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sábado, 4 de outubro de 2025

EDITORIAL: “Nunca mais a guerra!” O grito inatendido e atualíssimo de Paulo VI

O discurso de Papa Paulo VI na ONU, em 4 de outubro de 1965 (Vatican News)

Sessenta anos atrás, a intervenção de Papa Montini nas Nações Unidas, vinte anos após o fim da imensa tragédia da Segunda Guerra Mundial. O mundo estava dividido em dois blocos e tinha apenas recentemente iniciado um tempo de diálogo e de distensão.

Andrea Tornielli

“Nunca mais a guerra, nunca mais a guerra!”. Passaram-se sessenta anos desde que Paulo VI, Bispo de Roma, elevou seu grito de paz no Palácio de Vidro das Nações Unidas. Era segunda-feira, 4 de outubro de 1965, o mundo, saído vinte anos antes da imensa tragédia da Segunda Guerra Mundial, estava dividido em dois blocos e havia apenas iniciado um tempo de diálogo e distensão, com as primeiras tentativas de acordo sobre o controle das armas nucleares.

LEIA AQUI O TEXTO COMPLETO DO DISCURSO DE SÃO PAULO VI

“A palavra que vós esperais de Nós – disse Papa Montini – e que Nós não podemos pronunciar sem estar conscientes da sua gravidade e da sua solenidade: jamais uns contra os outros, nunca mais. Não foi sobretudo com esta finalidade que nasceu a Organização das Nações Unidas: contra a guerra e para a paz?”. E acrescentava: “Escutai as palavras lúcidas de um grande desaparecido, John Kennedy”, que proclamava: “A humanidade deverá pôr fim à guerra, ou é a guerra que porá fim à humanidade”. O juízo de Kennedy revela todo o seu trágico realismo justamente na hora sombria que o mundo vive neste momento. A crise do multilateralismo e das instituições como a ONU está diante dos olhos de todos. Aquela Terceira Guerra Mundial iniciada em pedaços, que há mais de dez anos o Papa Francisco começou a denunciar, parece aproximar-se de maneira sinistra. A humanidade parece ter perdido a memória do passado recente: estamos cobertos por milhões de supostas informações da era digital que nos fazem sentir a geração mais consciente, mas estamos cercados por fake news, por propaganda de guerra, pelos interesses inconfessáveis dos fabricantes de armas e dos mercadores da morte.

A guerra fratricida no coração da Europa cristã, desencadeada pela agressão russa à Ucrânia, a guerra fratricida no coração da Terra Santa, provocada pelo ato terrorista desumano do Hamas e hoje perpetrada com violência injustificável pelo exército israelense, são apenas dois dos muitos conflitos que se combatem no mundo e permanecem esquecidos, fora dos radares. A tragédia de Gaza, a detenção e o assassinato de reféns, o massacre da população civil – de dezenas de milhares de crianças, mulheres, idosos – assim como as tantas vítimas civis da guerra na Ucrânia, representam uma afronta, um buraco negro para a consciência moral do mundo. O direito internacional e o direito humanitário são invocados e distorcidos de acordo com as conveniências do mais forte. Diante de governantes que falam de guerra, preparam a guerra, investem somas enormes em armamentos, o grito do inofensivo Pontífice de Brescia ressoa ainda hoje, mais dramaticamente atual do que sessenta anos atrás. São palavras em profunda sintonia com o sentimento dos povos, que ainda se indignam com os massacres diários aos quais assistimos e esperam que a diplomacia, a negociação, a criatividade na mediação, a capacidade de diálogo e de percorrer novos caminhos de paz, encontrem finalmente quem os trilhe em vez de se render à mais vulgar propaganda de guerra.

Para proclamar o fim das Nações Unidas, Paulo VI quis “recordar que o sangue de milhões de homens, os sofrimentos espantosos e inumeráveis, os inúteis massacres e as aterradoras ruínas sancionam o pacto que vos une, num juramento que deve mudar a história futura do mundo: nunca mais a guerra, nunca mais a guerra. É a paz, a paz que deve guiar o destino dos povos e de toda a humanidade!”. Não o esqueçamos, sobretudo hoje.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF