“Um samaritano, porém, que estava viajando, chegou perto
dele e, ao vê-lo, moveu-se de compaixão.” (Lc 10,33) | Palavra de Vida Julho
2025
por Organizado Letizia Magri com a comissão da
Palavra de Vida publicado às 00:00 de 23/06/2025, modificado às
11:02 de 01/07/2025
Marinho está no metrô de uma grande cidade. Todos os
passageiros estão concentrados em seus celulares: virtualmente conectados mas,
na realidade, presos na armadilha do isolamento. Ele pergunta a si mesmo: “Será
que não somos mais capazes de olhar nos olhos uns dos outros?”
Essa é a experiência habitual, especialmente nas sociedades
que são ricas de bens materiais, mas cada vez mais pobres de relacionamentos
humanos. Enquanto o Evangelho volta sempre com sua proposta original, criativa,
capaz de “fazer novas todas as coisas1”.
No longo diálogo de Jesus com um doutor da Lei, este lhe
pergunta o que deve fazer para herdar a vida eterna2. Jesus responde com a
conhecida parábola do Bom Samaritano: um sacerdote e um levita, figuras
importantes para a sociedade da época, veem na beira da estrada um homem que
tinha sido atacado por assaltantes, mas passam direto.
“Um samaritano, porém, que
estava viajando, chegou perto dele e, ao vê-lo, moveu-se de
compaixão.”
Ao doutor da Lei, que conhece bem o mandamento divino do
amor ao próximo3, Jesus propõe como modelo um estrangeiro, considerado
cismático e inimigo: também esse vê o homem ferido, mas é movido pela compaixão
– um sentimento que vem de dentro, do mais profundo do coração humano –; por
isso, interrompe sua viagem, se aproxima do ferido e cuida dele.
Jesus sabe que todos os seres humanos são feridos pelo
pecado, e que a sua missão é precisamente esta: curar os corações com a
misericórdia e o perdão gratuitos de Deus, para que eles, por sua vez, sejam
capazes de mostrar proximidade e partilha.
“[…] Para aprendermos a ser misericordiosos como o Pai,
perfeitos como Ele, devemos olhar para Jesus, que é a plena revelação do amor
do Pai. […] O amor é o valor absoluto que dá sentido a todo o resto, […] que
encontra sua expressão mais alta na misericórdia. Misericórdia que ajuda a ver
sempre novas as pessoas com as quais vivemos a cada dia, na família, na escola,
no trabalho, sem nos lembrarmos mais dos seus defeitos, dos seus erros; que nos
leva a não julgar, mas a perdoar as injustiças sofridas. Mais ainda: a
esquecê-las4”.
“Um samaritano, porém, que
estava viajando, chegou perto dele e, ao vê-lo, moveu-se de
compaixão.”
A resposta final e decisiva de Jesus é expressa com um
convite claro: “Vai e faze o mesmo5”. É isto que Ele repete a todo aquele que
acolhe a sua Palavra: fazer-se próximo, tomando a iniciativa de “tocar” as
feridas das pessoas que encontra todos os dias nos caminhos da vida.
Para viver a proximidade mostrada pelo Evangelho, peçamos a
Jesus, inicialmente, que nos cure da cegueira dos preconceitos e da indiferença
que nos impede de vermos para lá de nós mesmos.
Além disso, aprendamos com o samaritano a abertura à
compaixão, que o leva a arriscar a própria vida. Imitemos a sua prontidão de
dar o primeiro passo em direção ao outro e a disponibilidade para escutá-lo,
para assumir como nossa a sua dor, livres de julgamentos e da ansiedade de
estar “perdendo tempo”.
Foi esse o testemunho de uma jovem coreana: “Procurei ajudar
uma adolescente que não era da minha cultura e que eu não conhecia bem. Mesmo
sem saber direito o que ou como deveria fazer, criei coragem e tentei. E fiquei
surpresa ao perceber que, ao oferecer essa ajuda, eu mesma me vi ‘curada’ das
minhas feridas interiores.”
Esta Palavra de Vida nos oferece a chave de ouro para
realizar o humanismo cristão: ela nos torna conscientes da humanidade que temos
em comum, na qual se reflete a imagem de Deus; ela nos ensina a superar com
coragem os esquemas da “proximidade” física e cultural. De acordo com essa
perspectiva, é possível expandir os limites do “nós” até o horizonte do “todos”
e descobrir os próprios fundamentos da vida em sociedade.
Organizado por Letizia Magri com a comissão da
Palavra de Vida
1) Cf. Ap 21,5.
2) Cf. Lc 10,25-37.
3) Dt 6,5; Lv 19,18.
4) LUBICH, Chiara, Amor que é misericórdia,
Palavra de Vida, junho de 2002.
5) Lc 10,37.
Nenhum comentário:
Postar um comentário