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sábado, 25 de abril de 2020

Nova datação do Novo Testamento (Parte 4/11): as Epístolas Paulinas

Bíblia - Tradição - Magistério

4. AS EPÍSTOLAS PAULINAS
No início do Capítulo 3 (“As Epístolas Paulinas”, Robinson afirma o seguinte:
  • “Se ignoramos as soluções excêntricas e a sombra das epístolas controversas, podemos dizer que há um consenso bastante geral sobre a datação da parte central do ministério e da carreira literária de São Paulo, com uma margem de diferença de pouco mais de dois anos para cima ou para baixo. Isto está longe de ser o caso de qualquer outra parte do Novo Testamento: os Evangelhos, os Atos, as demais Epístolas e o Apocalipse. As Epístolas Paulinas constituem, portanto, um importante ponto fixo e um marco, não apenas de cronologia absoluta como também de extensão relativa contra a qual é possível medir outros desenvolvimentos” (p.30).
Não obstante, por diversas razões que o autor explica, é impossível determinar com certeza absoluta as datas exatas dos atos da vida de São Paulo (cf. pp.30-32).
Robinson sustenta que se deve dar prioridade aos dados cronológicos trazidos pelos escritos de Paulo, preferindo-os aos [dados cronológicos] dos Atos dos Apóstolos; no entanto, afirma que ambos os testemunhos podem ser reconciliados muito bem.
Após estas e outras observações preliminares, o autor dedica quase 18 páginas (pp.33-50) a uma tentativa de esboço da cronologia da vida de Paulo, como marco de trabalho para o estudo da cronologia das suas cartas. Robinson parte do dado que considera mais confiável: uma inscrição descoberta em Delfos e publicada em 1905, que permite datar com grande exatidão o proconsulado de Galião na Acaia (cf. Atos 18,12):
  • “Com maior certeza podemos dizer que Galião assumiu o seu cargo no início do verão do ano 51 e que Paulo compareceu perante ele pouquíssimo tempo depois, provavelmente em maio ou junho” (p.33).
Pulando muitas páginas de argumentação erudita, que seria impossível resumir brevemente aqui, indicarei o resultado a que chegou o autor:
  • “Neste ponto, podemos resumir as nossas conclusões sobre o esboço da carreira de Paulo, recordando que as datas absolutas abaixo não podem ser mais do que aproximadas:
    33 – Conversão
    * 35 – 1ª visita a Jerusalém
    * 46 – 2ª visita a Jerusalém (para alívio da fome)
    * 47/48 – 1ª viagem missionária
    * 48 – Concílio de Jerusalém
    * 49/51 – 2ª viagem missionária
    * 52/57 – 3ª viagem missionária
    * 57 – Chegada a Jerusalém
    * 57/59 – Prisão em Cesareia
    * 60/62 – Prisão em Roma” (pp.49-50).
Na terceira e última parte do capítulo, Robinson tenta inserir cada uma das cartas de São Paulo dentro do marco geral anteriormente traçado. Após muitas páginas de argumentação erudita (pp.50-78), o autor resume assim as suas conclusões:
  • “Se as nossas conclusões estiverem corretas, a totalidade da literatura existente de Paulo (sem esquecer que logo em 2Tessalonicenses 3,17 ele fala de “todas as minhas cartas”) parece cair dentro de um período de 9 anos; na verdade, quanto às suas [duas] cartas primeiras cartas (aos Tessalonicenses), encontram-se dentro de um espaço assombrosamente pequeno de 4 anos e meio. Para esclarecer isto, podemos encerrar com um resumo de datas:
    * 50 (início) – 1Tessalonicenses
    * 50 (ou início de 51) –2Tessalonicenses
    * 55 (primavera) – 1Coríntios
    * 55 (outono) – 1Timóteo
    * 56 (início) – 2Coríntios
    * 56 (final) – Gálatas
    * 57 (início) – Romanos
    * 57 (final da primavera) – Tito
    * 58 (primavera) – Filipenses
    * 58 (verão) – Filemon, Colossenses e Efésios
    * 58 (outono) – 2Timóteo
    Deve-se enfatizar novamente que as datações absolutas poderiam se mover mais ou menos em 1 ano para cima ou para baixo e que o esquema é mais uma tentativa do que uma certeza. Porém, a importância destas conclusões, para as que não são particularmente polêmicas (exceto para as Epístolas Pastorais), é tripla:
    a) Elas fornecem um critério (ou escala de tempo) razoavelmente fixo para se comparar outras evidências;
    b) Se de fato a totalidade da carreira literária extremamente diversa de Paulo ocupou um lapso tão breve, isto nos oferece um critério objetivo sobre quanto tempo é necessário dar aos desenvolvimentos na teologia e na prática. Ainda que possa parecer, à primeira vista, extremamente curto, não deveríamos esquecer outras duas regras de medida: todo o ensinamento e ministério de Jesus (…) levou de três a quatro anos. E todo o desenvolvimento do pensamento e da prática do Cristianismo primitivo até a morte de Estêvão e a conversão de Paulo, incluindo a primeira exposição helenística do Evangelho, se deu dentro de um período de duração semelhante. Na verdade Hengel, em seu importante artigo “Christologie und neuetestamentliche Chronologie”, bem argumenta que a etapa crucial do entendimento básico da Igreja sobre Cristo e seu significado esteve representada por 4 ou 5 anos “explosivos”, entre 30 e 35 (…) Os argumentos a priori da Cristologia à cronologia e, na verdade, de qualquer “desenvolvimento” ao tempo por ele requerido são quase que totalmente não-confiáveis.
    c) A hipótese de trabalho que fizemos, de confiar em Atos até que se provasse o contrário, foi muito reinvindicada substancialmente. Não há praticamente nada no relato de Lucas que choque com a evidência paulina e, na última parte de Atos, as correspondências são notavelmente próximas. Inclusive, nos discursos atribuídos a Paulo e especialmente naqueles em que se pode presumir que Lucas esteve presente (Atos 20 e 22-25), há paralelos que sugerem que estão longe de serem composições puramente livres” (pp.78-79).
Como amostra, indicarei apenas alguns dos argumentos expostos por Robinson para chegar a estas conclusões:
  • “Agora não há quase ninguém que negue a autenticidade de Filemon. Há alguns, especialmente na Alemanha, que questionam Colossenses por razões estilísticas e teológicas. Porém, a interrelação próxima e complexa de nomes como Filemon aponta fortemente para o fato de que essas duas epístolas foram ditadas pela mesma pessoa, ao mesmo tempo, e enviadas para Colossos por Tíquico, na companhia de Onésimo (Colossenses 4,7-9; Filemon 12)” (p.57).
A autenticidade de Efésios é bem mais discutida do que a de Colossenses. As duas teses principais sobre esta questão são a tradicional (que atribui a autoria a Paulo) e a de que um discípulo da 2ª geração, que imita Paulo e expõe sua teologia após sua morte. Robinson pensa que é muito mais provável que o próprio Paulo tenha escrito uma carta como Efésios, que coincide em 90 a 95% com seu estilo habitual. A tese contrária enfrenta graves dificuldades: o autor deveria ter combinado uma imitação servil do estilo de Paulo com uma profunda originalidade teológica. Acrescento que seu gênio teológico se mostra, por exemplo, na profunda doutrina sobre o matrimônio (Efésios 5,21-23); os gênios desta magnitude não costumam passar pela história sem deixar outros rastros. Ademais, seria inexplicável o porquê de o imitador ter reproduzido somente a nota pessoal de Efésios 6,21-22 (cf. Colossenses 4,7-9) para acrescentar verossimilitude.
Robinson confessa que durante seu estudo sobre o tema mudou de opinião sobre as Cartas Pastorais (1Timóteo, 2Timóteo e Tito). Inicialmente ele, como a maioria dos críticos protestantes, pensava que estas três cartas tinham sido escritas no século II, porque manifestam sinais daquilo que esses críticos costumam denominar “protocatolicismo” (ênfase na sã doutrina, na hierarquia da Igreja etc.). No entanto, após analisar com cuidado o assunto, convenceu-se de que nessas três cartas não há nada que não possa ter sido escrito pelo próprio Paulo e que as numerosas referências pessoais que estas contêm permitem colocá-las, com muita segurança, dentro do marco cronológico da vida de Paulo.
Veritatis Splendor

Peritos denunciam falta de argumentos jurídicos para despenalização do aborto nos casos de Zika

Imagem referencial. Foto: Unsplashed.
REDAÇÃO CENTRAL, 24 Abr. 20 / 02:03 pm (ACI).- Especialistas afirmam que não há qualquer fundamento constitucional para descriminalizar o aborto para grávidas com zika vírus por meio da Ação Direta de Inconstitucionalidade - ADI 5581. A ação foi inserida na pauta do Plenário Virtual do Supremo Tribunal Federal para ser votada hoje, sexta-feira, 24.
Segundo a União dos Juristas Católicos do Rio de Janeiro, a ADI não dispõe dos argumentos técnicos necessários para justificar sua legitimidade. A instituição destacou em nota oficial a inconsistência causal entre zika vírus e o surto de microcefalia ocorrida no Brasil e principalmente pela discriminação da pessoa portadora de deficiência.
“Esse tipo de pretensão, inclusive, de natureza eugênica, remete a períodos não distantes da história, que têm a reprovação veemente, justa e generalizada da consciência ética da humanidade”, conclui o documento.
Lenise Garcia, especialista em bioética e presidente do Movimento Cidadania pela Vida Brasil Sem Aborto, reforçou que a microcefalia acontece em no máximo 5% dos casos de grávidas infectadas com zika vírus.
“A imensa maioria das crianças nasce completamente normal. De qualquer modo, o fato de ter uma deficiência não justifica matar uma criança, isso é eugenia. Numa época em que os direitos das pessoas com deficiência são tão defendidos, pleitear um aborto porque uma criança poderá nascer com uma deficiência é uma atitude extremamente preconceituosa”, afirma Dra. Lenise.
Diagnósticos de zika vírus e microcefalia não são seguros
Segundo o obstetra da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Raphael Câmara, a ADI foi proposta em 2016 quando os conhecimentos sobre o zika eram incipientes.
“De lá para cá, temos respostas a muitas das questões trazidas na ADI que embasavam o pedido para a liberação do aborto. O primeiro dado é que os estudos recentes mostram taxas de acometimento de fetos de mães infectadas de somente 5 a 14%, sendo a maioria com problemas leves como mostram pesquisas do Centro de Controle e Prevenção de Doenças -CDC e da FIOCRUZ”, afirmou.
“Além disso, um estudo recentemente divulgado pelo CDC mostrou que 73% dos laboratórios brasileiros têm baixa acurácia para o diagnóstico do zika vírus, dessa forma o pedido não tem sentido porque não podemos falar em ‘infectadas por zika’, mas sim em ‘talvez’ infectadas pelo zika. É baseado nesta imprecisão que iremos matar os fetos?”, questiona o Dr. Câmara.
Raphael Câmara chamou atenção sobre o fato de ter sido a Associação Nacional dos Defensores Públicos - ANADEP a ser a requerente da ADI 5581, já que o órgão não dispõe de técnica suficiente.
Ainda sobre o tema, a Dra. Lenise Garcia alerta que os associados da ANADEP não tinham conhecimento da finalidade real da ADI, porque foi dito apenas que seria uma ação para o cuidado com as grávidas diagnosticadas com zika vírus e para as crianças com microcefalia.
“Não se falou em aborto em momento algum durante a assembleia da ANADEP. A associação entrou com esse pedido sem a anuência de seus associados. Isso é um fato muito grave. A maior parte dos membros não estava nem sabendo o que estava sendo feito em nome deles”, denunciou a médica.
A iniciativa também foi julgada incoerente diante da atual pandemia causada pelo coronavírus, que tem levado o país a ações de cuidado e preservação da vida humana.
Vigília pela vida
Nesta quinta-feira, 23, das 20h até a meia-noite, ocorreu uma vigília de oração na Praça dos Três Poderes. A iniciativa é organizada pelos movimentos católicos de Defesa da Vida.
Nesta sexta, 24, das 14h às 17h, houve também uma carreata com o quadro de Jesus Misericordioso para pedir o cancelamento do julgamento do aborto pelo STF. Os participantes sairão da Catedral Metropolitana de Brasília.
ACI Digital

sexta-feira, 24 de abril de 2020

NA NOITE MAIS ESCURA

Wikipedia
Incontável é o número dos fiéis cristãos que, no decorrer dos séculos, enfrentaram perseguições, guerras, segregações, epidemias, e até o martírio, por fidelidade ao amor de Cristo. Essas pessoas são testemunhas de que “Deus, por ser soberanamente bom, nunca deixaria qualquer mal existir em suas obras se não fosse bastante poderoso e bom para fazer resultar do mal o bem”. (Santo Agostinho).
As perseguições e os martírios dos primeiros séculos, principalmente no Império Romano, evidenciam que pode haver momentos em que o ser humano, e em especial o cristão, não pode se esquecer de que deve abdicar de tudo, inclusive da própria vida, a fim de salvar a própria alma e, por isso, graças à fidelidade dos mártires, o cristianismo se expandiu, alcançando novos países e continentes.
Dando continuidade ao anúncio do Evangelho, no século XVI, a evangelização chegou ao Vietnã e muitos acolheram a mensagem de Cristo com alegria. Mas, rapidamente, começou uma perseguição brutal contra os cristãos. Desse modo, milhares de vietnamitas foram martirizados – decapitados, estrangulados, esquartejados, queimados vivos –  entre eles diversos missionários. Desse grupo de valentes cristãos, que morreram professando a certeza da ressurreição e a vida eterna, São João Paulo II canonizou 117 católicos cujos nomes foram identificados.
A vida desses mártires e de inúmeros outros, nos mais diversos períodos da nossa História, é a feliz comprovação de que “na noite mais escura, surgem os maiores profetas e os santos. Certamente, os eventos decisivos da história do mundo foram essencialmente influenciados por almas sobre as quais nada se diz nos livros de História”. (Santa Teresa Benedita da Cruz, vida escondida e epifania).
Na América Central, um dos santos mais populares é São Damião de Molokai, o sacerdote missionário que se tornou leproso para salvar os leprosos. Em pleno século XIX, diante do mal da hanseníase, que não tinha cura, a ilha de Molokai, no arquipélago do Havaí, se tornou um local de segregação e de morte quando passou a ser usada como colônia de leprosos abandonados à própria sorte. Para essa ilha eram enviados os doentes de hanseníase das outras ilhas do pacífico, a fim de morrerem lá, não contaminando outras pessoas das cidades com o mal da lepra.
Esse ato de desumanidade, esse ato de desamor, começou a ser reparado graças à heroica generosidade de São Damião que se ofereceu, se candidatou para ser pároco dos leprosos de Molokai. Chama ainda mais a nossa atenção o conhecimento de que não estava nos planos das autoridades da Igreja enviar um sacerdote para a ilha dos leprosos e, por isso, São Damião só convenceu o Bispo a aceitar o seu pedido quando ele afirmou, com determinação, que os leprosos estavam morrendo todos os dias, mas se estavam alcançando a vida eterna ninguém tinha conhecimento, pois não havia um único sacerdote que os orientasse retamente, anunciando o amor e a Pessoa de Cristo.
Em Molokai, São Damião conquistou a amizade dos leprosos por meio do cuidado nas pequenas coisas. Ali, ele motivou os leprosos a construírem um hospital e uma capela. Tudo muito simples e modesto, mas com sinais de cuidado. Sua entrega generosa fez com que, logo após a sua morte, dezenas de outros sacerdotes se oferecessem para servir os leprosos. Dia feliz para São Damião foi o dia em que, em uma homilia, abordando o episódio da cura dos leprosos, ele anunciou que também estava com lepra, dizendo: “Nós, os leprosos, devemos buscar muito mais do que a simples cura do corpo. Nós precisamos, em primeiro lugar, da cura da alma”. Pouco tempo depois, São Damião de Molokai morreu de lepra entre os leprosos, mas com a consciência de dever cumprido, pois Deus já estava presente naquela ilha onde incialmente só eram vistos sinais de morte e de abandono, um inferno de desespero entre cães que comiam cadáveres.
Muitos fiéis cristãos, homens e mulheres santos, também enfrentaram epidemias e pestes que se abateram sobre o mundo. Um exemplo desses santos foi São Luís Gonzaga, que morreu em consequência de uma peste que atingiu Roma, carregando nas costas um flagelado. Outro exemplo é São Carlos Borromeu que enfrentou a peste negra que ceifou quase um terço dos europeus no século XVI. Diante de tantos sinais de morte, o Cardeal Carlos Borromeu organizou os religiosos para alimentar e cuidar dos doentes e dos famintos.
São Carlos Borromeu, pessoalmente, visitava os que sofriam da peste negra e cuidava das feridas. Quando alguma pessoa tentava lhe persuadir a se afastar dos doentes, o Cardeal Borromeu, dizia: “Estou disposto a abandonar esta vida mortal e não as pessoas designadas para seus cuidados”. Apesar de estar na linha de frente junto aos doentes, o bom cardeal foi poupado da peste e permaneceu vivo como um sinal da Misericórdia divina.
O século XX é considerado o século em que a Igreja Católica teve o maior número de mártires. Leigos, religiosos, sacerdotes e bispos foram vítimas de todos os tipos de totalitarismo, de esquerda e de direita, nos diversos países do mundo. Boa parte desses mártires foram vítimas do nazifascismo, durante a Segunda Grande Guerra Mundial, pois muitos cristãos foram prisioneiros nos campos de concentração de Auschwitz e Birkenau, no sul da Polônia e de Dachau, no sul da Alemanha. Edith Stein e Maximiliano Maria Kolbe são dois exemplos desses santos que foram fiéis até o fim.
            Com a invasão da Polônia por parte da Alemanha nazista, Frei Maximiliano Maria Kolbe foi preso duas vezes pelo simples fato de ser um sacerdote católico, sendo que a prisão definitiva, ocorrida em 1941, levou-o para Varsóvia, na Polônia, e posteriormente para o campo de concentração em Auschwitz, onde ele heroicamente evangelizou com a vida e a morte.
Naqueles dias, aconteceu que diante da fuga de um prisioneiro, dez prisioneiros foram escolhidos para pagar com a morte, sendo que um, desesperadamente, caiu em prantos: “Minha mulher, meus filhinhos! Não os tornarei a ver! ”. Movido pelo amor que vence a morte, com a consciência de que não há maior amor do que dar a vida pelo irmão, o Frei Maximiliano Maria Kolbe dirigiu-se ao oficial e se ofereceu para substituir o pai de família e ajudar a morrer os outros nove prisioneiros. Seu oferecimento foi aceito de imediato, pois ele se identificou, afirmando: “Eu sou um Padre Católico! ”.
O oferecimento do Frei Maximiliano foi, naquele campo de concentração, o sinal visível de que a nossa vida só é plena, ampla e livre, quando somos capazes de salvar o próximo movidos por um amor incondicional por Deus. Graças a São Maximiliano Maria Kolbe, nós aprendemos que nenhuma renúncia e nenhum sacrifício é grande demais se for movido e impulsionado pela pertença a Deus e à Igreja.
Nessa noite escura da pandemia da Covid-19, que nós estamos enfrentando, é certo que inúmeras são as pessoas, os fiéis cristãos – leigos, religiosos e sacerdotes – que estão na linha de frente, no Brasil e no mundo, organizando doação de alimentos, arrecadando recursos para a compra do necessário material hospitalar e cuidando dos contaminados pelo novo coronavírus. Graças ao serviço e à entrega desses santos, que estão nos hospitais e nas ruas, nas periferias físicas e existenciais do mundo, nós estamos testemunhando o valor do sofrimento humano, o alcance da caridade e os sinais da luz que brilham mesmo em meio a essa noite escura que, no tempo oportuno, irá passar.
Quem são essas pessoas, esses santos que estão enfrentando essa pandemia com fortaleza? São todos aqueles que não fraquejaram na fé, não vacilaram na certeza do amor de Deus. São todas as pessoas que não estão na mídia, mas sim nas Igrejas domésticas e nos templos católicos, esforçando-se para manter a temperatura da fé elevada, mesmo que seja por meio das redes sociais. Enfim, os santos atuais são todos aqueles que estão escrevendo os acontecimentos decisivos desses dias com sabedoria, esperança e coragem. Qual é o nome deles? Eu direi apenas que são cristãos e isso é mais do que suficiente. Mas posso afirmar também que nós os conheceremos no Reino dos céus no dia em que tudo o que está oculto será revelado.
Aloísio Parreiras  
Arquidiocese de Brasília

Nova datação do Novo Testamento (Parte 3/11): a importância do ano 70 d.C.


Bíblia - Tradição - Magistério

3. A IMPORTÂNCIA DO ANO 70
No início do Capítulo 2 (“A Importância do Ano 70”), o autor enuncia uma das suas principais teses:
  • “Um dos fatos mais estranhos do Novo Testamento é que aquele, que em qualquer projeção pareceria ser o evento singular mais datável e culminante do período (a queda de Jerusalém no ano 70 d.C. e, com ela, o colapso do judaísmo institucional baseado no Templo), não é mencionado nem uma só vez como fato passado. É obviamente predito e, pelo menos em alguns casos, assume-se que essas predições foram escritas (ou redigidas) depois do evento; porém, o silêncio é de todas as maneiras tão significativo assim como para Sherlock Holmes em relação ao silêncio do cachorro que não ladrou” (p.14).
Em primeiro lugar, Robinson descarta a interpretação de S. G. F. Brandon: esse silêncio seria uma tentativa deliberada de ocultar a simpatia de Jesus e dos primeiros cristãos pelos zelotas revolucionários, cujo levante foi esmagado pelos romanos. Essa interpretação é totalmente arbitrária e recebeu críticas devastadoras por parte de Hengel, Cullmann e muitos outros acadêmicos.
Prossegue Robinson:
  • “Obviamente se tem tentado explicações quanto a esse silêncio. No entanto, a explicação mais simples de todas, de que talvez (…) haja extremamente pouco no Novo Testamento que seja posterior ao ano 70 e que os seus eventos não são mencionados porque ainda não tinham ocorrido, a meu juízo exige mais atenção do que recebeu nos círculos críticos” (p.15).
O restante do capítulo é dedicado a examinar a relação dos três Evangelhos sinóticos (Mateus, Marcos e Lucas) com os eventos do ano 70.
Em primeiro lugar, Robinson analisa o discurso escatológico de Marcos 13, que começa assim:
  • “Ao sair do Templo, disse-lhe um dos seus discípulos: ‘Mestre: olha que pedras e que edifícios!’ Jesus lhe respondeu: ‘Vês estas grandes construções? Não restará aqui pedra sobre pedra que não seja derrubada’. E estando Jesus no Monte das Oliveiras, em frente ao Templo, perguntaram-lhe Pedro, Tiago, João e André: ‘Diga-nos quando se darão estas coisas e qual será o sinal de que tudo isto estará a ponto de chegar ao fim” (Marcos 13,1-4).
Robinson sublinha que a longa resposta de Jesus não faz qualquer referência à destruição do Templo; a única referência que faz em relação ao Templo é esta alusão implícita:
  • “Quando virdes a abominação da desolação erigida onde não deve – quem ler, que entenda – então os que estiverem na Judeia que fujam para os montes; quem estiver no telhado, que não desça para pegar nada em sua casa; e quem estiver no campo, que não retorne para pegar o seu manto” (Marcos 13,14-16).
É claro que “a abominação da desolação” não pode se referir à profanação e destruição do Templo no ano 70. Já nesse momento seria muito tarde para fugir para os montes da Judeia, porque estes já estavam em poder dos romanos desde o ano 67. É sabido que os cristãos de Jerusalém fugiram para Pela, uma cidade grega da Decápolis, por volta do ano 65, antes do início do sitiamento de Jerusalém.
Robinson mostra que o discurso de Marcos 13 é influenciado por dois livros do Antigo Testamento: 1Macabeus e Daniel; mostra também que nesse discurso, em que Jesus exorta os seus discípulos a estarem vigilantes durante os tempos de perseguição que viriam, não há nada que não possa encontrar um paralelo no perídio da História da Igreja coberto pelo livro dos Atos dos Apóstolos.
Em segundo lugar, o autor analisa o Evangelho de Mateus. Antes de mais nada, se detém na única passagem evangélica que foi quase unanimemente considerada pelos exegetas como uma profecia retrospectiva sobre a destruição de Jerusalém no ano 70:
  • “Então pegaram os servos, os maltrataram e mataram. O rei se encolerizou e enviou suas tropas para acabar com aqueles homicidas e incendiou a sua cidade” (Mateus 22,6-7).
Apoiando-se em estudos anteriores de K. H. Rengstorfhas e S. Pedersen, Robinson sustenta que Mateus 22,7 representa uma descrição fixa das antigas expedições militares de vingança, que é um lugar-comum na literatura do Oriente Próximo, do Antigo Testamento e dos rabinos, motivo pelo qual não se deve inferir que reflete um acontecimento em particular.
Robinson mostra que as verdadeiras profecias “ex eventu” (posteriores ao evento) da destruição de Jerusalém, como as do apocalipse judaico conhecido como 2Baruc e dos Oráculos Sibilinos, descrevem vários detalhes históricos. Assim, alguém procuraria em vão essa espécie de detalhes no Novo Testamento.
O autor sublinha que no discurso escatológico de Mateus (capítulo 24), paralelo com o de Marcos, a referência à “abominação da desolação” é explicitamente relacionada com o profeta Daniel (cf. Mateus 24,25).
Robinson também destaca que Mateus 24,20 (“Rogai para que a vossa fuga não se dê no inverno nem no sábado”) denota um ambiente palestinense primitivo e um apego à lei do sábado mais estrito do que aquele recomendado aos cristãos nesse mesmo Evangelho (cf. Mateus 12,1-14), no qual se tende a apoiar a hipótese de uma redação não-tardia de Mateus.
A seguir, o autor sustenta que, na hipótese de uma redação tardia de Mateus, não enxerga nenhuma razão para que o evangelista conservasse (nem mesmo inventasse) profecias de Jesus aparentemente não-cumpridas (como as de Mateus 10,23; 16,28 e 24,34), sem tentar dar alguma explicação da aparente discordância entre essas profecias e os fatos posteriores. Eu acrescento o seguinte: ainda que, a partir do ponto de vista teológico, essa discordância seja apenas aparente, este argumento de Robinson em favor de uma redação não-tardia é bastante forte.
Posteriormente, Robinson afirma que a referência de Jesus ao assassinato de “Zacarias, filho de Baraquias, morto entre o Templo e o altar” (Mateus 23,35) pode ser interpretada razoavelmente como uma referência a 2Crônicas 20,21: “Porém eles se conjuraram contra Zacarias e, por ordem do rei, o apedrejaram no átrio do Templo do Senhor”.
Finalmente o autor analisa o Evangelho de Lucas, detendo-se em duas passagens que parecem descrever detalhes do sitiamento de Jerusalém entre os anos 67 e 70:
  • “E quando se aproximou, ao ver a cidade, chorou por ela, dizendo: ‘Se tu também conhecesses neste dia o que te leva à paz! No entanto, agora está oculto aos teus olhos, porque virão dias sobre ti em que não somente os inimigos te rodearão com valas, te cercarão e te estreitarão por todos os lados, como te esmagarão contra o solo e também os teus filhos que estão dentro de ti; e não deixarão pedra sobre pedra em ti, porque não conheceste o tempo da visita que te foi feito” (Lucas 19,41-44);
  • “Quando virdes Jerusalém cercada por exércitos, sabei que já se aproxima a sua desolação. Então os que estiverem na Judeia, que fujam para os montes; e quem estiver dentro da cidade, que se ponha em marcha; e quem estiver nos campos, que não entre nela. Estes são dias de castigo para que se cumpra tudo o que está escrito. Ai daquelas que estiverem grávidas e das que estiverem criando [os filhos] nesses dias! Porque haverá uma grande calamidade sobre a terra e haverá ira contra este povo. Cairão ao fio da espada e serão levados cativos para todas as nações; e Jerusalém será pisoteada pelos gentios, até que se cumpra o tempo dos gentios” (Lucas 21,20-24).
No entanto, Robinson afirma que estes textos não fornecem mais do que descrições estereotipadas de operações militares da Antiguidade:
  • “Na narrativa de Josefo sobre a captura romana de Jerusalém há algumas características que são mais distintivas, tais como a fantástica luta de facções que permaneceu durante o sitiamento, os horrores da peste e da fome (que incluiu canibalismo) e, finalmente, o incêndio no qual o Templo e uma grande parte da cidade foram destruídos. Foram estes eventos que prenderam a imaginação de Josefo e, podemos supor, de todas as demais testemunhas. Nada disto é dito nesta passagem [bíblica]. Por outro lado, entre todas as barbaridades que Josefo relata, não diz que os conquistadores esmagaram crianças contra o solo (os menores de 17 anos foram vendidos como escravos). A expressão [de Jesus] (…) não é baseada em nada do que ocorreu entre os anos 66 e 70: é [apenas] um lugar comum da profecia hebraica” (pp.26-27).
Apoiando-se nos estudos de C. H. Dodd, Robinson afirma que as descrições de Jesus não se ajustam à tomada de Jerusalém por Tito no ano 70, mas a Nabucodonosor no ano 586 a.C.
Para concluir, acrescento outras duas considerações:
1) Se os Evangelhos Sinóticos tivessem sido escritos após o ano 70 e as profecias de Jesus sobre a destruição de Jerusalém fossem posteriores ao evento, não se explicaria o porquê neste caso (diferentemente de outros), os evangelistas não explicitaram que as profecias de Jesus tinham se cumprido;
2) Quanto à profecia de Jesus de que do Templo de Jerusalém não restaria pedra sobre pedra, ela começou a se cumprir no ano 70, mas o seu pleno cumprimento ocorreu no ano 363, quando uma série de acontecimentos extraordinários fez fracassar uma tentativa de reconstrução do Templo patrocinado pelo imperador romano Juliano, o Apóstata (cf. Stanley Jaki, “To Rebuild Or Not To Try?”, Editora Real View Books: Royal Oak-Michigan, 1999).
Veritatis Splendor

Nova datação do Novo Testamento (Parte 2/11): datas e dados


Bíblia - Tradição - Magistério

2. DATAS E DADOS
No início do Capítulo 1 (“Datas e Dados”), o autor explica que, tal como na Arqueologia, a cronologia do Novo Testamento (NT) é baseada numa combinação de datas absolutas e relativas. Há um número limitado de pontos mais ou menos fixos e os demais fenômenos são classificados conforme os supostos requerimentos de dependência, difusão e desenvolvimento. As novas datas absolutas obrigam a reconsiderar as datas relativas. Eventualmente, as antigas hipóteses sobre os padrões de dependência, difusão e desenvolvimento podem ser perturbadas ou, inclusive, radicalmente questionadas.
Robinson mostra como isto ocorreu no caso do estudo da origem e do desenvolvimento da civilização na Europa: a partir de 1949 se criou a “revolução do radiocarbono”, que obrigou a estender de 500 a 1500 anos este período; e, em 1966, devido a dendrocronologia, se produziu uma “segunda revolução”: desta vez, não apenas foi necessário estender mais uma vez o período apreciado como ainda o padrão de relações entre os fenômenos foi profundamente alterado.
Robinson afirma que:
  • “A cronologia do Novo Testamento depende mais de suposições do que de fatos. Não é que neste caso tenham surgido novos fatos, novas datas absolutas que não possam ser questionadas; elas ainda são extraordinariamente escassas. É que certos questionamentos obstinados simplesmente me levaram a questionar que base existe, na verdade, para certas hipóteses cujo questionamento pareceria ter se tornado arriscado ou, inclusive, impertinente, segundo o consenso predominante da ortodoxia crítica. No entanto, alguém toma coragem quando vê como, em seu próprio campo ou em outro qualquer, as posições estabelecidas de repente ou sutilmente passam a ser vistas como as precárias construções que são. As [posições] que pareciam ser datações firmes, baseadas na evidência científica, se revelam como deduções que se apoiam sobre outras deduções. O padrão é coerente, porém é circular. Se se questiona alguma das hipóteses construídas, todo o edifício parece bem menos seguro” (p.6).
A seguir, o autor apresenta uma visão sintética da história da cronologia do NT, indicando as posições predominantes em intervados de 50 anos. Em geral, até 1800 se considerava que a composição do NT abraçava um período de 50 anos: do ano 50 ao ano 100. Até 1850 esse período tinha mais que duplicado, estendendo-se agora entre os anos 50 e 170. Até 1900, ainda que o período considerado continuasse sendo aproximadamente o mesmo, mudou-se a datação dos diversos livros do NT, restando como datações tardias apenas uns poucos, em geral algumas epístolas. Até 1950, a brecha entre as posições radicais e as conservadoras havia reduzido bastante, atingindo um notável grau de consenso: o período de composição se reduz a cerca de 60 anos (entre 50 e 110), exceto apenas para 2Pedro (cerca de 150).
Robinson opina que:
  • “O que alguém procura em vão em grande parte dos estudos recentes é uma luta séria com a evidência interna ou externa para a datação dos livros individuais (…) mais que um padrão apriorístico do desenvolvimento teológico dentro do qual logo os faz enquadrar” (p.11).
Para o autor, a peça-chave foi o Evangelho de João. Por várias razões, pouco a pouco Robinson se convenceu de que este Evangelho foi escrito na Palestina e antes do ano 70, o que contradiz a tese predominante de que foi escrito na Ásia Menor até o final do século I. Porém, esta redatação de João obriga necessariamente a se refazer toda a cronologia do NT.
Explica Robinson:
  • “Foi neste ponto que simplesmente comecei a me perguntar: por que qualquer um dos livros do Novo Testamento deve ser datado após a queda de Jerusalém, no ano 70? Começando a considerá-los – e em particular a epístola aos Hebreus, os Atos e o Apocalipse – não era estranho que este cataclismo não fosse mencionado ou aludido nem uma só vez? Assim, como uma brincadeira teológica, pensei ver até onde alguém poderia chegar com a hipótese de todo o Novo Testamento ter sido escrito antes do ano 70 (…) Porém, o que começou como uma brincadeira, acabou se convertendo numa séria preocupação durante o processo” (p.12).
A seguir, o autor enumera as limitações da sua obra: não se introduziu nas bases teóricas da cronologia em si mesma, nem em cálculos astronômicos, nem nas complexas relações entre os sistemas cronológicos antigos; tampouco ingressou na cronologia do nascimento, ministério e morte de Jesus, nem na história do cânon do NT, nem no vasto campo da literatura não-canônica, exceto nos casos em que esta é diretamente relevante para o tema analisado.
Robinson conclui este capítulo dizendo:
  • “É provável que minha posição parecerá surpreendentemente conservadora, especialmente àqueles que me consideram radical em outros temas (…) Não reclamo nenhuma grande originalidade – quase cada conclusão individual, como se verá, foi previamente discutida por alguém, muitas vezes por homens renomados e esquecidos – ainda que eu pense que o padrão global seja novo e, assim espero, coerente. O que menos quero é encerrar qualquer discussão. Na verdade, me alegra antepor no meu trabalho as palavras com as quais, segundo dizem, Niels Bohr iniciava as suas conferências: ‘Cada frase que eu emita deve ser tomada por vós não como uma afirmação, mas como uma pergunta'” (p.14).
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Nova datação do Novo Testamento (Parte 1/11): introdução


Bíblia - Tradição - Magistério
(Resenha do livro: John A. T. Robinson. “Redating the New Testament”. Editora Wipf & Stock Publishers: Eugene-Oregon, 2000, 369 pp.; publicado previamente pela Editora SCM Press, 1976)
1. INTRODUÇÃO
Desde a Era Apostólica, a tradição eclesiástica sustenta que os Quatro Evangelhos foram escritos pouco depois da morte e ressurreição de Cristo, com base no testemunho das testemunhas oculares dos fatos ali narrados. Este é um dos principais motivos da multisecular confiança da Igreja Católica no valor histórico dos Evangelhos. Algo semelhante pode-se dizer sobre os demais livros do Novo Testamento (NT). A mais antiga tradição afirma que eles também foram redigidos não-tardiamente por diferentes Apóstolos, alguns dos quais (como Pedro e João) fizeram parte do grupo dos Doze que acompanharam Jesus durante sua vida pública.
A partir do século XVIII, o estudo crítico da Bíblia desafiou estas convicções tradicionais, negando em muitos casos que os autores dos livros do NT fossem os Apóstolos a quem são atribuídos e assinalando aos referidos livros datas de redação tardias, em geral. Deste modo, durante o século XIX, muitos estudiosos de tendência racionalista sustentaram que os Evangelhos e os demais livros do NT tinham sido compostos no século II e, inclusive, na segunda metade desse século. Assim se colocou em dúvida a historicidade dos Evangelhos para sustentar diversas teses sobre a origem da fé cristã a partir de mitos, fraudes ou até mesmo da criatividade das comunidades cristãs primitivas.
No século XX, o estudo histórico-crítico do NT descartou as críticas mais extremas e reverteu parcialmente a tendência anterior, regressando a datações menos tardias, mas (em geral) sem regressar totalmente à visão tradicional. De 1950 até hoje, a maioria dos especialistas situa a composição do Evangelho de Marcos em torno do ano 70, a dos Evangelhos de Mateus e Lucas no período de 80 a 90 e a do Evangelho de João por volta do ano 95. Este consenso majoritário atual enfraquece um pouco os argumentos apologéticos em favor da historicidade do NT, mas sem destruí-los totalmente.
Nada obstante, nas últimas décadas diversos estudos exegéticos, filológicos e papirológicos, desenvolvidos independentemente uns dos outros, têm convergido num resultado inesperado para muitos: um forte questionamento do referido consenso e no sentido de um retorno total à tese da antiga tradição cristã.
Talvez o primeiro passo desse processo tenha sido dado em 1976, com a publicação do livro “Redating the New Testament” (“Nova Datação do Novo Testamento”), do teólogo inglês John A. T. Robinson (1919-1983), ex-bispo anglicano de Woolwich, na Inglaterra. Neste livro, Robinson defendeu a tese de que todo o NT foi escrito antes do ano 70 d.C., ano da destruição de Jerusalém pelos romanos.
O que acabou se tornando mais surpreendente nesta tese de Robinson foi que ele era um teólogo ultra-liberal, que tinha ficado famoso em 1963 por seu livro “Honest to God” (“Sincero para com Dios”), onde expôs uma teologia próxima ao secularismo: a rejeição da noção de um Deus transcendente, a proposta de um Cristianismo sem Igreja etc. Paradoxalmente, após a publicação de “Redating the New Testament”, muitos passaram a considerar Robinson como um teólogo ultra-conservador.
O que destaco disso é que Robinson teve a honestidade e a coragem de superar os seus preconceitos no importante tema da datação do Novo Testamento e a lucidez de reutilizar as observações feitas por estudiosos anteriores a ele para compor um argumento novo e forte em favor da datação não-tardia.
Me proponho a resumir e comentar aqui a obra “Redating the New Testament”. Quando eu citar textos desse livro, o farei segundo a minha tradução a partir do inglês e indicando os números de página da edição de 2000, indicada no início [desta postagem]. Para as citações bíblicas, usarei a Bíblia de Navarra. O livro tem 11 capítulos; apresentarei aqui um capítulo por vez.

Veritatis Splendor

Festa da Conversão de Santo Agostinho poderá ser acompanhada pela web

Santo Agostinho
Santo Agostinho  (©Renáta Sedmáková - stock.adobe.com)
Um dos Padres da Igreja, Santo Agostinho escreveu muitas obras e exerceu decisiva influência sobre o desenvolvimento cultural do mundo ocidental. É chamado de “Doutor da Graça”.

Vatican News

A Festa da conversão de Santo Agostinho poderá ser acompanhada via web nesta sexta-feira, 24 de abril. Religiosos e religiosas que seguem a Regra, recordam seu batismo na noite de Páscoa em 24 de abril de 387, pelas mãos do bispo de Milão Ambrósio.

Batismo que Agostinho pediu aos 33 anos depois que decidiu dedicar toda a sua vida à busca de Deus na Igreja Católica. Escolha que o levou ao sacerdócio e depois ao ministério episcopal, tornado ainda mais profícuo por uma vasta produção de escritos, hoje pedras fundamentais do cristianismo.

Na cidade italiana de Pavia, na Basílica de São Pedro em Ciel d'Oro, onde repousam os restos mortais de Santo Agostinho, o bispo Corrado Sanguineti, celebrará a Missa da Conversão de Santo Agostinho às 18h30 (horário local),  seguida pela exposição da urna com as relíquias do grande Padre da Igreja.

Será possível acompanhar a celebração ao vivo pelo canal YouTube da Diocese de Pavia https://www.youtube.com/channel/UCYZkUkN-mP3OWSApMp4SIaQ, enquanto que para a oração e  a meditação, o Instituto Agostiniano de Espiritualidade disponibilizou subsídios no link http://www.agostiniani.it/2020/04/22/conversione-sant-agostino-2020/.

Santo Agostinho (354-430), Bispo e Doutor da Igreja, nasceu em Tagaste, Tunísia, filho de Patrício e Santa Mônica. Grande teólogo, filósofo, moralista e apologista. Aprendeu a retórica em Cartago, onde ensinou gramática até os 29 anos de idade, partindo para Roma e Milão onde foi professor de Retórica na corte do Imperador. Alí se converteu ao cristianismo pelas orações e lágrimas, de sua mãe Mônica e pelas pregações de S. Ambrósio, bispo de Milão. Após ser batizado em 387 voltou para a África em veste de penitência onde foi ordenado sacerdote e depois bispo de Hipona aos 42 anos de idade. Combateu as heresias do seu tempo, principalmente o Maniqueísmo, o Donatismo e o Pelagianismo, que desprezava a graça de Deus. Santo Agostinho escreveu muitas obras e exerceu decisiva influência sobre o desenvolvimento cultural do mundo ocidental. É chamado de “Doutor da Graça”.

Vatican News

Dia Mundial do Livro: A Bíblia foi o primeiro livro impresso por Gutenberg?

Exemplar da Biblia de Gutenberg - Crédito: NYC Wanderer (CC-BY-SA-2.0)
REDAÇÃO CENTRAL, 23 Abr. 20 / 02:25 pm (ACI).- Hoje se celebra o Dia Mundial do Livro em memória de grandes escritores. Embora o dado mais difundido é que a Bíblia foi o primeiro livro reproduzido com a imprensa de Johannes Gutenberg, o certo é que o inventor alemão reproduziu previamente outra obra católica.
Em ano 1449, Gutenberg reproduziu -como ensaio- na sua gráfica em Mainz o chamado “Missal de Constanza”, do qual agora existem somente três exemplares no mundo.
Um missal é o livro católico em que se encontram os textos para a celebração da Santa Missa.
Johannes Gutenberg, o alemão que inventou a impressão em caracteres, começou a impressão da primeira Bíblia em 1450, processo que terminou em 23 de fevereiro de 1455, há mais de 500 anos.
A Bíblia das 42 linhas ou Bíblia de Gutenberg, era a versão impressa da Vulgata, uma tradução ao latim usada pela Igreja Católica. Ele a chamou de Bíblia das 42 linhas pela quantidade de linhas impressas, em duas colunas, em cada página.
Atualmente existem 48 exemplares, mas só 21 estão completos. Um deles está na Espanha e se conserva na Biblioteca Pública de Burgos.
ACI Digital

Pe. Manuel Pérez Candela

Pe. Manuel Pérez Candela
Pároco da Paróquia Nossa Senhora da Imaculada Conceição - Sobradinho/DF