SE DEUS É POR NÓS, QUEM SERÁ CONTRA NÓS?
18/09/2025
Dom Leomar Brustolin
Arcebispo Santa Maria (RS)
A frase de Paulo, na Carta aos Romanos, é um desafio e uma
declaração de confiança: “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” (Rm 8,31).
Ela ecoa as palavras antigas do profeta Isaías, que, falando de alguém
perseguido e injustiçado, dizia: “O Senhor Deus é quem me ajuda; quem me
condenará?” (Is 50,9). É a voz de quem confia que não está sozinho diante das
dificuldades.
Paulo não escreve a partir de uma vida tranquila. Ele
conheceu perseguições, ameaças, prisões e rejeição. Ainda assim, não perdeu a
convicção de que nenhuma força humana ou espiritual pode anular o amor de Deus.
Ele afirma que, em tudo, “somos mais que vencedores” graças àquele que nos
amou. A vitória de que fala não é sobre rivais ou inimigos, mas sobre o medo, a
injustiça e a desesperança.
O apóstolo lista tudo aquilo que, aparentemente, poderia
afastar alguém de Deus: a morte, a vida com seus altos e baixos, as forças
invisíveis, o presente, o futuro, o que está nas alturas ou nas profundezas —
enfim, “qualquer outra criatura”. Nenhuma dessas realidades, por maior ou mais
ameaçadora que pareça, é capaz de romper o laço de amor que Deus tem com cada
pessoa.
Uma fé que gera coragem e resistência
Essa é uma mensagem que fala de coragem e resistência.
Confiar em Deus não significa viver sem problemas, mas ter um fundamento sólido
para enfrentá-los. É o contrário do conformismo: quem confia assim não se
paralisa diante das dificuldades, mas se sente motivado a fazer o bem, a
defender a justiça e a cuidar dos mais frágeis.
Essa confiança se traduz no cotidiano em atitudes concretas:
perdoar em vez de guardar rancor, manter a honestidade mesmo quando seria mais
fácil ceder, ajudar quem precisa sem esperar retorno. É um estilo de vida que
não depende de vitórias externas, mas da certeza de que a vida tem sentido e
valor, mesmo nos momentos mais duros.
Uma união que sustenta a vida
Para Paulo, viver ou morrer é sempre estar unido a Cristo.
Essa união não é apenas religiosa; ela significa que a nossa existência inteira
— nas alegrias e nas dores — está envolvida por um amor que não se quebra. Essa
convicção permite encarar as crises sem desespero e seguir caminhando com
esperança.
No fundo, “Se Deus é por nós, quem será contra nós?” não é só uma frase bonita.
É uma maneira de olhar a vida. É acreditar que, apesar das forças contrárias,
existe uma presença que acompanha, fortalece e sustenta. E que, por causa
disso, vale a pena viver com coragem, esperança e generosidade.
Esperança ativa em tempos difíceis
Vivemos um tempo em que as notícias diárias parecem pesar
sobre o coração: guerras prolongadas, catástrofes ambientais, desigualdade
crescente, violência urbana e incertezas econômicas. Muitos se sentem
desamparados diante de problemas que parecem grandes demais para serem
resolvidos.
É justamente nesse contexto que a mensagem “Se Deus é por
nós, quem será contra nós?” se torna ainda mais urgente. Ela nos lembra que a
esperança não é ilusão, mas uma força real que nasce da confiança e se traduz
em ações concretas. Mais do que esperar passivamente por dias melhores,
trata-se de acreditar que, mesmo nas crises, é possível construir pontes,
proteger vidas e manter viva a chama do bem.
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