Paulo
Teixeira - publicado em 03/10/25 - atualizado em
03/10/25
Qual a mensagem de São Francisco para os fiéis de hoje?
Corria o ano de 1225 e São Francisco de Assis via o fim de
sua vida. Quase cego e enfraquecido começou a compor um hino de louvor a Deus.
Esses versos ficaram no coração de Francisco de maneira muito forte, não foi
uma composição artística para “os outros ouvirem”, mas foi escrita dentro de si
e alimentava seus sentimentos. A primeira parte fala sobre as criaturas e
reconhece o sol e as estrelas como irmão e irmã, a água, a terra, enfim,
reconhece a presença criadora de Deus nos elementos da natureza aos quais chama
de irmão e irmã; no ano seguinte compôs mais um verso dedicado ao perdão e a
paz devido uma disputa entre o bispo e o prefeito de Assis. Os versos trouxeram
a paz; por último São Francisco incluiu o verso que tratava da nova irmã que
ele via se aproximar, a irmã morte.
Neste ano em que se celebra 800 anos da composição do
Cântico os ministros gerais dos franciscanos menores, conventuais, capuchinhos
e da terceira ordem regular, publicaram uma densa e profunda mensagem
intitulada Canto da reconciliação. Nela
os ministros afirmam que “composto gradualmente por Francisco entre 1225 e
1226, o Cântico não é apenas um texto poético, mas o testemunho de uma visão
completa de Deus Criador, da criação, da fraternidade universal e da ecologia
integral, temas que o Papa Francisco retomou com força em sua encíclica Laudato
Si”’.
Os ministros convidam revisitar o cântico com os olhos de
hoje e com o olhar de São Francisco: “Este hino, percebido com o olhar puro de
quem aprendeu a ver o mundo com os olhos da fé, não apenas recorda a harmonia
primordial- na qual tudo o que foi criado era bom- mas proclama também o
cumprimento definitivo do desígnio divino, quando cada realidade, transfigurada
pela graça, retomará a sua unidade em Deus”.
A mensagem de São Francisco corre o mundo em verso e canção,
é repetida em assembleias e celebrações, e uma atualização importante foi
realizada pelo Papa Francisco que se inspirou no santo de mesmo nome para
debater o tema da ecologia integral. No Cântico, são as criaturas que emprestam
suas vozes ao gênero humano. Essa é uma das grandes intuições de Francisco,
retomada pelo Papa Francisco na Laudato Si’, quando aponta o Santo do Cântico
como modelo de ecologia integral: “Acho que Francisco é o exemplo por
excelência do cuidado pelo que é frágil e por uma ecologia integral, vivida com
alegria e autenticidade [...]. Era um místico e um peregrino que vivia com
simplicidade e numa maravilhosa harmonia com Deus, com os outros, com a
natureza e consigo mesmo”(Laudato Si’, 10).
Recitar o Cântico de São Francisco hoje é ter em conta os
desafios do tempo presente. “Tempo em que as feridas da terra e o grito dos
pobres se fazem ouvir com força, a voz de Francisco nos convida a redescobrir a
beleza de sermos peregrinos e forasteiros neste mundo: custódios e não donos da
criação, irmãos e irmãs de cada ser vivente. O seu canto nos impulsiona a
tornar-nos artesãos da paz e do perdão, a viver a vulnerabilidade não como
limite, mas como abertura ao outro, a integrar a morte no grande mistério da
vida”.
Este ano o centenário do
Cântico das Criaturas é um convite para compreender melhor a
espiritualidade franciscana e também o ensejo para uma preparação para os oito
séculos da morte de São Francisco a ser celebrada no próximo ano.
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