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São Jerônimo, sacerdote e doutor da Igreja |
“Verdadeiramente
Jerônimo é a ‘Biblioteca de Cristo’, uma biblioteca perene que, passados
dezesseis séculos, continua a ensinar-nos o que significa o amor de Cristo, um
amor inseparável do encontro com a sua Palavra. Palavras do Papa Francisco, na
Carta Apostólica “Scripturæ Sacræ Affectus”, uma homenagem São Jerônimo no XVI
centenário da sua morte.
Jane Nogara – Vatican News
Foi publicada uma Carta Apostólica do Papa
Francisco, na memória litúrgica de São Jerônimo “Scripturæ Sacræ Affectus”, uma
homenagem ao santo no XVI centenário da sua morte. Francisco inicia a Carta
recordando o grande amor do santo pela Sagrada Escritura: “O afeto à Sagrada
Escritura, um terno e vivo amor à Palavra de Deus escrita é a herança que São
Jerônimo, com a sua vida e as suas obras, deixou à Igreja. Tais expressões,
tiradas da memória litúrgica do Santo, dão-nos uma chave de leitura
indispensável para conhecermos, no XVI centenário da morte, a sua figura
saliente na história da Igreja e o seu grande amor a Cristo”.
Visão na Quaresma de 375
Na Introdução do documento o Papa recorda a vida do
santo, seu percurso, seus estudos que iniciaram a partir da visão, talvez na
Quaresma de 375: “Aquele episódio da sua vida concorre para a decisão de se
dedicar inteiramente a Cristo e à sua Palavra, consagrando a sua existência a
tornar as palavras divinas cada vez mais acessíveis aos outros, com o seu
trabalho incansável de tradutor e comentador”. E afirma: “Colocando-se à escuta
na Sagrada Escritura, Jerônimo encontra-se a si mesmo, encontra o rosto de Deus
e o dos irmãos, e apura a sua predileção pela vida comunitária”.
A chave sapiencial do seu retrato
“Para uma plena compreensão da personalidade de São
Jerônimo – explica o Papa - é necessário combinar duas dimensões caraterísticas
da sua existência de crente: por um lado, a consagração absoluta e rigorosa a
Deus, renunciando a qualquer satisfação humana, por amor de Cristo crucificado
(cf. 1 Cor 2, 2; Flp 3, 8.10); por outro, o empenho assíduo no estudo, visando
exclusivamente uma compreensão cada vez maior do mistério do Senhor. É
precisamente este duplo testemunho, admiravelmente oferecido por São Jerônimo,
que se propõe como modelo, antes de tudo, para os monges, a fim de encorajar
quem vive de ascese e oração a dedicar-se ao labor assíduo da pesquisa e do
pensamento; e, depois, para os estudiosos a fim de se recordarem que o
conhecimento só é válido religiosamente se estiver fundado no amor exclusivo a
Deus, no despojamento de toda a ambição humana e de toda a aspiração mundana”.
“A ignorância das Escrituras é
ignorância de Cristo”
Recordando o amor do santo pela Sagrada Escritura o
Pontífice destaca que “nos últimos tempos, os exegetas descobriram a
genialidade narrativa e poética da Bíblia, exaltada precisamente pela sua
qualidade expressiva; Jerônimo, ao contrário, destacava mais, na Escritura, o
caráter humilde com que Deus Se revelou expressando-se na natureza áspera e
quase primitiva da língua hebraica, quando comparada com o primor do latim
ciceroniano. Portanto, não é por um gosto estético que ele se dedica à Sagrada
Escritura, mas apenas – como é bem sabido – porque ela o leva a conhecer
Cristo, pois a ignorância das Escrituras é ignorância de Cristo”.
Obediência
“O amor apaixonado de São Jerônimo às divinas
Escrituras está imbuído de obediência: antes de tudo, obediência a
Deus, que Se comunicou em palavras que exigem escuta reverente e,
consequentemente, obediência também a quantos na Igreja representam a tradição
interpretativa viva da mensagem revelada”.
A Vulgata
“Mas – lê-se na Carta - para os leitores de língua
latina, não existia uma versão completa da Bíblia na sua língua; havia apenas
algumas traduções, parciais e incompletas, feitas a partir do grego. Cabe a
Jerônimo – e, depois dele, aos seus continuadores – o mérito de ter empreendido
uma revisão e uma nova tradução de toda a Escritura. Tendo começado em Roma,
com o encorajamento do Papa Dâmaso, a revisão dos Evangelhos e dos Salmos,
depois, já no seu retiro em Belém, lançou-se à tradução de todos os livros
veterotestamentários diretamente do hebraico; uma obra, que se prolongou por
vários anos”.
A tradução como inculturação
“Com esta sua tradução, Jerônimo conseguiu
‘inculturar’ a Bíblia na língua e cultura latinas, tornando-se esta operação um
paradigma permanente para a ação missionária da Igreja” . Na verdade, ‘quando
uma comunidade acolhe o anúncio da salvação, o Espírito Santo fecunda a sua
cultura com a força transformadora do Evangelho’, estabelecendo-se assim
uma espécie de circularidade: se a tradução de Jerônimo é devedora à língua e à
cultura dos clássicos latinos, cujos vestígios são bem visíveis, por sua vez
ela, com a sua linguagem e o seu conteúdo simbólico e rico de imagens,
tornou-se um elemento criador de cultura”.
Biblioteca de Cristo
Por fim, o Papa faz um apelo: “Entre muitos elogios
feitos a São Jerônimo pelos seus vindouros, encontra-se este: não foi
considerado simplesmente um dos maiores cultores da ‘biblioteca’ de que se
nutre o cristianismo ao longo dos tempos, a começar pelo tesouro da Sagrada Escritura,
mas aplica-se-lhe aquilo que ele mesmo escreveu sobre Nepociano: ‘Com a leitura
assídua e a meditação constante, fizera do seu coração uma biblioteca de
Cristo’. Recordando que “Jerônimo não poupou esforços para enriquecer a sua
biblioteca, vendo nela um laboratório indispensável para a compreensão da fé e
para a vida espiritual; e, nisto, constitui um exemplo admirável também para o
presente”.
“Verdadeiramente
Jerônimo é a ‘Biblioteca de Cristo’, uma biblioteca perene que, passados
dezesseis séculos, continua a ensinar-nos o que significa o amor de Cristo, um
amor inseparável do encontro com a sua Palavra”.
Vatican News