EVANGELIZAR: MISSÃO DE TODOS, COMPROMISSO DE AMOR
15/12/2025
Cardeal Orani João Tempesta
Arcebispo do Rio de Janeiro (RJ)
Caminhamos a passos largos neste tempo litúrgico do Advento,
um período de vigilância e de alegre expectativa. A liturgia nos conduz,
progressivamente, ao encontro do Menino Deus que se faz carne e habita entre
nós. É um tempo de preparação interior, de aplainar os caminhos e endireitar as
veredas, como nos exorta a voz profética de João Batista. Contudo, a preparação
para o Natal não é apenas um movimento introspectivo; ela exige de nós uma
resposta concreta de “saída” ao encontro do outro.
É neste contexto de esperança que a Igreja no Brasil nos
convida a participar, de forma generosa e consciente, da Campanha para a
Evangelização. Realizada anualmente, culminando na coleta do 3º Domingo do
Advento – o Domingo Gaudete, ou da Alegria –, esta iniciativa da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) é um chamado à
corresponsabilidade. Se a alegria do Evangelho enche o coração e a vida inteira
daqueles que se encontram com Jesus, como nos ensina o Papa Francisco, essa
alegria não pode ficar retida; ela precisa transbordar. E para que ela chegue
aos confins do nosso imenso país, a evangelização necessita de recursos,
estruturas e, acima de tudo, da solidariedade de cada batizado.
A Solidariedade que Sustenta a Missão
É verdade que o Espírito Santo é o protagonista da missão,
mas Deus, em sua infinita sabedoria, quis precisar das mãos humanas e da
generosidade dos fiéis para realizar a sua obra. A Coleta da Evangelização
nasceu em 1998 com um objetivo muito claro: despertar nos fiéis a consciência
de que todos somos responsáveis pela sustentação das atividades pastorais da
Igreja Católica no Brasil.
O Brasil é um país de dimensões continentais e de profundas
desigualdades. Da mesma forma, a realidade de nossas dioceses e prelazias varia
imensamente. Enquanto algumas Igrejas particulares, em grandes centros urbanos,
possuem estruturas mais consolidadas, existem comunidades na Amazônia, no
sertão nordestino e nas periferias das grandes metrópoles que carecem do básico
para anunciar a Palavra de Deus. Há locais onde o missionário precisa de barco
e combustível para visitar uma comunidade uma vez ao mês; há locais onde
não existe sequer um espaço digno para a celebração da Eucaristia ou para a
catequese das crianças.
É aqui que entra o sentido profundo desta coleta: a comunhão
de bens. O que arrecadamos neste domingo não é apenas uma doação financeira; é
um gesto de amor fraterno que diz: “Eu me importo com a evangelização do
meu país”. É a atualização daquele gesto das primeiras comunidades cristãs,
onde os que tinham mais auxiliavam os que passavam necessidade, para que não
houvesse indigentes entre eles e para que a Palavra corresse veloz.
Para Onde Vão os Recursos?
A transparência é fundamental para a credibilidade de nossa
missão. Por isso, é importante que todo católico saiba como são distribuídos os
recursos oriundos da Coleta da Evangelização. O montante arrecadado é
partilhado de forma solidária em três níveis eclesiais, garantindo que a ajuda
chegue a quem mais precisa e sustente as estruturas de comunhão.
Do total arrecadado, 45% permanece na própria
Diocese. Isso é vital para apoiar as ações pastorais locais, a formação de
nossos leigos, a manutenção de seminários e o auxílio às paróquias mais
necessitadas dentro de nosso próprio território arquidiocesano. Outros 20% são
destinados ao Regional da CNBB (no nosso caso, o Regional Leste 1, que
compreende as duas arquidioceses e as dioceses do Estado do Rio de
Janeiro e a Administração Pessoal São João Maria Vianney). Esses recursos
financiam a articulação pastoral em nível estadual, permitindo encontros,
formações e a unidade entre as dioceses vizinhas. Por fim, 35% são enviados à
CNBB Nacional. É com essa parcela que a Igreja no Brasil consegue manter
projetos missionários em áreas carentes, apoiar a Igreja na Amazônia, sustentar
as Comissões Episcopais que cuidam desde a liturgia até a ação social
transformadora, e garantir o funcionamento da estrutura que une os bispos de
todo o país.
Ao colocar sua oferta no envelope ou no cestinho da coleta,
o fiel está, simultaneamente, ajudando sua paróquia vizinha, fortalecendo a
Igreja em seu estado e enviando missionários para os rincões mais distantes do
Brasil. É a catolicidade – a universalidade – da Igreja acontecendo na
prática.
Evangelizar: Um Dever de Amor
O tema da campanha deste ano nos recorda que
Cristo bate à nossa porta: “Hoje é preciso que eu fique em tua casa”
(Lc 19,1). Em um mundo marcado por guerras, polarizações e desesperança, a
Igreja tem a missão urgente de anunciar o Príncipe da Paz. Mas como anunciarão,
se não houver quem pregue? E como pregarão, se não forem enviados? (Rm 10,
15). O envio dos missionários, a impressão de materiais catequéticos, o uso dos
meios de comunicação social, a formação de novos padres e religiosos, tudo isso
exige recursos materiais.
Não podemos ter uma visão angelical que ignora a
materialidade da missão. O próprio Jesus e os apóstolos tinham uma bolsa comum
para suas necessidades e para os pobres. A Coleta da Evangelização é a
nossa “bolsa comum”. Ela garante que a voz da Igreja continue a defender a
vida desde a concepção até o fim natural; garante que a Doutrina Social da
Igreja chegue aos legisladores e à sociedade civil; garante que os sacramentos
continuem a ser ministrados.
Além disso, esta coleta é um exercício espiritual
de desapego. No Advento, meditamos sobre o mistério da Encarnação: Deus, sendo
rico, fez-se pobre por nós (2Cor 8, 9). Ele se despojou de sua glória para nos
enriquecer com sua divindade. Quando partilhamos nossos bens, imitamos a
generosidade de Deus. Combatemos o egoísmo e o consumismo desenfreado que
muitas vezes ofuscam o verdadeiro sentido do Natal. O presente que oferecemos à
Igreja reverte-se em dons espirituais para todo o povo brasileiro.
Um Convite à Generosidade
Sei que os tempos são difíceis e que muitas famílias
enfrentam desafios econômicos. No entanto, a experiência pastoral nos ensina
que a generosidade não depende do tamanho da conta bancária, mas da grandeza do
coração. Muitas vezes, é o óbolo da viúva – aquela pequena oferta dada com
sacrifício e amor – que sustenta as grandes obras de Deus.
Convido cada um de vocês a se preparar para este gesto
concreto no próximo domingo. Que a Coleta da Evangelização seja assumida com
alegria. Que possamos dizer, através de nossa oferta: “Senhor, eu quero
que o Teu Evangelho chegue a todos. Eu quero ser parte ativa desta
missão”.
Que Maria Santíssima, a Estrela da Evangelização, aquela que
nos trouxe o maior de todos os dons, Jesus Cristo, interceda por nossa
Arquidiocese e por toda a Igreja no Brasil. Que o nosso gesto de partilha
prepare nossos corações para acolher o Salvador que vem. Um santo e abençoado
Advento a todos.

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