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quinta-feira, 25 de setembro de 2025

O Reino de Deus como o grão de mostarda em Santo Ambrósio de Milão

Santo Ambrósio de Milão (Vatican News)

"O Bispo de Milão convidou os seus fiéis para que semeassem Jesus em seu próprio jardim, como o grão de mostarda, a fim de que a graça da sua obra floresça e o múltiplo odor de virtudes se faça sentir entre as pessoas. A presença de Cristo está lá, quando a pessoa semeia e aparece o fruto. O Senhor semeia, sendo um grão quando é preso, mas Ele torna-se uma arvore quando ressuscita; cobrindo o mundo com a sua sombra."

Por Dom Vital Corbellini, Bispo de Marabá (PA)

Jesus ensinava com muita frequência aos seus discípulos e ao povo por meio de parábolas, comparações a respeito do Reino de Deus, que se faz presente aqui e agora e um dia na eternidade. Era a forma para as pessoas simples, entenderem a missão da evangelização que Jesus como servo sofredor, o Enviado do Pai assumiu a realidade humana, ao vir neste mundo, não para condenar o mundo mas para salvá-lo (cfr. Jo 3,17). Uma das parábolas proclamadas pelo Salvador foi o grão de mostarda, a menor de todas as sementes, mas quando semeada torna-se uma grande árvore e as aves do céu fazem os seus ninhos nos seus ramos (cfr. Lc13,18-19). Nós veremos a seguir a visão de Santo Ambrósio ao comentar esta passagem importante no evangelista São Lucas.

O ensinamento da parábola

O Bispo de Milão teve presente um importante ensinamento de Jesus levando em consideração a natureza das comparações, não sua aparência. O importante é ver a causa, o por que o sublime Reino dos céus se compara ao grão de mostarda, ligado no entanto, à caridade. Em outra passagem do evangelho o Senhor exortava aos seus discípulos que se eles tivessem fé como um grão de mostarda poderiam fazer grandes coisas, remover montanhas (cfr. Mt 17,19; 21,21). O fato é que o Senhor pede aos apóstolos de que a sua fé aumente diante das dificuldades da vida, de serem pessoas de bem, caritativas. Por isso a fé como um grão de mostarda relaciona-se como São Paulo disse: “Mesmo que eu tivesse toda a fé, a ponto de transportar montanhas, mas não tivesse caridade nada seria” (1 Cor 13,2)[1].

O Reino dos céus relacionado à fé em Jesus

O Reino dos céus, comparado como um grão de mostarda, relaciona-se com a fé em Jesus Cristo, porque o Senhor é o Reino dos céus. Quem tem fé tem o Reino dos céus. Desta forma para o Bispo de Milão tanto o Reino está dentro de nós, como o dom da fé, ligado à caridade, está dentro de nós. Assim como Pedro recebeu a graça da fé pela entrega do Senhor das chaves do Reino dos céus(cfr. Mt 16,19), o apóstolo é convidado a abri-lo também para os outros e para todos[2].  O Reino dos céus alarga-se com a participação humana.

 A força da comparação

 Santo Ambrósio disse que é importante considerar a partir da natureza da mostarda, a força da sua comparação quando o Senhor afirmou que o Reino dos céus seria percebido como um grão de mostarda (cfr. Lc 13,18-19). O grão dessa planta é vil, simples, a menor das sementes, mas quando é batido, reflorescente, expanda a sua força[3]. Da mesma forma a fé, manifesta a graça da sua força, de modo a impregnar com o seu odor também a outros que ouvem a importância da graça e da vida com o Senhor quando tudo é realizado pela caridade[4].

Os mártires

O Bispo de Milão relacionou o grão de mostarda, os mártires, Félix, Nabor e Vitor, pessoas ligadas ao exército romano, mas convertidas ao cristianismo, que no final dos séculos III e início do IV foram martirizados sob o comando do Imperador Diocleciano, em Milão. Para o Bispo de Milão, tinham eles o odor da fé ainda que estavam escondidos[5], por manterem silêncio na sua profissão da fé cristã, na sua vida profissional. Eles acreditaram em Jesus, o seu Evangelho e a comunidade cristã.

A perseguição ocorrida

A grande perseguição ocorreu nesse período em todo o Império contra os cristãos, fazendo com que esses soldados depusessem as armas, dobrassem o pescoço e, abatidos pela espada, expandiram pelo mundo, a graça do seu martírio, de modo que a palavra de Deus se realizasse neles: “Por toda a terra, o seu som se espalhou” (Sl 18,5)[6].

O Senhor é o grão de mostarda

Santo Ambrósio tendo presente os mártires citados, os dons vividos por eles na sua fé, na sua caridade, disse que o Senhor é o grão de mostarda. Ele sofreu injúrias por parte das autoridades, e muitas pessoas do povo não o conheciam mas Ele foi o grão de mostarda que passou pela morte para chegar à ressurreição dando grandes frutos para a salvação da humanidade e para o Reino dos céus[7]. Foi num horto que Jesus foi capturado e sepultado; Ele cresceu num jardim onde também ressuscitou e tornou-se uma grande árvore[8], capaz de abrigar povos e nações através de seus discípulos e discípulas espalhando a fé, a esperança e a caridade.

A necessidade semear

O Bispo de Milão convidou os seus fiéis para que semeassem Jesus em seu próprio jardim, como o grão de mostarda, a fim de que a graça da sua obra floresça e o múltiplo odor de virtudes se faça sentir entre as pessoas. A presença de Cristo está lá, quando a pessoa semeia e aparece o fruto. O Senhor semeia, sendo um grão quando é preso, mas Ele torna-se uma arvore quando ressuscita; cobrindo o mundo com a sua sombra. É apenas um grão quando é sepultado na terra, mas ele tornar-se-á uma árvore quando se eleva ao céu[9]. É o Senhor Jesus, o grão de mostarda no qual é preciso semear com fé, esperança e com caridade para que a arvore se torne grande, de modo que é assim o Reino de Deus, ponto fundamental na vida de Jesus e Ele sendo o Reino de Deus, cresça com a nossa participação e um dia Ele seja glorificado junto do Pai pelo Espírito Santo, pelas obras caritativas realizadas neste mundo em favor de todas as pessoas, mas, sobretudo das mais necessitadas, os pobres

[1] Cfr. Comentário ao Evangelho de São Lucas, Livro 07, ( Lc 9, 27-16,13), 176. In: Santo Ambrósio. São Paulo: Paulus, 2022, pgs. 468-469.
[2] Idem, 177, pg. 469.
[3] Cfr. Ibidem, 178, pg. 469.
[4] Cfr. Ibidem.
[5] Cfr. Ibidem.
[6] Cfr. Ibidem, pgs 469-470.
[7] Cfr. Ibidem, 179, pg. 470.
[8] Cfr. Ibidem.
[9] Cfr. Ibidem, 180, pgs. 470-471.

Fonte: https://www.vaticannews.va/pt

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF