Paulo
Teixeira - publicado em 03/10/25
A liturgia católica é rica em simbolismo, e um dos seus
elementos mais visíveis e expressivos é a cor das vestes sacerdotais. Longe de
ser uma mera questão de estética, a cor dos paramentos litúrgicos funciona como
uma ferramenta pedagógica que, ao longo do ano, conduz os fiéis através dos
mistérios da fé e do ritmo da vida cristã.
A Instrução Geral do Missal Romano (IGMR), o documento
oficial que guia as celebrações da missa, dedica um trecho específico para
explicar o significado de cada cor das vestes litúrgicas.
O objetivo é que as cores “exprimam externamente de modo mais eficaz, por um
lado, o carácter peculiar dos mistérios da fé que se celebram e, por outro, o
sentido progressivo da vida cristã ao longo do ano litúrgico”.
As cores das vestes litúrgicas
Branco: A cor da alegria, pureza e luz. É usada nos tempos
litúrgicos do Natal e da Páscoa. Também veste as celebrações de Nossa Senhora,
dos anjos, dos santos (que não são mártires, porque para eles se usa vermelho)
e em festas do Senhor, como Corpus Christi.
Vermelho: Representa o fogo do Espírito Santo e o sangue do
martírio. É a cor do Domingo de Ramos, Sexta-Feira Santa, Pentecostes, e das
festas dos apóstolos e mártires, que derramaram seu sangue em testemunho de
Cristo.
Verde: O símbolo da esperança e da vida. É a cor mais
utilizada, marcando o chamado Tempo Comum, a maior parte do ano litúrgico,
quando os fiéis aprofundam a vida e os ensinamentos de Jesus.
Roxo: Simboliza a penitência e a dor. Veste os tempos do
Advento (preparação para o Natal) e da Quaresma (preparação para a Páscoa).
Também pode ser usado em missas de defuntos.
Rosa: Um "alívio" do roxo, usado em dois momentos
específicos: no III Domingo do Advento e no IV Domingo da Quaresma. Simboliza
uma quebra na penitência, anunciando a alegria que se aproxima.
Preto: Representa o luto e pode ser usado em missas de
defuntos, onde a tradição assim o permitir.
A particularidade do azul: uma tradição regional
Enquanto a regra geral é clara, algumas exceções culturais
se manifestam. É o caso do uso da cor azul, que não é mencionada na instrução
geral, mas é utilizada em celebrações de Nossa Senhora em alguns países. Em via
de regra, são utilizados paramentos brancos com detalhes azuis para recordar a
Virgem Maria. Mas, em 1854, quando foi proclamado o Dogma da Imaculada
Conceição, o Papa concedeu que na Espanha fossem utilizados paramentos azuis.
Logo, os territórios espanhóis na américa Latina também aderiram e até hoje
costumam celebrar a Imaculada Conceição, em 8 de dezembro, com paramentos
azuis.
O essencial além da cor
Apesar da importância do simbolismo das cores, o
bispo Santo Agostinho já ensinava que a cor é um detalhe, um “acidental” que
nos ajuda a entrar no mistério, mas não é o cerne da fé.
A verdadeira essência está na santidade, uma jornada que não
tem cor, mas que "fica bem com todas as cores", como dizia o santo. A
santidade é a busca por uma vida íntegra e justa, um caminho que os cristãos
são chamados a seguir. As cores litúrgicas são, em última análise, um auxílio
para que os fiéis se aprofundem nesse chamado.
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