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sexta-feira, 17 de outubro de 2025

TEOLOGIA: Introdução à História da Teologia Ortodoxa (Parte 2/3)

Igreja Ortodoxa (FASBAM)

TEOLOGIA

Introdução à História da Teologia Ortodoxa

Capítulo 10 da Obra «Os Grandes Teólogos do Século Vinte» - Vol. 2 - Os Teólogos protestantes e ortodoxos.

Battista MONDIN

Teólogo católico

Os estudiosos não estão de acordo sobre a divisão da história da teologia ortodoxa. Segundo Jugie, não existem na teologia oriental escolas teológicas e sistemas que possam oferecer um “fundamentum divisionis”[1]. Segundo outros estudiosos, ao contrário, há razões de tempo, lugar e outros gêneros que justificam sua divisão em dois ou mais períodos. Também somos dessa opinião, parecendo-nos justo dividir toda a história bimilenar da teologia oriental em sete grandes períodos.

IV. O período de Gregório Palamas (séculos XIV-XV)

Por volta do fim da Idade Média, a teologia ortodoxa é dominada pela figura de Gregório Palamàs (+ 1359). Escritor muito fecundo e original, Palamàs efetuou uma síntese do pensamento patrístico na teologia da Glória de Deus. Suas teses mais características são três:

a) O homem não pode conhecer a essência de Deus transcendente;

b) Pode, porém, conhecer suas ações, suas operações, seus atributos;

c) Portanto, em Deus deve haver uma distinção real entre essência incognoscível e atributos cognoscíveis.

Em 1351, a doutrina palamita foi canonizada pelo Sínodo de Constantinopla como a expressão mais autêntica da fé ortodoxa.

Gregório Palamàs teve numerosos discípulos, entre os quais Nilo Cabasilas (+ 1363), sucessor de seu mestre na cadeira de Tessalônica e autor, entre outras coisas, de Regula Theologica, De Causis Dissentionum in Ecclesia e De Papae Imperio, e Filóteo Coccinus (+ 1376), primeiro abade do monte Athos e mais tarde patriarca de Constantinopla, autor de um Encomium sobre Gregório Palamàs.

Mas, Palamàs também teve muitos adversários. Os mais dignos de nota são: Nicéforo Gregoras (+ 1360), que escreveu Onze Orações contra Gregório Palamas, e Prócoro Cydones (+ 1368), cujo nome está ligado sobretudo às traduções em grego de santo Agostinho e são Tomás. Do Aquinense, ele traduziu parte da Summa Theologiae e toda a Summa Contra Gentes.

Durante esse período, nasceu a controvérsia em torno da Epíclese (a oração que se dirige ao Pai depois da consagração, para que ele mande o Espírito Santo para transformar os dons divinos do pão e do vinho no corpo e no sangue do Salvador). A historiografia recente pôde estabelecer que a fórmula “ea transmutans” foi introduzida na liturgia ortodoxa somente no século XV. De qualquer modo, a Epíclese torna-se um novo motivo de discórdia com os latinos. Com efeito, enquanto estes afirmavam que a consagração ocorre no momento em que se repete as palavras de Cristo “este é o meu corpo” e “este é o meu sangue”, os ortodoxos sustentavam que, além dessas palavras, é preciso também a Epíclese, ou então que a Epíclese basta por si só.

V. A Teologia da Diáspora (séculos XVI-XVII)

Em 1453, quando os turcos ocuparam Constantinopla, a teologia ortodoxa recebeu um golpe mortal: as escolas teológicas fechadas, muitas bibliotecas foram destruídas, muitos teólogos exilados.

Foi então que se constituiu a teologia ortodoxa da Diáspora. Essa teologia é marcada pelos sinais do ambiente em que se desenvolve: denota influência do catolicismo quando se desenvolve em países católicos e mostra influência do protestantismo quando se desenvolve em países protestantes.

No início, obviamente, é mais forte a influência católica (dado que os protestantes nasceriam somente no século XVI), mas depois a influência protestante também adquire um considerável peso.

Dentre os teólogos influenciados pelo catolicismo, podemos recordar Melésio Figas, um cretense que realizou seus estudos na Universidade de Pavia. Em 1590, foi nomeado patriarca de Alexandria. A formação católica não o impediu de protestar energicamente quando, em 1595, os ucranianos subscreveram a reunião com Roma. Então, escreveu um ensaio intitulado Sobre o Primado do Papa, em que conclamava os ucranianos a desfazerem o acordo com Roma. Em seu escrito, Figas repete sem grande originalidade os argumentos tradicionais dos ortodoxos contra o primado romano e contra os pretensos erros dos latinos.

Seguindo o exemplo de Figas, um outro teólogo, Máximo de Peloponeso, elaborou um Enchiridion Contra o Cisma dos Papistas.

Entre os teólogos mais sensíveis à influência protestante, podemos recordar Cirilo Lucaris (+ 1638), fervoroso promotor do calvinismo na Grécia. Em 1629, publicou em Genebra o seu Orientalis Ecclesiae Confessionem Christianae Fidei, uma obra profundamente impregnada de calvinismo. O Sínodo de Constantinopla de 1638 condenou as suas doutrinas.

Os desvios “catolicizantes” e “protestantizantes” não tardaram em provocar a reação de diversos teólogos, que, preocupados em salvaguardar a integridade da fé ortodoxa, marcaram seus escritos por uma forma fortemente polêmica.

Entre os polemistas ortodoxos, podemos ressaltar Melésio Syrigos (+ 1667), cuja maior obra é intitulada Confutação Ortodoxa dos Capítulos e das Questões da Confissão de Cirilo Lukaris, e Dositeu, patriarca de Jerusalém (+ 1707), autor do Enchiridion Contra os Erros de Calvino.

VI. A Escola de Kiev (séculos XVII-XVIII)

Enquanto a teologia da Diáspora se apagava lenta e fatalmente, o primeiro lugar no mundo da cultura ortodoxa passava para a Rússia, único país da Ortodoxia que conseguira furtar-se ao domínio turco. No século XVII, a Rússia torna-se o centro de gravidade da ortodoxia, sobretudo graças à escola de Kiev.

Esta fora fundada por Pedro Moghila (+ 1647), que a estruturara pelo modelo das universidades dos jesuítas: língua latina e método escolástico. O seu texto oficial, A Confissão Ortodoxa da Fé, era calcado no esquema do catecismo de Pedro Canísio. E mesmo na liturgia frequentemente eram imitadas as práticas católicas[7].

A obra-prima de Moghila, A Confissão Ortodoxa da Fé, muito embora refletisse uma clara romanização da ortodoxia, gozou de elevadíssimo prestígio durante uns dois séculos. Sobre ela o patriarca de Moscou, Adriano (+ 1700), escreveu:

“O reverendíssimo metropolita Pedro, dito Moghila, homem de grande inteligência e vasta erudição, elaborou esse livro inspirado por Deus… Tudo aquilo que corresponde ao juízo desse livro é indubitavelmente ortodoxo. Já aquilo que não concorda com ele, mas está em conflito, não faz parte da doutrina da nossa Igreja e, portanto, não merece ser escutado”[8].

Durante todo o século XVIII, A Confissão foi classificada entre os Livros Simbólicos da Igreja Ortodoxa, sendo-lhe atribuída a mesma autoridade dos decretos dos primeiros concílios.

A escola de Kiev produziu numerosos teólogos, entre os quais Lasar Baranovich (+ 1693) e Antônio Radivilovski (+ 1688).

Notas:

[1] M. JUGIE, Theologia Dogmatica Christianorum Orientalium ab Ecclesia Cathotica Dissidentium, Paris, 1926-1935, v. 11, p. 18, nota.

[7] G. Florovsky julgou muito severamente a orientação da escola de Kiev, acusando-a de “compromisso”, de “cripto-catolicismo romano”, de “barroquismo teológico”. Cf. FLOROVSKY, “Westliche Einflüsse in der Russischen Theologie” em Proces-Vetbaux du ler Congres de Théologie Orthodoxe à Athenes, 29 nov.-6 dez. 1936, Atenas, 1939, pp. 214-215; Puti Russkovo Bogoslovi; a (em russo), Paris, 1937, pp. 4ss.

[8] Citação de J. CHRYSOSTOMUS, “Die Tbeologie der Russisch-orthodoxen Kirche em Vorabend der Revolution von 1917” em Una Sanefa, 1968, p. 100.

Fonte: https://byblos.ecclesia.org.br/teologia/

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF