"O dicionário de Teologia Bíblica, de Xavier Leon-Dufour, aponta a nova esperança anunciada pela boca dos profetas que “anunciam a paz, a salvação, a luz a cura, a redenção. Os profetas ‘entreveem a renovação maravilhosa e definitiva do paraíso, do êxodo, da Aliança ou do Reino de Davi. Israel será saciado com bênçãos de Javé (Jr 31,14) e verá afluir a si a riqueza das nações (Is 61)."
Jackson Erpen - Cidade do Vaticano
No Antigo Testamento, a esperança manifesta-se como uma
chama que atravessa a história de Israel. Em meio a exílios, injustiças e
crises sociais, os profetas não se limitam a fazer advertências ou denunciar,
mas falam de promessa: a convicção de que Deus não abandona o seu povo. Eles
anunciam um futuro de restauração, paz e justiça, onde o Senhor reergueria os
caídos e abriria caminhos novos. Essa esperança não era ilusão, mas total
confiança em um Deus fiel, que age mesmo quando tudo parece perdido.
Ao proclamar essa esperança, os profetas mantinham viva a
coragem do povo, lembrando que a história não termina no sofrimento. Suas
palavras apontavam para dias de reconciliação e renovação, muitas vezes
descritos em imagens de abundância, fraternidade e presença divina. Assim, a
esperança profética não se limitava ao futuro distante, mas convidava à
transformação já no presente: uma vida em aliança com Deus e em solidariedade
com os mais vulneráveis.
No contexto deste Ano Jubilar, Pe. Gerson Schmidt* nos
propõe hoje "A esperança na boca dos Profetas":
"Os profetas na Sagrada Escritura sempre anunciam a
esperança para Israel, mas também apontam para àquilo que não está conforme à
aliança que Deus realizou com o seu povo, quando houve o selo e enlace do povo
ser o rebanho de Deus e Iahweh ser o Deus de seu povo. Quando o povo se desvia
da aliança, buscando a idolatria e cultuando outros deuses, os profetas
denunciam essa esperança ilusória, conforme vemos no profeta Jeremias (Jr 8,
15; 13,16), O versículo de Jeremias 8,15 diz: "Esperamos a paz, mas não
veio bem algum; esperávamos um tempo de cura, mas só houve terror". Este
versículo expressa a frustração do povo de Judá, que esperava tempos de paz e
cura, mas em vez disso, enfrentou apenas sofrimento e desgraça. O profeta
Jeremias descreve a situação do povo de Judá, que, apesar de ter conhecimento
da lei de Deus, não a pratica e se afasta Dele, resultando em julgamento e
sofrimento. Esse versículo 15 reflete essa realidade, mostrando que a esperança
do povo em tempos melhores é frustrada devido à sua infidelidade. Pois, sem
fidelidade, não há que esperar a “salvação”, profetiza Oséias: “Sim, o Senhor,
o Deus dos Exércitos; o Senhor é o seu memorial. Tu, pois, converte-te a teu
Deus; guarda a benevolência e o juízo, e em teu Deus espera sempre. É um mercador;
tem nas mãos uma balança enganosa; ama a opressão. E diz Efraim: Contudo me
tenho enriquecido, e tenho adquirido para mim grandes bens; em todo o meu
trabalho não acharão em mim iniquidade alguma que seja pecado. Mas eu sou o
Senhor teu Deus desde a terra do Egito; eu ainda te farei habitar em tendas,
como nos dias da festa solene” (Os 12, 5-9). O profeta Isaias diz: “Também no
caminho dos teus juízos, Senhor, te esperamos; no teu nome e na tua memória
está o desejo da nossa alma” (Is 26,8).
Às vezes a esperança parece estar fechada para Israel e para
nós e somos tentados a dizer como o profeta Ezequiel: “Nossa esperança está
destruída” (Ez 37,11). Ou ainda conforme o livro das Lamentações: “Então disse
eu: Já pereceu a minha força, como também a minha esperança no Senhor” (Lm
3,18). Quando, de fato, perdemos esperança, tudo morre, tudo
vai por água abaixo. Pois, a fé e a caridade, se move pela esperança, que é a
última que morre como diz o provérbio popular. Para os profetas, a esperança está
escondida, como vemos na passagem do profeta Isaías: “Liga o testemunho, sela a
lei entre os meus discípulos. E esperarei ao Senhor, que esconde o seu rosto da
casa de Jacó, e a ele aguardarei (Is 8,16-17). Mas a esperança não deverá
desaparecer. A realização da promessa de Deus se cumpre e se realiza. Quando
Deus promete, não trai jamais. A Palavra de Deus se cumpre em nossa vida e na
vida do Povo de Deus. Na hora do castigo, há um anúncio de um futuro cheio de
esperança.
Em Jeremias 31,17 diz: "E há esperança no teu futuro,
diz o Senhor, porque teus filhos voltarão para os seus termos". Este
versículo promete esperança e restauração para o povo de Israel, indicando que
seus filhos retornarão para sua terra natal após o exílio. Na verdade, exilado
na Babilônia, Jeremias se torna para o Povo de Israel o grande profeta da
esperança de dias melhores e da repatriação do povo à sua terra de Canaã. Nos
salgueiros dos rios da Babilônia, a pedido dos guardas, cantavam cânticos de Sião,
com imensa nostalgia do templo santo de Jerusalém.
A infidelidade de Israel não impede de que tenha Esperança.
Deus lhe perdoará (Os 11; Lm 3,22-33;Is 54,4-10). A salvação pode retardar, mas
Iahweh é a “esperança de Israel”. Em Jeremias 14,8 lemos assim: "Ó Esperança
de Israel, Redentor seu no tempo da angústia! Por que serias como um
estrangeiro na terra e como o viandante que se retira a passar a noite?".
Neste versículo, o profeta Jeremias clama a Deus, reconhecendo-o como a
esperança e redentor de Israel. Também em outro versículo do mesmo profeta,
lemos assim: "Ó Senhor, esperança de Israel, todos
aqueles que te abandonam serão envergonhados; aqueles que se desviarem de ti
terão seus nomes escritos no chão, pois abandonaram o Senhor, a fonte de água
viva"(Jr 17,13).
O dicionário de Teologia Bíblica, de Xavier Leon-Dufour,
aponta a nova esperança anunciada pela boca dos profetas que “anunciam a paz, a
salvação, a luz a cura, a redenção. Os profetas ‘entreveem a renovação
maravilhosa e definitiva do paraíso, do êxodo, da Aliança ou do Reino de Davi.
Israel será saciado com bênçãos de Javé (Jr 31,14) e verá afluir a si a riqueza
das nações (Is 61). Próximos que ainda estão do antigo Israel, os profetas
põem, no posto central do futuro, Israel e sua felicidade (bem-aventurança)
temporal”[1].
Deus terá renovado os corações(Ez 36,25), tirando o coração de pedra e dando um
coração de carne, e as nações se converterão (Is 2,3;Jr 3,17;Is 45,14s). Para
os profetas a Esperança vem a ser o próprio Deus e seu Reino (Is 51,5;60,19s,
63,19)".
*Padre Gerson Schmidt foi ordenado em 2 de janeiro
de 1993, em Estrela (RS). Além da Filosofia e Teologia, também é graduado em
Jornalismo e é Mestre em Comunicação pela FAMECOS/PUCRS.
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[1] VOCABULÁRIO
DE TEOLOGIA BÍBLICA, Xavier Leon Dufourd, 5ª Edição, Vozes, Petrópolis, 1992,
p.290.
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