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sexta-feira, 31 de outubro de 2025

Arcebispo Gänswein retoma alerta de Bento XVI sobre ditadura do relativismo

O arcebispo Georg Gänswein fala numa conferência sobre a Declaração de Šiluva em Šiluva, Lituânia, em 4 de setembro de 2024. | Juozas Kamenskas

Por Bryan Lawrence Gonsalves*

30 de out de 2025 às 09:31

Vinte anos depois de o então cardeal Joseph Ratzinger ter falado sobre uma “ditadura do relativismo” na véspera de sua eleição como papa Bento XVI, seu ex-secretário, o arcebispo Georg Gänswein, reafirmou esse alerta nem uma conferência recente na Lituânia.

Gänswein, que foi prefeito da Casa Pontifícia e secretário pessoal do papa Bento XVI por muitos anos, inspirou-se profundamente na filosofia do papa alemão ao fazer o discurso de abertura da conferência deste ano, que reuniu acadêmicos, líderes cívicos, intelectuais públicos e clérigos para discutir os princípios da Declaração de Šiluva, de 2021.

A declaração defende a proteção dos direitos humanos fundamentais, o fomento da virtude e a promoção do bem comum da sociedade. Ela reconhece a importância de uma sociedade construída sobre os pilares da verdade, dos valores familiares, da dignidade humana e da fé em Deus, e desde então tornou-se uma referência moral para pensadores sociais católicos na Lituânia.

A palestra de Gänswein ofereceu uma rica reflexão filosófica e teológica sobre fé, razão e relativismo, aspectos que ele disse ser um “tema constante na obra de Ratzinger”. O arcebispo, que agora é núncio nos Estados bálticos, disse que quando a fé ou a razão são enfraquecidas, isso inevitavelmente leva a “patologias e à desintegração da pessoa humana”.

Esta é a terceira conferência dedicada à reflexão sobre a Declaração de Šiluva, publicada em 12 de setembro de 2021, no festival mariano anual da cidade. Šiluva tem um santuário mariano dedicado a uma das primeiras aparições de Nossa Senhora reconhecidas na Europa.

O arcebispo de Kaunas, Lituânia, Kęstutis Kėvalas, fez o discurso de abertura da conferência, exortando à vigilância contra as tentações de fazer experimentos com a natureza e a dignidade humanas. Ele disse também às pessoas presentes que o santuário mariano em Šiluva simboliza a fidelidade à ordem divina na criação.

“O lugar sagrado de Šiluva convida ao respeito pela ordem que o Criador deu a este mundo”, disse ele.

Gänswein disse que, diante dos grandes desafios da atualidade, como o pensamento tecnológico e a globalização, o primeiro passo deve ser recuperar a plenitude da razão. Ele descreveu a verdadeira razão como inerentemente verídica, contrastando-a com o relativismo, que chamou de “uma expressão de pensamento fraco e limitado… baseado no falso orgulho de acreditar que os humanos não podem reconhecer a verdade e na falsa humildade de se recusar a aceitá-la”.

“A verdade nos liberta”, disse Gänswein, fazendo referência ao Evangelho de são João 8:32 e dizendo que a verdade serve como padrão pelo qual os seres humanos devem se medir e que abraçá-la requer humildade.

Gänswein concluiu dizendo que o relativismo — mentalidade que define a modernidade, que ele descreveu como “um veneno rastejante” — acaba minando a liberdade humana. Impulsionado pela autossuficiência e amplificado pelas redes sociais, o relativismo cega as pessoas para a verdade e para o seu propósito último.

O verdadeiro objetivo da humanidade, disse ele, é “chegar ao conhecimento da verdade, que é Deus, e assim alcançar a vida eterna”. Seu discurso foi recebido com aplausos prolongados.

A conferência também teve várias palestras instigantes sobre a identidade moral e política da Lituânia, os desafios da democracia liberal, as mudanças sociais pós-soviéticas e o papel da fé e da família na vida pública. A conferência foi encerrada com um painel de discussão sobre a direção moral da Europa, a liberdade de expressão e a renovação dos valores cristãos na sociedade.

O arcebispo de Vilnius, Lituânia, Gintaras Gruša, falou sobre as palavras do papa Leão XIV de que a Igreja “nunca pode ser eximida do dever de dizer a verdade sobre o homem e o mundo, usando, quando necessário, até mesmo uma linguagem dura que possa inicialmente causar mal-entendidos”. Ele enfatizou que todos os cristãos, inclusive aqueles na vida pública, têm o dever de defender a verdade, que ele descreveu como “não uma ideia abstrata, mas um caminho ao longo do qual uma pessoa descobre a verdadeira liberdade”.

A conferência foi organizada em conjunto pelo grupo cívico lituano Laisvos visuomenės institutas (Instituto de uma Sociedade Livre), pelo Sindicato dos Trabalhadores Cristãos da Lituânia e pela Faculdade de Teologia Católica da Universidade Vytautas Magnus.

*Bryan Lawrence Gonsalves é um apologista e ensaísta nascido nos Emirados Árabes Unidos, que atualmente vive na Lituânia. Seu trabalho se concentra na doutrina social católica, teologia, dignidade humana e questões sociais contemporâneas.

Fonte: https://www.acidigital.com/noticia/65231/arcebispo-ganswein-retoma-alerta-de-bento-xvi-sobre-ditadura-do-relativismo

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Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF