O MUNDO À BEIRA DO MILAGRE
12/12/2025
Dom Lindomar Rocha Mota
Bispo de São Luís de Montes Belos (GO)
Foi como se o mundo estivesse à beira do impossível.
Nada ainda tinha nome e o deserto não era chamado de deserto,
nem a esperança de esperança. A terra vivia sem
chuva, o coração, sem resposta e o tempo sem promessa. Tudo
isso foi antes do Advento.
O primeiro
advento não foi como celebramos hoje, foi uma
espécie de estremecimento primordial, um céu silencioso que começou a se
movimentar e surpreendeu a humanidade inteira.
Aconteceu que, pela primeira vez,
alguém encontrou os escritos sagrados de Isaías e não
os leu como um texto antigo, pois havia chegado o tempo predito por
Deus para que tais coisas fossem compreendidas, e o deserto
e a terra árida exultaram… as mãos fracas se fortaleceram,… os olhos
dos cegos se abriram.
Ninguém sabia explicar como palavras assim podiam existir
num mundo tão abatido e cansado. Mas havia nelas um tipo
de sabedoria que não era humana. Pois
essa profecia assumia a criação que era sua, e gritava: levanta-te, porque
Alguém está vindo, e o tempo não poderá detê-Lo.
Então, a história inteira se inclinou para a
vinda do Salvador, e o tempo, exausto de esperar, finalmente cedeu, abrindo
passagem para Ele.
Foi neste tempo que João surgiu no ermo. Não
no esplendor dos templos, mas na borda do mundo, como um grito que
amadureceu no silêncio. Ele era a urgência feita
carne e a pressa de Deus na cadência do coração
humano. E, quando o prenderam, a urgência não diminuiu, porque não era deste
mundo, tornou-se mais robusta, quase palpável, quase
insuportável no raiar do dia.
Da prisão, João perguntou aquilo que toda a
humanidade sempre temeu em perguntar: és Tu aquele que há de
vir, ou devemos esperar outro?
Era o desespero fecundo de quem sabe que,
se não fosse Ele nada mais faria sentido; se Ele não
fosse o esperado, não haveria outro. Não era
dúvida, era fé.
A essa seríssima questão da
humanidade, Jesus respondeu com acontecimentos, do jeito
que só Deus faz. Porque, no primeiro Advento, a verdade não era
dita com palavras.
Então, os cegos principiaram a ver, os
coxos a andar, os leprosos são purificados, os mortos ressuscitam, e
os pobres começam ouvir a Boa-Nova.
João pediu um sinal e Jesus
lhe mostrou o mundo recomeçando. O coração
humano buscava uma
prova, e Deus lhe proporcionou uma
transformação.
É assim no terceiro Domingo do Advento. Uma alegria que
cresce como a água secreta no cerrado, prestes a
florescer. Nele, a alegria inesperada é um aviso de que
a luz já começou a infiltrar-se nas frestas das encostas do
mundo e a criação, cansada de esperar, pressente os passos daquele
que vem.
A alma humana, em sua urgência mais
profunda percebe essa chegada. Sente que o Senhor se aproxima e
o deserto floresce, os fracos se erguem e o mundo respira
diferente, porque a aurora já começou. A alma percebe, finalmente,
que todas as circunstâncias mudaram.

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