Número de brasileiros sem religião preocupam cardeal Jaime Spengler
Por Marcos Koboldt*
PORTO ALEGRE, 24 de junho de 2025
“O que faz com que pessoas de distintos setores abandonem
qualquer forma de participação em uma comunidade de fé?”, é a principal
pergunta do arcebispo de Porto Alegre, dom Jaime Spengler, diante dos números
do Censo de 2022 sobre a religião dos brasileiros. O Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE) divulgou no dia 6 de junho. O número de
católicos no Brasil continua caindo, passando de 65,1% da população no último
Censo, de 2010, para 56,7% agora. O crescimento dos autodeclarados evangélicos
continua crescendo, passando de 21,6% da população em 2010 para os atuais
26,9%.
A parcela dos que se declaram sem religião que preocupa dom
Jaime passou de de 7,9% em 2010 para 9,3% hoje.
“Ainda que o número dos ditos desigrejados fosse mínimo,
isto deveria engajar toda a comunidade eclesial”, disse o cardeal, que é também
presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do Conselho
Eclesial Latino-Americano e Caribenho (CELAM) à ACI Digital. “Afinal, Jesus
veio para todos”.
Para dom Jaime, “importante é ter presente em que consiste a
missão evangelizadora da Igreja: anunciar o Evangelho, estando atentos aos
sinais dos tempos, sem transcurar as consequências sociais da mensagem cristã
assumida pessoal e comunitariamente, como também nos orientou o papa Francisco
com documentos como a Laudato Sì, Laudate Deum, Querida Amazônia,
Frateli Tutti”.
Até os anos 1960, mais de 90% da população brasileira se
declarava católica. “É sabido que houve um movimento para desestabilizar um
modelo de vida cristã na América Latina, a partir dos anos 1960”, disse dom
Jaime. “Ao mesmo tempo, não se pode ignorar as grandes transformações sociais
no Ocidente a partir de 1968. No aspecto eclesial houve opções de distintos
setores, em diferentes contextos que a partir sobretudo dos anos 1980
produziram consequências que continuam repercutindo no presente.”
Mesmo que os autodeclarados católicos ainda sejam a maioria
da população pesquisa internacional
em 36 países do mundo mostrou que o cumprimento do preceito de ir à missa
dominical no Brasil é dos mais baixos: 8%. Menos do que na França, país de
longa tradição anticlerical. Números da arquidiocese de São Paulo (SP)
levantados no sínodo arquidiocesano que teve início em 2017 mostram que a
situação é ainda pior na cidade. Apenas 6% dos católicos vão à missa no
domingo.
“Certamente a frequência à celebração eucarística é
fundamental para alimentar a vida de fé e a vida da comunidade”, diz do Jaime.
“No entanto, é a partir da Palavra, do Evangelho que podemos compreender o que
significa ter o direito de participar regularmente da Mesa da Palavra e da Mesa
do Corpo do Senhor”.
“A Igreja não é constituída simplesmente de adeptos, mas de
discípulos e discípulos do Senhor. Isto implica formação, o cultivo de senso de
pertença e de corresponsabilidade pela comunidade. A Igreja do Brasil tem se
empenhado em promover a vida comunitária. Neste sentido, as Paróquias são
convidadas a ser ‘comunidade de comunidades’. Ao mesmo tempo se faz necessário
resgatar e promover sempre mais o lugar da Palavra em nossas comunidades. Creio
que o verdadeiro futuro para a Igreja, e também da sociedade se encontra na
Palavra, que conserva a promessa de Deus para a humanidade de todos os tempos.
A Palavra nos restitui a nossa identidade: somos todos, todos filhos e filhas
de Deus, e irmãos entre nós. Todo e qualquer esforço para promover a
evangelização, seja em que ambiente for, passa pelo conhecimento, estudo,
aprofundamento e oração a partir da Palavra”, disse dom Jaime Spengler.
*Jornalista formado pela Pontifícia Universidade Católica do
Rio Grande do Sul no ano de 2004. Entre 2004 e 2014 trabalhou como repórter em
diferentes empresas de comunicação de Porto Alegre. Entre os anos de 2022 e
2024 foi Assessor de Comunicação da Arquidiocese de Porto Alegre.
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