguém que se faz "próximo", como o bom samaritano. "Penso também", acrescentava o futuro Papa, "que deveria ser, nas relações com o seu próximo não crente, precisamente e sobretudo humano, ou seja, não irritar com contínuas tentativas de conversão e pregações... não deve ser um pregador, mas, justamente, com bela abertura e simplicidade, um homem".

Para Ratzinger, era claro como a Igreja nasce e como pode sempre renascer: do testemunho de homens e mulheres atraídos por Cristo e capazes de testemunhá-lo com a vida, na compaixão, no ser companheiros de viagem de quem quer que seja. Por outro lado, o futuro Bento XVI já estava bem ciente de quão ilusório fosse pensar em deter o declínio do cristianismo ocidental fechando-se em uma fortaleza, reduzindo a fé ao tradicionalismo, a um aglutinante identitário de grupo, ou a uma ideologia para sustentar algum projeto político. No fundo, essa é a chave da missão, a força do anúncio, na mudança de época que atravessamos: pessoas chamadas a ser, antes de tudo, humanas, abertas e compassivas. Homens e mulheres cristãos que não se sentem superiores aos outros, pois estão cientes de que, muitas vezes, quem nos dá testemunho de compaixão são os "distantes", aqueles que consideramos "impuros", como o Bom Samaritano do Evangelho.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF