30 de out de 2025 às 09:31
Vinte anos depois de o então cardeal Joseph Ratzinger ter
falado sobre uma “ditadura do relativismo” na véspera de sua eleição como papa
Bento XVI, seu ex-secretário, o arcebispo Georg Gänswein, reafirmou esse alerta
nem uma conferência recente na Lituânia.
Gänswein, que foi prefeito da Casa Pontifícia e secretário
pessoal do papa Bento XVI por muitos anos, inspirou-se profundamente na
filosofia do papa alemão ao fazer o discurso de abertura da conferência deste
ano, que reuniu acadêmicos, líderes cívicos, intelectuais públicos e clérigos
para discutir os princípios da Declaração de Šiluva, de 2021.
A declaração defende a proteção dos direitos humanos
fundamentais, o fomento da virtude e a promoção do bem comum da sociedade. Ela
reconhece a importância de uma sociedade construída sobre os pilares da
verdade, dos valores familiares, da dignidade humana e da fé em Deus, e desde
então tornou-se uma referência moral para pensadores sociais católicos na
Lituânia.
A palestra de Gänswein ofereceu uma rica reflexão filosófica
e teológica sobre fé, razão e relativismo, aspectos que ele disse ser um “tema
constante na obra de Ratzinger”. O arcebispo, que agora é núncio nos Estados
bálticos, disse que quando a fé ou a razão são enfraquecidas, isso
inevitavelmente leva a “patologias e à desintegração da pessoa humana”.
Esta é a terceira conferência dedicada à reflexão sobre a
Declaração de Šiluva, publicada em 12 de setembro de 2021, no festival mariano
anual da cidade. Šiluva tem um santuário mariano dedicado a uma das primeiras
aparições de Nossa Senhora reconhecidas na Europa.
O arcebispo de Kaunas, Lituânia, Kęstutis Kėvalas, fez o
discurso de abertura da conferência, exortando à vigilância contra as tentações
de fazer experimentos com a natureza e a dignidade humanas. Ele disse também às
pessoas presentes que o santuário mariano em Šiluva simboliza a fidelidade à
ordem divina na criação.
“O lugar sagrado de Šiluva convida ao respeito pela ordem
que o Criador deu a este mundo”, disse ele.
Gänswein disse que, diante dos grandes desafios da
atualidade, como o pensamento tecnológico e a globalização, o primeiro passo
deve ser recuperar a plenitude da razão. Ele descreveu a verdadeira razão como
inerentemente verídica, contrastando-a com o relativismo, que chamou de “uma
expressão de pensamento fraco e limitado… baseado no falso orgulho de acreditar
que os humanos não podem reconhecer a verdade e na falsa humildade de se
recusar a aceitá-la”.
“A verdade nos liberta”, disse Gänswein, fazendo referência
ao Evangelho de são João 8:32 e dizendo que a verdade serve como padrão pelo
qual os seres humanos devem se medir e que abraçá-la requer humildade.
Gänswein concluiu dizendo que o relativismo — mentalidade
que define a modernidade, que ele descreveu como “um veneno rastejante” — acaba
minando a liberdade humana. Impulsionado pela autossuficiência e amplificado
pelas redes sociais, o relativismo cega as pessoas para a verdade e para o seu
propósito último.
O verdadeiro objetivo da humanidade, disse ele, é “chegar ao
conhecimento da verdade, que é Deus, e assim alcançar a vida eterna”. Seu
discurso foi recebido com aplausos prolongados.
A conferência também teve várias palestras instigantes sobre
a identidade moral e política da Lituânia, os desafios da democracia liberal,
as mudanças sociais pós-soviéticas e o papel da fé e da família na vida
pública. A conferência foi encerrada com um painel de discussão sobre a direção
moral da Europa, a liberdade de expressão e a renovação dos valores cristãos na
sociedade.
O arcebispo de Vilnius, Lituânia, Gintaras Gruša, falou
sobre as palavras do papa Leão XIV de que a Igreja “nunca pode ser eximida do
dever de dizer a verdade sobre o homem e o mundo, usando, quando necessário,
até mesmo uma linguagem dura que possa inicialmente causar mal-entendidos”. Ele
enfatizou que todos os cristãos, inclusive aqueles na vida pública, têm o dever
de defender a verdade, que ele descreveu como “não uma ideia abstrata, mas um
caminho ao longo do qual uma pessoa descobre a verdadeira liberdade”.
A conferência foi organizada em conjunto pelo grupo cívico
lituano Laisvos visuomenės institutas (Instituto de uma
Sociedade Livre), pelo Sindicato dos Trabalhadores Cristãos da Lituânia e pela
Faculdade de Teologia Católica da Universidade Vytautas Magnus.
*Bryan Lawrence Gonsalves é um apologista e ensaísta
nascido nos Emirados Árabes Unidos, que atualmente vive na Lituânia. Seu
trabalho se concentra na doutrina social católica, teologia, dignidade humana e
questões sociais contemporâneas.

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